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Fundam entos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Gustavo Thayllon França Silva ISBN 978-65-5821-318-5 9 786558 213185 Código Logístico I000849 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Gustavo Thayllon França Silva IESDE BRASIL 2023 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2023 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: wavebreakmedia/shutterstock - VVadi4ka/shutterstock 23-84713 CDD: 371.9 CDU: 376 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S58f Silva, Gustavo Thayllon França Fundamentos da educação especial na perspectiva inclusiva / Gustavo Thayllon França Silva. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2023. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-318-5 1. Educação especial. 2. Educação inclusiva. I. Título. Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439 26/06/2023 30/06/2023 Gustavo Thayllon França Silva Mestre em Educação e Novas Tecnologias pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Especialista em Psicopedagogia Escolar, Empresarial, Hospitalar e Clínica pela Faculdade Rhema. Especialista em Atendimento Educacional Especializado pela Faculdade São Luís. Especialista em Psicanálise e Intervenções Clínicas pelo Centro Universitário de Tecnologia de Curitiba (Unifatec). Bacharel em Psicopedagogia pela Uninter. Professor na Educação Superior e em clínica psicopedagógica. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Aprendizagem humana e desafios da inclusão 9 1.1 A construção da aprendizagem humana 10 1.2 Abordagens do desenvolvimento humano 14 1.3 Desafios da escola inclusiva 20 1.4 Dificuldades, deficiências e transtornos 23 1.5 Mitos e verdades sobre as deficiências 26 2 História da Educação Especial 33 2.1 A deficiência ao longo do tempo 33 2.2 Período de extermínio 38 2.3 Períodos da segregação e da integração 42 2.4 Período da inclusão 46 3 Legislação educacional e terminologia adequada 53 3.1 O que é ser uma pessoa com deficiência? 54 3.2 A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência 57 3.3 Termos específicos 62 3.4 Desenho universal e a Lei de Acessibilidade 65 3.5 Barreiras e acessibilidade 68 4 Práticas pedagógicas e deficiências 73 4.1 Deficiência visual, auditiva e surdocegueira 74 4.2 Deficiência física e intelectual 81 4.3 Altas habilidades ou superdotação 85 4.4 Transtornos do neurodesenvolvimento 90 5 Inclusão na Educação Especial 99 5.1 Atendimento educacional especializado 100 5.2 Sala de recursos multifuncionais 104 5.3 Tecnologias assistivas e comunicação alternativa 108 5.4 Currículo inclusivo e adaptado 113 5.5 Avaliação na Educação Especial 116 Resolução das atividades 121 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Esta obra, escrita com muito carinho e zelo, tem o intuito de nortear os estudantes e os profissionais que atuam com o público-alvo da Educação Especial. Nela são apresentados fundamentos teóricos, técnicos e metodológicos para uma atuação profissional mais assertiva e pautada em aspectos éticos, críticos e reflexivos. A Educação Especial configura-se como uma modalidade transversal de ensino, ou seja, ela pode ser ofertada da Educação Infantil à pós-graduação. Ela congrega um conjunto de ferramentas e estratégias que sustentam a promoção da aprendizagem das pessoas com deficiência, transtornos do neurodesenvolvimento, altas habilidades e superdotação. Esta obra está organizada em cinco capítulos. Cada um com temáticas específicas que farão com que novos conhecimentos sejam obtidos e o repertório seja devidamente ampliado. No primeiro capítulo dialogaremos acerca da aprendizagem humana com base em perspectivas relativas à construção da aprendizagem, abordagens do desenvolvimento humano, diferença entre dificuldades, transtornos e deficiências, desafio e mitos acerca da deficiência. No segundo capítulo explicitaremos os principais períodos históricos das deficiências, ou seja, como elas se desdobram ao longo do tempo. Já no terceiro capítulo apresentaremos aspectos relativos a legislações e dispositivos legais: a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), os conceitos de acessibilidade e de desenho universal e as barreiras que impedem a verdadeira inclusão das pessoas com deficiência. No quarto capítulo apresentaremos as especificidades das deficiências visual, auditiva, física, neuromotora e intelectual, assim como as das altas habilidades e dos transtornos do neurodesenvolvimento. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Por fim, no quinto capítulo traremos elementos contemporâneos da Educação Especial, isto é, o que é o atendimento educacional especializado, qual a sua importância e os elementos constituintes da sala de recursos multifuncionais. Conceituaremos a tecnologia assistiva e a comunicação alternativa, o currículo e a avaliação da aprendizagem. Bons estudos! Aprendizagem humana e desafios da inclusão 9 1 Aprendizagem humana e desafios da inclusão Para começarmos nossas discussões, cabe aqui uma indagação inicial: qual é a importância de entendermos a aprendizagem humana em um contexto de inclusão de pessoas com deficiência? Se pensarmos nessa demanda, vale mencionar que a aprendizagem é um conceito polissêmico, isto é, sofre influências de diferentes aspectos da vida do sujeito: sociais, biológicos, sociológicos, psicológicos, emocio- nais, entre tantos outros. Portanto, falar em como aprendemos não é uma tarefa tão simples, haja vista que cada um de nós aprende preferencialmente por uma via sensorial e por meio de diferentes estímulos. Nesse sentido, para pensarmos ainda a aprendizagem em seus padrões normais e patológicos, precisamos compreender como o sujeito constrói e desenvolve sua aprendizagem desde a mais tenra infância. Para tanto, existem teorias e técnicas que nos auxiliam nes- se contexto, como as teorias que embasam o estudo do desenvolvi- mento humano. Partindo dessa abordagem do desenvolvimento humano, consegui- mos perceber as disfuncionalidades na aprendizagem dos sujeitos, como as dificuldades e os transtornos de aprendizagem, bem como as possíveis deficiências que o sujeito poderá ter. Já que falamos sobre deficiências, vale lembrar também que até hoje persistem muitos mitos envolvendo esse assunto, como algumas pessoas que ainda acreditam que a deficiência poderá ser transmitida apenas por se conviver com pessoas com deficiência, o que é incorreto. Esse e outros mitos serão desmistificados a fim de assegurarmos um melhor entendi- mento sobre o que se trata a deficiência. 10 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender como se constitui a aprendizagem humana pela perspectiva de recortes teóricos específicos; • entender as etapase fases do desenvolvimento humano com base nas perspectivas de Freud e Piaget; • reconhecer as diferenças entre dificuldades, transtornos e deficiências; • compreender quais são os principais mitos das deficiências; • conhecer os principais desafios da escola inclusiva. Objetivos de aprendizagem 1.1 A construção da aprendizagem humana Vídeo A aprendizagem humana se dá por meio de diferentes fatores, ou seja, é uma questão de polissemia. Quando pensamos na aprendiza- gem, precisamos compreender primeiramente a forma como nós mes- mos aprendemos. Você já parou para refletir sobre essa questão? Cada um de nós aprende preferencialmente por uma via sensorial (ENAP, 2015), por exemplo, alguns aprendem melhor pela visão, outros pela audição, e assim por diante. Entretanto, para além das vias senso- riais, a aprendizagem se constitui como um complexo emaranhado de elementos o qual faz com que consigamos aprender coisas novas. Esse emaranhado de elementos constitui-se pelas vias sensoriais, sociais, biológicas, pelos elementos culturais, pela aprendizagem por meio da experiência, por elementos verbais – como as pessoas que aprendem mais por meio da leitura, da escrita e dos símbolos – e por elementos não verbais – as fotos, os filmes, os vídeos, as ilustrações e demais elementos gráficos (ENAP, 2015). Segundo Illeris (2013, p. 3), a aprendizagem pode ser definida em um primeiro momento como “qualquer processo que, em organismos vivos, leve a uma mudança permanente em capacidades e que não se deva unicamente ao amadurecimento biológico ou ao envelhecimento”. Aprendizagem humana e desafios da inclusão 11 Se partirmos dessa definição, a aprendizagem humana acontece por meio da aquisição de novas habilidades, sejam elas sociais, acadê- micas, escolares, emocionais ou até mesmo de vida diária – atividades básicas que fazemos em nosso cotidiano. Pensando na aprendizagem de atividades de vida diária, podemos ob- servar a necessidade de ensinar nossos filhos, por exemplo, a amarrar os sapatos, a escovar os dentes, a utilizar o banheiro – todas essas atividades são aprendidas e possuem um fim de extrema importância, que é a manu- tenção da nossa vida, do nosso corpo, e assim por diante. Não distante disso, precisamos observar, ainda, que a aprendiza- gem humana se dá por diferentes meios, isto é, pelo meio social, pelo meio biológico, pelos aspectos psicológicos superiores, entre outros. Todas essas formas de aprendizagem fazem uma intersecção entre si. Outro conceito importante que sustenta a aprendizagem humana e faz com que consigamos entender a forma como nós e os outros aprendemos se baseia