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INSTITUTO FEDERAL Maranhão CERTECINSTITUTO FEDERAL Maranhão CERTECINSTITUTO FEDERAL Maranhão Educação a distância INSTITUTO FEDERAL Maranhão CERTECINSTITUTO FEDERAL Maranhão Educação a distância LICENCIATURA EM COMPUTAÇÃO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal da Grande Dourados Coordenadoria de Educação a Distância Licenciatura em Computação Acessibilidade e Inclusão Ricardo Augusto Lins do Nascimento Dourados 2014 Universidade Federal da Grande Dourados Reitor Damião Duque de Farias Vice-Reitora Marlene Estevão Marchetti Pró-Reitora de Ensino e Graduação Giselle Cristina Martins Real Coordenadora de Educação a Distância Elizabeth Matos Rocha Coordenadora do Curso Claudia Regina Tinós Peviani Capa e Projeto Gráfico Viviane Kay Ana Paula Correia Revisão Leoné Barzotto Diagramação Ana Paula Correia SUMÁRIO Apresentação 01 Unidade 1 03 Unidade 2 21 Unidade 3 39 Unidade 4 66 APRESENTAÇÃO Prezado acadêmico, A disciplina “Acessibilidade e Inclusão” tem como objetivo o estudo dos processos, formas, meios e práticas de inclusão e exclusão social pela interface digital, buscando analisar o potencial inclusivo das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs) na sociedade contemporânea, para tanto faz-se necessário também o estudo das normas e padrões internacionais sobre acessibilidade e o estudo de tecnologias assistivas e de outras inovações tecnológicas que visem a inclusão social e escolar. A sociedade do século XXI, nomeada por Castells (1999) como a sociedade em rede ou sociedade da informação é marcada pelos significativos avanços tecnológicos com influência em todos os setores como sáude, por meio das tecnologias da vida (manipulação dos códigos genéticos, fertilização in vitro, diagnósticos por imagens com alta definição, entre outras), nas telecomunicações, economia, etc. o avanço tecnológico transformou as relações humanas e os meios de acesso a comunicação como também transformou a dinâmica social. Essa mesma sociedade tecnólogica é uma sociedade que anseia por inclusão das pessoas com deficiência. O percurso histórico nos revela lugares distintos quanto ao papel da pessoa com deficiência na sociedade, essa parcela da população humana, ao longo da história da humanidade sofreu diversos tipos de 1 exclusão e marginalização que os condenaram muitas vezes a inanição. Hoje por meio das políticas de inclusão e dos avanços tecnológicos, essas pessoas podem experimentar um novo momento histórico tendo as diversas tecnologias e as tecnologias ditas assistivas ao seu favor, as tecnologias assistivas vão desde um lápis adaptado ao desenvolvimento de softwares específicos que buscam possibilitar a autonomia do sujeito. As tecnologias sempre propiciaram o conforto, o bem-estar e a satisfação humana e com as tecnologias assistivas não é diferente, pois oportunizam às pessoas com deficiência emancipação e autonomia, o ser o sujeito da própria história. Aqui faço um convite para juntos mergulharmos nesse universo do desconhecido e do novo, desconstruindo paradigmas e construindo uma nova maneira de olhar e pensar sobre as diferenças, pois como disse Mario Quintana: “Essas coisas que parecem Não terem beleza Nenhuma - é simplesmente porque não houve nunca quem lhes desse ao menos um segundo olhar”! Que esses momentos de estudo possam contribuir para a formação de sujeitos compromissados com a construção de uma sociedade inclusiva. Professor Ricardo Augusto Lins do Nascimento 2 Políticas de inclusão e Acessibilidade: Marcos Legais e Normativos A presente unidade tem como meta alcançar os dois objetivos elencados acima. Discutir sobre o tema acessibilidade e inclusão pressupõe conhecimento dos dispositivos legais e normativos que garantem que os princípios de inclusão e acessibilidade, é necessários também uma contextualização histórica para que a partir dos saberes contextualizados possamos discutir a inclusão e acessibilidade e o aporte tecnológico importante para a consolidação dessa proposta, pois vivemos em uma sociedade tecnológica e a tecnologia sempre melhorou a qualidade de vida do ser humano propiciando conforto e satisfação. Os termos inclusão e acessibilidade vêm sendo explorado e muito utilizado em contextos diversos, porém muitas vezes há uma superficialidade nas abordagens e uma referência a determinados tipos de inclusão que embora legítima do ponto de vista social, não se sustenta do ponto de vista legal, ou seja, não há nenhum instrumento legal que garanta a como política pública. O tema inclusão é um tema complexo com diferentes abordagens e 3 análises teóricas, em nossa disciplina vamos abordar a inclusão e acessibilidade sob a ótica dos documentos legais que versam sobre estes dois pontos, assim estaremos estudando quais os dispositivos legais vigentes em nosso país e qual a importância dos mesmos para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Inclusão pressupõe acessibilidade e acessibilidade pressupõe modificações sociais seja no espaço físico, sejam nas formas de comunicação, nas atitudes e até mesmo e principalmente modificações culturais, os dispositivos legais são importantes para iniciar uma mudança social, inclusão e acessibilidade hoje são direitos assegurados que na prática ocorrem de forma processual, pois dependem de modificações estruturais na sociedade. Inclusão e acessibilidade se fazem para pessoas e com pessoas, daí a importância de conhecermos os dispositivos e garantias legais, porém sem se dissociar do viés histórico e contextualizado. 4 Políticas de inclusão e acessibilidade: marcos legais e normativos O movimento de inclusão e acessibilidade resultam de uma série de políticas públicas voltadas para a diversidade como um todo, tais documentos foram redigidos embasados em princípios de igualdade de direitos e de uma educação para todos, propostas estas que ganharam força em congressos internacionais como a Conferência Mundial sobre Educação para todos ocorrida em Jomtien no ano de 1990 e, posteriormente, à Conferencia Mundial de Educação Especial ocorrida em Salamanca no ano de 1994 das quais o Brasil foi signatário. Os princípios de inclusão, baseados na declaração de Salamanca, advogam práticas escolares sem qualquer tipo de discriminação contra a pessoa seja por raça, língua, etnia, gênero, cultura, religião e deficiência, entre outros e idealiza uma escola capaz de atender as necessidades específicas dos alunos, por meio de práticas pedagógicas voltadas para a diversidade, no respeito e na valorização da diferença. 5 Os alunos que outrora “pertenciam” às classes especiais e as escolas especiais, impulsionados pelas políticas de inclusão, aumentaram quantitativamente suas matrículas e consequente acesso nas classes comuns da rede regular de ensino, e a inclusão escolar conforme Bueno (2008, p.43) se estabelece como a nova missão da escola. Tais mudanças começam a gerar conflitos no interior da escola, no que se refere às praticas educativas homogenizadoras, na falta de preparo alegada pelos professores para atender esse alunado, às cobranças de familiares e da sociedade por melhores rendimento e aprendizagem escolardos mesmos. Uma importante discussão no campo da inclusão escolar por pesquisadores, pais e professores se refere ao entendimento de que a inclusão não pode ser traduzida como acesso, ou seja, para além de possibilitar o acesso das pessoas com deficiência aos diferentes espaços como a escola, por exemplo, é preciso possibilitar condições de permanência e principalmente condições autonomas de participação ou condições de participação que a médio e longo prazo promovam também a autonomia dessas pessoas. Essas condições que transcedem o acesso serão possíveis quando entre os diversos fatores como o desenvolvimento de uma cultura inclusiva, se fizer uso das tecnologias, das mídias convergentes e das tecnologias assistivas. Dessa forma, entende-se ser necessário compreender esse novo momento a partir da sistematização de experiências, leituras, discussões e análises do tema proposto. Vários aparatos legais, como a Constituição Federal de 1988, atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394/96), Resolução CNE/CEB nº. 2/2001 (Diretrizes Nacionais para a Educação 6 Especial), Plano Nacional de Educação – PNE (Lei nº. 10.172/2001) e Lei nº. 10.436/02 (Lei de Libras), bem como a atual política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva (2008) dispõem sobre os direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais e preconizam os princípios de inclusão e de uma educação para todos, e pelo menos no quesito “acesso e permanência” passam a consolidar a inclusão escolar desse alunado. De acordo com esses documentos, os alunos com necessidades educacionais especiais, devem ser inseridos nas turmas comuns de ensino, assim, para a atual política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva: A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular (PNEEPI, 2008, p. 16). Pensar em inclusão escolar e em uma educação para todos, de forma meramente discursiva, escamoteada pelo ato de matricular alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino amparados pela legislação, cria-nos, todavia, uma sensação ingênua acerca desse processo que de simplório nada contém. Não se pretende, aqui, cair no enfadonho discurso de que não existe inclusão de fato, ou de que a escola não esta preparada, ou ainda conforme discursam alguns que é inviável, mas, pretendemos ao contrário, refletir sobre as implicações reais desse processo e as mazelas vividas pela escola, professores, família e principalmente pelos alunos partícipes desse processo, os quais ocupam papéis centrais dentro dessa temática. 7 Os dispositivos legais constituem sem dúvida, papel importante para a consolidação de uma educação para todos e de uma escola inclusiva, todavia convergimos no pensamento de Glat (1997, p.199) quando afirma que podemos criar leis que obriguem as escolas e empresas a incluírem os deficientes, mas não podemos criar leis que obriguem as pessoas a gostarem e aceitarem de fato os deficientes. Embora a autora trate especificamente dos deficientes, sabe-se que isso se aplica a todas as minorias quer definidas por raça, etnia, religião, gênero, língua, deficiência, entre outros. Tais constatações nos fazem refletir sobre aspectos importantes para a realização de uma educação para todos e da inclusão de pessoas com deficiência, seja no âmbito escolar ou social, de forma que essa última não se sustente apenas na questão legal de acesso e permanência, mas que permita a esses oportunidades justas de aprendizagem e de participação. Esse paradoxo parece estranho, todavia alguns autores tem discutido esta temática, apontando que a escola, tendo enraizado em sua cultura conceitos como bom e mau aluno, inteligente e fraco, capaz e incapaz, ainda não consegue assimilar que oportunidades justas de aprendizagem permitem aos alunos avançar dentro de suas condições e a despeito de suas “limitações”. Dessa forma, “incluir para excluir” torna-se um jogo de palavras pertinente com a realidade que vivemos, por isso, tais discussões são fecundas. Na prática de inclusão muitas pessoas com deficiência vivenciam a inclusão do “faz de conta”, onde o aluno se torna um excluído quando suas necessidades específicas são ignoradas, quando sua diferença de forma cômoda é negada, quando o professor fracassa na árdua tarefa de promover muitas vezes sozinho a inclusão e quando esforços são racionalizados pautados pela conveniência, no paradigma da incapacidade. 8 Nesse aspecto, trazemos Barroso apud Dalabrida (2008, p. 266) que afirma ser múltiplas as formas de exclusão exercidas pela escola, por exemplo, não deixando entrar os que estão de fora e pondo fora os que estão dentro. A escola exclui incluindo através de uma exclusão sutil, pois oferece o acesso, permite a entrada em seu espaço, porém não estrutura sua prática para promoção da aprendizagem “fazendo que o sentimento de pertencimento, à escola, não atinja os alunos que possuam diferenças no seu potencial educativo”. Assim, pensamos em questões como a atuação do professor, a prática docente de forma consciente, mobilizada por meio de formação, da socialização do conhecimento, da troca de experiências entre pares e do uso da TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) como recursos que ampliam as possibilidades de aprendizagem. Não se trata de culpabilizar os professores pelos insucessos de práticas de inclusão e de conceber afirmações como as de que a escola não está preparada para a inclusão escolar desses alunos, com efeito, esse vem sendo o caminho mais fácil para justificar o fracasso ocorrido. Entretanto, entendemos que outras análises e novas proposições devem ser processadas como meio de não mais afirmar sobre uma escola que não sabe incluir, mas que tragam possibilidades efetivas e apontamentos para a prática profícua de uma educação inclusiva. Patto (2008, p. 34) afirma que “a escola de fato inclusiva é a escola que esclarece, a partir da própria experiência dos dominados” relata que desde o fim da ditadura no Brasil, o sonho de uma escola pública mais igualitária assumiu várias formas promissoras, e que da intenção a realidade o fosso sempre foi enorme. Assim percebe-se que o problema das desigualdades no seio da escola não é novo, e nem uma exclusividade vivida pelos alunos com necessidades educacionais especiais, mas porque isso acontece? Segundo a mesma autora, a 9 medicalização de desvios, definidos a partir de um discutível conceito de normalidade, o entendimento da igualdade como produção do uniforme e a formação do professor entendida como aperfeiçoamento, treinamento ou reciclagem além das modas teóricas substituídas e descartadas rapidamente entre outros fatores por ela citados, fizeram com que o professor se tornasse um “peão de ensino”, com sua morte decretada,tornando-se refém de políticas eleitoreiras e da descontinuidade técnica administrativa. Um professor bem preparado, consciente e liberto das condições acima citadas, certamente será capaz de modificar sua prática educativa, não raro escutamos professores, principalmente os que estão atuando há mais tempo, reclamando ou justificando que em sua graduação não tiveram disciplinas voltadas para o atendimento das necessidades específicas dos alunos com necessidades especiais educacionais, nos atuais moldes instituídos. Assim, a questão não abrange somente casos onde professores rejeitam a inclusão escolar e nada fazem para que ela se efetive, trata-se também de professores conscientes de