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Sócio-capitalismo ou capitalismo socializado

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SÚCIO-CAPITALISMO OU CAPITALISMO SOCIATIZADO 
Introdução 
JORGE ~CAR DE ~ELDO FLÔRES· 
BIBLIOTECA 
FUNDACAo GI!TUllO VAIfGAS 
Introdução; 1. Princípios; 2. Diretrizes gerais; J: .... ~Urrr-II-------_....I 
retrizes quanto a direitos e garantias individuais; 4. Dire-
trizes quanto à ordem social; 5. Diretrizes quanto à or-
dem econômica; 6. Diretrizes quanto à ordem admi-
nistrativa; 7. Diretrizes quanto à ordem política. 8. 
Conclusões. 
o regime capitalista, de livre iniciativa e economia de mercado, que propi­
ciou o progresso, a riqueza e o bem-estar das democracias ocidentais, precisa 
de um ajustamento à realidade contemporânea, que não apenas o compatibi­
lize com a consciência atual do mundo livre, de colocar a pessoa humana 
como prioridade máxima nas finalidades do Estado, mas também enseje aos 
países do denominado Terceiro Mundo e, em particular, aos já em desenvol­
vimento, usufruírem os benefícios desse regime, escapando ao engodo das 
utopias socialistas. 
Nesse sentido, será preciso, sem que se esqueçam os princípios mestres do 
capitalismo, dar ênfase aos aspectos sociais, aos direitos humanos e ao inte­
resse coletivo. Tal atitude foi resumida no atributo "sociatizado" acrescido 
à denominação do regime, palavra na qual o uso da letra t, em vez do habi­
tual I, vem mostrar que há uma ação adaptadora e não uma transformação 
do sistema, evitando o emprego da denominação já consagrada para o regime 
cujos defeitos são sobejamente conhecidos, embora muitos inocentes úteis 
mal-avisados julguem que o mundo caminha inexoravelmente para ele. 
A fim de fazer um ensaio para a efetivação do objetivo colimado, esboça­
remos, no item seguinte, alguns princípios orientadores e, daí por diante, 
alinharemos as diretrizes gerais e setoriais para a concretização do que desig­
namos por "capitalismo sociatizado". 
Terminando, sugeriremos quais dessas diretrizes devam constar de um texto 
constitucional, e quais, da legislação ordinária. 
L Princípios 
1 . 1 A Nação, asseguradas sua honra, integridade e instituições, deve 
colocar como objetivo máximo a valorização do homem e a preservação de 
seus direitos. 
• Vice-presidente do Conselho Diretor da Fundação Getulio Vargas. 
R. C. pol., Rio de Janeiro, 29(1):1-11, jan./mar. 1986 
.-------------------------------------------------------~---------
1 .2 Para atingir esse objetivo e, em consequencia, alcançar o bem-estar 
social no País, torna-se necessário um desenvolvimento econômico condizente, 
apoiado em uma estabilidade financeira adequada, por sua vez garantida por 
uma tranqüilidade política, cujas eventuais comoções não transcendam às natu­
rais e salutares controvérsias do regime democrático. 
1.3 No mundo moderno, são de grande proporção e complexidade as inter­
relações entre os fenômenos sociais, econômicos, financeiros e políticos, o que 
acarreta uma estreita correlação entre as intervenções governamentais nesses 
campos. Assim, a posse quase integral pelo Estado da propriedade territorial 
e das instalações de produção e circulação de bens e de prestação de serviços, 
tornam praticamente toda a população dependente do Poder Governamental, 
seja diretamente, como empregado, seja indiretamente, como consumidor ou 
utente; 'sua capacidade de reagir torna-se assim muito tênue e desvanescente, 
o que enseja a expansão cada vez maior do Comando Central, que passa a ter 
o domínio social e o monopólio político, através de um partido único, que é muito 
menos uma agremiação política do que uma classe privilegiada em uma Nação 
teoricamente sem classes. Esse raciocínio lógico e sua comprovação insofis­
mável na "cortina de ferro" evidenciam que o socialismo e a ditadura1 são 
irmãos siameses, o que deixa como única alternativa o Estado democrático 
baseado na livre iniciativa e na economia de mercado. 