na neurociência, que busca, por sua vez, estudar a forma como o cérebro aprende e suas interligações com o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico (LENT, 2018). Algumas literaturas costumam apontar a neurociência da apren- dizagem como base neurológica ou base neuropsicológica da apren- dizagem, mas aqui utilizaremos apenas a expressão neurociência educacional. Agora, observe a intersecção da estrutura da aprendiza- gem humana (LENT, 2018). Figura 1 Abordagens da aprendizagem Aprendizagem humana Aprendizagem pelos aspectos sociais Aprendizagem por meio da neurociência Aprendizagem pelos aspectos psicológicos Fonte: Elaborada pelo autor. wavebreakmedia/Shutterstock 12 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva A aprendizagem humana engloba todas as demais. Para entender- mos melhor cada uma delas, iniciamos nossa análise da Figura 1 por meio da aprendizagem pelos aspectos sociais. As teorias que funda- mentam esse modelo de aprendizagem se baseiam no meio em que a criança está – as influências do meio contribuem para a sua aprendi- zagem, principalmente aquelas voltadas para normas e regras sociais, limites e potencialidades. Lev Vygotsky é um dos teóricos que defendem a aprendizagem mediada, na qual existirão as influências do meio e da experiência para a constituição da aprendizagem, bem como as formas como as funções psicológicas superiores contribuem para essa aprendizagem (SANTOS et al., 2021). As funções psicológicas superiores podem ser descritas como percepção, atenção, linguagem, raciocínio lógico, memória e movi- mento. Como exemplo, podemos observar por meio da própria lin- guagem que a criança vai aprendendo a se comunicar inicialmente pelos gestos e, à medida que vai amadurecendo suas funções psico- lógicas superiores, ela adquire a linguagem oral. No início, essa lin- guagem se dá pela repetição de palavras e pela imitação, e, a partir do processo maturacional, vai ficando mais robusta e interativa. A aprendizagem pela perspectiva social passa sobretudo pelos aspectos das vivências e das experiências. A historicidade nessa teo- ria ganha espaço, tendo em vista que muito do que foi aprendido dos hábitos, dos costumes e dos ritos é passado de geração para geração e isso vai construindo o que chamamos de interpelação ge- racional da aprendizagem. Nesse contexto, o dicionário Aurélio afirma que a palavra ambiente significa “aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas; por todos os lados; é o conjunto de condições materiais e morais que en- volve alguém” (FERREIRA, 1999, p. 17). Foulquié (1976) afirma que os aspectos ambientais no contexto da aprendizagem se referem aos estímulos proporcionados, por exemplo, pela família, por meio de uma atmosfera moral de alegria, tristeza, bem como demais sentimentos que podem surgir desse meio. Todo esse ambiente gera uma aprendizagem social que é incutida no repertório comportamental da criança que está em desenvolvimento. Aprendizagem humana e desafios da inclusão 13 O ambiente não se restringe às questões dos sentimentos, mas tam- bém é reflexo dos aspectos econômicos, políticos e até mesmo das con- dições de estrutura física na qual essa criança e essa família residem. A criança precisa se envolver no ambiente, precisa correr, brincar, cair, sentir o que está acontecendo, passar por frustração, sentir o ar em sua pele – tudo isso passa pela aprendizagem em um contexto social e ambiental. A segunda perspectiva da aprendizagem apontada é a aprendiza- gem por meio das bases neurológicas, ou neurocientíficas. Para ex- plicarmos esse movimento, precisamos recorrer à neurociência, que é o estudo do funcionamento humano pelo viés do entendimento e do funcionamento do sistema nervoso. De acordo com Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016), a aprendizagem sob o ponto de vista neurológico se dá pelo cérebro. Nessa perspectiva, podemos, portanto, compreender o sistema nervoso central e periféri- co como fonte de recepção e interpretação das informações que fazem com que essa criança que está em desenvolvimento aprenda. Segundo esses autores, é por meio das nossas funções cerebrais – memória, percepção, atenção, concentração, planejamento, contro- le inibitório, flexibilização cognitiva, aspectos sensoriais – que somos capazes de aprender, e essa aprendizagem levamos ao longo da vida, o que se reflete sobretudo nas habilidades que adquirimos e no nosso comportamento. Nosso cérebro, por sua vez, possui dois hemisférios, o direito e o esquerdo, cada uma com suas funções, como motricidade, per- cepção, planejamento lógico, linguagem, memória, desenvolvimen- to visuoespacial, e assim por diante. Independentemente da forma como aprendemos, só o conseguimos porque nosso cérebro apre- senta as condições para isso, ou seja, temos mais de 85 bilhões de neurônios que fazem com que toda essa magia aconteça (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Por fim, temos a aprendizagem por meio de aspectos psicoló- gicos, ou seja, o entendimento da aprendizagem sob o viés das emoções, dos sentimentos, incluindo a influência de aspectos de an- siedade, estresse, entre outros, que causam possíveis dificuldades no processo de aprender. Photoroyalty/Shutterstock O vídeo Neurociência e a consolidação da aprendi- zagem fala sobre a concei- tuação da aprendizagem em uma perspectivaneurocientífica e do ponto de vista cognitivo. Vale a pena assisti-lo para com- plementar seus estudos. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=C7gj9wtt4GM. Acesso em: 2 jun. 2023. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=C7gj9wtt4GM https://www.youtube.com/watch?v=C7gj9wtt4GM https://www.youtube.com/watch?v=C7gj9wtt4GM 14 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Pensando na prática Vamos pensar em uma situação: crianças cujos pais estão em processo de separação sofrem influência dos aspectos emocionais e podem apresentar sintomas depressivos, de ansiedade, de desatenção, entre tantos outros. Ou seja, podem desencadear patologias em virtude dessa disfuncionalidade psí- quica. Esses sintomas podem afetar diretamente a aprendizagem dela, pois ao invés de conseguir se concentrar e pensar no que se passa na sala de aula, ela estará preocupada em tentar ajudar seus pais a pararem de brigar. As funções psicológicas estão diretamente relacionadas à aprendi- zagem, existindo vários processos envolvidos nesse aspecto, como a atenção, a percepção, a linguagem, a memória, o raciocínio lógico e a resolução de problemas. Na criança, essas funções estão sempre em desenvolvimento e fazem interface com o próprio ambiente, podendo afetar o bem-estar emocional delas. Se pensarmos nas emoções, aquelas que são positivas – como ale- gria, entusiasmo e satisfação – geram motivação e curiosidade para as crianças aprenderem, da mesma forma que as que são negativas geram o efeito oposto e acabam desencadeando possíveis dificulda- des no aprender. Em sintonia com isso, também podemos nos referir à ansiedade, à depressão e até mesmo à síndrome do pânico como causas do não aprender. Por exemplo, crianças que passam por situações complexas nas famílias ou mesmo na escola (como bullying) podem apresentar tais psicopatologias, o que gera dificuldades em aprender de maneira efetiva. 1.2 Abordagens do desenvolvimento humano Vídeo Como vimos, a aprendizagem humana perpassa diferentes aspectos, como os sociais, os biológicos, os psicológicos, entre outros. Nesse sen- tido, existem teorias específicas que podem nos auxiliar a entender a forma como a aprendizagem acontece no desenvolvimento dos sujeitos. Para isso, há um campo de conhecimento específico, a psicologia do desenvolvimento humano, que trabalha com as chamadas teorias do desenvolvimento humano. Em algumas literaturas, podemos encontrar o nome teorias da aprendizagem. Evgeny Atamanenko/Shutterstock Aprendizagem humana e desafios da inclusão 15 As teorias do desenvolvimento humano são de fundamental impor- tância para entendermos como as crianças aprendem. Explicaremos duas dessas teorias na sequência. A primeira é a teoria psicanalítica, de Sigmund Freud; a segunda é a de Jean Piaget, que embasa os aspectos cognitivos dos sujeitos. Porém, o que significa esta terminologia, desenvolvimento humano? Para responder a isso, recorremos a Silva (2022), o qual menciona que o estudo do desenvolvimento humano se baseia no entendimento do ser humano desde a fecundação até a morte, considerando que tudo o que acontece durante esse período é desenvolvimento. De acordo com o dicionário Michaelis, a palavra desenvolvimen- to significa “passagem gradual (da capacidade ou possibilidade) de um estágio inferior a um estágio maior, superior, mais aperfeiçoa- do etc.; adiantamento, aumento, crescimento, expansão, progresso” (MICHAELIS, 2023). Se considerarmos essa definição, podemos então pensar na pers- pectiva da passagem do tempo e como isso nos oferece experiên- cias que dão base para a aprendizagem. Sob outro viés, podemos, ainda, pensar na maturação do nosso corpo: com o passar dos anos e conforme envelhecemos, vamos ganhando peso e estatura (até chegarmos à fase adulta) e, junto disso, nossas funções psicológicas também vão amadurecendo, ou seja, chegando a um estágio me- lhor, mais refinado. As teorias do desenvolvimento humano perpassam, portanto, um entendimento de mudança, maturação, ação, temporalidade, cresci- mento e desenvolvimento motor, o que se reflete sobretudo na con- cepção do aprender. Nossa vida está sempre em desenvolvimento, estamos sempre em modificação orgânica, e essas modificações geram algumas mudanças em nossos corpos, como o aparecimento de pelos, o au- mento dos seios, entre outros. Outros aspectos também podem ser mencionados, como as questões das influências da genética e a neu- rofisiologia. Essas modificações nos acompanham até o fim da vida; inclusive, à medida que envelhecemos, podemos passar por perda de peso, diminuição da estatura, bem como podem surgir patologias da visão e da audição. No vídeo Teorias do desenvolvimento e da aprendizagem - Aula 1, a professora doutora Rosa Pereira discute o desen- volvimento da criança e da pessoa, bem como as influências do meio para a aprendizagem. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=Gd7SaHVNboY. Acesso em: 2 jun. 2023. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=Gd7SaHVNboY https://www.youtube.com/watch?v=Gd7SaHVNboY https://www.youtube.com/watch?v=Gd7SaHVNboY 16 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Mas, afinal, o que é o campo do desenvolvimento humano? Papalia e Feldman (2013) afirmam que o campo do desenvolvimento humano se concentra nos entendimentos dos processos de mudança e estabi- lidade que acontecem conosco. Os cientistas que se debruçam sobre o estudo dessa área buscam perceber e descrever cientificamente as transformações que acontecem com os seres humanos desde a fecun- dação até a sua morte. Sifuentes, Dessen e Oliveira (2007, p. 379) comentam que “o desen- volvimento humano é um processo de construção contínua que se es- tende ao longo da vida dos indivíduos, sendo fruto de uma organização complexa e hierarquizada que envolve desde os componentes intraor- gânicos até as relações sociais e a agência humana”. Ainda nesse contexto, de acordo com Papalia e Feldman (2013), os es- tudos do desenvolvimento humano atravessam três domínios, que são: Desenvolvimento físico O crescimento do corpo, do cérebro e as habilidades motoras. Desenvolvimento psicossocial Baseia-se sobretudo nas relações sociais, que são influenciadas também pelas emoções e pela personalidade das pessoas. Desenvolvimento cognitivo Envolve os aspectos da memória, da cognição do raciocínio e da criatividade. 1 - M -v ec to r/ Sh ut te rs to ck / 2 - A be rt/ Sh ut te rs to ck 1 2 1 1 As teorias do desenvolvimento buscam entender como funciona o curso de vida – o desenvolvimento humano –, ou também chamado de estágios do desenvolvimento. Esses estágios, portanto, são entendidos Aprendizagem humana e desafios da inclusão 17 como representações ou marcos que acontecem com os sujeitos em de- terminada idade, seja no contexto social, maturacional ou psicológico. Além disso, temos os períodos do desenvolvimento humano, ou perío- dos do ciclo vital, na primeira, segunda e terceira infância, adolescência, vida adulta jovem, vida adulta intermediária e terceira idade. Dito isso, agora entenderemos um pouco sobre as duas teorias men- cionadas anteriormente e que embasam o desenvolvimento humano. A primeira é a da psicanálise de Freud. Por psicanálise podemos entender o “procedimento de investigação dos processos mentais, um método de tratamento e uma disciplina científica” (ZIMERMAN, 2007, p. 32). Freud foi o fundador da psicanálise e buscou entender esses pro- cessos em uma época na qual a medicina se baseava apenas nos aspectos orgânicos dos adoecimentos mentais, ou ainda, como ele denominava, neuroses. Conforme Roudinesco e Plon (1998, p. 603), o termo psicanálise é definido da seguinte maneira: Criado por Sigmund Freud, em 1896, para nomear um método particular de psicoterapia (ou tratamento pela fala) proveniente do processo catár- tico (catarse) de Josef Breuer e pautado na exploração do inconsciente, com a ajuda da associação livre, por parte do paciente,e da interpretação, por parte do psicanalista. O que mais nos interessa na teoria de Freud é que ele propôs o de- senvolvimento infantil pelo olhar da sexualidade, ao considerar que a criança também possui uma sexualidade. Vale ainda mencionar que essa sexualidade não se dá pela sexua- lidade que o adulto percebe, mas trata-se, sim, de uma sexualidade como dimensão psicológica – por exemplo, por meio do afeto, do ca- rinho, ou ainda do processo de satisfação, como quando a criança se alimenta. Na perspectiva de Couto (2017, p. 1), as manifestações sexuais da criança são perversas porque não têm relação com a reprodução e são polimorfas porque não estão centralizadas em um objeto sexual, mas assumem formas variadas de satisfação por meio de zonas erógenas, partes da pele ou da mucosa de onde se origina uma excitação sexual e 18 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva que são tomadas como a principal referência para os outros prazeres do corpo. Portanto, o corpo da criança é tomado por pulsões parciais autoeróticas, que são pulsões sexuais fragmen- tadas e independentes entre si no que diz respeito à busca pela satisfação. A obtenção de prazer é encontrada no próprio corpo e não em um objeto externo. Nesse sentido, de acordo com Zimerman (2007), Freud propôs sua teoria do desenvolvimento, chamada teoria psicossexual, que é também dividida em estágios, conforme exposto no quadro a seguir. Quadro 1 Estágios do desenvolvimento Estágio Descrição Oral A criança leva tudo à boca e é sensorial, sua zona de prazer é a própria boca, utilizando-a para sua satisfação, como quando se alimenta. Esse estágio dura do nascimento até mais ou menos o primeiro ou o segundo ano de idade. Anal Inicia-se por volta de um ano de idade até mais ou menos por volta dos três anos. Nele, a criança aprende a controlar as necessidades fisiológicas, como os esfíncteres e a bexiga, por exemplo. É um estágio muito delicado, pois é quando acontece o que chamamos de desfralde, e os pais precisam ter muita cautela para não criar barreiras nas crianças, porque isso pode impedi-las de sair desse estágio. Fálico Inicia-se por volta dos três anos de idade e encerra-se por volta dos seis anos. Nesse período acon- tecem as fases das curiosidades e dos porquês, e as crianças começam a entender a diferença entre meninos e meninas. De latência Inicia-se por volta dos cinco anos de idade. As energias libidinais ficam represadas, as crianças entram na escola e sua preocupação agora é com as habilidades sociais e acadêmicas, o entendimento e o relacionamento com seus pares. As brincadeiras, as diversões e os esportes ganham mais espaço. Genital Esse período inicia-se na puberdade, com a busca por relacionamentos, desenvolvimento, pelo traba- lho, pela carreira e família, e perdura até o fim da vida. O sujeito já reconhece seus desejos sexuais. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Zimerman, 2007. Para Freud, as experiências vividas na primeira infância são cruciais para o desenvolvimento e para a aprendizagem do sujeito, pois sua personalidade é desenvolvida com base na vivência e na resolução de conflitos ocorridos nesse período. Vale aqui entendermos que os principais traumas que acompa- nham essas crianças acontecem no período do desenvolvimento. É muito comum, por exemplo, por volta dos seis ou sete anos, a criança ter contato com o componente curricular de Matemática e se frustrar ou não conseguir acompanhar a turma por alguma dificuldade que se manifeste. Entretanto, teremos duas abordagens docentes distintas: a primeira, em que a professora escuta e acolhe, e a segunda, em que a Aprendizagem humana e desafios da inclusão 19 professora rechaça essa criança. A segunda abordagem poderá causar fraturas no processo de aprender dessa criança, o que a levará a um bloqueio da aprendizagem nesse assunto. A teoria psicanalítica auxilia o professor, por exemplo, a criar um espaço de escuta, um espaço de acolhimento em que a criança possa expressar suas emoções. A outra teoria abordada aqui e que também estuda o desenvolvi- mento humano é a epistemologia genética de Jean Piaget. Essa teoria possui esse nome porque epistemologia origina-se, de acordo com o dicionário Michaelis, do “Conjunto de conhecimentos sobre a origem, a natureza, as etapas e os limites do conhecimento humano; teoria do conhecimento” (MICHAELIS, 2023). Além da epistemologia, temos o termo genética, o qual vem do ter- mo grego genno, que significa fazer nascer. Portanto, essa teoria se em- basa no início da construção da inteligência e do conhecimento pela criança. Piaget fala que o conhecimento da criança começa a ser construí- do por meio da satisfação das suas necessidades e pelo estágio sen- sório-motor; partindo disso, a criança ganha novas habilidades para explorar o mundo que a cerca. A partir de todo o desenvolvimento sen- sório-motor, a criança ganha maturidade para aprender as regras e os conceitos sociais exigidos pela sociedade da qual ela participa. Piaget também menciona que a criança, conforme vai tendo contato com as experiências, desenvolve habilidades lógicas, de abstração, e em cada estágio superado continua com o conhecimento construído nos estágios anteriores. Os estágios do desenvolvimento humano dessa teoria são resultado de vários métodos aplicados, principalmente em virtude da formação de Piaget na área biológica e por meio da observação comportamental de seus filhos. Sobre isso, Papalia e Feldman (2013, p. 65) comentam: O método clínico de Piaget combinava observação com inda- gação flexível. Ao perguntar por que as crianças respondiam as perguntas da maneira como o faziam, ele percebeu que crianças da mesma idade cometiam tipos semelhantes de erro em lógi- ca. Assim, por exemplo, ele descobriu que uma criança típica de 4 anos acreditava que moedas ou flores eram mais numerosas quando dispostas em filas do que quando empilhadas. 