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Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social – Dimensão Marxista Aula 1 Professora Raquel Barcelos de Araújo Conversa Inicial Nessa aula iremos tratar dos pressupostos da Teoria Marxista, que são de suma importância para compreendermos as categorias que compõem a formação dessa concepção teórica, a qual influencia o Serviço Social até os nossos dias. Para isso, conheceremos o processo de formação da chamada sociedade burguesa, assim como os principais pressupostos que contribuíram para constituição da teoria marxista, que abrangem os fatores culturais, políticos e histórico-sociais. Temos alguns objetivos a cumprir, que são: Refletir sobre as revoluções Francesa e Industria e seus rebatimentos e influências na formação da sociedade burguesa século XIX; Conhecer os pressupostos que deram origem à obra de Marx; Compreender o Materialismo Histórico dialético; Conceituar a alienação, a reificação e o fetichismo da mercadoria. Para tanto, estabeleceremos um dinâmico processo de aprendizagem, que conta com recursos variados, tais como explicações escritas; vídeos gravados pela professora; indicações de leituras e atividades. Serão várias as formas de enriquecer o seu conhecimento. Bons estudos! Veja no material on-line o vídeo com os comentários iniciais da professora Raquel. Contextualizando Quando vemos a forma como a sociedade moderna organiza suas principais instituições — família, igreja, Estados, entre outras — parece-nos que essa forma de organização das sociedades sempre se deu da mesma forma. Torna-se de suma importância refletir sobre o processo de formação da sociedade burguesa e suas influências conceituais, de crenças e de valores, que tem consequências até os nossos dias. Devemos também conhecer como uns dos principais teóricos contemporâneos, Karl Marx, e as bases de sua teoria contribuíram para a reflexão sobre a formação dessa sociedade moderna, que tem influência da chamada sociedade burguesa. Imaginamos que você tenha curiosidades sobre esses temas e queremos saber quais suas considerações a respeito. Você terá, então, muitas descobertas a fazer em nossa aula! Quais impressões você tem sobre as principais características da sociedade burguesa? O que você sabe sobre o teórico Karl Marx? Não vamos responder a essas questões agora! Cabe ressaltar que o conhecimento adquirido nessa aula nos ajuda a entender a forma como a nossa sociedade se organiza hoje e como a teoria de Marx foi sendo constituída, além de suas contribuições para o Serviço Social. Vamos aos estudos e boa aula! Confira no vídeo disponível no material on-line a contextualização feita pela professora Raquel. Tema 1: A Revolução Burguesa Vamos iniciar os estudos sobre as primeiras décadas do século XIX principalmente tendo como cenário a Europa Ocidental, que é o local de origem das maiores matrizes culturais do mundo contemporâneo. Como destaque, podemos citar a Revolução Francesa e as insurreições operárias de 1848, que vão se tornar o eixo norteador do que alguns autores denominam razão moderna, com todas as suas diferenças e contradições. Ressaltamos que esse contexto foi forjado a partir da Idade Média, sendo consolidado nas primeiras décadas dos anos de 1800. Acessando o link a seguir você confere um interessante vídeo a respeito da Revolução Francesa: https://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ A “razão moderna” tem como base as ideias do iluminismo. Para mais informações, assista ao vídeo disponível no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=n4lIBgPLzdk Outro fator contribuinte foi a Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra e também na França, onde houve o processo de empobrecimento massivo dos primeiros trabalhadores das indústrias. Desse modo, tal fenômeno de pauperização dos primeiros proletariados, na Europa Ocidental, vai ser a marca imediata do iniciante processo de industrialização, implicando grande custo social. Para mais informações sobre a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, acesse o link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU https://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ https://www.youtube.com/watch?v=n4lIBgPLzdk https://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ https://www.youtube.com/watch?v=n4lIBgPLzdk https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU Yasbek (2001) destaca que se tratou de uma superpopulação eminentemente urbana, flutuante e miserável, que foi alijada de seus vínculos rurais e enfrentava problemas de ordem diversas. Portanto, iniciou um considerável número de problemas urbanos, que se traduzem em novas formas de sociabilidade, resultantes da ampliação de relações impessoais, da exploração profunda da força de trabalho, da aceleração de seu tempo e ritmo e da diminuição do tempo de repouso. Esses fatores contribuem para a consolidação de um processo social no qual a sociedade burguesa se estabelece com suas características decisivamente delineadas, causando profundas alterações na maneira de explorar os recursos naturais e produzir os bens. Segundo Netto (2009), convencionou chamar essa forma de exploração de Revolução Industrial. Ele ressalta, ainda, que houve uma radical transformação no controle dos sistemas de poder, denominada Evolução Burguesa. Sob múltiplas formas, surge então o mundo burguês. Seria um mundo absolutamente novo: ele compreende uma cultura inédita e uma arte peculiar; imprime um conhecimento científico da natureza, atribuindo-lhe funções que até então eram desconhecidas, relacionando-o estreitamente à produção. Vemos que principalmente a economia e a sociedade são organizadas de modo particular, sendo ambas submetidas