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Ética Profissional do Serviço Social

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ÉTICA PROFISSIONAL DO 
SERVIÇO SOCIAL 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Carla Andréia Alves da Silva Marcelino 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
 Nesta aula, vamos finalizar o estudo do código de ética profissional do/a 
assistente social, abrindo com um assunto muito importante: o sigilo profissional. 
Como veremos, o sigilo está abrangido no código como um direito do assistente 
social, que não poderá ser obrigado a revelá-lo por qualquer pessoa que seja, 
assim como não poderá quebrar o segredo sobre qualquer coisa de que tenha 
conhecimento em decorrência de seu trabalho pela sua vontade deliberada, 
sendo, portanto, um dever profissional. Há condições específicas para a quebra 
de sigilo, as quais abordaremos no Tema 1. 
 Seguiremos para a última parte do código, a qual estabelece as formas 
de responsabilização do profissional que violá-lo. Essa parte da norma é 
complementada por um documento que não compõe o código, que é a Política 
Nacional de Fiscalização do Conjunto CRESS/CFESS, a qual trabalharemos no 
Tema 3, além de outras normativas dos conselhos da categoria. O código, como 
já abordado nesta disciplina, foi aprovado em 1993 e alterado apenas uma vez. 
É sabido que a realidade social é dinâmica, requerendo atualizações e 
complementações, e tem sido uma opção do conjunto CFESS/CRESS fazê-lo 
por meio de resoluções que possuem valor de norma complementar. 
 Nos Temas 4 e 5, refletiremos sobre alguns dilemas éticos no trabalho do 
assistente social, muitos deles envolvendo a questão da relativa autonomia na 
profissão. Diz-se relativa autonomia porque, apesar de sermos profissionais 
liberais e termos autonomia para a escolha de nossos instrumentais de trabalho, 
somos massivamente trabalhadores assalariados. É comum que as regras e 
normas dos ambientes de trabalho conflitem com os princípios éticos ou 
prerrogativas do código de ética dos assistentes sociais. Isso muitas vezes exige 
posicionamentos ético-políticos do profissional que poderão gerar represálias, 
assédios e mesmo demissões, no caso dos que estão na iniciativa privada. 
Se nos pautarmos pela teoria social de Marx, compreenderemos que a 
sociedade está em constante contradição, e que o conflito é inerente às relações 
sociais. E assim também o é o trabalho do assistente social, permeado pelas 
forças políticas, relações de poder e expressões da questão social que afetam a 
classe trabalhadora, tais como a precarização do mundo do trabalho. Assim, 
convida-se para encerrar esta disciplina com as reflexões sobre esses temas tão 
fundamentais para o cotidiano e para as relações de trabalho. 
 
 
3 
TEMA 1 – CÓDIGO DE ÉTICA PROFISISONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL: A 
QUESTÃO DO SIGILO PROFISSIONAL 
Iniciaremos esta aula abordando os arts. 15 a 18 do código de ética, que 
versam especificamente sobre as questões do sigilo profissional. O art. 15 impõe 
que é direito do assistente social guardar o sigilo. Segundo Barroco e Terra 
(2012), o objeto jurídico deste artigo está na preservação da intimidade das 
pessoas que usam os serviços prestados pelo assistente social, o que implica 
dizer que o usuário tem o direito a não ter a sua intimidade revelada pelo 
assistente social, e, por consequência, ao profissional precisa ser assegurado o 
direito de guardar tal sigilo. As autoras explicitam que: 
Nesta dimensão do direito, consequentemente, o sigilo deverá ser 
respeitado por todos os ouros que se relacionam como o assistente 
social na sus atividade profissional, seja qualquer superior hierárquico, 
empregador, patrão, enfim qualquer um que nas relações de poder 
possa ou pretenda interferir na atividade profissional do assistente 
social, ou impor regras de conduta incompatíveis com o sigilo 
profissional. (Barroco; Terra, 2012, p. 206) 
Nesse sentido, o assistente social poderá usar o código de ética como 
argumento para não violar sigilo, mesmo quando lhe for solicitado por seu 
superior que o faça. Para que o profissional possa guardar sigilo, é necessário 
que seja assegurado a ele condições de trabalho que propiciem isso, tais como 
salas individuais com vedação acústica, local de guarda de materiais de trabalho 
e de prontuários de usuários. 
O art. 16 do código traz mensagem similar ao 15, porém, enquanto no 
anterior o sigilo era trazido como direito e prerrogativa profissional, agora ele 
aparece como dever do assistente social, no sentido da obrigação de que, por 
meio do sigilo, o profissional proteja toda e qualquer informação que tome 
conhecimento no decorrer do seu trabalho. Tal proteção, alertam Barroco e Terra 
(2012), deve se dar sobre qualquer informação prestada pelo usuário, seja ela 
falada ou escrita, assim como aquelas obtidas por meio da observação e da 
interpretação da realidade. 
Em grande parte dos espaços sócio-ocupacionais, o profissional trabalha 
atendendo pessoas a fim de assegurar-lhes seus direitos sociais. O vínculo com 
o usuário atendido quase sempre será a chave para um trabalho efetivo, uma 
vez que, ao estabelecer uma relação de confiança com o outro, o assistente 
social terá maior possibilidade de afetá-lo, de proporcionar reflexões, assim 
 