20 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Os estágios de Piaget buscam entender o desenvolvimento da crian- ça pela perspectiva cognitiva, na qual a criança assimila, acomoda e equilibra o conteúdo aprendido durante a vida, criando categorias de análise e aplicação. Quadro 2 Estágios do desenvolvimento Estágio Idade Descrição Inteligência sensório-motora 0 a ± 2 anos Acontecem as primeiras emoções, o desen- volvimento inicial dos aspectos motores, a alimentação, as percepções e o desenvolvi- mento dos aspectos afetivos. Pensamento pré-operatório 2 a 7 anos A criança ainda precisa do adulto para re- gular seus pensamentos e comportamen- tos, mas já percebemos os aspectos relati- vos à espontaneidade e às relações sociais. Operatório concreto 7 a ± 12 anos Perpassa as operações intelectuais concre- tas. Aqui percebemos o desenvolvimento do raciocínio mais lógico, matemático, da cooperação e do entendimento da moral. Operatório formal ± 12 anos em diante Começam as abstrações, a formação da personalidade e a inserção na sociedade de modo mais ativo e reflexivo. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Gamez, 2013. A teoria cognitiva de Jean Piaget busca enfatizar, sobretudo, a im- portância do desenvolvimento cognitivo e da capacidade das crianças de construir conhecimento por meio das suas próprias experiências. 1.3 Desafios da escola inclusiva Vídeo Muito provavelmente você frequentou a escola de Educação Básica, correto? E você lembra se algum dos seus colegas tinha deficiência ou alguma dificuldade acentuada de aprendizagem? Essa pergunta acaba por nos desestabilizar um pouco, não é mes- mo? Alguns de nós podem lembrar, outros não, ou, ainda, nós pode- ríamos ser o aluno com deficiência. Porém, essas perguntas servem justamente para que possamos entender em que momento estamos do processo de uma verdadeira inclusão nas escolas. A escola é uma sociedade dentro da sociedade. Lá existem tensões, reflexões e ações que precisam ser observadas mais de perto e trata- Aprendizagemhumana e desafios da inclusão 21 das com equidade. A escola é a personificação dos anseios, das angús- tias, das expectativas, das alegrias, da felicidades e dos sucessos que os pais esperam que seus filhos alcancem. Entretanto, da mesma forma, uma escola inclusiva é aquela que “ga- rante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos, re- conhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades” (ARANHA, 2004, p. 7). Se pensarmos por esse prisma, podemos então chegar a um con- senso: toda escola é inclusiva, pois sempre pensa na melhoria da qua- lidade para seus estudantes. Entretanto, mesmo assim continuamos tendo desafios que precisam ser superados constantemente. Na perspectiva do Programa Educação Inclusiva, “uma escola somente poderá ser considerada inclusiva quando estiver organizada para favore- cer a cada aluno, independentemente de etnia, sexo, idade, deficiência, condição social ou qualquer outra situação” (ARANHA, 2004, p. 7). Aqui cabe uma discussão, será que a escola está preparada para o fornecimento dessas condições, com o propósito de oferecer acesso e permanência aos estudantes? Para refletir O trabalho com a diversidade étnica precisa ser considerada pela educação inclusiva, principalmente por estarmos no Brasil, um país com uma pluralidade de etnias que se reflete na realidade escolar. Isso significa dizer que a escola também é plural. Logo, ela precisa considerar diferentes religiões, etnias, línguas distintas, costumes e culturas diversas. Essa discussão acerca das diferenças faz com que possamos perce- ber um movimento pela cultura da paz nas escolas, ou seja, programas formulados visando à diminuição do bullying e da própria violência es- colar, que tanto assombram alguns estudantes. Pensar na diversidade é pensar em um todo. Nesse aspecto, a le- gislação ainda esbarra em entraves: de um lado existem famílias e a comunidade escolar que lutam pela formulação de políticas públicas capazes de garantir direitos e deveres; de outro lado ainda esbarramos na dificuldade de promulgação e em haver governantes que consigam perceber a necessidade desse público por tal política. wavebreakmedia/Shutterstock 22 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva As escolas infelizmente precisam dos laudos e diagnósticos dos alunos e os aguardam sempre para fornecimento dos atendimentos educacionais especializados. Isso é culpa da escola? Não, é culpa da le- gislação, que ainda não dá conta de entender que a verdadeira inclusão é para todos aqueles estudantes que dela precisam. Pensar na necessidade de laudos implica pensar que as deficiências, os transtornos e as dificuldades de aprendizagem continuam inclusas no rol de doenças. Portanto, percebe-se que, para termos a garantia de direitos para esse público, este precisa provar que realmente necessita. Esse fenômeno ainda congrega dificuldades, principalmente na es- cola, pois ela precisa respeitar a legislação e cumpri-la dentro do seu universo. Por outro lado, temos ainda que a chegada do diagnóstico na escola pressupõe intervenções pensadas e programadas para cada perfil de estudante. De acordo com o Programa Educação Inclusiva (ARANHA, 2004), para uma escola se tornar inclusiva, ela precisa contar com a partici- pação dos envolvidos na comunidade escolar e pensar em estratégias para aproximar-se cada vez mais dessa comunidade, o que também é um grande desafio. A escola, em alguns casos, ainda está de portões fechados, sem uma relação direta com a comunidade. No entanto, ela faz parte da comu- nidade, e esta precisa mudar sua atitude do não pertencimento e par- ticipação das ações da escola, entendendo que a escola é patrimônio daquele bairro e que faz a diferença na vida de todos que ali residem. Além disso, a escola precisa superar o desafio de atender todos os alunos em sua especificidade. Entre as dificuldades para isso, estão os recursos financeiros, que são um dos maiores problemas enfrentados, já que esses recursos e financiamentos de educação inclusiva precisam ser pensados com mais cautela para garantir profissionais adequados e materiais que auxiliem no atendimento especializado do estudante com deficiência. Outro desafio que precisamos observar é a falha na formação inicial dos professores, bem como na continuada, pois poucos estudaram os assuntos pertinentes ao entendimento das deficiências, dos transtor- nos e das dificuldades de aprendizagem. Aprendizagem humana e desafios da inclusão 23 Temos ainda as barreiras arquitetônicas das próprias escolas, já que estudantes com deficiência, em grande parte, precisam de auxílio. Por exemplo, as crianças com deficiência física que utilizam cadeira de rodas precisam de rampas de acesso e de um banheiro adaptado com barras a fim de que possam se segurar para fazerem suas necessidades fisiológicas. Outro ponto que ainda devemos observar são as barreiras atitudi- nais. A sociedade e a escola ainda têm dificuldade de mudar seu po- sicionamento quanto ao estudante com deficiência, pois ainda o olha com um ar de piedade e até mesmo de discriminação, como se ele não tivesse talento e potencialidades. Precisamos incutir em nosso comportamento e em nosso dia a dia a ideia de que as escolas possuem seus desafios para se tornarem in- clusivas. É importante entendermos que a inclusão da diversidade na escola promoverá o respeito e o desenvolvimento da convivência com a diferença. Além disso, a escola, em seu papel de instituição, poderá desenvolver estratégias pedagógicas inventivas que auxiliem no aten- dimento desses estudantes. A escola inclusiva também precisa entender a necessidade constan- te do desenvolvimento de empatia e de habilidades socioemocionais, com o objetivo de colaborar para a formação de um estudante com deficiência ou com transtornos que consiga ser ético, crítico, reflexivo e participante da sociedade na qual ele está inserido. Para que a escola consiga enfrentar tais desafios, além de entender e explorar as suas potencialidades, ela precisará desenvolver um pro- jeto político pedagógico que realmente seja voltado para uma perspec- tiva inclusiva e de respeito às diferenças. Outra condição importante é a formação adequada dos professores com relação à inclusão – além de terem o entendimento, eles devem incentivar a iniciativa inclusiva. 