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SÚCIO-CAPITALISMO OU CAPITALISMO SOCIATIZADO Introdução JORGE ~CAR DE ~ELDO FLÔRES· BIBLIOTECA FUNDACAo GI!TUllO VAIfGAS Introdução; 1. Princípios; 2. Diretrizes gerais; J: .... ~Urrr-II-------_....I retrizes quanto a direitos e garantias individuais; 4. Dire- trizes quanto à ordem social; 5. Diretrizes quanto à or- dem econômica; 6. Diretrizes quanto à ordem admi- nistrativa; 7. Diretrizes quanto à ordem política. 8. Conclusões. o regime capitalista, de livre iniciativa e economia de mercado, que propi ciou o progresso, a riqueza e o bem-estar das democracias ocidentais, precisa de um ajustamento à realidade contemporânea, que não apenas o compatibi lize com a consciência atual do mundo livre, de colocar a pessoa humana como prioridade máxima nas finalidades do Estado, mas também enseje aos países do denominado Terceiro Mundo e, em particular, aos já em desenvol vimento, usufruírem os benefícios desse regime, escapando ao engodo das utopias socialistas. Nesse sentido, será preciso, sem que se esqueçam os princípios mestres do capitalismo, dar ênfase aos aspectos sociais, aos direitos humanos e ao inte resse coletivo. Tal atitude foi resumida no atributo "sociatizado" acrescido à denominação do regime, palavra na qual o uso da letra t, em vez do habi tual I, vem mostrar que há uma ação adaptadora e não uma transformação do sistema, evitando o emprego da denominação já consagrada para o regime cujos defeitos são sobejamente conhecidos, embora muitos inocentes úteis mal-avisados julguem que o mundo caminha inexoravelmente para ele. A fim de fazer um ensaio para a efetivação do objetivo colimado, esboça remos, no item seguinte, alguns princípios orientadores e, daí por diante, alinharemos as diretrizes gerais e setoriais para a concretização do que desig namos por "capitalismo sociatizado". Terminando, sugeriremos quais dessas diretrizes devam constar de um texto constitucional, e quais, da legislação ordinária. L Princípios 1 . 1 A Nação, asseguradas sua honra, integridade e instituições, deve colocar como objetivo máximo a valorização do homem e a preservação de seus direitos. • Vice-presidente do Conselho Diretor da Fundação Getulio Vargas. R. C. pol., Rio de Janeiro, 29(1):1-11, jan./mar. 1986 .-------------------------------------------------------~--------- 1 .2 Para atingir esse objetivo e, em consequencia, alcançar o bem-estar social no País, torna-se necessário um desenvolvimento econômico condizente, apoiado em uma estabilidade financeira adequada, por sua vez garantida por uma tranqüilidade política, cujas eventuais comoções não transcendam às natu rais e salutares controvérsias do regime democrático. 1.3 No mundo moderno, são de grande proporção e complexidade as inter relações entre os fenômenos sociais, econômicos, financeiros e políticos, o que acarreta uma estreita correlação entre as intervenções governamentais nesses campos. Assim, a posse quase integral pelo Estado da propriedade territorial e das instalações de produção e circulação de bens e de prestação de serviços, tornam praticamente toda a população dependente do Poder Governamental, seja diretamente, como empregado, seja indiretamente, como consumidor ou utente; 'sua capacidade de reagir torna-se assim muito tênue e desvanescente, o que enseja a expansão cada vez maior do Comando Central, que passa a ter o domínio social e o monopólio político, através de um partido único, que é muito menos uma agremiação política do que uma classe privilegiada em uma Nação teoricamente sem classes. Esse raciocínio lógico e sua comprovação insofis mável na "cortina de ferro" evidenciam que o socialismo e a ditadura1 são irmãos siameses, o que deixa como única alternativa o Estado democrático baseado na livre iniciativa e na economia de mercado. 