 
4 
como de compreender as reais demandas – expressões da questão social – que 
trazem o usuário aos seus serviços, permitindo uma intervenção que possa 
realmente assegurar direitos. Neste sentido, o usuário precisa ter a certeza e ser 
conhecedor de que é direito seu não ter a sua intimidade revelada pelo assistente 
social para que possa estabelecer uma relação de confiança com ele. 
Ainda no art. 16, há um parágrafo único que define que, quando o 
assistente social estiver inserido em equipe multiprofissional, as informações 
sigilosas sobre o usuário devem ser prestadas dentro do limite do estritamente 
necessário. Sobre tal ponto, Barroco e Terra (2012, p. 206) afirmam que, neste 
caso, “as regras deverão ser pactuadas por todos os profissionais, de acordo 
com as especificidades de cada atividade”, o que implica dizer que todos os 
envolvidos naquela equipe precisão acordar os limites do que será tratado e 
revelado, assim como firmar compromisso coletivo de sigilo. Vale lembrar que a 
atuação em equipe multi ou interprofissional é estimulada, pois por meio dela é 
possível compreender e intervir sobre os sujeitos em sua integralidade. Os 
limites para o que poderá ser revelado são postos pela obrigação de preservar 
toda e qualquer informação que possa ferir a dignidade do usuário, lesar sua 
imagem, causar perigo ou constrangimento (ibidem). 
O art. 17 veda de forma mais clara e objetiva a revelação do sigilo 
profissional, vindo a reforçar os artigos anteriores. Barroco e Terra (2012) voltam 
a afirmar que o objeto jurídico de tal norma é a confiança na relação entre o 
profissional e o usuário. O direito à preservação da intimidade não é apenas 
prerrogativa do código de ética, mas também direito fundamental constitucional, 
previsto no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal de 1988, sendo a violação 
ao sigilo, portanto, passível de responsabilização pelo conjunto CFESS/CRESS 
e na esfera judicial, caso a pessoa lesada ingresse com ação no Judiciário. 
O art. 18, o último referente à questão do sigilo, prevê que a quebra deste 
só poderá acontecer diante de situação gravosa que possa apresentar risco ao 
próprio usuário, a terceiros ou à coletividade. Barroco e Terra (2012) alertam que 
tal quebra somente deve ocorrer quando um outro princípio ou valor do código 
de ética se sobrepuser à garantia do sigilo, como a defesa da vida e dos direitos 
humanos. “Ora, a quebra de sigilo deve ser adotada somente quando puder 
contribuir ou evitar a ocorrência de uma situação configurada como de gravidade, 
perigosa, danosa para a integridade física, psíquica, orgânica dos usuários ou 
de terceiros” (Barroco; Terra, 2012, p. 211). 
 
 
5 
Ainda assim, alerta-se para o fato de que, sempreque possível, o usuário 
deverá ser informado de que aquela informação precisará ser repassada para 
outrem, para sua própria proteção, de terceiros ou de um grupo. Dessa forma, 
tenta-se preservar a relação de confiança entre o profissional e o sujeito. Importa 
também destacar que tal prerrogativa do código não se refere, por exemplo, a 
atos criminosos ou contravenções cometidas pelo usuário e que este revele 
durante atendimentos com o assistente social, pois não compete ao profissional 
“ser o acusador” ou delator dos usuários (Barroco; Terra, 2012, p. 211). 
O mesmo art. 18 se encerra com um parágrafo único que adverte que, 
quando necessária a quebra do sigilo, esta deverá ser feita somente para as 
pessoas que realmente estiverem ligadas ao assunto e possam tomar as devidas 
providências quanto a ele, não sendo autorizada a quebra a esmo, para qualquer 
pessoa não envolvida nos fatos. Ademais, o grau de informações prestadas 
deverá se restringir apenas e tão somente ao objeto que avaliou-se ofertar risco 
ou perigo ao usuário ou a outrem, não sendo facultado revelar questões que não 
tenham interligação direta com estas. 
Por fim, vale ressaltar que, em alguns espaços sócio-ocupacionais, 
especialmente naqueles em que o assistente social atuará como perito ou 
realizando avaliação social para fins de acesso a serviços, não se poderá 
guardar sigilo de todos os fatos trazidos pelos usuários, pois muitos terão que 
compor relatórios encaminhados para subsidiar decisão de alguma autoridade, 
tal como o juiz, promotor de justiça ou um gestor. Diante dessa situação, o 
assistente social deverá, de início, desde o primeiro contato, informar ao usuário 
que tudo o que for por ele exposto poderá ser reduzido a termo em relatório que 
será enviado à autoridade competente, facultando ao usuário expor ou não 
situações que lhe possam ser vexatórias, constrangedoras ou que deturpem sua 
própria imagem. 
TEMA 2 – CÓDIGO DE ÉTICA PROFISISONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL: 
PENALIDADES E DISPOSIÇÕES FINAIS 
Chegamos à última parte do código ética, inscrita no Título IV, chamado 
“Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento deste Código”. Essa 
seção é aberta com o art. 21, que traz os três deveres do assistente social: 
• cumprir e fazer cumprir as normas previstas no código; 
 
