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Rota11_Língua Portuguesa

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NEAD – Núcleo de Educação a Distância 
ROTAS DE APRENDIZAGEM 
Língua Portuguesa I | Papéis semânticos| Aula 11 
 
Onde Chegar 
• Elencar os objetivos da Unidade Temática 
• Trabalhar em tópicos não numerados 
 
 
Na aula anterior, introduzimos a semântica na parceria com a morfologia e a sintaxe. O 
foco daquela aula foi na semântica dos itens lexicais, mas vimos que a semântica também 
pode ocorrer em formas maiores, mais abrangentes, no nível do sintagma, da sentença 
e do texto. Nesta rota de aprendizagem, vamos enfatizar a semântica no nível funcional 
da sentença. Vamos estudar a teoria dos papéis temáticos. 
• conceituar, exemplificar, definir, refletir, analisar 
O que Aprender 
• Predicados e argumentos 
 Restrição de seleção 
 Teoria Temática 
 
 Na aula anterior, analisamos a concepção de significado nas diversas teorias 
semânticas ao longo do tempo. Falamos da semântica lexical, da semântica formal, da 
AULA 
11 
Papéis semânticos 
A relação semântica entre os 
constituintes 
LÍNGUA PORTUGUESA I 
 
 
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semântica argumentativa e da semântica cognitiva. Nessa última perspectiva, é 
defendida a ideia de representação mental, com a negação da relevância do conceito de 
referência e condição de verdade, defendida pela semântica formal. Segundo Cançado 
(2008), “Um importante ponto concernente aos estudos dos papéis temáticos é a relação 
do evento com a estrutura conceitual mental, e da estrutura conceitual mental com a 
sintaxe” (p.109). 
 Para falar da teoria dos papéis temáticos, que é parte do complexo de teorias da 
gramática gerativa, vamos voltar a um conceito já discutido em uma aula anterior – a 
ideia de predicados e argumentos. Lembram-se? Mas para iniciar nossa discussão, vamos 
analisar as seguintes sentenças: 
a) Paulo dormiu. 
b) *A pedra dormiu. 
c) *Paulo dormiu a pedra. 
d) Paulo pegou a pedra. 
e) Paulo gosta de maçã. 
f) *A maçã gosta de Pedro. 
 
Como já sabemos, as sentenças que iniciam com um asterisco, o símbolo *, indica 
agramaticalidade. As sentenças a), d) e e) são sentenças gramaticais, certo? São 
sentenças que qualquer brasileiro pode produzir. Mas o que faz com que as sentenças 
b), c) e f) sejam agramaticais? A não ser com o uso de uma conotação qualquer (lembra-
se do termo conotação?), não é possível dizer que a pedra dormiu. Pedras não dormem! 
Nem é possível colocar um objeto direto e dizer que Paulo dormiu a pedra. O verbo 
dormir é intransitivo! Também não é gramatical, em sentido literal, ter uma maçã como 
sujeito do verbo gostar. 
A que podemos atribuir as agramaticalidades acima? Às restrições de seleção!! Mas 
o que é isso? Vocês se lembram dos conceitos de predicados e argumentos? Lembram-
se que o verbo, sendo um predicado ele seleciona ou não um ou mais argumentos? 
Então: 
• Predicados – núcleos que selecionam os elementos lexicais que coocorrerão 
com eles. 
• Argumentos – elementos selecionados pelos predicados. 
Podemos acrescentar ao nosso estudo, dizendo que os argumentos podem ser 
externos e internos. Vejam os exemplos: 
a. Choveu. 
b. A Maria morreu. 
c. A Maria comprou o livro. 
d. A Maria deu o livro para João. 
e. A destruição da cidade. 
f. O lançamento do livro. 
g. O inimigo destruiu a cidade. 
h. A editora lançou o livro. 
 
 
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Os termos em negrito são argumentos externos e os termos sublinhados são 
argumentos internos. Isso significa que o sujeito é o argumento externo, enquanto o 
objeto e o complemento nominal são argumentos internos e fazem parte da estrutura 
interna do verbo. Aí dá para entender por que, na gramática tradicional, retira-se o 
sujeito e o que resta é o predicado. 
Muito bem, voltando aos predicados e argumentos e ao conceito de seleção, vamos 
discutir a questão da restrição de seleção para entendermos por que algumas das 
sentenças acima são agramaticais. 
 
Restrição de seleção 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A seleção de argumentos pelo predicado pode ser de dois tipos: S-seleção, ou 
seja, uma seleção semântica, ou C-seleção1, uma seleção gramatical, de categoria. A 
seleção semântica se dá pela característica do significado do argumento. Não há sentido 
em dizer que uma pedra beijou alguém ou alguma coisa, pois pedra não é capaz de beijar. 
O verbo beijar tem uma restrição na seleção do argumento externo. É necessária a 
existência de uma boca nesse ser para que seja argumento externo de beijar. 
Já a restrição de C-seleção diz respeito à categoria gramatical do argumento. O 
verbo beijar seleciona um DP como argumento externo e outro DP como argumento 
interno, mas não aceita um CP. O verbo dizer aceita tanto DP quanto CP como argumento 
interno. 
Desenvolvimento 
 
1 A operação de C-Seleção está ligada à teoria X-barra e define o tipo de sintagma demandado pelo 
predicado. Como estudamos a terminologia da gramática tradicional, você pode estranhar essas siglas 
DP, PP, CP. Lá na aula de sintaxe, quando mencionamos a teoria X-barra, falamos do NP (noun phrase 
– sintagma nominal) e do VP (verb phrase – sintagma verbal) O DP (determiner phrase) é o NP com 
seus determinantes; o PP (prepositional phrase) é o sintagma preposicional e o CP (complementizer 
phrase) é a sentença que começa pelo complementizador, a conjunção que. 
• A Maria beijou o Pedro. 
• *A pedra beijou o Pedro. 
• *Pedro dormiu a pedra. 
 