seu papel de educador; porém, que não sabem o caminho a seguir, desconhecem as ferramentas a serem utilizadas e metodologias viáveis a serem empregadas de acordo com cada necessidade específica de cada aluno alvo da educação especial, que chega a sua sala de aula. Dessa maneira, recebem os alunos com necessidades educacionais especiais sem saber como atuar, como coordenar o atendimento ao grupo respeitando as especificidades individuais e coletivas. Logo, urge compreender que os professores estão em processo de transformação de uma prática de ensino voltada para a unicidade do todo, o homogêneo, para a uma prática voltada para as diferenças, o heterogêneo. Esse movimento exige uma mudança nas formas de produzir e 10 transmitir o conhecimento pela escola e pela sociedade. Mudança, que devemos reconhecer, ocorrerá de forma dificultosa e lenta, haja vista que estes moldes de ensino estão enraizados na escola desde a criação das escolas para as massas populacionais, no início da revolução industrial, período de transição entre o feudalismo e o capitalismo industrial. O modelo de funcionamento da escola, desde então, assemelha-se em muitos aspectos ao modelo de funcionamento fabril ou industrial. . Nesse sentido D'antino (1997) afirma que: Podemos destacar que a plena inclusão não se consolidará sob os pilares educacionais de uma sociedade capitalista, competitiva, a qual preconiza o bom desempenho, a produtividade, o vigor, a beleza, entre outras características, que talvez estejam distantes da realidade de alguns alunos ditos “especiais” (D' ANTINO, 1997). A mudança nessa estrutura e consequentemente na cultura escolar, ao menos hipoteticamente, levariam a uma nova forma de concepção sobre o aluno com necessidade educacional especial e sobre a vigente prática excludente de inclusão escolar. Mendes (2008, p.116) explica que a prática é resultado da cultura objetivada e da experiência compartilhada, nossas ações são frutos dessas objetivações da cultura, assim, essa compreensão torna-se também, segundo a autora, trilhas, caminhos e sulcos que guiam as ações futuras. A escola que deseja ser inclusiva necessita desvendar essas trilhas, esses caminhos condutores de ações futuras concebidas na perspectiva da inclusão escolar, sulcos que nos façam perceber potenciais na diferença, e conceber novas práticas de ensino que permitam a promoção da aprendizagem de todos os alunos. De acordo com Nascimento (2011), nos cursos de licenciatura, 11 esses conceitos têm sido abordados e discutidos pelos professores e acadêmicos; esses últimos demonstram grande interesse pela temática inclusão e educação especial, o que reforça a ideia de que, o que falta, muitas vezes, para os professores que já estão em exercício, são conhecimento e condições de acesso ao conhecimento para promover uma inclusão significativa e não somente má vontade apregoada por alguns. Além disso, fica difícil conceber o sucesso de uma proposta de educação para todos em um espaço escolar sucateado, com profissionais mal remunerados, muitas vezes com tripla jornada de trabalho e com cursos de capacitação em inclusão escolar via multiplicadores .1 Outro desafio para o sucesso da inclusão escolar, seria o preparo da comunidade escolar para o acolhimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, juntamente com o valor que se dá a relação família-escola que também é uma necessidade veemente no contexto atual, assim como prover as escolas com recursos materiais e humanos que viabilizem o sucesso desse movimento. A inclusão escolar deve ser compreendida por todas as pessoas constituintes do espaço escolar e não somente pelo professor, isso significa que desde o porteiro que recebe os alunos na entrada da escola até a merendeira, o corpo técnico administrativo e os gestores escolares devem compreender o movimento de inclusão em sua essência, deve haver acolhimento, precisa-se esclarecer e introjetar na comunidade escolar o censo de responsabilidade do “todo escolar” na prática diária de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. Outro desafio, que percebemos através da exploração dos textos 1 A formação de professores-multiplicadores tem em vista a formação de agentes de mudança, capazes de desencadear as transformações educacionais com a disseminação do uso de novas práticas pedagógicas ofertadas em cursos de capacitação e ou formação continuada. “O multiplicador encarrega-se de apoiar o processo de planejamento da escola, assessorar pedagogicamente os professores, acompanhar, orientar e avaliar as ações dos professores e gestores educacionais” (LÓES, 2007, p. 36). 12 dos teóricos referendados aliados às experiências práticas, encontra-se na falta de conhecimento da família com relação ao atendimento oferecido ao aluno na escola, aos desajustes entre práticas utilizadas na classe comum e no atendimento educacional especializado, bem como as práticas que são utilizadas em casa, estas interações deveriam ser consideradas e articuladas de forma a beneficiar o desenvolvimento do aluno. A relação família-escola segundo Bueno (2008), deve ser melhor considerada no processo de inclusão escolar. A esse respeito a declaração de Salamanca (1994) dispõe no artigo 57, o seguinte objetivo, A educação de crianças com necessidades educacionais especiais é uma tarefa a ser dividida entre pais e profissionais. Uma atitude positiva da parte dos pais favorece a integração escolar e social. Pais necessitam de apoio para que possam assumir seus papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. O papel das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação necessária em linguagem clara e simples; o enfoque na urgência de informação e de treinamento em habilidades paternas constitui uma tarefa importante em culturas aonde a tradição de escolarização seja pouca. (SALAMANCA, 1994, p.13-14) Bueno (2008, p. 59) salienta que a relação escola-comunidade, principalmente escola-família, não deve ser negligenciada, haja vista que constitui um dos fatores fundamentais para o êxito escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais, o que se configura em mais um dos desafios a serem superados. Os desafios para a inclusão escolar vão muito além das questões aqui abordadas, no entanto conclui-se ocupar essas questões fatores centrais da problemática da inclusão escolar. As possibilidades e perspectivaspara a promoção de uma escola acolhedora das diferenças, que busque através de um olhar não mais normalizador, compreender e 13 trabalhar pela e na diferença dependerá essencialmente da superação desses desafios, tal superação, a luz dos teóricos referendados, possibilitará uma escola verdadeiramente inclusiva. Nesse sentido, Amaral (1995), afirma: A diversidade existente em todo e qualquer grupo social é o desafio do século, sendo necessário, para um ajuste social, respeito às diferenças. Nesse sentido, entender a diversidade sugere a “possibilidade de transformar aquilo que era inimigo numa luz norteadora de futuras incursões” (AMARAL, 1995, p. 27). Cabe então, aos gestores escolares, técnicos administrativos, corpo docente, e demais membros da comunidade escolar modificar as atuais práticas excludentes de inclusão escolar, o fato de não ser possível modificar essa realidade instantaneamente, não significa fadar-se ao permanente fracasso, e sim que deve haver engajamento para operacionalizar as mudanças necessárias apontadas. Mendes (2008, p. 159), em uma de suas pesquisas, alerta, sobretudo, que as constatações dos problemas existentes, percebidos através dos estudos e das pesquisas realizadas em escolas ditas inclusivas, devem servir não para o conformismo ou convencimento da impossibilidade da inclusão escolar efetiva, e sim que a partir da visualização dos problemas existentes pode-se, então, pensar e compreender as alternativas escolares para o atendimento das diferenças. As perspectivas da inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais podem ser positivas à medida em que houver sensibilidade para perceber as mudanças, ainda que estas estejam em estado incipiente. Ao olhar através da história da educação desse alunado percebe-se que mudanças consideráveis ocorreram, ainda não se atingiu a 14 forma ideal, mas esse olhar histórico aliado ao contexto atual da formação universitária de professores instiga ao menos a considerar novas perspectivas de atuação e a superação de práticas excludentes de inclusão escolar. Podemos vislumbrar a médio e longo prazo a atuação de uma nova geração de professores com formação inicial que contemplem o atendimento adequado aos alunos com necessidades educacionais especiais e por meio de uma escola que será capaz de por em prática os novos paradigmas estabelecidos sobre esse alunado. O surgimento de uma escola apta a incluir dependerá dos ajustes necessários para a superação dos desafios elencados. O caminho a percorrer é longo e a estrada de difícil acesso. Todavia, muitos são os que têm se empenhado para modificar o estado atual. Para encerrarmos nossa reflexão, trazemos a declaração de Bueno sobre a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais (2008, p. 61): “cabe a nós, no mínimo a responsabilidade de procurar contribuir para que ele (o futuro) seja melhor que o presente”. Políticas de Acessibilidade O decreto federal nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, foi um grande marco para as pessoas com deficiência, foi por meio dele que a acessibilidade passou a ser um direito que passou a garantir a acessibilidade em todos os âmbitos. No artigo 8º, ele traz o conceito de acessibilidade, ajudas técnicas e desenho universal, I - acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos ser viços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida; [...]. V - ajuda técnica: os produtos, instrumentos, equipamentos ou 15 tecnologia adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida; [...]. IX - desenho universal: concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade. De acordo com a cartilha de acessibilidade desenvolvida em 2008 pelo Instituto de Tecnologia Social do Brasil –ITS, atualmente, o conceito de acessibilidade foi ampliado, associando-se ao compromisso de melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Para que a escola e a sociedade sejam inclusivas, elas devem atender às seis dimensões de acessibilidade, a saber, ❖ Arquitetônica: elimina barreiras em todos os ambientes físicos (internos e externos) da escola, incluindo o transporte escolar; ❖ Comunicacional: transpõe obstáculos em todos os âmbitos da comunicação, considerada nas suas diferentes formas (falada, escrita, gestual, língua de sinais, digital, entre outras); ❖ Metodológica: facilita o acesso ao conteúdo programático oferecido pelas escolas, ampliando estratégias para ações na comunidade e na família, favorecendo a inclusão; ❖ Instrumental: possibilita a acessibilidade em todos os instrumentos, utensílios e equipamentos, utilizados na escola, nas atividades de vida diária, no lazer e recreação; ❖ Programática: combate o preconceito e a discriminação em todas as normas, programas, legislação em geral que impeçam o acesso a todos os recursos oferecidos pela sociedade, promovendo a inclusão e a equiparação de oportunidade; ❖ Atitudinal: extingue todos os tipos de atitudes preconceituosas que impeçam o pleno desenvolvimento das potencialidades da pessoa com deficiência. 16 Todos os aspectos legais apresentados nesta unidade permitiram o fortalecimento das ações em prol dos direitos da pessoas com deficiência. As pessoas com deficiência anseiam por inclusão e direitos, nesse sentido é a elaboração de políticas públicas que supera o modelo médico de atendimento, bem como o enfoque assistencialista e que se baseia no modelo social ou ainda modelo dos direitos ou da cidadania que delinearam um novo cenário de inclusão e acessibilidade para essas pessoas. Na perspectiva do modelo social, as políticas públicas são fundamentais para a promoção da inclusão e autonomia em todas as áreas da vida dessas pessoas, e nesse cenário as tecnologias assistivas, os recursos e os serviços são imprescindíveis. 17 Referências AMARAL. Lígia Assumpción. Conhecendo a deficiência (em companhia de Hércules). São Paulo: Robe, 1995. BRASIL. Constituição (1988). República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988. 16. ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 1998a. ______. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre as necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. ______. 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Tecnologia Assistiva nas escolas: recursos básicos de acessibilidade sócio-digital para pessoas com deficiência. ITS Brasil, Microsoft | Educação: 2008. Cartilha. 20 Acessibilidade e inclusão Social: conquistas, desafios e implicações na educação do século XXI Entender e conhecer o que é acessibilidade e inclusão são uma tarefa indispensável a todo e qualquer profissional e futuro profissional que cursa uma licenciatura para que possam lutar e defender os direitos dos alunos que possuem alguma deficiência seja física, cognitiva ou sensorial, e mesmo daqueles que embora não possuam deficiência, fazem parte do público alvo da modalidade de educação especial como os alunos que possuem transtornos globais do desenvolvimento como o autismo, os espectros de autismo e as psicoses infantis. Durante essa disciplina vocês irão perceber que apesar da farta legislação existente, ainda falta vontade política e vontade da sociedade para que a acessibilidade esteja disponível a todos. Dados do IBGE (2010) mostram que, no Brasil, há 45.623.910 de pessoas com 21 deficiência, aproximadamente 23,9% da população. A falta de projetos sólidos de atenção à saúde básica da população que visem à prevenção de doenças, falta de saneamento básico em muitas regiões do Brasil, o aumento da violência nas cidades e o aumento da expectativa de vida sem a devida atenção a saúde e aos fatores de risco faz com que o Brasil contribua para a manutenção e até mesmo crescimento do percentual apontado pelo IBGE (censo de 2010). Muitos são as dificuldades que as pessoas com deficiência encontram em sua rotina diária e ao contrário do que pensamos essas dificuldades vão muito além da questão arquitetônica e espacial, discutir sobre inclusão e acessibilidade exige que ampliemos a visão para além de deslocamentos físicos, é preciso permitir os deslocamentos intelectuais e cognitivos, deslocamento com fluidez na comunicação, deslocamento da visão sobre a pessoa com deficiência, deslocamento para uma análise das condições do meio e não da pessoa. De acordo com o dicionário on line de Língua Portuguesa a palavra barreira significa: s.f. Reunião de peças de madeira ou metal para fechar uma passagem. Escarpa descalvada que margeia um rio ou estrada até certa extensão. Posto fiscal nas divisas entre Estados, destinado ao controle de circulação de veículos, mercadorias etc. Fig. Obstáculo maior, grande dificuldade: a matemática foi a barreira no exame. Para promovermos acessibilidade é preciso eliminar barreiras e a primeira é a barreira do preconceito e discriminação e depois é preciso unir esforços para fazer valer o direito desses milhões de brasileiros e brasileiros. Nesta unidade vamos estudar sobre inclusão, acessibilidade e educação do século XXI, o século da chamada sociedade da informação, da transformação tecnológica e que também deseja ser inclusiva e acessível a todos. 