 
6 
• denunciar ao conjunto CFESS/CRESS o exercício irregular da profissão 
ou o cometimento de infrações éticas por profissionais da categoria, 
desde que de forma fundamentada; e 
• obrigação de divulgar as regras do código aos estudantes de serviço 
social, seja na condição de professor ou de supervisor de estágio. 
Segundo Barroco e Terra (2012, p. 216), o objeto jurídico deste artigo é a 
defesa do código ética e do projeto ético-político da profissão, não sendo 
facultado ao assistente social escolher segui-los ou não, “o que significa dizer 
que todo assistente social, para além de cumprir as normas, deve expressar uma 
conduta profissional que demonstre zelo com o cumprimento do código de ética”. 
O art. 22 traz de forma mais clara as infrações disciplinares. Vale destacar 
que descumprir qualquer princípio ou regramento do código se constitui em 
infração ética, mas neste artigo há um regramento específico para as chamadas 
infrações disciplinares. Estas, apesar de não serem necessariamente de 
natureza ética, são passíveis de responsabilização por desrespeitarem os 
conselhos da categoria. Barroco e Terra (2012) destacam que as infrações éticas 
são também disciplinares, mas ambas se diferem porque a infração ética é 
aquela que ocorre em decorrência do exercício propriamente dito da profissão, 
enquanto existem outras infrações que não são decorrentes deste exercício, as 
quais são infrações disciplinares, mas não se caracterizam como éticas. 
As infrações disciplinares referem-se àquelas cometidas pelo assistente 
social em relação às suas obrigações com o seu conselho de classe, a saber: 
• exercer a profissão quando estiver impedido de fazê-lo ou facilitar para 
que alguém impedido o faça; 
• não atender no prazo estabelecido determinações emanadas pelas 
autoridades dos conselhos; 
• participar de instituição que tenha como objeto matéria de serviço social 
e que não esteja inscrita regularmente no CRESS; 
• fazer ou apresentar documento falso ou adulterado perante o conjunto 
CFESS/CRESS. 
Destaca-se que, apesar de a infração disciplinar constituída por deixar de 
pagar a anuidade do CRESS ainda conste no código de ética, a Resolução n. 
954/2020 definiu que tal situação não mais poderá ser caracterizada como 
infração e tampouco ser o profissional penalizado por ela. 
 
 
7 
O art. 23 inicia o bloco acerca das penalidades aplicáveis aos assistentes 
sociais que cometerem infrações éticas e/ou disciplinares. Vale ressaltar que 
toda infração cometida e denunciada ao conjunto CFESS/CRESS deverá ser 
seguida de um processo de apuração, assegurando ao profissional o direito ao 
contraditório e à defesa, e somente será aplicada penalidade quando ao final 
deste processo for julgada a procedência da infração cometida. Barroco e Terra 
(2012) destacam que, apesar de a penalidade ter caráter de responsabilização 
e sanção ao profissional, seu objetivo sempre deverá será o de proteger a 
profissão e a categoria como um todo, assim como de reafirmar os princípios do 
código de ética, não devendo jamais ter caráter punitivo, de vingança, retribuição 
do feito ou de manchar a imagem do profissional. 
Isto posto, o art. 23 apresenta as penalidades passíveis de serem 
aplicadas ao profissional, as quais somente serão levadas a cabo após o final do 
processo de apuração e, caso o profissional entre com recurso, após serem 
julgados todos os recursos possíveis. A pena deve sempre ser proporcional à 
conduta praticada, portanto mais gravosa quanto maior for a gravidade da 
infração ética e/ou disciplinar cometida pelo assistente social, conforme o art. 27. 
Outrossim, no momento de dosar a penalidade, a comissão processante deverá 
levar em conta os antecedentes do profissional, fatores atenuantes e agravantes, 
afetos à forma como a situação ocorreu, de acordo com o art. 26. Sobre os 
antecedentes do profissional, o CFESS promulgou a Resolução n. 952/2020, que 
estabelece que as penalidades cumpridas deverão ser retiradas do cadastro do 
profissional após cinco anos, não podendo ser computadas para nova 
penalidade após decorrido esse prazo. 
Barroco e Terra (2012) apontam também que, por mais que o profissional 
tenha, de uma só vez, praticado mais de uma conduta antiética, será a ele 
aplicada apenas uma penalidade, não podendo esta ser cumulada com outra, 
dentro de um mesmo processo e/ou situação. Ademais, conforme art. 32, a 
aplicabilidade de penalidade prescreverá em cinco anos, o que implica dizer que 
somente poderão ser averiguadas por meio de processo denúncias de fatos 
ocorridos neste período. São penas aplicáveis: 
a) Multa: valor pago em dinheiro, revertido para o CFESS/CRESS; deverá 
ser quitada até trinta dias após a publicação em Diário Oficial (art. 33), 
podendo ser fixada em valores entre uma e dez vezes a anuidade vigente 
na data da aplicação da pena. 
 
