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Contrarrazões ao recurso/nulidade Petição de Marca 850210187299 31123251934964089 10/05/2021 13:29 912842997Número do Processo: 850210187299Número da Petição: Dados Gerais Nome: ARTHUR WADA PETSHOP CPF/CNPJ/Número INPI: 13270454000124 Endereço: Folha 23 quadra 14 lote 05 Cidade: Maraba Estado: PA CEP: 68509430 Pais: Brasil Natureza Jurídica: Microempresa assim definida em lei e-mail: imperioanimal@hotmail.com Dados do Procurador/Escritório 26825142000181CNPJ: Nome: NASCIMENTO MELO PROPRIEDADE INTELECTUAL LTDA Nº API: e-mail: patrick@nascimentomelo.com.br CPF: 10493386696 Nome: Patrick Raphael Nascimento de Melo UF: MG Nº OAB: 153355MG Procurador: Escritório: Página 1 de 17 Nome do ArquivoDescrição Anexos Manifestacao - IMPERIO ANIMAL.pdfPetição Procuracao assinada (novo formato) - Arthur Wada Petshop (IMPERIO ANIMAL).pdf Procuração Comprovante GRU - IMPERIO ANIMAL.pdfComprovante gru Esta petição foi enviado pelo sistema e-Marcas (Verso 4) em 10/05/2021 às 13:29 Declaro, sob as penas da lei, que todas as informações prestadas neste formulário são verdadeiras. A partir de agora, o número 850210187299 identificará a sua petição junto ao INPI. Portanto guarde-o, a fim de que você possa acompanhar na Revista Eletrônica da Propriedade Industrial - RPI (disponível em formato .pdf no portal www.inpi.gov.br) o andamento da sua petição. Contudo, tratando-se de serviço pago, a aceitação da petição está condicionada à confirmação do pagamento da respectiva GRU (Guia de Recolhimento da União), que deverá ter sido efetuado previamente ao envio deste Obrigado por acessar o e-Marcas. Página 2 de 17 1 À COORDENAÇÃO GERAL DE RECURSOS E PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DE NULIDADE (CGREC) DO INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI) EMENTA: 1. Inexistência do direito de precedência invocado pelo Requerente – Requerida tem data de depósito e concessão do pedido de registro anterior à marca requerente. 2. Ausência de concorrência desleal e da impossibilidade de sua arguição – Matéria afeta à competência alheia do INPI – Inteligência do Parecer/INPI/PROC/DIRAD/Nº 20/08. 3. Inaplicabilidade da vedação do inciso V do art. 124 da LPI – Empresas localizadas em estados federativos distintos. PAN a que deve ser negado provimento. Processo: 912842997 Titular: ARTHUR WADA PETSHOP Marca mista: IMPÉRIO ANIMAL Classe: NCL (11) 44 ARTHUR WADA PETSHOP, já qualificada no presente processo de registro de marca acima epigrafado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria, apresentar tempestivamente a sua MANIFESTAÇÃO CONTRA PROCESSO ADMINISTRATIVO DE NULIDADE instaurado por ELIELSON JOSE FAGOTTI, também já qualificado no âmbito do presente processo, cujo despacho de notificação fora publicado na RPI 2618, de 09/03/2021, tendo em vista os argumentos de fato e de direito a seguir aduzidos. Página 3 de 17 2 1. SOBRE O PROCESSO ADMINISTRATIVO DE NULIDADE INSTAURADO O Requerente, ELIELSON JOSE FAGOTTI, instaurou o presente Processo Administrativo de Nulidade, buscando a declaração, por esse Instituto, da nulidade do registro da marca IMPÉRIO ANIMAL, que possui as seguintes características: Processo: 912842997 Elemento nominativo: IMPÉRIO ANIMAL Classe: NCL (11) 44 Natureza: De Serviço Especificação: Assistência veterinária - [Informação em]; Assistência veterinária - [Consultoria em]; Assistência veterinária - [Assessoria em]; Assistência veterinária; Clínica veterinária - [Informação em]; Clínica veterinária - [Consultoria em]; Clínica veterinária - [Assessoria em]; Clínica veterinária; Coleta, em domicílio, de material para análise clínica médica/veterinária - [Informação em]; Coleta, em domicílio, de material para análise clínica médica/veterinária - [Consultoria em]; Coleta, em domicílio, de material para análise clínica médica/veterinária - [Assessoria em]; Coleta, em