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RECURSO - 925891851 - PRONTO


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO 
INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL – INPI 
 
Processo nº 923716220 de 22/03/2022 
CLASSE: NCL(11) 31 
Indeferimento: RPI 2726 de 04/04/2023 
Marca: MISTA: “AGROFUTURA” 
Especificação: Bulbos de plantas; Cereais 
em grãos, não processados; Grãos 
[cereais];Grãos [sementes];Grãos de soja, 
frescos; Mudas [plântulas];Sementes para 
plantio;- Produtos agrícolas constantes 
nessa categoria - Grãos e sementes crus 
não processadas 
 
 
 
AGROFUTURA COMERCIO REPRESENTAÇÕES DE INSUMOS 
AGRICOLA LTDA, nome fantasia “AGROFUTURA” pessoa 
jurídica de direito privado, CNPJ nº 05.883.738/0001-68, já 
qualificada, não se conformando com o indeferimento do 
pedido de registro de marcas, publicado na RPI 2726 de 04 
de abril de 2023, vem perante Vossa Excelência, por meio de 
seu procurador signatário interpor o presente RECURSO, pelo 
que passa a expor e ao final requerer o quanto segue: 
 
I - DA DECISÃO RECORRIDA 
 
Da digressão da decisão recorrida, depura-se que o registro proposta 
fora indeferido com base no inciso XIX do Art. 124 da LPI, considerando-se, para 
tanto, o processo n. 923716360, na qual as empresas FUTURAGRO e REALCE 
GRUPO FUTURAGRO possuem registro na mesma categoria (NCL 11 – 33), a qual 
entendeu o julgador que: 
 
“O conjunto marcário em exame imita o conjunto da anterioridade 
apontada, destinada a segmento mercadológico idêntico ao ora 
especificado, sendo suscetível de causar confusão/associação na 
hipótese de convivência.” 
 
 
O dispositivo legal apontado pelo examinar apresenta a seguinte 
redação: 
Art. 124 - Não são registráveis como marca: XIX - reprodução ou 
imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo, de 
marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto ou 
serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão 
ou associação com marca alheia; 
 
II – DA RECORRENTE 
 
A RECORRENTE é pessoa jurídica, constituída desde 17/09/2003, e 
atuante no setor de comércio e atacadista de defensivos agrícolas, adubos, 
fertilizantes e corretivos de solo, conforme seu comprovante de inscrição no 
CNPJ: 
 
 
 
Ressaltamos ainda que, ao longo de sua atuação, conseguiu obter uma 
posição de destaque em seu ramo de atividade, o qual foi atingido a partir de 
um trabalho sério e honesto, sempre voltado para a satisfação de seus clientes. 
Esses fatores, aliados à originalidade de sua marca, fizeram da 
RECORRENTE uma empresa altamente conceituada no mercado, conhecida 
de todo o público, especialmente por oferecer serviços de excelente 
qualidade. 
Assim sendo, a marca de natureza mista “AGROFUTURA” foi legalmente 
depositada em nome da RECORRENTE, nas Classe NCL (11) 39, 31 e 44, para 
assinalar em suas especificações: 
Processo n. 925891622 
NCL (11) 39 
Processo n. 925891851 
NCL (11) 31 
Processo n. 925892165 
NCL (11) 44 
Especificação: 
Armazenagem de 
produtos e grãos 
Especificação: 
Bulbos de plantas; 
cereais em grãos, não 
processados; Grãos 
[cereais]; Grãos 
[sementes]; Grãos de 
soja, frescos; Mudas 
[plântulas]; Sementes 
para plantio; - Produtos 
agrícolas constantes 
nessa categoria - Grãos 
e sementes crus não 
processadas 
Especificação: 
Aspersão, aérea ou de 
superfície, de fertilizantes 
e outras substâncias 
químicas agrícolas; 
Colheita [serviços de 
agricultura]; 
Exterminação de animais 
nocivos para agricultura, 
aquacultura, horticultura 
e silvicultura; Extermínio 
de animais nocivos para 
agricultura, hidro cultura, 
horticultura e silvicultura.; 
Preparação de terra; 
Serviços de controle de 
pragas para agricultura, 
aquicultura, horticultura 
e silvicultura; - Serviços 
de agricultura constantes 
nessa classe. 
 
