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INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS FELIPE BIONDO 2INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS SUMÁRIO Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SUPERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na forma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETOR DE ENSINO A DISTÂNCIA (EAD) Rafael Giovanella Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD) Coordenadora e Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Thaís Munhoz Revisora Luana dos Reis INTRODUÇÃO 3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5 Conceitos fundamentais 6 Forças – Princípios básicos 7 Momentos de uma força – Princípios básicos 12 Sistemas de forças 15 Operações vetoriais 18 Síntese 21 EQUILÍBRIO ESTÁTICO DOS CORPOS RÍGIDOS 25 Estática 26 Estruturas 27 Equilíbrio estático 28 Diagrama de corpo livre 29 Equilíbrio em duas dimensões 30 Estaticidade e estabilidade de estruturas planas 32 Equilíbrio de um corpo rígido 33 Síntese 39 PROPRIEDADES GEOMÉTRICAS E MOMENTOS DE INÉRCIA 43 Centroide de uma área 44 Momento de inércia de uma área 47 Teoremas dos eixos paralelos ou teorema de Steiner 48 Síntese 51 EQUILÍBRIO INTERNO E SOLICITAÇÕES INTERNAS 53 Equilíbrio Interno 54 Cálculo das solicitações internas 60 Diagramas de força cortante e momento fletor 64 Síntese 73 TENSÕES, TENSÕES ADMISSÍVEIS, 76 DEFORMAÇÕES E LEI DE HOOKE 76 Tensão 77 Tensão admissível 82 Deformação 85 Lei de Hooke 90 TORÇÃO E FLEXÃO 93 Torção 94 Flexão 101 REFERÊNCIAS 111 3INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS INTRODUÇÃO Sejam todos bem-vindos à disciplina de introdução à resis- tência dos materiais. Nesta disciplina aprenderemos os princípios da estática e a mecânica dos corpos rígidos, e quais suas relações entre as cargas aplicadas a um corpo deformável e a intensidade das forças internas que atuam dentro de um corpo. Este assunto também abrange o cálculo da deformação do corpo e o estudo da sua estabilidade quando está submetido a forças externas. Quando desenvolvemos projetos de qualquer estrutura ou máquina é necessário, primeiramente, utilizar os princípios da estática para determinar as forças que atuam tanto sobre quanto no interior de seus vários membros. As dimensões dos elementos, sua deflexão e estabilidade dependem não só das cargas internas como também do tipo de material do qual esses elementos são feitos. Assim, a determinação precisa e a compreensão do com- portamento do material são de vital importância para o desen- volvimento das equações utilizadas na resistência dos materiais. Hoje, muitas fórmulas e procedimentos de projeto, definidos nas normas da engenharia e usados na prática, baseiam-se nos fundamentos da resistência dos materiais e, por essa razão, compreender os princípios dessa matéria é muito importante. A história por trás da disciplina iniciou-se com estudos feitos por Arquimedes (287 – 212 a.c), estudando os movimentos de alavanca. Estudos envolvendo roldanas, plano inclinado e chave inglesa também são registrados em escrituras antigas em épocas em que a engenharia era limitada principalmente à construção civil. Figura 1 – Ilustração do estudo das alavancas feito por Arquimedes Já a origem da resistência dos materiais remonta ao início do século XVII, época em que Galileu realizou experiências para estudar os efeitos em cargas, hastes e vigas feitas de vários ma- teriais. Entretanto, para a compreensão adequada, foi necessário 4INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS estabelecer descrições experimentais precisas das propriedades mecânicas de um material. Os métodos para tais descrições fo- ram consideravelmente melhorados no início do século XVIII. Naquela época, estudos sobre o assunto, tanto experimentais como teóricos, foram realizados principalmente na França, por notáveis como Saint-Venant, Poisson, Lamé e Navier. Como seus estudos baseavam-se em aplicações da mecânica a corpos materiais, eles denominaram esses estudos de resistência dos materiais. A Figura 2 mostra algumas aplicações atuais para os princípios já comentados, onde, através de ferramentas com- putacionais, é possível analisar sistemas altamente complexos. Figura 2 - Exemplos de análise estrutural via simulação computacional, utilizando os princípios de estática e resistência dos materiais. 5INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS CONCEITOS FUNDAMENTAIS O que é mecânica? Caros, alunos! Antes de começarmos a estudar os conteúdos de resistência mecânica, é importante entender o significado de certos conceitos e princípios fundamentais. Mecânica pode ser definida como o ramo das ciências físicas que estuda o estado de repouso ou movimento de corpos sujeitos à ação de forças. Geralmente, este assunto é subdividido em 3 áreas: mecânica de corpo rígido, mecânica de corpo deformável e mecânica dos f luídos. Este ebook tratará da mecânica dos corpos rígidos e deformáveis, onde a mecânica dos corpos rígidos nos permitirá ter uma base para fazer projetos e análise de diversos tipos de estruturas. A mecânica dos corpos deformáveis estuda as re- lações entre as cargas aplicadas a um corpo deformável, assim como a intensidade das forças internas. O esquema mostrado na Figura 3 resume o que é mecânica e os temas abordados nesta 6INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS disciplina são os hachurados, também mostrados nesta figura. Figura 3 - Áreas de estudo da disciplina grifadas em amarelo Conceitos fundamentais Antes de iniciarmos nossos estudos, é importante relembrar o significado de alguns conceitos e princípios fundamentais da mecânica. Abaixo estão listadas algumas das unidades de quantificação básicas: • Comprimento: descreve a posição de um ponto no espaço e a dimensão de um sistema físico. • Tempo: importante em problemas de dinâmica. Trata da sucessão de eventos. • Massa: propriedade da matéria que permite comparar a ação de um corpo com a de outro. Essa propriedade se manifesta como atração gravitacional entre dois corpos e fornece uma medida quantitativa da resistência da matéria a uma mudança na velocidade. • Força: ação direta ou indireta de um corpo sobre outro. Isso pode ocorrer quando há contato direto entre corpos ou com corpos fisicamente separados. Exemplos de forças são: gravitacional, elétrica e magnética. Uma força é caracterizada pela sua magnitude, direção e sentido. Como forma de simplificar a teoria, modelos ou ideali- zações são utilizados para descrever alguns conceitos, os mais importantes estão definidos a seguir: 7INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS • Partícula: uma partícula tem massa e um tamanho que pode ser negligenciado. Por exemplo, o tamanho do planeta terra é insignificante se comparado a sua órbita, e, portanto, a terra pode ser modelada como uma partícula quando estuda- mos seu movimento de órbita. Quando um corpo é idealizado como partícula, os princípios da mecânica são simplificados, não incluindo a geometria do corpo na análise. • Corpo rígido: é um corpo considerado como a combi- nação de um número de partículas no qual todas as partículas permanecem a uma distância fixa da outra antes e depois da aplicação da carga, logo, esse corpo não sofre deformação sobre a ação de forças. • Forças concentradas: representa o efeito de um carre- gamento que atua num ponto. Podemos representar um car- regamento por uma força concentrada, dada a área na qual a carga é aplicada, torna-se muito pequena se comparada a todo o corpo. Forças – Princípios básicos Com os conceitos acima em mente, exploraremos algunsdeles de forma mais aprofundada, sendo essenciais para obter um bom desempenho na disciplina. O primeiro conceito que relembraremos é o de força, que é toda a grandeza capaz de provocar movimento, alterar o estado de movimento ou pro- vocar deformação em um corpo. É uma grandeza vetorial cuja intensidade pode ser obtida pela expressão da física: onde: F = força m = massa do corpo a = aceleração provocada 8INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 4 - (a) Força provocando movimento - (b) Força provocando deformação Como a força é uma grandeza vetorial ela é caracterizada por possuir: • Direção • Sentido • Módulo ou intensidade Figura 5 - Grandeza vetorial Outra força necessária a ser relembrada é a força peso, que tem origem gravitacional e é o resultado da atração gravitacional exercida pela Terra, não somente sobre os objetos localizados próximo à sua superfície, mas atuando também a distâncias relativamente longas. Trata-se do exemplo mais simples de forças de ação à distância. O fato dos objetos caírem sobre a superfície terrestre é a consequência mais perceptível da mes- ma. A força peso é aplicada ao centro de gravidade do corpo, na direção vertical e com sentido de cima para baixo (Figura 6). A força peso pode ser escrita como: F = peso m = massa do corpo g = aceleração gravitacional = 9,81 m2/s 9INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 6 - Força peso sendo aplicada num corpo Características das forças As principais características de uma força são: 1. Princípio de ação e reação: quando dois corpos se en- contram, toda a ação exercida por um dos corpos cobre o outro, que corresponde a uma reação do segundo sobre o primeiro de mesmo módulo e direção, mas com sentidos contrários, que é a 3ª lei de Newton. 2. Princípio da transmissibilidade de uma força: quando se aplica uma força em um corpo sólido, a mesma se transmite com seu módulo, direção e sentido em toda a sua reta suporte ao longo deste corpo, desde que esta seja aplicada ao longo de sua linha de aplicação (Figura 7). Figura 7 - Princípio da transmissibilidade 10INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Decomposição das forças Qualquer força no espaço pode ser decomposta segundo três direções que desejarmos e veremos que fazendo isso é possível simplificar os cálculos para a resolução de problemas. Normalmente, usam-se como referência três direções orto- gonais entre si, escolhidas de acordo com a conveniência do problema (Figura 8). Figura 8 – Representação de uma força F no plano cartesiano e sua decomposição em cada eixo Nestes casos, pode-se usar a resultante ou suas com- ponentes Fx, Fy e Fz para obter o efeito desejado. Qualquer força contida em um plano também pode ser decomposta se- gundo duas direções. Normalmente, são usadas duas direções perpendiculares entre si, também escolhidas de acordo com a conveniência do problema. O caso plano é o mais comum de ser analisado e pode ser representado como na Figura 9. Figura 9 - Decomposição de força no plano Onde: = força a ser decomposta; x, y = componentes da força nas direções x e y; α = ângulo formado por F em relação à x; x,y = direções ortogonais de referência; 11INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A decomposição das forças pode ser realizada através de cálculos trigonométricos, sendo para este caso: x = × cos(α); y = × sen(α); y ⁄ x = tan(α); A força decomposta também pode ser chamada de re- sultante da soma vetorial de suas componentes x e y. Nos problemas que serão estudados, pode-se utilizar apenas a força resultante, como também suas componentes, o que for mais fácil para a resolução do problema. Classificação das forças As forças podem ser classificadas de acordo com a sua ori- gem, modo de se comportar, etc., como por exemplo, as forças de contato e as de ação a distância. Em análise estrutural, as forças são divididas conforme esquema mostrado na Figura 10. Figura 10 - Classificação das forças As forças externas atuam a uma estrutura e são divididas em forças ativas e reativas. As forças ativas são forças independentes que podem atuar em qualquer ponto de uma estrutura. Correspon- dem às cargas as quais a estrutura está submetida, normalmente conhecida ou avaliada. Como exemplo, podemos citar o peso de uma pessoa sobre uma sacada, carros sobre uma ponte, etc. As forças reativas: são forças que surgem em determina- dos pontos de uma estrutura (vínculos ou apoios), tendo sua origem como consequência de outras forças, logo, devem ser calculadas para se equivalerem as ações e assim preservarem o equilíbrio do sistema. 12INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS As forças internas são aquelas que mantêm unidos os pontos materiais que formam um corpo sólido. Se o corpo é estrutu- ralmente composto de diversas partes, as forças que mantém estas partes unidas também são chamadas de forças internas. Momentos de uma força – Princípios básicos Conceito O momento de uma força em relação a um ponto (eixo) é a grandeza física que dá uma medida da tendência daquela força provocar rotação em torno de um ponto (eixo). O momento de uma força em relação a um ponto também pode ser denominado de momento polar ou torque. O momento de uma força em relação a um eixo é uma grandeza vetorial. O módulo do momento “M” é definido como sendo o produto do módulo da força “F” pela distância “d” entre a linha de ação da força e o eixo. Onde: O efeito do vetor momento é o de provocar um giro com determinado sentido em relação ao ponto “O”, como o exemplo mostrado na Figura 11. O vetor momento apresenta as seguintes características: • Direção: perpendicular ao plano formado pela força e pelo vetor AO. • Sentido: regra da mão direita. • Módulo: produto do módulo da força pela menor distância do ponto “0” a reta suporte da força. M=F×d M= momento; F= força; d= distância de aplicação da força em relação ao eixo. 13INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 11 – Efeito do vetor momento A unidade de medida no sistema internacional para o mo- mento é em N.m. Por convenção, o momento pode ser positivo ou negativo. Adota-se o sinal (+) se a força F girar no sentido anti-horário e (-) no sentido horário. O momento de uma força em relação a um eixo é nulo sempre que a força e o eixo forem coplanares (concorrentes ou paralelos). Um exemplo fácil de compreender um momento é obser- vando a Figura 12, onde duas situações estão propostas por (a) e (b). Ao analisarmos a equação do momento, é possível verificar que para movimentar a porta, a situação representada em (a) necessita de uma aplicação de força maior do que em (b), pois o momento necessário para girar a porta é o mesmo em ambas as situações, porém, como a distância d_1 é menor que d_2, é necessário aplicar uma força maior na situação (a). Figura 12 - Momento de uma força Um exemplo prático para testarmos o que já foi aprendido, dar-se-á através da aplicação destes conceitos neste exercício: determine o peso que devemos colocar na extremidade direita da gangorra, a fim de que ela permaneça em equilíbrio estático. Figura 13 - Exemplo 1 14INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS No exemplo proposto acima, temos que a condição do con- junto está em equilíbrio, logo, para isso acontecer, o somatório dos momentos em relação a “O” é zero. Para isso ser verdade, o valor da força “P” é encontrado como mostrado abaixo: Momento axial O momento axial é o valor algébrico da projeção ortogonal sobre o eixo do momento polar produzido pela força em rela- ção a um ponto qualquer do eixo. Pode ser representado por uma grandeza escalar quando se adota uma convenção para a orientação do eixo. Figura 14 - Força perpendicular ao eixo do plano Figura 15 - Força inclinada em relação ao plano do eixo Figura 16 - Força no espaço - Qualquer direção 15INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Sistemas de forças Conceito Por definição um sistema de forças, é o conjunto de forças que atuam simultaneamenteem um corpo rígido ou em um ponto material. A resultante de várias forças que concorrem em um ponto é a soma geométrica a partir do ponto, de forças que têm mesmo módulo, mesma direção e mesmo sentido às que constituem o sistema, formando um polígono. Lembrando que uma força pode ser decomposta segundo eixos de referência, pode-se determinar a resultante de uma forma mais simples, obtendo-se cada componente pela soma algébrica das projeções de todas as forças sobre este eixo. Quando desejamos obter a resultante de mais de duas forças, podemos aplicar a regra do paralelogramo sucessivas vezes. No entanto, é mais fácil determinar os componentes em eixos específicos, somar algebricamente estes componentes e, a partir destes, gerar a resultante (Figura 17). Figura 17 - Somatório de forças Vamos decompor cada força em seus componentes re- tangulares Fx e Fy, que se localizam ao longo dos eixos x e y, respectivamente, como mostram as figuras. Figura 18 - Decomposição de vetores A resultante de forças concorrentes em um ponto de um plano, também pode ser calculada através da decomposição destas forças em relação a duas direções ortogonais escolhi- das, sendo a força resultante podendo ser calculada através da fórmula de Pitágoras. 16INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 19 - Exemplo 2 - Somatório de forças O princípio da superposição de efeitos é definido como: o efeito produzido por um conjunto de forças atuando simultane- amente em um corpo é igual a soma do efeito produzido por cada uma das forças atuando isolada. Deve-se fazer a ressalva de que a validade deste princípio se resume a casos em que o efeito produzido pela força seja diretamente proporcional à mesma. Isto acontece na maioria dos casos estudados. A partir deste princípio pode-se dizer que: • O momento polar resultante de um sistema de forças é a soma algébrica dos momentos polares, produzidos em relação ao mesmo ponto, por cada uma das forças atuando isolada. • O momento axial produzido por um sistema de forças, atuando simultaneamente em um corpo, é igual à soma algébrica dos momentos axiais, produzidos em relação ao mesmo eixo de cada uma das forças atuando isolada. Binários Denomina-se binário a um sistema constituído por um par de forças paralelas, de módulos iguais e sentidos opostos. A resultante em termo de forças é nula, entretanto, há um momento polar resultante de módulo igual ao produto da força pela distância entre as duas direções paralelas. 17INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 20 - Equivalências de um binário O binário ou momento é um vetor livre, pois seu efeito independe do ponto de aplicação, sendo que para qualquer ponto do plano, o binário tem o mesmo valor. Translação de forças A translação de uma força é transportá-la de sua direção para outra direção paralela. Isto implica no acréscimo de um momento devido à translação, cujo módulo é igual ao produto da força pela distância de translação. Figura 21 - Translação de forças Redução de um sistema de forças a um ponto Qualquer sistema de forças pode ser reduzido a um sistema vetor-par, onde o vetor é a resultante das forças, localizada a partir de um ponto arbitrariamente escolhido e o par é o mo- mento polar resultante do sistema em relação ao mesmo ponto. Figura 22 - Redução de forças a um ponto 18INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Forças distribuídas As cargas distribuídas são cargas por unidade de com- primento. Estas cargas, uniformes ou variáveis, podem ser representadas por uma carga concentrada equivalente, cujo valor corresponde à área formada pela figura que representa a carga distribuída e é aplicada em seu centro de gravidade. A força resultante deve ser calculada por integração, quando existem infinitas forças atuando sobre o sistema. A localização da linha de ação da força resultante em rela- ção ao eixo x pode ser determinada pela equação de momentos e da distribuição de forças em relação ao ponto “O”. A força resultante tem uma linha de ação que passa pelo centroide da área definida pelo diagrama de carregamento. A Figura 23 mostra exemplos de cargas distribuídas. Figura 23 - Cargas distribuídas Operações vetoriais Para a resolução dos exercícios vale a pena fazermos uma recapitulação sobre a regra do paralelogramo, lei dos senos e cossenos, que serão fundamentais para a resolução dos exercícios. Na Matemática, a regra do paralelogramo é uma proprieda- de de geometria que relaciona a soma do quadrado dos lados de um paralelogramo com a soma do quadrado de suas diagonais. Essa propriedade pode ser generalizada para qualquer espaço vetorial munido de um produto interno e, em particular, para um espaço euclidiano. 19INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Usando a notação do diagrama da Figura 24, os lados são denotados (AB), (BC), (CD), (DA). Em geometria Euclidiana, um paralelogramo tem os lados opostos iguais, de forma que (AB) = (CD) e (BC) = (DA). Assim, a lei pode ser expressa como: Figura 24 - Regra do paralelogramo A Lei dos Senos determina que em um triângulo qualquer, a relação do seno de um ângulo é sempre proporcional à medida do lado oposto a esse ângulo. Esse teorema demonstra que num mesmo triângulo a razão entre o valor de um lado e o seno de seu ângulo oposto será sempre constante. Já a lei dos cossenos diz que para qualquer triângulo, o quadrado de um lado é igual à soma dos quadrados dos outros dois, menos duas vezes o produto desses dois lados pelo cosseno do ângulo formado por eles. A Figura 25 resume a lei dos senos e dos cossenos. Figura 25 - Lei dos senos e cossenos Exemplos Exemplo 1: O parafuso gancho da Figura 26 está sujeito a duas forças F1 e F2. Determine a intensidade (módulo) e a direção da força resultante. Figura 26 - Exemplo 1 2(AB2) + 2(BC2) = (AC2) + (BD2) 20INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Para solucionar, deve-se utilizar a lei do paralelogramo, que está esquematizada na figura, para encontrar o ângulo do triângulo menor. Após isso, é necessário desenhar o triângulo que contém as forças. Através da lei dos cossenos é possível a força resultante (FR). O ângulo da força é determinado utilizando-se o valor de FR e a lei dos senos. 21INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exemplo 2: Na figura, temos dois blocos cujas massas são, respectivamente, 4 kg e 6 kg. A fim de manter a barra em equilíbrio, determine a que distância x o ponto de apoio deve ser colocado. Suponha que inicialmente o ponto de apoio esteja a 40 cm da extremidade direita da barra. Vejamos a figura: Para solucionar o exemplo temos que aplicar a equação do momento, que é: Neste caso, temos dois momentos acontecendo na gangorra, um provocado pela massa de 4 kg e outro pela massa de 6 kg, como este sistema está em equilíbrio temos que: Momento1 = Momento2, logo: F1 × d1 = F2 × d2, então, 4kg × d1 = 6kg × 40 cm, sendo assim: Para o sistema estar em equilíbrio a distância d1 é de 60 cm. Síntese Neste capítulo fizemos uma revisão geral dos conceitos fundamentais da mecânica vetorial que serão base para o estudo da resistência dos materiais. Dentre os assuntos vistos, relem- bramos o conceito de forças e momentos, binários e translação de forças. Além disso, foram introduzidos termos específicos de sistemas idealizados, que serão utilizados ao longo da disciplina. Também foram revistos fundamentos trigonométricos básicos com a finalidade de relembrar algumas teorias da Matemática, que facilitarão a resolução dos exercícios. M=F x d 22INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios 1. Se θ=30° e T = 6 KN, determine a intensidade da força resultante que atua sobre a argola e sua direção, medida no sentido horário a partir do eixo x positivo. 2. Se a força resultante precisa atuar ao longo do eixo u positivo e ter uma intensidade de 5 KN, determine a intensidade necessária de FB e sua direção θ. 3. A caminhonete precisa ser rebocada usando duas cordas. Determine asintensidades das forças FA e FB que atuam em cada corda para produzir uma força resultante de 950 N, orientada ao longo do eixo x positivo. Considere θ=50°. 4. Se a tração no cabo é 400 N, determine a intensidade e a direção da força resultante que atua sobre a polia. Esse ân- gulo é o mesmo ânguloW da linha AB no bloco do carretel. 23INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 5. Um carregamento distribuído p = 800 Pa atua no topo de uma superfície de uma viga, como mostra a figura. Determine a intensidade e a força resultante equivalente. 6. Quando um corpo extenso está sujeito à ação de forças de resultante não nula, ele pode adquirir movimento de _______, de _______ ou ______, simultaneamente. a. translação, rotação, ambos. b. aplicação, rotação, relação. c. translação, relação, rotação. d. equilíbrio, rotação, ação. e. equilíbrio, relação, ambos 7. Suponha que para fechar uma porta de 0,8 metros de largura, uma pessoa aplica perpendicularmente a ela uma força de 3 N, como mostra a figura. Determine o momento dessa força em relação ao eixo O. 8. Um rapaz de 900 N e uma garota de 450 N estão em uma gangorra. Das ilustrações abaixo, a que representa uma si- tuação de equilíbrio é: a. a b. g c. c d. d e. e 24INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 9. Determine os momentos da força de 800 N em relação aos pontos A, B, C e D. 10. Um binário atua nos dentes da engrenagem mostrada na figura. Substitua este binário por um equivalente composto por um par de forças que atuam nos pontos A e B. 25INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS EQUILÍBRIO ESTÁTICO DOS CORPOS RÍGIDOS Estaticidade – Quantidade de restrições de vínculos – Diagramas de corpo livre Você já se perguntou o que é estaticidade? E quais são as relações de quantidade de restrições que cada vínculo pode gerar sobre uma estrutura? Como fazer diagramas de corpo livre? Através de exemplos, aprenderemos isto agora. 26INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Estática A estática é a parte da Física que estuda sistemas sob ação de forças que se equilibram. De acordo com a segunda lei de Newton, a aceleração destes sistemas é nula. Com base na primeira lei de Newton, todas as partes de um sistema em equilíbrio também estão em equilíbrio. Este fato permite determinar as forças internas de um corpo a partir do valor das forças externas. Já a terceira lei de Newton, descreve que as forças entre dois corpos têm mesmo módulo e direções contrárias, com isso se permite isolar partes do sistema, ve- rificando as forças internas do sistema, tratando-as como forças entre dois corpos. Na Figura 27, temos como exemplo, um bloco de mas- sa m colocado sobre uma mesa. Como estamos na Terra, a gravidade está atraindo este bloco, então sobre ele existe uma força de módulo mg apontando para baixo. Para este corpo estar em equilíbrio, precisamos que a soma (vetorial) de todas as forças sobre ele sejam zero. Assim, é necessário que a mesa exerça sobre ele outra força, igual em módulo, mas de sentido contrário, ou seja, a força Fn. Finalmente, pela terceira Lei de Newton, o bloco exerce sobre a mesa a força Fn’, igual (vetorialmente) ao seu peso mg. A análise terminou aqui, mas, se fossemos analisar o equilíbrio da mesa, seria necessário entrar com seu peso, e com a força que o solo exerce sobre ela. Figura 27 - Bloco sobre uma mesa 27INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Estruturas Estruturas são sistemas compostos de uma ou mais peças ligadas entre si e ao meio exterior, de modo a formar um con- junto estável, isto é, um conjunto capaz de receber solicitações externas, absorvê-las internamente e transmiti-las até seus apoios, onde estas solicitações externas encontrarão seu sistema estático equilibrante. A Figura 28 apresenta esquematicamente alguns exemplos de estruturas mais utilizadas. Figura 28 - Exemplos de estruturas Componentes de uma estrutura Os componentes de uma estrutura são chamados de elementos, barras ou membros estruturais, que devem ser capazes de receber e transmitir esforços. Estes componentes podem ser: • Unidimensionais: vigas, pilares, barras, travessas, co- lunas, etc. • Bidimensionais: folhas - as lajes e as paredes. • Tridimensionais: sólidos, blocos, etc. Classificação quanto aos elementos estruturais Estruturas reticuladas são estruturas formadas por barras como vigas, pórticos planos e espaciais, treliças planas e espa- ciais, grelhas, etc. As barras são os elementos em que uma das dimensões é maior que as outras duas, as dimensões da seção são nitidamente menores que a extensão da sua linha central. Barras de forma prismática são retas e de seção constante. A Figura 29 apresenta exemplos de estruturas reticuladas. 28INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 29 - Estruturas reticuladas Estruturas de superfícies, placas e chapas são os elementos em que uma das dimensões é muito menor que as outras duas, a espessura é nitidamente menor que as dimensões da seção. As placas recebem cargas normais ao seu plano e as chapas na direção de seu plano. Na Figura 30 é possível ver alguns exemplos de estruturas de superfícies. Figura 30 - Estruturas de superfície Estruturas de volume são elementos estruturais como blocos de fundação, barragens de gravidade, etc. São os elementos tridi- mensionais em que as dimensões são de mesma ordem de grandeza. Equilíbrio estático Relembramos no capítulo anterior, que as forças externas que agem em um corpo rígido podem ser reduzidas a um sistema de forças em um ponto arbitrário O. Quando a força e o binário são ambos nulos, as forças externas que constituem um sistema equivalente a zero e diz que o corpo rígido está em equilíbrio. 29INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS As condições necessárias e suficientes para o equilíbrio de um corpo rígido podem, pois, ser obtidas impondo que a força resultante e o momento resultante, ambos em O, sejam iguais a zero nas equações abaixo: Decompondo cada força e cada momento em suas com- ponentes cartesianas, encontramos as condições necessárias e suficientes para o equilíbrio de um corpo rígido, que também pode ser expresso pelas seis equações escalares. As equações obtidas podem ser utilizadas para determinar as forças desconhecidas aplicadas a um corpo rígido ou reações desconhecidas exercidas por um vínculo. Estas equações tra- duzem o fato de que as componentes das forças e momentos externos se compensam nas direções cartesianas. O sistema de forças externas não comunicará movimento de translação ou rotação do corpo rígido considerado. Para escrever as equações de equilíbrio de corpo rígido é essencial identificarmos todas as forças que agem no corpo e desenhar um diagrama de corpo livre. Neste capítulo estuda- remos o equilíbrio de forças bidimensionais e como desenhar diagramas de corpo livre, além disso consideraremos as reações aplicadas na estrutura por seus vínculos. Diagrama de corpo livre Para a resolução de um problema referente ao equilíbrio de um corpo rígido, é essencial considerar todas as forças que atuam sobre um corpo. Sendo assim, o primeiro passo na solução de exercícios é o desenho do diagrama do corpo livre do corpo rígido em consideração. O objetivo principal de um diagrama de corpo livre é mostrar as forças que atuam em um corpo de forma clara, lógica e organizada. 30INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Consiste em separar-se o nosso “corpo de interesse” de todos os corpos do sistema com o qual ele interage. Neste corpo isolado são representadas todas as forças que nele atuam, assim como as forças de interação ou de contato. A palavra livre enfatiza a ideia de que todos os corpos adjacentes ao estudado são removidos e substituídos pelas forças que nele exercem. Lembre-se que sempre que há o contato entre dois corpos surge o princípio da ação e reação. O diagrama do corpo livre define claramente que corpo ou que parte do corpo está em estudo, assim como identifica quais as forçasque devem ser incluídas nas equações de equilíbrio. As forças externas desconhecidas são geralmente consti- tuídas pelas reações, também chamadas de forças de vínculo, através das quais o solo e outros corpos se opõem a um possível movimento do corpo livre. O diagrama de corpo livre tam- bém deve incluir dimensões, pois pode ser necessário calcular momentos das forças. Equilíbrio em duas dimensões Na primeira parte deste capítulo, consideraremos o equi- líbrio de uma estrutura bidimensional, isto é, presumiremos que a estrutura considerada e as forças sobre ele aplicada es- tão contidas no plano da figura. Obviamente, as reações para manter a estrutura na mesma posição também estão contidas no plano da figura. As reações exercidas sobre uma estrutura bidimensional podem ser divididas em 3 grupos correspondentes a 3 tipos de vínculos: • Reações equivalentes a uma força linha de ação co- nhecida: os vínculos que causam este tipo de reação são roletes, balancins, superfícies lisas, hastes curtas, cabos e pinos deslizantes sem atrito. Cada um destes vínculos pode impedir o movimento em apenas uma direção. As reações deste grupo envolvem apenas uma 31INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS incógnita, que é o módulo da reação. O sentido da reação deve ser indicado claramente, como na Figura 31. • Reações equivalentes a uma força de direção desco- nhecida: os vínculos que causam este tipo de reação são os pinos polidos em orifícios ajustados, articulações e superfícies rugosas. Eles podem restringir a translação em todas as direções, mas não restringem a rotação em torno de uma conexão. As reações deste grupo incluem duas incógnitas, geralmente representadas por x e y. • Reações equivalentes a uma força e um binário: essas reações são causadas por apoios fixos que impedem qual- quer movimento de corpo livre, imobilizando-o comple- tamente. As reações deste grupo envolvem 3 incógnitas, consistindo geralmente de duas componentes de forças e o momento binário. Figura 31 - Reações dos vínculos 32INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Os vínculos podem ser representados na Figura 32. Figura 32 - Símbolos usados para representar os vínculos Estaticidade e estabilidade de estruturas planas Antes de iniciarmos as definições de como é montado um diagrama de corpo livre, é importante conhecer os con- ceitos quando a estabilidade e estaticidade das estruturas. A estabilidade das estruturas pode ser classificada como: • Estáveis: quando o sistema de forças reativas for capaz de equilibrar qualquer sistema de forças ativas. Para tal, as forças reativas não podem formar sistemas de forças paralelas ou concorrentes. • Instáveis: quando as forças reativas forem em números insuficientes, ou formarem um sistema de forças para- lelas (incapaz de equilibrarem forças paralelas a ela) ou concorrentes (incapaz de equilibrar momentos). Quanto a estaticidade, as estruturas podem ser classificadas como hipostáticas (sempre instáveis), isostáticas ou hiperestáticas (estas duas sempre estáveis). A definição destes conceitos é: • Estruturas hipoestáticas: quando o número de apoios ou vínculos é insuficiente para estabelecer o equilíbrio estático. Neste caso, a estrutura é sempre instável e o número de equações de equilíbrio estático é superior ao número de reações. Um exemplo de estrutura hipostática pode ser visto na Figura 33. 33INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 33 - Estrutura hipostática e instável Estruturas isostática: quando os apoios de uma estrutura são em número, estritamente necessários para impedir todos os seus possíveis movimentos. O número de reações de apoio é exata- mente igual ao número de equações de equilíbrio (Figura 34). Figura 34 - Estruturas isostáticas • Estruturas hiperestáticas: quando os apoios de uma estrutura são em número superior ao necessário para impedir seu movimento. Conforme mostrado na Figura 35, o número de reações de apoio (incógnitas) é superior ao número de equações. Desta forma, é necessário a obtenção de equações além das do equilíbrio, a fim de tornar o problema matematicamente possível. Figura 35 - Estruturas hiperestáticas Equilíbrio de um corpo rígido Vimos nas seções anteriores que as forças desconheci- das são geralmente as reações, e que o número de incógnitas correspondentes a uma dada reação depende do tipo de apoio 34INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS ou conexão que causa esta reação. Consideremos o exemplo mostrado na Figura 36(a), submetida as forças N, Q e S. A treliça é mantida no lugar por uma articulação em A e um rolete em B. A articulação impede o ponto A de se mover, exercendo sobre a treliça uma força que pode ser decomposta nas componentes Ax e Ay. O rolete impede a treliça de girar em relação a A, exercendo força vertical B. O diagrama de corpo livre da treliça é ilustrado na Figura 36(b). Ele inclui as reações Ax, Ay e B, e as forças aplicadas N, Q e S, além do peso P da treliça. Impondo que a soma dos momentos em relação a A de todas as forças indicadas na Figura 36(b) seja zero, escrevemos a equação ∑MA=0, que pode ser resolvida para a intensidade B, pois não contém Ax ou Ay. Impondo que a soma dos componentes x e a soma das componentes y das forças são nulas, escrevemos as equações ∑Fx=0 e ∑Fy=0, que podem ser resolvidas para as componentes Ax e Ay. Figura 36 Equações adicionais poderiam ser obtidas igualando a zero a soma dos momentos das forças externas em relação a outros pontos diferentes de A. Poderíamos, por exemplo, es- crever ∑MB=0. Contudo, tal afirmação não contém nenhuma informação nova, pois já foi estabelecido o sistema de forças apresentado na Figura 36(b) , que é equivalente a zero. A equação adicional não é usada para determinar uma quarta incógnita, ela é útil para verificar a solução obtida das três equações originais. Vamos exercitar esses conceitos através dos problemas resolvidos, apresentados na sequência. 35INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Problema 1: Um guindaste fixo tem massa igual a 1000 kg e é usado para levantar a caixa de 2400 kg. Ele é mantido no lugar por um pino articulado em A e um balancim (apoio simples) em B. O centro de gravidade do guindaste é o ponto G. Determine as componentes das reações em A e B. Figura 37 - Problema 1 Solução: o primeiro passo para a resolução do exercício é fazer o diagrama de corpo livre do guindaste. Começamos multiplicando as massas do guindaste pela gravidade para obtermos os respectivos pesos: 9,81 kN e 23,5 kN. A reação no ponto A é uma força de direção desconhecida, com com- ponentes Ax e Ay. A reação no balancim é perpendicular à direção do mesmo, sendo horizontal. Supomos que Ax, Ay e B tenham os sentidos da Figura 38. Figura 38 Determinação de B: impomos que a soma dos momentos em relação ao ponto A seja nula. Resulta uma equação que não acontecerá nem em Ax nem em Ay, pois os momentos Ax e Ay em relação a A são nulos. Multiplicando o módulo de cada força pela distância de sua linha de ação A, obtemos: Como o resultado é positivo, B tem o sentido da figura. 36INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Determinação de Ax. Determina-se Ax, impondo-se que a soma das componentes horizontais das forças externas é nula: Como Ax é negativo, o sentido de Ax é oposto ao da figura. Determinação de Ay. Impõe-se que a soma das compo- nentes verticais é nula: Somando vetorialmente as componentes, concluímos que a reação em A é de 112 kN e acontece num ângulo de 17,3°. Verificação: a exatidão dos valores obtidos pode ser verifi- cada lembrando que a soma dos momentos das forças externas, em relação a qualquer ponto, deve ser nula. Tomando o ponto B, escrevemos: Problema 2: na Figura 39, três cargas são aplicadas a uma viga. A viga é apoiada em um rolete (apoio simples) em A e em uma articulação em B. Desprezando o peso da viga, determine as reações em A e B quando Q=75kN. Figura 39 Solução: inicia-se desenhando o digrama de corpolivre da viga. A reação em A é vertical representada por A. A reação em B tem componentes Bx e By. Supomos que os seus sentidos são os da figura abaixo. 37INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Equações de equilíbrio. Escrevemos as três equações abaixo e calculamos as reações indicadas. Verificação: é verificada somando as componentes verticais das forças externas. Problema 3: um vagão está em repouso sobre trilhos, que formam um ângulo com a vertical. O peso bruto do vagão e sua carga é de 27,5 kN e está aplicado em um ponto a 0,75 m dos trilhos, sendo igual a distância dos dois eixos das rodas. O vagão é seguro por um cabo atado a 0,6 m dos trilhos. Determinar a tração no cabo e a reação em cada par de rodas. Figura 40 Solução: um diagrama de corpo livre par ao vagão deve ser desenhado. A reação em cada roda é perpendicular ao trilho, e a força de tração T é paralela aos trilhos. Por conveniência, 38INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS escolhemos o eixo x paralelo aos trilhos e o eixo y, perpendi- cular. O peso de 27,5 kN é decomposto nas componentes x e y. Px=27,5kNcos25°=24,9kN Py=27,5kNsen25°=-11,62kN Equações de equilíbrio. Tomemos os momentos em re- lação a A para eliminar T e R1 do cálculo. Agora tomamos os momentos em relação a B, para eliminar T e R_2 do cálculo, escrevemos: O valor de T é determinado por: Os valores calculados das reações estão apresentados na figura: Verificação. Os cálculos são verificados por meio da equação: Problema 4: a estrutura da Figura 41 suporta o telhado de um pequeno edifício. Sabendo que a tração no cabo é de 150 kN, determine a reação no extremo fixo E. 39INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 41 Solução: para iniciarmos o problema devemos fazer o diagrama de corpo livre da estrutura e do cabo BDF. A reação no extremo fixo E é representada pelas componentes Ex e Ey e pelo binário de momento M_E. As outras forças que agem no corpo livre são quatro cargas 20kN e a força de 150 kN aplicada a extremidade do cabo. A distância entre DF é defina por: As equações de equilíbrio são: Síntese Neste capítulo aprendemos os principais tipos de estrutura quanto a sua estaticidade. Também aprendemos as relações de quantidade de restrições que cada tipo de vínculo gera sobre uma estrutura e como fazer diagramas de corpo livre de uma estrutura bidimensional, além disso, diversos exemplos de como calcular as reações das estruturas e seus vínculos. 40INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios 1. Uma empilhadeira de 2500 kgf é utilizada para levantar uma caixa de 1200 kgf. Determine a reação em cada par de rodas: (a) dianteiras e (b) traseiras. 2. Um carrinho de mão é utilizado para transportar um cilindro de ar comprimido. Sabendo-se que o peso total do carrinho e do cilindro é de 900 N, determine: (a) a força vertical P que deve ser aplicada ao braço do carrinho para manter o sistema na posição ilustrada. (b) a reação correspondente em cada A das rodas. 41INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 3. Uma carga de madeira de peso P=20kN está sendo erguida por um guindaste. O peso da lança ABC e o peso combinado do veículo e do motorista estão indicados na figura abaixo. Determine a reação em cada uma das duas rodas: a. – Roda dianteira H. b. – Roda Traseira K. 4. Utilizando a figura do exercício anterior. Sabendo que a tração é de 20 kN em todas as partes do cabo AEF e que o peso da lança ABC é de 2kN, determine: a. – Tração na haste CD. b. – Reação no pino B. 5. Uma treliça pode ser apoiada de duas maneiras, conforme figura. Determine as reações nos apoios nos dois casos. 42INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 6. Um guindaste montado em um caminhão é utilizado para erguer um compressor de 3000 N. O peso da lança AB e do caminhão estão indicados, e o ângulo que a lança faz com a horizontal a é de 45º. Determine a reação em cada uma das rodas: (a) traseiras C, (b) dianteiras D. 7. Determine as reações em A e B quando: a. α=0 b. α=90 c. 30 43INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS PROPRIEDADES GEOMÉTRICAS E MOMENTOS DE INÉRCIA Geometria é uma palavra de origem grega que significa: “geo”, terra, e “metria”, que vem da palavra “métron” e significa medir. Sendo assim, a geometria é uma ciência que se dedica a estudar as medidas das formas de figuras planas ou espaciais, bem como sobre a posição relativa das figuras no espaço e suas propriedades. Os matemáticos que realizam os estudos relacionados com a geome- tria são chamados de geômetras. Ao longo da história da Geome- tria, que se constituiu como ciência organizada na Grécia Antiga, destacaram-se geômetras como Arquimedes, Descartes, Tales de Mileto, Euclides (considerado o pai da Geometria), entre outros. 44INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Em nossa disciplina é essencial conhecer as propriedades geométricas de uma seção ou de um corpo, sendo neste capítulo aprenderemos sobre centroides e momentos de inércia. Centroide de uma área O centroide de uma área refere-se ao ponto que define o centro geométrico dessa área. Se ela tem forma arbitrária, como a da Figura 42a, as coordenadas x e y que definem a localização do centroide C são determinadas pelo meio das fórmulas abaixo: Os numeradores destas equações representam o momento de primeira ordem do elemento de área dA em torno dos eixos x e y, respectivamente (Figura 42b). Os denominadores, por sua vez, representam a área total A da forma. Figura 42 Observe que a localização de alguns centroides é especi- ficada parcial ou totalmente pelas condições de simetria. Nos casos em que a área tem um eixo de simetria, seu centroide localiza-se ao longo daquele eixo. Por exemplo, o centroide X da área mostrada na Figura 43 localiza-se ao longo do eixo y, uma vez que, para a área elementar dA a uma distância +x à direita do eixo y, há um elemento idêntico a distância -x à esquerda. O momento total de todos os elementos em torno do eixo de simetria cancela-se, isto é, ∫ xdA = 0, de modo que x =0. Figura 43 Nos casos em que a forma tem dois eixos de simetria, o centroide localiza-se na interseção de tais eixos (Figura 44). 45INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 44 Com base no princípio da simetria, relacionamos a loca- lização do centroide de formas comuns, como mostrado na Figura 45. Figura 45 – Centroides e momentos de inércia de formas comuns Frequentemente, uma área pode ser secionada ou dividida em várias partes de formas mais simples. Desde que a área e a localização do centroide de cada uma dessas formas compostas sejam conhecidas, pode-se eliminar a necessidade da integração para determinar o centroide de toda a área. Nesse caso, devem ser utilizadas equações análogas (mostradas no início deste capítulo), exceto pelo fato de que, aqui, símbolos de somatória finita substituirão os símbolos de integração, ou seja: Nesses casos, x e ỹ representam as distâncias algébricas ou coordenadas x, y do centroide para cada parte componente, e ∑A representa a soma das áreas das partes componentes ou simplesmente a área total. Em particular, se houver um furo ou uma região sem material na parte do componente, esse componente deve ser considerado parte componente adicional de área negativa. Além disso, se a área total é simétrica em relação a um eixo, seu centroide localiza-se em tal eixo. O exemplo abaixo ilustra essa situação. ~ 46INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exemplo 1 Localize o centroide C da área de seção transversal da viga T, mostrada na Figura 46a. Figura 46 Solução 1 – O eixo y foi posicionado ao longo do eixo de simetria, de modo que x =0. Para obter y definiremos o eixo x (eixo de referência) ao longo da base da área. A área foi dividida em dois retângulos e a localização de centroide y de cada um foi definida. Aplicando a equação abaixo temos: Solução 2 – Usando a mesma divisão de área, pode-se posicionar o eixo c na parte superior da área, como mostrado naFigura 46b. Nesse caso: O sinal negativo indica que, como esperado, C localiza-se abaixo da origem. Observe também que, pelas duas respostas 8,55 pol + 4,45 pol = 13 pol, que é a altura da viga. Solução 3 – Também é possível considerar que a área da seção transversal seja um retângulo grande menos dois retân- gulos pequenos, Figura 46c. Nesse caso temos: 47INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Momento de inércia de uma área Ao calcular o centroide da área, consideramos o momento de primeira ordem dessa área em torno de um eixo, ou seja, foi necessário calcular uma integral da forma ∫ xdA. Alguns tópicos da resistência dos materiais exigem o cálculo de um momento de segunda ordem da área, isto é ∫ x2dA. Essa integral é deno- minada momento de inércia da área. Para mostrar formalmente como se define o momento de inércia, consideramos a área A mostrada na Figura 47, localizada no plano x-y. por definição, os momentos de inércia do elemento infinitesimal dA em torno dos eixos x e y são dIx = y2dA e dIy= x2dA, respectivamente. O momento de inércia para toda a área é determinado por inte- gração, isto é: Figura 47 Podemos expressar o momento de segunda ordem do ele- mento infinitesimal em torno do polo O ou do eixo z (Figura 47). Isto é denominado momento polar de inércia (dJO=r^2 dA). Aqui, r é a distância perpendicular do polo (eixo z) ao elemento dA. O momento polar de inércia para toda a área é: A relação entre Jo e Ix, Iy é possível porque r2 = x2 + y2 (Figura 47). Pelas equações acima, notam que Jo, Ix e Iy sempre terão valores positivos, visto que envolvem o produto do quadrado da distância pela área. Além disso, as unidades de inércia envolvem o comprimento elevado na quarta potência, isto é, mm4, m4 ou pé4, pol4. A Figura 45 mostra momentos de inércia para algumas figuras conhecidas. 48INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Teoremas dos eixos paralelos ou teorema de Steiner Se o momento de inércia de uma área em torno do eixo do centroide for conhecido, podemos determinar o momento de inércia dessa área em torno de um eixo paralelo correspon- dente pelo teorema do eixo paralelo. Para deduzir tal teorema, imaginamos que precisamos determinar o momento de inércia em torno do eixo x da área sombreada mostrada na Figura 48. Nesse caso, um elemento infinitesimal dA localiza-se a uma distância arbitrária y’ do eixo x’ do centroide, enquanto a distância fixa entre os eixos paralelos x e x’ é definida como dy. Como o momento de inércia de dA em torno do eixo x é dIx = (y’+dy)2dA, então para toda a área: Figura 48 O primeiro termo da direita representa o momento de inércia da área em torno do eixo x’, Iy’. O segundo termo é nulo, uma vez que o eixo x’ passa através da área do centroide C, isto é ∫ y’dA = ydA=0, pois y = 0. O resultado é, portanto: Uma expressão semelhante pode ser escrita para Iy, isto é: Finalmente, para o momento polar de inércia em torno de um eixo perpendicular ao plano x-y e passando pelo polo O (eixo z). Na Figura 48, temos: Ix = Ix’ + Adx2 Iy = Iy’ + Ady2 Jo = Jc + Ad2 49INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O formato das equações diz que o momento de inércia de uma área em torno de um eixo é igual a área do momento de inércia em torno de um eixo paralelo que passe pelo centroide mais o produto da área pelo quadrado da distância perpendi- cular entre os eixos. Várias áreas de seção transversal consistem em uma série de formas mais interligadas, tais como retângulos, triângulos e semicírculos. Desde que o momento de inércia de cada uma dessas formas seja conhecido, ou possa ser calculado em torno de um eixo comum, o momento de inércia da área composta poderá ser determinado como a soma algébrica dos momentos de inércia de suas partes componentes. A fim de determinar adequadamente o momento de inércia de tal área em torno de um eixo específico, é necessário antes dividi-la em suas partes componentes e indicar a distância perpendicular do eixo de referência ao eixo paralelo do cen- troide de cada parte. Usando a tabela mostrada na Figura 45, calcula-se o momento de inércia de cada parte em torno do eixo de referência ao eixo paralelo do centroide. Se esse eixo não coincidir com o eixo especificado, deve-se usar o teorema dos eixos paralelos para determinar o momento de inércia da parte em torno do eixo dado. O momento de inércia será deter- minado somando-se os resultados de duas partes componentes. Os exemplos mostrarão a aplicação deste método. Exemplo 2 Determine o momento de inércia da área da seção transversal em torno do eixo x’ do centroide da viga T, mostrada na figura: Figura 49 50INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A área dois segmentada em dois retângulos como mostra a Figura 49, e a distância do eixo x’ para cada eixo do centroide foi determinada. Segundo a Figura 45, o momento de inércia de um retângulo em torno do eixo de seu centroide é I = 1 ⁄12 bh3. Aplicando o teorema do eixo paralelo a cada retângulo, somando os resultados temos: Outra forma de resolver é se considerarmos como um re- tângulo grande menos dois retângulos pequenos. O tracejado está apresentado na Figura 50. Temos: Figura 50 Exemplo 3 Determinar os momentos de inércia da área da seção trans- versal em torno dos eixos x e y do centroide, da viga mostrada na Figura 51. Figura 51 51INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A seção transversal pode ser considerada como as três áreas retangulares compostas A, B e D, mostradas na Figura 52. Figura 52 Para fins de cálculo, marcou-se na figura o centroide de cada um desses retângulos. Segundo a Figura 45, o momento de inércia de um retângulo em torno do eixo de seu centroide é I = 1 ⁄12bh3. Então, aplicando o teorema do eixo paralelo aos retângulos A e D chegamos aos seguintes cálculos: Os momentos de inércia para toda a seção transversal são: Síntese Neste capítulo aprendemos sobre centroides, que é o ponto associado a uma forma geométrica também conhecida como centro geométrico. Também aprendemos sobre momentos de inércia e que este é uma propriedade de uma seção plana de um corpo, que tem relação com a sua resistência à deformação. 52INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios 1. Determine a localização do centroide e o momento de inércia à figura abaixo: 2. Determine a localização do centroide e o momento de inércia à figura abaixo: 3. Determine a localização do centroide e o momento de inércia à figura abaixo: 4. Determine a localização do centroide e o momento de inercia à figura abaixo: 53INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS EQUILÍBRIO INTERNO E SOLICITAÇÕES INTERNAS A mecânica dos sólidos é o ramo da Mecânica do contínuo que estuda comportamento deformável dos sólidos. Neste contexto a matéria é constituída por um meio contínuo de posições bem definidas, de modo que deformações, translações e rotações possam ser bem descritas e dissociadas para análise. A mecânica dos sólidos utiliza tensores para descrever tensões, deformações e as relações entre estas quantidades. 54INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Equilíbrio Interno Até este momento, o curso de Mecânica esteve voltado para o equilíbrio externo dos corpos, considerando os mesmos como sendo rígidos, sem a possibilidade de deformação. Nesse sistema, esforços externos são distribuídos ao longo da barra (corpo rígido) até chegarem aos vínculos das estruturas. O principal trabalho, inicialmente, foi o de calcular tais reações vinculares para que o corpo pudesse ser mantido em equilíbrio. Pode-se notar que nos cálculos das reações vinculares não é analisado o modo como o corpo transmite, para os apoios, as cargas pelas quais está sendo solicitado. A partir de agora, no entanto, serão analisados quais os efeitos que a transmissão desse sistema de cargas externas para os apoios provoca nas diversas seções que constituem o corpo em equilíbrio. O cálculo dos esforços solicitantes é a base de mecânica dos sólidos, poisatravés de um bom entendimento do conceito de esforços solicitantes é que se pode garantir subsídios para o estudo da resistência dos materiais. As cargas reativas ou reações são determinadas com a aplicação das equações fundamentais da estática. Nestes casos, o número de equações de equilíbrio deve ser, no mínimo, igual ao número de reações a serem calculadas. Quando calculamos uma estrutura com carregamento plano, as equações da estática se resumem em: De uma maneira geral diz-se que: • O equilíbrio não leva em conta o modo como o corpo transmite as cargas para os apoios. • O corpo, quando recebe carregamento, vai gradativa- mente deformando-se até atingir o equilíbrio, onde as deformações param de aumentar (são impedidas internamente), gerando solicitações internas. • O equilíbrio ocorre na configuração deformada, que admitimos ser bem próxima da inicial (campo das pe- quenas deformações). 55INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Esta análise é feita para determinar quais os efeitos que a transmissão deste sistema de cargas externas aos apoios provoca nas diversas seções que constituem o corpo em equilíbrio. Para tanto, supõe-se um corpo qualquer em equilíbrio, sob efeito de um carregamento qualquer. Ao cortar este corpo por um plano qualquer (a-a), rompe-se o equilíbrio, pois sua cadeia molecular é destruída na seção demarcada de interseção do plano com o corpo. Figura 53 - Esforços internos Para que as partes isoladas pelo corte permaneçam em equilíbrio, deve-se aplicar, por exemplo, sobre a parte da es- querda, a ação que a parte da direita exercia sobre ela, ou seja, resultante de força ( ) e resultante de momento ( ). O mes- mo deve ser feito com a parte da esquerda, cujas resultantes estão também representadas. • = Resultante de forças da parte retirada. • = Resultante de momentos da parte retirada, que surge devido a translação da força resultante para o centro de gravidade da seção. Figura 54 - Resultante das seções de ambos os lados As resultantes nas seções de corte de ambos os lados devem ser tais que reproduzam a situação original quando as duas partes forem ligadas novamente, ou seja, pelo princípio da ação e reação devem ser de mesmo módulo, mesma direção e senti- dos opostos. e são as resultantes das solicitações internas referidas ao centro de gravidade da seção de corte da barra. 56INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Quando se quer os esforços em uma seção de uma peça, deve-se cortar a peça na seção desejada, isolar um dos lados do corte (qualquer um). No centro de gravidade desta seção devem aparecer esforços internos (resultante de força e de momento) que mantém o corpo isolado em equilíbrio. Para tentar ilustrar a situação, imaginem que uma barra rígida AB qualquer está sendo seccionada (Figura 55). Neste exemplo, a barra possui 6m e a secção ocorre a 2m de A, en- tretanto, a secção poderia ser feita em qualquer ponto da barra. O corte será chamado de a. Figura 55 As intensidades das reações nos apoios já são conhecidas e indicam que o corpo está em equilíbrio. Porém, ao se efe- tuar um corte qualquer, para que as partes isoladas pelo corte permaneçam em equilíbrio, devem aparecer alguns esforços internos, que são desconhecidos. Figura 56 Como dito anteriormente, no centro de gravidade desta seção devem aparecer esforços internos resultantes de força e de momento, que mantém o corpo isolado em equilíbrio. Analo- gamente ao cálculo das reações nos vínculos, onde são somadas forças em x e y, e também são calculados momentos, os esforços internos devem ocorrer em x e y, gerando um momento. As resultantes nas seções de corte de ambos os lados devem ser tais que reproduzam a situação original quando as duas partes forem ligadas novamente, ou seja, pelo princípio da ação e reação, devem ser de mesmo módulo, mesma direção e sentidos opostos. 57INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 57 Classificação das solicitações Para que se facilite a observação e sua determinação, os es- forços internos estão associados às deformações que provocam e se classificam de acordo com elas. Um vetor no espaço pode ser decomposto seguindo 3 direções, e adotam-se 3 direções perpen- diculares entre si no espaço (x,y,z). Decompondo os vetores re- sultantes e , segundo estas direções escolhidas, tem-se: Figura 58 - Esforços internos Observe que foram escolhidas 3 direções perpendiculares entre si com a seguinte característica: 2 direções contidas pela seção de corte e a terceira perpendicular à seção de corte. As componentes são denominadas: • N - Esforço Normal • V - Esforço Cortante • M - (Mz e My) - Momento Fletor • Mt – (Mz) - Momento Torsor Cada tipo de solicitação tem associada a ela um tipo de deformação. Os tipos de solicitação são: Força normal (N): Essa força atua perpendicularmente à área. É criada sempre que as forças externas tendem a empurrar ou puxar duas partes do corpo. O efeito do esforço normal será de provocar uma variação da distância que separa as seções, que permanecem planas e paralelas. 58INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS As fibras longitudinais que constituem estas seções também permanecem paralelas entre si, porém, com seus comprimentos alterados (sofrem alongamentos ou encurtamentos). O esforço normal será considerado positivo quando alonga a fibra longi- tudinal e negativo no caso de encurtamento. Figura 59 - Esforço normal Força cisalhamento ou esforço cortante (V) A força de cisalhamento localiza-se no plano da área e é criada quando cargas externas tendem a provocar o desliza- mento das duas partes do corpo, uma sobre a outra. O efeito do esforço cortante é o de provocar o deslizamento linear, no sentido do esforço, de uma seção sobre a outra infinitamente próxima, acarretando o corte ou cisalhamento da mesma. O esforço cortante representa o efeito de uma força cisalhante em uma seção transversal de uma barra. Figura 60 - Efeito de cisalhamento Esforços cortantes são positivos quando, entrando com as for- ças à esquerda de uma seção transversal, a resultante das forças na direção transversal for no sentido para cima. De forma consistente (ação e reação), esforços cortantes são positivos quando, entrando com as forças à direita de uma seção transversal, a resultante das forças na direção transversal for no sentido para baixo. Figura 61 – Sinal do esforço cortante Quando for contrário ao indicado, o esforço cortante é negativo. Momento fletor (M) É provocado pelas cargas externas que tendem a f letir o corpo em relação ao eixo localizado no plano da área. É a re- sultante de todas as forças e momentos de uma porção isolada sobre a outra porção, na direção transversal ao eixo da barra na seção transversal de corte. 59INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O efeito do momento f letor é o de provocar o giro da seção, em torno de um eixo contido pela própria seção. As fibras de uma extremidade são tracionadas enquanto que na outra são comprimidas (as seções giram em torno do eixo na qual se desenvolve o momento, mas permanecem planas). O momento f letor representa o efeito de f lexão (ou dobramento) em uma seção transversal de uma barra. Figura 62 - Momento fletor O momento f letor Mz é considerado positivo quando tra- ciona as fibras de baixo da estrutura My, e é positivo quando traciona as fibras internas (no caso da esquerda) da estrutura. Figura 63 – Sinal do momento fletor Momento Torsor É o efeito criado quando as cargas externas tendem a tor- cer uma parte do corpo em relação a outra. O momento tor- sor provoca o giro da seção em torno do seu baricentro, ou de todas as seções em torno do eixo longitudinal da peça. A convenção adotada de sinais para o momento torsor é análoga ao esforço normal, ou seja, o momento torsor é considerado positivo quando sua seta representativa está saindo da seção de referência (regra da mão direita). Figura 64 - Momento torsor 60INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A Figura65 resume os tipos de solicitações e a regra de sinais para cada um deles. Figura 65 - Esforços solicitantes internos Cálculo das solicitações internas Conforme foi visto, ao se cortar uma estrutura por uma seção. Nesta seção devem aparecer esforços que equilibrem o sistema isolado. Estes esforços são chamados de solicitações internas, que são as forças necessárias para manter o corpo unido quando submetido a cargas externas. Dependendo do tipo de carregamento, uma barra pode ne- cessitar de mais de um corte para se efetuarem os cálculos. Em suma, um novo corte deve ser feito para cada mudança abrupta de carregamento. Eis alguns exemplos mostrados na Figura 66: Figura 66 61INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O “método das seções” Para fazer o cálculo dos esforços internos, é utilizado o método das seções, que consiste em: • Cortar a peça na seção desejada e isolar um dos lados do corte (qualquer um), com todos os esforços externos atuando. • Na seção cortada devem ser desenvolvidas solicitações que mantenham o sistema isolado em equilíbrio. Ar- bitramos as solicitações possíveis de serem desenvolvi- das (N, Q e M) com suas orientações positivas. Estas solicitações são os valores que devemos determinar. • Aplicando as equações de equilíbrio, por exemplo, em relação à seção cortada, determinamos os valores pro- curados. Observe que as solicitações a serem determi- nadas são em número de 3, e dispomos também de 3 equações de equilíbrio, podendo formar um sistema de 3 equações com 3 incógnitas. Para entender melhor, apresentarei este conceito através do exemplo, onde será analisada uma viga bi, apoiada com carregamento uniformemente distribuído (Figura 67). Figura 67 Primeiramente, transforma-se o carregamento distribuído numa força pontual e calculam-se as reações nos vínculos: Figura 68 - Diagrama de corpo livre 62INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O cálculo das reações nos vínculos dá-se: Logo, Figura 69 Com os valores das reações nos vínculos, o próximo passo é escolher um ponto qualquer da viga para se fazer um corte “α”. Este modelo de carregamento tem apenas um corte para o cálculo das solicitações internas. Portanto, escolhe-se um ponto qualquer a x unidades de comprimento do ponto A ou do ponto B. Figura 70 Independente do sentido escolhido para a análise ( AB ou BA), deve-se sempre prestar muita atenção na convenção de sinais. Na seção cortada, devem ser desenvolvidas so- licitações que mantenham o sistema isolado em equilíbrio (N, V, M). Estas solicitações são os valores que devem ser determinados. Após escolhido o ponto para o corte, torna-se convenien- te transformar o carregamento “q” em uma força pontual. Como o corte foi feito a “x” unidades da periferia da barra, a carga pontual agora não será mais “qL”, mas sim, “qx” (lembrem que a área da figura referente ao carregamento, neste caso um quadrado, é igual ao carregamento, ou seja, A = b × h = q × x). 63INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 71 Se a análise for feita de “A” para “B”, a convenção será: Figura 72 Caso a análise seja feita de “B” para “A”, a convenção será: Figura 73 Aplicando as equações de equilíbrio em relação à seção cortada, determinam-se os valores procurados. Vale observar que as solicitações a serem determinadas são 3 e são dispostas, também, 3 equações de equilíbrio, pode-se formar um sistema de 3 equações com 3 incógnitas, ou seja, sistema Isostático. • De A para B: Figura 74 Somando forças em x e y, e momentos: 64INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS • De B para A: Figura 75 Somando forças em x e y, e momentos: Observa-se neste caso que a cortante possui sinais diferen- tes, dependendo do sentido escolhido para o corte, porém, isso não interferirá em nada, pois ao seguir a convenção de sinais corretamente, os gráficos encontrados a partir das funções normal, cortante e momento, para qualquer sentido do corte serão os mesmos. Diagramas de força cortante e momento fletor Devido as cargas aplicadas, vigas sofrem esforços cortantes internos e momento f letor, que varia de ponto a ponta da viga. A fim de projetar uma viga corretamente, é necessário primeiro determinar o cisalhamento e o momento máximo na viga. Um modo de fazer isso é expressar V e M como funções de uma posição arbitrária a x ao longo do eixo da viga. Essas funções de cisalhamento e momento são aplicadas e representadas por gráficos denominados diagramas de força cortante e momento f letor. Os valores máximos de V e M são obtidos a partir destes gráficos. Além disso, como os diagramas de força cortante e momento fornecem informações detalhadas sobre a variação do cisalhamento e do momento f letor ao longo do eixo da viga, são usados frequentemente por engenheiros para decidir onde colocar materiais de reforço na viga ou como definir as dimensões desta em vários pontos ao longo de seu comprimento. 65INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Anteriormente, utilizamos o “Métodos das seções” para determinar as cargas internas em um ponto específico do ele- mento. Entretanto, se tivermos que determinar V e M internos como funções de x ao longo da viga, será preciso localizar o corte imaginário a uma distância arbitrária x da extremidade da viga a definir V e M de x. Nesse sentido, a escolha da origem e direção positiva para qualquer x é arbitrária. É mais comum, porém, localizar a origem na extremidade esquerda da viga e a direção positiva da esquerda à direita. Em geral, as funções de cisalhamento interno e momento f letor obtidas em função de x são descontínuas ou seu declive é descontínuo nos pontos em que a carga distribuída muda ou onde estão aplicadas as forças concentradas ou conjugadas. Por essa razão, tais funções devem ser determinadas para cada região da viga, localizadas entre quaisquer duas descontinuidades de carga. Por exemplo, as coordenadas x1, x2 e x3 têm de ser usadas para descrever a variação de V e M em todo o comprimento da viga da Figura 76. Essas coordenadas são válidas apenas nas regiões A e B, no caso de x1, B e C no caso de x2 e de C a D no caso de x3. Figura 76 Antes de apresentar um método para determinar o cisalha- mento e o momento f letor como funções de x e depois de relacio- nar as funções (diagramas de força cortante e momento f letor), é necessário estabelecer uma convenção de sinais para estabelecer a força cortante interna negativa e positivas e o momento f letor. Apesar da escolha da convenção de sinal ser arbitrária, usaremos a convenção geralmente adotada na engenharia (Figura 77). Figura 77 66INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS As direções positivas são as seguintes: a carga distribuída atua sobre a viga no sentido de cima para baixo, a força cortante interna provoca a rotação no sentido horário do segmento de viga sobre o qual atua, e o momento interno provoca a com- pressão nas fibras superiores do segmento. As cargas opostas a estas direções são consideradas negativas. Através de diagramas, montaremos os diagramas de força cortante e momento fletor de uma viga, estes diagramas seguem o procedimento de análise: I. Deve-se determinar as forças reativas e conjugadas que atuam sobre a viga e desdobrar em componentes todas as forças que atuam perpendicularmente e paralela ao eixo da viga. II. As funções de cisalhamento e momento fletor devem ser especificadas através de coordenadas separadas x com ori- gem na extremidade esquerda da viga e compreendidas nas regiões entre forças concentradas e/ou conjugadas onde não haja descontinuidade de carga distribuída. III. Seccionar a viga perpendicular a seu eixo a cada distância x e desenhar o diagrama de corpo livre de um dos segmen- tos. Certificar-se de que V e M sejam mostrados atuando no sentido positivo, de acordo com a convenção de sinais mostrada na Figura 77. IV. A força cortante é obtida somando as forças perpendiculares à viga. V. O momento é obtido somando os períodos em torno da extremidadesecionada do segmento. VI. Diagrama de força cortante e momento fletor. • Esquematizar o diagrama de força cortante (V versus x) e o diagrama momento f letor (M versus x). Se os valores numéricos das funções que descrevem V e M forem positivos, serão desenhados acima do eixo x, ao passo que valores negativos serão desenhados abaixo. 67INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS • Em geral, é conveniente mostrar os diagramas de força cortante e momento f letor diretamente abaixo do dia- grama de corpo livre da viga. Para compreender melhor, faremos alguns exemplos de como fazer todo o processo de análise e criação dos diagramas. Exemplo 1 Desenhe os diagramas de força cortante (ou cisalhante) e momento f letor da viga, mostrada na Figura 78. Figura 78 Utilizando os cálculos da estática aprendidos nos capítulos anteriores, se obtém as reações nas vigas como mostrado na Figura 79. Figura 79 A viga foi secionada a uma distância arbitrária x do apoio A, estendendo-se pela região AB. O diagrama de corpo livre do segmento esquerdo é mostrado na Figura 80. Figura 80 As incógnitas V e M são indicadas no sentido positivo, na face direita do segmento, de acordo com a convecção de sinal estabelecida. Aplicando as equações do equilíbrio temos: 68INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O diagrama de corpo livre do segmento esquerdo da viga, o qual se estende por uma distância x na região BC, é mostrado na Figura 81. Figura 81 Como sempre, V e M são mostrados atuando no sentido positivo, então: O diagrama de força cortante (ou cisalhamento) representa esquematicamente as equações 1 e 3, o diagrama de momento representa esquematicamente as equações 2 e 4 (Figura 82). Figura 82 Exemplo 6.2 Desenhar os diagramas de força cortante e momento f letor da viga, mostrada na Figura 83a. Figura 83 As reações de apoio foram determinadas na Figura 84. 69INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 84 Este problema é semelhante ao exemplo anterior, porém, devem ser utilizadas as coordenadas x para expressar o cisa- lhamento e o momento na viga em todo o seu comprimento. Para o segmento da região AB (Figura 83b), temos. E para o segmento da região BC (Figura 85), temos: Figura 85 Quando as funções anteriores são desenhadas, são obtidos os diagramas de força cortante e momento, mostrados na Figura 86. Nesse caso, observe que o cisalhamento é constante em todo o comprimento da viga, ou seja, não é afetado pelo conjugado Mo que atua no centro da viga. Da mesma maneira que uma força cria um salto no diagrama de força cortante (exemplo 1), o conjugado cria um salto no diagrama de momento. Figura 86 70INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exemplo 3 Desenho do diagrama de força cortante e momento f letor para a viga mostrada na Figura 87. Figura 87 As reações de apoio estão apresentadas na Figura 88. Figura 88 O diagrama de corpo livre do segmento esquerdo da viga é mostrado na Figura 89. A carga nele distribuída é representada pela sua força resultante somente depois que o segmento for isolado como um diagrama de corpo livre. Como o segmento tem comprimento x, a grandeza da força resultante é wx. Essa força atua através do centroide da área, que compreende a carga distribuída a uma distância x/2 da extremidade direita. Aplicando as duas equações de equilíbrio temos: Figura 89 Esses resultados de V e M poderão ser comprovados caso se observe dV ⁄ dx = -w. O valor de fato é correto, visto que w posi- tivo atua de cima para baixo. Observe também que dM ⁄ dx = V. 71INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Os diagramas de força cortante e momento mostrados na Figura 90 são obtidos esquematizando graficamente as equações 1 e 2. O ponto de cisalhamento nulo é encontrado pela equação 1: Pelo diagrama de momento fletor, esse valor de x representa o ponto da viga em que ocorre o momento máximo, visto que, pela equação 2, o declive (V = 0 = dM ⁄ dx, onde temos: Figura 90 Exemplo 4 Desenhar os diagramas de força cortante e o momento f letor da viga mostrada. Figura 91 A carga distribuída é substituída pela força resultante e as reações foram determinadas, como apresenta a Figura 92. Figura 92 72INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O diagrama de corpo livre de um segmento da viga de comprimento x é mostrado na Figura 93. Observe que a in- tensidade da carga triangular na seção é obtida por proporção, ou seja, w/x = wo ou w = wo.x/L. Conhecendo a intensidade da carga, a resultante da carga distribuída é determinada pela área sob o diagrama (Figura 93). Dessa forma: Figura 93 Esses resultados podem ser verificados aplicando-se as equações 1 e 2, isto é: Os gráficos das equações 1 e 2 são mostrados na Figura 94. Figura 94 73INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Síntese Neste capítulo foi apresentado a introdução sobre mecâ- nica dos sólidos, onde iniciamos nossa conversa com esforços internos. Após compreendermos o que são esforços internos, foram apresentados os tipos de deformações, sendo definido o método das seções, que mostrou como calcular os esforços internos em regiões de componentes. E por fim, foi apresentado como montar os diagramas de esforços cortantes e momento fletor; gráficos que são muito utilizados para o desenvolvimento de projetos, avaliando como os carregamentos variam ao longo de uma estrutura. 74INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios 1. Determinar a resultante das cargas internas que atuam na seção transversal em C da viga mostrada abaixo. 2. Determinar a resultante das cargas internas que atuam na seção transversal em C, do eixo de máquina mostrado na figura. O eixo é apoiado por rolamentos em A e B, que exercem apenas forças verticais sobre ele. 3. O guindaste da figura consiste na viga AB, as roldanas acopla- das, do cabo e do motor. Determinar a resultante das cargas internas que atuam na seção transversal em C se o motor levantar um carga W de 500 lb com velocidade constante. Desprezar os pesos das roldanas e da viga. 4. Uma força de 80 N é suportada pelo suporte, como mostrado. Determinar a resultante das cargas internas que atuam na seção que passa pelo ponto A. 75INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 5. Desenhar os diagramas de forças cortantes e momento para o eixo. Os mancais A e B exercem apenas reações verticais sobre o eixo. 6. Desenhar os diagramas de forças cortantes e momento à viga. 7. Os três semáforos têm, cada um, massa de 10 kg e o tubo em balanço AB tem massa de 1,5 kg/m. Desenhar os diagramas de esforços cortantes e momento para o tubo. Desprezar a massa do farol. 8. Desenhar os diagramas de forças cortantes e momento à viga. 9. Um píer de concreto armado é usado para suportar os trilhos de uma ponte. Desenhe os diagramas de cisalhamento e momento para o píer quando ele estiver sujeito às cargas de polia mostradas. Suponha que as colunas em A e B exerçam apenas reações verticais no píer. 76INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS TENSÕES, TENSÕES ADMISSÍVEIS, DEFORMAÇÕES E LEI DE HOOKE Deformação de um corpo é qualquer mudança na configuração geométrica do corpo que leve a uma variação de suas formas ou dimensões. Diversos fatores podem influenciar, tais como geometria, propriedade dos materiais e forças externas, permitindo classificá-las de acordo com sua natureza. A resistência dos materiais é um ramo da mecânica que estuda as relações entre cargas externas aplicadas a um corpo de- formável e a intensidade das forças internas que atuam dentro do corpo. Este assunto abrange também o cálculo da deformação do 77INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS corpo e o estudo da sua estabilidade, quando ele está submetido a forças externas. No projeto de qualquer estrutura, é necessário primeiro usar os princípios da estática para determinar as forças que atuam tanto sobre como no interior de vários membros. As dimensões dos elementos, sua def lexão e sua estabilidade dependem não só das cargas internas comotambém do tipo de material do qual esses elementos são feitos. Sendo assim, a determinação precisa e a compreensão do comportamento do material são de vital importância para o desenvolvimento das equações usadas em resistência dos materiais. Tensão Como visto nos capítulos anteriores, a força e o momento que atuam em determinado ponto na área da seção de um corpo representam os efeitos da distribuição da força que atuam na área secionada (Figura 95 (b)). Determinar a distribuição das cargas internas é de primordial importância na resistência dos materiais. Para resolver este problema é necessário estabelecer o conceito de tensão. Considere que a seção da área seja subdividida em áreas pequenas, tal como ΔA mostrada em sombreado escuro na Fi- gura 95 (a). Quando se reduz ΔA a tamanhos cada vez menores, devem-se supor duas hipóteses em relação as propriedades do material. Devemos considerar que o material é contínuo, isto é, possui continuidade ou distribuição uniforme de matéria, sem vazios, em vez de ser composto por um número finito de átomos ou moléculas distintas. Além disso, o material deve ser coeso, o que significa que todas as suas partes estão muito bem unidas, em vez de ter trincas, separações ou falhas. Uma força finita ΔF, mas muito pequena, atuando sobre sua área associada ΔA é mostrada na Figura 95 (a). Essa força, como todas as demais, tem direção única, mas para as discussões que seguem a substituiremos por seus três componentes, ΔFx, ΔFy e ΔFz, assumidos como tangentes e normal à área. A relação divisão, entre a força e a área, em geral, tende a um limite finito. Essa relação é chamada de tensão e, como observado, descreve a intensidade da força interna sobre um plano específico (área) que passa por determinado ponto. 78INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 95 Tensão normal A intensidade da força, ou força por unidade de área, que atua no sentido perpendicular a ΔA, é definida como tensão normal, σ. Visto que ΔFz é normal à área, temos: Se a força normal ou tensão “empurra” o elemento de área ΔA como mostrado na Figura 95, é denominada tensão de tração, ao passo que se puxa ΔA é chamada de tensão de compressão. Tensão de cisalhamento A intensidade da força ou força por unidade de área, que atua a tangente a ΔA, é chamada tensão de cisalhamento, τ. Os componentes do cisalhamento são: Observe que o índice z em σz é usado para indicar a direção que se afasta da reta normal, a qual se especifica a orientação da área ΔA (Figura 96). São usados dois índices para os componentes τzy e τzx. O eixo de z especifica a orientação da área, enquanto x e y se referem a retas de direção das tensões de cisalhamento. Figura 96 79INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Estado geral da tensão Se o corpo for também secionado por planos paralelos ao plano x-z (Figura 95 (b)) e ao plano y-z (Figura 95 (c)), podemos cortar um elemento cúbico do volume do material. Este elemen- to cúbico representa o estado de tensão que atua em torno do ponto escolhido do corpo (Figura 97). Esse estado de tensão é caracterizado pelos três componentes que atuam em cada face do elemento. Esses componentes de tensão descrevem o estado de tensão no ponto apenas, para o elemento orientado ao longo dos eixos x, y e z. Caso o corpo tivesse sido secionado em um cubo com outra orientação, o estado de tensão seria definido por meio de um conjunto diferente de componentes de tensão. Figura 97 - Estado geral da tensão Tensão normal média Elementos mecânicos são frequentemente compridos e finos. Além disso, são submetidos a cargas axiais geralmente aplicadas nas extremidades. Elementos de treliça, pendurais e parafusos são exemplos típicos. Vamos apreender como deter- minar a distribuição média da tensão, que atua na seção trans- versal de uma barra com carga axial, tal como a Figura 98(a). Se desprezarmos o peso da barra e secionarmos como indicado, então, para o equilíbrio do segmento inferior (Figura 98 (b)), a resultante da força interna que atua na seção transversal deverá ser igual em intensidade, oposta em direção e colinear a força externa que atua na extremidade inferior da barra. Figura 98 80INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Para determinar a distribuição de tensão média de tensão que atua na área da seção transversal da barra, é necessário estabelecer algumas hipóteses. É necessário que a barra per- maneça reta tanto antes como depois da carga ser aplicada, e, além disso, a seção transversal deve permanecer plana durante a deformação. Se as hipóteses ocorrerem, as linhas horizontais e verticais da grade inscrita na barra deformam-se uniforme- mente quando submetida a carga (Figura 99). Figura 99 A fim de que a barra possa sofrer deformação uniforme, é necessário que P seja aplicada ao longo do eixo do centroide da seção transversal e o material seja homogêneo e isotrópico. Um material homogêneo possui as mesmas propriedades físicas e mecânicas em todo o seu volume, e um material isotrópico possui essas mesmas propriedades e todas as direções. Visto que a barra está submetida a uma deformação uni- forme constante, como observado, então a deformação é o resultado de uma tensão normal constante σ (Figura 100). Figura 100 O resultado é que cada área ΔA da seção transversal está sujeita a uma força ΔF= σΔA, e o somatório das forças que atuam sobre todas a área da seção transversal deve ser equivalente a força interna resultante P na seção. Se ΔA → dA e, portanto, ΔF → dF, admitindo que seja σ constante, temos: 81INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Onde: No sistema internacional, a intensidade da tensão, tanto da tensão normal quanto de cisalhamento, é especificada na unidade básica de Newtons por metro quadrado (N⁄m2). Esta unidade é denominada pascal (1 Pa = 1 N⁄m2), e como ela é muito pequena, geralmente utiliza-se mega pascal (MPa). Exemplo 1 A barra da Figura 101 (a) tem largura constante de 35mm e espessura de 10 mm. Determinar a tensão normal média má- xima da barra quando submetida ao carregamento mostrado. Figura 101σ= tensão normal média em qualquer ponto da área da seção transversal. P= resultante da força interna, aplicada no centroide da área da seção transversal P. É determinada pelo método das seções e pelas equações de equilíbrio. A= área da seção transversal da barra. 82INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O exame das figuras mostra que as forças axiais internas nas regiões AB, BC e CD são todas constantes, mas de inten- sidades diferentes. Os valores das cargas, determinadas pelo método das seções são mostrados na Figura 101 (c). O exame das figuras mostra ainda que, a maior carga está na região BC, onde PCB = 30 kN. Como a área da seção transversal da barragem é constante, a maior tensão média também ocorre nesta região. A distribuição da tensão atua em uma seção arbitrária da barra BC, que é mostrada na Figura 102. Graficamente, o volume representado por essa distribuição de tensão equivale a carga de 30 kN. Figura 102 Tensão admissível O engenheiro responsável pelo projeto de elementos estru- turais deve restringir a tensão do material a um nível seguro. Além disso, ele precisa analisar a estrutura da máquina em uso para verificar quais cargas adicionais seus elementos podem suportar. Os cálculos devem ser refeitos, usando uma tensão segura ou admissível. Para garantir a segurança, é necessário escolher uma tensão admissível que restrinja a carga aplicada a um valor menor que a carga que o elemento possa suportar, integralmente. Há várias razões para adotar essa prática. Por exemplo, a carga para qual o elemento foi projetado pode ser diferente do carregamento aplicado. As medições pretendidas de uma estrutura ou má- quina podem não ser exatas devido a erros de fabricação ou na montagem de seus componentes. Vibrações desconhecidas, impacto ou cargas acidentais podem ocorrer. Corrosão atmosfé- rica, deterioração ou desgaste tendem a danificaros materiais. 83INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Um dos métodos para especificar a carga para o projeto, é usar um número denominado de fator de segurança. O Fator de Segurança (F.S.) é a relação entre a carga de ruptura Frup e a carga admissível Fadm. No caso da Frup, é obtida em testes experimentais do material e o fator de segurança é selecionado com base na experiência, de modo que as incertezas mencionadas sejam consideradas quando o elemento é usado em condições semelhantes de carga e geometria. Se a carga aplicada ao elemento for relacionada linearmente, a tensão desenvolvida no interior do elemento, como no caso do uso de σ = P ⁄ A, podemos expressar o fator de segurança como a relação entre a tensão de ruptura e a tensão admissível: O fator de segurança escolhido deve ser maior que 1, a fim de evitar maior possibilidade de falha. Os valores do fator dependem dos materiais escolhidos e da utilização. Por exem- plo, o F.S. usado em aeronaves é muito próximo de 1, a fim de reduzir o peso do veículo. No caso de um guindaste o F.S. pode ser superior a 3, onde há incertezas na utilização do mesmo. 84INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios 1. A luminária de 80 kg é suportada por duas hastes AB e BC, como mostra a figura abaixo. Se AB tem diâmetro de 10 mm, e BC tem diâmetro de 8 mm, determinar a tensão normal média em cada haste. 2. O elemento AC mostrado na figura abaixo está submetido a uma força vertical de 3kN. Determinar a posição x de aplicação da força de modo que o esforço de compressão médio no apoio C seja igual ao esforço de tração no tirante AB. A haste tem uma área de seção transversal de 400 mm2, e a área de contato C é de 650 mm2. 85INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Deformação Quando uma força é aplicada a um corpo, tende a mudar sua forma e seu tamanho. Tais mudanças podem ser denominadas deformação e podem ser visíveis ou praticamente imperceptí- veis sem o uso de equipamentos precisos. Por exemplo, uma tira de borracha sofre uma deformação muito grande quando esticada. Por outro lado, ocorrem apenas pequenas deforma- ções de membros estruturais quando um edifício é ocupado por pessoas movimentando-se. Um corpo também pode sofrer deformações de sua temperatura muda. De maneira geral, a deformação do corpo não é uniforme em todo seu volume, a mudança na geometria de qualquer seg- mento de reta do corpo pode variar ao longo do comprimento. Por exemplo, uma parte da reta pode alongar-se e uma parte pode contrair-se. Conceito de deformação Deformação é a alteração da forma de um corpo, devido aos movimentos das partículas que o constituem. A tendência dos corpos de voltarem a forma original devido a força de atra- ção entre as partículas, representa a elasticidade do material. Quanto mais um corpo tende a voltar a sua forma original, mais elástico é seu material, ou seja, quanto mais ele resiste a ser deformado maior é a sua elasticidade. Pode-se diferenciar os tipos de deformações observando um ensaio simples, de uma mola presa a uma superfície fixa e submetida sucessivamente a cargas cada vez maiores até a sua ruptura. Deformações elásticas Uma deformação é elástica quando cessado o efeito do carregamento, pois o corpo volta a sua forma original, como mostrado na Figura 103. 86INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 103 No exemplo acima, se medidas numericamente as gran- dezas, vamos ver que: Conclui-se que as duas propriedades que caracterizam uma deformação elástica são: • Deformações reversíveis. • Proporcionalidade entre carga e deformação. Deformações plásticas Se fosse aumentada a carga sobre esta mola, ela chegaria a uma situação em que terminaria a proporcionalidade, e apesar da tendência do corpo em assumir sua forma origi- nal, sempre restariam as chamadas deformações residuais. Considera-se terminado o regime elástico e o corpo passa a atuar em regime plástico. Note que no regime plástico termina a proporcionalidade e a reversibilidade das defor- mações. Se fosse aumentada ainda mais a carga, o próximo limite seria a ruptura. 87INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Ensaio de tração e compressão A resistência de um material depende da capacidade de suportar carga sem deformação excessiva ou ruptura. Essa propriedade é inerente ao próprio material e deve ser deter- minada experimentalmente. Um dos testes mais importantes a se realizar neste sentido é o ensaio de tração e compressão do material. Embora muitas propriedades possam ser de- terminadas por meio deste teste, ele é usado principalmente para determinar a relação entre a tensão normal média e a deformação normal média, tais como metais, cerâmicas, polímeros e materiais compostos. Para realizar este ensaio, corpos de prova normatizados são utilizados. São tomadas algumas medidas de referência e o ensaio consiste em aplicar uma carga axial sem f lexão do corpo de provas, como mos- trado na Figura 104. Figura 104 Com os dados obtidos no ensaio de tração, é possível cal- cular diversos valores de tensão e deformação correspondente no corpo de prova, sendo possível gerar um diagrama tensão- -deformação. Que pode ser escrito de duas maneiras: • Diagrama tensão-deformação convencional. Com os dados registrados, determinamos a tensão nominal ou de engenharia dividindo a carga aplicada P pela área da seção transversal inicial do corpo de prova Ao. Esse cálculo pressupõe que a tensão seja constante na seção transversal e em toda a região entre os pontos de calibragem. Temos: 88INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS • Da mesma forma, a deformação nominal ou de enge- nharia é encontrada diretamente, dividindo-se a variação no comprimento de referência, δ, pelo comprimento de referência inicial Lo. Suponhamos que a deformação seja constante em toda a região entre os pontos de ca- libragem. Assim: Se os valore de σ e ε forem colocados em um gráfico, no qual a ordenada seja a tensão e a abscissa seja a deformação, a curva resultante será chamada diagrama tensão-deformação. Esse diagrama é muito importante em engenharia, pois per- mite obter dados sobre a resistência, a tração (ou compressão) do material sem considerar o tamanho físico ou formato físico desse material, isto é, sua geometria. Entende-se, no entanto, que dois diagramas tensão-deformação do mesmo material não serão exatamente iguais, uma vez que os resultados dependem de variáveis, tais como composição química do material, im- perfeições microscópicas, a maneira como foi fabricado, a taxa da carga e a temperatura durante o período te teste. A Figura 105 mostra o diagrama tensão deformação de um material dúctil, nesse caso o aço. Figura 105 – Diagrama tensão-deformação 89INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Neste diagrama é possível entender as definições feitas anteriormente de deformação plástica e elástica para um de- terminado material. O comportamento elástico do material ocorre quando as deformações no corpo de prova estão na região sombreada clara da Figura 105. Pode-se observar que a curva na verdade é uma reta na maior parte desta região, de modo que a tensão é proporcional a tensão. Em outras palavras, o material é linear elástico. Se a tensão excede ligeiramente o limite de proporcionalidade, o material pode responder elasticamente, entretanto, a curva a de f letir e achatar como mostrado. Essa condição continua até atingir o limite de elasticidade. Ao atingir este ponto, se a carga for removida, o corpo de prova ainda retorna a sua forma original. O escoamento é um pequeno aumento de tensão acima do limite de elasticidade, resultando em colapso do material, fazendo com que ele se deforme permanentemente. A tensão provocada pelo escoamento é chamada de limite de escoamento, e a deformação ocorrida é denominada deformação plástica. Quando o escoamento termina, pode-se aplicar uma carga adicional que resultará numa curva que cresce continuamente, mas que se torna mais planaaté que alcança a tensão máxima denominada de limite de resistência. O aumento da curva é chamado de endurecimento por deformação. Durante o teste, enquanto o corpo de prova sofre alongamento, a área de sua seção transversal decresce. O decréscimo da área é bastante uniforme ao longo de todo o comprimento de referência do corpo de prova, inclusive até a deformação correspondente ao limite de resistência. Ao atingir o limite de resistência, a área da seção transversal começa a diminuir em uma região localizada no corpo de prova. Esse fenômeno é provocado por deslizamento de planos, formados no interior do material, e as deformações produzidas são provo- cadas por cisalhamento. Como resultado, forma-se uma estricção nessa região, a medida que o corpo de prova se alonga. Como a área da seção transversal nessa região está decrescendo continu- amente, a área menor pode suportar apenas carga decrescente. Portanto, o diagrama tensão-deformação tende a curvar-se para baixo até que o corpo de prova quebre com a tensão de ruptura. 90INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 106 - Máquina realizando ensaio de tração Lei de Hooke Como observamos na seção anterior, os diagramas de ten- são-deformação para a maioria dos materiais da engenharia apre- sentam a relação linear entre tensão e deformação na região de elasticidade. Consequentemente, um aumento na tensão provoca um aumento proporcional na deformação. Esse fato foi desco- berto por Robert Hooke, 1676, com o auxílio de molas, mas é conhecido como lei de Hooke. Matematicamente é expressa por: Ela representa a constante de proporcionalidade, chamada de módulo de elasticidade ou módulo de Young, nome deri- vado de Thomas Young, que publicou uma explicação da lei em 1807. A equação anterior, na verdade, representa a porção inicial da reta do diagrama tensão deformação até o limite de proporcionalidade. Por sua vez, o módulo de elasticidade re- presenta o declive dessa reta. Como a tensão é adimensional, pela equação, usa as mesmas unidades de tensão, tais como pascal, psi ou ksi. Como mostrado na Figura 107, o limite de proporciona- lidade para um tipo particular de aço depende dos componentes de sua liga; entretanto, a maioria dos tipos de aço, desde aço laminado mais mole até o aço para ferramentas mais duro, tem aproximadamente o mesmo módulo de elasticidade, em geral aceito como Eaço = 200 GPa. Valores comuns de E para outros materiais podem ser encontrados em manuais de engenharia e livros de referência. Observe que o módulo de elasticidade é uma propriedade mecânica que representa rigidez de um σ = εE 91INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS material. Materiais muito rígidos, como aço, têm valores altos de E (aço = 200 GPa), enquanto materiais esponjosos como borrachas têm valores mais baixos (Eborr = 0,7 MPa). Figura 107 O módulo de elasticidade é uma das propriedades mecânicas mais importantes no desenvolvimento das equações apresentadas nesse texto. Deve ser sempre lembrado, porém, que E só pode ser usado se o material tem comportamento linear elástico. Além disso, se a tensão no material for maior que o limite de proporcionalidade, o diagrama tensão-deformação deixará de ser uma reta e a equação acima não será mais válida. 92INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios 1. A figura abaixo mostra o comportamento tensão-deformação de engenharia em tração para uma liga de aço. a. Qual o módulo de elasticidade? b. Qual o limite de proporcionalidade? c. Qual o limite de escoamento para uma pré-deformação de 0.002? d. Qual o limite de resistência à tração? 2. O diagrama de tensão de deformação para uma liga de aço com um diâmetro original de 12 mm e um comprimento de diâmetro 50 mm é dado na figura. Determine aproxi- madamente o módulo de elasticidade do material, a carga na amostra que causa a produção e a carga máxima que a amostra suportará. Dado que: d = 12 mm e L = 50 mm 3. Uma barra de aço A36 tem um comprimento de 1250 mm e área de seção transversal de 430 mm2. Determine o com- primento da barra se esta estiver sujeita a uma tensão axial de 25 kN. O material tem comportamento linear elástico. A = 430 mm2 L0=1250mm P = 25kN; σy=250 MPa E = 200 GPa 93INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS TORÇÃO E FLEXÃO Na mecânica os dois principais tipos de fenô- menos que provocam deformações nos corpos são os carregamentos de torção e flexão. Na primeira parte deste capítulo discutiremos os efeitos da aplicação de esforços torcionais em um elemento linear longo, tal como um eixo ou um tubo. Inicialmente consideraremos que o elemento tenha seção transversal circular. 94INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Torção A Torção é a deformação de um sólido em que os planos vizinhos (transversais a um eixo c) sofrem, cada um deles, um deslocamento angular relativo aos outros planos, ou seja, é a deformação que um objeto sofre quando se lhe imprime um movimento de rotação, fazendo-se girar em sentido contrário as suas partes constituintes. Deformação por torção de eixo circular Torque é um momento que tende a torcer seu membro em torno de seu eixo longitudinal. Seu efeito é de interesse principal no projeto de eixos ou eixos de acionamento usados em veículos e maquinaria. Fisicamente, podemos ilustrar o que acontece quando um torque é aplicado em um eixo circular, considerando o eixo como feito de um material altamente deformável, como borracha (Figura 108 (a)). Quando o tor- que é aplicado, os círculos e as retas longitudinais da grelha, originalmente marcada no eixo, tendem a se distorcer com o padrão mostrado na Figura 108 (b). Por inspeção, a torção faz os círculos permanecerem como círculos e cada reta longitu- dinal da grelha deforma-se em uma hélice que intercepta os círculos em ângulos iguais. Além disso, as seções transversais das extremidades do eixo permanecem planas, ou seja, não entortam nem incham ou se contraem, e as retas radiais dessas extremidades permanecem retas durante a deformação Figura 108 (b). Figura 108 95INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A partir dessas observações, podemos supor que, se o ângulo de rotação for pequeno, o comprimento do eixo e seu raio permanecerão inalterados. Se o eixo estiver preso em uma extremidade e for aplicado um torque na outra extremidade, o plano sombreado da Figura 109 se distorcerá e assumirá uma forma oblíqua como mostrado. Nesse caso, uma linha radial localizada na seção transversal a uma distância x da extremidade fixa do eixo girará por meio de um ângulo ø(x). O ângulo ø(x), assim definido, é denominado ângulo de torção. Ele depende da posição x e varia ao longo do eixo como mostrado. Figura 109 Figura 110 - Deformação do elemento retangular quando a barro de borracha é submetida a um torque Quando um torque externo é aplicado a um eixo, cria um torque interno correspondente no interior do eixo. Nesta seção, desenvolveremos uma equação que relacione o torque interno com a distribuição das tensões de cisalhamento na seção trans- versal de um eixo ou tubo circular. Se o material for linear elástico, então a lei de Hooke apli- ca-se e, consequentemente, como observado anteriormente, a variação na deformação linear por cisalhamento leva a uma variação linear na tensão de cisalhamento ao longo de qualquer reta radial na seção transversal. Assim como a variação tensão deformação pra um eixo maciço, τ varia de zero na linha de centro longitudinal do eixo a um valor máximo, τmax, em seu 96INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS limite externo. Esta variação é mostrada na Figura 111 para faces dianteiras de um número selecionado de elementos, loca- lizados em um posição radial intermediária ρ e na extremidade do raio c. devido a proporcionalidade dos triângulos, ou pela lei de Hooke, podemos escrever: Figura 111 – Tensão de cisalhamento varia linearmente ao longo de cada reta radial da seção transversal. Essaequação expressa a distribuição cisalhamento tensão como uma função da posição radial ρ do elemento; em outras palavras, ela define a distribuição de tensão na seção transversal em termos da geometria do eixo. Com ela, podemos satisfazer de que o torque produzido pela distribuição de tensão em toda a seção transversal seja equivalente ao torque interno resultante T na seção, o que manterá o eixo em equilíbrio (Figura 111). Especificamente, cada elemento de área dA, localizado em ρ, está submetido a uma força dF = τdA. O toque produzido por essa força é dT = ρ(τdA). Temos, portanto, para toda a seção transversal: Como τmáx/x é constante, 97INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A integral dessa equação depende somente da geometria do eixo. Ela representa o momento de inércia polar da área da seção transversal, calculando em torno da linha de centro longitudinal do eixo. Usaremos o símbolo J para esse valor, assim a equação anterior pode ser escrita de forma mais com- pacta, ou seja: Onde: A tensão de cisalhamento é determinada na distância in- termediária ρ a partir de uma equação semelhante obtida por meio das equações anteriores: Qualquer uma das duas equações anteriores é geralmente denominada fórmula da torção. Lembre-se de que ela é usada somente se o eixo for circular e o material for homogêneo e comportar-se de maneira linear elástica. Se o eixo tiver uma seção transversal circular maciça, o momento de inércia polar é determinado usando um elemento de área sob a forma de anel infinitesimal com espessura dρ e circunferência 2πρ (Figura 112). Nesse anel: τmáx = tensão de cisalhamento máxima no eixo, que ocorre na superfície externa T = toque interno resultante que atua na seção transversal. Seu valor é determinado pelo método das seções e pela equação do momento de equilíbrio aplicada em torno da linha de centro longitudinal do eixo J = momento de inércia polar da área de seção transversal c = raio externo do eixo 98INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 112 Observe que J é uma propriedade geométrica da área do cír- culo e é sempre positiva. As unidades usadas para a sua medida são mm4. O toque interno não só desenvolve uma distribuição linear da tensão de cisalhamento ao longo de cada reta radial do plano da área da seção transversal, como também desenvolve uma distribuição da tensão de cisalhamento associada ao longo de um plano axial Figura 113 (b). Figura 113 É interessante observar que, devido a essa distribuição axial da tensão de cisalhamento, os eixos feitos de madeira tendem a rachar ao longo do plano axial quando submetidos a torque excessivo (Figura 114). Isso acontece porque a madeira é um material anisotrópico. Sua resistência ao cisalhamento no sentido paralelo aos grãos ou fibras, na direção da linha de centro do eixo, é muito menor do que sua resistência no sentido perpendicular as fibras, na direção do plano transversal. Figura 114 Se um eixo tem seção transversal tubular (eixo vazado), como raio