domicílio, de material para análise clínica médica/veterinária; Estética para animal [toalete animal] - [Informação em]; Estética para animal [toalete animal] - [Consultoria em]; Estética para animal [toalete animal] - [Assessoria em]; Estética para animal [toalete animal]; Higiene animal [toalete animal] - [Informação em]; Higiene animal [toalete animal] - [Consultoria em]; Higiene animal [toalete animal] - [Assessoria em]; Higiene animal [toalete animal]; Psicologia animal - [Informação em]; Psicologia animal - [Consultoria em]; Psicologia animal - [Assessoria em]; Psicologia animal; Vacinação de animal a domicílio - [Informação em]; Vacinação de animal a domicílio - [Consultoria em]; Vacinação de animal a domicílio - [Assessoria em]; Vacinação de animal a domicílio Situação: REGISTRO Concessão: 24/09/2020 Página 4 de 17 3 O Requerente alega, genericamente, que a concessão do registro acima ocorreu com infração à lei, em razão da preexistência de sua empresa cujo estabelecimento se chamava IMPÉRIO DOS ANIMAIS, com registro assim caracterizado no CNPJ: Entretanto, não há que se falar na procedência do presente requerimento de nulidade, como será minuciosamente detalhado a seguir. 2. DA INEXISTÊNCIA DO DIREITO DE PRECEDÊNCIA INVOCADO PELO REQUERENTE – REQUERIDA TEM DATA DE DEPÓSITO E CONCESSÃO DO PEDIDO DE REGISTRO ANTERIOR AO REQUERENTE A manifestação apresentada pelo Requerente invoca para si do direito de precedência de que trata a norma contida no §1º do art. 129 da LPI. Conforme é cediço, no sistema marcário brasileiro a propriedade de uma marca somente se adquire pelo registro validamente expedido, nos termos do que dispõe o caput do art. 129 da LPI: Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao Página 5 de 17 4 titular seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148. Trata-se do chamado sistema atributivo de direito, em que a propriedade é adquirida somente com a obtenção do registro da marca pelo seu titular, diferentemente do que ocorre com o chamado sistema declarativo, existente em outros países, em que a propriedade de uma marca pode também ser adquirida com o uso. Embora não tenha feito a opção pelo sistema declarativo, o legislador brasileiro buscou fazer uma ressalva àquele que, embora sem registro, já utiliza a marca de boa-fé por considerável prazo anterior em relação ao depositante do registro. Trata-se da exceção trazida pelo 1º do mesmo art. 129, em cuja situação a Opoente afirma se encontrar: § 1º Toda pessoa que, de boa fé, na data da prioridade ou depósito, usava no País, há pelo menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou semelhante, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, terá direito de precedência ao registro. Cuidou a legislação brasileira de excepcionar a regra geral do sistema atributivo de direito, para conferir o chamado direito de precedência ao utente de boa-fé que comprovar o uso da marca em período anterior há pelo menos 06 (seis) meses da data de depósito do pedido de registro. Com fundamento no referido dispositivo, o Requerente afirmou o seu uso anterior há mais de seis meses da data de depósito do pedido de registro feito pela Requerida e reivindicou o seu direito de precedência, sem trazer, no entanto, nenhum documento que comprove sua utilização anterior. O único documento trazido pelo Requerente foi o seu cartão CNPJ. Todavia, como é sabido, esse próprio Instituto entende que o CNPJ não é capaz de comprovar a utilização de uma marca. O CNPJ apenas formaliza a abertura de uma pessoa jurídica. Entretanto, é evidente que ele não é capaz de comprovar a efetiva utilização da marca. Apesar disso, tal documentação sequer precisará ser analisada por esse Instituto. É que, em um Estado Democrático de Direito, nenhum direito é absoluto, sobretudo aqueles existentes sobrebens jurídicos disponíveis, como é o caso do direito de precedência que