 
• A Maria disse [
DP 
a verdade ]. 
• A Maria disse [
CP
 que o João saiu ]. 
• O João gosta [
PP
 da Maria ]. 
• *A Maria beijou [
CP
 que o João saiu]. 
 
S -seleção 
C-seleção 
 
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Os papeis temáticos 
O nosso domínio das regras de formação da sentença nos habilita a utilizar o léxico 
conforme as restrições acima discutidas. Conforme afirma Mioto et al. (1999), “as palavras 
da língua têm propriedades tais que o aparecimento de um certo item lexical já nos faz 
esperar um outro item ou grupo de itens” (p.84). Segundo a teoria gerativa, a capacidade de 
selecionar o tipo de categoria na estrutura da sentença é inata, enquanto os itens lexicais são 
adquiridos e estocados na memória. A seleção semântica dos argumentos respeita o que a 
teoria chama de grade temática, pois cada argumento representa um papel temático. Assim 
funciona uma grade temática: 
O menino chutou a bola. 
• Chutar: categoria [-N, +V] 
no. de argumentos [ , ] 
c-seleção [DP, DP 
s-seleção [AGENTE, TEMA/PACIENTE] 
 
O verbo chutar está na categoria de verbo (-N, +V), que é um predicado que exige 
dois argumentos. Na C-selecão os argumentos selecionados são do tipo DP. Já as informações 
relativas à S-seleção codificam o que é chamado na teoria gerativa de papel temático ou papel 
Τ (Theta). Nesse caso a seleção foi de um agente e um tema. 
 
Cançado (2008) listou uma série abrangente de papéis temáticos, conforme a seguir: 
a) Agente: o desencadeador de alguma ação, capaz de agir com controle. 
Joao quebrou o vaso com um martelo. 
 
b) Causa: o desencadeador de alguma ação, sem controle. 
As provas preocupam Maria. 
 
c) Instrumento: o meio pelo qual a ação é desencadeada. 
Joao calou o vaso com cola. 
 
d) Paciente: a entidade que sofre o efeito de alguma ação, havendo mudança de estado. 
Joao quebrou o vaso. 
 
e) Tema: a entidade deslocada por uma ação. 
Joao jogou a bola para Maria. 
 
f) Experienciador: ser animado que mudou ou está em determinado estado mental, 
perceptual ou psicológico. 
Joao pensou em Maria. 
 
g) Beneficiário: a entidade que é beneficiada pela ação descrita. 
Joao pagou Maria. 
 
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h) Objetivo (ou ObjetoEstativo): a entidade à qual se faz referência, sem que esta 
desencadeie algo, ou seja afetada por algo. 
Joao leu um livro. 
i) Locativo: 0 lugar em que algo está situado ou acontece. 
Eu nasci em Belo Horizonte. 
 
j) Alvo: a entidade para onde algo se move, tanto no sentido literal, como no sentido 
metafórico. 
Sara jogou a bola para o policial. 
 
k) Fonte: a entidade de onde algo se move, tanto no sentido literal, como no sentido 
metaf6rico. 
Joao voltou de Paris. 
 
A autora adverte para o fato de que “as definiç6es dadas acima correspondem a 
caracterizações bastante intuitivas, entretanto muito informais e vagas para um tratamento 
teórico”. (CANÇADO, 2008 p. 112) 
 
Vá mais longe 
• Capítulos Norteadores: Capítulo 5 – Estrutura sintagmática da sentença (pp 93-
105). GAVIOLI-PRESTES, C. M.; LEGROSKI, M. C. Introdução à sintaxe e à 
semântica da língua portuguesa. Curitiba: InterSaberes, 2015. 
Agora é sua vez! 
Interação 
Com base em nosso estudo de semântica nestas duas últimas aulas, vamos discutir sobre 
o verbo comer nas sentenças abaixo. 
 
a) O gato comeu a carne de porco. 
b) As crianças comeram muito bem. 
c) Maria comeu o pão que o diabo amassou. 
d) Eles comeram fora ontem. 
 
O que podemos dizer do significado e da grade temática do verbo em cada sentença? 
 
Atividade 
 
Analise as sentenças abaixo e numere cada sentença de acordo com o papel temático 
representado pelo sujeito. 
 
(1) agente ( ) O alicate abriu a porta. 
 
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(2) paciente ( ) João viu o pássaro. 
(3) beneficiário ( ) O menino cortou o bolo. 
(4) instrumento ( ) Maria sofreu um acidente. 
(5) experienciador ( ) Mariana recebeu um presente. 
 
Resposta: 4 – 5 – 1 – 2 – 3 
 
Referências 
• CANÇADO, M. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. Belo 
Horizonte: Editora da UFMG, 2008. 
• GAVIOLI-PRESTES, C. M.; LEGROSKI, M. C. Introdução à sintaxe e à 
semântica da língua portuguesa. Curitiba: InterSaberes, 2015. 
• MIOTO, Carlos; FIGUEIREDO-SILVA, M.C.; LOPES, R.E.V. Manual de 
Sintaxe. Florianópolis: Insular, 1999.

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