 
8 
b) Advertência reservada: aplicada em caráter sigiloso, em sala das 
dependências do CRESS, por conselheiro investido no cargo. Apesar de 
ser uma penalidade, a qual constará nos registros do profissional, tem 
caráter de orientação e de proporcionar reflexão ao assistente social que 
tenha cometido tal violação. Esta é a única penalidade que não será 
publicada em Diário Oficial, por ser sigilosa (art. 29). Segundo o art. 33, 
caso o assistente social penalizado não seja localizado para receber a 
advertência, tal sigilo poderá ser quebrado e a pena, publicizada. 
c) Advertência pública: penalidade aplicada mediante divulgação dos fatos 
que ensejaram a violação e pena aplicada. Em razão do constrangimento,Barroco e Terra (2012) asseveram que somente deve ser utilizada quando 
houver falta ética grave comprovada, pois o nome e o número do CRESS 
do profissional são divulgados abertamente. Destaca-se também o 
cuidado na aplicação de tal penalidade, pois caso comprove-se ter sido 
feita de forma indevida, o profissional poderá pleitear judicialmente danos 
morais e até materiais contra o conselho de classe. 
d) Suspensão do exercício profissional: pena gravosa, na qual o assistente 
social ficará impedido temporariamente de exercer o serviço social, 
cerceando o profissional da possibilidade de trabalhar na área. Somente 
deverá ser aplicada quando restar comprovado que a continuidade do 
exercício poderá acarretar danos para a sociedade (Barroco; Terra, 2012). 
O art. 25 define que a suspensão poderá ocorrer pelo período de trinta 
dias a dois anos, sendo que a suspensão pelo não pagamento da 
anuidade deverá ser imediatamente cessada após a quitação dos débitos. 
e) Cassação do registro profissional: a mais grave de todas as penalidades, 
pois implica na impossibilidade de exercício da profissão, por tempo 
indeterminado ou sem possibilidade de um dia voltar a fazê-lo, sendo 
prevista no art. 33 a apreensão da carteira e da cédula de identidade 
profissional. Barroco e Terra (2012) apontam que esta penalidade é 
permeada por uma série de controvérsias, uma vez que que a 
Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XLVII, proíbe a aplicação de 
qualquer pena ou penalidade em caráter perpétuo; portanto, tal pena pode 
ser questionada pelo profissional que a tiver recebido, o qual poderá 
recorrer a via judicial, dada a sua inconstitucionalidade. Atento a isso, o 
conjunto CFESS/CRESS previu a realização de processo de “reabilitação” 
 
 
9 
profissional, possibilitando passar por capacitação e processos de 
reflexão e, assim, requisitar a reativação, mediante solicitação, do seu 
registro no CFESS/CRESS, após cinco anos. A única hipótese de 
irreversão desta penalidade é quando restar provado que o profissional 
fez falsa prova dos requisitos para exercício do serviço social, como 
apresentar um diploma falso ou obtido por meio de fraude. 
Outrossim, o Código estabelece que o CRESS da região a qual pertence 
o profissional será sempre o responsável por receber denúncia de infração e 
fazer a apuração por meio do devido processo legal, sendo assegurado ao 
penalizado impetrar recurso ao CFESS, que é considerada a instância superior 
máxima para julgamento de situações conflituosas, casos omissos ou dos quais 
ainda restem dúvidas quanto à pertinência da pena aplicada. 
TEMA 3 – OUTRAS NORMATIVAS DO CONJUNTO CRESS/CFESS 
Conforme já explicitado, o CFESS possui a prerrogativa de orientar e 
normatizar o exercício da profissão de assistente social, fazendo-o por meio de 
normativas, especialmente no formato de resoluções. Vale lembrar que o próprio 
código de ética foi também promulgado por meio de uma resolução do Conselho 
Federal. No site do CFESS é possível ter acesso a todas as resoluções que 
estão em vigência, e é fundamental que os alunos façam tal pesquisa e tomem 
conhecimento delas, pois neste momento abordaremos apenas aquelas que 
mais frequentemente são utilizadas ou que são alvos de intensos debates dentro 
da categoria. A íntegra das resoluções pode ser encontrada no link: 
<www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/resolucoes-do-cfess>. 
Destacamos de início a Resolução n. 845/2018, a qual traz parâmetros 
para atuação do assistente social em relação ao processo transexualizador, 
impondo ao profissional a obrigatoriedade de prestar apoio e, por meio de sua 
atuação, viabilizar acesso aos direitos de pessoas transsexuais e transgêneros. 
O profissional deve agir de forma a promover a reflexão crítica sobre os padrões 
de gênero vigentes na sociedade, assim como respeitar a autodesignação dos 
sujeitos em relação ao seu gênero, fazer uso do nome social do usuário quando 
por ele indicado e emitir opinião técnica, na perspectiva de garantia de direitos, 
sobre acesso a procedimentos de transformação corporal. Na mesma esteira, a 
Resolução n. 785/2016 assegura ao assistente social transexual o direito de 
 
