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AULA 6 TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL PARA CASAIS Profª Carolina Miranda do Amaral e Silva 2 INTRODUÇÃO Métodos de Abordagem Clínica e Técnicas Nesta aula abordaremos o plano de tratamento e a utilização de técnicas que, didaticamente, serão divididas em técnicas cognitivas e técnicas comportamentais. Além disso, discutiremos Mindfulness e seus benefícios na terapia de casal e sexual. Por fim, nosso debate apresenta a abordagem de recaídas e finalização do processo psicoterápico. TEMA 1 – PLANO DE TRATAMENTO Assim que acontece a fase de avaliação, é estabelecido pelo terapeuta um plano estruturado para o tratamento, com os alvos a serem tratados, objetivos e intervenções estabelecidas. Com o progresso do tratamento, esse plano pode ser modificado, pois, como já vimos anteriormente, a avaliação faz parte de um continuum, o que pode acrescentar ou alterar os objetivos terapêuticos. Segundo Dattilio (2011), os manuais planejadores de tratamentos oferecem aos profissionais uma diretriz para lidar com metas, objetivos e intervenções no tratamento com casais, sendo um dos métodos mais estruturados e possíveis de modificar para aplicar a cada caso. O autor apresenta dois manuais como exemplos, Dattilio 1998 e 2002. A conceitualização é importante, justamente por determinar o caminho mais eficiente para o processo de tratamento, além de auxiliar na decisão das metas a serem trabalhadas e intervenções terapêuticas realizadas (Knapp; Beck, 2008 citado por Neufeld; Cavenage, 2010). O terapeuta cognitivo-comportamental leva em conta o entendimento cognitivo do paciente ao elaborar o plano de tratamento adequado, o que garante um planejamento estratégico com resultados mais eficazes (Neufeld; Cavenage, 2010). Como a conceitualização cognitiva é feita de maneira colaborativa entre paciente e profissional, fica facilitada a possibilidade de o paciente apontar possíveis falhas, visto que está participando ativamente do processo, com tendência a refletir de maneira mais crítica. Contudo, Beck (1997 citado por Neufeld; Cavenage, 2010), discorre sobre o próprio terapeuta decidir quando, como e quanto da conceitualização será compartilhada com o paciente, sendo importante estar atento se os dados apresentados fazem sentido para o cliente. 3 Para Knapp e Beck (2008), o desenvolvimento da TC aplica-se tanto a sessões individuais, como para famílias, adultos, adolescentes e crianças em diferentes contextos clínicos. Segundo os autores, nas sessões de TCC existe uma estruturação, em que o profissional tem um papel ativo para auxiliar a identificação e concentração do paciente nas áreas-chave, com proposta e ensaio de técnicas cognitivas e comportamentais específicas, e planejamento colaborativo de tarefas entre sessões. É discutido em conjunto com o paciente, entendendo que em nosso caso o paciente é um casal, o plano de tratamento para todo o processo terapêutico e os temas de cada sessão. Corroborando o exposto, para Dattilio (2011), é importante educar o casal sobre o modelo de tratamento, pois o casal precisa entender princípios e métodos para a estrutura e natureza colaborativa da abordagem. Uma característica importante para o terapeuta cognitivista é ser um bom estrategista para planejar os procedimentos terapêuticos que desempenhem mais possibilidades de mudança para cada paciente (Knapp; Beck, 2008). A TCC é voltada a técnicas de soluções de problemas, e com isso os pacientes aprendem sobre a estruturação, como definir o problema, como gerar maneiras alternativas de resolvê-las e implementar soluções que possam ser alternativas. No plano de tratamento, uma ferramenta necessária pode ser o treinamento de habilidades sociais. Ao pensar no plano de tratamento, podemos organizar, conforme apresentado por Dattilio (2011), quando, inicialmente, o terapeuta permitirá que o paciente compreenda de maneira didática o modelo e, periodicamente, se referirá aos conceitos específicos do processo terapêutico. O terapeuta, além de psicoeducar durante as sessões, pode solicitar a leitura de partes de livros e explicar sobre a importância das tarefas de casa. O modelo preza por manter as partes sintonizadas ao processo de tratamento e por reforçar que cada um assuma as responsabilidades por seus pensamentos e ações. O terapeuta comunica ao casal a estruturação das sessões de modo a manter o processo concentrado no alcance dos objetivos analisados durante a avaliação. O estabelecimento de uma agenda explícita no início de cada sessão e de regras básicas para o comportamento dos cônjuges dentro e fora das sessões fazem parte do processo de estruturação. Comportamento físico ou verbal abusivo são inaceitáveis no processo terapêutico. Para Dattilio (2011), a postura do terapeuta, ao introduzir o modelo terapêutico, não deve ser insistente, pois nem 4 todos os casais se adaptam à versão rígida do modelo cognitivo-comportamental, então os profissionais devem estar atentos a adaptações. 