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1 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL ESTRUTURA E CLASSIFICAÇÃO DOS VÍRUS • Os vírus são parasitas obrigatoriamente intracelulares (acelulares). São desprovidos de parede e membrana celular, e não realizam processos metabólicos. Sua replicação depende diretamente do mecanismo metabólico do hospedeiro, e poucos fármacos são suficientemente seletivos para evitar a multiplicação viral sem lesar as células hospedeiras. • O tratamento das doenças virais é ainda mais complicado pelo fato de os sintomas clínicos aparecerem tardiamente no curso da doença, no momento em que a maioria das partículas virais já se multiplicou. Nessa etapa da infecção viral, a administração de fármacos que bloqueiam a replicação viral tem eficácia limitada. Ou seja, os fármacos são virustáticos (atuam apenas com o vírus em replicação, não afeta vírus latentes). • Alguns antivirais são úteis como agentes profiláticos. ANTIVIRAIS PARA INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS • As infecções respiratórias incluem: influenza (gripe) tipos A e B e o vírus sincicial respiratório (VSR). OBS: a imunização contra a gripe A é a abordagem preferencial, mas os antivirais são usados quando os pacientes são alérgicos à vacina ou quando ocorre surto. • Os vírus Influenza têm, em sua estrutura superficial, espículas constituídas por glicoproteínas com atividade de hemaglutinina e de neuraminidase (ou sialidase). A hemaglutinina promove a ligação do vírus a receptores contendo ácido siálico (ácido N-acetilneuramínico) presentes na superfície das células do trato respiratório. Essa proteína é o principal alvo dos anticorpos (e, portanto, das vacinas contra a gripe), mas é muito variável com as cepas do vírus. A neuraminidase rompe o ácido siálico. • Após a penetração dos vírus e sua replicação, as novas partículas virais resultantes da multiplicação nas células ficam recobertas de ácido siálico e, se assim permanecessem, a hemaglutinina faria com que aglutinassem na parede da célula e entre si. Se isso ocorresse, o vírus não poderia infectar novas células. Isso não acontece porque a neuraminidase rompe o ácido siálico, facilitando a liberação das novas partículas virais da célula do hospedeiro e impedindo a agregação dos vírus entre si. Além disso, a enzima evita a inativação do vírus pelo muco respiratório e facilita a disseminação do vírus pela árvore respiratória. • A neuraminidase é, portanto, fundamental para a sobrevivência e difusão dos vírus Influenza. • Ao contrário da hemaglutinina, a neuraminidase é bastante estável e conserva sua sequência de proteínas nas diferentes estirpes do vírus Influenza. Este fato tem importância porque possibilita que drogas que mimetizem o ácido siálico possam inibir competitivamente a neuraminidase de vários mutantes dos vírus Influenza A e B. Foi com base nessa observação que foram desenvolvidas substâncias análogas do ácido siálico que inibem a neuraminidase viral. Antivirais 2 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL INIBIDORES DA NEURAMINIDASE • Oseltamivir e zanamivir são eficazes contra Influenza A e B. Não interferem na resposta imune à vacina da gripe (não substituem). • Administrados antes da exposição, os inibidores de neuraminidase previnem a infecção e, se forem administrados 24 a 48h após o início dos sintomas, diminuem modestamente a intensidade e a duração dos sintomas. MECANISMO DE AÇÃO • O vírus da gripe emprega uma neuraminidase específica, que é inserida na membrana celular do hospedeiro para proporcionar a liberação de vírions recentemente formados. Essa enzima é essencial para o ciclo vital do vírus. • Eles irão inibir seletivamente a neuraminidase, prevenindo, assim, a liberação de novos vírions e sua disseminação de célula a célula. FARMACOCINÉTICA • Oseltamivir: pró-fármaco ativo por via oral (cápsulas ou suspensão oral), rapidamente biotransformado pelo fígado em sua forma ativa. • Zanamivir: não é tão ativo por via oral quanto é por inalação (pó). • Ambos são eliminados, inalterados, na urina. EFEITOS ADVERSOS • Oseltamivir: desconforto gastrointestinal e náuseas, que podem ser aliviadas pela ingestão do fármaco com alimento. • Zanamivir: irritação do trato respiratório (usar com cautela em asmáticos ou com DPOC, pois pode ocorrer broncoespasmo). RESISTÊNCIA Mutações da enzima neuraminidase em adultos tratados com ambos os inibidores. Esses mutantes, todavia, são frequentemente menos infectantes e virulentos do que o tipo selvagem. Se o paciente tem síndrome gripal e precisa internar no hospital, SEMPRE iniciar antibioticoterapia junto com Oseltamivir. 