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2 O DIREITO DO MAR-1-6

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2/18/24, 2:16 PM wlldd_221_u2_leg_adu_mar
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INTRODUÇÃO
O mar, fonte quase inesgotável de recursos, foi palco das mais importantes discussões travadas ao longo da
história. Inicialmente, servia apenas como via de transporte, mas passou com o tempo a tomar posição de
destaque na sociedade internacional como supridor de recursos, energia e alimentos.
Diante dessa importância, os Estados passaram a demonstrar cada vez mais interesse na sua exploração,
desenvolvendo tecnologias para desvendá-lo e avançar suas atividades. Esse avanço dá origem a discussões
no sentido de de�nir se o mar seria um espaço aberto a todos os Estados ou se estes poderiam se assenhorar
de certas áreas, incluindo-as em seus domínios para fazer valer sua soberania e jurisdição.
Com o passar dos anos, a sociedade internacional percebeu que havia uma necessidade de criação de normas
para regular o uso do mar, de modo a de�nir quais seriam os direitos e deveres dos Estados.
DISTINÇÕES ENTRE AS DUAS ÁREAS
Doutrinariamente, há uma divisão nas áreas de estudo do Direito Marítimo, pois essa é uma disciplina
complexa que trata do comércio marítimo e da regulação do uso do mar.
O sistema normativo que trata do comércio marítimo é denominado especi�camente Direito Marítimo, e é um
ramo do Direito Privado. Esse sistema de normas é composto por alguns tratados internacionais e por uma
expressiva quantidade de normas internas, uma vez que tem por �nalidade regular as relações jurídicas
estabelecidas entre particulares. No Brasil, por exemplo, já estudamos a aplicação do Código Comercial
brasileiro.
A partir de agora, vamos estudar o sistema normativo que trata da regulação do uso do mar, ou seja, do
domínio marítimo exercido pelos Estados relacionado às atividades nos diversos espaços marítimos. Por
regular relações jurídicas envolvendo Estados, é ramo do Direito Público, sendo denominado Direito do Mar.
Mas, apesar de distintos, esses ramos em muito se aproximam, uma vez que o comércio internacional evoluiu
à medida que a navegação marítima também se desenvolveu. Contudo, as semelhanças param por aí.
Aula 1
O DIREITO DO MAR
Distinções entre as duas áreas; domínio marítimo; soberania e jurisdição.
42 minutos
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A regulação do uso do mar se faz importante para a sociedade, pois dele depende toda a vida do planeta. O
mar não é apenas um local de locomoção, uma via de transporte. Ele é fonte de alimentos, energia e recursos
minerais. A�rma Wagner Menezes (2015, p. 20) que:
Por se tratar de uma área destinada a regular a relação entre Estados, as normas se constituem
essencialmente de acordos e tratados internacionais. Entretanto, antes da normatização, as relações jurídicas
eram estabelecidas de forma costumeira. Podemos citar como exemplo a de�nição do limite do mar
territorial, estabelecido pela regra do tiro de canhão. Entendia-se que o limite do mar territorial do Estado
costeiro não poderia ultrapassar três milhas marítimas (equivalente a 5.556 metros), pois era
aproximadamente o alcance que as baterias de costas possuíam à época. Essa ampliação da fronteira
permitia ao Estado o exercício de soberania sobre a faixa marítima atribuída ao seu domínio, pois,
inicialmente, os Estados exerciam suas competências regulares apenas no seu território (GUERRA, 2021, p.
201). Em 1818, os Estados Unidos da América tornaram-se o primeiro país a adotar a distância de três milhas
contadas a partir da linha da costa como seu mar territorial.
Figura 1 | Uso do mar
Fonte: Shutterstock.
Hoje em dia, as normas preponderantes no Direito do Mar são concebidas no plano convencional, em
especial, a partir do início do século XX, quando começaram a tomar forma diversos tratados internacionais
que estabeleceram regras sobre o uso do mar, afastando a forma consuetudinária dos séculos anteriores.
O Direito do Mar consolida-se na contemporaneidade como um novo ramo do Direito,
fundamental para a proteção de interesses estratégicos dos Estados no exercício das
prerrogativas de soberania, para sua subsistência econômica, para as intercomunicações e
para a manutenção da vida. Em um cenário contemporâneo de globalização, o mar é
espaço aberto de �uidez dessas inter‑relações.
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Podemos trazer como exemplo o principal tratado internacional aplicado à matéria: a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar, um dos principais instrumentos da ONU, que estudaremos mais adiante.
