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Crises Convulsivas 1 Crises Convulsivas PREVALÊNCIA 4 As crises convulsivas febris são as intercorrências neurológicas mais comuns da infância. É definida como uma síndrome convulsiva acompanhada por febre T 37,8ºC. A etiologia do processo infeccioso não parece ser determinante para a crise febril, mas os vírus são os mais envolvidos com as convulsões febris, por serem os principais agentes responsáveis por febre nessa faixa etária. A convulsão febril pode ser simples ou complexa. A maioria dos casos são simples, que normalmente ocorrem no começo de doenças febris e têm curta duração. É comum após a resolução da convulsão, a criança se apresentar com sonolência de curta duração e não resultando em déficits focais. Convulsão febril simples: Crise tônico-clônica generalizada. Duração 15 minutos. Estado pós-ictal: sonolência breve, sem déficit focal. Sem recorrência na mesma doença febril. Baixo risco de epilepsia. Convulsão febril complexa: Crise focal. Duração 15 minutos. Estado pós-ictal: sonolência persistente ou presença de déficit focal (paresia de Todd). Crises repetidas em 24h ou que recorrem na mesma doença febril. Maior risco de epilepsia. Fatores de risco para recorrência incluem: Convulsão febril comoplexa. Temperatura mais baixa no início da crise convulsiva. Crises Convulsivas 2 Idade da 1ª crise 12 meses. Antecedente familiar positivo de convulsão febril ou epilepsia. Sexo masculino. Fatores de risco para epilepsia incluem: Convulsão febril complexa. Atraso no DNPM. Distúrbio neurológico preexistente. Antecedente familiar positivo de epilepsia. Convulsão febril recorrente. O diagnóstico dependem da anamnese e exame físico cuidadosos, caracterizando o tipo de convulsão febril, identificando o possível foco da febre e afastando infecção do SNC e outras crises sintomáticas agudas. Deve- se pesquisar intercorrências durante a gestação e o período neonatal, doenças sistêmicas concomitantes, uso de drogas e traumas. Existem algumas perguntas que devem ser feitas sobre a história clínica do paciente com crise convulsiva: Já apresentou alguma outra crise? Quanto tempo durou? O que a criança estava fazendo imediatamente antes da crise? Havia queixa de desconforto epigástrico ou sensação de medo antes da crise (aura)? Manteve a consciência preservada durante o episódio? Desmaiou? Virou os olhos? Teve sialorreia? Vômito? Endureceu alguma parte do corpo? Apresentou movimentos rítmicos e repetitivos dos memboras? Perdeu o controle dos esfíncteres? Como ficou depois da crisev Alguma anormalidade, sono, dor de cabeça? Apresentou febre em algum momento? Infecção recente? História de intoxicação? Trauma? Houve alguma intercorrência pré, peri ou pós-natal? Os marcos do desenvolvimento alcançados são compatíveis com a idade? Presença de doença neurológica prévia? Crises Convulsivas 3 Existe história familiar de epilepsia ou de convulsões febris? Já no exame físico não podemos esquecer de alguns pontos: Avaliação imediata dos SV e do nível de consciência. Medida do PC, estatura, peso e avaliação das fontanelas. Presença de hemiparesia, hiperreflexia, sinal de Babinski ou outros achados no exame neurológico? Avaliação dos sinais de irritação meníngea. Sinais de HIC? Exame das pupilas e de fundo de olho. Presença de hepatoesplenomegalia (doença metabólica ou de armazenamento)? Lesões sugestivas de doença neurocutânea? Presença de malformação congênita? Petéquias? Lesões herpéticas? Se a crise convulsiva febril for simples, não há necessidade de exames laboratoriais. A punção lombar só deve ser feita se suspeita de infecção do SNC pela presença de sinais clínico, em lactentes com idade inferior a 6 meses ou na ausência de vacinação com HiB, meningococo e pneumococo. A coleta de líquor pode ser considerada em menores de 1 ano (devido à ausência de sinais neurológicos claros nessa idade) e naqueles que fizeram uso prévio de antibiótico. Em relação ao tratamento, toda criança que chega ao pronto-socorro ainda convulsionando é considerada como estado de mal epiléptico (crise epiléptica prolongada — 30 minutos ou com crises reentrantes sem recuperação da consciência entre elas —, capaz de se tornar uma condição duradoura e suplantar os mecanismos de manutenção da homeostase clínica do paciente, com risco de complicações graves), devendo ser tomadas medidas para a cessação da crise. A droga inicial deve ser um benzodiazepínico — diazepam ou midazolam EV. A dose pode ser repetida até 3x para obter a cessação da crise. Se a crise persistir após o BZD, deve-se realizar dose de ataque com fenitoína EV. Se a crise persistir mesmo após a fenitoína, fazer dose de ataque de fenobarbital ou ácido valproico EV. Crises Convulsivas 4 Se houver persistência da crise após os medicamentos, considera-se estado de mal epiléptico refratário, com elevada morbimortalidade. Nesse caso, deve-se considerar o uso de anestésicos ou benzodiazepínico de infusão contínua, sempre com o paciente entubado e em ambiente de terapia intensiva. A necessidade de exames complementares é guiada pela história clínica e pelo exame físico do paciente. Todos os pacientes admitidos em sala de emergência por estado de mal epiléptico devem colher glicemia capilar. O uso de antitérmicos de forma precoce não previne a recorrência das crises convulsivas febris. A profilaxia secundária pode ser feita de forma contínua ou intermitente nos casos de convulsão febril complexa e na presença de fatores de risco para recorrência e epilepsia. Geralmente é utilizado fenobarbital VO, sendo o ácido valproico uma alternativa tão eficaz quanto. A epilepsia é definida como a presença de crises convulsivas recorrentes, que não têm relação com acometimentos agudos do SNC. Pode ser idiopática (quando a etiologia é indefinida) ou sintomática (quando uma anormalidade cerebral localizada ou difusa é conhecida). A epilepsia é uma disfunção cerebral caracterizada por ua predisposição permanente para gerar crises epilépticas, que é definida como a ocorrência de sinais e/ou sintomas relacionados à atividade neuronal anormal, excessiva ou sincrônica. São classificadas em: Focais: quando denotam a disfunção de uma área específica do córtex. Generalizada: quando são difusas. Tônicas, clônicas ou tônico-clônicas. Pacientes com diagnóstico de epilepsia não têm indicação de investigação laboratorial ou de imagens na emergência. Casos novos, porém, se beneficiam da investigação. Nesses casos, a RNM do encéfalo é o exame de imagem escolhido. As crises focais podem progredir e evoluir para crises com características bilaterais. O EEG é útil para classificar o tipo de crise, no entanto não deve ser usado como exame diagnóstico de epilepsia, devido ao fato de ter especificidade e Crises Convulsivas 5 sensibilidade baixas. Em relação ao tratamento, após uma crise única não provocada não há indicação de iniciar terapêutica. Após duas criises, a probabilidade de recorrência aumenta e está indicado o início da terapia. A decisão de iniciar o tratamento, no entanto, deve levar em consideração a idade, o diagnóstico sindrômico e a etiologia das convulsões. A primeira linha é a oxcarbazepina e a carbamazepina. A tentativa de suspensão ocorre quando o paciente faz uso por dois anos e não apresenta crises nesse período. A epilepsia é considerada refratária quando houver inadequado controle apesar do uso apropriado de, no mínimo, das ou três drogas antiepilépticas em dose máaxima tolerada, por 18 a 24 meses, ou quando ocorrer controle das crises com inaceitável efeito colateral.
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