1.4 Dificuldades, deficiências e transtornos Vídeo O conhecimento de algumas terminologias faz com que nós, profis- sionais que atuam com educação, consigamos dar um direcionamento pedagógico e um atendimento mais assertivo aos nossos estudantes. Provavelmente você já ouviu os termos dificuldades, transtornos e defi- ciências. Você sabe diferenciá-los? 24 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Todos esses termos surgiram sobretudo por meio do estudo do fracasso escolar em séculos anteriores, quando tínhamos o estudante como centro do fracasso e a culpa desse fracasso sendo única e exclu- sivamente atribuída a ele; a escola eximia-se do problema. Gasparin (2003) afirma que, para que o fracasso escolar deixe de existir, é imprescindível a participação ativa de todos os membros da comunidade escolar – alunos, pais, professores, equipe pedagógica –, bem como é essencial a formulação de políticas públicas. Sendo as- sim, é necessário que o estudante busque aprender e que o professor promova essa aprendizagem, que esteja sempre disposto a pesquisar mais e a respeitar a singularidade de cada aluno. Pois bem, vamos iniciar nossas discussões acerca das dificuldades de aprendizagem. Vale aqui uma primeira reflexão: as dificuldades são obstáculos que impedem o sujeito de aprender e podem estar atre- ladas a diversos aspectos, tanto emocionais como do ambiente, e a aspectos pedagógicos, metodológicos e didáticos da escola que esse sujeito frequenta. Moojen (2003) caracteriza as dificuldades de aprendizagem não apenas como problemas neurológicos que afetama capacidade do cérebro de entender, recordar ou comunicar informações; o termo di- ficuldade de aprendizagem não se refere a um único problema, mas a um amplo conjunto de situações que podem afetar qualquer área do desempenho estudantil. As dificuldades de aprendizagem não podem ser atribuídas a uma única causa, pois são situações polissêmicas, como colocamos an- teriormente. Conforme apontado por Garcia Sánchez (2004), essas dificuldades apresentam alguns princípios específicos, como a hetero- geneidade; o modo como elas afetam o desenvolvimento, a aquisição e o processamento da fala, da leitura e da escrita; de que elas são intrín- secas ao indivíduo; e de que elas podem acontecer de modo subjacente a outras condições, como ansiedade, depressão e luto. A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABBp) nos coloca, ain- da, que as dificuldades de aprendizagem se apresentam em estudan- tes que possuem intelecto sem prejuízos neurológicos, deficiências ou transtornos específicos, ou seja, em sujeitos que vivem em um ambien- te normal, mas que apresentam rendimento escolar insatisfatório. Aprendizagem humana e desafios da inclusão 25 As dificuldades de aprendizagem podem ter causas externas à famí- lia, como as situações que ocorrem na escola – o bullying, por exemplo –, as quais podem fazer com que essa criança regrida no processo de aprendizagem em virtude dos aspectos emocionais envolvidos e até mesmo do medo. Também podem ser causadas pela família, ou seja, a desorganização e a disfuncionalidade familiar podem estar gerando sintomas de não aprendizagem na criança. Por fim, podem se originar das dificuldades de ensinar do docente, de uma didática inadequada e até mesmo de um currículo ineficaz ofertado pela escola. Em contrapartida, temos os transtornos de aprendizagem, ou trans- tornos do neurodesenvolvimento, que afetam as pessoas ainda na fase do desenvolvimento infantil, sobretudo manifestando sintomas mais acentuadamente na fase escolar. Esses transtornos não são extrínsecos ao indivíduo, são de ordem orgânica, ou seja, os sujeitos nascem com essas condições e precisam de intervenções psicológicas e psicopedagógicas para que seus sinto- mas diminuam. Podemos dar como exemplo o transtorno do espec- tro do autismo, os transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, discalculia, disortografia), o transtorno do déficit de atenção e hipera- tividade, o transtorno do desenvolvimento intelectual, os transtornos motores e os transtornos da linguagem. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016, p. 109) comentam: Os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares compreendem grupos de transtornos manifestados por comprometimentos específicos e significativos no aprendiza- do de habilidades escolares. Esses comprometimentos no apren- dizado não são resultado direto de outros transtornos, ainda que eles possam ocorrer simultaneamente. Pois bem, e as deficiências, o que são? Primeiramente, vale mencio- nar que elas podem ser adquiridas, ou seja, acontecer em virtude de um acidente que possa ter impactado alguma das funções sensoriais ou intelectuais, como acidentes de carro, acidentes com ingestão de tó- xicos ou até mesmo alguma doença. Portanto, a deficiência é adquirida quando ocorre após o nascimento. As deficiências também podem ser congênitas, ou seja, quan- do o sujeito já nasce com a condição, e a sua causa pode variar de- vido a múltiplos fatores, como a ingestão de álcool, drogas e outros 26 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva tóxicos pela mãe, a idade avançada dos pais e até mesmo fatores de hereditariedade. O que entendemos por deficiência? Primeiramente, elas podem ser de cunho visual, auditivo, intelectual e físico. Para se configurar defi- ciência, precisa ser de longo prazo e precisa estar de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015), em que deficiência é definida como sendo a que “em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Para considerar uma pessoa com deficiência, a avaliação realizada por médicos profissionais precisará conter e considerar alguns elemen- tos, como: os impedimentos das funções do corpo; fatores pessoais, emocionais e psicológicos que essas perdas trazem; a limitação e a exclusão na participação de atividades e até mesmo de determinados momentos da vida em sociedade. Vale ainda citar que tanto a educação quanto os demais setores da sociedade precisam promover ações e políticas públicas que deem con- ta de assegurar os direitos das pessoas com deficiência, como o direito à moradia, à cultura, ao esporte, ao lazer, à educação e ao trabalho. A pessoa com deficiência precisa ser vista com um olhar de equi- dade, e a sociedade ainda precisa – e muito – mudar algumas atitudes e evitar a colocação de barreiras que impeçam a efetiva participação desses sujeitos como cidadãos, bem como o exercício da sua cidadania. 1.5 Mitos e verdades sobre as deficiências Vídeo A sociedade mudou e muda a cada dia no que diz respeito às ati- tudes preconceituosas e discriminativas quanto às pessoas com defi- ciência. No passado, era evidente o receio e até mesmo o medo que as pessoas possuíam com relação às pessoas com deficiência. Sabemos que durante muito tempo as pessoas com deficiência fi- caram à margem da sociedade, foram mortas, exiladas e até mesmo expulsas de suas comunidades de origem em virtude de a sociedade, durante séculos, acreditar que elas eram “amaldiçoadas”. Essas crenças acabaram por influenciar bastante a forma como al- gumas pessoas ainda enxergam os sujeitos com deficiência. Aqui bus- Aprendizagem humana e desafios da inclusão 27 caremos desmistificar algumas questões relativas a mitos e verdades sobre as deficiências. Uma questão muito importante é que a sociedade ainda tem uma relação de estereótipo quanto às pessoas com deficiência. Segundo o dicionário Michaelis (2023), os estereótipos são padrões de ideias for- madas de modo preconcebido, sem um conhecimento prévio sobre o assunto. Além disso, o dicionário ainda aponta que esse padrão de ideias preconcebido também se pauta em falsas generalizações, expec- tativas e hábitos de julgamento. Se observarmos essa definição, podemos, portanto, entender que a sociedade ainda tem o costume de tratar a pessoa com deficiên- cia sob o viés de um estereótipo. Já percebeu que algumas pessoas tratam as pessoas com deficiência como bibelôs, ou falam com elas com voz de bebê, acreditando que elas não possuem capacidade de linguagem para a compreensão daquilo que foi dito? Pois bem, isso é um estereótipo. Dito isso, vamos conhecer alguns mitos que envolvem as pessoas com deficiência em pleno século XXI? As pessoas com deficiência física, intelectual e visual não podem morar sozinhas pois não dão conta das atividades de vida diária? Não é verdade, essas pessoas podem morar sozinhas, o que acontecerá é que deverão ser realizadas intervenções para que consigam conviver com sua deficiência, além de que devem ser estimuladas a desenvolver habilidades para que consigam realizar suas atividades de vida diária, como lavar louça, vestir-se, alimentar-se, e assim por diante. 1 As pessoas com deficiência não podem exercer uma profissão? Não é verdade, na contemporaneidade já existem empresas que fa- zem contratações de profissionais com deficiência, não apenas para cumprimento de cotas, mas por enxergarem seu potencial de trabalho e dedicação. Inclusive, já existe, desde 1991, a conhecida Lei de Cotas (BRASIL, 1991) – a Lei n. 8.213 –, que busca garantir a contratação de 2 a 5% do quadro funcional das empresas de pessoas com deficiência, a depender do número de funcionários e do porte da empresa. 2 (Continua) 28 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva As pessoas com deficiência não conseguem cursar a Educação Superior e estudos seguintes? Não é verdade, a Lei dasDiretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) garante currículo, técnicas, métodos e atendimento educacional especializado para as pessoas com deficiência, e as ins- tituições de Ensino Superior precisam garantir a acessibilidade desses alunos aos cursos. 3 As pessoas com deficiência possuem a sexualidade exacerbada? Não é verdade, ainda não existem comprovações e estudos que apon- tam essa exacerbação da sexualidade, o que pode acontecer é a mani- festação da sexualidade em períodos e idades distintas em virtude dos estágios do desenvolvimento infantil. 