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Violência Sexual e Aborto: Abordagem da Equipe Multidisciplinar Introdução → Violência sexual é considerado qualquer ato sexual ou tentativa do ato não desejado (a conjunção carnal em si, não é muito frequente na pediatria, na pediatria tudo começa com ato libidinoso) → Atos para traficar a sexualidade de uma pessoa, utilizando repressão, ameaça ou força física, praticados por qualquer pessoa independente das relações com as vítimas, em qualquer cenário incluindo, mas não limitado, ao lar ou ao trabalho → De acordo com o artigo 213 do Código Penal constranger alguém mediante violência ou ameaça grave a ter conjunção carnal, ou praticar ou permitir que com ele se pratique o ato libidinoso causa uma pena de reclusão de 6 a 10 anos → A violência sexual tem resultado que vai além da agressão física em si, um resultado que pode ocorrer é a gravidez, outro resultado que certamente ocorrerá é a lesão corporal/física, e, a lesão psicológica/ emocional. Notificação e Atendimento → 2003: obrigatoriedade da notificação para os serviços públicos e privados → 2004: primeira lei regulamentando isso → 2011: SINAN ficou para toda vítima compulsória de violência doméstica, sexual e outros tipos de violência correlacionados. → O atendimento da vítima de violência não é só do ginecologista, há toda uma equipe multidisciplinar participando desse (ginecologista: mulheres maiores de 14 anos; pediatras: menores de 14 anos) → Em geral pacientes desenvolvem distúrbios muito importantes como compulsão alimentar, alteração de sono, bulimia → Gera um impacto muito grande que exige que os médicos possam atender aquela pessoa: acolhimento, prevenção das doenças transmissíveis, prevenção de possível gravidez, atendimento psicológico que vem na sequência e no futuro posso ter a possibilidade de discutir o aborto com Crime → Estupro é crime, isso se dá o nome como ação penal pública incondicionada, esse incondicionada permite fazer a quebra de sigilo médico paciente Prontuário → A princípio, a anamnese e o prontuário podem ser solicitados como prova pericial indireta, em 100% dos casos e tem-se que entregar cópia do prontuário para o judiciário (tentar deixar a paciente guiar a narrativa, pois existem alguns dados que são importantes conter nessa anamnese que vão ajudar na parte de investigação para que possa desenvolver atendimento) → Identificar data, horário, local, se foi feito uso de arma, identificação/descrição do agressor, se estava sob efeito de álcool/ drogas, se teve perda do consciência ou da memória, se houve penetração, se teve sexo oral/vaginal/anal, qual era o número de agressores, se teve uso de preservativo, ocorrência ou não da ejaculação, se teve sangramento na vítima, se a paciente tomou banho ou trocou de roupa, se existe rede de apoio social e familiar para acolher essa paciente → Precisa conhecer o histórico menstrual da paciente, saber se ela faz o uso ou não de método anticonceptivo, se teve relação sexual recente pois as vezes a anticoncepção de emergência pode falhar Tipos de Atendimento → Violência Aguda: ato em si; até 72 horas do ato ocorrido → material para coleta (indicação para fazer as quimioprofilaxias) → Violência Crônica: com mais de 72 horas, ou as vezes os casos que podem ser de anos Agudo → Anticoncepção de emergência → Antes de medicar, deve fazer um beta- hCG prévio → Ela deve ser encaminhada para o pronto- atendimento de referência, e se for o desejo, faz a coleta (no caso de paciente maior) → enfatizar que ela só tem aquele momento, depois, caso se arrependa o material é perdido e não é possível tentar identificar → Exame toxicológico: colhido 16 substâncias e isso fica no prontuário da paciente → Não examinar a vítima se não tiver lacerações importantes → A partir do momento que os pacientes chegam no hospital e são identificados a gente acaba diferenciando: homens e trans vão para a clínica médica, mulheres maiores de 14 anos vão para a ginecologia e os menores de 14 anos vão para a pediatria Isso automaticamente é triado como ficha amarela, o atendimento tem que ser o mais precocemente possível. → Fazer a anamnese com todos os detalhes e preencher o SINAN, se não tem nenhuma queixa significativa de ardência/ sangramento, não vamos fazer o exame físico primário, espera o perito e faz a identificação de uma vez só para não expor e não revitimizar essa paciente Crônico → Não abre ficha de atendimento, encaminha o paciente direto para o ambulatório pois não vai mais medicar, não tem mais material para fazer coleta → A imunoglobulina pode ser feita até 14 dias após a violência Exames → Conteúdo vaginal: bacterioscópico (Clamídia, Gonococo e Trichomonas) → Cultura para gonococo e PCR para Clamídia (observar se tem presença de espermatozóides no material) → Sangue: Anti HIV; Hepatite B (HbsAG e anti Hbs); Hepatite C (anti HCV): Sifilis; Transaminases → Hemograma e BHCG (mulheres idade fértil) → Para os exames de HIV, Hepatite B e Sifilis serão realizados testes rápidos. O teste HIV é confirmatório e os demais devem ser encaminhadas amostras ao LACEN (Laboratório Central do Estado) para confirmação diagnóstica. → O Hospital de Referência deve estar cadastrado no Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) com profissional responsável por receber e anexar o laudo ao prontuário. → Na admissão é