1 .4 Os chamados países ricos do mundo ocidental, cujo padrão médio de vida, inclusive no proletariado, é muito superior aos da área socialista, são os que puderam transpor naturalmente, salvo eventuais períodos de crise, as etapas de tranqüilidade política, estabilidade financeira, desenvolvimento eco nômico e bem-estar social. Todavia, os atuais países em desenvolvimento, na era da informação e da agitação ideológica, têm sua marcha normal perturbada pelos que desejam ter rapidamente o que sabem outros povos já possuírem e pelos que lhes acenam com as falácias socialistas. 1.5 A fim de minimizar essas perturbações, conviria abreviar etapas para atingir mais prontamente o bem-estar social desejado, embora isso obrigasse a enfrentar um sacrifício, que se procuraria dosar pelo cotejo constante da relação custo ( econômico-financeiro) /benefício (s6cio-político). 1 .6 Paralelamente, cumpre considerar que o organismo do Estado, que encontra inúmeras analogias no organismo humano, deve também possuir um sistema imunológico, que não precisa ser permanente e violento como os dos regimes socialistas, mas deve ser o suficiente para agir temporária e efi~iente mente, defendendo as democracias ainda não consolidadas por um padrão médio de vida elevado, contra a ação deletéria dos germes esquerdizantes, que, se bem-sucedidos, conduziriam os países à antidemocracia. 1 Não confundir um regime socialista realmente implantado, com a ascensão ocasional ao poder de um partido socialista, em uma democracia parlamentar, na qual esse partido é afastado através do voto, quando acarreta os primeiros prejuízos de monta ao País. 2 R.C.P. 1186 1.7 Por outro lado, para a manutenção do verdadeiro regime democrático, calcado no respeito aos direitos humanos, na livre iniciativa e na economia de mercado, mister se faz uma permanente atitude de consciência liberal, de modo que toda vez que se tome indispensável a intederência do Estado para coibir abusos, preencher lacunas ou preservar o sistema contra seus inimigos, a ação se faça em caráter transitório e o estritamente indispensável para corrigir as eventuais falhas, não deixando portanto quaisquer tipos de cicatrizes sociais, econômicas, financeiras ou políticas. 1 .8 Finalmente, como o mundo hodierno cada vez mais atua interligado, sendo impossível programar um país sem ter em conta as influências aliení genas, toma-se indispensável um melhor funcionamento do conceito universal, para que seria interessante a aprovação, pela Organização das Nações Unidas (ONU), de uma "declaração universal dos direitos das nações", como a que propusemos na Revista de Ciência Política da Fundação Getulio Vargas (v. 28(2):2-12). 2. Diretrizes gerais 2.1 Finalidade: enfoque do capitalismo à luz das exigências sociais do mun do atual. 2.2 Objetivos 2.2. 1 Tomar efetiva a aplicação dos princípios consignados na "declaração universal dos direitos do homem", aprovada pela ONU. 2.2.2 Acelerar as providências básicas de bem-estar social, cujo advento natural, através do desenvolvimento econômico e conseqüente redistribuição de renda, seria suscetível de retardo inaceitável. 2.2.3 Propugnar pela elaboração e aprovação pela ONU, da "declaração universal dos direitos das nações", batalhando por sua efetiva implantação. 2.2.4 Trabalhar para a criação de mecanismos de cooperação internacional e para a aceleração do respectivo uso, de forma que seja apressada a saída das nações do estágio de subdesenvolvimento. 2 . 3 Procedimentos 2.3.1 Mudanças adequadas e objetivas de ordem legal, regulamentar, in terpretativa e de atitudes, na orientação dos setores que influam fundamental mente na vida interna das nações. 2 . 3 . 2 Inovações criativas nos organismos, sistemas e métodos de ação in ternacionais que atuem basicamente nas relações cooperadoras e assistenciais entre as nações. S6cio-capitalismo 3 3. Diretrizes quanto a direitos e garantias individuais 3. 1 Finalidade: valorização e proteção da pessoa humana. 3.2 Objetivos 3 .2 . 1 Igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (sexo, raça, situação social, religião, convicçõespolíticas etc.). 3.2.2 Inviolabilidade dos direitos humanos, enumerados na respectiva "de claração universal" aprovada pela ONU e que faz parte integrante dos princípios do capitalismo sociatizado. 3.2.3 Liberdade plena de consciência. 