22 Acessibilidadee inclusão Social: conquistas, desafios e implicações na educação do século XXI Na busca pela construção de uma cultura inclusiva, de uma sociedade e de um país mais igualitário, que pretende superar as desigualdades sociais, o Brasil, desde as últimas décadas, vem elaborando diversas políticas públicas com o objetivo de garantir os princípios de igualdade para as pessoas com deficiência. Em 2009, a presidência da República Federativa do Brasil promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, mediante o Decreto nº 6.949/2009, assegurando que esses documentos, apensos por cópia ao Decreto, seriam totalmente executados e cumpridos. Para cumprir as metas estabelecidas na Convenção de 2008, foi lançado no Brasil, via decreto presidencial, o Plano Nacional dos Direitos 23 da Pessoa com Deficiência - Viver sem Limite (BRASIL, 2011), resultante do Decreto nº 7.612/2011, cuja intencionalidade é avançar na “implementação dos apoios necessários ao pleno e efetivo exercício da capacidade legal por todas e cada uma das pessoas com deficiência”, o que demonstra que o país tem se empenhado cada vez mais na busca por equiparação de oportunidades, [...] para que a deficiência não seja utilizada como motivo de impedimento à realização dos sonhos, dos desejos, dos projetos, valorizando e estimulando o protagonismo e as escolhas das brasileiras e dos brasileiros com e sem deficiência (BRASIL, 2011). O Plano Viver sem Limites contém quatro eixos principais: acesso à educação; inclusão social; acessibilidade e atenção à Saúde. O Ministério da Educação (MEC), por meio da Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que tem como objetivos garantir o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação às escolas regulares, por meio de orientação aos sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais, busca também garantir, entre outros, a acessibilidade na comunicação e informação e a articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Esse documento corrobora com a ideia de uma escola que planeja o atendimento a esses alunos de forma que estes avancem na aprendizagem, desenvolvendo suas potencialidades por meio de práticas de ensino diferenciadas e pela oferta de Atendimento Educacional Especializado que atendam suas demandas e necessidades específicas com o objetivo de desenvolver sua autonomia. Em muitas situações, há apenas uma aparência de acessibilidade, seja pela falta de informação adequada, seja pelo descaso. O fato é 24 que, muitas vezes, uma adaptação arquitetônica, como a construção de rampas ou banheiros adaptados para deficientes físicos, é construída e projetada sem levar em conta as normas técnicas (Decreto nº 5.296/2004) que pressupõem condição para utilização, segurança e autonomia (BRASIL, 2004). Esses mesmos critérios aplicam-se à acessibilidade aos meios de comunicação e informação que deve culminar na inclusão e interação sociocultural do sujeito e na eliminação de “qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, seja ou não de massa”, conforme a Lei nº. 10.098/2000 (BRASIL, 2000). Os princípios de inclusão e acessibilidade para as pessoas com deficiência se fortalecem por meio à criação de leis que asseguram os direitos dessa parcela da população. A questão da inclusão tem sido amplamente discutida em todos os segmentos da sociedade pautada em documentos legais que versam sobre direitos e oportunidades iguais para todos, independentemente, por exemplo, da condição de deficiência. Como marco legal, podemos citar, entre outros, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, passando pela Constituição federal, de 1988, continuando com o Programa Nacional dos Direitos Humanos, de 1996, e a Lei da Acessibilidade, de 2000. Todos esses ditames, bem como seus desdobramentos e regulamentações, impõem que haja equidade de direitos e acessibilidade (ABNT, 2004). Na Constituição Federal de 1988, o art. 215 versa que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” (BRASIL, 1998a). Nesse sentido, diversas políticas públicas vêm sendo implementadas no Brasil com o intuito de assegurar esses direitos, 25 entre eles, o direito de acessibilidade. Manzini (2010) realizou um importante estudo sobre acessibilidade no que se refere ao aporte legislativo sobre acessibilidade para o aprofundamento do tema na área de educação, sobre o qual pinçamos alguns tópicos importantes para nosso trabalho. Segundo ele, o tema acessibilidade passou a ser discutido de maneira mais enfática no Brasil somente a partir de 1998, com o Projeto de Lei nº 4.767/1998, que indicava normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. Naquele momento, o termo acessibilidade foi definido como “possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas de meios de comunicação por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida” (BRASIL, 1998b). Posteriormente foi promulgada no Brasil a Lei nº 10.098/2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências, Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Art. 2o Para os fins desta Lei são estabelecidas as seguintes definições: I – acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida; [...]. d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa (BRASIL, 2000, grifos nossos). 26 A Lei de Acessibilidade representou e representa um marco importante para as pessoas com deficiência no Brasil, pois possibilita as devidas condições de acesso e ainda exigir as adequações necessárias para sua autonomia. A Lei estabelece, nos arts. 17, 18 e 19, do capítulo VII, que versa sobre a acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização,os seguintes critérios, com ênfase no art. 19: Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braille, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo previsto em regulamento. (BRASIL, 2000). Na evolução histórica sobre as definições de acessibilidade no contexto brasileiro, Manzini (2010, p. 283) explica que a Lei de acessibilidade nº 10.098/2000 definiu barreiras arquitetônicas como qualquer entrave ou obstáculo que limite e impeça o acesso à liberdade de movimento e à circulação das pessoas, classificadas em (BRASIL, 2000): 27 a) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público; b) barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios públicos e privados; c) barreiras arquitetônicas nos transportes: as existentes nos meios de transportes; d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa; Posteriormente, o Decreto nº 5.296/2004, que regulamenta a lei de acessibilidade, de acordo com Manzini (2010, p.282), redefine e amplia o significado do termo acessibilidade e de barreiras no artigo 8º, conforme podemos observar a seguir: I - acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida; II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação, classificadas em: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público; b) barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das edificações de uso público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações de uso privado multifamiliar; c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços de transportes; d) barreiras nas comunicações e informações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à informação; (BRASIL, 2004, grifos nossos). De acordo com Nascimento (2012, p. 46), a noção de barreira passa a incorporar a noção de barreira de informação que pode estar presente em diferentes situações do cotidiano da pessoa com deficiência visual 28 ou com deficiência auditiva, por exemplo, quando um cego não consegue acessar um conteúdo da web por falta de leitores de tela, ou quando um deficiente auditivo usuário da LIBRAS não pode realizar um vestibular em LIBRAS, tendo como condição um intérprete de LIBRAS (MANZINI, 2010). Quanto a falta de acessibilidade a informação e comunicação, Nascimento (2012) nos mostra 03 exemplos de como isso se dá no cotidiano da pessoa com deficiência, Cunhamos outros três exemplos de barreira de informação: quando um cego não pode acessar o conteúdo de um programa televisivo por falta de audiodescrição; quando o usuário de LIBRAS não pode assistir à televisão tendo como condição a janela com o intérprete de LIBRAS a seu dispor; quando não há disponibilidade de legendas abertas ou closed caption para aqueles cuja presença é indispensável para a eliminação de barreiras, isto é, os sujeitos têm o acesso, mas não necessariamente condições de acessibilidade, dependendo de cada caso (NASCIMENTO, 2012, p.47). Em 2004 foi sancionado o Decreto-Lei nº 5.296, em 2 de dezembro, que regulamenta a Lei nº 10.048/2000 (que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica) e a Lei nº 10.098/2000, de acessibilidade. O Decreto especifica de forma mais clara como devem ser adaptadas as mensagens dos meios de comunicação às pessoas com deficiência sensorial. Acesso significa sair de um lugar ou situação para outro lugar ou situação diferente do anterior e pode referir-se a um espaço físico ou refletir uma condição de status social. Em termos de status social, podemos dizer que uma pessoa teve acesso a um cargo de chefia, ou acesso ao ensino superior. No sentido físico, podemos dizer que uma pessoa teve acesso ao piso superior do prédio escolar, por meio de escadas e degraus, que seriam barreiras arquitetônicas. Então é possível ter acesso mesmo que o prédio não ofereça condições de acessibilidade como elevadores ou rampas (MANZINI apud NASCIMENTO, 29 2012). Manzini (2010, p. 284-285) explica que essas barreiras, no sentido de falta de acessibilidade, do ponto de vista científico, não necessariamente refletem barreiras atitudinais. A construção de uma barreira arquitetônica, por exemplo, pode refletir somente a falta de informações sobre os elementos de acessibilidade necessários para a construção de ambientes fisicamente acessíveis, não resultando necessariamente de atitudes. No caso das barreiras aos meios de informação e comunicação, esta mesma situação pode ocorrer. O autor explica que o que falta é a necessidade de incorporação pela sociedade de uma cultura de acessibilidade. O conceito de acessibilidade definido a partir da Lei 10.098 de 2000, supera a ideia de acessibilidade física, ou seja no direito de ir e vir, e passous a abarcar como vimos acima a ideia de tornar acessível os sistemas e meios de comunicação e noção de barreira não limitada a questão fisica ou estrutural de um prédio, por exemplo, mas também como barreiras de comunicação, de acesso a informação, barreiras atitudinais, etc. A partir da lei de acessibilidade surge o conceito de acessibilidade como possibilidade de alcance para utilização com segurança e autonomia dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transporte, dos meios de comunicação, por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzidas. De acordo com o portal de ajuda técnicas do MEC - Ministério da Educação, as Tecnologias Assistivas existem para disponibilizar recursos e serviçosque possibilitem a ampliação das habilidades funcionais dos alunos com deficiência. Este trabalho visa concretizar as ações direcionadas ao atendimento das necessidades educacionais específicas dos alunos, além de orientar os professores na confecção de materiais acessíveis para pessoas com deficiência. o MEC disponibiliza quatro volumes em versão eletrônica que podem ser acessados em: 30 http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=860&catid=192%3Aseesp-es ducacao-especial&id=12681%3Aportal-de-ajudas-tecnicas&option=com_ content&view=article As tecnologias e o constante desenvolvimento tecnológico permitem diferentes possibilidades para a melhoria de vida das pessoas com e sem deficiências, por meio dos recursos tecnológicos. A chamada tecnologia assistiva vem melhorando substancialmente a vida das pessoas que delas fazem uso. De acordo com Miranda (2008, p.136-137), A tecnologia assistiva se compõe de recursos e serviços. Os Recursos são todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sob medida, utilizados para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas. Os Serviços são definidos como aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou usar os recursos acima definidos. [...] As tecnologias assistivas podem ser utilizadas de inúmeras formas, e quando adequadamente aplicadas servem para a promoção da independência, autonomia, para o desenvolvimento pessoal e a construção da aprendizagem, favorecendo a autoconfiança, a inclusão social e escolar das pessoas com deficiência. Dados do IBGE (2010) mostram que, no Brasil, existem hoje 45.623.910 de pessoas com deficiência, aproximadamente 23,9% da população. Esse número nos leva a refletir o quanto é importante pensarmos sobre estratégias que possibilitem o exercício da cidadania por estas pessoas. Sem dúvida a tecnologia amplia e muito as possibilidades de autonomia da pessoa com deficiência, tanto pelas tecnologias comuns, que são aquelas produzidas para qualquer pessoa, como as tecnologias da informação e comunicação, por exemplo, como aquelas produzidas produzidas com finalidades específicas de proporcionar acessibilidade a públicos específicos, visto que cada 31 http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fportal.mec.gov.br%2Findex.php%3FItemid%3D860%26catid%3D192%253Aseesp-esducacao-especial%26id%3D12681%253Aportal-de-ajudas-tecnicas%26option%3Dcom_content%26view%3Darticle&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEY71V2gHkMTyPUnZO7OFKtfNcLGw http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fportal.mec.gov.br%2Findex.php%3FItemid%3D860%26catid%3D192%253Aseesp-esducacao-especial%26id%3D12681%253Aportal-de-ajudas-tecnicas%26option%3Dcom_content%26view%3Darticle&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEY71V2gHkMTyPUnZO7OFKtfNcLGw http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fportal.mec.gov.br%2Findex.php%3FItemid%3D860%26catid%3D192%253Aseesp-esducacao-especial%26id%3D12681%253Aportal-de-ajudas-tecnicas%26option%3Dcom_content%26view%3Darticle&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEY71V2gHkMTyPUnZO7OFKtfNcLGw deficiência apresenta uma necessidade diferenciada que deve ser compreendido e respeitada por aqueles que desenvolvem essas tecnologias ou recursos. Aproveitando esse gancho, é importante refletirmos sobre dois pontos fundamentais ao se pensar em produção, criação e desenvolvimento de tecnologias assistivas. O primeiro ponto é sobre a tendência de uniformização de necessidades específicas, você pode estar se perguntando, o que meu professor quer dizer com isso? O que queremos apontar é que há uma tendência constante de padronizarmos pessoas, mesmo em um discurso de inclusão e valorização das diferenças, é comum as pessoas acharem que todo cego é igual, que todo surdo usa língua de sinais, ou que por conhecer um surdo que realiza leitura labial e oraliza (pronuncia palavras oralmente) os demais também o fazem ou ainda contrário, podem achar que todo surdo só se comunica pela Língua de Sinais. Portanto, ao pensarmos em tecnologias assistivas e em promoção de acessibilidade, devemos considerar as diferentes deficiências e as diferentes necessidades específicas comum a deficiência, mas principalmente nas particularidades de cada indíviduo. Nesse sentido Santos (2003, p. 458), nos ajuda a compreender o parágrafo acima ao afirmar que, Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza. Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. As pessoas querem ser iguais, mas querem respeitadas suas diferenças. Ou seja, querem participar, mas querem também que suas diferenças sejam reconhecidas e respeitadas. (SANTOS, 2003, p.458). Ainda nessa perspectiva, de acordo com o Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de pessoas com deficiência no Brasil, o ICEP, ao propor o lema "Nada Sobre Nós Sem Nós", a Convenção da ONU teve como principal intuito, a promoção efetiva da emancipação e da 32 autonomia da pessoa com deficiência. Em seu artigo doze, o documento resultante da Convenção Internacional da Pessoa com deficiência do ano de 2004, trata da capacidade legal da pessoa com deficiência, inclusive, intelectual. Isto quer dizer que, a partir de agora, o "Nada Sobre Nós Sem Nós" qualifica a pessoa com deficiência para o empoderamento funcional, para o protagonismo efetivo, onde esta pessoa será sujeito, portanto, responsável pela construção da sua própria História, passo a passo, não importando quanto tempo dure a subida, degrau a degrau, da escada escolhida por este sujeito, que também estará em construção permanente, como qualquer ser Humano da Terra. O "Nada Sobre Nós Sem Nós" trás à tona, a voz autônoma e autêntica da pessoa com deficiência sem a interferência de qualquer interpretação que não seja a sua própria, independentemente, das boas intenções de quem quer que seja. Isso se aplica também ao desenvolvimento de tecnologias assistivas bem como dos serviços e recursos que devem levar amplamente em connsideração a opinião de pessoas com deficiência a quem o recurso se destina, visto que eles são os usuários e sabem melhor do que ninguém quais são suas necessidades, quais recursos devem ser desenvolvidos, quais devem ser melhorados e o que deve ser melhorado. Outra questão igualmente importante,é compreendermos que atualmente, o conceito de deficiência baseia-se na nova Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), que faz parte da “família” de classificações desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que passou por uma revisão e modificação da classificação anterior Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIDID), redigida em 1976, e que deram origem à atual classificação – CIF de 2001. O modelo da CIF atualizada substitui o enfoque negativo da 33 deficiência e da incapacidade por uma perspectiva positiva, considerando as atividades que um indivíduo que apresenta alterações de função e/ou da estrutura do corpo pode desempenhar, assim como sua participação social. A funcionalidade e a incapacidade dos indivíduos são determinadas pelo contexto ambiental onde as pessoas vivem. A CIF representa uma mudança de paradigma para se pensar e trabalhar adeficiência e a incapacidade, constituindo um instrumento importante para avaliação das condições de vida e para a promoção de políticas de inclusão social (FARIAS; BUCHALLA, 2005, p.187). Nascimento (2013, p. 21) explica que o Estatuto da Pessoa com Deficiência (2006), destinado a estabelecer diretrizes gerais, normas e critérios básicos para assegurar, promover e proteger o exercício pleno e em condições de igualdade de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência, visando sua inclusão social e cidadania participativa plena e efetiva, o documento afirma que as pessoas com incapacidade são aquelas que possuem “deficiências físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais duradouras que, na interação com diversas barreiras, podem ter limitadas suas plenas e efetivas participações na sociedade, em igualdade de condições aos demais”. Segundo o parágrafo 1º do Estatuto, considera-se também deficiência a incapacidade conceituada e tipificada pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, Essa nova concepção da CIF é importante porque desloca a visão negativa e de limitação decorrente da deficiência para o contexto ambiental onde estas pessoas vivem, o que nos leva a refletir sobre as condições ofertadas para a autonomia e emancipação das pessoas com deficiência, seja ela de que tipo for. (NASCIMENTO, 2013, p. 21). Todos esses aspectos e conceitos discutido nesta unidade são importantes para a formação dos futuros licenciados em computação que 34 terão a responsabilidade de pensar em inclusão e acessibilidade no contexto educacional, no contexto da escola, da sala de tecnologia, da sala de recursos multifuncional e da sala de aula comum, desde os serviços e recursos até a preparação dos professores regentes para utilizarem de forma eficaz esses recursos. Sem dúvida, as tecnologias da informação e comunicação e a tecnologia assistiva, ajudam a consolidar o modelo de educação inclusiva, pois facilitam o trabalho didático do professor por meio de adequação e possibilitação de participação, além de propiciar ao aluno com deficiência o desenvolvimento de suas potencialidades de forma autonôma. 35 Referências ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BRASIL. Constituição (1988). República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988. 16. ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 1998a. ______. Decreto nº 5.626, de 17 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. p. 28. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D56 26.htm>. Acesso em: 11 nov. 2011. ______. Decreto nº 6.949/2009 de 5 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949 .htm >. Acesso em: 12 nov. 2011. ______. Decreto nº 7.612/2011 de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D761 2.htm>. Acesso em: 17 nov. 2011. ______. Decreto-Lei nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. 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A tecnologia Assistiva é o meio e não o fim; 2. A tecnologia assistiva sempre deve ser projetada a partir das necessidades específicas do sujeito que vai utilizá-la, sempre que possível, é 39 importante que se discuta com as pessoas que irão utilizar determinada tecnologia em desenvolvimento, quais são as suas reais necessidades, o que elas gostariam que fossem desenvolvidos, quais as suas expectativas acerca de determinado recurso, ao mesmo tempo, é importante também que o desenvolvedor de TA realize constantes estudos por meio leituras técnicas e pedagógicas (quando se pensa em TA para o contexto escolar) sobre cada deficiência, tipos e formas de atendimentos. Dessa forma, nessa unidade apresentaremos de forma breve as principais características e necessidades específicas das pessoas com da deficiência, além de algumas ideias para realização de atendimento especializado no contexto escolar e no contexto das sala de recurso multifuncional, onde o AEE - Atendimento Educacional Especializado é oferecido. Essa descrição é importante para que ao se pensar em produzir ou desenvolver algum produto, a ideia, desde a concepção até a geração do produto final, seja feita com base na percepção do usuário e não do projetista. Ao final da unidade o acadêmco deverá realizar a atividade avaliativa que visa avaliar os conhecimentos adquiridos acerca do tema estudado nessa unidade. Não se esqueça de assistir ao vídeo-aula, também é muito importante que você assista o vídeo disponível na aba hipermídia. Na aba biblioteca também há materiais para estudo complementar que facilitará e ampliará o seu conhecimento sobre inclusão e acessibilidade. Bom estudo! 40 O público alvo da educação especial: necessidades específicas de aprendizagem e as salas de recursos multifuncionais Conforme estudamos nas unidades anteriores, o conceito de acessibilidade, antes restrito a ideia de acessibilidade física e arquitetônica apenas, foi se ampliando, associando-se ao compromisso de promover a autonomia para todas as pessoas com algum tipo de deficiência, isso consequentemente contribuiu para elevação da qualidade de vida dessa parcela da população brasileira. A aprovação do decreto federal nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que regulamentou a lei de acessibilidade, sem dúvida, significou um marco para efetivação das políticas de acessibilidade no Brasil. O referido decreto aponta, em seu artigo 8º, o que é acessibilidade, ajudas técnicas e desenho universal ,1 1 Para saber mais sobre o desenho universal acesse na aba biblioteca o manual: Desenho universal: Um conceito para todos. 41 I - acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida; [...]. V - ajuda técnica: os produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida; [...]. IX - desenho universal: concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade. Na perspectiva de acessibilidade apontada pelo decreto nº 5.296/2004, o Instituto de Tecnologia Social do Brasil (ITS, 2008), afirma em sua cartilha sobre Tecnologias Assistivas na Escola que para que a escola e a sociedade sejam inclusivas, elas devem atender às seis dimensões de acessibilidade :2 1. Arquitetônica: elimina barreiras em todos os ambientes físicos (internos e externos) da escola, incluindo o transporte escolar; 2. Comunicacional: transpõe obstáculos em todos os âmbitos da comunicação, considerada nas suas diferentes formas (falada, escrita, gestual, língua de sinais, digital, entre outras); 3. Metodológica: facilita o acesso ao conteúdo programático oferecido pelas escolas, ampliando estratégias para ações na comunidade e na família, favorecendo a inclusão; 4. Instrumental: possibilita a acessibilidade em todos os instrumentos, utensílios e equipamentos, utilizados na escola, nas atividades de vida diária, no 2 Para ler um pouco mais sobre acessibilidade e conhecer inovações tecnológicas e produtos como softwares desenvolvido para esse fim, acesse o Link: http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=42 42 http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.acessobrasil.org.br%2Findex.php%3Fitemid%3D42&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEvz336IxzNQfsaZHs-DWe4CjiP9g http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.acessobrasil.org.br%2Findex.php%3Fitemid%3D42&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNEvz336IxzNQfsaZHs-DWe4CjiP9g lazer e recreação; 5. Programática: combate o preconceito e a discriminação em todas as normas, programas, legislação em geral que impeçam o acesso a todos os recursos oferecidos pela sociedade, promovendo a inclusão e a equiparação de oportunidade; 6. Atitudinal: extingue todos os tipos de atitudes preconceituosas que impeçam o pleno desenvolvimento das potencialidades da pessoa com deficiência. Dentre estas acessibilidades para os fins deste trabalho, destacamos a instrumental e comunicacional, visto que nas escolas não deve haver obstáculos que impeçam a participação efetiva da pessoa com deficiência, devendo buscar recursos e estratégias que promovam acesso e permanência em todo contexto escolar. Para que o profissional licenciado que busca atender essas seis dimensões apresentadas pelo ITS(2008), é necessário que ele compreenda também que cada pessoa é única, que nem todos os surdos ou cegos são iguais, agem iguais, aprendem de formas iguais,etc., pode parecer retórico essa explicação, mas há muitas pessoas criando “pacotes” de características e necessidades específicas, que acabam muitas vezes engessando a prática do professor e limitando a aprendizagem do aluno. Obviamente algumas necessidades específicas são comuns a pessoas que possuem uma mesa deficiência, mas não podemos perder de vista a individualidade do sujeito, a sua característica única como pessoa, e isso deve ser sempre respeitado e levado em consideração na hora do planejamento do professor e da elaboração de projetos de acessibilidade. Conhecendo a pessoa com deficiência De acordo com a PNEE –EI (Brasil, 2008) durante muito tempo perdurou o entendimento de que a educação especial, organizada de forma paralela e até mesmo substitutiva à educação comum, seria a forma mais apropriada para o atendimento de alunos que 43 apresentavam deficiência ou que não se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino. Segundo o texto da política de 2008, essa concepção exerceu impacto duradouro na história da educação especial, resultando em práticas que enfatizavam os aspectos relacionados à deficiência,em contraposição à sua dimensão pedagógica e foi somente a partir do desenvolvimento de estudos no campo da educação e dos direitos humanos que esses conceitos vêm se modificando, isso pode ser percebido nas legislações, nas orientações das práticas educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se promover uma reestruturação das escolas de ensino regular e da educação especial. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos. Hoje a educação especial deve direcionar suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. Os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou categorização atribuída a um quadro de deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se 44 inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os alunos (PNEE-EI,2008). A primeira pergunta que você pode estar fazendo é “quem são os alunos atendidos pela modalidade de educação especial, quais são suas necessidades educacionais específicas”? De acordo com o referido documento, são os alunos com deficiência, seja física, sensorial ou mental, os alunos que possuem algum transtorno global do desenvolvimento e ainda os alunos que apresentam altas habilidades/superdotação. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – PNEE -EI, (BRASIL, 2008) que atualmente norteia a o atendimento para a modalidade de educação especial na educação básica, explica que, [...] considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. (PNEE-EI, 2008, p.9). É importante perceber que os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou categorização atribuída a um quadro de deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera se 45 que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os alunos (PNEE-EI, 2008). O tipo idealizado historicamente, isto é, os deficientes auditivos (DA) e os surdos, os deficientes visuais (DV), os deficientes intelectuais/mentais (DI/DM) e os deficientes físicos (DF), continuam a fazer parte do ideário, mas com grandes possibilidades de estarem incluídos no ensino comum, não mais com um enfoque restritivo as suas limitações, pelo contrário com um enfoque que busque desenvolver todas as suas potencialidades sem se fechar em ideias preconcebidas. As pessoas com deficiência auditiva são aquelas cuja audição está comprometida, podendo esse comprometimento ser total ou parcial, no contexto atual, existe uma distinção entre os Deficientes Auditivos e Surdos, para as pessoas com perdas auditivas que utilizam a Língua de Sinais, independente do grau da perda, se parcial ou total, a surdez deve ser vista e percebida apenas como uma diferença linguística e cultural, por isso esse grupo, que no caso do Brasil utilizam a Língua Brasileira de Sinais, reconhecida oficialmente pela Lei 10.432/2002, querem ser identificados como comunidade surda, e a pessoa simplesmente como surdo. A terminologia Deficiente Auditivo, obviamente continuará a ser utilizada na área da saúde, pois é um termo clínico com foco na reabilitação do sujeito, no que se refere à fala oral e a audição por meio de terapias de fala e utilização de próteses auditivas, além do implante coclear muito utilizado na atualidade. A deficiência visual divide-se em dois grupos: a baixa visão 46 quando a perda de acuidade visual é parcial e a cegueira quando o campo de visão está mais comprometido. Dorneles (2007, p.31) afirma que, por muito tempo, a cegueira gerou nas pessoas o medo e o surgimento de muitas supertições, isso ocorreu devido à falta de conhecimento sobre suas causas, o que fez com que essa deficiência fosse muitas vezes associada a uma condição moral inferior que levava a pessoa com deficiência visual a receber um tratamento depreciativo e um convívio social restritivo. Sem dúvida, foi o avanço científico por meio das identificações das causas das perdas visuais que desmistificou as concepções fantasiosas, levando o próprio conceito de deficiência visual a passar por várias e sucessivas mudanças. Já os alunos com deficiência intelectual/mental são, talvez, os que sofrem maior resistência por parte da escola e sociedade em geral, pois por terem os padrões intelectuais reduzidos eles apresentam comportamentos muitas vezes inadequados frente aos padrões sociais estabelecidos, e muitas vezes não são aceitos pela sociedade, e assim pela própria escola, o que não é o caso dos alunos com deficiência física já que as resitências e barreiras na maioria dos casos são apenas arquitetônicas, de estrutura física. Nesse sentido, vale a pena destacar algumas das leituras de identificação produzidas para/pela escola, diante da perspectiva de incluí-los no ensino comum. Os Surdos, os deficientes Auditivos e a Escola. Etiologicamente, a deficiência auditiva consiste na perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis. No campo clínico, essa deficiência inclui as diacusias47 leves, moderadas, severas e profundas. Quanto à escolarização dos indivíduos surdos, podemos dizer que teve sua trajetória marcada pela disputa entre duas alternativas educacionais para surdos, sendo elas a da oralidade a da língua de sinais, hoje no Brasil está posto um modelo bilíngue para educação de surdos, de forma que a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa estejam presentes no processo de escolarização, a primeira modalidade de Língua reconhecida como língua I e a segunda como língua II. Os surdos foram e, talvez, sejam até hoje vistos como sujeitos incapazes de aprender, por existir entre eles e os ouvintes uma barreira, a barreira da comunicação. Para Soares (1999): A educação do surdo foi a educação reservada àqueles que não frequentariam a escola, mas necessitariam de um tipo de ensino que visasse supri-lo naquilo que lhe faltava, no caso do surdo, a mudez. Daí todas as metodologias empregadas, quer tenham sido através de gestos, quer tenham sido através da escrita, ou através da fala, preocuparam-se fundamentalmente com a mudez, ou seja, com a possibilidade de estabelecer formas de comunicação simples, comum, cotidiana. Aspecto este, sem dúvida importante, sem o qual não há interação social possível [...] (SOARES, 1999, p. 115). A tendência de perceber a surdez como deficiência se firma no cotidiano desses alunos, dentro das escolas e no relacionamento com seus pais. A necessidade de normalização, ou seja, a tentativa de tornar a criança o mais parecida possível com a dos ouvintes, acaba por acentuar a distância entre os “normais” e os “deficientes”, distância essa explicada pela incapacidade individual. O aluno com surdez para se normalizar deveria falar, atendendo ao padrão de “normalidade”. A escola demonstra mais uma vez a tendência à homogeneização, oferecida pela sociedade individualista, e aceita por ela (escola), uma vez que não consegue se estruturar de modo 48 a atender às diferenças, quaisquer que sejam elas. Não conseguindo superar a tendência à homogeneização, não tem encontrado estratégias para reduzir os altos índices de evasão e repetência. (Cf. MALTEZ, 2000, p. 3). Os alunos surdos com melhor poder aquisitivo, na história da educação de surdos, sempre obtiveram maior êxito escolar, pois tinham melhor acompanhamento, tanto de serviços de ensino como de saúde. Outro fator marcante na educação de surdos foi de que a dependência do outro, como elo de comunicação, devido à falta dessa comunicação. O que levou esses indivíduos a uma relação de vida sem muita autonomia. Se tornando assim indivíduos ainda mais dominados. Tratando da questão da inclusão de alunos surdos e com deficiência auditiva no ensino regular, Góes (1996) afirma que “A inserção na escola regular, pelo menos tal como organizada neste momento, leva a acentuar discrepâncias de oportunidades e, portanto, a segregar”. O aluno surdo precisa de um ambiente linguístico favorável ao seu desenvolvimento, a Libras é a sua primeira língua, é a língua que lhe traz conforto linguístico. A língua Portuguesa é a segunda língua do surdo e deve ser ensinada como segunda língua. Há também a questão da solidão linguística que impede o desenvolvimento linguísitco apropriado, pois muitas vezes o surdo é inserido em uma escola, onde ele é o único surdo e não há comunicação exceto aquela mediada pelo intéprete e sabemos que este não pode estar com o surdo em todos os espaços/tempos da escola e não há liberdade de comunicação como a que existe entre os demais alunos ouvintes. A presença do intérprete é fundamental, mas não garante de forma alguma o sucesso na aprendizagem, é preciso a utilização de 49 recursos visuais, pois o surdo possui uma cultura visual, sua língua é de natureza visuospacial, trazer imagens, fotografias, mapas, objetos e filmes para contextualizar diferentes conteúdos podem ajudar significativamente. Quanto aos filmes, documentários e programas gerais da televisão, ainda falta na maioria, a janela de Libras e a preparação formal para que os mesmos possam se beneficiar das legendas em Língua Portuguesa. Tantos as legendas quanto as Janelas de Libras carecem de melhorias na produção e de preparo/ formação para o uso satisfatório. Nascimento (2013), aponta de que maneira tais recursos podem ser potencializados pela escola e ainda quais os aspectos a serem melhorados do ponto de vista legislacional e técnico ou de produção .3 Os Deficientes Visuais e a Escola A deficiência visual consiste na perda ou redução da capacidade visual em ambos os olhos em caráter definitivo e que não possa ser melhorada ou corrigida com uso de lentes e tratamento clínico ou cirúrgico. O termo deficiência visual refere-se a uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou hereditárias, mesmo após tratamento clínico e ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. A diminuição da resposta pode ser leve, moderada, severa, profunda e ausência total da resposta visual. Considera-se deficiência visual uma capacidade de enxergar igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica. Já a baixa visão significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho (mais uma vez com a melhor correção óptica). E 3 Para saber mais sobre acessibilidade televisiva para surdos leia a dissertação de mestrado disponível em: http://www.ufgd.edu.br/faed/mestrado-educacao/dissertacoes/grazielly-vilhalva-silva-do-nascimento 50 também existem casos em que a soma da medida do campo visual em ambos os olhos é igual ou menor que 60 graus - ou ocorre simultaneamente quaisquer das condições anteriores (ITS, 2008). Com relação aos indivíduos com deficiência visual, muitos os consideram, inclusive os atores educativos, como pessoas doentes, e incapazes de viverem sem a ajuda de outros, por estarem limitados por falta da visão. Segundo Masini (1997): Considerando que a deficiência sensorial é a ausência ou defeito de um dos órgãos dos sentidos que prejudica o contato com as pessoas, objetos, situações, ela caracteriza-se pela insuficiência de dados recebidos do ambiente e pelo prejuízo nas relações do deficiente com o que o cerca. Ter presente essa característica do deficiente visual é o ponto de partida para que se busquem condições necessárias a seu desenvolvimento e formação de uma personalidade integrada (ou integração de sua personalidade) (MASINI, 1997, p. 34). Referindo-se a questão da hipótese de doença, Masini (1997) considera que a caracterização de doente seria dada quando as funções estariam dissociadas, ficando o sujeito fechado para o mundo que o cerca. A pessoa com deficiência visual pode, no entanto, fugir dessa caracterização, pois tem “a possibilidade de organizar os dados, como qualquer outra pessoa, e estar aberto para o mundo, em seu modo próprio de perceber e de relacionar-se”. A escola por desconhecer as características e implicações da deficiência visual, acaba sendo mais um segmento da sociedade que irá contribuir “para tornar esse indivíduo um incapacitado no sentido mais pejorativo que se pode dar ao termo. Exclusodo processo regular de ensino acaba por ser incorporado como força de trabalho nas atividades simples, quando aceito pelo mercado” (ANACHE, 1994, p. 119). 51 Os motivos acima citados demonstram que é de suma importância que o aluno com deficiência visual tenha real contato e informações do mundo que o cerca. Para que através da estimulação desenvolva suas potencialidades. Ainda lembrando Anache (1994, p. 119) esse contato com o mundo acontece de forma diferente dos videntes, pois sua organização irá referir-se ao “tátil, auditivo, olfático e sinestésico”. Gottesman (1976 apud Masini, 1997) aponta para estudos feitos, onde crianças deficientes visuais e videntes foram estudadas e não apresentaram diferenças, no entanto, o autor: caracteriza os sujeitos de seus experimentos como bem ajustados e integrados; bem aceitos pelos familiares, tendo sido tratados primeiro como crianças e depois como portadores de deficiência. O autor refere-se ao grau de liberdade dado pelos pais como fator crucial para seu bem estar (p. 34). Os alunos com deficiência visual têm, em muitos casos, dificuldades e atrasos no desenvolvimento, são até mesmo rotulados como tendo baixo índice de inteligência. Esses atrasos podem ser, muitas vezes, reflexos das condições educacionais que foram oferecidas a eles. A incorporação da tecnologia no contexto educacional, com o uso do computador e softwares específicos ampliam significativamente as possibilidades de desenvolvimento cognitivo e de participação no contexto escolar e social. Segundo Mansini (1997) “A falha para estabelecer mútua comunicação de interação satisfatória durante os primeiros meses é difícil de remediar e pode afetar negativamente a interação social”. Essa falha na interação social seria o que no futuro acarretaria em uma real disfunção social, onde esses indivíduos com deficiência visual teriam que romper as barreiras e estigmas aos quais foi imposto. 52 Para os alunos com deficiência visual é importante a utilização de materiais adequados como os materiais didáticos em Braille para os alunos cegos que também pode lançar mão da escrita em Braille para registrar o conteúdo ministrado verbalmente pelo professor em sala de aula. Outra possibilidade é a gravação da aula e ainda o uso de notebooks tanto para fazer as anotações como para estudos extraclasse via softwares leitores de tela como o dosvox. Os modelos táteis também são necessários e importantes para a construção do conhecimento desse alunado, esses modelos podem ser construídos para trabalhar diferentes componentes do currículo como: mapas, órgãos do corpo humano, maquetes diversas, relevo, bacias hidrográficas entre outros podem ser construídos em relevo de forma a permitir que o aluno com deficiência visual compreenda as estruturas e o funcionamento. Recursos de audiodescrição também podem ser utilizados, já existem hoje alguns filmes e documentários com a audiodescrição que podem ser utilizados como recursos didáticos. Para os alunos com baixa visão é importante trabalhar com os ampliadores de tela e ampliações gráficas, os modelos táteis também podem ser úteis e a partir do próprio contato com o aluno é possível ir encontrando estratégias e adequações que atendam as necessidades específicas do mesmo, com uma pesquisa simples no Google é possível encontrar várias ideias. Deficientes Intelectuais e a Escola De acordo com a Política Nacional de Educação Especial, deficiência mental caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do 53 período de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência e locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho (l994, p.15). Conhecida, portanto, como estritamente ligada ao funcionamento intelectual, acredito que essa deficiência seja para escola a mais difícil de ser assimilada, não que as outras não sejam. Tal hipótese está assentada na relação funcionamento intelectual – capacidade para aprendizagem, aprendizagem sendo o foco dos processos de escolarização. Dessa forma, os alunos com DI/DM parecem ser os que mais encontram resistências por parte da escola e, por que não dizer, da sociedade, com relação a sua inclusão. Por serem rotulados como sujeitos que não progridem por não contarem com a “capacidade mental” necessária para aprender. Segundo o decreto federal nº 5.296, deficiência mental é o “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas”. Hoje, quando se fala em inclusão escolar, o maior debate gira em torno do acesso do aluno com deficiência intelectual, principalmente quando ele apresenta graves comprometimentos cognitivos. São muitos os conceitos de deficiência intelectual, mas o atual modelo da Associação Americana de Deficiências Intelectual e do Desenvolvimento (AAIDD), nos traz uma concepção funcional e multidimensional que facilita a compreensão e o planejamento dos apoios necessários à inclusão da pessoa com deficiência intelectual na sociedade. 