 
 
Portanto, trata-se a RECORRENTE de pessoa legitimada a requerer 
registro de marca na classificação internacional escolhida, conforme Lei nº 
9.279: 
 
Art. 128 - Podem requerer registro de marca as pessoas físicas ou 
jurídicas de direito público ou de direito privado. 
Parágrafo 1o.- As pessoas de direito privado só podem requerer 
registro de marca relativo à atividade que exerçam efetiva e 
licitamente, de modo direto ou através de empresas que 
controlem direta ou indiretamente, declarando, no próprio 
requerimento, esta condição, sob as penas da lei. 
 
Por fim, sinala que a RECORRENTE possui portal eletrônico próprio, 
apresentando aos clientes de forma clara e distintiva seus ramos de negócio, 
conforme abaixo colacionado: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Disponível em: https://agrofutura-rs.com.br/; acesso em 25/05/2023. 
 
 
 
III - DAS RAZÕES DE REFORMA 
 
III.I - DOS PARADIGMAS E DA SEGURANÇA JURÍDICA 
Todo depósito de pedido de registro de marca é precedido de uma 
criteriosa análise, que objetiva identificar se o signo pretendido preenche ou 
não os requisitos de registrabilidade. São vários filtros, que vão desde a direta e 
objetiva análise de liceidade e veracidade da marca, quanto a análise, mais 
subjetiva, do grau de distintividade e disponibilidade. Além da legislação 
aplicável a espécie, os precedentes do próprio INPI são fundamentais para 
conferir segurança jurídica ao crivo de registrabilidade de um signo marcário, 
validando e servindo de regra e guia aos depósitos de marcas. 
 
 
 
 
 
IV – NO MÉRITO 
 
IV.I – DA AUSÊNCIA DE OPOSIÇÃO 
Depois de publicado, o pedido não sofreu nenhuma oposição ao seu 
registro. Ocorre que, na RPI 2726, foi publicado o despacho de indeferimento 
do seu pedido de registro de marca, com base na suposta infração ao disposto 
no art. 124, XIX, da LPI, sob o argumento de reprodução das marcas FUTURAGRO 
e REALCE GRUPO FUTURAGRO. Como anterioridades impeditivas, foram 
apontados os seguintes registros: 
 
Marca: FUTURAGRO 
Processo: 923716220 
Depósito: Produtos e/ou Serviço 
Apresentação: Mista 
Natureza: Produtos e/ou Serviço 
Classe: NCL(11) 31 
Especificação: Arroz não processado; Grãos 
[cereais]; Grãos [sementes]; Milho; Plantas 
(Sementes de -); Sementes de plantas; Feijão [grão, 
produto agrícola in natura]; Milho in natura; Soja 
[fresca]. 
 
Marca: REALCE GRUPO FUTURAGRO 
Processo: 923714766 
Depósito: 26/07/2021 
Apresentação: Mista 
Natureza: Produtos e/ou Serviço 
Classe: NCL(11) 31 
Especificação: Arroz não processado; Grãos 
[cereais]; Grãos [sementes]; Milho; Plantas 
(Sementes de -); Sementes de plantas; Feijão [grão, 
produto agrícola in natura]; Milho in natura; Soja 
[fresca]. 
 
 
 
As titulares das marcas apresentadas como anterioridades impeditivas 
trata-se de pessoas jurídicas, sendo: 
1- Razão social: FUTURAGRO DISTRIBUIDORA DE INSUMOS AGRICOLAS 
LTDA, inscrita no CNPJ sob nº. 86.791.928/0001-57; 
2- Razão social: REALCE DISTRIBUIDORA DE INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA, 
inscrita no CPNPJ sob n º. 22.814.882/0001-61. 
 