1.1 Casais em crise Alguns casais chegam ao consultório em crise, e isso pode interferir no curso típico do plano para tratamento. Nesses casos, não é possível conduzir uma história detalhada ou formar uma conceituação de caso. Neutralizar a explosividade e os comportamentos impulsivos em uma crise conjugal são essenciais antes de entrar no processo terapêutico propriamente dito. Dattilio (2011) aponta que a crise pode ser um estímulo para mudança, e o casal pode aprender a lidar efetivamente com a crise, sendo menos provável que sabotem a terapia. Contudo, o terapeuta precisa neutralizar a crise e logo de início usar estratégias cognitivas e comportamentais. O autor traz as estratégias como similares às sugeridas para casos de internação. Dattilio (2011) as adaptou da seguinte forma para o contexto conjugal: • Definição da crise: tentar estabelecer acordo sobre a natureza do problema, avaliando seu impacto e processamento. • Manter postura definida e diretiva: tentar introduzir alguma mudança ou modificação de sintomas para lidarem com a situação. • Reunir e entender a dinâmica do casal e seus padrões para lidar com a crise: aprofundar em questões relativas às famílias de origem ou relacionamentos passados. • Identificação de esquemas herdados das famílias de origem relativos à crise ou situações similares e como percebem a situação. • Introdução do conceito de pensamentos automáticos e esquemas por meio de psicoeducação. • Introdução do uso de acordos de contrato comportamental, de métodos para apoio do casal e de alternativas para sessões adicionais, como a busca por médicos quando necessário. • Introduzir contratos comportamentais como tentativa para neutralizar a crise. • Movimento para a reestruturação de esquemas permanentes e que gerem mudança comportamental. 5 • Trabalhar a assertividade ao lidar com habilidades de comunicação e melhorar estratégias de resolução de problemas. • Reforçar implementação de estratégias que previnam futuras situações de crise. • Determinação, caso necessário, de aconselhamento ou terapia contínua e realizar encaminhamentos apropriados. A partir disso, é possível avaliar o processo terapêutico para a melhora significativa da satisfação e qualidade conjugal. Nos próximos temas veremos as técnicas utilizadas na abordagem de casais, separadas em cognitivas e comportamentais, apenas por razões didáticas, pois como apontam Knapp e Beck (2008), as técnicas afetam tanto processos de pensamentos quanto padrões de comportamentos no paciente, ou seja, uma mudança cognitiva gera uma mudança comportamental, e vice-versa. TEMA 2 – TÉCNICAS COGNITIVAS Para mudar cognições distorcidas ou extremas dos cônjuges sobre si e sobre o outro, o pré-requisito essencial é o aumento da capacidade em identificar os pensamentos automáticos. O terapeuta iniciacom a introdução do conceito de pensamentos automáticos, treina-os para observar os padrões de pensamentos durante as sessões associadas às reações emocionais e comportamentais negativas na relação. Um recurso utilizado com muita eficácia para que o cliente melhore sua habilidade em identificar pensamentos automáticos é o caderno de anotações para uso entre as sessões. No caderno são feitas as anotações que descrevem brevemente em quais situações se sentem estressados ou engajados em conflitos no relacionamento. Assim, o paciente registra suas reações emocionais e comportamentais, possibilitando a percepção da ligação entre pensamentos automáticos, reações emocionais e comportamentais, ajudando-os a compreender questões de macronível, como limites que perturbam a relação (Dattilio, 2011). Para isso, o profissional pode utilizar o Registro Diário dos Pensamentos Disfuncionais (Beck et al., 1979) ou versões modificadas, como o Registro do Pensamento Disfuncional (Dysfunctional Thought Record), que encontramos em livros como Wright et al., 2008 e, mais elaboradamente, em Greenberger e Padesky (1999). 6 Essas técnicas treinam os cônjuges a assumirem a responsabilidade por suas ações e tornar consciente que as reações emocionais e comportamentais negativas em relação ao outro são potencialmente controláveis ao se examinar as cognições associadas. Além do mais, é possível utilizar a técnica para que os cônjuges examinem e indiquem os vínculos entre pensamentos, emoções e comportamentos, explorando cognições alternativas que produzam reações emocionais e comportamentais diferenciadas das que aconteceram na situação analisada. De acordo com Dattilio (2011), é comum que o casal mantenha crenças e conceituações rígidas sobre algumas questões, que quando violadas por novas informações contraditórias, tornam-se mais rígidas e radiais, ao utilizar-se da racionalização como mecanismo de defesa, em vez de ponderar ou incorporar e ajustar as novas informações ao seu esquema. Os cônjuges, às vezes, relutam em mudar o pensamento sobre a família de origem por julgarem que seja desrespeitoso, ou acreditam que manter o sistema de crenças seja indicativo de lealdade à família de origem. Isso pode acontecer mesmo quando o novo pensamento é mais racional e funcional. A dramatização e o trabalho com imagens mentais podem ser úteis para os cônjuges restaurarem lembranças de certas ocasiões, pois essas técnicas