VIDEOAULA: DISTINÇÕES ENTRE AS DUAS ÁREAS
O vídeo demonstra a importância do mar para o desenvolvimento das nações, como fonte supridora de
alimentos, recursos minerais e energia, o que motiva o desenvolvimento de novas tecnologias para acesso a
esses recursos. Entretanto, há que se abordar a necessidade de preservação do meio ambiente marinho, de
modo que tais recursos não se esgotem, mas sejam preservados para as presentes e futuras gerações.
DOMÍNIO MARÍTIMO
De acordo com Sidney Guerra, “o estudo do domínio marítimo tem se desenvolvido ao longo dos anos na
medida em que ocorre o desenvolvimento do próprio direito internacional público” (GUERRA, 2021, p. 212).
Roma dominou as terras ao redor do Mediterrâneo, palco do desenvolvimento das antigas civilizações,
durante séculos, exercendo sobre os povos conquistados sua jurisdição, ou seja, a aplicação da sua lei. Ao
designar o Mediterrâneo como mare nostrum, o Império Romano demonstrava suas pretensões de domínio
marítimo quando, através de �scalização, não permitia o uso indistinto do mar pelos povos conquistados, com
fundamento na segurança. A preponderância romana impedia aos Estados conquistados o livre uso do mar
(FIORATI, 1999).
Na época das grandes navegações, com a colonização e a descoberta de novos povos e continentes, países
colonizadores como Portugal e Espanha dominaram os mares.
O Tratado de Tordesilhas estabeleceu um monopólio comercial nos oceanos, e países como Holanda,
França e Inglaterra tiveram seus interesses di�cultados, uma vez que Portugal e Espanha exerciam sua
soberania também sobre os mares. Com isso, foram instituídas as Cartas de Corso, que permitiam que
navios, terras e portos portugueses e espanhóis fossem atacados.
Com as restrições impostas ao livre deslocamento pelo mar e em um movimento contrário à soberania de
Portugal e Espanha nos mares, um jurista importante à época, denominado Hugo Grotius, elaborou um
estudo defendendo a liberdade dos mares, alegando, em 1609, que os oceanos formavam uma área
internacional e todos os povos teriam o direito de utilizá-los para o livre comércio. Essa teoria �cou conhecida
como mare liberum.
Depois da teoria construída por Grotius, outro jurista, John Selden, elaborou uma tese contrária, denominada
mare clausum, defendendo que o mar era tão passível de apropriação quanto um território.
Videoaula: Distinções entre as duas áreas
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
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Esse dilema, mare clausum versus mare liberum, só foi solucionado ao �nal do século XVII, predominando o
entendimento de Grotius pela liberdade dos mares.
Apesar de prevalecer a posição de que o marera livre, passou a ser construída uma ideia de que os Estados
costeiros poderiam avançar suas fronteiras por uma pequena faixa de mar, de modo a conferir-lhes certa
segurança. Essa faixa era o mar territorial, onde os Estados podiam exercer sua soberania e sua jurisdição.
Com o passar do tempo, os Estados começaram a olhar o mar com outros interesses, sobretudo o da
exploração de recursos, vivos ou não vivos, como pesca e extração de minerais. Com isso, procuraram
expandir cada vez mais os seus limites, de modo a obter certa exclusividade sobre os recursos em
determinada área.
Figura 2 | Exploração de recursos marítimos
Fonte: Shutterstock.
Em 1945, os Estados Unidos da América declararam a sua soberania sobre os recursos de sua plataforma
continental, de modo que os recursos ali existentes não poderiam ser explorados por outros Estados. Uma
nova discussão veio à tona, com o clamor de vários países pela criação de um instrumento internacional, até
então inexistente, que pudesse estabelecer os direitos de soberania e jurisdição nos espaços marítimos.
VIDEOAULA: DOMÍNIO MARÍTIMO
Após a Declaração Truman, em 1945, os Estados Unidos da América deram início a uma nova fase de busca
pelos recursos minerais situados no leito do mar. Em 1967, em um discurso na Assembleia da ONU, o
embaixador de Malta, Arvid Pardo, chamou a atenção para a necessidade de preservação dos recursos
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existentes no leito marítimo, defendendo a ideia de patrimônio comum da humanidade. Com essa explicação,
o vídeo procura iniciar o estudo da discussão que levou à criação da Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar.