trata o §1º do art. 129 da LPI. Dessa forma, somente haverá que se falar em direito de precedência caso o depositante do primeiro pedido não fizer uso da referida marca há mais de 06 (seis) meses, sob pena de se criar um “sistema de trapaça” para aquele requerente que não foi diligente e não requereu o seu registro de marca a tempo. Argumentando nesse sentido, observe-se os comentários da doutrina: Página 6 de 17 5 “Na verdade, este dispositivo não constitui um modo de aquisição do direito, mas tão somente o reconhecimento de um uso anterior, de boa- fé, como capaz de obstar o registro com violação aos princípios que regem a propriedade industrial.” O objetivo da norma prescrita pelo art. 129, §1º, da LPI é proteger aquele que já tenha iniciado a utilização da referida marca, mas que ainda não tenha requerido o seu registro. Embora pareça uma contraditória proteção ao utente desidioso, que não requereu o seu pedido de registro logo no início do uso da marca, a norma busca proteger preponderantemente o mercado consumidor, que já está inserido no fundo de comércio criado por aquela marca, atuando a norma como um mecanismo para afastar a concorrência desleal, evitando que determinada pessoa se aproveite da desídia do usuário de uma marca para adquirir o registro marcário que já vem sendo utilizado. Contudo, a aplicação da referida norma não tem espaço na presente situação, pelo fato de que a Requerida TAMBÉM já utilizava a sua marca há mais de 06 (seis) meses da data de depósito de seu pedido de registro. A marca da Requerida (IMPÉRIO ANIMAL) já é conhecida e renomada em seu ramo de atuação há mais de nove anos. Portanto, a norma contida no art. 129, §1º, da LPI não encontra aplicabilidade no presente caso, em razão do fato de que a Requerida também já fazia uso de sua marca há mais de 06 (seis) meses da data de depósito de seu pedido de registro nesse Instituto, “neutralizando”, pois, a impugnação apresentada pelo Requerente e retornando a análise da precedência do registro à regra geral do princípio atributivo do direito: data do primeiro pedido de registro depositado no INPI. Nesse contexto, observa-se que o depósito do pedido de registro da marca requerente foi feito posteriormente ao depósito do pedido de registro da marca requerida, conforme pode ser claramente observado nas imagens a seguir. Página 7 de 17 6 Marca requerente: Marca requerida: Página 8 de 17 7 As imagens acima evidenciam que, enquanto a Requerida depositou o seu pedido de registro em 07/06/2017, o Requerente apenas o fez em 19/06/2020. Dessa forma, como dito anteriormente, diante da simultaneidade de utilização das respectivas marcas há mais de 06 (seis) meses da data de depósito do primeiro pedido de registro, deve prevalecer o registro do primeiro pedido de registro apresentado, independentemente de qual utilização seja a mais antiga. O primeiro argumento que permite tal conclusão é de cunho hermenêutico. Sendo a regra geral aquela contida no caput do art. 129 da LPI (princípio atributivo do direito), e o §1º tratar de uma exceção a essa regra, evidentemente tal exceção deve ser interpretada restritivamente. O que o legislador quis estabelecer é um direito de precedência ao utente de boa-fé quando o requerente do primeiro registro não fizer uso da marca há mais de seis meses. Justamente por isso que se estabeleceu como requisito que o utente de boa-fé faça uso da marca por período superior a isso. Na eventualidade de o depositante do primeiro pedido também fizer uso da marca a prazo superior a 06 (seis) meses, a solução estará na regra geral (art. 129, caput), diante do simples fato de a exceção (art. 129, §1º) não contemplar essa situação. Como se trata da interpretação de uma exceção a uma regra geral, interpretar de forma diversa seria expandir a aplicação da norma em situações não pretendidas pelo legislador. Em suma, seria interpretar a norma contra