reavivam reações dos parceiros, tornando-se, possivelmente, uma interação ao vivo. Pelo exercício da dramatização, os cônjuges podem ser treinados para a mudança de papéis, o que trabalha o aumento da empatia por experiências do outro dentro da relação (Epstein; Baucom, 2002). Assim, é possível proporcionar novas informações capazes de modificar a imagem que um tem do outro (Dattilio, 2011). Na busca pela terapia, com certa frequência, os cônjuges desenvolveram um foco estreito nos problemas conjugais, então é importante que o terapeuta solicite lembranças do passado relacionadas a pensamentos, emoções e comportamentos do início da relação, para trabalhar o contraste entre passado e presente, com o objetivo de recuperar interações positivas. Contudo, as técnicas de formação de imagens mentais precisam ser utilizadas com cautela, de maneira habilidosa, e evitadas quando há história de abuso verbal ou físico. A habilidade do terapeuta acaba sendo fundamental para proporcionar melhor oportunidade para mudança dos padrões familiares (Epstein; Baucom, 2002). 7 Como já discutido, o modelo da TCC aplica-se individualmente, em casais, famílias ou grupos. Portanto, adaptamos para casais o que foi apresentado por Knapp e Beck (2008). Para os autores, o tratamento inicial é focado no aumento da consciência dos pensamentos automáticos por parte do paciente e, posteriormente, haverá um foco nas crenças nucleares e subjacentes. Inicialmente são utilizadas as técnicas cognitivas, pois grande parte das pessoas não tem consciência dos pensamentos automáticos negativos que precedem sentimentos desagradáveis e inibições comportamentais, nem que as emoções dizem respeito ao conteúdo dos pensamentos. Knapp e Beck (2008) trazem que pelo treinamento sistemático os pacientes podem localizar os tipos de pensamentos que ocorreram antes de suas emoções, um comportamento e uma reação fisiológica consequente. A técnica da sequência ABC de Ellis é importante para tal objetivo. A sequência apresentada por Knapp e Beck (2008) para a abordagem colaborativa e psicoeducativa é descrita como: 1. Monitoramento e identificação de pensamentos automáticos 2. Reconhecimento das relações entre cognições, afeto e comportamento 3. Testagem da validade dos pensamentos automáticos e crenças nucleares 4. Correção das conceitualizações tendenciosas, e substituição dos pensamentos distorcidos por cognições mais realistas 5. Identificação e alteração das crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes a padrões disfuncionais de pensamentos. 2.1 Técnicas cognitivas e queixas sexuais Em relação às queixas sexuais, os indivíduos frequentemente apresentam ansiedade de desempenho, afetos negativos e expectativa de falha. Na avaliação confirma-se a influência das distorções cognitivas e distração cognitiva, pois o foco de atenção não é nos estímulos excitatórios, mas nos estímulos não excitatórios, na relação sexual. As técnicas cognitivas que têm se mostrado eficientes são: monitoramento dos pensamentos, reestruturação cognitiva, imagens mentais e treino de atenção durante a atividade sexual. A psicoeducação também é essencial para o trabalho de desconstrução de crenças sexuais e mitos. 8 TEMA 3 – TÉCNICAS COMPORTAMENTAIS Em pacientes com necessidade de promover a ativação comportamental, trabalha-se inicialmente as técnicas comportamentais. Muitos pacientes precisam progredir em pequenos passos. Por isso, uma série de prescrições comportamentais de tarefas graduais são passadas para os pacientes, de maneira progressiva, buscando-se promover experiências sem sobrecarregá-los com tarefas maiores do que as capacidades de enfrentamento atuais. Dentro das técnicas comportamentais estão: agendamento de atividades, avaliações de prazer e habilidades, prescrições comportamentais de tarefas graduais, experimentos de teste da realidade, role-play, treinamento de habilidades sociais e técnicas de solução de problemas (Knapp; Beck, 2008). Segundo Del Prette e Del Prette, “muitos dos problemas conjugais, à exceção daqueles de etiologia sexual, têm origens nos déficits interpessoais e nas dificuldades generalizadas de expressão de sentimentos positivos” (2012, p.166). Cardoso e Del Prette (2017) consideram que o aperfeiçoamento das habilidades sociais dos cônjuges seja uma forma de melhorar o compromisso com o relacionamento. As habilidades sociais compreendem os comportamentos que contribuem para diminuir os conflitos e aumentar a satisfação nas relações conjugais (Del Prette; Del Prette, 2014 citados por Cardoso e Del Prette, 2017). Entre as habilidades relacionadas à satisfação conjugal, destacam-se: habilidades emocionais, autorregulação e comunicação, responsividade ao parceiro, resolução de problemas e comunicação, resolução de problemas e expressão de afetividade e habilidades sexuais (Cardoso; Del Prette, 2017). Gottman e Rushe (1995), por meio de pesquisas sobre a efetividade de intervenções terapêuticas conjugais, identificaram algumas habilidades cruciais e com isso chegaram ao que denominaram de Terapia Conjugal Mínima (Minimal Marital Therapy). De acordo com modelo de intervenção proposto