54 Entende-se como apoio todo e qualquer auxílio que melhore o funcionamento da vida da pessoa, em cinco dimensões: habilidades intelectuais, comportamento adaptativo, participação, interações e papéis sociais, saúde, e contexto. Esta visão amplia o foco da intervenção nas seguintes áreas: ensino e educação, vida doméstica, vida em comunidade, emprego, saúde, segurança, desenvolvimento humano, proteção e defesa, além das áreas comportamentais e sociais (ITS, 2008). Faz se necessário entender, antes de qualquer coisa, que o aluno com necessidades especiais pode ser sujeito do processo de aprendizagem, mas para tanto deverá contar com um aparato diferenciado, no qual o papel do professor será o de mediar à interação dos alunos com os objetos de conhecimentos através da socialização. A escola deveria focar-se nas possibilidades da criança e não apenas as suas dificuldades. A perspectiva que devemos ter na área de educação de crianças DM está baseada na cooperação, na ajuda social de outro ser humano, que num primeiro momento é seu pensamento, sua vontade, sua atividade. A saída está nas relações sociais e de cooperação, através de outros seres humanos. As escolas, de fato, estão despreparadas para receberem a esses alunos, pois: [...] assim como o meio físico e a arquitetura das escolas não foram planejados para acolher alunos em cadeiras de rodas, o ambiente cognitivo das escolas não está, no geral, preparado para o ensino de pessoas com deficiência mental integradas às normais” (MANTOAN, 1998, p. 94). Durante muito tempo as características do indivíduo foram à única meta das intervenções educativas, mas, hoje, nenhum modelo educativo pode ignorar as características do funcionamento das pessoas que apresentam incapacidadesintelectuais, sem considerar 55 a interação destas com o meio, ou seja, é preciso antes de avaliar seus resultados de progresso no ensino e aprendizagem, avaliar as condições do meio, se de fato oferecem oportunidades para o desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança. Para Mantoan (1998): Não se trata de selecionar habilidades intelectuais dentre aquelas que são comuns às que as pessoas que empregam para se ajustar aos desafios da vida acadêmica, social, do trabalho e do lazer. O que importa é valorizar todo e qualquer nível de desempenho cognitivo e considerar o processo pelo qual a habilidade é exercida, para atingir um determinado fim (p. 96). Analisar esses alunos do ponto de vista do rendimento intelectual poderia resultar em fracasso escolar, e isso traria sem dúvidas consequências sobre a imagem social desses alunos que apresentam “déficit intelectual”, pois esses estariam fora dos objetivos a eles impostos. Mantoan (1998) tratando a questão do aluno com deficiência mental no ensino regular afirma que: Imaginar o número de obstáculos que os indivíduos com incapacidades motoras encontram nos edifícios, onde tudo é concebido para as pessoas que andam, é uma maneira de perceber a extensão dos problemas de uma pessoa com deficiência mental no meio escolar tradicional (MANTOAN, 1998, p. 96). Deficiência múltipla O termo deficiência múltipla tem sido utilizado, com frequência, para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social. No entanto, não é o somatório dessas alterações que caracterizam a múltipla 56 deficiência, mas sim o nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas. O desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis. Alunos, com níveis funcionais básicos e possibilidades de convivência saudável com o meio, podem e devem ser escolarizados em classe comum, mediante a necessária adequação e suplementação curricular. Outros, entretanto, com mais dificuldades, poderão necessitar de recursos mais específicos, apoios intensos, contínuos e currículo alternativo que correspondam às suas necessidades específicas podendo muitas vezes frequentar uma instituição especializada ao invés do ensino comum. Observa-se maior resistência para inclusão em escolas e instituições que ainda se apoiam no modelo médico da deficiência, em técnicas de reeducação, educação compensatória ou de prontidão para inclusão. Atualmente, o conceito de necessidade específica vem romper com essa visão reducionista de educação especial centrada no déficit, na limitação, na impossibilidade do sujeito de interagir, agir e aprender com os demais alunos em ambientes o menos restritivos possíveis (GODÓI, 2006). O decreto federal nº 5.296 define deficiência múltipla como “a associação de duas ou mais deficiências”. A associação de diferentes deficiências pode ser agravada por alguns aspectos, como a idade de aquisição, o grau das de deficiências e a quantidade de associações, influenciando as possibilidades e limitações em cada caso (ITS, 2008). 57 Os Transtornos globais do desenvolvimento (TGD) De acordo com a revista Nova Escola, publicada em abril de 2011, os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) são distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida, esses distúrbios podem ser percebidos essencialmente no campo da comunicação e comportamental do sujeito acometido, mediante padrões de comunicação estereotipados e repetitivos e também pelo estreitamento nos interesses e nas atividades. Os TGD englobam o autismo, os diferentes transtornos do espectro autista como a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett, e ainda as psicoses infantis, Grupo de transtornos caracterizados por alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Estas anormalidades qualitativas constituem uma característica global do funcionamento do sujeito em todas as ocasiões. (CID-10, 1993). O autismo é considerado uma síndrome comportamental (e não um tipo de deficiência), com causas múltiplas. É um distúrbio de desenvolvimento que se caracteriza por um déficit na interação social, expresso pela inabilidade em se relacionar com outro e usualmente combinado com dificuldades de linguagem e de comportamento. As características que podem ser encontradas nesses alunos com necessidades especiais na área de condutas típicas variam desde os distúrbios sociais leves até distúrbios mais graves, geralmente com deficiência intelectual. Ressaltamos que condutas típicas é um termo utilizado na área educacional, sendo que, na área da saúde, o autismo está classificado como 58 Transtornos Globais do Desenvolvimento (ITS, 2008). Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentarem-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns. Os Transtornos Globais do Desenvolvimento também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo. Com relação à comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros, esse fenômeno é conhecido como ecolalia ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões (NADAL, 2011). Como lidar com o TGD na escola? Crianças com transtornos de desenvolvimento apresentam diferenças e merecem atenção com relação às áreas de interação social, comunicação e comportamento. Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária. Apresentar as atividades do currículo visualmente é outra ação que ajuda no processo de aprendizagem desses alunos. Faça ajustes nas atividades sempre que necessário e conte com a ajuda do profissional responsável pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE). 59 Identificar as potencialidades dos alunos. Investir em ações positivas, estimular a autonomia e fazer o possível para conquistar a confiança da criança. Lembre-se: Os alunos com TGD costumam procurar pessoas que sirvam como 'porto seguro' e encontrar essas pessoas na escola é fundamental para o desenvolvimento. Fonte: Nadal, Paula. Nova Escola, 2011. (Adaptado pelo autor) Conhecendo as Salas de Recursos Multifuncionais De acordo com o fascículo de educação inclusiva do MEC (2008), as Salas de Recursos Multifuncionais são espaçoslocalizados nas escolas de educação básica,onde se realiza o Atendimento Educacional Especializado - AEE. Essas devem ser organizadas com mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento aos alunos público alvo da educação especial, em turno contrário à escolarização. Para isso, o Ministério da Educação, com o objetivo de apoiar as redes públicas de ensino na organização e na oferta do AEE e contribuir com o fortalecimento do processo de inclusão educacional nas classes comuns de ensino, instituiu o Programa de implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, por meio da Portaria Nº. 13, de 24 de abril de 2007. Esse programa implantado pelo MEC tem como objetivo atender as demandas das escolas públicas que possuem matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotados/ altas habilidades, disponibilizando as salas de recursos multifuncionais, Tipo I e Tipo II. Contudo, cabe aos gestores municipais e estaduais garantir o professor para o AEE, 60 bem como o espaço para a sua implantação da sala de recursos multifuncional. As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo I são constituídas de microcomputadores, monitores, fones de ouvido e microfones, scanner, impressora laser, teclado e colméia, mouse e acionador de pressão, laptop, materiais e jogos pedagógicos acessíveis, software para comunicação alternativa, lupas manuais e lupa eletrônica, plano inclinado, mesas, cadeiras, armário, quadro melanínico. As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo II são constituídas dos recursos da sala Tipo I, acrescidos de outros recursos específicos para o atendimento de alunos com cegueira, tais como impressora Braille, máquina de datilografia Braille, reglete de mesa, punção, soroban, guia de assinatura, globo terrestre acessível, kit de desenho geométrico acessível, calculadora sonora, software para produção de desenhos gráficos e táteis (MEC, 2008). Ao longo desta unidade fizemos uma imersão em uma modalidade de ensino que talvez muito de vocês acadêmicos até então, nunca haviam se interessado ou haviam parado para refletir de forma mais critica sobre o assunto, educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Desde o começo da construção dessa disciplina, a partir da análise da ementa e das políticas públicas que norteiam a inclusão e a acessibilidade no Brasil, optamos por conduzir a construção do conteúdo por um caminho interdisciplinar, o caminho de aproximação com as políticas publicas de inclusão e acessibilidade e ao mesmo tempo um caminho que propiciasse uma aproximação com alunado alvo dessa modalidade de ensino, entendendo que mesmo que minimamente, era preciso situar você estudante no contexto da pessoa e do aluno com deficiência. É a partir dessa aproximação, do conhecimento do outro e das 61 necessidades específicas existentes e reais na vida dessas pessoas, e porque não dizer também das necessidades pedagógicas e metodológicas dos professores que lidam com esses alunos todos os dias, que será possível entender a importância das TICs e da TA como facilitador de todo esse processo, que será possível refletir, analisar, criar e recriar recursos de TA que possibilitem o desenvolvimento das potencialidades e autonomia desses sujeitos. O ramo de desenvolvimento em inovação em TA é, sem dúvida, um filão do mercado atual, mas que, antes de tudo, deve ser pensado de forma humanizada, respeitando o outro, de forma que a TA fortaleça as ações de inclusão, acesso e participação nos diversos meios sociais, para além do chão da escola. 62 Referências ANACHE, Alexandra Ayach. Educação e deficiência. Educação e deficiência: estudo sobre a educação de pessoa com “deficiência” visual. Campo Grande, MS: CICITEC/UFMS, 1994. ______. Decreto nº 5.626, de 17 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. p. 28. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto /D5626.htm>. Acesso em: 17 nov. 2011. ______. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 20 dez. 2000. p. 2. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L10098.htm>. Acesso em: 17 nov. 2011. ______. Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 25 abr. 2002. p. 23. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10436.htm>. Acesso em: 17 nov. 2011. ______. Ministério da Educação. Política nacional da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2011. ______. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC, 1994. DORNELES, Claunice Maria. A Contribuição das Novas Tecnologias 63 no Processo de Ensino e Aprendizagem do Deficiente Visual. Campo Grande MS: ed. UFMS, 2007. GODÓI, Ana Maria de. Educação Infantil. Saberes e Práticas da Inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. 4.ed. Brasília: MEC, 2006. GOES, Maria Cecília Rafael de. Linguagem, surdez e educação. Campinas: Autores Associados, 1996. ITS, Instituto de Tecnologia Social. Tecnologia Assistiva nas escolas: recursos básicos de acessibilidade sócio-digital para pessoas com deficiência. ITS Brasil, Microsoft | Educação: 2008. Cartilha. MALTEZ, Sônia. Escolarização de aprendizes surdos. Escola regular e escola especial. In: _____ Seminário desafio para o próximo milênio, 2000, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2000. MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Educação escolar de deficiente mentais: problemas para a pesquisa e o desenvolvimento. In: A nova LDB e as necessidades educativas especiais. Cadernos Cedes, nº 46, 1998. MASINI, Elcie F. Salzano. Integração ou desintegração? Uma questão a ser pensada sobre a educação do defeciente visual. In: _____ MANTOAN, Maria Teresa Eglér.