interno ci e raio externo ce, pela equação anterior, determi- namos seu momento de inércia polar subtraindo o J para o eixo de raio ci daquele determinado para o eixo de raio ce. O resultado é: 99INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Como no eixo maciço, a tensão de cisalhamento distribuída sobre a área da seção transversal varia linearmente ao longo de qualquer reta radial (Figura 115 (a)). Além disso, a tensão de cisalhamento varia ao longo do plano axial do mesmo modo (Figura 115 (b)). Figura 115 Exemplo: O tubo mostrado na Figura 116 tem diâmetro interno de 80 mm e diâmetro externo de 100 mm. Supondo que sua extremidade seja apertada contra o apoio em A por meio de um torquímetro em B, determinar a tensão de cisalhamento desenvolvida no material, nas paredes internas e externas, ao longo da parede central do tubo, quando são aplicadas forças de 80 N aos torquímetros. Figura 116 Para o cálculo do toque interno é feito um corte na locali- zação intermediária C ao longo do eixo do tubo Figura 117. A única incógnita na seção é o torque interno T. Os equilíbrios da força e do momento em torno dos eixos x e z são satisfeitos. Requer: 100INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 117 A propriedade da seção transversal ou momento de inércia polar da área da seção transversal é: Em qualquer ponto localizado na superfície externa do tubo, ρ = ce = 0,05m, temos: Em qualquer pondo localizado na superfície interna do tubo ρ = ci = 0,04m, de modo que: Para mostras como essas, tensões atuam em pontos represen- tativos, como por exemplo, D e E na área da seção transversal. Primeiro vamos ver a seção transversal pela frente do segmento CA do tubo Figura 116. Nessa seção (Figura 118), o torque interno resultante é igual, mas oposto, como mostrado na Figura 117. As tensões de cisalhamento D e E contribuem para esse torque e atuam, portanto, nas faces sombreadas dos elementos nas direções mostradas. Como consequência, observe como os componentes cisalhamento-tensão atuam sobre as outras três faces. Além do mais, como o topo da face de D e a face interna de E estão em regiões sem tensões localizadas nas paredes externa e interna do tubo, não pode existir tensão de cisalhamento nessas faces nem nas outras faces correspondentes dos elementos. Figura 118 101INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Flexão Nesta seção discutiremos as deformações que ocorrem quando uma viga prismática, feita de material homogêneo, é submetida a f lexão. A discussão ficará limitada a vigas com área da seção transversal simétrica em relação a um eixo, nas quais o momento f letor é aplicado em torno de um eixo per- pendicular ao eixo de simetria, como mostrado na Figura 119. Figura 119 Figura 120 - Distorção das retas devido a flexão da barra de borracha Usando um material altamente deformável como a borra- cha, podemos ilustrar fisicamente o que acontece quando um membro prismático reto é submetido a um momento f letor. Consideremos, por exemplo, a barra sem deformação da Figu- ra 121 (a), que tem seção transversal quadrada e está marada com uma grade de retas longitudinais e transversais. Quando é aplicado um momento f letor, ele tende a distorcer as retas no padrão, mostrada na Figura 121 (b). Como se vê, as retas longitudinais tornam-se curvas e as retas transversais perma- necem retas, mas sofre rotação. 102INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 121 O comportamento de qualquer barra deformável sujeita a momento f letor faz o material da parte inferior esticar-se e o da parte superior comprimir-se. Consequentemente, entre as duas regiões deve existir uma superfície, chamada de superfície neutra, na qual as fibras longitudinais do material não sofrem mudanças de comprimento (Figura 119). Com base nessas observações, estabelecemos as três hipóteses seguintes em re- lação a maneira como a tensão deforma o material. Primeiro, o eixo longitudinal x, que fica na superfície neutra (Figura 122(a)) não sofre qualquer mudança de comprimento. Em vez disso, o momento tenderá a deformar a viga de modo que a reta torna-se uma curva localizada no plano de simetria x-y (neutra (Figura 122(b)). Figura 122 Segundo todas as seções transversais da viga permanecem planas e perpendiculares ao eixo longitudinal durante a defor- mação. E, terceiro, qualquer deformação da seção transversal em seu próprio plano, como observado na Figura 121 (b), será desprezada. Em particular, o eixo z, localizado no plano da seção transversal e em torno do qual a seção transversal gira, é chamado de eixo neutro (Figura 122(b)). A fim de mostrar como a distorção deformará o material, isolaremos um segmento da viga localizado a distância x ao longo do comprimento da viga e com espessura não defor- 103INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS mada Δx (Figura 122(a)). Esse elemento, removido da viga, é mostrado em vista lateral nas posições não deformada e defor- mada na Figura 123. Observeque qualquer segmento de reta Δx localizado na superfície neutra não muda de comprimen- to, enquanto qualquer segmento de reta Δs localizado a uma distância arbitrária y acima da superfície neutra contrai-se e torna-se Δs’ após a deformação. Por definição, a deformação normal ao longo de Δs é determinada pela equação: Figura 123 Representaremos agora a deformação em termos da ordena- da y do segmento e do raio de curvatura ρ do eixo longitudinal do elemento. Antes da deformação Δs = Δx Figura 123 (a). Após a deformação, Δx tem raio de curvatura ρ, com centro de curvatura no ponto O’ (Figura 123 (b)). Como Δθ define o ângulo entre os lados da seção transversal do elemento, Δx = Δs = ρ. Da mesma maneira, o comprimento deformado de Δs torna-se Δs’ = (ρ - y)Δθ. Substituindo pela equação anterior, obtemos: ou Esse resultado importante indica que a deformação normal longitudinal de qualquer elemento da viga depende de sua lo- calização y na seção transversal e do raio de curvatura do eixo longitudinal da viga nesse ponto. Em outras palavras, para qualquer seção transversal específica, a deformação normal 104INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS longitudinal varia linearmente com y a partir do eixo neutro. Ocorre concentração (-ϵ) nas fibras localizadas acima do eixo neutro (+y), enquanto ocorre alongamento (+ϵ) nas fibras loca- lizadas abaixo do eixo (-Y). A variação da deformação na seção transversal é mostrada na Figura 124. Neste caso, a deformação máxima ocorre na fibra mais externa, localizada à distância c do eixo neutro. É possível usar a equação anterior, visto que ϵmax = c/ρ, então: Figura 124 De modo que: Essa deformação normal depende apenas das hipóteses es- tabelecidas em relação a deformação. Desde que seja aplicado somente um momento a viga, é razoável supor adicionalmente que o momento provoca tensão normal apenas na direção longi- tudinal ou de x. Todos os outros componentes de cisalhamento são nulos, visto que a superfície da viga está livre de qualquer outra carga. É esse estado uniaxial de tensão que faz com que o material tenha a componente ϵx(σx = Eϵx) da deformação normal longitudinal, definido pela equação anterior. Além disso, pelo coeficiente de Poisson, também deve haver o plano da área da seção transversal, apesar de termos desprezado essas deformações. Tais deformações, no entanto, fazem com que as dimensões da seção transversal se tornem menores abaixo do eixo neutro e maiores acima dele. Por exemplo: se a viga tiver seção transver- sal quadrada, na verdade ela se deformará como na Figura 125. 105INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 125 Vamos supor que o material se comporta de maneira line- ar elástica, de modo que a lei de Hooke a ele se aplica. Uma variação linear da deformação normal (Figura 126(a)) deve ser a consequência de uma variação linear na tensão normal (Figura 126(b)). Então, como a variação da deformação, σ varia de zero no eixo neutro do elemento a um valor máximo, σmax, a distância c mais afastada do eixo neutro. Devido a proporcionalidade dos triângulos (Figura 126(b)), ou usando a lei de Hooke, e a equação anterior podemos escrever: Figura 126 Essa equação representa a distribuição de tensão sobre a área da seção transversal. A convenção de sinal estabelecida é significativa neste caso. No caso de M positivo, que atua na direção de +z, valores positivos de y resultam em valores negativos para σ, em uma tensão de compressão. De modo similar, valores negativos de y resultam em valores positivos para σ. Se um elemento de volume do material for selecionado em um ponto específico da seção transversal, apenas as tensões normais de tração ou compressão atuarão sobre ele. O elemento localizado em +y, é mostrado na Figura 127. Figura 127 106INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Podemos localizar na posição do eixo neutro na seção transversal, satisfazendo a condição de que a força resultante produzida pela distribuição de tensão sobre a seção transversal deve ser igual a zero. Observando que a força dF = σdA atua sobre o elemento arbitrário dA na Figura 127, requer-se que: Como σmax/c é diferente de zero, então: Em outras palavras, o primeiro momento da área da se- ção transversal do elemento deve ser nulo. Essa condição só é satisfeita se o eixo neutro também for o eixo horizontal de simetria da seção transversal. Podemos determinar a tensão na viga pelo requisito de que o momento interno M seja igual ao momento produzido pela distribuição de tensão em torno do eixo neutro. O momento dF em torno do eixo neutro, na Figura 127, é dM = ydF. Esse momento é positivo, visto que pela regra da mão direita, o polegar está direcionado no sentido positivo do eixo z quando os dedos são fechados no sentido de rotação provocada por dM. Como dF = σdA, usando a equação anterior, temos para toda a seção: A integral representa o momento de inércia da área da seção transversal, calculado em torno do eixo neutro. Usamos I como símbolo desse valor. Portanto, a equação recém mostrada pode ser resolvida em σmax e escrita de forma geral como: 107INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Onde: Como σmax/c = σ/y, a tensão normal na distância interme- diária y pode ser determinada por uma equação semelhante a anterior. Temos: Observe que o sinal negativo é necessário, pois está de acordo com o estabelecido para os eixos x, y e z. Pela regra da mão direita, M é positivo ao longo do eixo, +z,y é positivo para cima e, portanto, σ deve ser negativo (compressão), uma vez que atua na direção negativa de x (Figura 127). Qualquer uma das duas equações anteriores é denomina- da fórmula da f lexão. Ela é usada para determinar a tensão normal em um membro reto, como seção transversal simétrica em relação a um eixo, e no qual o momento seja aplicado no sentido perpendicular àquele eixo. Exemplo A viga simplesmente apoiada da Figura 128a tem área da seção transversal mostrada Figura 128b. Determinar a tensão de f lexão máxima absoluta na viga e desenhar a distribuição de tensão na seção transversal nessa localização. σ_max= tensão normal máxima no elemento, que ocorre no ponto da área da seção transversal mais afastado do eixo neutro; M= momento interno resultante, determinado pelo método das seções e pelas equações de equilíbrio, e calculado em torno do eixo neutro da seção transversal; I=momento de inércia da área da seção transversal calculado em torno do eixo neutro; c= distância perpendicular do eixo neutro ao ponto mais afastado desse eixo, no qual σ_max atua. 108INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 128 Devido a simetria, o centroide C e, portanto, o eixo neutro passa a meia altura da viga (Figura 128b). A área é subdividi- da nas três partes mostradas e o momento de inércia de cada parte é calculado em torno do eixo neutro pelo teorema do eixo paralelo. Segundo a fórmula da f lexão, com c=170 mm, a tensão de f lexão máxima absoluta é: Na Figura 128d, a distribuição de tensão é mostrada em duas e três dimensões. Observe como a tensão em cada ponto da seção transversal desenvolve uma força que contribui com o momento dM em torno do eixo neutro com a mesma direção de M. Especificamente no ponto By,B = 150 mm e, assim: 109INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exercícios: 1. Um eixo é feito de uma liga de aço com uma tensão de cisalhamento admissível τadm = 84 MPa. Se o diâmetro do eixo é 37,5 mm, determine o torque máximo T que pode ser transmitido. Qual será o máximo torque T se um furo de 25 mm for feito no eixo? 2. O eixo sólido de raio r é submetido a um torque T. Determinar o raio r do núcleo interno do eixo que resiste a metade do torque aplicado (T/2). Resolva-o usando a fórmula da torção. 3. A montagem da figura abaixo consiste em duas seções tu- bulares de tubos de aço galvanizado, conectado pelo acopla- mento B. O tubo menor tem um diâmetro externo de 18,75 mm e um diâmetro interno de 17 mm, o tubo maior temum diâmetro externo de 25 mm e um interno de 21,5 mm. Se o tubo é firmemente preso a parede em C, determine a maior tensão de cisalhamento em cada uma das seções do tubo para as forças aplicadas, como mostrado na imagem. 110INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 4. A viga mostrada na figura abaixo tem a área da seção trans- versal com perfil em forma de U. Determinar a tensão de flexão máxima que ocorre na seção da viga. 5. O elemento da seção transversal retangular foi projetado para resistir a um momento de 40 N.m. A fim de aumentar sua resistência e rigidez, propõe-se acrescentar duas pequenas nervuras na sua parte inferior. Determinar a tensão normal máxima no elemento para ambos os casos. 6. A peça retangular tem as dimensões mostrada na figura abaixo. Ela é usada para resistir a um momento de flexão de M = 2 kN.m. Determine a tensão máxima quando este momento é aplicado sobre o eixo z e sobre o eixo y. 111INTRODUÇÃO À RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS REFERÊNCIAS BEER, Ferdinand Pierre; JOHNSTON, Elwood Russell. Resistência dos materiais. McGraw-Hill, 1982. BEER, Ferdinand P. et al. Mecânica vetorial para engenheiros-estática. AMGH Editora, 2012. CALLISTER, William D. et al. Materials science and engineering: an introduction. New York: John wiley & sons, 2007. HIBBELER, Russell C. et al. Mechanics of materials. Prentice Hall International, Inc, 1997 INTRODUÇÃO CONCEITOS FUNDAMENTAIS Conceitos fundamentais Forças – Princípios básicos Momentos de uma força – Princípios básicos Sistemas de forças Operações vetoriais Síntese EQUILÍBRIO ESTÁTICO DOS CORPOS RÍGIDOS Estática Estruturas Equilíbrio estático Diagrama de corpo livre Equilíbrio em duas dimensões Estaticidade e estabilidade de estruturas planas Equilíbrio de um corpo rígido Síntese PROPRIEDADES GEOMÉTRICAS E MOMENTOS DE INÉRCIA Centroide de uma área Momento de inércia de uma área Teoremas dos eixos paralelos ou teorema de Steiner Síntese EQUILÍBRIO INTERNO E SOLICITAÇÕES INTERNAS Equilíbrio Interno Cálculo das solicitações internas Diagramas de força cortante e momento fletor Síntese Tensões, tensões admissíveis, deformações e Lei de Hooke Tensão Tensão admissível Deformação Lei de Hooke Torção e flexão Torção Flexão REFERÊNCIAS