IV.II. DILUIÇÃO DA MARCA – CARÁTER DISTINTIVO DAS MARCAS IMPOSSIBILITAM 
A CONFUSÃO DO PÚBLICO CONSUMIDOR EM RAZÃO DE ELEMENTOS 
NOMINATIVOS EVOCATIVOS 
 
Há de se considerar que ao se buscar o registro de uma marca formada 
por elementos de uso comum, seu titular necessariamente tem de arcar com o 
ônus de ter o registro de uma marca cuja exclusividade de utilização jamais 
poderá ser a si assegurada. 
A doutrina majoritária já classifica essas marcas como diluídas. Isso 
ocorre porque elas utilizam termos comuns que também são utilizados em outras 
marcas registradas, inclusive naquelas que atuam no mesmo ramo de 
atividade. 
A utilização dos elementos “AGRO” e “FUTURA”, para especificar 
empresas do ramo do agronegócio, sendo naturalmente evocativas, tendo em 
vista que tais termos respectivamente sugerem a ideia de “local de domínio” 
(uma vez que “agro” é o utlizado para gerir fatores ligados à agricultura)e de 
“futura” (sinalizando apenas desenvolvimento e apromoramento no seu ramo 
de produção). 
O registro desse tipo de marca, de fato, não é vedado pela LPI. 
Contudo, ao optar por utilizar tais elementos evocativos como marca, resta ao 
seu titular apenas o ônus de ter de suportar a existência de várias outras marcas 
que também utilizam dos mesmos elementos, desde que revestidas de 
suficiente forma distintiva, evidentemente, como é o caso da marca recorrente. 
Tal questão já teve a oportunidade de ser analisada pelo Superior Tribunal de 
Justiça, que, em voto magistral da lavra do Ministro MARCO BUZZI, assim 
consignou: 
 
 
 
“(...)2. Importa assinalar ser possível o registro perante o Instituto 
Nacional de Propriedade Industrial - INPI de marca formada pela 
combinação de dois ou mais termos genéricos, desde que esta 
junção se revista de caráter original e distintivo. Embora este tipo 
de signo comercial seja passível de proteção jurídica, a tutela 
destinada a ele tem abrangência menor, por ter a nova marca 
em sua gênese elementos comuns inapropriáveis. Isto é, mesmo 
sendo defeso a reprodução e a utilização integral de marca 
composta por elementos comuns, este sinal comercial terá que 
conviver no mercado com outros signos comerciais semelhantes 
a ele, pois a vantagem de incorporar à marca característica 
descritiva do objeto comercializado atrai, em contrapartida, o 
ônus de se criar um sinal distintivo fraco, sem originalidade 
marcante ou criatividade exuberante. (...)” (REsp 1107558/RJ, 
Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 
01/10/2013, DJe 06/11/2013) 
 
O reduzido risco de confusão ou associação entre as marcas por parte 
do público consumidor é também constatado pela doutrina especializada, 
conforme se observa a seguir: 
 
“Frequentemente, marcas idênticas ou similares são utilizadas 
em campos de atividades idênticas ou afins. Em geral, o público 
consumidor está habituado à coexistência destas marcas e 
presta maior atenção às diferenças existentes entre elas. Se, por 
sua vez, novas marcas parecidas vêm se juntar às antigas, o 
público não as confundirá com aquelas já existentes porque já 
está habituado a prestar atenção às diferenças, mesmo que 
fracas, e sabe por consequência distingui-las. A consequência 
desse processo é que o risco de confusão entre as marcas 
diminui. Se as marcas, então apresentavam um perigo real de 
confusão, esta possibilidade está agora excluída e o risco inicial 
descartado.1” 
 
Dessa forma, fica claro que, pela a utilização de termos tão evocativos 
para o serviço especificado, incorre ao INPI dar exclusividade de utilização a 
uma única marca, já que a própria natureza dos termos possibilita se afastar 
qualquer tipo de confusão por parte do público consumidor. 
Esta tese defende que as marcas que possuem pouca originalidade e 
distintividade, por serem compostas de termos genéricos, evocativos ou de uso 
comum, não podem gozar de exclusividade de uso e registro, devendo 
conviver com outras marcas semelhantes no mercado. Essa tese visa evitar que 
 