por Gottman e Rushe (1995), os recursos mínimos são os seguintes: • tranquilizar-se e observar os estados fisiológicos próprios e do cônjuge (diffuse physiological arousal – DPA); • não ser defensivo na escuta e utilizar respostasempáticas; • validar verbalmente e não-verbalmente na comunicação; 9 • o terapeuta deve oferecer recursos alternativos para os casais lidarem com os conflitos ocasionados pelo ciclo corrosivo, conhecido como Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, já abordado anteriormente; • atenção aos modos de persuasão adaptativos, que evitem afirmações sobre “o outro estar errado”. Gottman (1994) relata a importância da comunicação demonstrada nos estudos com casais que permaneceram casados. Como já vimos em aulas anteriores, esses temas estão fortemente associados à satisfação conjugal. Para Gottman (1994), o comportamento emocional, a cognição, a percepção e a fisiologia são a essência do equilíbrio nos relacionamentos, e cada parceiro estabelece o equilíbrio entre aspectos positivos e negativos em cada um desses aspectos, determinando o destino do relacionamento. Para Silva e Vandenberghe (2008), ensinar habilidades de comunicação e solução de problemas é parte da terapia comportamental para casais, o que diversos autores corroboram, como já discutimos anteriormente. Os casais se questionam, muitas vezes, sobre a dificuldade de comunicação entre si, enquanto essa flui nos outros relacionamentos interpessoais. De acordo com Otero e Guerrelhas (2003 citados por Silva; Vandenberghe, 2008), entre o casal, a comunicação possui características e componentes diferentes, pois entre o casal há mais interrupções, fere-se mais os sentimentos um do outro e são mais rudes entre si (Gottman et al, 1976). As habilidades de comunicação, para muitos pesquisadores (McKay et al, 2006 citado por Dattilio, 2011), estão entre os fundamentos dos relacionamentos funcionais. O treinamento de comunicação, cuja função é melhorar as habilidades de expressão de pensamentos e emoções dos cônjuges, tornou-se uma das intervenções mais comuns na terapia para casais. Sherman et al. (1991) destacam alguns aspectos essenciais no treino de comunicação, tais como: criar um ambiente seguro; enviar mensagens claras sobre o que se quer, sem focar no que não se quer; dar e não reter informações; ser objetivo, não vago; informar sem a expectativa que o outro saiba; eliminar mensagens de duplo sentido ou ríspidas; e corrigir suposições sobre o que eu acho que o outro acha de mim. Os autores ainda apontam a importância de o casal utilizar a mesma linguagem para se comunicar. Exemplificando: Ana reclama da ausência de seu marido, João, que diz passar um tempo significativo ao lado da esposa. A simples presença, para alguém que gostaria de fazer algo 10 conjunto, pode ter pouco significado. Os sentimentos de Ana precisam ficar expressos na linguagem de João, caso contrário seu objetivo não será totalmente alcançado, pois ele não a entenderá (adaptado de Silva; Vandenberghe, 2008). Com o treinamento da comunicação ocorre um impacto positivo sobre as interações comportamentais problemáticas, o que contribui para a experiência regulada e a emoção expressiva, e reduz as cognições distorcidas dentro da relação conjugal, o que faz da técnica essencial na TCC (Dattilio, 2011). De acordo com Rose (1977), a meta com o treino de comunicação é melhorar a correspondência entre o significado do que o ouvinte atribuiu aos estímulos recebidos, e aquilo que o falante queria passar. Nas oficinas de habilidades de comunicação desenvolvidas por Rose (1977), três características para uma comunicação efetiva são abordadas: consciência da intenção, abertura para feedback; e qualidade positiva ou negativa da comunicação. A maioria dos programas de treinamento comunicacional enfatizam o papel do terapeuta em ajudar os cônjuges a transformar uma comunicação linear em circular, e o conteúdo para processo de comunicação, objetivando a promoção de um intercâmbio saudável. Todo o processo pode ser desenvolvido durante um diálogo terapêutico, para que o terapeuta possa trazer à tona os déficits de comunicação e sugerir estratégias para a melhora. O ouvinte desenvolve habilidades de escuta, entendendo claramente o que é dito e a capacidade de resposta na conversa circular, além de uma escuta empática demonstrando atenção pelo comportamento não-verbal. O falante precisa identificar as necessidades do ouvinte e reconhecer a subjetividade de suas próprias visões, de forma a descrever suas emoções e pensamentos, descrevendo pontos positivos e problemas, utilizando termos específicos a globais, sendo conciso para o ouvinte compreender, usando coerência e momento adequado (Dattilio, 2011). Outro aspecto importante é a validação, que deve ser distinguida de reflexão e acordo. A validação se trata de uma comunicação de reconhecimento, sem existir um acordo, necessariamente. Isso ajuda a acalmar a tensão em diálogos negativos (Dattilio, 2011). No diálogo terapêutico, o terapeuta precisa estar atento tecnicamente para modificar e reduzir as interrupções na comunicação. Nem sempre as