SOBERANIA E JURISDIÇÃO
O conceito de soberania foi primeiramente idealizado por Jean Bodin, em sua obra Os Seis Livros da
República, como um poder perpétuo e ilimitado, que tem por limitações a lei divina e a lei natural (BEIRÃO,
2015). Evidentemente, a sociedade internacional não vê a soberania como um poder ilimitado, mas a
considera como o exercício das competências relativas ao âmbito das relações internacionais.
Quando se fala em exercício de soberania sobre os espaços oceânicos, a questão que se coloca é a
supressão de interesses de um Estado diante de outro que pretende incorporar determinada área aos
seus domínios. Signi�ca dizer que aquela área, eminentemente de caráter internacional, será
incorporada ao seu território para �ns de exercício de alguns direitos e imposição de sua autoridade.
Desde a declaração de mare nostrum no Mediterrâneo, expressa pelo Império Romano, passando pelo
Tratado de Tordesilhas, quando Portugal e Espanha de�niram áreas onde exerceriam os seus interesses e sua
autoridade, a busca por novos direitos no mar se mostra presente, inclusive nos dias de hoje. Pedidos de
extensão dos limites da plataforma continental enviados à ONU comprovam que os países continuam
mantendo seus olhos voltados para o mar, em uma tentativa de ampliar cada vez mais suas fronteiras,
expandindo seu domínio e, também, sua soberania e jurisdição.
Contudo, a área que cobre mais de 70% do globo terrestre foi tardiamente regulada. De acordo com Wagner
Menezes (2015, p. 28): 
Videoaula: Domínio marítimo
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
[...] foi justamente a criação da Sociedade das Nações, com a assinatura do Tratado de
Versalhes, em 1919, que estimulou o processo de discussão sobre a necessidade de regras
que disciplinassem o uso comum do mar. A Conferência de Barcelona, em 1921, resultou
na convenção e no estatuto sobre liberdade de trânsito e sobre o regime das águas
navegáveis de interesse nacional. Embora tenham produzido entendimentos comuns em
matéria do uso do mar, tais convenções ainda estavam limitadas pelo conteúdo de seus
textos e comprometimento dos Estados.
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Diante do cenário de incerteza que permeou a primeira metade do século XX e com o início da Segunda
Guerra Mundial, as relações internacionais entre os Estados não evoluíram, e, com isso, não prosperaram as
tentativas de criação daquele ordenamento jurídico.
Após a Segunda Guerra Mundial, a busca por direitos nos oceanos se intensi�cou. O surgimento de novos
Estados e a necessária delimitação fronteiriça entre eles, o desenvolvimento de novas tecnologias para
exploração em alto mar, a necessidade de aumento da atividade de pesca em razão do crescimento
populacional e a reivindicação de direitos sobre a plataforma continental e exclusividade para exploração
econômica em certas áreas marítimas evidenciaram que era necessário retomar as discussões sobre um
Direito do Mar que pudesse regular a relação entre os Estados (MENEZES, 2015, p. 29). 
Assim, em 1973, a ONU convocou uma conferência, que culminou, nove anos depois, em 1982, na aprovação
da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, um instrumento jurídico internacional que regula
nos dias de hoje o exercício da soberania e jurisdição dos Estados nos espaços marítimos.
VIDEOAULA: SOBERANIA E JURISDIÇÃO
O vídeo detalha as tentativas de uniformização do Direito do Mar, desde a convocação da primeira
conferência, em 1958, até a aprovação, em Montego Bay, da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar.
ESTUDO DE CASO
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar foi uma convenção internacional que paci�cou, em
tese, as discussões sobre o exercício de soberania e jurisdição nos espaços marítimos.
Com ela, os países passaram a ter um fundamento para estabelecer as suas fronteiras além-mar, começando
a usufruir de certos direitos. Aparentemente, os antigos problemas em uma área que era vista como “terra de
ninguém” foram resolvidos, levando o mar a ser visto como pertencente a todos, resguardados os direitos de
terceiros.
Todavia, as questões oceanopolíticas ainda geram inúmeros debates, e um exemplo é a criação de ilhas
arti�ciais no Mar do Sul da China. Com a intenção de aumentar suas águas jurisdicionais, a China vem, de
forma arti�cial, ampliando porções de terra denominadas baixios a descoberto, de modo a ampliar direitos
nessa área.
Por questões históricas, a China reivindica uma grande área que, pela Convenção de Montego Bay, poderia
pertencer a outros países, como Filipinas e Indonésia.
Videoaula: Soberania e jurisdição
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