1 SEELIG, Geert E. La Théorie de La Distance. In: Revue Internationale de la Propriété Industrielle et 
Artistique, nº 62, 
 
 
um empresário monopolize um nome ou sinal que pertence ao domínio público 
e prejudique a concorrência e o consumidor. 
Para comprovar, colaciona marcas já registradas – antes mesmo da 
FUTURAGRO e REALCE GRUPO AGROFUTURA - contendo os termos 
supramencionados, inclusive nas mesmas classes pretendidas pela recorrente: 
 
 
 
Número Prioridade Marca Situação Titular Classe 
 
824545842 17/04/2002 
 
FUTURA 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURA INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA NCL(8) 35 
 
824803159 04/09/2002 
 
FUTURA BIOTECH 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
S.P.I. COMÉRCIO DE COSMÉTICOS E 
PERFUMES LTDA NCL(8) 05 
 
824803140 04/09/2002 
 
FUTURA BIOTECH 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
S.P.I. COMÉRCIO DE COSMÉTICOS E 
PERFUMES LTDA NCL(8) 03 
 
825042275 20/11/2002 
 
FUTURA 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
AWADALLAH & RAMIRES BIRIGUI EIRELI 
- EPP NCL(8) 44 
 
831243031 17/04/2011 
 
FUTURAGENE 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURAGENE LIMITED NCL(9) 35 
 
831243040 17/04/2011 
 
FUTURAGENE 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURAGENE LIMITED NCL(9) 31 
 
831243082 17/04/2011 
 
FUTURAGENE 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURAGENE LIMITED NCL(9) 44 
 
905358031 28/09/2012 
 
FUTURA AGRÍCOLA 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURA INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA NCL(10) 35 
 
905361970 01/10/2012 
 
FUTURA AGRÍCOLA 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURA INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA NCL(10) 31 
 
907509533 01/04/2014 
 
FUTURA AGRO 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURA AGRO COMERCIO DE 
DEFENSIVOS LTDA. NCL(10) 44 
 
922858764 05/05/2021 
 
FUTURA SERVICES 
 
Registro de 
marca em 
vigor 
FUTURA SOLUTIONS E SERVICES NCL(11) 44 
 
Diante do exposto, conclui-se que a tese da marca fraca pode ser 
utilizada como argumento para recorrer contra o indeferimento do registro da 
marca recorrente AGROFUTURA pelo INPI, tendo em vista que ela se enquadra 
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1509243
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1544977
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1544971
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=1568057
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2606157
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2606161
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2606171
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2716587
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=2716734
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=3017303
https://busca.inpi.gov.br/pePI/servlet/MarcasServletController?Action=detail&CodPedido=4525895
 
 
na categoria das marcas evocativas e não pode ser impedida pelo registro 
anterior da marca FUTURAGRO e REALCE GRUPO FUTURAGRO. 
 
IV.III ANÁLISE DOS CONJUNTOS DE MARCAS COMO UMA TOTALIDADE 
INDIVISÍVEL E COM DISTINÇÃO SUFICIENTE ENTRE ELES. 
Primeiramente, apresenta a tabela com a distinção figurativa entre as 
marcas em análise: 
AGROFUTURA FUTURAGRO REALCE GRUPO 
FUTURAGRO 
 
 
 
A diferência e clara, aparentando na disposição das imagens, na 
fonética, nas cores, nos objetos utilizados para composição, e ainda mais - no 
caso da marca REALCE GRUPO FUTURAGRO – apresenta APENAS um pequeno 
sinal, meramente complementar. Além disso a composição da AGROFUTURA 
disposta em duas palavras, enquanto a FUTURAGRO é de forma contínua. 
Ademais, o próprio Manual de Marcas desse Instituto, em seu item 5.9.1, 
estabelece que a apreciação de uma possível colidência “leva em conta a 
capacidade distintiva do conjunto em exame, inibindo a apropriação a título 
exclusivo de sinais genéricos, necessários, de uso comum ou carentes de 
distintividade em virtude da sua própria constituição” (grifou-se). 
Trata-se de uma análise do conjunto marcário como um todo, o tout 
indivisible, do direito francês. Isso quer dizer que os elementos das marcas não 
devem ser analisados em sua individualidade, mas sim o conjunto marcário 
como um todo. Clóvis da COSTA RODRIGUES, citando as decisões do CPI/45, 
ensinava o seguinte: 
 