1 .4 Os chamados países ricos do mundo ocidental, cujo padrão médio de 
vida, inclusive no proletariado, é muito superior aos da área socialista, são 
os que puderam transpor naturalmente, salvo eventuais períodos de crise, as 
etapas de tranqüilidade política, estabilidade financeira, desenvolvimento eco­
nômico e bem-estar social. Todavia, os atuais países em desenvolvimento, na 
era da informação e da agitação ideológica, têm sua marcha normal perturbada 
pelos que desejam ter rapidamente o que sabem outros povos já possuírem 
e pelos que lhes acenam com as falácias socialistas. 
1.5 A fim de minimizar essas perturbações, conviria abreviar etapas para 
atingir mais prontamente o bem-estar social desejado, embora isso obrigasse a 
enfrentar um sacrifício, que se procuraria dosar pelo cotejo constante da relação 
custo ( econômico-financeiro) /benefício (s6cio-político). 
1 .6 Paralelamente, cumpre considerar que o organismo do Estado, que 
encontra inúmeras analogias no organismo humano, deve também possuir um 
sistema imunológico, que não precisa ser permanente e violento como os dos 
regimes socialistas, mas deve ser o suficiente para agir temporária e efi~iente­
mente, defendendo as democracias ainda não consolidadas por um padrão médio 
de vida elevado, contra a ação deletéria dos germes esquerdizantes, que, se 
bem-sucedidos, conduziriam os países à antidemocracia. 
1 Não confundir um regime socialista realmente implantado, com a ascensão ocasional 
ao poder de um partido socialista, em uma democracia parlamentar, na qual esse partido 
é afastado através do voto, quando acarreta os primeiros prejuízos de monta ao País. 
2 R.C.P. 1186 
1.7 Por outro lado, para a manutenção do verdadeiro regime democrático, 
calcado no respeito aos direitos humanos, na livre iniciativa e na economia 
de mercado, mister se faz uma permanente atitude de consciência liberal, de 
modo que toda vez que se tome indispensável a intederência do Estado para 
coibir abusos, preencher lacunas ou preservar o sistema contra seus inimigos, 
a ação se faça em caráter transitório e o estritamente indispensável para corrigir 
as eventuais falhas, não deixando portanto quaisquer tipos de cicatrizes sociais, 
econômicas, financeiras ou políticas. 
1 .8 Finalmente, como o mundo hodierno cada vez mais atua interligado, 
sendo impossível programar um país sem ter em conta as influências aliení­
genas, toma-se indispensável um melhor funcionamento do conceito universal, 
para que seria interessante a aprovação, pela Organização das Nações Unidas 
(ONU), de uma "declaração universal dos direitos das nações", como a que 
propusemos na Revista de Ciência Política da Fundação Getulio Vargas 
(v. 28(2):2-12). 
2. Diretrizes gerais 
2.1 Finalidade: enfoque do capitalismo à luz das exigências sociais do mun­
do atual. 
2.2 Objetivos 
2.2. 1 Tomar efetiva a aplicação dos princípios consignados na "declaração 
universal dos direitos do homem", aprovada pela ONU. 
2.2.2 Acelerar as providências básicas de bem-estar social, cujo advento 
natural, através do desenvolvimento econômico e conseqüente redistribuição de 
renda, seria suscetível de retardo inaceitável. 
2.2.3 Propugnar pela elaboração e aprovação pela ONU, da "declaração 
universal dos direitos das nações", batalhando por sua efetiva implantação. 
2.2.4 Trabalhar para a criação de mecanismos de cooperação internacional 
e para a aceleração do respectivo uso, de forma que seja apressada a saída das 
nações do estágio de subdesenvolvimento. 
2 . 3 Procedimentos 
2.3.1 Mudanças adequadas e objetivas de ordem legal, regulamentar, in­
terpretativa e de atitudes, na orientação dos setores que influam fundamental­
mente na vida interna das nações. 
2 . 3 . 2 Inovações criativas nos organismos, sistemas e métodos de ação in­
ternacionais que atuem basicamente nas relações cooperadoras e assistenciais 
entre as nações. 
S6cio-capitalismo 3 
3. Diretrizes quanto a direitos e garantias individuais 
3. 1 Finalidade: valorização e proteção da pessoa humana. 
3.2 Objetivos 
3 .2 . 1 Igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza 
(sexo, raça, situação social, religião, convicçõespolíticas etc.). 
3.2.2 Inviolabilidade dos direitos humanos, enumerados na respectiva "de­
claração universal" aprovada pela ONU e que faz parte integrante dos princípios 
do capitalismo sociatizado. 