a sua ratio essendi. O segundo argumento que induz a essa conclusão decorre da premissa de que ninguém pode alegar o descumprimento de uma lei sob o argumento de desconhecê-la (art. 3º, LINDB). Ora, se a Lei da Propriedade Industrial claramente dispõe em seu art. 129 que a propriedade de uma marca somente será adquirida com o seu registro validamente expedido, é possível deduzir que aquele indivíduo que de uma marca se utiliza sem o registro está ciente de que dela não é proprietário e que o uso contínuo não conferir-lhe-á essa condição. Tal comportamento deve ser visto pelo ordenamento jurídico não apenas como desídia, mas também como indício de concorrência desleal, jamais devendo ser estimulado. A desídia, à toda evidência, decorre do simples fato de o utente utilizar a marca sem o registro e não se preocupar com as consequências jurídicas de sua não realização. Já a concorrência desleal, que merece repreensão, é decorrente indiferença ao fato de que o registro possui um viés de conferir publicidade ao mercado de consumo de quem é o titular de uma determinada marca, contribuindo para o combate à simultaneidade de utilização de um determinado sinal, que tem como principal prejudicado o próprio consumidor. Justamente por isso, o comportamento de utilizar uma marca sem registro não deve ser premiado pelo ordenamento jurídico. Interpretar de maneira diversa seria conferir ao utente desidioso, que utiliza sua marca há anos sem registro, uma espécie de “carta-curinga” que o possibilitaria obter a precedência no registro quando qualquer pessoa apresentasse pedido de registro daquela marca. Página 9 de 17 8 Assim, aquele que utiliza uma determinada marca sem registro há vários anos jamais deve ser privilegiado diante do utente responsável que, utilizando o referido sinal também há tempo razoável, requereu primeiro o seu pedido de registro. Adotando integralmente esse entendimento, o Manual de Marcas desse Instituto assim estabelece, em seu item 5.12.6., sem qualquer margem para dúvidas: “Se ambas as partes comprovarem o pré-uso do sinal marcário requerido, há pelo menos 6 (seis) meses antes da data do depósito e ou prioridade reivindicada, o direito sobre o registro da marca pertencerá àquele que primeiro depositar o pedido junto ao INPI, independente de quem faz uso há mais tempo.” (grifou-se) O requisito adotado nos procedimentos realizados por esse Instituto para afastar a aplicação da exceção contida no §1º do art. 129 da LPI é simples: comprovar o primeiro depositante igual utilização da marca por período superior a 06 (seis) meses da data de depósito do pedido de registro. Feito isso, não há que se falar em exceção ao princípio atributivo, atraindo a aplicação da regra geral de que trata o caput. A comprovação do uso anterior a 06 (seis) meses pela Requerida pode ser verificada por meio de seu Facebook, que já possuía postagens da marca desde o ano de 2012, como comprova a imagem abaixo: Diante de todo o exposto, resta claro e incontroverso que não há que se falar na aplicação da norma contida no §1º do art. 129 da LPI no presente caso, em razão da simultaneidade de utilização das marcas sob análise por prazo superior a 06 (seis) meses contados da data de depósito do pedido de registro da Requerida, não devendo, portanto, ser acolhida a oposição apresentada pelo Requerente. Página 10 de 17 9 3. DA AUSÊNCIA DE CONCORRÊNCIA DESLEAL E DA IMPOSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO DE CONCORRÊNCIA DESLEAL – MATÉRIA AFETA À COMPETÊNCIA ALHEIA DO INPI – INTELIGÊNCIA DO PARECER/INPI/PROC/DIRAD/Nº 20/08 Em matéria já pacificada nesse Instituto, por meio do PARECER/INPI/PROC/DIRAD/Nº 20/08, o exame da existência ou não de concorrência desleal é matéria afeta às áreas civil e criminal, não havendo sanções administrativas para sua ocorrência. Em razão disso, foge da alçada de competênciadesse Instituto, o exame de