 
“b) De mais a mais, em se tratando de examinar se uma marca 
imita a outra, devem as duas ser apreciadas conforme a 
impressão de conjunto deixada no observador. Um ou outro 
elemento isolado da marca não influi, se se encontra 
basicamente diferenciada a impressão do conjunto. c) A marca 
dessa recorrente nº 25.545, de1928, cuja cópia se anexa, é 
complexa, formada pelos vários elementos ali descritos, 
constituindo um conjunto, do qual não pode sua propriedade 
destacar qualquer dos elementos que o constituem, e elegê-lo, 
a seu critério, comosendo elemento essencial e característico 
de sua marca; quando, em verdade, o que a deve caracterizar 
é a fisionomia do conjunto, o seu aspecto geral, jamais esse ou 
aquele dos seus elementos componentes considerados 
isoladamente.”2 
 
No mesmo sentido, na percepção quase poética de MERLEAU-PONTY, 
na análise entre dois objetos, “não percebemos de início as folhas, depois a 
árvore; não ouvimos inicialmente as notas, depois a melodia; é o conjunto da 
árvore ou da melodia que é inicialmente percebida; e é nele [o conjunto] que 
aprendemos a distinguir as folhas ou as notas”3. 
Feitas tais considerações, a análise da distintividade entre as marcas 
aqui em exame não deve ser feita em suas minúcias, em seus detalhes 
separadamente considerados, mas sim analisando-se o seu todo, toda a 
impressão do conjunto perante o consumidor. 
É que, ao deferir o registro de uma marca, o que o INPI faz não é 
conceder a exclusividade de utilização de cada um de seus elementos 
individualmente considerados, mas sim a exclusividade de utilização de todo 
aquele conjunto, como um todo, incluídos os elementos nominativos, 
figurativos, disposição espacial, jogo de cores, tipografia utilizada etc. 
O próprio Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de 
enfrentar o tema, deixando claro que a análise de distintividade não pode 
ignorar o conjunto marcário como um todo: 
 
“(...) 4. A marca mista é aquela constituída pela combinação de 
elementos nominativos e figurativos ou de elementos 
nominativos, cuja grafia se apresente de forma estilizada. 
Embora, em principio, seja admissível o registro de uma mesma 
marca nominativa para produtos de classes diversas, o mesmo 
já não se dá com as marcas mistas, pois nessas a imagem de um 
produto passa necessariamente para o outro na percepção 
 
2 RODRIGUES, Clóvis da Costa. Concorrência Desleal, Rio de Janeiro: Peixoto, 1945, p. 201 
3 MERLEAU-PONTY, Phénomélogie de la Perception. Paris: Gallimard, 1945, p. 46 
 
 
visual do consumidor, ou seja, no caso de marca mista, a parte 
figurativa e estilizada não pode coincidir com a do 
produto/serviço em confronto. 4.1 A proteção que o registro 
marcário visa a conferir ao titular da marca comercial é quanto 
ao seu conjunto. A despeito de o aproveitamento parasitário ser 
repelido pelo ordenamento jurídico pátrio, independentemente 
de registro, tal circunstância é de ser aferida a partir do cotejo, 
pelo conjunto, das marcas comerciais, sendo desimportante o 
elemento nominativo, individualmente considerado, sobretudo 
nas marcas de configuração mista, como é a que foi registrada 
pela autora. (...)” (REsp 1237752/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE 
SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO BUZZI, QUARTA 
TURMA, julgado em 05/03/2015, DJe 27/05/2015) 
 
Dito isso, apesar do termo em comum “AGRO”, a utilização de “FUTURA” 
por cada uma das marcas diferencia ambas tanto gráfica quanto 
foneticamente, auxiliando a individualização de cada uma delas. 
Sobre esse último aspecto, sabe-se que o que a LPI veda não é a 
identidade ou semelhança pura e simples das marcas, mas sim aquela que seja 
“suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia”, conforme 
claramente estabelecido no inciso XIX do art. 124. Sobre esse detalhe, confira-
se os dizeres da doutrina: 
 