3 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL INIBIDORES DO DESNUDAMENTO VIRAL • Amantadina e Rimantadina (não disponível no Brasil). • O espectro terapêutico é limitado a infecções por influenza A. • Devido a resistência generalizada, os adamantanos não são recomendados para o tratamento ou a profilaxia da gripe A. MECANISMO DE AÇÃO Interferem na função da proteína viral M2, possivelmente bloqueando o descascamento da partícula viral e prevenindo a liberação do vírus no interior da célula infectada. FARMACOCINÉTICA • Ambos são bem absorvidos após a administração oral. • Amantadina: se distribui por todo o organismo e penetra facilmente no SNC. É excretada, primariamente inalterada, na urina (precisa diminuir a dosagem na disfunção renal). • Rimantadina: não atravessa a BHE na mesma extensão. É extensamente biotransformada pelo fígado, é eliminado pelos rins. EFEITOS ADVERSOS • Amantadina: efeitos adversos do SNC como insônia, tontura e ataxia. Mais gravemente, alucinações e convulsão (usar com cautela em pacientes psiquiátricos, aterosclerose cerebral, alterações renais ou epilepsia). • Rimantadina: poucas reações no SNC. • Ambos causam intolerância GI e devem ser usados com cautela em gestantes e lactantes. RESISTÊNCIA O vírus da gripe A pode desenvolver resistência rapidamente (em 50% dos pcts), e linhagens resistentes podem ser transmitidas facilmente para contatos próximos. Há resistência cruzada entre as duas drogas. RIBAVIRINA • É um análogo sintético da quanosina e eficaz contra um amplo espectro de vírus RNA e DNA. • Usada no tratamento de adolescentes e crianças imunodeprimidos, com infecções graves por VSR, também é eficaz contra a hepatite C crônica quando usada em combinação com α- interferona. MECANISMO DE AÇÃO Inibe a replicação dos vírus RNA e DNA. O fármaco é inicialmente fosforilado em derivados 5-fosfato. Seu principal componente é o trifosfato de ribavirina, que exerce sua ação antivirótica e inibe a formação de trifosfato de guanosina (GTP), evitando a cobertura do RNA mensageiro (RNAm) viral e bloqueando a RNA-polimerase dependente de RNA. FARMACOCINÉTICA • Eficaz por vias oral e inalatória. • Um aerossol é usado no tratamento da infecção por VSR. • A absorção é aumentada se for ingerida com alimento gorduroso. • O fármaco e seus metabólitos são eliminados na urina. EFEITOS ADVERSOS • Anemia temporária dose-dependente, elevação de bilirrubina foi relatada. • O aerossol pode ser mais seguro, embora a função respiratória da criança possa se deteriorar rapidamente após o inicio do tratamento. • É contraindicada durante a gestação. 4 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL ANTIVIRAIS PARA HERPESVIRUS • Os herpes vírus estão associados a um amplo espectro de doenças: aftas bucais, encefalite viral e infecções genitais. • Os fármacos exercem suas ações durante a fase aguda da infecção viral e não tem efeito durante a fase latente. 5 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT ALACICLOVIR • O aciclovir é um protótipo dos anti-herpéticos. • Sensíveis ao aciclovir: herpes-vírus simples (HVS) tipos 1 e 2 (HVS1 e HVS2), o vírus varicela- zóster (VVZ) e algumas infecções pelo Epstein-Barr. • Tratamento de escolha contra infecções por herpes genitais. • Usado profilaticamente em pacientes soropositivos antes de transplantes de medula óssea e após transplante cardíaco, para protegê-los de infecções herpéticas. MECANISMO DE AÇÃO O aciclovir (análogo da guanosina) é monofosforilado na célula por uma enzima codificada pelo herpes vírus, a timidinocinase. Dessa forma, células infectadas pelo vírus são mais suscetíveis. O análogo monofosfatado é convertido às formas di e trifosfato pelas cinases das células do hospedeiro. O trifosfato de aciclovir compete com o trifosfato de desoxiguanosina como substrato da DNA-polimerase viral e é incorporado ao DNA viral, causando finalização prematura da cadeia de DNA. FARMACOCINÉTICA • Administração pode ser via IV, oral ou tópica (esta, com eficácia duvidosa). • Distribui-se bem pelo organismo, incluindo o LCS. • Parcialmente biotransformado em um produto inativo. • Excreção na urina ocorre por filtração glomerular e secreção tubular. Se acumula em pacientes com insuficiência renal. EFEITOS ADVERSOS • Depende da via de administração. • Tópico: irritação local. • Oral: cefaleia, diarreia, náuseas e êmese. • Pode ocorrer disfunção renal transitória em casos de doses altas ou pacientes desidratados que recebem o fármaco por via IV. RESISTÊNCIA Alteração ou falta de timidinocinase e DNA-polimerase tem sido encontrada em algumas linhagens virais resistentes e são isoladas mais comumente em pacientes imunocomprometidos. Nesta família, ocorre resistência cruzada com outros fármacos. 