3 .2.4 Liberdade ampla de ação (incluindo liberdade de comunicação, infor mação, expressão, demonstração pública, associação e movimentação), apenas limitada pelas disposições legais, que, por sua vez, só devem cerceá-la em defesa da honra, integridade e instituições do País e do patrimônio, direitos e segurança da coletividade. 3 .3 Procedimentos 3.3.1 Na esfera do Executivo, redução dos controles estatais ao mInlmO in dispensável, desburocratização e criação, nos setores-chaves, do ombudsman ou auditor administrativo, elo entre o povo e a administração pública. Nos órgãos colegiados de ação planejadora e normativa, representação dos utentes dos ser viços, pessoas físicas ou jurídicas; nos de ação judicativa, representação das partes envolvidas e utentes dos serviços. 3.3.2 Na esfera do Judiciário, simplificação e aceleração processuais, con vindo também criar-se o auditor administrativo junto aos corregedores. 3.3.3 Na esfera do Legislativo, reformulação partidária, do sistema eleitoral e da organização das casas do Congresso. 3.3.4 Em todas as esferas, exigências quanto à moralidade e à capacidade dos integrantes, responsabilização por corrupção, erros clamorosos e protelações demasiadas. 4. Diretrizes quanto à ordem social 4. 1 Finalidades 4. 1. 1 Justiça social. 4. 1 .2 Associada à ordem econômica, bem~star social. 4 R.C.P. 1/86 4.2 Objetivos 4.2. 1 Equiparação, equilíbrio e harmonia entre as categorias sociais. 4.2.2 Atendimento aos direitos humanos, no que se refere ao campo social. 4.2.3 Satisfação das necessidades fundamentais da pessoa humana (alimen tação, vestuário, higiene, assistência médica, educação, emprego, previdência, transporte, segurança, lazer etc. 4.2.4 Inclusão, na previdência, do amparo social nos casos de doença, ve lhice, invalidez, morte, acidentes do trabalho, desemprego, maternidade e pri meira infância, as duas últimas com uma ênfase que não têm tido e que é de suma importância para a higidez das futuras gerações. 4. 2 . 5 Atendimento aos direitos humanos, no que se refere ao campo social, enquanto este existir, nos casos que lhe sejam aplicáveis dentre os da previdên cia social, ou seja, os de doença, velhice, invalidez, maternidade e primeira in fância. 4.2.6 Conceituação do trabalho como um direito que deve ser assegurado e uma obrigação que deve ser cumprida, procurando-se garantir condições de higiene, segurança, exercício e remuneração adequadas, bem como, particular mente nos serviços públicos, a contrapartida de uma prestação efetiva. 4.2 . 7 Racionalização salarial, com o salário econômico acrescido do salário social, o primeiro pago em espécie, função de qualificações, produtividade, mer cado de trabalho etc., respeitados o salário mínimo geral de garantia da sobre vivência e os eventuais salários mínimos profissionais, bem como o tempo de serviço; ao passo que o segundo seria suprido em utilidades e benefícios, pro curando cobrir os encargos de família e as vicissitudes da vida. As empresas que complementassem a racionalização salarial com uma participação generali zada nos lucros estariam isentas do recolhimento do Programa de Integração Social (Pis). 4.2.8 Materialização da responsabilidade social da empresa, através da pu blicação de seu balanço social, obrigatória para as companhias abertas e para quaisquer sociedades que excedam pelo menos um dos limites fixados quanto ao número de empregados, ao faturamento e ad resultado percentual do exercício. 4. 3 Procedimentos 4.3. 1 No que diz respeito aos itens 4.2. 1 e 4.2.2, ação eminentemente moderadora e só eventualmente interventora do Executivo e do Judiciário, par ticularmente da Justiça do Trabalho. 4.3.2 No que tange aos itens 4.2.3 e 4.2.4, atuação dos órgãos governa mentais propiciadores das facilidades para a satisfação das referidas necessidades Sócio-capitalismo 5 fundamentais, recolhendo, para isso, recursos dos contribuintes; todavia, sempre que as atividades privadas estejam individualmente aparelhadas para atender a essa satisfação, diretamente ou através de contratos com terceiros, a atuação será a elas transferida, descontando-se a parte correspondente, até determinado limite, de seus recolhimentos para esses fins. 4.3.3 No que concerne aos itens 4.2.6 a 4.2.8, expedição de regulamen tações adequadas. 