“A parte final do inciso é de suma importância e concretiza a 
preocupação do legislador em evitar excessos ou injustiças na 
aplicação da proibição legal. Com efeito, o dispositivo obriga o 
examinador a analisar, no caso concreto, a possibilidade de 
confusão ou associação entre as marcas, uma vez que, 
dependendo das circunstâncias fáticas, duas marcas idênticas 
ou semelhantes, identificando produtos ou serviços da mesma 
natureza, podem conviver pacificamente, sem induzir 
consumidores a erro.”4 
 
Em um aparente conflito de marcas, além da análise do conjunto 
marcário como um todo, é fundamental identificar a possibilidade ou não de 
confusão do público consumidor. Mesmo existindo uma semelhança entre os 
sinais (o que não acontece no presente caso), acaso ela não seja apta a causar 
confusão ou associação entre as marcas no mercado consumidor, não há que 
se falar na impossibilidade de convivência entre elas. 
 
 
Isto posto uma vez afastada qualquer semelhança entre os conjuntos 
marcários de cada um dos sinais aqui em análise, não há que se falar em 
infringência ao disposto no art. 124, XIX, da LPI. 
 
IV.IV DA FONÉTICA 
Quanto à análise fonética das marcas, denota-se uma diferença 
significativa, incapaz de produzir confusão ao consumidor, senão vejamos: 
 
• A marca AGROFUTURA é formada pela junção dos termos "agro" 
e "futura", que remetem ao setor agrícola e à ideia de inovação, 
respectivamente. A marca e fonética constantes na FUTURAGRO 
é formada pela inversão desses termos, alterando a ordem e o 
sentido da expressão. 
• A marca AGROFUTURA possui cinco sílabas (a-gro-fu-tu-ra), sendo 
a terceira sílaba (fu) a tônica. A marca e fonética constantes na 
FUTURAGRO possui quatro sílabas (fu-tu-ra-gro), sendo a primeira 
sílaba (fu) a tônica. Portanto, as marcas apresentam diferentes 
estruturas silábicas e acentuações. 
• A marca AGROFUTURA inicia-se com a vogal aberta "a" e termina 
com a vogal fechada "a". A marca e fonética constantes na 
FUTURAGRO inicia-se com a consoante oclusiva "f" e termina com 
a consoante oclusiva "g". Assim, as marcas possuem diferentes 
sons iniciais e finais, que são elementos distintivos relevantes na 
percepção auditiva dos consumidores.] 
• A marca AGROFUTURA apresenta de forma clara em seu sinal 
figurativo a divisão das palavras “AGRO” e “FUTURA”, enquanto 
a FUTURAGRO é uníssona4. 
 
Logo, as marcas apresentam diferentes composições fonéticas, que 
influenciam na pronúncia e na memorização delas. 
 
4 Uníssona é um adjetivo que se refere a sons que são emitidos ao mesmo tempo, na mesma 
altura e com a mesma intensidade, produzindo uma harmonia perfeita. 
 
 
Diante do exposto, conclui-se que as marcas AGROFUTURA, FUTURAGRO 
e REALCE GRUPO FUTURAGRO possuem diferenças fonéticas significativas, que 
permitem sua coexistência no mercado sem causar confusão ou associação 
indevida entre os consumidores. 
 
 
V. – DA EMPRESA REALCE GRUPO FUTURAGRO: 
No processo em epígrafe, o julgador indeferiu o pedido de registro da 
marca da decorrente em razão de existir anterioridade com a marca REALCE 
GRUPO FUTURAGRO (Processo n. 923714766), além da própria FUTURAGRO 
(Processo n. 923716220), ambas na mesma classificação – NCL (11) 31 – na qual 
a RECORRENTE AGROFUTURA postulou o registro. 
Fins de evitar tautologia, reporta-se aos argumentos já trazido quanto 
ao termo FUTURAGRO, a qual compõe a marca REALCE de forma secundária, 
sinalizando apenas a composição empresarial da empresa. 
 