ilações acerca da concorrência desleal, conforme descrito no referido Parecer: “O INPI, como autarquia federal responsável por registros de marcas, concessão de patentes, averbação de contratos de transferência de tecnologia e franquia empresarial, e por registros de programas de computador, desenho industrial e indicações geográficas, de acordo com a Lei de Propriedade Industrial, não possui poder de polícia para analisar a materialidade e culpabilidade de um ilícito penal. Ou seja, por ser a concorrência desleal um tipo penal, o julgamento de questões dessa espécie cabe exclusivamente ao Poder Judiciário. (...) Além disso, enaltece a competência do Poder Judiciário para apurar e reprimir essas espécies de delitos, tendo em vista a dificuldade de sua configuração e apuração, sendo tais procedimentos incompatíveis com os princípios de atuação desta autoridade administrativa, que não possui função judicante. Explicitando o entendimento de que seria uma ilegalidade e abuso de poder a atuação do INPI em ato cuja competência é do Poder Judiciário.” Justamente por isso, as alegações de concorrência desleal perpetradas pelo Requerente não possuem guarida na alçada administrativa desse Instituto, mesmo que, à toda evidência, inexista qualquer possibilidade de verificação de concorrência desleal no presente caso. Por mais esse motivo, não merece acolhimento a manifestação apresentada pelo Requerente, devendo ser mantido o registro da marca requerida. Página 11 de 17 10 4. DA INAPLICABILIDADE DA VEDAÇÃO DO INCISO V DO ART. 124 DA LPI – EMPRESAS LOCALIZADAS EM ESTADOS FEDERATIVOS DISTINTOS A marca requerente apresenta a vedação contida no art. 124, V, da LPI, como um suposto óbice ao registro da marca oposta. A norma contida nesse dispositivo estabelece o seguinte: Art. 124. Não são registráveis como marca: (...) V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos; Com fundamento na norma acima, o Requerente sustenta que o fato de seu nome fantasia ser IMPÉRIO DOS ANIMAIS, seria um impeditivo para o registro da marca IMPÉRIO ANIMAL, da Requerida. Contudo, essa alegação não merece acolhida. Como é cediço, o registro de nomes empresariais/nomes fantasia no Brasil se dá perante as Juntas Comerciais, cuja competência é estadual. Dessa forma, em um dado cenário em que duas empresas sejam sediadas em diferentes estados da nação, seria possível que elas tivessem nomes empresariais idênticos, caso atuassem no mesmo ramo de atividades, mesmo que uma tenha sido constituída 10 ou 15 anos depois da primeira, por exemplo. Dito isso, diante da possibilidade de existirem nomes empresariais idênticos em diferentes estados da federação, não faria sentido a aplicação da norma contida no art. 124, V, da LPI, quando as marcas sob análise sejam de titularidade de empresas sediadas justamente em estados distintos. Fixada essa premissa, evidentemente, só há sentido aplicar a referida norma quando os “concorrentes” atuam no mesmo estado da federação, uma vez que a norma busca proteger aquela empresa que primeiro conseguiu o registro do referido nome empresarial no âmbito daquele determinado estado. No caso das empresas sob análise, enquanto a marca requerente é sediada em Caconde/SP, a Requerida exerce suas atividades em Marabá/PA. Nesse sentido, e com o intuito de pacificar a matéria, já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça, em voto magistral da Ministra Nancy Andrighi: PROPRIEDADE INDUSTRIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE CANCELAMENTO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA QUE ACOLHEU REGISTRO DE MARCA. REPRODUÇÃO DE PARTE DO NOME DE EMPRESA REGISTRADO Página 12 de 17 11 ANTERIORMENTE. LIMITAÇÃO GEOGRÁFICA À PROTEÇÃO DO NOME EMPRESARIAL. ART. 124, V, DA LEI 9.279/96. VIOLAÇÃO. OCORRÊNCIA. COTEJO ANALÍTICO. NÃO REALIZADO. SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. (...) 