4.3.4 Por outro lado, alguns elementos assistenciais serão obrigatórios, a partir de determinado número de empregados, que poderá variar para cada um, podendo-se citar, além da Comissão de Prevenção de Acidentes já prevista, a creche, o posto médico de emergência e o ombudsman interno. 5. Diretrizes quanto à ordem econômica 5. 1 Desenvolvimento econômico, para fortalecimento da pOSlçao do País no conceito internacional, bem como para propiciar uma distribuição de renda socialmente adequada e facultar o atendimento às crescentes necessidades de emprego, com reflexos favoráveis ao bem-estar social. 5 . 1 .2 Manutenção da estabilidade interna da moeda. 5. 1 .3 Preservação do equilíbrio do balanço de pagamentos, com eventuais saldos positivos, procurando que o saldo na balança comercial ultrapasse os déficits do balanço de serviços e do balanço de capitais, de forma a acumular gradativamente reservas de dívidas. 5.2 Objetivos 5 .2. 1 Garantia de funcionamento do sistema de livre iniciativa e economia de mercado, com redução ao mínimo indispensável dos controles estatais. 5.2.2 Atendimento à função social da propriedade e das empresas, sem pre juízo de suas finalidades fundamentais. 5.2.3 Valorização do trabalho, como condição da dignidade humana e fator básico de produção. 5.2.4 Manutenção da harmoniá e equilíbrio, em seu campo, entre as cate gorias sociais, os setores econômicos e as regiões integrantes do País. 5.2.5 Limitação, no interesse do País e da coletividade, da ação do poder econômico e do poder de greve, legítimas manifestações do capital e do traba lho, respectivamente, mas cujos abusos prejudiciais à coletividade devem ser reprimidos. 6 R.C.P. 1/86 5.2.6 Condenação à participação e~tatal no campo econômico, salvo por mo tivos de segurança nacional ou por omissões ou falhas da livre iniciativa, quando flagrantemente nocivas ao País e à coletividade, casos em que aquela deverá ocorrer sempre em caráter supletivo e transitório, cessando tão logo deixem de existir as causas que a acarretaram e ficando sujeita, enquanto perdurar, aos mesmos encargos e controles que as empresas privadas. 5.2.7 Adoção de um sistema tributário cuja arrecadação recaia principal mente em impostos diretos e cuja distribuição seja compatível com as respon sabilidades da União, dos estados e municípios, respeitados os limites de carga tributária aconselháveis em função do Produto Interno Bruto (Pib). 5 . 2 . 8 Coordenação adequada às políticas fiscal, creditícia e cambial. 5.2.9 Vedação ao emprego de tarifas demagógicas, preços subsidiados, in centivos tributários e creditícios, controles de preços, interferências artificiais do Estado no campo econômico e outras formas de criar distorções na economia de efeitos incontroláveis. Salvo em períodos críticos e a curto prazo, ou quando necessários à expansão das exportações e sua aplicação não crie distorções no mercado interno. 5.3 Procedimentos 5.3. 1 Revisão legislativa, de modo a, de um lado, entregar a responsabili dade do desenvolvimento econômico à iniciativa privada, de acordo com as diretrizes dos itens 5.2. 1 e 5.2.6, desestatizando progressivamente o que a estas contrariar e dificultando a criação de empresas estatais e de economia mista fora de seu campo natural, e, de outro lado, reduzindo a um mínimo os controles estatais, abolindo os controlesde preços e as interferências artificiais no campo econômico. 5 . 3 .2 Formular a legislação tributária e sua regulamentação de conformi dade com o item 5.2.7, deixando a necessária flexibilidade para conjugar a política fiscal com as políticas creditícia e cambial. 5.3.3 Eliminar o que existir de tarifas demagógicas, preços subsidiados, in centivos tributários e creditícios, acabando as conseqüentes distorções. 6. Diretrizes quanto à ordem administrativa 6.1 Finalidade: racionalizar a administração pública, nos três Poderes, que deve ser reduzida a um corpo mínimo, racionalizado estrutural e funcional mente. 