interrupções são negativas, mas podem criar um clima de desavença e inibir o processo terapêutico. Markman et al. (1994 citados por Dattilio, 2011) desenvolveram uma estratégia com um pedaço de linóleo, para indicar que cônjuge falante “tem o chão” e o ouvinte deve resistir à interrupção, 11 até que receba o linóleo. No lugar do linóleo o terapeuta pode usar outro objeto. A técnica pode funcionar muito bem em alguns casos, mas ser desastrosa em outras, como quando os cônjuges são impulsivos e irritadiços (Dattilio, 2011). Outra técnica eficaz é a do bloco e do lápis, na qual o ouvinte pode anotar seus próprios pensamentos e emoções enquanto o falante se comunica. Dessa forma, não se perde o conteúdo das próprias emoções, podendo referi-la ao fim da fala do cônjuge. A tarefa é construtiva e ao mesmo tempo consegue captar parte da intensidade dos sentimentos (Dattilio, 2011). Com frequência, os casais percebem suas dificuldades em resolver problemas, o que se fundamenta em uma boa relação e comunicação. O processo de negociação requer habilidade para se pesar as alternativas de forma tranquila. Para isso, um dos primeiros passos é definir clara e especificamente o problema em termos de comportamentos que ocorrem ou não, e então, gerar soluções, avaliando vantagens e desvantagens (Dattilio, 2011). Os terapeutas cognitivo- comportamentais facilitam a resolução efetiva com instruções escritas, exemplos, repetições e treinamentos comportamentais. Epstein e Schlesinger (1996 citados por Dattilio, 2011) adaptaram um conjunto de passos para direcionar a intervenção na resolução de problemas: • definir o problema em termos comportamentais e comparar percepções para chegar a uma descrição acordada sobre ele; • buscar soluções possíveis; • avaliar vantagens e desvantagens de cada solução encontrada; • escolher uma solução que seja possível; • implementar esta solução e avaliar sua eficácia. A intervenção pode ser usada estrategicamente como tarefa de casa. Tarefas de casa são parte essencial na abordagem cognitivo-comportamental, percebida como eficiente agente de mudança (Dattilio, 2011). O terapeuta pode utilizar diferentes técnicas de acordo com o plano de tratamento de cada casal/paciente. A biblioterapia pode ajudar a reforçar questões trabalhadas nas sessões, mantendo os pacientes ativos. A programação de atividades enfatiza a comunicação e habilidades de interação e resolução de problemas. A técnica pode ajudar no diagnóstico da disfunção conjugal e ainda ajudar os cônjuges a aprenderem novos comportamentos. Os exercícios de monitoramento podem ajudar o terapeuta nas áreas de dificuldade, pois com eles o paciente passa a 12 avaliar pensamentos e humor entre as sessões. Os pacientes entram em contato com o que pensam, sentem e como se comportam, ressaltando como isso impacta na dinâmica conjugal (Dattilio, 2011). O terapeuta precisa trabalhar a adesão à tarefa,abordando sua importante função e revisando semanalmente. A resistência às tarefas e seu descumprimento são muito comuns, o que pode acontecer com o casal ou com um dos cônjuges. Sendo assim, o terapeuta precisa estar apto a lidar com essa resistência, que pode estar carregada de alguma informação importante. Para Dattilio (2011), o profissional precisa explorar a dinâmica subjacente a essa resistência às tarefas e buscar estratégias alternativas. Para Gottman e Gottman (1999), cada um dos cônjuges deve aceitar a influência do outro, principalmente o marido da mulher. Por isso, os cônjuges devem considerar as seguintes questões: • ao lidar com o conflito, evitar agressividade, usando abordagem moderada; • efetivamente perceber as cadeias de interação negativas; • utilizar afeto positivo para a desescalação; • aprendizado de estratégias para acalmar fisiologicamente o parceiro e a si mesmo; • tornar cada conversa melhor do que antecedente, sem ajuda do terapeuta, utilizando as ferramentas adquiridas. Além das técnicas e procedimentos já descritos, o terapeuta utiliza os acordos de intercâmbio comportamental, para que os cônjuges identifiquem e apresentem um comportamento específico que envolva autoaprimoramento, independente do comportamento do outro. Na intervenção em déficits e excessos nas reações emocionais, um conjunto de intervenções é utilizado para melhorar as experiências emocionais em cônjuges inibidos e moderar reações extremadas. Nos contratos de contingência, usa-se uma estratégia fundamentada no princípio de reciprocidade, que foca em como o intercâmbio de comportamentos positivos pode ser maximizado e até obter um contrato escrito para que seja feito. No treinamento da assertividade, busca-se a melhoria das habilidades sociais por meio de um treinamento formal para identificar a diferença entre reações assertivas, não-assertivas e agressivas, de forma que se entendam os benefícios do comportamento assertivo. 