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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL – INPI Processo nº 923716220 de 22/03/2022 CLASSE: NCL(11) 31 Indeferimento: RPI 2726 de 04/04/2023 Marca: MISTA: “AGROFUTURA” Especificação: Bulbos de plantas; Cereais em grãos, não processados; Grãos [cereais];Grãos [sementes];Grãos de soja, frescos; Mudas [plântulas];Sementes para plantio;- Produtos agrícolas constantes nessa categoria - Grãos e sementes crus não processadas AGROFUTURA COMERCIO REPRESENTAÇÕES DE INSUMOS AGRICOLA LTDA, nome fantasia “AGROFUTURA” pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº 05.883.738/0001-68, já qualificada, não se conformando com o indeferimento do pedido de registro de marcas, publicado na RPI 2726 de 04 de abril de 2023, vem perante Vossa Excelência, por meio de seu procurador signatário interpor o presente RECURSO, pelo que passa a expor e ao final requerer o quanto segue: I - DA DECISÃO RECORRIDA Da digressão da decisão recorrida, depura-se que o registro proposta fora indeferido com base no inciso XIX do Art. 124 da LPI, considerando-se, para tanto, o processo n. 923716360, na qual as empresas FUTURAGRO e REALCE GRUPO FUTURAGRO possuem registro na mesma categoria (NCL 11 – 33), a qual entendeu o julgador que: “O conjunto marcário em exame imita o conjunto da anterioridade apontada, destinada a segmento mercadológico idêntico ao ora especificado, sendo suscetível de causar confusão/associação na hipótese de convivência.” O dispositivo legal apontado pelo examinar apresenta a seguinte redação: Art. 124 - Não são registráveis como marca: XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia; II – DA RECORRENTE A RECORRENTE é pessoa jurídica, constituída desde 17/09/2003, e atuante no setor de comércio e atacadista de defensivos agrícolas, adubos, fertilizantes e corretivos de solo, conforme seu comprovante de inscrição no CNPJ: Ressaltamos ainda que, ao longo de sua atuação, conseguiu obter uma posição de destaque em seu ramo de atividade, o qual foi atingido a partir de um trabalho sério e honesto, sempre voltado para a satisfação de seus clientes. Esses fatores, aliados à originalidade de sua marca, fizeram da RECORRENTE uma empresa altamente conceituada no mercado, conhecida de todo o público, especialmente por oferecer serviços de excelente qualidade. Assim sendo, a marca de natureza mista “AGROFUTURA” foi legalmente depositada em nome da RECORRENTE, nas Classe NCL (11) 39, 31 e 44, para assinalar em suas especificações: Processo n. 925891622 NCL (11) 39 Processo n. 925891851 NCL (11) 31 Processo n. 925892165 NCL (11) 44 Especificação: Armazenagem de produtos e grãos Especificação: Bulbos de plantas; cereais em grãos, não processados; Grãos [cereais]; Grãos [sementes]; Grãos de soja, frescos; Mudas [plântulas]; Sementes para plantio; - Produtos agrícolas constantes nessa categoria - Grãos e sementes crus não processadas Especificação: Aspersão, aérea ou de superfície, de fertilizantes e outras substâncias químicas agrícolas; Colheita [serviços de agricultura]; Exterminação de animais nocivos para agricultura, aquacultura, horticultura e silvicultura; Extermínio de animais nocivos para agricultura, hidro cultura, horticultura e silvicultura.; Preparação de terra; Serviços de controle de pragas para agricultura, aquicultura, horticultura e silvicultura; - Serviços de agricultura constantes nessa classe. Portanto, trata-se a RECORRENTE de pessoa legitimada a requerer registro de marca na classificação internacional escolhida, conforme Lei nº 9.279: Art. 128 - Podem requerer registro de marca as pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou de direito privado. Parágrafo 1o.