(Org.). A integração de pessoas com deficiência. Contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: SENAC, 1997. MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Educação escolar de deficiente mentais: problemas para a pesquisa e o desenvolvimento. 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Campinas: EDUSF, 1999. 65 Tecnologias na escola: As TICs e a TA a serviço da aprendizagem, da acessibilidade e inclusão Prezados acadêmicos, Estamos chegando ao final de nosso conteúdo e nesta unidade iremos discutir um pouco acerca das novas tecnologias dentro do espaço escolar, compreender e analisar quais são os desafios para que o uso dessas tecnologias colabore com processo de ensino-aprendizagem. Vamos refletir um pouco sobre o papel do professor, discutir sobre a formação desse profissional para o ensino no século XXI, o século midiatizado, o século da sociedade da informação conforme nomeou Castells (2010). O século XXI é também marcado pela aceitação ou ao menos pelo incentivo a aceitação do diferente. 66 Ao longo da história da humanidade vemos que as práticas discriminatórias e excludentes sempre fizeram parte da cultura social, onde tudo e todo aquele que seja por motivos naturais ou não se desviasse dos padrões socialmente estabelecidos. A deficiência sempre foi uma marca de exclusão, as pessoas com deficiência em muitos momentos da história, como na civilização grega e romana eram extirpadas do meio social, seja pelo abandono, ou mesmo em muitos casos registrados historicamente pelo extermínio no sentido literal da palavra. Hoje os tempos são outros, a mesma sociedade altamente tecnológica também quer ser a sociedade que busca incluir e trazer para o centro aqueles que estavam ou estão à margem. As novas tecnologias e os recursos de tecnologias assistidas tem um importante papel para essa inclusão, pois inclusão demanda autonomia que em muitos casos só poderá ser desenvolvida através dos recursos de TA. O desafio que temos ainda é superar a cultura escolar que ainda opera a níveis bem tradicionais de ensino-aprendizagem. Não deixem de realizar as leituras indicadas e assistir ao vídeo aula. Para finalizar a unidade não se esqueçam de realizar a atividade contida na proposta avaliativa do AVA. 67 Tecnologias na escola: as TICs e a TA a serviço da aprendizagem, da acessibilidade e inclusão Vivemos em uma sociedade altamente informatizada e tecnológica, e da mesma forma como os avanços tecnológicos vieram modificando toda a área do conhecimento e setores da sociedade, ela também chega à escola e desestabiliza os paradigmas sobre as formas de ensinar e aprender, hoje é impossível pensar em processos de escolarização sem lançarmos mão de tecnologias mais atuais como o computador, o tablet, a internet, os games e tantos outros recursos tecnológicos para além do giz, do quadro negro e do livro didático. Embora muito se fale na importância da informática na escola, o grande obstáculo ainda é a inabilidade do professor para utilizar tais recursos como meio atualizado de se atingir os objetivos de 68 determinado conteúdo. A formação de professores de forma geral, já é, devido às muitas fragilidades presente nesse processo, um assunto bastante polêmico, e nesse mesmo contexto situa-se a questão das TICS, das salas de tecnologias e das salas de recursos multifuncionais. Em geral, o que temos percebido através da leitura de pesquisas realizadas, é que os profissionais que ocupam esses espaços em suam maioria possuem um conhecimento bem limitado quanto ao uso do computador, dos aplicativos e programas disponíveis, e do uso e aplicação de outros recursos disponíveis nas salas de recursos Tipo I e Tipo II, e em alguns relatos de pesquisa descreve-se que os materiais para equipar a sala de recurso ainda continuam intactos dentro de caixas amontodas em um “cantinho” da escola. Claro que há locais onde esses recursos são muito bem utilizados, mas o desafio para o momento, ainda continua a ser a capacitação interdisciplinar dos professores quanto ao domínio dos recursos tecnológicos existente e a assimilação da ideia de que as atividades mediadas pela tecnologia não podem ser aplicadas como um fim em si mesma, como mero passatempo que permite uma folga ao professor. Na hora de planejar uma atividade o professor deve se perguntar: o que? Para que? Por quê? Como fazer? Ou seja, os objetivos e procedimentos precisam estar claros, de forma que as atividades mediadas por recursos de TICs ou TA não sejam apenas um mero passatempo no espaço escolar. Os alunos precisam que o universo da escola se aproxime mais, em termos práticos das TICs, que as formas de transmissão de conteúdo seja mais leve no que se refere a ser mais próximo da realidade que muitos alunos vivem fora da escola, totalmente conectados e midiatizados porque, caso contrário, a escola se torna um local pouco atrativo. Outro dia ouvi alguém dizer que se 69 inventassem uma máquina do tempo e um cidadão do passado se teletransportasse para os dias atuais, os dois locais que ele provavelmente reconheceria seriam a igreja e a escola, logo que ele olhasse para uma sala com filas de carteiras e com um quadro negro ele saberia que ali, por mais suntuoso que fosse a construção, era uma sala de aula. Não queremos dizer, com isso, que devemos abandonar a sala de aula tradicional, mas incorporar novas estratégias é sim fundamental em nossos dias e os recursos tecnológicos constituem um caminho importante para essa mudança. O professor inserido neste contexto precisa conhecer e entender o computador como uma importante ferramenta a favor da aprendizagem do aluno, precisa utilizar os recursos disponíveis sempre a partir de uma reflexão e análise minuciosa sobre sua proposta de ensino e sobre o ensinar e o aprender, é necessário ainda, que em termos de formação de professores, seja oportunizado aos mesmos condições para geração de novos conhecimentos sobre as técnicas computacionais e a incorporação e articulação das diferentes tecnologias em suas práticas de ensino. O computador como recurso pode ser um grande parceiro do educador no processo de ensino-aprendizagem, enquanto os projetos serão excelentes meios de efetivar sua utilização. É preciso entender que o computador não é o detentor do conhecimento, mas uma ferramenta que permite ao aluno buscar informações e construir com seus recursos, vivenciando situações-problema que possibilitem tirar conclusões e construir novos conhecimentos (ITS, 2008). O quadro abaixo explica de forma simples como o processo de aprendizagem se modifica a partir da inserção do computador e das TICs na escola: 70 APRENDIZAGEM TRADICIONAL APRENDIZAGEM COM AS TICS v Instrução centrada no professorv Aprendizagem centrada no aluno v Estimulação Unissensorial v Estimulação multissensorial v Progressão unidirecional v Progressão multidirecional v Única mídia v Multimídia v Trabalho isolado v Trabalho colaborativo v Informação fornecida v Troca de informação v Aprendizagem passiva v Aprendizagem ativa / exploratória / inquisitiva v Aprendizagem por aquisição de informações v Pensamento crítico / tomada de decisões v Reação de responsividade v Ação planejada, integrativa, por iniciativa.Fonte: National Educational Technology Standards for Teachers, ISTE® / Tradução: FERREIRA, G.C. (2002) apud ITS, (2008). As novas mídias convergentes como o computador, os games, a multimídia com as quais nossos jovens e crianças estão em constante interação constroem novas formas de ler, escrever, de pensar e agir, novas formas de registrar o conhecimento não mais necessariamente preso à escrita ou ao manuscrito; contudo, às vezes, nós como educadores não paramos para pensar sobre isso. 71 Jonassem (1996) aponta quatro momentos de aprendizagem mediados pelas TICs em: 1. Aprender a partir da tecnologia (learning from), em que a tecnologia apresenta o conhecimento, e o papel do aluno é receber esse conhecimento, como se ele fosse apresentado pelo próprio professor; 2. Aprender acerca da tecnologia (learning about), em que a própria tecnologia é objeto de aprendizagem; 3. Aprender através da tecnologia (learning by), em que o aluno aprende ensinando o computador (programando o computador através de linguagens como BASIC ou o LOGO); 4. Aprender com a tecnologia (learning with), em que o aluno aprende usando as tecnologias como ferramentas que o apoiam no processo de reflexão e de construção do conhecimento (ferramentas cognitivas). Nesse caso, a questão determinante não é a tecnologia em si mesma, mas a forma de encarar essa mesma tecnologia, usando-a, sobretudo, como estratégia cognitiva de aprendizagem (JONASSEM, 1996, p. 59). Dessa forma, é importante que o professor regente e o professor da sala de tecnologia se articulem durante o planejamento das aulas, para que os planos de ensino e de aulas que irão utilizar recursos de TICs (Tecnologia da informação e comunicação) e até mesmos os projetos interdisciplinares que venham a ser desenvolvidos com os alunos propiciem adquadamente e continuamente os quatro momentos apontados por Jonassem (1996). Tecnologia Assistiva: classificação, recursos e serviços Como viemos discutindo e apontando durante as unidades anteriores, a tecnologia assistiva pode ampliar e modificar 72 significativamente a condição de vida da pessoa com deficiência no que se refere a sua autonomia e melhoria da qualidade de vida, uma vez que as tais tecnologias são pensadas para minimizarem as limitações da vida diária, conforme explica (Brasil, 2009), Tecnologia Assistiva (TA) é fruto da aplicação de avanços tecnológicos em áreas já estabelecidas. É uma disciplina de domínio de profissionais de várias áreas do conhecimento, que interagem para restaurar a função humana. Tecnologia Assistiva diz respeito à pesquisa, fabricação, uso de equipamentos, recursos ou estratégias utilizadas para potencializar as habilidades funcionais das pessoas com deficiência (BRASIL, 2009, p.11). Quando falamos de tecnologia, geralmente pensamos em softwares e aplicativos e também em equipamentos altamente sofisticados com recursos de tecnologia de ponta. É importante destacar que sim, esses recursos e equipamentos compõem a chamada tecnologia assistiva, mas há também outras adaptações e aplicações bem simples que podem ser consideradas como tecnologia assistiva. Outra questão é a confusão que às vezes ocorre entre a tecnologia assistiva e outras tecnologias, como por exemplo, as tecnologias educacionais e as tecnologias da informação e comunicação. A tecnologia assistiva, [...] deve ser entendida como o “recurso do usuário” e não como “recurso do profissional”. Isto se justifica pelo fato de que ela serve à pessoa com deficiência que necessita desempenhar funções do cotidiano de forma independente. Por exemplo: a bengala é da pessoa cega ou daquela que precisa de um apoio para a locomoção; a cadeira de rodas é de quem possui uma deficiência física e com este recurso chega aos lugares que necessita; a lente servirá a quem precisa melhorar sua eficiência visual. O software leitor, fala o conteúdo de textos digitalizados à pessoa com deficiência visual ou a quem não consegue ler em função da dislexia ou deficiência intelectual. Todos estes recursos promovem maior eficiência e autonomia nas várias atividades de interesse de seus usuários. Por princípio, o recurso de TA acompanha naturalmente o usuário que o utilizará em diferentes espaços na sua vida cotidiana (BERSCH, 2013, p.11). Essa autora explica que, “um aluno com deficiência física nos membros inferiores e que faz uso de cadeira de rodas, utilizará o computador com o mesmo objetivo que seus colegas: pesquisar na web, construir textos, tabular informações, organizar suas 73 apresentações, etc”. Então, de acordo com ela, o computador é tanto para este aluno, como para seus colegas, um recurso didático, aplicada no contexto educacional e, neste caso, não se trata de Tecnologia Assistiva. Bersch, afirma que “qualquer aluno, tendo ou não deficiência, ao utilizar um software educacional está se beneficiando da tecnologia para o aprendizado”. Ainda de acordo com a autora, na escola, o professor propõe novas ferramentas tecnológicas com objetivo de diversificar e qualificar o acesso ativo dos alunos às informações, o professor utiliza as tecnologias como um meio, um instrumento metodológico para se alcançar os objetivos curriculares. Quando então a tecnologia pode ser considerada Assistiva no contexto educacional? Quando ela é utilizada por um aluno com deficiência e tem por objetivo romper barreiras sensoriais, motoras ou cognitivas que limitam/impedem seu acesso às informações ou limitam/impedem o registro e expressão sobre os conhecimentos adquiridos por ele; quando favorecem seu acesso e participação ativa e autônoma em projetos pedagógicos; quando possibilitam a manipulação de objetos de estudos; quando percebemos que sem este recurso tecnológico a participação ativa do aluno no desafio de aprendizagem seria restrito ou inexistente. São exemplos de TA no contexto educacional os mouses diferenciados, teclados virtuais com varreduras e acionadores, softwares de comunicação alternativa, leitores de texto, textos ampliados, textos em Braille, textos com símbolos, mobiliário acessível, recursos de mobilidade pessoal etc (BERSCH, 2013, p.11). O eixo de tecnologia assistiva foi classificado em categorias que integra recursos e serviços de forma a facilitar o desenvolvimento, a disponibilização ao usuários e as ajudas técnicas que são os serviços de TA. Duas classificações são mais utilizadas, a da norma ISO 9999/2002 e a Classificação Nacional de Tecnologia Assistiva, do Instituto Nacional de Pesquisas em Deficiências e Reabilitação, dos Programas da Secretaria de Educação Especial - Departamento de Educação dos Estados Unidos, 2000). No Brasil o CAT (Comite de ajudas técnicas criado pela portaria nº 142, de 16 de novembro de 2006) conceitua a TA como uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, 74 http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fportal.mj.gov.br%2Fcorde%2Farquivos%2Fdoc%2FPORTARIA%2520institui%2520comit%25C3%25AA%2520de%2520ajudas%2520t%25C3%25A9cnicas%2520-%2520revisada31.doc&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGt7t2brXViSZ-LDJpv_UARq6-zHgincapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Durante as pesquisas bibliográficas realizadas para a elaboração do conteúdo da disciplina percebemos, de acordo com as leituras de vários materiais, que não existe uma única forma de classificar a Tecnologia Assistiva e as várias classificações existentes são aplicadas de acordo com os objetivos de catalogação de recursos, ensino, troca de informação, organização de serviços de aconselhamento e concessão (Brasil, 2009). Assim, é possível encontrar outras formas de classificação, mas o importante é que o conceito de TA esteja correto e os objetivos também. Abaixo transpomos ipsis litteris a tabela elaborada por Sartoretto e Bersch (2013), diponível no site http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html. A tabela apresenta a classificação dos recursos de TA e a excelente oconstrução das autoras, facilitará a compreensão sobre os recursos. 