13 Após o treino de habilidades e feedback do terapeuta, os casais precisam ensaiar habilidades específicas, o que pode ser realizado por meio de instruções verbais e modelação durante o processo psicoterápico, por meio do ensaio comportamental. Inverter os papéis dos cônjuges também é uma técnica importante para que cada cônjuge se coloque na perspectiva do outro. A inversão de papéis é uma técnica de dramatização, na qual se sugere que os papéis sejam invertidos e o casal discuta um problema como faria em casa. Concluindo, contamos com inúmeras técnicas comportamentais eficazes, e aqui apresentamos algumas que podem beneficiar o processo psicoterápico. 3.1 Técnicas comportamentais e queixas sexuais Para Cavalcanti e Cavalcanti (2006), experiências e vivências sexuais negativas contribuem para problemas e disfunções sexuais. Essas vivências podem ser: vivências sexuais destrutivas (modelo parental, primeiras experiências, violência sexual), vivências circunstanciais (ocasionais – falta de privacidade, problemas financeiros), e causas diádicas (dessincronia de desejo, irrealização de fantasias, intolerância, habituação, consumo de bebidas e tabaco). Nas queixas sexuais, o comportamento faz parte da conduta sexual indesejável, o que é o alvo principal do processo psicoterápico, e que junto com outras variáveis inter-relacionadas, como áreas da personalidade, interferem na gênese, manutenção e/ou agravamento do problema (Cavalcanti; Cavalcanti, 2006). Pacientes com queixa sexual estão acostumados a um padrão de relacionamento sexual negativo, que precisa ser desconstruído, dando lugar a um padrão mais saudável e funcional. Portanto, para o planejamento o terapeuta busca selecionar procedimentos e técnicas de acordo com a queixa, levando em consideração o caso particular. Dentre as técnicas utilizadas estão: Kegel, Squeeze, Stop-Start, Dessensibilização Sistemática, uso de dilatadores e Sensate Focus. Para cada disfunção sexual há técnicas comportamentais específicas, e o terapeuta precisa se sentir à vontade com o assunto, seguro para propiciar a adesão do paciente às tarefas e dominar o manejo das técnicas. TEMA 4 – MINDFULNESS Como vimos anteriormente, a Terapia Integrativo-Comportamental tem se mostrado eficaz no tratamento para casais. Dattilio (2011) aponta que foram 14 desenvolvidos vários tratamentos que funcionam bem em combinação com a TCC, e que para o autor são mais adequados como aprimoramentos à TCC, do que intervenções independentes. Entre esses exemplos de aprimoramento da Terapia Cognitivo-Comportamental estão as abordagens de Terceira Onda e, mais especificamente para o assunto que iremos abordar aqui, o Mindfulness. Mindfulness significa atenção plena, um constructo budista (vem da palavra Sati) que nos mostra a importância da capacidade de se prestar atenção no momento, interna e externamente, sem se emaranhar ou cair em julgamentos, ou de desejar que as coisas sejam diferentes. De acordo Kabat-Zinn (2005), é uma consciência sincera, não julgadora, presente no momento (o aqui-agora). A realidade é como ela se apresenta. Para a psicoterapia, Mindfulness compreende um estado mental que é caracterizado pela autorregulação da atenção perante uma experiência presente, com curiosidade, abertura, amplitude e tolerância, dirigindo-se aos fenômenos manifestados na mente consciente (Bishop et al., 2004). A prática do Mindfulness na psicoterapia promove a aceitação e diminui os processos de evitação. O praticante percebe conscientemente as experiências internas e observa o surgimento e desaparecimento dos pensamentos e sentimentos. Técnicas, que incluem a meditação, fazem parte do aprendizado e treinamento que permitem aos indivíduos maior tomada de consciência de seus processos mentais e de suas ações, o que cria condições para respostas emocionais mais adaptativas. Sendo assim, o Mindfulness tem sido o pilar central para a Terapia de Aceitação e Compromisso (Hayes; Strosahl; Wilson, 1999) e para a Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (Segal; Williams; Teasdale, 2002). A Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT) é um programa criado para ajudar as pessoas a lidarem com as disposições de ânimo indesejadas. É testada em pesquisas e mostra-se eficaz em casos de depressão, ansiedade e outros problemas, tais como dor crônica e estresse. Com esse treinamento é possível que o indivíduo se liberte de processos críticos que originam problemas emocionais: a tendência de pensar, ruminar e preocupar-se em excesso, e a tendência a evitar, reprimir e afastar pensamentos, emoções e situações (Teasdale et al., 2016). Recentemente, a prática do Mindfulness passou a ser aplicada nos relacionamentos íntimos e a trazer a compreensão de que o desenvolvimento do estresse conjugal seria uma consequência dos repertórios emocionais 15 disfuncionais no contexto de desafios e emoções vulneráveis. A atenção plena possibilita ao casal reagir de modo mais responsivo e saudável à relação (Wachs; Cordova, 2007 citado por Dattilio, 2011). Um estudo conduzido por Wachs e Cordova (2007, citados por Dattilio, 2011) sugere que a prática do Mindfulness e as habilidades emocionais estavam relacionadas ao ajustamento conjugal, repertórios emocionais mais hábeis (identificação e comunicação das emoções ao cônjuge, regulação da expressão de raiva), e qualidade conjugal, o que corrobora a ideia de que a prática aumenta