pedido hemograma, glicose, ureia, creatinina, TGO, TGP, bilirrubinas diretas e indiretas, com duas semanas repete-se esse exame se estiver fazendo uso de profilático de medicação antiretroviral. E o β-hCG que deve ser feito na admissão também, e se der negativo repetido após duas semanas Exames Forense → É por meio dos exames forenses que se registra a ocorrência por ponto de vista de DNA, será colhido material de todas as maneiras possíveis para tentar obter uma amostra de DNA que irá para um banco de dados para que no futuro possa ser identificado o agressor → Sangue da pessoa agredida (posterior confronto de DNA, dosagem alcoólica/ toxicológica e B HCG para mulheres em idade fértil) → Urina para análise toxicológica → Um grande número de SWABS para tentar identificar espermatozoide, PSA e sangue, coleta das seguintes regiões vagina, anus, boca, vulva e pênis (esfregações de regiões excepcionais podem ser realizados, dependendo do histórico da agressão) → Outros materiais: absorvente, papel higiênico, vestes intimas e roupas no geral Tratamento de IST’s → Considerando a ampla gama de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), a profilaxia pós-violência sexual contemplará os agravos mais prevalentes, de repercussão clínica de relevância e está indicada em situações de exposição com risco de transmissão, mesmo não sendo observadas lesões. → Para avaliação do risco de infecção deve-se considerar: Tipo de material biológico envolvido Tipo de prática sofrida (penetração anal, oral, vaginal) Número de agressores Tempo de exposição (cárcere privado/sequestro/abuso crônico) Condição himenal: hímen integro ou com rotura (cicatrizada ou recente, única ou múltiplas) Presença de traumatismos genitais Idade Suscetibilidade Lesões prévias em mucosas Presença de ISTs → Sífilis: 2400000 Ui IM dose única de bezentacil → Gonorreia: 500 mg de ceftriaxona IM e 1 g de azitromicina VO dose única (azitromicina também ajuda para clamídia) → Tricomoníase: 2 g VO dose única de metronidazol → HIV: em termos de melhor tolerância gástrica e menor reação em si é a associação de tenofovir e lamivudina 300 mg cada um em um único comprimido, 1 ao dia por 30 dias, e o outro comprimido de dolutegravir 50 mg/dia por mais 30 dias → Hepatite B: avaliar conforme está no protocolo,se tem indicação de fazer imunoglobulina, se está correta a profilaxia já com as vacinas ou não → Prescrição de 1,5 mg de levonorgestrel como anticoncepção caso o β-hCG dessa paciente tenha saído e seja negativo Alta e Retorno → Quando essa paciente tem alta da violência aguda do ambulatório, já deixa-se solicitado um hemograma, glicemia de jejum, ureia, creatina, TGO e TGP, bilirrubinas e o β-hCG (avaliar se a anticoncepção de emergência fez efeito ou não) → Analisar função hepática e renal por conta da toxicidade da terapia antirretroviral → Em 15 dias tem o retorno ao ambulatório: checagem desses exames, atendimento da rede, e deixa um próximo retorno em 45 dias com a solicitação de HIV, VDRL e bacterioscopia de secreção vaginal (analisar se o tratamento que foi prescrito foi adequado e não há recorrência de nada) → Em um próximo retorno com 90 dias solicitamos HIV, VDLR, HBsAg e anti-HCV → Último retorno com 180 dias: exames de HIV, HBsAg e anti-HCV, a partir disso se estiver tudo correto, nada positivou, enfim conseguimos dar alta para essas pacientes → Nos casos crônicos (após 72 horas) não deixa de notificar as delegacias, encaminha a paciente para seguimento no ambulatório: sorologia de entrada, 90 dias e com 180 dias Aborto → O aborto só é autorizado a ser realizado pelo médico em três situações legalizados por lei: para as pacientes vítimas de violência sexual, para as pacientes que existe risco de vida materno e anencefalia. Malformações fetais incompatíveis com a vida só com autorização judicial. → A partir do momento que a paciente entra no hospital abre-se o protocolo de abortamento → Atendida pelo serviço social e faz um relato circunstancial (descritiva de próprio punho da história com data, local, horário) → Quando o médico for fazer o atendimento e análise técnica, deve identificar se a idade gestacional é compatível com a história → Tem que ser conversado, passa por psicólogo, assistente social, para saber se o que aconteceu é realmente verdadeiro. Têm-se a ideia de que se faz muitos abortos, porém o processo final decorre de uma equipe que trabalha para ter o máximo de certeza e evidência possível de que o aborto está correndo por resultado de um estupro, e não porque a pessoa mentiu. → O médico pode escolher não realizar o aborto é um direito segurado pelo Código de Ética Médica, então ele referência para outro médico, a não ser que a pessoa esteja em risco de morte, então o médico deve fazer o procedimento Mulher escolher ter o bebê mas não quer ficar com ele → São assumidas dentro do pré-natal de alto risco do hospital e quando nasce essa paciente tem o direito de levar o bebê para o quarto, amamentar, cuidar, direito aos 120 dias de licença maternidade, mas ela não sai da instituição com essa criança → Depois da alta da mulher a criança é levada, geralmente, para UTI neonatal e de lá o juiz determina que uma família acolhedora busque essa criança – justiça auxilia com os recursos e levam essa criança para casa (em torno de 30 a 40 dias)
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