VI – DOS REGISTROS QUE FUNDAMENTARAM O INDEFERIMENTO 
Os registros foram indeferidos para a RECORRENTE com fundamento nos 
seguintes processos abaixo discriminados: 
PROCESSO 
REFERÊNCIA 
PROCESSO CLASSIFICAÇÃO ESPECIFICAÇÃO ELEMENTO 
FIGURATIVO 
NOME DA 
MARCA 
925891622 923716360 NCL (11) 39 Armazenagem de 
produtos e grãos. 
 
FUTURAGRO 
925891851 923716220 NCL (11) 31 Arroz não 
processado; Grãos 
[cereais]; Grãos 
[sementes]; Milho; 
Plantas (Sementes de 
-); Sementes de 
plantas; Feijão [grão, 
produto agrícola in 
natura]; Milho in 
natura; Soja [fresca]. 
 
FUTURAGRO 
 
 
925891851 923714766 NCL (11) 31 Arroz não 
processado; Grãos 
[cereais]; Grãos 
[sementes]; Milho; 
Plantas (Sementes de 
-); Sementes de 
plantas; Feijão [grão, 
produto agrícola in 
natura]; Milho in 
natura; Soja [fresca]. 
 
REALCE 
GRUPO 
FUTURAGRO 
925892165923716521 NCL (11) 44 Animais nocivos 
(Extermínio de -) 
[para agricultura, 
horticultura e 
silvicultura]; Aspersão, 
aérea ou de 
superfície, de 
fertilizantes e outras 
substâncias químicas 
agrícolas; Ervas 
daninhas (Destruição 
de -); Extermínio de 
animais nocivos [para 
agricultura, 
horticultura e 
silvicultura]; 
Fertilizantes e outras 
substâncias químicas 
agrícolas (Aspersão, 
aérea ou de 
superfície, de -); 
Assessoria consultoria 
e informação na área 
agrícola; Assessoria, 
consultoria e 
informações sobre 
pesquisas no campo 
de agricultura; 
Colheita [serviços de 
agricultura]; 
Pulverização 
[agropecuária]; 
Tratamento 
fitossanitário [controle 
de pragas agrícolas]. 
 
FUTURAGRO 
 
A apresentação fundamentada desta tabela fundamenta-se no fato 
de que ambas as empresas utilizadas pelo julgador possuem ramos de 
atividades específicos – teor fundamentado no tópico a seguir – além de 
possuírem elementos figurativos e ramos de atividades completamente diversos 
da RECORRENTE, embora registrados na mesma categoria. 
 
 
Devidamente sinalizadas as classificações específicas colidentes, 
ressalva-se o fato de que estas são utilizadas de forma ampla na agricultura e 
cultivo de plantas, não havendo formas descritivas que possam discriminar 
devidamente os ramos de atividade das empresas. 
Outrossim, mister salientar que a atividade agrícola é amplamente 
realizada em território nacional, utilizando para tanto todas as técnicas acima 
elencadas, e não devendo servir para impedir o registro da RECORRENTE, 
localizada em longa distância, com elemento figurativo COMPLETAMENTE 
diverso dos registros anteriores utilizados como razão de indeferimento. 
 
VII – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS 
Por fim, importante destacar que as anterioridades trazidas, que estão 
megistrada na mesma classe da marca proposta, não foram apresentadas 
oposições ao pedido em epígrafe, certamente entendo pela impossibilidade de 
confusão junto ao mercado consumidor, que é totalmente diferente. 
 
VIII - DO PEDIDO 
 
À VISTA DO EXPOSTO, protesta o recorrente pelo recebimento e 
provimento do presente recurso para, reformada a decisão recorrida, DEFERIR o 
pedido de registro da marca “AGROFUTURA”, na NCL (11) 31, modalidade mista, 
processo n. 925891851. 
 
Ijuí, 01 de junho de 2023. 
 
 
LUIZ FERNANDO SOARES COSTA 
OAB/RS nº 66.379 
 
 
 
RICARDO DE LUCA ROSSETTO 
Estagiário de Direito