a tolerância emocional. Os níveis de empatia na abordagem com casais também podem ser trabalhados com a prática de Mindfulness. Vários autores têm apresentado a relação positiva entre prática do Mindfulness e melhora na qualidade dos relacionamentos afetivos (Dattilio, 2011). Bavelas et al. (2002 citados por Dattilio, 2011) apontam para a ênfase na importância da escuta ativa atenta em uma comunicação bem-sucedida entre cônjuges (Bavelaset al., 2002 citados por Dattilio, 2011). Para Dattilio (2011), a prática pode ainda desempenhar um importante papel no ajustamento conjugal, pois, quando atentos, os cônjuges apresentam tendência de engajamento em relações com baixa negatividade emocional e comportamental. Na Terapia de Aceitação e Compromisso o principal objetivo é tratar esquiva emocional e resposta literal excessiva aos conteúdos cognitivos, além da incapacidade de fazer e manter compromissos com a mudança comportamental (Dattilio, 2011). A aceitação é empregada como forma de descrever processos psicológicos e comportamentos interacionais. Há técnicas que promovem uma postura mais consciente e a aceitação de eventos psicológicos tidos como negativos ou irracionais (Hayes, 2004). Para o trabalho com casais, a aceitação passa a ser um processo transacional entre os cônjuges, familiares e contatos interpessoais, pois envolve o que o indivíduo faz em resposta à sua experiência privada, aceita ou não pelos outros (Dattilio, 2011). Isso diz respeito a sensações, experiências de excitação, desejos, emoções e estímulo interno (Fruzetti; Iverson, 2004 citados por Dattilio, 2011). Exemplificando, quando um dos cônjuges quer manter a lealdade aos pais em seu sistema de crenças, pode-se trabalhar a compaixão ou envolver a tolerância ao estresse em uma relação. Para Fruzetti e Iverson (2004 citados por Dattilio, 2011), há dois níveis de aceitação, que são úteis no tratamento de casais disfuncionais. Uma é a aceitação pura, que envolve tolerância simples, e a outra 16 a aceitação genuína ou radical, quando se transforma a experiência negativa em algo neutro ou positivo. A aceitação em casais pode criar condições para que os parceiros aumentem, naturalmente, a aceitação emocional entre si. Entre as estratégias utilizadas, está a ligação empática. 4.1 Mindfulness e disfunções sexuais O Mindfulness foi incorporado em programas de tratamento individual e em grupo, e verificou-se que é eficaz para melhorar vários domínios da resposta sexual, além de diminuir o sofrimento relacionado ao sexo (Brotto, 2013). A excitação sexual pode ser influenciada pelo foco de atenção dirigido. Pelo Mindfulness é possível trocar a concentração sobre o entusiasmo centrado no objetivo pelo trabalho com a remodelação da excitação, por meio da observação atenta e plena. Os resultados têm sido úteis (Brotto; Goldmeier, 2015). Ainda para esses autores, a intervenção psicoeducacional baseada no Mindfulness direciona seu alvo em construções psicológicas, como pensamentos, afetos e comportamento. Assim, o tratamento psicológico pode produzir alterações fisiológicas. O Mindfulness tem sido utilizado no tratamento de mulheres com dor genital angustiante (Brotto, 2013). Existem evidências sobre a melhora significativa de muitos domínios da resposta sexual, angústia e humor entre mulheres com baixo desejo sexual, disfunção sexual associada a câncer ginecológico, mulheres com vulvodínia (Brotto; Goldmeier, 2015). Apesar de ser amplamente utilizado no tratamento de mulheres com disfunções sexuais, as habilidades do Mindfulness têm mostrado utilidade paralela e eficácia no tratamento da disfunção sexual em homens (Brotto, 2013). A experiência clínica de autores sugere que a atenção plena pode ser estendida ao tratamento de homens com ejaculação rápida, ejaculação tardia, dor relacionada ao sexo e disfunção erétil (Brotto; Goldmeier, 2015). Com o Mindfulness, percebe-se mais presença e atenção às sensações eróticas agradáveis e consequente diminuição das distrações com diálogos internos não erotizados, negativos e carregados de críticas ao próprio desempenho e ao do parceiro (Brotto; Goldmeier, 2015). 17 TEMA 5 – ALIANÇA TERAPÊUTICA, ABORDAGEM DE RECAÍDAS E A FINALIZAÇÃO DO PROCESSO PSICOTERÁPICO Um processo psicoterápico sem o estabelecimento de um relacionamento interpessoal entre terapeuta e paciente pode não se desenvolver, pois a qualidade da relação emocional e do vínculo acaba por ser um fator indispensável ao êxito da psicoterapia (Corbella; Botella, 2003 citados por Maia et al., 2017). Sendo assim, para ser efetivo o processo requer que o profissional utilize habilidades e competências que viabilizem o atendimento das demandas dos cônjuges. Para a psicanalista norte-americana Elisabeth Zetzel, a aliança terapêutica descreve a relação de trabalho estabelecida entre psicoterapeuta e paciente em prol do processo que acontece com a psicoterapia (Peres, 2009 citado por Maia et al., 2017). Segundo Maia et al. (2017) a aliança terapêutica tem se apresentado, no contexto do processo psicoterápico, como importante instrumento que identifica e resolve problemas interpessoais surgidos