4 A deficiência se transmite por meio de beijo e compartilhamento de objetos? Embora pareça um pouco engraçado, ainda existem pessoas que acre- ditam que, se conviverem com pessoas com deficiência ou deixarem seus filhos brincarem com outras crianças com deficiência, ocorrerá o risco de transmissão – isso não é possível. 5 A deficiência é uma doença? A deficiência não deve ser enxergada como doença, embora os ma- nuais classificatórios ainda a vejam dessa forma. Entender a defi- ciência como doença apenas reforça os estigmas sofridos por esses sujeitos; deficiência é uma condição ou um conjunto de característi- cas, não uma patologia. 6 As pessoas com deficiência visual possuem poderes místicos de clarividência? Embora no passado as pessoas com deficiência visual fossem tidas como seres místicos, na verdade a deficiência visual nada tem a ver com questões de religiosidade, maldições ou poderes místicos. (Continua) 7 Aprendizagem humana e desafios da inclusão 29 As pessoas com deficiência não fazem sexo? Não é verdade, tanto homens quanto mulheres com deficiência fazem, sim, sexo, sentem prazer e ainda podem gestar filhos. Em alguns casos, inclusive, precisam redescobrir o prazer. 8 As pessoas com deficiência são infelizes e sempre possuem depressão? Em alguns casos, isso pode até ser verdade, mas não podemos gene- ralizar, por isso é importante que pessoas com deficiência que ainda têm dificuldade de se aceitar passem por tratamentos psicológicos. No entanto, vale ainda mencionar que pessoas com deficiência são, sim, felizes, possuem carreiras brilhantes e constroem famílias. 9 Podemos ainda dizer doença mental? Não, pois deficiência não é doença, o correto é dizer pessoa com defi- ciência intelectual ou transtorno do desenvolvimento intelectual. 10 As pessoas com deficiência são menos capazes? Isso não é verdade, pessoas com deficiência são tão capazes e possuem tantas potencialidades quanto os não deficientes. É im- portante mencionar que um diagnóstico, laudo ou deficiência não define uma pessoa. 11 As pessoas com deficiência são sempre dependentes? Não é verdade, algumas pessoas com deficiência precisam de um certo grau de apoio, mas não significa que não consigam cuidar de si. Por esse motivo, são necessárias a estimulação e a intervenção precoce para o desenvolvimento de autonomia e acessibilidade. 12 Todas as deficiências são visíveis? Isso não é verdade, existem pessoas em que a deficiência não é apa- rente, como aquelas com deficiência visual do tipo baixa visão ou até mesmo pessoas com transtorno do espectro do autismo. 13 30 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Para promover uma sociedade com base na equidade, não pode- mos reproduzir mentiras ou estereótipos. Precisamos, portanto, estar apoiados em aspectos teóricos e científicos para que possamos orien- tar adequadamente os pais, os professores, a equipe pedagógica da escola e a sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar em aprendizagem e diversidade ao mesmo tempo não é uma tarefa fácil, entretanto é uma tarefa necessária. A aprendizagem perpassa os padrões normais e os patológicos, mas, independentemente de pos- suirmos dificuldades ou não, temos o papel de realizar intervenções que façam com que a aprendizagem seja efetiva e com uma boa qualidade, bem como reflita na vida de nossos estudantes. A aprendizagem da pessoa com deficiência não é uma aprendizagem inexistente, mas sim precisa ser potencializada por meio de técnicas, mé- todos e ferramentas. A congregação desses recursos faz com que poten- cializemos essa aprendizagem. A aprendizagem da pessoa com deficiência se torna cada vez mais impor- tante e sua discussão se faz cada vez mais presente, tendo em vista que esse sujeito não mais é considerado como incapaz, ao contrário, e isso se dá para além das políticas públicas existentes, ou seja, por meio da força de vontade, da mudança de perspectiva social e, sobretudo, em virtude da escola. ATIVIDADES Atividade 1 O que é a aprendizagem social? Atividade 2 Qual é a importância da neurociência para a aprendizagem? Aprendizagem humana e desafios da inclusão 31 Atividade 3 O que são dificuldades de aprendizagem? REFERÊNCIAS ARANHA, M. S. F. (org.). Programa Educação inclusiva. Brasília: SEESP/MEC, 2004. v. 3. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf. Acesso em: 2 jun. 2023. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 2 jun. 2023. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 2 jun. 2023. BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 2 jun. 2023. COUTO, D. P. Freud, Klein, Lacan e a constituição do sujeito. Psicologia em Pesquisa, v. 11, n. 1, p. 1-10, jun. 2017. ENAP – Escola Nacional de Administração Pública. Teoria e prática dos estilos de aprendizagem. Brasília: ENAP, 2015. 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Nesse sentido, neste capítulo, conversaremos sobre o contexto histórico e a presença das pessoas com deficiência na sociedade, o que aconteceu em cada período histórico e a importância dessa compreensão para o profissio- nal da educação e do docente que trabalha com a Educação Especial. Partindo desse diálogo, entenderemos o período histórico do extermí- nio, da segregação, da integração e da inclusão. O entendimento desses movimentos faz com que consigamos observar o movimento social de avanços em relação às pessoas com deficiência. Com o estudo deste capítulo você será capaz de: • compreender o contexto histórico e a presença das deficiências na sociedade; • analisar o período da inclusão e da segregação; • refletir sobre o marco histórico da integração e da inclusão. Objetivos de aprendizagem 2.1 A deficiência ao longo do tempo Vídeo Em todos os períodos ao longo do tempo tiveram pessoas dife- rentes, e aqui cabe uma reflexão: o que é ser diferente? Não existem muitos relatos de quem elas eram, o que podemos inferir é que eram pessoas com determinados graus de deformidades. Então, por que estamos dizendo isso? Porque daqui é a partida, para que possamos discutir e retornar na história, para que possamos perceber as múlti- plas facetas das atitudes da sociedade em relação a essas pessoas e os avanços ocorridos na garantia de seus direitos à vida. 34 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Dentro do contexto dessas lutas, podemos perceber que no período de extermínio essas pessoas eram deixadas para morrer, o que no perío- do de segregação não ocorria mais, ou seja, observamos um avanço nos aspectos de entendimento da sociedade pelo respeito à vida humana e à sua subjetividade. Da Antiguidade até a Contemporaneidade muitas coisas mudaram, a sociedade passou a ser regida por dispositivos legais, o que colaborou, e muito, para o avanço das políticas públicas e educa- cionais que conseguissem ter um ponto de partida para o entendimento das necessidades das pessoas com deficiência. Por que falar em história da Educação Especial? Para entendermos o presente e conseguirmos especular o futuro, bem como entender o que se passou, aprender com o passado e não deixar que se repita. Para refletir Ao longo da história, as deficiências foram vistas de várias formas, alguns as viam como bençãos do divino e outros como maldições, mas, independentemente disso, as pessoas com deficiência sempre existi- ram e sempre precisaram de cuidados e atendimentos especializados. De acordo com Fernandes (2013), quando nós recorremos à história, buscamos compreender a evolução das práticas humanas e como isso influenciou a atualidade. Para a inclusão das pessoas com deficiência, isso é ainda mais importante, pois esse processo histórico é carregado de fatos, relatos e um arcabouço de aspectos que precisam ser levados em consideração no momento de pensamos e formularmos políticas pú- blicas, seja de educação, saúde, lazer, moradia, cultura e esportes. Quando falamos do termo história, o dicionário Michaelis (2023) nos coloca algumas possibilidades, sendo a primeira referente a um con- junto de possíveis fatos relevantes que aconteceram em um dado pe- ríodo e local. Outra possibilidade de interpretação desse termo é o de estudo de um povo ou cultura por meio de documentos históricos, ou ainda o processo de evolução ocorrida com a humanidade. Considerando essas três possibilidades, podemos perceber que a história busca recuperar fatos ocorridos com o intuito de conseguir- mos pontuar onde pecamos no passado, para tentar reparar isso no presente e trabalhar com equidade. História da Educação Especial 35 Ainda se referindo à conceituação do termo história, com essa ne- cessidade de estudarmos o passado por meio dos períodos históricos e datas de determinadas épocas, podemos compreender os quatro períodos que caracterizam a evolução da Educação Especial, que pode- mos ver na Figura 1. Figura 1 Evolução da Educação Especial 3500 a.C até 476 a.C Período do extermínio • Morte das pessoas com deficiências • Valorização do corpo perfeito • Valorização da força de trabalho 476 a.C até 1960 d.C Período da segregação • Separação da pessoa com deficiência • Casas e abrigos institucionais • Pessoas com deficiência impedidas de frequentar o Ensino Regular 1960 até 1996 Período da integração • Início da legislação que pensa a educação de excepcionais • Oferta de educação no que for possível • Início da modificação da atitude da sociedade 1996 Período da inclusão • Lei n. 9.394 e a Educação Especial • Mudança da atitude da sociedade • Pessoas com deficiência na sociedade em espaços de estudo e trabalho Pi xM ar ke t/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor. Considerando esses períodos, cabe-nos a seguinte indagação: qual o motivo da escassez de registros sobre as pessoas com deficiência ao longo da história? De acordo com Fernandes (2013), essa escassez se dá sobretudo pela inexistência de registros teóricos desde os princí- pios da humanidade, pois essas pessoas muitas vezes nem chegavam a crescer propriamente, pois infelizmente eram mortas ou abandonadas à própria sorte assim que nasciam. 