3.2.3 Liberdade plena de consciência. 
3 .2.4 Liberdade ampla de ação (incluindo liberdade de comunicação, infor­
mação, expressão, demonstração pública, associação e movimentação), apenas 
limitada pelas disposições legais, que, por sua vez, só devem cerceá-la em 
defesa da honra, integridade e instituições do País e do patrimônio, direitos 
e segurança da coletividade. 
3 .3 Procedimentos 
3.3.1 Na esfera do Executivo, redução dos controles estatais ao mInlmO in­
dispensável, desburocratização e criação, nos setores-chaves, do ombudsman ou 
auditor administrativo, elo entre o povo e a administração pública. Nos órgãos 
colegiados de ação planejadora e normativa, representação dos utentes dos ser­
viços, pessoas físicas ou jurídicas; nos de ação judicativa, representação das 
partes envolvidas e utentes dos serviços. 
3.3.2 Na esfera do Judiciário, simplificação e aceleração processuais, con­
vindo também criar-se o auditor administrativo junto aos corregedores. 
3.3.3 Na esfera do Legislativo, reformulação partidária, do sistema eleitoral 
e da organização das casas do Congresso. 
3.3.4 Em todas as esferas, exigências quanto à moralidade e à capacidade 
dos integrantes, responsabilização por corrupção, erros clamorosos e protelações 
demasiadas. 
4. Diretrizes quanto à ordem social 
4. 1 Finalidades 
4. 1. 1 Justiça social. 
4. 1 .2 Associada à ordem econômica, bem~star social. 
4 R.C.P. 1/86 
4.2 Objetivos 
4.2. 1 Equiparação, equilíbrio e harmonia entre as categorias sociais. 
4.2.2 Atendimento aos direitos humanos, no que se refere ao campo social. 
4.2.3 Satisfação das necessidades fundamentais da pessoa humana (alimen­
tação, vestuário, higiene, assistência médica, educação, emprego, previdência, 
transporte, segurança, lazer etc. 
4.2.4 Inclusão, na previdência, do amparo social nos casos de doença, ve­
lhice, invalidez, morte, acidentes do trabalho, desemprego, maternidade e pri­
meira infância, as duas últimas com uma ênfase que não têm tido e que é de 
suma importância para a higidez das futuras gerações. 
4. 2 . 5 Atendimento aos direitos humanos, no que se refere ao campo social, 
enquanto este existir, nos casos que lhe sejam aplicáveis dentre os da previdên­
cia social, ou seja, os de doença, velhice, invalidez, maternidade e primeira in­
fância. 
4.2.6 Conceituação do trabalho como um direito que deve ser assegurado 
e uma obrigação que deve ser cumprida, procurando-se garantir condições de 
higiene, segurança, exercício e remuneração adequadas, bem como, particular­
mente nos serviços públicos, a contrapartida de uma prestação efetiva. 
4.2 . 7 Racionalização salarial, com o salário econômico acrescido do salário 
social, o primeiro pago em espécie, função de qualificações, produtividade, mer­
cado de trabalho etc., respeitados o salário mínimo geral de garantia da sobre­
vivência e os eventuais salários mínimos profissionais, bem como o tempo de 
serviço; ao passo que o segundo seria suprido em utilidades e benefícios, pro­
curando cobrir os encargos de família e as vicissitudes da vida. As empresas 
que complementassem a racionalização salarial com uma participação generali­
zada nos lucros estariam isentas do recolhimento do Programa de Integração 
Social (Pis). 
4.2.8 Materialização da responsabilidade social da empresa, através da pu­
blicação de seu balanço social, obrigatória para as companhias abertas e para 
quaisquer sociedades que excedam pelo menos um dos limites fixados quanto 
ao número de empregados, ao faturamento e ad resultado percentual do exercício. 
4. 3 Procedimentos 
4.3. 1 No que diz respeito aos itens 4.2. 1 e 4.2.2, ação eminentemente 
moderadora e só eventualmente interventora do Executivo e do Judiciário, par­
ticularmente da Justiça do Trabalho. 
4.3.2 No que tange aos itens 4.2.3 e 4.2.4, atuação dos órgãos governa­
mentais propiciadores das facilidades para a satisfação das referidas necessidades 
Sócio-capitalismo 5 
fundamentais, recolhendo, para isso, recursos dos contribuintes; todavia, sempre 
que as atividades privadas estejam individualmente aparelhadas para atender 
a essa satisfação, diretamente ou através de contratos com terceiros, a atuação 
será a elas transferida, descontando-se a parte correspondente, até determinado 
limite, de seus recolhimentos para esses fins. 