- As pessoas de direito privado só podem requerer registro de marca relativo à atividade que exerçam efetiva e licitamente, de modo direto ou através de empresas que controlem direta ou indiretamente, declarando, no próprio requerimento, esta condição, sob as penas da lei. Por fim, sinala que a RECORRENTE possui portal eletrônico próprio, apresentando aos clientes de forma clara e distintiva seus ramos de negócio, conforme abaixo colacionado: Disponível em: https://agrofutura-rs.com.br/; acesso em 25/05/2023. III - DAS RAZÕES DE REFORMA III.I - DOS PARADIGMAS E DA SEGURANÇA JURÍDICA Todo depósito de pedido de registro de marca é precedido de uma criteriosa análise, que objetiva identificar se o signo pretendido preenche ou não os requisitos de registrabilidade. São vários filtros, que vão desde a direta e objetiva análise de liceidade e veracidade da marca, quanto a análise, mais subjetiva, do grau de distintividade e disponibilidade. Além da legislação aplicável a espécie, os precedentes do próprio INPI são fundamentais para conferir segurança jurídica ao crivo de registrabilidade de um signo marcário, validando e servindo de regra e guia aos depósitos de marcas. IV – NO MÉRITO IV.I – DA AUSÊNCIA DE OPOSIÇÃO Depois de publicado, o pedido não sofreu nenhuma oposição ao seu registro. Ocorre que, na RPI 2726, foi publicado o despacho de indeferimento do seu pedido de registro de marca, com base na suposta infração ao disposto no art. 124, XIX, da LPI, sob o argumento de reprodução das marcas FUTURAGRO e REALCE GRUPO FUTURAGRO. Como anterioridades impeditivas, foram apontados os seguintes registros: Marca: FUTURAGRO Processo: 923716220 Depósito: Produtos e/ou Serviço Apresentação: Mista Natureza: Produtos e/ou Serviço Classe: NCL(11) 31 Especificação: Arroz não processado; Grãos [cereais]; Grãos [sementes]; Milho; Plantas (Sementes de -); Sementes de plantas; Feijão [grão, produto agrícola in natura]; Milho in natura; Soja [fresca]. Marca: REALCE GRUPO FUTURAGRO Processo: 923714766 Depósito: 26/07/2021 Apresentação: Mista Natureza: Produtos e/ou Serviço Classe: NCL(11) 31 Especificação: Arroz não processado; Grãos [cereais]; Grãos [sementes]; Milho; Plantas (Sementes de -); Sementes de plantas; Feijão [grão, produto agrícola in natura]; Milho in natura; Soja [fresca]. As titulares das marcas apresentadas como anterioridades impeditivas trata-se de pessoas jurídicas, sendo: 1- Razão social: FUTURAGRO DISTRIBUIDORA DE INSUMOS AGRICOLAS LTDA, inscrita no CNPJ sob nº. 86.791.928/0001-57; 2- Razão social: REALCE DISTRIBUIDORA DE INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA, inscrita no CPNPJ sob n º. 22.814.882/0001-61. IV.II. DILUIÇÃO DA MARCA – CARÁTER DISTINTIVO DAS MARCAS IMPOSSIBILITAM A CONFUSÃO DO PÚBLICO CONSUMIDOR EM RAZÃO DE ELEMENTOS NOMINATIVOS EVOCATIVOS Há de se considerar que ao se buscar o registro de uma marca formada por elementos de uso comum, seu titular necessariamente tem de arcar com o ônus de ter o registro de uma marca cuja exclusividade de utilização jamais poderá ser a si assegurada. A doutrina majoritária já classifica essas marcas como diluídas. Isso ocorre porque elas utilizam termos comuns que também são utilizados em outras marcas registradas, inclusive naquelas que atuam no mesmo ramo de atividade. A utilização dos elementos “AGRO” e “FUTURA”, para especificar empresas do ramo do agronegócio, sendo naturalmente evocativas, tendo em vista que tais termos respectivamente sugerem a ideia de “local de domínio” (uma vez que “agro” é o utlizado para gerir fatores ligados à agricultura)e de “futura” (sinalizando apenas desenvolvimento e apromoramento no seu ramo de produção). O registro desse tipo de marca, de fato, não é vedado pela LPI. Contudo, ao optar por utilizar tais elementos evocativos como marca, resta ao seu titular apenas o ônus de ter de suportar a existência de várias outras marcas que também utilizam dos mesmos elementos, desde que revestidas de suficiente forma distintiva, evidentemente, como é o caso da marca recorrente. Tal questão já teve a oportunidade de ser analisada pelo Superior Tribunal de Justiça, que, em voto magistral da lavra do Ministro MARCO BUZZI, assim consignou: “(...)2. Importa assinalar ser possível o registro perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI de marca formada pela combinação de dois ou mais termos genéricos, desde que esta junção se revista de caráter original e distintivo. Embora este tipo de signo comercial