 
10 
inclusão e de uso do nome social nos registros profissionais. No mesmo bojo, a 
Resolução n. 489/2006 proíbe ao assistente social agir de forma discriminatória 
em qualquer contexto, mas especialmente no que se refere à orientação sexual. 
A Resolução n. 572/2010 define que os profissionais que exercerem 
atribuições privativas de assistente social, mas forem contratados por seus 
empregadores em cargos genéricos, tais como gestor social, analista social, 
analista judiciário, agente profissional, dentre tantos outros, deverão ter registro 
regular no CRESS para poder exercer a função. Isto porque, para “fugir” de 
contratar assistente social com a carga horária de 30 horas semanais ou do 
pagamento de salários adequados para a profissão, muitos órgãos públicos e 
instituições privadas passaram a realizar contratações com tais nomes, alegando 
não se tratar da profissão de assistente social, mesmo exigindo diploma de 
graduação em serviço social no momento da contratação. 
Outra importante Resolução é a de n. 569/2010, a qual veda ao assistente 
social realizar terapias associadas ao título ou ao nome do serviço social. Isso 
se deve ao fato de, atualmente, existirem uma infinidade de terapias que 
qualquer profissional, tendo realizado um curso específico, pode desenvolver, 
tais como a hipnose terapêutica, constelação familiar, terapia comunitária e 
várias outras. Porém, caso o profissional decida por trabalhar com alguma 
dessas técnicas, não poderá fazê-lo em campo de trabalho do assistente social 
e tampouco na condição de profissional da área, sendo vedada e passível de 
responsabilização a intervenção dessa natureza associada ao serviço social. 
Já a Resolução n. 559/2009 foi fruto de grande debate e de disputas 
judiciais, tanto que, quando esta aula foi produzida, encontrava-se suspensa por 
uma decisão judicial. Tal normativa reforça a proibição do assistente social de 
atuar como testemunha em processos judiciais dos quais tenha conhecimento 
dos fatos em razão de sua atividade profissional. Ainda, estabelece que o 
assistente social que atuar como perito ou assistente técnico em um processo 
judicial somente poderá prestar oitiva sobre assunto de natureza técnica, restrito 
ao conteúdo do seu relatório já colacionado ao processo judicial. 
A Resolução n. 557/2009 versa sobre relatórios emitidos em conjunto com 
outros profissionais de outras categorias, criando o instrumento denominado 
“Relatório Multiprofissional”. Nesta modalidade de relatório, ambos os 
profissionais desenvolvem seus processos de trabalho separadamente, sendo 
que o assistente social realizará o seu estudo social como de hábito, enquanto 
 
 
11 
as outras profissões também realizam seus procedimentos. No momento do 
registro, as informações descritivas podem ser apresentadas em conjunto 
(identificação, dinâmica e histórico familiar, condições sociais, econômicas, de 
saúde, escolares), mas as análises interpretativas e conclusões devem 
obrigatoriamente ser destacadas em separado, respeitando o que compete a 
cada uma das profissões envolvidas. 
A Resolução n. 556/2009 estabelece normas para lacração de 
documentos e materiais sigilosos. É sabido que toda informação obtida pelo 
assistente social em decorrência do exercício é sigilosa, mas toda informação 
que, conforme o art. 2º da referida resolução, caracterizar-se por conteúdo cuja 
divulgação “comprometa a imagem, a dignidade, a segurança, a proteção de 
interesses econômicos, sociais, de saúde, de trabalho, de intimidade e outros, 
das pessoas envolvidas” deverá ser lacrada pelo ou na presença de um fiscal do 
CRESS, somente podendo ser aberta em condições específicas, também sob a 
supervisão do Conselho Regional.A Resolução n. 533/2008 regulamenta a supervisão de estágio em serviço 
social, devendo seu conteúdo ser estudado por todos os alunos antes do 
ingresso na atividade, seja ela voluntária ou obrigatória. 
A Resolução n. 512/2007 é de fundamental importância, pois regulamenta 
e estabelece a Política Nacional de Fiscalização do conjunto CFESS/CRESS, 
dando poderes, criando comissões e delegando atribuições no que se refere ao 
trabalho de prevenção e orientação aos profissionais sobre os princípios éticos 
da profissão, assim como regra a forma de fiscalização do exercício profissional, 
criando as Comissões de Orientação e Fiscalização – COFIs e definindo suas 
competências em todo o território nacional. Por fim, delega e impõe regras para 
exercício das funções de agente fiscal do CFESS/CRESS. 
A Resolução n. 493/2006 estabelece as condições éticas e técnicas que 
devem ser asseguradas ao assistente social para que possa exercer seu ofício 
adequadamente, trazendo regras sobre as condições do espaço físico, 
condições de salubridade, existência de mobília e materiais de trabalho que 
assegurem a qualidade das ações, e, principalmente, que deem condições ao 
assistente social de manter o sigilo de seus atendimentos e a guarda correta de 
materiais que devem ser mantidos em segredo, especialmente aqueles que 
contenham informações dos usuários. Por fim, temos a Resolução n. 383/1999, 
que define que o assistente social é um profissional de saúde, mesmo quando 
 