durante a terapia, tendo um papel essencial no desfecho positivo do processo. Na abordagem cognitivo- comportamental, o conceito tornou-se imprescindível à atuação por conta de seu papel fundamental ao processo colaborativo que ocorre com a psicoterapia. Para que se estabeleça a aliança no início da terapia, é essencial adaptar- se às demandas, expectativas e capacidades do paciente (Pietra; Gomes, 2017 citados por Maia, 2017). Teoricamente, por mais que as abordagens tenham diferenças na conceituação, acabam por compartilhar 3 temas: a natureza colaborativa da relação, o vínculo afetivo e a habilidade em acordar e concordar entre terapeuta e paciente(s), em relação aos objetivos e tarefas do processo (Oliveira; Benetti, 2015). Os autores mencionam que as pesquisas sobre o tema têm se mostrado mais específicas com o passar dos anos, da mesma forma como cresceram as especificidades sobre suas estratégias para se medir o constructo. Alguns instrumentos disponíveis podem auxiliar na avaliação da aliança terapêutica, tais como: Inventário Cognitivo-Comportamental para Avaliação da Aliança Terapêutica, que propõe a avaliação sob a perspectiva cognitiva- comportamental; e Working Alliance Inventory (WAI), que avalia diferentes contextos clínicos, com versão para paciente e profissional. No Brasil, os estudos ainda são escassos, apesar da importância e benefício para a prática psicoterápica. 18 Para Maia et al. (2017), na prática psicoterápica, os instrumentos disponíveis podem auxiliar não apenas na avaliação da aliança terapêutica, como ainda na análise sobre início, andamento e término da psicoterapia. Para os autores, a ferramenta pode fazer parte da avaliação da postura do profissional e da ativação e mudança comportamental, o que o ajuda a reformular o plano terapêutico, se necessário, e rever seus comportamentos no contexto da psicoterapia, garantindo a manutenção e continuidade do processo. Outro tema importante é o potencial de recaída, pois as recaídas podem acontecer com qualquer casal, principalmente se o problema é crônico. Para Dattilio (2011), o trabalho com casais é desafiador por se enfrentar um conjunto de dinâmicas de personalidade, e por depender de há quanto tempo o problema existe e qual sua profundidade, pois quanto mais tempo e mais enraizado, maior a probabilidade de uma recaída. Em casos com psicopatologia, aumenta a probabilidade de regressão. O casal estar ciente da possibilidade de recaída não lhes dá a permissão para retroceder. É importante que os cônjuges compreendam os desencadeadores da recaída que também contribuem para danificar a relação (Dattilio, 2011). O’Farrell (1993 citado por Dattilio, 2011) recomenda que em uma situação de recaída seja proporcionado ao casal uma estrutura para discussão, na qual se desenvolva uma lista de preocupações discutida por cada cônjuge, quando este acha que o relacionamento está se danificando, especificando-se situações de alto risco e sinais iniciais de advertência de comportamentos deteriorantes. Após o primeiro passo, o casal pode desenvolver um plano de ação conjunto para que se eviteos gatilhos da regressão, o que pode ser feito independentemente, dentro do processo de alta da psicoterapia. Assim, o casal passa a discutir os comportamentos utilizados para se proteger em uma recaída, e finalmente, coloca-se em ação outro plano de tratamento individual para o manejo das cognições relacionadas à raiva e aos comportamentos deteriorantes. O plano de recaída é escrito e treinado com cada casal, considerando-se as particularidades de cada relação. Gottman e Gottman (1999), em suas estratégias de intervenção, levantaram alguns objetivos para satisfazer o processo terapêutico e, assim, assinalar o fim da psicoterapia. Para os autores, quando trabalhados os conflitos no casal, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse devem ser reduzidos, assim como a proporção entre negatividade e positividade. Na literatura brasileira, são 19 escassos os estudos que abordem a alta da psicoterapia. Contudo, como a abordagem cognitiva-comportamental é bem estruturada, o terapeuta terá maior percepção e controle sobre isso. Além disso, há o respaldo de instrumentos para fazer o acompanhamento dos progressos na psicoterapia e dos objetivos terapêuticos, e devemos nos assegurar desses recursos. É comum casais que desistem no meio do caminho, diante da responsabilidade por mudanças e outros motivos diversos, mas o terapeuta deve se conscientizar que, muitas vezes, os indivíduos não estão preparados naquele momento. Por outro lado, cada conquista dentro da psicoterapia é uma alegria, e quando finalizamos um processo psicoterápico bem-sucedido, o que independe de desfecho, pois muitas vezes o sucesso é a dissolução da conjugalidade, é indescritível o sentimento de prazer e dever cumprido. 20 REFERÊNCIAS BISHOP, S. R. et al. Mindfulness: A proposed operational definition. Clinical of Psychology and Science Practice, v. 11, p. 230-241, 2004. BROTTO, L. Mindful Sex. The Canadian Journal of Human Sexuality, out. 2013. BROTTO, L.; GOLDMEIER, D. 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