4.3.3 No que concerne aos itens 4.2.6 a 4.2.8, expedição de regulamen­
tações adequadas. 
4.3.4 Por outro lado, alguns elementos assistenciais serão obrigatórios, a 
partir de determinado número de empregados, que poderá variar para cada um, 
podendo-se citar, além da Comissão de Prevenção de Acidentes já prevista, 
a creche, o posto médico de emergência e o ombudsman interno. 
5. Diretrizes quanto à ordem econômica 
5. 1 Desenvolvimento econômico, para fortalecimento da pOSlçao do País 
no conceito internacional, bem como para propiciar uma distribuição de renda 
socialmente adequada e facultar o atendimento às crescentes necessidades de 
emprego, com reflexos favoráveis ao bem-estar social. 
5 . 1 .2 Manutenção da estabilidade interna da moeda. 
5. 1 .3 Preservação do equilíbrio do balanço de pagamentos, com eventuais 
saldos positivos, procurando que o saldo na balança comercial ultrapasse os 
déficits do balanço de serviços e do balanço de capitais, de forma a acumular 
gradativamente reservas de dívidas. 
5.2 Objetivos 
5 .2. 1 Garantia de funcionamento do sistema de livre iniciativa e economia 
de mercado, com redução ao mínimo indispensável dos controles estatais. 
5.2.2 Atendimento à função social da propriedade e das empresas, sem pre­
juízo de suas finalidades fundamentais. 
5.2.3 Valorização do trabalho, como condição da dignidade humana e fator 
básico de produção. 
5.2.4 Manutenção da harmoniá e equilíbrio, em seu campo, entre as cate­
gorias sociais, os setores econômicos e as regiões integrantes do País. 
5.2.5 Limitação, no interesse do País e da coletividade, da ação do poder 
econômico e do poder de greve, legítimas manifestações do capital e do traba­
lho, respectivamente, mas cujos abusos prejudiciais à coletividade devem ser 
reprimidos. 
6 R.C.P. 1/86 
5.2.6 Condenação à participação e~tatal no campo econômico, salvo por mo­
tivos de segurança nacional ou por omissões ou falhas da livre iniciativa, quando 
flagrantemente nocivas ao País e à coletividade, casos em que aquela deverá 
ocorrer sempre em caráter supletivo e transitório, cessando tão logo deixem de 
existir as causas que a acarretaram e ficando sujeita, enquanto perdurar, aos 
mesmos encargos e controles que as empresas privadas. 
5.2.7 Adoção de um sistema tributário cuja arrecadação recaia principal­
mente em impostos diretos e cuja distribuição seja compatível com as respon­
sabilidades da União, dos estados e municípios, respeitados os limites de carga 
tributária aconselháveis em função do Produto Interno Bruto (Pib). 
5 . 2 . 8 Coordenação adequada às políticas fiscal, creditícia e cambial. 
5.2.9 Vedação ao emprego de tarifas demagógicas, preços subsidiados, in­
centivos tributários e creditícios, controles de preços, interferências artificiais 
do Estado no campo econômico e outras formas de criar distorções na economia 
de efeitos incontroláveis. Salvo em períodos críticos e a curto prazo, ou quando 
necessários à expansão das exportações e sua aplicação não crie distorções no 
mercado interno. 
5.3 Procedimentos 
5.3. 1 Revisão legislativa, de modo a, de um lado, entregar a responsabili­
dade do desenvolvimento econômico à iniciativa privada, de acordo com as 
diretrizes dos itens 5.2. 1 e 5.2.6, desestatizando progressivamente o que a 
estas contrariar e dificultando a criação de empresas estatais e de economia 
mista fora de seu campo natural, e, de outro lado, reduzindo a um mínimo os 
controles estatais, abolindo os controlesde preços e as interferências artificiais 
no campo econômico. 
5 . 3 .2 Formular a legislação tributária e sua regulamentação de conformi­
dade com o item 5.2.7, deixando a necessária flexibilidade para conjugar a 
política fiscal com as políticas creditícia e cambial. 
5.3.3 Eliminar o que existir de tarifas demagógicas, preços subsidiados, in­
centivos tributários e creditícios, acabando as conseqüentes distorções. 
6. Diretrizes quanto à ordem administrativa 
6.1 Finalidade: racionalizar a administração pública, nos três Poderes, que 
deve ser reduzida a um corpo mínimo, racionalizado estrutural e funcional­
mente. 