seja passível de proteção jurídica, a tutela destinada a ele tem abrangência menor, por ter a nova marca em sua gênese elementos comuns inapropriáveis. Isto é, mesmo sendo defeso a reprodução e a utilização integral de marca composta por elementos comuns, este sinal comercial terá que conviver no mercado com outros signos comerciais semelhantes a ele, pois a vantagem de incorporar à marca característica descritiva do objeto comercializado atrai, em contrapartida, o ônus de se criar um sinal distintivo fraco, sem originalidade marcante ou criatividade exuberante. (...)” (REsp 1107558/RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2013, DJe 06/11/2013) O reduzido risco de confusão ou associação entre as marcas por parte do público consumidor é também constatado pela doutrina especializada, conforme se observa a seguir: “Frequentemente, marcas idênticas ou similares são utilizadas em campos de atividades idênticas ou afins. Em geral, o público consumidor está habituado à coexistência destas marcas e presta maior atenção às diferenças existentes entre elas. Se, por sua vez, novas marcas parecidas vêm se juntar às antigas, o público não as confundirá com aquelas já existentes porque já está habituado a prestar atenção às diferenças, mesmo que fracas, e sabe por consequência distingui-las. A consequência desse processo é que o risco de confusão entre as marcas diminui. Se as marcas, então apresentavam um perigo real de confusão, esta possibilidade está agora excluída e o risco inicial descartado.1” Dessa forma, fica claro que, pela a utilização de termos tão evocativos para o serviço especificado, incorre ao INPI dar exclusividade de utilização a uma única marca, já que a própria natureza dos termos possibilita se afastar qualquer tipo de confusão por parte do público consumidor. Esta tese defende que as marcas que possuem pouca originalidade e distintividade, por serem compostas de termos genéricos, evocativos ou de uso comum, não podem gozar de exclusividade de uso e registro, devendo conviver com outras marcas semelhantes no mercado. Essa tese visa evitar que 1 SEELIG, Geert E. La Théorie de La Distance. In: Revue Internationale de la Propriété Industrielle et Artistique, nº 62, um empresário monopolize um nome ou sinal que pertence ao domínio público e prejudique a concorrência e o consumidor. Para comprovar, colaciona marcas já registradas – antes mesmo da FUTURAGRO e REALCE GRUPO AGROFUTURA - contendo os termos supramencionados, inclusive nas mesmas classes pretendidas pela recorrente: Número Prioridade Marca Situação Titular Classe 824545842 17/04/2002 FUTURA Registro de marca em vigor FUTURA INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA NCL(8) 35 824803159 04/09/2002 FUTURA BIOTECH Registro de marca em vigor S.P.I. COMÉRCIO DE COSMÉTICOS E PERFUMES LTDA NCL(8) 05 824803140 04/09/2002 FUTURA BIOTECH Registro de marca em vigor S.P.I. COMÉRCIO DE COSMÉTICOS E PERFUMES LTDA NCL(8) 03 825042275 20/11/2002 FUTURA Registro de marca em vigor AWADALLAH & RAMIRES BIRIGUI EIRELI - EPP NCL(8) 44 831243031 17/04/2011 FUTURAGENE Registro de marca em vigor FUTURAGENE LIMITED NCL(9) 35 831243040 17/04/2011 FUTURAGENE Registro de marca em vigor FUTURAGENE LIMITED NCL(9) 31 831243082 17/04/2011 FUTURAGENE Registro de marca em vigor FUTURAGENE LIMITED NCL(9) 44 905358031 28/09/2012 FUTURA AGRÍCOLA Registro de marca em vigor FUTURA INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA NCL(10) 35 905361970 01/10/2012 FUTURA AGRÍCOLA Registro de marca em vigor FUTURA INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA NCL(10) 31 907509533 01/04/2014 FUTURA AGRO Registro de marca em vigor FUTURA AGRO COMERCIO DE DEFENSIVOS LTDA. NCL(10) 44 922858764 05/05/2021 FUTURA SERVICES Registro de marca em vigor FUTURA SOLUTIONS E SERVICES NCL(11) 44 Diante do exposto, conclui-se que a tese da marca fraca pode ser utilizada como argumento para recorrer contra o indeferimento do registro da marca recorrente AGROFUTURA pelo INPI, tendo em vista que ela se enquadra https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1509243 