36 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva Felizmente, com o passar do tempo, novas estruturas e paradigmas foram sendo criados com relação à pessoa com deficiência, o que fez com que em um dado momento o paradigma do extermínio fosse alte- rado para um paradigma mais assistencialista. Muitos foram os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiên- cia ao longo dos tempos, mas aqui também nos cabe algumas outras discussões para que possamos refletir acerca de toda essa diversidade humana que permeia a deficiência seja ela qual for, que é o conceito de normalização. Em primeiro lugar, o que é ser normal? Será que existe um parâme- tro para dizer se nós somos considerados normais ou será que toda essa perspectiva está baseada em um padrão fornecido pela sociedade por mera observação da massa? Mesmo estando em um período da história com um paradigma mais inclusivo, ainda nos deparamos com discursos, práticas e políticas que buscam tornar aceitável a palavra normalização dentro de um contexto de pessoa com deficiência. De acordo com Ferreira (2014) existem ações de saúde, educativas e de mercado de trabalho que buscam igualar as pessoas com defi- ciência com as demais pessoas para – utilizando as palavras da auto- ra – “igualar os que são desiguais” (FERREIRA, 2014, p. 16). Essa fala é escolhida pela autora justamente para causar desconforto e nos fazer refletir acerca do que estamos tentando fazer para mudar essa atitude que a sociedade ainda tem para com as pessoas com deficiência. Por que ainda estamos pautando nosso pensamento em práticas como tentativas de fazer a pessoa com deficiência visual ver, ou ainda fazer a pessoa que usa cadeira de rodas andar ou até mesmo a pessoa com al- gum grau de perda auditiva ouvir? Por que ainda estamos nos esbarrando em um paradigma de uma pedagogia curativa e com foco em reabilitação? Ainda de acordo com a análise de Ferreira (2014), existem muitos movimentos que defendem a necessidade de normalizar a deficiên- cia, isto é, nivelar as condições sociais sem considerar a desigualdadesubjacente que sustenta as relações de poder atuais. Quando falamos sobre essa base de poder vigente e essas relações sociais desiguais, podemos mencionar até a questão da problemática da distribuição de renda, a precarização da saúde voltada para o tratamento de deter- minadas condições trazidas pela deficiência e o auxílio para acesso à saúde e melhoramento da qualidade de vida. História da Educação Especial 37 O paradigma da normalização busca colocar todos em um mesmo patamar, por exemplo, se uma pessoa vidente – aquela que enxerga normalmente – consegue trabalhar impecavelmente utilizando o com- putador, uma pessoa com deficiência também precisará conseguir, para que ela possa ser competitiva em sua vida. Considerando esse exemplo, aqui cabe uma análise em primeira instância: essa pessoa com deficiência poderá sim utilizar o computa- dor, mas será que isso ocorrerá com a mesma velocidade? Ou, ainda, a quantidade de trabalho entregue dentro de um período em horas será a mesma? Para todas essas indagações e problemáticas são ne- cessárias análises, justamente por estarem relacionadas ao processo de normalização das pessoas. O ser humano ainda tem dificuldade em entender aquilo que é di- ferente e que essa diferença é que moverá o mundo. Outro ponto que cabe aqui discutirmos é a questão do processo de capacitismo, que muito se assemelha com a questão da normalização e que também causa controvérsias. As pessoas com deficiência, durante muitos anos, ficaram escondi- das e foram caladas pela sociedade em virtude da própria vergonha de suas condições, entretanto, com o avanço da medicina, da psicologia e até mesmo da educação, conseguimos perceber uma mudança de pa- radigma, com a internet sendo um instrumento muito importante para modificar esses pensamentos. Na contemporaneidade, observamos YouTubers com deficiência e que buscam desmistificar o que é deficiência e o que é conviver com uma. Além disso, famílias de pessoas com transtorno de espectro au- tista buscam proporcionar, por exemplo, informações, práticas e possi- bilidades de atendimentos adequados para outras famílias de pessoas que estão no espectro, algo que facilita muito e acaba transformando a sociedade pouco a pouco, caminhando para um ideal de inclusão. O Superior Tribunal do Trabalho lançou uma cartilha explicando pas- so a passo o que seria capacitismo, e uma das definições é: “Quando as pessoas são consideradas como “não iguais”, menos capazes (de produ- zir, de trabalhar, de aprender, de amar, de cuidar etc.) e menos aptas a gerir a própria vida” (TST, 2022, p. 7). Se olharmos para essa definição, conseguimos perceber que o capacitismo é uma atitude da sociedade, a qual visa inferiorizar as capacidades da pessoa com deficiência em dife- 38 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva rentes âmbitos de sua vida, ou é um pensamento que permeia o senso comum de que a pessoa com deficiência precisará sempre de um cuida- dor, que ela não conseguirá viver sozinha, constituir família, trabalhar, produzir bons frutos no trabalho e até mesmo se vestir sozinha. Precisamos combater falas capacitistas, mas essa é uma tarefa que pode ser muito complicada, pois muitas vezes as pessoas não as veem com um sentido negativo, já que falas como “você é uma inspiração” ou “apesar de tudo, você ainda é feliz” são vistas como elogios. Muitas vezes as falas capacitistas são consideradas bonitas, inspiradoras ou carregadas de bom humor, mas em contextos es- pecíficos elas podem ser utilizadas para inferiorizar a pessoa com deficiência, passando a ideia de que tarefas simples do dia a dia são “super tarefas impossíveis”, e que o simples fato de essa pessoa rea- lizar já é uma superação gigantesca. Nós enquanto sociedade precisamos trabalhar em prol do melho- ramento das condições de vida e saúde das pessoas com deficiência, combatendo sobretudo atitudes e falas capacitistas. 2.2 Período de extermínio Vídeo O período de extermínio é sem dúvida um dos mais dolorosos da história e da luta da inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, pois, além de toda perspectiva social, existiam ainda questões místicas e religiosas que permeavam essas relações. Esse período também é conhecido como Período da Antiguidade e, de acordo com Fernandes (2013), é o primeiro dos períodos que consegui- mos estudar para descobrir as formas como eram tratadas as pessoas com deficiência, sendo o ponta pé inicial para que consigamos perce- ber a forma como a sociedade evoluiu e ainda continua evoluindo. Fernandes (2013) nos coloca que, mesmo sabendo de algumas dife- renças entre as práticas adotadas pelas sociedades da Antiguidade, o que sempre predominava era o abandono das pessoas com deficiência em virtude da necessidade de sobrevivência das pessoas nesse período, algo que demandava habilidades específicas – como caça e pesca –, logo as pessoas que não tinham tais habilidades eram eliminados por preju- dicar o coletivo da comunidade. História da Educação Especial 39 Esse movimento da seletividade daqueles que não possuíam habi- lidades específicas requeridas por tal sociedade estava pautado so- bretudo pela busca e adoração do chamado corpo perfeito, ou seja, para ser considerado alguém com capacidade de sobrevi- ver, a pessoa deveria ter um corpo que aparentasse ser capaz de guerrear, caçar e pescar. Na Grécia Antiga, esses eram os critérios para que os ho- mens fossem selecionados, por exemplo, para defender suas comunidades e participarem de grandes eventos e jogos ( FERNANDES, 2013). Nesse sentido, corpos estigmatizados, marcados pelo que hoje compreendemos por diversas síndromes que são visíveis, eram considerados inaptos à vida em comunidade pois acreditava-se que atrasariam a comunidade e prejudicariam o bom despenho de vida dos seus cidadãos. Ou seja, de acordo com Fernandes (2013), pessoas com dificulda- des e atrasos na fala, gagueira, deformidades, estigmas e problemas de visão eram deixadas para morrer, abandonadas em virtude do tipo de atenção e cuidado que elas necessitavam. Nem todas as crianças com deficiência eram mortas assim que nasciam, em alguns casos elas eram abandonadas ou deixadas ao relento e por vezes acolhidas e cria- das por outras famílias. Ainda nesse sentido, destacamos o extermínio em alguns momentos dessas pessoas em vilarejos menores, justamente pelo alto custo que esses sujeitos davam à família. Na Antiguidade, as pessoas com deficiência e deformidade eram frequentemente vistas como castigos dos deuses ou como sinais de maldição. Por exemplo, acreditava-se