6.2 Objetivos 
6.2. 1 Aumentar a eficiência e reduzir os custos da administração pública, 
mediante racionalização, computadorização e, de um modo geral, permanente 
atualização de métodos. 
Sócio-capitalismo 7 
6.2.2 Adotar normas uniformes para os três Poderes, aprovadas por todos. 
6.2.3 Substituir o atual Tribunal de Contas, que é um controle apenas 
formal e somente do Executivo, por um Tribunal de Contas novo, que faça o 
controle efetivo dos três Poderes. 
6.2.4 Funcionar com a colaboração planejadora, normativa e judicativa dos 
contribuintes que utilizam os serviços públicos ou cuja atividade ou bem-estar 
deles depende. 
6.2.5 Acolher as queixas dos utentes dos serviços públicos ou, de modo 
geral, os reclamos dos contribuintes, verificando sua procedência, dando-Ihes 
satisfação e introduzindo os aperfeiçoamentos necessários. 
6 . 3 Procedimentos 
6 . 3 . 1 Ressurgir o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), 
como Ministério da Administração, com as atribuições que possuía ao tempo 
do Estado Novo, estendidas aos três Poderes, embora em relação ao Legislativo 
c ao Judiciário seja apenas consultivo, mas de ingerência obrigatória. 
6.3.2 Organizar o Tribunal de Contas com três Câmaras, cada uma contro­
lando um dos Poderes e com os respectivos membros indicados paritariamente 
pelos dois Poderes por ela não controlados. 
6.3.3 Estruturar os órgãos de deliberação coletiva de caráter planejador e 
normativo com a participação de utentes ou dependentes dos serviços, prefe­
rentemente através de representação classista. 
6.3.4 Organizar os órgãos de deliberação coletiva de natureza judicativa, 
com a participação de especialistas governamentais e representantes das partes 
interessadas, preferentemente com indicações classistas. 
6. 3 . 5 Estabelecer a ligação entre os contribuintes que tenham queixas e 
reivindicações relativamente aos serviços públicos, através de ombudsman ou 
auditor administrativo. 
6.3.6 Adotar o sistema de mérito no serviço público, sem subterfúgios para 
atender a pressões políticas, fazendo concurso no ingresso e comprovação de 
eficiência nos acessos verticais; esta conjugada à antigüidade nos acessos hori­
zontais e não deixando que, nos cargos em comissão, a influência política pre­
domine sobre as exigências técnico-administrativas. 
7. Diretrizes quanto à ordem política 
7. 1 Finalidade: funcionamento adequado e eficiente do sistema político, real-
mente direcionado em benefício do País. . 
8 R.C.P. 1/86 
7 . 2 Objetivos 
7 .2. 1 Organização dos partidos com fundamento filosófico e programa dele 
derivado coerentemente. 
7.2.2 Elevação do padrão ético, cívico e intelectual dos políticos brasileiros, 
bem como a paralela familiarização destes com os problemas brasileiros, de 
ordem nacional, regional e local. 
7.2.3 Atuação consciente, fundamentada e ágil das casas legislativas em 
todos os seus níveis, federal, estaduais e municipais. 
7 . 3 Procedimentos 
7 . 3 . 1 Regulamentação adequada da organização partidária e verificação 
efetiva de seu cumprimento pela Justiça Eleitoral. 
7 . 3 . 2 Estabelecimento de exigências mínimas para os candidatos a cargos ele­
tivos, crescentes com o nível hierárquico. 
7.3.3 Criação, junto ao Congresso federal, de uma escola do tipo Escola 
Superior de Guerra (ESG), mais apropriada a aprimorar a formação cultural 
dos responsáveis pela estrutura constitucional e legal do País e que, freqüente­
mente, estarão atuando em comandos do Executivo. 
7.3.4 Reformulação estrutural e funcional do Congresso Nacional e fixação 
constitucional de diretrizes orientadoras da organização dos Congressos esta­
duais e das Câmaras municipais. 
7.3.5 Controle dos eventuais exageros do Congresso Nacional pela Câmara 
específica do Tribunal de Contas e pelos pareceres obrigatórios, embora mera­
mente consultivos, emitidos pelo Ministério da Administração, bem como estímu­
los a que o modelo seja seguido nos níveis estadual e municipal. 