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1544977 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1544971 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1568057 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2606157 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2606161 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2606171 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2716587 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2716734 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=3017303 https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=4525895 na categoria das marcas evocativas e não pode ser impedida pelo registro anterior da marca FUTURAGRO e REALCE GRUPO FUTURAGRO. IV.III ANÁLISE DOS CONJUNTOS DE MARCAS COMO UMA TOTALIDADE INDIVISÍVEL E COM DISTINÇÃO SUFICIENTE ENTRE ELES. Primeiramente, apresenta a tabela com a distinção figurativa entre as marcas em análise: AGROFUTURA FUTURAGRO REALCE GRUPO FUTURAGRO A diferência e clara, aparentando na disposição das imagens, na fonética, nas cores, nos objetos utilizados para composição, e ainda mais - no caso da marca REALCE GRUPO FUTURAGRO – apresenta APENAS um pequeno sinal, meramente complementar. Além disso a composição da AGROFUTURA disposta em duas palavras, enquanto a FUTURAGRO é de forma contínua. Ademais, o próprio Manual de Marcas desse Instituto, em seu item 5.9.1, estabelece que a apreciação de uma possível colidência “leva em conta a capacidade distintiva do conjunto em exame, inibindo a apropriação a título exclusivo de sinais genéricos, necessários, de uso comum ou carentes de distintividade em virtude da sua própria constituição” (grifou-se). Trata-se de uma análise do conjunto marcário como um todo, o tout indivisible, do direito francês. Isso quer dizer que os elementos das marcas não devem ser analisados em sua individualidade, mas sim o conjunto marcário como um todo. Clóvis da COSTA RODRIGUES, citando as decisões do CPI/45, ensinava o seguinte: “b) De mais a mais, em se tratando de examinar se uma marca imita a outra, devem as duas ser apreciadas conforme a impressão de conjunto deixada no observador. Um ou outro elemento isolado da marca não influi, se se encontra basicamente diferenciada a impressão do conjunto. c) A marca dessa recorrente nº 25.545, de1928, cuja cópia se anexa, é complexa, formada pelos vários elementos ali descritos, constituindo um conjunto, do qual não pode sua propriedade destacar qualquer dos elementos que o constituem, e elegê-lo, a seu critério, comosendo elemento essencial e característico de sua marca; quando, em verdade, o que a deve caracterizar é a fisionomia do conjunto, o seu aspecto geral, jamais esse ou aquele dos seus elementos componentes considerados isoladamente.”2 No mesmo sentido, na percepção quase poética de MERLEAU-PONTY, na análise entre dois objetos, “não percebemos de início as folhas, depois a árvore; não ouvimos inicialmente as notas, depois a melodia; é o conjunto da árvore ou da melodia que é inicialmente percebida; e é nele [o conjunto] que aprendemos a distinguir as folhas ou as notas”3. Feitas tais considerações, a análise da distintividade entre as marcas aqui em exame não deve ser feita em suas minúcias, em seus detalhes separadamente considerados, mas sim analisando-se o seu todo, toda a impressão do conjunto perante o consumidor. É que, ao deferir o registro de uma marca, o que o INPI faz não é conceder a exclusividade de utilização de cada um de seus elementos individualmente considerados, mas sim a exclusividade de utilização de todo aquele conjunto, como um todo, incluídos os elementos nominativos, figurativos, disposição espacial, jogo de cores, tipografia utilizada etc. O próprio Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de enfrentar o tema, deixando claro que a análise de distintividade não pode ignorar o conjunto marcário como um todo: “(...) 