1. Auxílios para a vida diária Materiais e produtos para auxílio em tarefas rotineiras tais como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais, manutenção da casa etc. 2. CAA (CSA) Comunicação aumentativa (suplementar) e alternativa 75 http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.assistiva.com.br%2Ftassistiva.html&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGgclvY7FdaiZUhhUZgregJIkKN3Q Recursos, eletrônicos ou não, que permitem a comunicação expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com limitações da mesma. São muito utilizadas as pranchas de comunicação com os símbolos PCS ou Bliss além de vocalizadores e softwares dedicados para este fim. 3. Recursos de acessibilidade ao computador Equipamentos de entrada e saída (síntese de voz, Braille), auxílios alternativos de acesso (ponteiras de cabeça, de luz), teclados modificados ou alternativos, acionadores, softwares especiais (de reconhecimento de voz, etc.), que permitem as pessoas com deficiência a usarem o computador. 4. Sistemas de controle de ambiente Sistemas eletrônicos que permitem as pessoas com limitações moto-locomotoras, controlar remotamente aparelhos eletro-eletrônicos, sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. 5.Projetos arquitetônicos para acessibilidade Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, através de rampas, elevadores, adaptações em banheiros 76 entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência. 6. Órteses e próteses Troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recurso ortopédicos (talas, apoios etc.). Inclui-se os protéticos para auxiliar nos déficits ou limitações cognitivas, como os gravadores de fita magnética ou digital que funcionam como lembretes instantâneos. 7. Adequação Postural Adaptações para cadeira de rodas ou outro sistema de sentar visando o conforto e distribuição adequada da pressão na superfície da pele (almofadas especiais, assentos e encostos anatômicos), bem como posicionadores e contentores que propiciam maior estabilidade e postura adequada do corpo através do suporte e posicionamento de tronco/cabeça/membros. 77 8. Auxílios de mobilidade Cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases móveis, andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veículo utilizado na melhoria da mobilidade pessoal. 9. Auxílios para cegos ou com visão subnormal Auxílios para grupos específicos que inclui lupas e lentes, Braille para equipamentos com síntese de voz, grandes telas de impressão, sistema de TV com aumento para leitura de documentos, publicações etc. 10. Auxílios para surdos ou com déficit auditivo Auxílios que inclui vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado — teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros.; celular com mensagens escritas e chamadas por vibração, aplicativo que traduz 78 em língua de sinais mensagens de texto, voz e texto fotografado. 11. Adaptações em veículos Acessórios e adaptações que possibilitam a condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros veículos automotores usados no transporte pessoal. Fonte: Sartoretto e Bersch (2013). Símbolos de Comunicação Pictórica, Picture Communication Symbols (PCS) © 1981-2009 Mayer-Johnson, LLC. Todos os direitos reservados. Para saber um pouco mais e conhecer recursos modernos de TA leia o texto Introdução a tecnologia assistiva , basta clicar que o 1 link será aberto, esse texto contribuirá de forma significativa para ampliar o seu conhecimento acerca da TA, como um futuro professor de computação, você deve conhecer quais os recursos disponíveis e quais podem facilmente ser ofertados aos alunos com deficiência no contexto escolar. Na pasta “biblioteca” disponível na sala da disciplina no AVA, disponibilizamos a cartilha “Tecnologia Assistiva na Escola”, desenvolvida pelo ITS - Instituto de Tecnologia Social do Brasil, solicitamos que realizem a leitura a partir do item III do capítulo 2 e leiam o capítulo 3 intitulado “Sugestões para as escolas” na íntegra pois o mesmo apresenta ideias e dicas para que a proposta de inclusão e acessibilidade nas escolas sejam realizadas de forma a enxergar a pessoa com deficiência a partir de suas possibilidades. As escolas que para além de cumprimento de Leis, desejam de fato serem inclusivas, precisam olhar para os alunos com deficiência com um novo olhar, ou seja, as ideias pré-concebidas 1 http://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf 79 http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.assistiva.com.br%2FIntroducao_Tecnologia_Assistiva.pdf&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFvw7HeDSGTbzS0-9gEM6hbn66iKA http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.itsbrasil.org.br%2Fsites%2Fitsbrasil.w20.com.br%2Ffiles%2FDigite_o_texto%2FCartilha_Tecnologia_Assistiva_nas_escolas_-_Recursos_basicos_de_acessibilidade_socio-digital_para_pessoal_com_deficiencia.pdf&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFoS6NVTr_Xbc2pqQNUdAid3fXHwg que os veem como sujeitos limitados, como incapazes, os que possuem “falta de”, “os que não podem”, “os coitadinhos” devem ser abandonados e rejeitados, deve haver um deslocamento da deficiência para as possibilidades do sujeito, estes alunos como quaisquer outros, precisam ter o acesso, mas muito mais que isso, precisam participar e permanecerem até o fim de seus estudos e toda e qualquer forma de discriminação e barreiras impeditivas de seu desenvolvimento devem ser rejeitadas. Quando falamos de inclusão e acessibilidade seja restrita ao espaço escolar ou de inclusão social, mais ampla, é preciso pensar em eliminação de barreiras. Acessibilidade consiste em eliminar barreiras e como vimos são muitos os tipos de barreiras, talvez a pior delas e mais difícil de eliminar sejam as barreiras atitudinais, porque dependem unicamente de pessoas, das ações individuais de cada sujeito frente à pessoa com deficiência, isso depende de um trabalho intensivo para o desenvolvimento de uma cultura inclusiva que leve as pessoas sem deficiência a aceitarem e respeitarem em todos os sentidos as pessoas com deficiência. Quanto aos outros tipos de barreiras vimos que as tecnologias especialmente o ramo da Tecnologia Assistiva, podepor meio dos recursos e serviços oferecidos potencializar e muito a inclusão na escola e também em outros espaços. A escola precisa lançar mão de todos os recursos tecnológicos disponíveis, pois a TA amplia significativamente as possibilidades de participação e autonomia, os professores precisam conhecer os recursos e reivindicar sua oferta aos alunos com deficiência, o licenciado em computação terá um papel essencial nesse processo, pois sua formação permitirá mapear as tecnologias disponíveis e validar suas aplicações no contexto escolar tudo isso em parceria com o professor regente. Abrimos um parêntese aqui, para dizer que a separação entre inclusão escolar e social embora exista e seja comumente usada não nos agrada muito, visto que em nossa concepção a inclusão 80 escolar deve ou pelo menos deveria culminar na inclusão social da pessoa com deficiência, a escola ou a escolarização não constitui um fim em si mesmo, as pessoas vão para escola almejando um futuro melhor, os pais enviam seus filhos para escola com a esperança de um futuro para seus filhos, os pais não enviam seus filhos para a escola para que eles se socializem e sim para crescerem como pessoas, como cidadãos, mas muitas vezes, o que se escuta acerca da escolarização da pessoa com deficiência é que precisam se socializar e ponto, é como se a socialização fosse um grande premio e a escola fosse único lugar possível para isso, será justo isso com a pessoa com deficiência? Será a escola responsável em incluir para socializar e ponto? Outra questão que não podemos deixar de discutir aqui é a ideia de que é preciso ter muito amor para lidar com inclusão ou com o público alvo da educação especial, ledo engano, pois hoje no Brasil inclusão escolar e acessibilidade é uma política pública federal de Norte a Sul e de Leste a Oeste do país, todo e qualquer cidadão que escolha seguir a carreira docente tem um dever legal e o compromisso profissional com a inclusão escolar, o amor é sempre bem vindo, como seria bom se tudo que as pessoas fizessem fosse motivado ou houvesse o emprego do amor, mas isso não é determinante em nenhuma profissão, e quem trabalha com alunos com deficiência não vai “direto para o céu”, precisamos fazer esse desabafo aqui, pois tais falas e concepções além de serem um reforço negativo sobre as ideias que se tem sobre pessoas com deficiência, pois “só mesmo alguém com muito amor para aceitar tal desafio” e só mesmo “um passe livre para o céu” como recompensa seria capaz de motivar tais profissionais que mascaram ainda o preconceito e afirmam a equivocada ideia de que um “professor comum” não pode trabalhar com alunos com deficiência. 81 A implementação da política de inclusão requer um plano de formação de professores que trabalhe com os conhecimentos específicos da área, e principalmente condições como recursos materiais e humanos específicos, mas isso é preciso também para lidar com a diversidade dentro de qualquer sala de aula, pois nenhuma sala de aula é homogênea, a escola tende sempre a homogeneização e talvez por isso, tantos alunos sem deficiência também se “perdem” pelo caminho, pois muitos professores não entenderam que cada um aprende de uma forma, que o que foi válido para a turma A, pode não ser válido para a turma B, enfim, não existem receitas prontas e fórmulas mágicas e sim um repensar contínuo sobre a prática docente que faz com que o profissional professor reveja suas ações, analise o que deu certo, por que deu certo, e se não deu certo, por que não deu certo, e a partir dessa análise formule novas metodologias, crie novas ações num processo de análise contínua, o mesmo deve acontecer em uma sala de aula inclusiva com alunos com deficiência, Edler (2011, p. 123) afirma que “a mudança de atitudes frente à diferença, com a consequente necessidade de repensar o trabalho desenvolvido nas escolas, é uma barreira de complexa natureza, mais trabalhosa para ser removida, pois se trata de um movimento de “dentro para fora” e isto leva tempo”. O governo federal tem investido na formação inicial e continuada de professores, as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura têm obrigatoriamente disciplinas de educação especial, educação inclusiva e Libras – Língua Brasileira de Sinais, e no caso dos cursos de computação, arquitetura e engenharia civil disciplinas sobre inclusão e acessibilidade, cada curso com o enfoque na área específica de formação profissional, de forma a preparar os futuros profissionais na implementação e efetivação da política de 82 acessibilidade e inclusão, que por sinal resulta de acordos internacionais onde o Brasil foi signatário de diversos documentos como vimos na unidade 1 e 2. O Plano Nacional Viver Sem Limites, decorrente do decreto nº 7.612/2011 para a pessoa com deficiência, tem incentivado e financiado a implantação de graduações específicas como o curso de Letras com habilitação em LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais que está sendo implantado nas 27 unidades federativas por meio de chamadas de editais de financiamento para as universidades públicas federais do país. Há também, o curso de Pedagogia Bilíngue (Português/Libras) que será implementado pelo MEC em parceria com INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos em 15 polos de universidades federais do Brasil já em 2014, do qual a UFGD também será polo. Quanto a Tecnologia Assistiva, o Brasil vem também por meio do Plano Nacional Viver sem Limites incentivando e financiando a implantação de diversos núcleos de tecnologia assistiva em parceria com o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI). Nos últimos dois anos, houve o lançamento de diferentes editais públicos de financiamentos para o desenvolvimento de inovações em TA. Em 2012 foi organizada pelo MCTI uma rede nacional composta por núcleos de TA organizados em várias universidades do país, a UFGD foi uma das universidades que concorreu ao edital nacional e teve sua proposta contemplada, seu núcleo está em fase implantação liderado pela Faculdade de Educação em parceria com profissionais da educação e da TI. Muitos avanços ocorreram e estão acontecendo, porém Fernandes e Orrico (2012, p.146) afirmam que falta algo da ordem do fazer, a acessibilidade é em muitos momentos apenas retórica, apenas um belo discurso antagonizado por uma prática social excludente muito bem 83 maquiada por gestos politicamente corretos, cheios de dispersões facilmente observáveis, porém de difícil implicação jurídica pelo caráter simbólico da questão. Os dispositivos legais estão prontos, as áreas do conhecimento abertas, e “o fazer da promoção da acessibilidade é estabelecer uma ponte entre as necessidades apresentadas pelas pessoas com deficiência e as propostas de inclusão social já construídas e as que estão por construir” (Ibidem). Aos futuros profissionais, fica o convite para o enveredamento por esta porta aberta, fica o convite para quem deseja construir pontes e ressignificar a sua prática profissional, mas lembrem-seque acima do querer, trabalhar pela inclusão e acessibilidade é antes de tudo um dever legal. 84 Referências BERSCH. Rita. Introdução a Tecnologia Assistiva. Porto Alegre: Assistiva, 2013. Disponível em: http://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf. Acesso em 15 dez. 2013. Brasil. Decreto nº 5.626, de 17 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. 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