6.2 Objetivos 6.2. 1 Aumentar a eficiência e reduzir os custos da administração pública, mediante racionalização, computadorização e, de um modo geral, permanente atualização de métodos. Sócio-capitalismo 7 6.2.2 Adotar normas uniformes para os três Poderes, aprovadas por todos. 6.2.3 Substituir o atual Tribunal de Contas, que é um controle apenas formal e somente do Executivo, por um Tribunal de Contas novo, que faça o controle efetivo dos três Poderes. 6.2.4 Funcionar com a colaboração planejadora, normativa e judicativa dos contribuintes que utilizam os serviços públicos ou cuja atividade ou bem-estar deles depende. 6.2.5 Acolher as queixas dos utentes dos serviços públicos ou, de modo geral, os reclamos dos contribuintes, verificando sua procedência, dando-Ihes satisfação e introduzindo os aperfeiçoamentos necessários. 6 . 3 Procedimentos 6 . 3 . 1 Ressurgir o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), como Ministério da Administração, com as atribuições que possuía ao tempo do Estado Novo, estendidas aos três Poderes, embora em relação ao Legislativo c ao Judiciário seja apenas consultivo, mas de ingerência obrigatória. 6.3.2 Organizar o Tribunal de Contas com três Câmaras, cada uma contro lando um dos Poderes e com os respectivos membros indicados paritariamente pelos dois Poderes por ela não controlados. 6.3.3 Estruturar os órgãos de deliberação coletiva de caráter planejador e normativo com a participação de utentes ou dependentes dos serviços, prefe rentemente através de representação classista. 6.3.4 Organizar os órgãos de deliberação coletiva de natureza judicativa, com a participação de especialistas governamentais e representantes das partes interessadas, preferentemente com indicações classistas. 6. 3 . 5 Estabelecer a ligação entre os contribuintes que tenham queixas e reivindicações relativamente aos serviços públicos, através de ombudsman ou auditor administrativo. 6.3.6 Adotar o sistema de mérito no serviço público, sem subterfúgios para atender a pressões políticas, fazendo concurso no ingresso e comprovação de eficiência nos acessos verticais; esta conjugada à antigüidade nos acessos hori zontais e não deixando que, nos cargos em comissão, a influência política pre domine sobre as exigências técnico-administrativas. 7. Diretrizes quanto à ordem política 7. 1 Finalidade: funcionamento adequado e eficiente do sistema político, real- mente direcionado em benefício do País. . 8 R.C.P. 1/86 7 . 2 Objetivos 7 .2. 1 Organização dos partidos com fundamento filosófico e programa dele derivado coerentemente. 7.2.2 Elevação do padrão ético, cívico e intelectual dos políticos brasileiros, bem como a paralela familiarização destes com os problemas brasileiros, de ordem nacional, regional e local. 7.2.3 Atuação consciente, fundamentada e ágil das casas legislativas em todos os seus níveis, federal, estaduais e municipais. 7 . 3 Procedimentos 7 . 3 . 1 Regulamentação adequada da organização partidária e verificação efetiva de seu cumprimento pela Justiça Eleitoral. 7 . 3 . 2 Estabelecimento de exigências mínimas para os candidatos a cargos ele tivos, crescentes com o nível hierárquico. 7.3.3 Criação, junto ao Congresso federal, de uma escola do tipo Escola Superior de Guerra (ESG), mais apropriada a aprimorar a formação cultural dos responsáveis pela estrutura constitucional e legal do País e que, freqüente mente, estarão atuando em comandos do Executivo. 7.3.4 Reformulação estrutural e funcional do Congresso Nacional e fixação constitucional de diretrizes orientadoras da organização dos Congressos esta duais e das Câmaras municipais. 7.3.5 Controle dos eventuais exageros do Congresso Nacional pela Câmara específica do Tribunal de Contas e pelos pareceres obrigatórios, embora mera mente consultivos, emitidos pelo Ministério da Administração, bem como estímu los a que o modelo seja seguido nos níveis estadual e municipal. 8. Conclusões 8. 1 Disposições constitucionais 8. 1 . 