4. A marca mista é aquela constituída pela combinação de elementos nominativos e figurativos ou de elementos nominativos, cuja grafia se apresente de forma estilizada. Embora, em principio, seja admissível o registro de uma mesma marca nominativa para produtos de classes diversas, o mesmo já não se dá com as marcas mistas, pois nessas a imagem de um produto passa necessariamente para o outro na percepção 2 RODRIGUES, Clóvis da Costa. Concorrência Desleal, Rio de Janeiro: Peixoto, 1945, p. 201 3 MERLEAU-PONTY, Phénomélogie de la Perception. Paris: Gallimard, 1945, p. 46 visual do consumidor, ou seja, no caso de marca mista, a parte figurativa e estilizada não pode coincidir com a do produto/serviço em confronto. 4.1 A proteção que o registro marcário visa a conferir ao titular da marca comercial é quanto ao seu conjunto. A despeito de o aproveitamento parasitário ser repelido pelo ordenamento jurídico pátrio, independentemente de registro, tal circunstância é de ser aferida a partir do cotejo, pelo conjunto, das marcas comerciais, sendo desimportante o elemento nominativo, individualmente considerado, sobretudo nas marcas de configuração mista, como é a que foi registrada pela autora. (...)” (REsp 1237752/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 05/03/2015, DJe 27/05/2015) Dito isso, apesar do termo em comum “AGRO”, a utilização de “FUTURA” por cada uma das marcas diferencia ambas tanto gráfica quanto foneticamente, auxiliando a individualização de cada uma delas. Sobre esse último aspecto, sabe-se que o que a LPI veda não é a identidade ou semelhança pura e simples das marcas, mas sim aquela que seja “suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia”, conforme claramente estabelecido no inciso XIX do art. 124. Sobre esse detalhe, confira- se os dizeres da doutrina: “A parte final do inciso é de suma importância e concretiza a preocupação do legislador em evitar excessos ou injustiças na aplicação da proibição legal. Com efeito, o dispositivo obriga o examinador a analisar, no caso concreto, a possibilidade de confusão ou associação entre as marcas, uma vez que, dependendo das circunstâncias fáticas, duas marcas idênticas ou semelhantes, identificando produtos ou serviços da mesma natureza, podem conviver pacificamente, sem induzir consumidores a erro.”4 Em um aparente conflito de marcas, além da análise do conjunto marcário como um todo, é fundamental identificar a possibilidade ou não de confusão do público consumidor. Mesmo existindo uma semelhança entre os sinais (o que não acontece no presente caso), acaso ela não seja apta a causar confusão ou associação entre as marcas no mercado consumidor, não há que se falar na impossibilidade de convivência entre elas. Isto posto uma vez afastada qualquer semelhança entre os conjuntos marcários de cada um dos sinais aqui em análise, não há que se falar em infringência ao disposto no art. 124, XIX, da LPI. IV.IV DA FONÉTICA Quanto à análise fonética das marcas, denota-se uma diferença significativa, incapaz de produzir confusão ao consumidor, senão vejamos: • A marca AGROFUTURA é formada pela junção dos termos "agro" e "futura", que remetem ao setor agrícola e à ideia de inovação, respectivamente. A marca e fonética constantes na FUTURAGRO é formada pela inversão desses termos, alterando a ordem e o sentido da expressão. • A marca AGROFUTURA possui cinco sílabas (a-gro-fu-tu-ra), sendo a terceira sílaba (fu) a tônica. A marca e fonética constantes na FUTURAGRO possui quatro sílabas (fu-tu-ra-gro), sendo a primeira sílaba (fu) a tônica. Portanto, as marcas apresentam diferentes estruturas silábicas e acentuações. • A marca AGROFUTURA inicia-se com a vogal aberta "a" e termina com a vogal fechada "a". A marca e fonética constantes na FUTURAGRO inicia-se com a consoante oclusiva "f" e termina com a consoante oclusiva "g". Assim, as marcas possuem diferentes sons iniciais e finais, que são elementos distintivos relevantes na percepção auditiva dos consumidores.] • A marca AGROFUTURA apresenta de forma clara em seu sinal figurativo a divisão das palavras “AGRO” e “FUTURA”, enquanto a FUTURAGRO é uníssona4. Logo, as marcas apresentam diferentes composições fonéticas, que influenciam na pronúncia e na memorização delas. 