6. A interpretação do art. 124, V, da LPI que melhor compatibiliza os institutos da marca e do nome comercial é no sentido de que, para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome empresarial de terceiros constitua óbice ao registro de marca - que possui proteção nacional -, necessário, nessa ordem: (i) que a proteção ao nome empresarial não goze somente de tutela restrita a alguns Estados, mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo o território nacional e (ii) que a reprodução ou imitação seja "suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos". Não sendo essa, incontestavelmente, a hipótese dos autos, possível a convivência entre o nome empresarial e a marca, cuja colidência foi suscitada. (...) (REsp 1204488/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/02/2011, DJe 02/03/2011) Acompanhando a jurisprudência acima, também assim já se pronunciou o TRF-2: APELAÇÃO - PROPRIEDADE INDUSTRIAL - MARCA - PEDIDO DE NULIDADE DE REGISTRO - ARGUIÇÃO DE COLIDÊNCIA COM NOME COMERCIAL - SENTENÇA JULGADA PROCEDENTE - REGISTRO EMPRESARIAL EM ESTADOS DIFERENTES DA FEDERAÇAO - RECURSO PROVIDO. I - Cinge-se a controvérsia em saber se o registro misto da marca “FCK”, concedido em 20/05/2008, para designar serviços técnicos de engenharia, viola o artigo 124, V, da LIP. II - Em que pesem as razões expendidas, a jurisprudência de nossos Tribunais já firmou posição de que a proteção ao nome comercial é adstrita apenas à área de registro, qual seja, o estado da Federação onde se localiza a respectiva Junta Comercial. III - Verifica-se, no caso, que a empresa ré, a despeito de também fazer uso do mesmo vocábulo (“FCK”) em sua denominação social, atua em estado completamente distinto da federação, em Brasília, desde 11/11/1994. Fato que por si confirma a validade do registro do réu, de acordo com os precedentes desta Corte e do STJ. IV - Cabendo notar que direito de precedência é tutela de situação de fato, não se confundindo com uso de nome comercial em razão de registro em junta Página 13 de 17 12 comercial. V - Apelação e Remessa Necessária providas. (TRF-2, REEX 201251010125220, SEGUNDA TURMA, Relator: Desembargador Federal MESSOD AZULAY NETO, DJe: 19/08/2014) Sobre a vedação existente no registro de nome empresarial alheio, comentando dispositivo equivalente na vetusta legislação, GAMA CERQUEIRA, com a acuidade que lhe era peculiar, assinalava: “Em regra, o nome do estabelecimento não pode ser incluído em marca de outro comerciante ou industrial que explore o mesmo gênero de comércio ou indústria. Tratando-se, porém, de gêneros diferentes, não há motivo para se impedir o seu emprego. (...) Deve-se notar que, não se tratando de nome comercial ou título de estabelecimentos alheios, é direito do comerciante ou industrial registrar, como marca, o próprio nome comercial, e o título de seu estabelecimento.1” Nesse particular, considerando os apontamentos da mais especializada doutrina, é fato que não se deve ignorar que a Requerida, aqui, não reproduz nome fantasia alheio, mas sim busca o registro do próprio nome fantasia como marca. Nesse particular, a marca IMPÉRIO ANIMAL, registrada nesse Instituto, reproduz o seu próprio nome fantasia: IMPÉRIO ANIMAL. Para além disso, a norma contida no art. 124, V, da LPI traz muito mais do que a singela colidência entre uma marca e os elementos que compõem o nome empresarial de qualquer outra, de modo que tal colidência deve ser suficiente a confundir o público consumidor, consoante se percebe da análise acurada da doutrina: “(...) o suporte fático da norma proibitiva compõe-se de três elementos: a) sinal definidor do nome de empresa ou título de estabelecimento; b) ilegitimação do pretendente a registro, por lhe não pertencer o nome e lhe não ter sido concedido o direito deexplorá-lo e c) possibilidade de confusão. O requisito “c” atenua o caráter absoluto que muitos atribuem ao nome comercial, por interpretação larga da noção de exclusividade que lhe confere a Constituição da República.2” 1 CERQUEIRA, João da Gama, Tratado da Propriedade Industrial, Vol. 2, São Paulo: Ed. RT, 1982, p. 885-887. 