que as crianças com deficiência eram um fardo para a sociedade e, por isso, eram frequentemente abandonadas ou deixadas para morrer. De acordo com Corrent (2015), os gregos sempre se destacavam em aspectos relacionados a arquitetura, matemática, filosofia e outras ciências, o que faz com que sempre sejam citados nas teorias existen- tes. A educação grega sempre foi uma educação voltada ao treino para o esporte, havia um cuidado com o corpo, principalmente pelo fato de sempre estarem lutando guerras, portanto desde muito jovens as crianças também eram preparadas para tal. A finalidade da educação espartana era formar guerreiros. Com 7 anos de idade, os meninos eram afastados das mães e ficavam até O filme 300 apresenta a guerra dos espartanos contra o Império Persa, além disso ele projeta um vislumbre dessa representação do corpo perfeito e de como a sociedade tratava as pessoas que se distan- ciavam desse padrão. Direção: Zack Snyder. EUA: Warner Bros, 2006. Filme Ns it/ Sh ut te rs to ck 40 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva os 18 anos em escolas, onde aprendiam ginástica, esportes (corri- das, lutas usando o corpo, lançamento de dardos), a ler e escrever e a manejar armas. O método exigia esforços: ficavam nus até nos dias frios, tomavam banho gelado, comiam pouco, apanhavam. Tudo isso para que ficassem resistentes como o ferro.Capacidade de suportar o sofrimento físico, disciplina, habilidade militar: esses eram os objetivos principais. (SCHMIDT, 2012, p. 26) Nesse aspecto, pensando nesse corpo ideal, para a luta e desde a tenra infância, fica evidente uma perspectiva eugenista com relação aos estigmas corporais e todo o processo que envolve a deformida- des no corpo ou deficiências sensoriais que impediam que esse sujei- to fosse treinado. Corrent (2015) ainda nos coloca que os gregos sempre buscavam um corpo ideal e uma relação entre corpo e mente, e aqueles que não possuíam essa dualidade em sintonia estavam fora dos padrões esta- belecidos pela sociedade. Em Esparta e Atenas crianças com deficiências física, sensorial e mental eram consideradas subumanas, o que legitimava sua eli- minação e abandono. Tal prática era coerente com os ideais atlé- ticos, de beleza e classistas que serviam de base à organização sócio-cultural desses dois locais. Em Esparta eram lançados do alto dos rochedos e em Atenas eram rejeitados e abandonados nas praças públicas ou nos campos. (MEC, 2008, p. 7) Nesse sentido, fica evidente a ausência de um sentimento de empatia pelas pessoas com deficiência na Grécia Antiga, claro que conforme os períodos vão se desenvolvendo a atitude social vai se modificando, mas, no período do extermínio, a sociedade grega também foi uma que deixou marcos que de certa forma nos remontam a aspectos históricos iniciais acerca da Educação Especial em uma perspectiva inclusiva. Nesse período ainda se predominava um conceito que foi sendo mais elaborado e difundido ao longo dos séculos – mas felizmente já foi refutado e combatido na atualidade – o da eugenia, que é defini- da como a pseudociência que defendia a teoria de a espécie humana poder ser aprimorada por meio de uma seleção dos “melhores espé- cimes”, com base em leis genéticas (MICHAELIS, 2023). Mesmo que saibamos que nesse período ainda não existiam teorias genéticas, con- seguimos observar que essa seleção feita por meio dos aspectos ob- História da Educação Especial 41 Ol ek sa nd ra K le st ov a/ Sh ut te rs to ck serváveis tinham o intuito de manter e dar manutenção na divisão de trabalho e no andamento daquela sociedade. Falando sobre como as outras sociedades da Antiguidade viam as pessoas com deficiência, no Egito Antigo duas concepções acerca dis- so eram as predominantes: a primeira delas se referia ao tratamento das pessoas com deficiência com um tom de inclusão. Mesmo estando no período de extermínio, eram oportunizados trabalhos que incluíam esses indivíduos na sociedade. Evidências arqueológicas nos fazem concluir que no Egito Antigo, há mais de cinco mil anos, a pessoa com deficiência integrava- -se nas diferentes e hierarquizadas classes sociais (faraó, nobres, altos funcionários, artesãos, agricultores, escravos). A arte egíp- cia, os afrescos, os papiros, os túmulos e as múmias estão re- pletos dessas revelações. Os estudos acadêmicos baseados em restos biológicos, de mais ou menos 4.500 a.C., ressaltam que as pessoas com nanismo não tinham qualquer impedimento físico para as suas ocupações e ofícios, principalmente de dançarinos e músicos. (GUGEL, 2023) A outra concepção era relacionado ao misticismo – algo que tam- bém ocorria na Grécia Antiga – pois era muito comum acreditar que as pessoas com deficiência tinham a capacidade de “ver o futuro”, rea- lizando previsões acerca do que aconteceria com a sociedade, os pe- ríodos de colheita, de seca, ou até mesmo a tentativa de previsão de mortes de seus governantes. Nesse caso, a deficiência visual, que mui- tas acreditavam ser um poder divino, dava aos chamados oráculos um papel de destaque na sociedade. Por fim, a sociedade da Roma Antiga também tinha práticas mar- cadas pelo preconceito e pela exclusão das pessoas com deficiência, justamente por conta da influência da cultura e das práticas gregas. Por isso, segundo Corrent (2015), os romanos também tinham uma autorização para sacrificar os filhos que nasciam com algum estigma, mas, diferentemente dos gregos, o hábito mais difundido pelas famílias romanas era deixar essas crianças ao relento ou ainda em ambientes com animais perigosos, certamente com o intuito de que esses animais acabassem ferindo e até mesmo matando essas crianças recém-nasci- das (NEGREIROS, 2014). 42 Fundamentos da Educação Especial na perspectiva inclusiva 2.3 Períodos da segregação e da integração Vídeo Neste momento tratamos dos períodos da segregação e da integra- ção. A razão para tratarmos os dois juntos é pelo fato de o período da integração representar uma guinada que contrapõe as práticas vigen- tes até o período da segregação, sendo esse o primeiro a ser tratado, seguindo a linha cronológica que traçamos previamente. 2.3.1 Segregação O período de segregação inicia-se principalmente com a transição entre as questões do extermínio e o surgimento/difusão da fé cristã, isto é, inicia-se um movimento assistencialista com relação às pessoas com deficiência, que não eram mais simplesmente mortas ao primeiro sinal, mas removidas do convívio da sociedade e levadas para casas de repouso ou outros ambientes que as mantinham isoladas. Esses espaços tinham apenas o intuito de realizar o cuidado diário e a administração de medicação, deixando claro um dos aspectos que mais caracterizava esse período: isolar as pessoas com deficiência e colocá-las em um patamar de diminuição (BERGAMO, 2010). De acordo com Fernandes (2013), a partir do século XI, o cristianis- mo, sobretudo representado pela Igreja católica, passa a determinar a ordem social, o que coloca, por exemplo, a organização da sociedade grega e romana em questionamento, ou seja, não se podia mais endeu- sar o corpo perfeito apenas como forma física, agora o corpo passa a ser o templo da alma. Outra questão que também é colocada pelos aspectos religiosos são os dogmas, as regras, aquilo que é considerado benéfico ou ma- léfico para a sociedade, ou, em outras palavras, aquilo que é do bem e aquilo que é do mal. Nessa perspectiva, vale ainda uma menção, é a partir do século XII, quando a Igreja católica começou a se sobressair mais com relação aos aspectos da fé, que as pessoas são consideradas imagem e semelhança de Deus. Portanto, não mais poderíamos matar e cessar a vida de ninguém. Ainda conforme Fernandes (2013), para as pessoas que nasciam com deformidades, deficiências – até mesmo as que sofriam de crises convulsivas –, havia a ideia de que elas sofriam uma espécie de castigo História da Educação Especial 43 divino ou de possessões demoníacas, tendo em vista a ausência de ex- plicações racionais e com embasamento teórico e científico, portanto tudo que fugia do domínio da ciência e que ela não conseguiria explicar era atribuído ao domínio religioso. Segundo Silva (2012), a ideia de que as pessoas com deficiência vi- sual tinham a habilidades de ver o futuro ainda era muito difundida na Idade Média, o que deixa claro outra característica presente nesse pe- ríodo, a de que as deficiências eram vistas de duas maneiras por essa sociedade: ou eram uma benção ou uma maldição. Mesmo com essa diferença no modo como as pessoas viam as defi- ciências, foi durante a Idade Média que se iniciaram as primeiras ações de acolhimento das pessoas com deficiência em abrigos e instituições de filantropia, embora muitas vezes eles também fossem reclusos em ambientes não muito acolhedores, como prisões de manicômios (SILVA, 2012; BERGAMO, 2010). De modo geral, essas instituições tinham apenas o caráter de cui- dado, porém um cuidado que não era permeado com carinho, pois as pessoas com deficiência eram muitas vezes deixadas nessas institui- ções apenas para não participarem da vida social. Esse processo de institucionalização começou a se modificar sobre- tudo com o início do processo de escolarização desses sujeitos, contu- do a escolarização era pautada apenas no treinamento com o intuito de curar esses sujeitos, para
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