8. Conclusões 
8. 1 Disposições constitucionais 
8. 1 . 1 No que interessa à nossa finalidade, seriam de dois tipos, umas para 
efetivamente dar um cunho sociatizado ao capitalismo, outras para que a de­
mocracia em que este último traduz-se tenha melhor funcionamento, auxilian­
do as primeiras a aumentar a área do povo satisfeita com as inovações e re­
duzindo a possibilidade de repercussões favoráveis aos cantos de sereia socia­
listas. 
8. 1 .2 Entre as do primeiro tipo, ter-se-iam as que definam, de um modo 
geral, os objetivos quanto a direitos e garantias individuais, à ordem social e; 
em parte, à ordem econômica. 
S6cio-capitalismo 9 
8.1.3 Entre os do segundo grupo, enquadrar-se-iam as que caracterizem, 
genericamente, os objetivos de ordem política e administrativa e, em parte, os 
de ordem econômica. 
8. 1 .4 Complementarmente, para reforçar o sistema imunológico da demo­
cracia capitalista, tendo em vista que haveria um período germinativo até que 
se obtivessem resultados palpáveis da sociatização, conviria incluir entre as 
possibilidades de decretação do estado de emergência, fora do caso de guerra, 
a de preservação do regime, mesmo que ainda não esteja perfeitamente carac­
terizada a subversão. Todavia, mister se faria que a decisão sobre o estado de 
emergência não ficasse dependendo exclusivamente do presidente da República, 
mas tivesse um procedimento semelhante ao atual dos decretos-leis. 
8. 1 .5 B verdade que não bastaria que os princípios do capitalismo socia­
tizado constassem da Constituição para que fossem cumpridos: a atual Carta 
Magna brasileira consagra os princípios da livre iniciativa e a participação esta­
tal restrita aos casos de segurança nacional e de impossibilidade de participa­
ção da iniciativa privada; no entanto, nunca se estatizou tanto em nosso País, 
com flagrante desrespeito aos preceitos constitucionais. 
8. 1 .6 Assim, deveria haver completa fiscalização ao Executivo neste parti­
cular e uma das formas para realizar isto seria pelo retorno ao controle que 
havia ao tempo do então chamado Estado Novo: somente era possível criar 
empresa estatal mediante lei específica, mesmo as que fossem subsidiárias de 
outras já autorizadas legalmente. As empresas de economia mista federais, de 
situação econômico-financeira saudável que até hoje existem são as que provêm 
daquele tempo bem mais criterioso quanto a este aspecto. B indispensável, pois, 
voltar a essa prática salutar. 
8 . 2 Disposições legais 
8.2.1 Em geral, seriam os desdobramentos das disposições constitucionais, 
direcionadas segundo as indicações que, no que precede, foram transcritas 
como procedimentos. 
8.2.2 Em particular, por determinação legal, haveria muito maior partici­
pação dos contribuintes, seja direta, principalmente a dos utentes dos serviços 
e benefícios das atividades, seja indireta, através do recebimento de reclama­
ções pelos ombudsmen ou auditores administrativos. 
8.2.3 Dessa forma, cresceria a fiscalização do contribuinte sobre o retorno 
que recebe da aplicação de seus recursos. Instituições como as de previdência 
social, as do plano habitacional, as de assistência governamental, os serviços 
públicos diretamente prestados ou entregues a concessionários, entre outros, 
funcionariam mais eficiente e economicamente. 
8. 3 Síntese conclusiva 
8.3. 1 Com o esquema proposto, a livre iniciativa e a economiade mercado 
teriam melhores condições de conduzir ao progresso econômico e ao bem-estar 
social. 
10 R.C.P. 1/86 
8.3.2 Os órgãos governamentais dos três Poderes reduzidos a um mIDlIDO, 
com controles próprios e dos contribuintes, além das sinalizações de falhas 
através dos auditores administrativos, serviriam melhor ao povo. 
8.3 . 3 O que é mais importante, os direitos individuais estariam mais garan­
tidos e os benefícios sociais teriam efeitos mais amplos. 
8.3.4 Foi o que se procurou sintetizar na locução "capitalismo sociatizado" 
ou sócio-capitalismo. 
8.3.5 E possível que, neste primeiro artigo, não tenha sido impresso ao 
capitalismo todo o cunho social pretendido; todavia, aceita a idéia, provavel­
mente muitos aperfeiçoadores irão aprimorá-la, enquadrando o regime no espí­
rito do mundo moderno e deixando-o sem competidores na área socialista. 
S6cio-capitalismo -.... 11

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