 
12 
atuando em outras políticas sociais ou áreas de abrangência. Tal resolução 
encontra respaldo na Resolução n. 218/1997 do Conselho Nacional de Saúde, o 
qual listou o rol de profissões enquadradas como sendo desta área, figurando o 
assistente social em tal listagem. 
TEMA 4 – DILEMAS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS NO SERVIÇO SOCIAL: A 
RELATIVA AUTONOMIA NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO 
Nesta primeira parte, abordaremos um dilema que não é contemporâneo, 
mas que atravessa a profissão desde sempre e que, ao longo do tempo, vai 
tomando novas proporções e novas faces. O serviço social, como citamos na 
anteriormente, está inscrito na divisão social e técnica do trabalho como 
profissão liberal, possuindo liberdade e autonomia para escolher os caminhos 
para a realização de seu trabalho. Todavia, essa liberdade e autonomia são 
relativas, porque o assistente social não é dono dos recursos com o qual 
trabalha, assim como, por ser trabalhador assalariado, está sujeito ao mando de 
seu empregador. 
É sabido que há uma contradição posta na atuação do assistente social, 
pois enquanto os princípios ético-políticos que regem a profissão assumem 
compromisso com a classe trabalhadora e com a construção de um novo projeto 
societário, estamos também a serviço do capital, inseridos no mundo do trabalho, 
vendendo nossa força e trabalhando, de forma direta ou indireta, para a 
reprodução do capital, na medida em que asseguramos direitos de reprodução 
da vida material da classe trabalhadora. 
Essa contradição inerente à profissão produz uma autonomia relativa, no 
sentido de que nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais no qual trabalha, 
o assistente social possui pouca autonomia para escolher o que fazer, cabendo-
lhe somente a liberdade de decidir como fazer o seu trabalho. Ou seja, no 
desenvolvimento do seu trabalho, o assistente social é autônomo para escolher 
os meios (os instrumentos) para realização da sua ação (Carvalho; Marcelino, 
2019). A essa autonomia Iamamoto (2015) dá o nome de “autonomia relativa” no 
exercício do trabalho. Lagioto (2013, p. 37) concorda e afirma que mesmo 
estando subordinado ou atrelado a um chefe ou gestor, o assistente social goza 
de autonomia e liberdade técnico-profissional para desenvolver o seu trabalho: 
 
 
13 
É importante salientar que a “autonomia técnico-profissional” não se 
restringe ao direito do profissional de exercer com liberdade a sua 
atividade profissional, apenas em sua dimensão técnico-operativa, 
mas o termo “técnica” se refere ao conhecimento especializado do 
assistente social, à sua expertise, que envolve as três dimensões do 
exercício profissional: a teórico-metodológica, a ético-política e a 
técnico-operativa, e neste sentido, particulariza a sua intervenção na 
divisão social e técnica do trabalho. 
Fávero (2014, p. 40), corrobora com tal afirmação, asseverando que o 
assistente social “é autônomo no exercício de suas funções, o que se legitima, 
fundamentalmente, pela competência teórico-metodológica e ético-política por 
meio da qual executa o seu trabalho”. Assegurar tal autonomia técnica não é 
processo fácil, e a construção desse espaço depende também da postura do 
conjunto de profissionais. Isso só se faz mediante conhecimento da realidade 
social e institucional, domínio técnico dos assuntos relacionados ao serviço 
social, inclusive das leis e normas que envolvem a área, ganhando estofo e 
conteúdo para fazer a discussão e a problematização da questão da autonomia 
no campo em que se está inserido: 
Orientar o trabalho profissional nos rumos aludidos requisita um 
profissional culto e atento às possibilidades descortinadas pelo mundo 
contemporâneo, capaz de formular, avaliar e recriar propostas ao nível 
das políticas sociais e da organização das forças da sociedade civil. 
[...]. Mas também um profissional versado no instrumental técnico-
operativo, capaz de realizar as ações profissionais, aos níveis de 
assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta. 
(Iamamoto, 2015, p. 144) 
 Iamamoto (2015, p. 99) deixa posto o desafio à categoria dos assistentes 
sociais: “Apropriar-se da dimensão criadora do trabalho e da condição de sujeito 
que interfere na direção social do seu trabalho é uma luta a ser travada 
cotidianamente”. Carvalho e Marcelino (2019) refletem que o empoderamento e 
o reconhecimento da importância da profissão dependem da postura e da 
competência do coletivo de profissionais e da imagem que estes construirão no 
e para o mundo do trabalho. Esse empoderamento somente será factível quando 
toda a categoria conseguir problematizar as contradições e tensões presentes 
no bojo da própria profissão e dos espaços sócio-ocupacionais. 
TEMA 5 – DILEMAS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS NO SERVIÇO SOCIAL 
Com base na questão da autonomia relativa, passemos a refletir sobre 
alguns dilemas vistos no cotidiano dos assistentes sociais, para os quais a 
qualificação e o empoderamento dos profissionais são essenciais. Como é 
 