1 No que interessa à nossa finalidade, seriam de dois tipos, umas para efetivamente dar um cunho sociatizado ao capitalismo, outras para que a de mocracia em que este último traduz-se tenha melhor funcionamento, auxilian do as primeiras a aumentar a área do povo satisfeita com as inovações e re duzindo a possibilidade de repercussões favoráveis aos cantos de sereia socia listas. 8. 1 .2 Entre as do primeiro tipo, ter-se-iam as que definam, de um modo geral, os objetivos quanto a direitos e garantias individuais, à ordem social e; em parte, à ordem econômica. S6cio-capitalismo 9 8.1.3 Entre os do segundo grupo, enquadrar-se-iam as que caracterizem, genericamente, os objetivos de ordem política e administrativa e, em parte, os de ordem econômica. 8. 1 .4 Complementarmente, para reforçar o sistema imunológico da demo cracia capitalista, tendo em vista que haveria um período germinativo até que se obtivessem resultados palpáveis da sociatização, conviria incluir entre as possibilidades de decretação do estado de emergência, fora do caso de guerra, a de preservação do regime, mesmo que ainda não esteja perfeitamente carac terizada a subversão. Todavia, mister se faria que a decisão sobre o estado de emergência não ficasse dependendo exclusivamente do presidente da República, mas tivesse um procedimento semelhante ao atual dos decretos-leis. 8. 1 .5 B verdade que não bastaria que os princípios do capitalismo socia tizado constassem da Constituição para que fossem cumpridos: a atual Carta Magna brasileira consagra os princípios da livre iniciativa e a participação esta tal restrita aos casos de segurança nacional e de impossibilidade de participa ção da iniciativa privada; no entanto, nunca se estatizou tanto em nosso País, com flagrante desrespeito aos preceitos constitucionais. 8. 1 .6 Assim, deveria haver completa fiscalização ao Executivo neste parti cular e uma das formas para realizar isto seria pelo retorno ao controle que havia ao tempo do então chamado Estado Novo: somente era possível criar empresa estatal mediante lei específica, mesmo as que fossem subsidiárias de outras já autorizadas legalmente. As empresas de economia mista federais, de situação econômico-financeira saudável que até hoje existem são as que provêm daquele tempo bem mais criterioso quanto a este aspecto. B indispensável, pois, voltar a essa prática salutar. 8 . 2 Disposições legais 8.2.1 Em geral, seriam os desdobramentos das disposições constitucionais, direcionadas segundo as indicações que, no que precede, foram transcritas como procedimentos. 8.2.2 Em particular, por determinação legal, haveria muito maior partici pação dos contribuintes, seja direta, principalmente a dos utentes dos serviços e benefícios das atividades, seja indireta, através do recebimento de reclama ções pelos ombudsmen ou auditores administrativos. 8.2.3 Dessa forma, cresceria a fiscalização do contribuinte sobre o retorno que recebe da aplicação de seus recursos. Instituições como as de previdência social, as do plano habitacional, as de assistência governamental, os serviços públicos diretamente prestados ou entregues a concessionários, entre outros, funcionariam mais eficiente e economicamente. 8. 3 Síntese conclusiva 8.3. 1 Com o esquema proposto, a livre iniciativa e a economiade mercado teriam melhores condições de conduzir ao progresso econômico e ao bem-estar social. 10 R.C.P. 1/86 8.3.2 Os órgãos governamentais dos três Poderes reduzidos a um mIDlIDO, com controles próprios e dos contribuintes, além das sinalizações de falhas através dos auditores administrativos, serviriam melhor ao povo. 8.3 . 3 O que é mais importante, os direitos individuais estariam mais garan tidos e os benefícios sociais teriam efeitos mais amplos. 8.3.4 Foi o que se procurou sintetizar na locução "capitalismo sociatizado" ou sócio-capitalismo. 8.3.5 E possível que, neste primeiro artigo, não tenha sido impresso ao capitalismo todo o cunho social pretendido; todavia, aceita a idéia, provavel mente muitos aperfeiçoadores irão aprimorá-la, enquadrando o regime no espí rito do mundo moderno e deixando-o sem competidores na área socialista. S6cio-capitalismo -.... 11
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