2 Instituto Danneman Siemsen de Estudos Jurídicos e Técnicos, Comentários à Lei de Propriedade Industrial, 3a ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2013, p. 237. Página 14 de 17 13 Analisando-se os critérios elencados pela doutrina, acima reproduzidos, verifica-se que dois seriam os elementos faltantes para configurar a aplicação da norma contida no art. 124, V, da LPI (caso estivéssemos falando de duas empresas de mesmo estado): ausência de utilização, pela Requerida, de seu próprio nome empresarial e possibilidade de confusão do público consumidor. Diante de todo o exposto, são fartos os elementos que evidenciam a inaplicabilidade da vedação contida no inciso V do art. 124 da LPI ao presente caso, não havendo que se falar, portanto, na nulidade de registro da marca da Requerida sob esse fundamento. 5. CONCLUSÃO Diante de todo o exposto, fica EVIDENTE, por todos os pareceres de casos semelhantes deste Nobre Instituto, além da maioria da doutrina e consolidada jurisprudência atuarem em prol da Requerida, que o alegado ferimento ao artigo 124, inciso XIX, da LPI e outros alegados pelo Requerente não merecem prosperar. Ademais, conforme demonstrado, a marca requerida possui não apenas a anterioridade do pedido como a própria concessão do registro, de modo que não há possibilidade deste Instituto entender por sua nulidade. Portanto, em razão de toda a argumentação, é mister o julgamento improcedente do pedido de Nulidade Administrativa do Requerente, com o INDEFERIMENTO de tal pedido, em respeito ao Corpo Técnico deste Nobre Instituto, que concedeu o devido registro da marca à Requerida, em consonância com as normas legais, com as normas internas do próprio Instituto Nacional da Propriedade Industrial e, sobretudo, em consonância com a coerência, com a isonomia e com a imparcialidade. EXPOSTO TUDO ISSO e conforme os argumentos anteriormente apresentados, REQUER e REITERA a IMPROCEDÊNCIA DO PRESENTE PROCESSO ADMINISTRATIVO DE NULIDADE, mantendo-se o registro anteriormente concedido. Nesses termos, pede deferimento. Rio de Janeiro/RJ, 07 de maio de 2021. PATRICK R. NASCIMENTO MELO OAB/MG 153.355 Página 15 de 17 Página 16 de 17 06/05/2021 - BANCO DO BRASIL - 12:36:40 056500565 0001 COMPROVANTE DE PAGAMENTO DE TITULOS CLIENTE: ROSE M. I. WADA PET SHOP AGENCIA: 0565-7 CONTA: 73.340-7 ================================================ BANCO DO BRASIL ------------------------------------------------ 00190000090311232519034964089170286410000028000 BENEFICIARIO: INSTITUTO N P I - INPI NOME FANTASIA: INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE I CNPJ: 42.521.088/0001-37 PAGADOR: ARTHUR WADA PETSHOP CNPJ: 13.270.454/0001-24 ------------------------------------------------ NR. DOCUMENTO 50.602 NOSSO NUMERO 31123251934964089 CONVENIO 03112325 DATA DE VENCIMENTO 04/06/2021 DATA DO PAGAMENTO 06/05/2021 VALOR DO DOCUMENTO 280,00 VALOR COBRADO 280,00 ================================================ NR.AUTENTICACAO 2.766.D98.687.9F3.097 ================================================ Central de Atendimento BB 4004 0001 Capitais e regioes metropolitanas 0800 729 0001 Demais localidades. Consultas, informacoes e servicos transacionais. SAC BB 0800 729 0722 Informacoes, reclamacoes, cancelamento de produtos e servicos. Ouvidoria 0800 729 5678 Reclamacoes nao solucionadas nos canais habituais agencia, SAC e demais canais de atendimento. Atendimento a Deficientes Auditivos ou de Fala 0800 729 0088 Informacoes, reclamacoes,cancelamento de cartao, outros produtos e servicos de Ouvidoria. Página 17 de 17 Registro de Marca Formulário Petição Procuração Comprovante gru 2021-05-10T13:29:38-0300 Brasil Documento Assinado - INPI