4 Uníssona é um adjetivo que se refere a sons que são emitidos ao mesmo tempo, na mesma altura e com a mesma intensidade, produzindo uma harmonia perfeita. Diante do exposto, conclui-se que as marcas AGROFUTURA, FUTURAGRO e REALCE GRUPO FUTURAGRO possuem diferenças fonéticas significativas, que permitem sua coexistência no mercado sem causar confusão ou associação indevida entre os consumidores. V. – DA EMPRESA REALCE GRUPO FUTURAGRO: No processo em epígrafe, o julgador indeferiu o pedido de registro da marca da decorrente em razão de existir anterioridade com a marca REALCE GRUPO FUTURAGRO (Processo n. 923714766), além da própria FUTURAGRO (Processo n. 923716220), ambas na mesma classificação – NCL (11) 31 – na qual a RECORRENTE AGROFUTURA postulou o registro. Fins de evitar tautologia, reporta-se aos argumentos já trazido quanto ao termo FUTURAGRO, a qual compõe a marca REALCE de forma secundária, sinalizando apenas a composição empresarial da empresa. VI – DOS REGISTROS QUE FUNDAMENTARAM O INDEFERIMENTO Os registros foram indeferidos para a RECORRENTE com fundamento nos seguintes processos abaixo discriminados: PROCESSO REFERÊNCIA PROCESSO CLASSIFICAÇÃO ESPECIFICAÇÃO ELEMENTO FIGURATIVO NOME DA MARCA 925891622 923716360 NCL (11) 39 Armazenagem de produtos e grãos. FUTURAGRO 925891851 923716220 NCL (11) 31 Arroz não processado; Grãos [cereais]; Grãos [sementes]; Milho; Plantas (Sementes de -); Sementes de plantas; Feijão [grão, produto agrícola in natura]; Milho in natura; Soja [fresca]. FUTURAGRO 925891851 923714766 NCL (11) 31 Arroz não processado; Grãos [cereais]; Grãos [sementes]; Milho; Plantas (Sementes de -); Sementes de plantas; Feijão [grão, produto agrícola in natura]; Milho in natura; Soja [fresca]. REALCE GRUPO FUTURAGRO 925892165923716521 NCL (11) 44 Animais nocivos (Extermínio de -) [para agricultura, horticultura e silvicultura]; Aspersão, aérea ou de superfície, de fertilizantes e outras substâncias químicas agrícolas; Ervas daninhas (Destruição de -); Extermínio de animais nocivos [para agricultura, horticultura e silvicultura]; Fertilizantes e outras substâncias químicas agrícolas (Aspersão, aérea ou de superfície, de -); Assessoria consultoria e informação na área agrícola; Assessoria, consultoria e informações sobre pesquisas no campo de agricultura; Colheita [serviços de agricultura]; Pulverização [agropecuária]; Tratamento fitossanitário [controle de pragas agrícolas]. FUTURAGRO A apresentação fundamentada desta tabela fundamenta-se no fato de que ambas as empresas utilizadas pelo julgador possuem ramos de atividades específicos – teor fundamentado no tópico a seguir – além de possuírem elementos figurativos e ramos de atividades completamente diversos da RECORRENTE, embora registrados na mesma categoria. Devidamente sinalizadas as classificações específicas colidentes, ressalva-se o fato de que estas são utilizadas de forma ampla na agricultura e cultivo de plantas, não havendo formas descritivas que possam discriminar devidamente os ramos de atividade das empresas. Outrossim, mister salientar que a atividade agrícola é amplamente realizada em território nacional, utilizando para tanto todas as técnicas acima elencadas, e não devendo servir para impedir o registro da RECORRENTE, localizada em longa distância, com elemento figurativo COMPLETAMENTE diverso dos registros anteriores utilizados como razão de indeferimento. VII – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Por fim, importante destacar que as anterioridades trazidas, que estão megistrada na mesma classe da marca proposta, não foram apresentadas oposições ao pedido em epígrafe, certamente entendo pela impossibilidade de confusão junto ao mercado consumidor, que é totalmente diferente. VIII - DO PEDIDO À VISTA DO EXPOSTO, protesta o recorrente pelo recebimento e provimento do presente recurso para, reformada a decisão recorrida, DEFERIR o pedido de registro da marca “AGROFUTURA”, na NCL (11) 31, modalidade mista, processo n. 925891851. Ijuí, 01 de junho de 2023. LUIZ FERNANDO SOARES COSTA OAB/RS nº 66.379 RICARDO DE LUCA ROSSETTO Estagiário de Direito