6 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL VALACICLOVIR • Pró-droga do aciclovir. • Efeitos adversos: semelhantes ao aciclovir. • Farmacocinética: maior biodisponibilidade oral – comparável ao aciclovir IV. Esse éster é rapidamente hidrolisado a aciclovir e atinge os níveis comparáveis aos do aciclovir administrado por via IV. GANCICLOVIR • É um análogo do aciclovir com maior atividade contra o CMV. • É usado no tratamento de retinite por CMV, em pacientes imunocomprometidos, e na profilaxia do CMV, em pacientes transplantados. MECANISMO DE AÇÃO É ativado pela conversão em nucleotídeo trifosfato pelas enzimas virais e celulares. O nucleotídeo inibe a DNA-polimerase viral e pode ser incorporado ao DNA, resultando no término da cadeia. FARMACOCINÉTICA • Administração via IV e se distribui pelo organismo (incluindo LCS). • Excreção na urina. • Se acumula em pacientes com insuficiência renal. EFEITOS ADVERSOS • Grave neutropenia dose-dependente. • É carcinogênico, bem como embriotóxico e teratogênico em animais. RESISTÊNCIA Têm sido detectadas linhagens de CMV resistentes que apresentam níveis mais baixos de trifosfato de ganciclovir. VALGANCICLOVIR • Pró-droga do ganciclovir. • Uso terapêutico e efeitos adversos iguais ganciclovir. • Farmacocinética: o valganciclovir é um éster valílico do ganciclovir e tem uso oral. Como o valaciclovir, o valganciclovir tem elevada biodisponibilidade oral devido à rápida hidrólise no intestino e no fígado após a administração, determinando níveis elevados de ganciclovir. CIDOFOVIR • Tratamento da retinite por CVM, em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), HSV e ativo contra muitas cepas resistentes a aciclovir e gancioclovir. MECANISMO DE AÇÃO É um análogo nucleotídeo da citosina, cuja fosforilação não depende de enzimas virais ou celulares. Ele inibe a síntese de DNA viral. FARMACOCINÉTICA • A eliminação lenta do metabólito intracelular ativo permite longos intervalos entre dosificações e elimina o acesso venoso permanente, necessário no tratamento com ganciclovir. • Administrado por via IV. A injeção intravítrea (injeção no humor aquoso, entre o cristalino e a retina) do cidofovir está associada ao risco de hipotonia e uveíte, por isso é reservado para casos extraordinários. EFEITOS ADVERSOS • Nefrotoxicidade. • Neutropenia e acidose metabólica 7 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL PENCICLOVIR E FANCICLOVIR PENCICLOVIR FANCICLOVIR USO TERAPÊUTICO É um derivado nucleosídico da guanosina acíclica ativo conta HVS1, HVS2 e VVZ. Pró-farmaco biotransformado em penciclovir ativo. O espectro antiviral é similar ao do ganciclovir. Herpes-zóster agudo, infecção genital por HVS e herpes labial recorrente. MECANISMO DE AÇÃO Monofosforilado pela timidinocinase viral, e enzimas celulares formam o nucleosídeo trifosfato, que inibe a DNA-polimerase do HVS. FARMACOCINÉTICA • Administrado apenas topicamente. • Apresenta meia vida intracelular muito mais longa que o aciclovir. • É escassamente absorvido por aplicação tópica e é bem tolerado. • Eficaz por via oral • Efeitos adversos: cefaleia e náuseas. FOSCARNETE • Diferentemente da maioria dos antivirais, o foscarnete não é um análogo da purina ou da pirimidina. • É um fosfonoformato (um derivado do pirofosfato) e não requer a ativação por cinases virais (ou celulares). • Uso terapêutico: retinite por CMV, em hospedeiros imunocomprometidos, e para infecções por HVS resistentes ao aciclovir. MECANISMO DE AÇÃO Inibe irreversivelmente a DNA e a RNA-polimerase viral, interferindo, assim, na síntese de DNA e RNA viral. A mutação da estrutura da polimerase é responsável pela resistência viral. FARMACOCINÉTICA • Pouco absorvido por via oral, por isso usa IV. • Deve ser administrado com frequência para evitar recidiva quando os níveis plasmáticos caem. • Se distribui pelo organismo, e cerca de 10% penetram na matriz óssea, de onde sai lentamente. • Eliminado por filtração glomerular e secreção tubular. EFEITOS ADVERSOS • Nefrotoxicidade, anemia, náusea e febre. • Devido à quelação de cátions bivalentes, pode-se observar também hipocalcemia e hipomagnesemia. Além disso, foram relatadas hipopotassemia, hipo e hiperfosfatemia, convulsão e arritmia. 8 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES TERAPÊUTICAS II P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL ANTIVIRAIS PARA HIV ANTIVIRAIS: • Descrever a estrutura e classificação dos vírus; • Descrever os métodos usados para identificação dos vírus e das principais infecções causadas por eles; • Explicar os mecanismos de ação, mecanismos de resistência, estratégias para contorno de resistência, farmacocinética, efeitos colaterais, contra-indicações, interações, espectro e usos clínicos relacionados aos antivirais usados contra: ▪ infecções respiratórias; ▪ herpesvirus; ▪ HIV.
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