 
14 
sabido, grande parte dos assistentes sociais atuam na esfera pública, em sua 
maioria atuando em municípios, na política de assistência social. É consenso 
que um dos maiores trunfos do serviço social é o conhecimento da realidade do 
ponto de vista de onde ela ocorre, já que atuamos diretamente no território e 
formamos vínculos com os usuários daquela localidade. Também é sabido que, 
no Brasil, as práticas clientelistas, paternalistas e assistencialistas são históricas, 
pois desde a transformação do Brasil em República muitos gestores vêm se 
apropriando do Estado para benefício próprio, inclusive com fins eleitoreiros. 
E onde essas coisas se unem? Nas tentativas sucessivas de uso do 
trabalho do assistente social, especialmente no território, para tais finalidades, 
submetendo os profissionais a trabalhos assistencialistas, pouco efetivos, com 
intuito de fazer parecer que a política pública é dádiva de um ou outro 
governante. Essas práticas muitas vezes se dão na forma de distribuição de 
benefícios usando o nome e até cartas de gestores, em obrigatoriedade de 
trabalho em campanhas eleitorais, ações de marketing na área social, todas sem 
qualquer cunho técnico e garantia real de direitos da classe trabalhadora. 
Nesse sentido, o profissional precisa se empoderar individualmente, mas, 
principalmente, engajar-se com a categoria e valer-se do código de ética para se 
negar a realizar tais ações, ou ao menos,fazê-las de forma a assegurar direitos, 
e não mais opressão aos usuários. Sabe-se que tais negativas muitas vezes 
trarão consequências, como perseguições políticas, remoções de local de 
trabalho e animosidades no espaço sócio-ocupacional, cabendo ao profissional 
denunciar sempre que se sentir coagido a fazer algo que viole os princípios ético-
políticos da profissão. 
Situação similar ocorre nos espaços de trabalho privados, em que o 
profissional não possui estabilidade no emprego e precisa manejar situações 
assediosas que possam vir a surgir, sob pressão de demissão. Vale ressaltar 
que, na área privada, o profissional quase sempre atuará no equilíbrio entre o 
capital e a classe trabalhadora, administrando políticas internas de 
compensação aos empregados ou população abrangida pela empresa ou 
indústria. Mais uma vez, conhecer o código de ética a fundo e as situações em 
que pode ser aplicado será mister para despessoalizar as relações e sensibilizar 
empregadores de que não se trata de escolha daquele profissional, mas de 
preceitos que regulamentam a profissão. 
 
 
15 
Situação mais delicada envolve os assistentes sociais contratados na 
área pública por funções comissionadas, as quais são de livre nomeação do 
gestor, comumente do prefeito, governador, secretários municipais ou estaduais. 
Uma vez contratado por liberalidade de alguém, é comum que seja cobrado e 
instado a “pagar favores” àquele que lhe deu o emprego, exigindo do profissional 
a realização de atividades que não são de sua competência ou utilizando seus 
trabalhos para fins político-partidários, o que é vedado pelo código de ética. 
Por fim, uma das relações mais difíceis dentro da profissão refere-se ao 
assistente social com os órgãos que compõem o sistema de justiça e os espaços 
ocupacionais da área sociojurídica, como Poder Judiciário, Ministério Público, 
penitenciárias, centros de socioeducação, entre outros. Primeiramente, porque 
se trata de relações extremamente hierarquizadas, tais como no Poder 
Judiciário, em que o assistente social contratado está subordinado ao juiz que 
lhe demanda o trabalho e muitas vezes extrapola em seus pedidos, define quais 
instrumentos o assistente social deverá usar e cobra que, por meio da perícia 
social, este apresente verdades absolutas que subsidiarão a decisão do 
magistrado. Outrossim, a perícia social na área sociojurídica tem implicações na 
questão do sigilo profissional, uma vez que o assistente social precisará registrar 
o seu estudo social na forma de relatório, o qual será acessado não apenas pelos 
usuários interessados, mas também por advogados e funcionários 
administrativos, sendo essencial que nos relatórios sejam somente colocadas 
informações absolutamente necessárias ao processo e que justifiquem e 
fundamentem o parecer conclusivo que será apresentado ao final. 
O relatório não deve ser elaborado pelo assistente social com o intuito de 
servir de prova processual, mas precisa ser construído tendo em mente que ele 
será inevitavelmente usado para tal, motivo pelo qual o cuidado no registro e nas 
informações prestadas deve ser redobrado. Informações soltas, não colocadas 
de forma clara e não interpretadas à luz de referencial teórico-metodológico, 
podem ser usadas por outros profissionais para prejudicar os jurisdicionados ou 
cercear direitos a eles, especialmente em casos de guarda, destituição de poder 
familiar, acolhimento de crianças e adolescentes e de adolescentes autores de 
ato infracional. Ainda dentro da seara sociojurídica, destaca-se a realização do 
depoimento especial por profissional do serviço social, conforme previsto na Lei 
n. 13431/2017, a qual traz que toda criança ou adolescente vítima de violência 
 
 
16 
deverá ser inquirida por “profissional qualificado”, sendo consenso na área 
judicial que tais profissionais sejam psicólogos ou assistentes sociais. 
A inquirição de pessoas, sejam crianças ou adultos, com fins de produção 
de prova processual, que servirá exclusivamente para responsabilização do réu 
e não necessariamente para assegurar direitos das vítimas, não está no escopo 
das atribuições e competências. Além disso, no formato em que tais 
depoimentos ocorrem, com transmissão ao vivo da entrevista com a criança para 
uma sala de audiência na qual estão o réu, juiz, promotor, advogados e 
familiares, fere brutalmente a questão do sigilo profissional. Destaca-se que o 
CFESS, por meio da Resolução n. 554/2009, havia normatizado a proibição de 
assistentes sociais participarem da inquirição de vítimas e testemunhas de 
crimes, mas tal resolução foi revogada por força de determinação judicial, sob a 
alegação de que uma lei federal (13431/2012) é maior e tem maior peso jurídico 
do que uma resolução de conselho de classe, que não tem poder de legislar, 
deixando atualmente os profissionais suscetíveis às relações hierárquicas de 
poder, sendo que muitos são coagidos a fazer o depoimento especial, sob pena 
de responder administrativamente por descumprimento de ordem judicial. 
NA PRÁTICA 
 Uma assistente social que trabalha em uma unidade socioeducativa, na 
qual são atendidos adolescentes autores de ato infracional em medida de 
internação, atendia a dois adolescentes semanalmente. Após adquirir vínculo 
com os jovens, o primeiro acabou por revelar à profissional durante uma 
entrevista que, além do ato infracional pelo qual respondia cumprindo a medida 
de internação, teria sido o autor de vários outros, manifestando inclusive sentir 
culpa e remorso porque em uma dessas situações teria praticado um homicídio, 
o qual tinha sido investigado pela polícia, sem sucesso em encontrar o autor. Ou 
seja, o adolescente confessou a prática de um crime contra a vida de uma 
pessoa durante o atendimento social. 
 O segundo adolescente vinha se apresentando mais calado e entristecido, 
e, durante uma entrevista, acabou revelando que tinha intenções suicidas, pois 
se sentia sozinho, abandonado pela família e amigos durante a privação de 
liberdade, que tinha vergonha do ato cometido e temia o seu retorno à 
comunidade onde vivia. Esse conteúdo foi recorrente e, a cada atendimento, o 
 
 
17 
adolescente trazia ideias ainda mais elaboradas acerca de suicídio, chegando a 
verbalizar que pretendia enforcar-se usando sua própria roupa. 
 Diante das duas situações: em quais delas seria justificável a quebra do 
sigilo? Por quê? De que forma poderia ser feito e a quem poderia ser repassada 
a informação? 
FINALIZANDO 
 Nesta aula, finalizamos o estudo do código de ética dos assistentes 
sociais, trabalhando uma questão fundamental, que é a do sigilo profissional. 
Vimos que o sigilo aparece no código tanto como direito e prerrogativa do 
assistente social, quanto como obrigação, destacando que o sigilo, além de 
proteger a intimidade dos usuários, é peça-chave para assegurar uma relação 
de confiança com eles, confiança esta tanto no profissional que o atende quanto 
no coletivo da categoria. No último bloco de estudos sobre o código de ética, 
vimos acerca das penalidades, abordando que, quando devidamente 
processada e verificada a procedência de uma falta ética ou disciplinar, poderá 
ser aplicada ao profissional penalidade que vai desde a multa pecuniária até a 
cassação de seu registro profissional, sendo que para aplicação da pena dever-
se-á levar em consideração os antecedentes do profissional, os atenuantes e os 
agravantes da situação que ensejou o processo ético. 
 Na sequência, vimos que o CFESS vem ao longo do tempo atualizando 
as normativas e a regulamentação do exercício profissional, acompanhando as 
mudanças que ocorrem na sociedade. Ele o faz por meio de resoluções que vão 
inserindo ou excluindo direitos e deveres, sem, contudo, alterar o código de ética 
original, aprovado em 1993. Vimos que tais resoluções acompanham questões 
de gênero e orientação sexual, lacre de documentos, condiçõesadequadas nos 
locais de trabalho, entre vários outros assuntos apresentados. Vale ressaltar que 
mesmo não estando no código de ética, os deveres trazidos por estas resoluções 
são de caráter obrigatório para a categoria. 
 Por fim, apresentamos algumas reflexões acerca de questões éticas do 
cotidiano profissional, as quais impõem no dia a dia conflitos e confrontos 
constantes entre o que é exigido do profissional e os princípios postos no projeto 
ético-político da profissão, apontando que a melhor forma de manejar tais 
situações é qualificar o trabalho, munir-se de conhecimento teórico-metodológico 
e ético-político, além de conhecer as normativas e leis que regulam e 
 
 
18 
regulamentam a profissão, para assegurar um trabalho de qualidade e livre de 
interferências políticas e hierárquicas, tão presentes nas relações de poder 
postas nos espaços sócio-ocupacionais em que os assistentes sociais estão 
inseridos. 
 
 
 
 
19 
REFERÊNCIAS 
BARROCO, M. L. S.; TERRA, S. H. Código de ética do/a assistente social 
comentado. São Paulo: Cortez, 2012. 
CARVALHO, M. B.; MARCELINO, C. A. A. S. Trabalho e sociabilidade. 
Curitiba: InterSaberes, 2019. 
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Resolução CFESS n. 273, de 
13 de março de 1993. Disponível em <www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-
SITE.pdf>. Acesso em: 28 maio 2021. 
FAVERO, E. T. O estudo social: fundamentos e particularidades de sua 
construção na área judiciária. In: CFESS (Org.). O estudo social em perícias, 
laudos e pareceres técnicos: debates atuais no judiciário, no penitenciário e na 
previdência social. São Paulo: Cortez, 2014. 
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e 
formação profissional. 26. ed. São Paulo: Cortez, 2015. 
LAGIOTO, N. Autonomia profissional x trabalho assalariado: exercício 
profissional do assistente social. Revista Conexão Geraes, Belo Horizonte, n. 
3, p. 37-42, 2013.

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