a uma estratégia global burguesa e a uma lógica específica que valoriza o capital. Forma-se assim um novo padrão de vida social, que é centralizado na civilização urbano-industrial. A sociedade “pré-capitalista”, datada na Idade Média, caracterizava-se por atividades comerciais e feiras com artesanatos e produtos de agricultura familiar. Algumas das principais peculiaridades das cidades medievais eram as muralhas, as torres e os portões, que promoviam maior segurança para moradores e comerciantes. Para Carvalho (2016), a maioria das cidades não chegava a ter 20 mil habitantes — a maior cidade do mundo ocidental era Paris, que tinha uma população que não ultrapassava 100 mil habitantes. Você já pensou como era constituída a cidade medieval? Acesse o link a seguir e entenda: https://www.youtube.com/watch?v=0l3TnxKs_C8 Segundo o autor, a acentuação das atividades comerciais nas cidades, a partir do século XI, teve um enorme crescimento — proveniente das feiras e das atividades comerciais realizadas pelos mercadores nas beiras das estradas —, o que mudou consideravelmente suas características, ampliando-as para os espaços além-muros. Carvalho (2016) destaca que, a partir da ampliação das cidades além-muros, novas cidades foram delineadas, além das que já existiam. Essas cidades eram chamadas de burgos (cidades com muros) e se desenvolveram economicamente, ampliando cada vez mais seu tamanho. A partir dos burgos surgiram os burgueses, que eram pessoas que compunham essa nova classe social, chamada burguesia, a qual era formada por importantes comerciantes que foram fundamentais para o desenvolvimento da mentalidade capitalista. https://www.youtube.com/watch?v=0l3TnxKs_C8 https://www.youtube.com/watch?v=0l3TnxKs_C8 Vemos em Netto (2009) que a gestação do mundo burguês foi um processo longo e doloroso, uma história silenciosa e permeada pela violência. Foi caracterizado, ainda, por uma considerável destruição de antigos modos de vida, pela substituição de modelos anterioresde controle social e pela supressão de organizações societárias precedentes. No entanto, aponta que seu triunfo assinalou um formidável avanço na existência humana, principalmente no âmbito que se colocam possibilidades antes inimaginadas para a exploração da natureza e a elevação das condições da vida dos homens. Alguns consideram que tais possibilidades, quando realizadas, redundaram em um preço social muito alto, já que a criação do mundo burguês geraria o progresso e a generalização da miséria relativa. Assim sendo, podemos compreender que é na metade do século XIX que o chamado mundo burguês emerge com toda a sua força, estabelecendo um novo modo de vida, através de parâmetros para outras formas de pensamento, o que gerou matrizes culturais, sociais, políticas e econômicas, que têm como eixo a relação capital-trabalho e a luta de classes. Ressaltamos, ainda, a Revolução Proletária, que fez esses primeiros proletários se organizarem como classe trabalhadora (em sindicatos e partidos proletários) e como movimento operário. Dessa forma, passaram a expressar suas reivindicações por melhores condições de trabalho e proteção social. Partindo desta ação organizada, os trabalhadores e suas famílias conquistam a esfera pública, colocando seus pleitos na agenda política e trazendo à tona que a sua pobreza era fruto da Revolução Burguesa e da forma de estruturação da emergente sociedade capitalista. Desse modo, percebemos que a constituição do mundo burguês envolve aspectos contraditórios, como o estabelecimento de uma classe detentora dos meios de produção — a classe burguesa — e a classe proletária, que passou a vender sua força de trabalho. As insurreições proletárias iniciadas em 1848 foram um fator importante nesse processo. Os levantes proletários foram reprimidos pela burguesia, que se associou à nobreza que ela viria a derrubar, promovendo assim o fim das “ilusões heroicas" da Revolução Francesa e revelando o seu caráter opressor. Entre a preparação ideológica da Revolução Francesa e 1848, ou seja, do Iluminismo à onda contrarrevolucionária, Netto (2009) ressalta que ocorre a insurgência operária e é constituído um bloco cultural progressista, que procurava se apropriar com objetividade da dinâmica da sociedade e da história. Assim, temos um pensamento que valoriza a racionalidade, expressão mais alta das expectativas dos setores burgueses mais esclarecidos. Basicamente, duas vertentes se destacavam: a economia política inglesa e a filosofia clássica alemã. O referido autor coloca ainda que “os traumatismos causados pela implantação da ordem burguesa, compreende- se a partir do pensamento restaurado, de claras conotações católicas e ranços trazidos pela revolução burguesa e a liquidação, pelo capitalismo, das ‘sagradas instituições’ da feudalidade” (NETTO, 2009, p. 15). https://www.youtube.com/watch?v=dcW64fNwNl8 Sendo assim, pudemos compreender que a evolução do pensamento sobre a sociedade burguesa tem em 1848 um divisor de águas que irá contribuir para a criação de importantes matrizes da razão moderna: a teoria social de Marx e o pensamento liberal conservador, que são produto das conjunções da primeira metade do século XIX e de um específico movimento cultural com um componente sociopolítico, onde se encontra o universo da cultura com o universo do trabalho. Universos esses que deram as condições sobreas quais Marx erigirá a sua obra. Nos próximos temas, conheceremos os pressupostos da Teoria de Marx. Para mais informações sobre a Revolução Burguesa, confira a videoaula da professora Raquel no material on-line. Tema 2: Os pressupostos da obra de Marx Ao estudarmos a obra de Karl Marx, vemos que foi de fundamental importância para constituição de sua obra sua vivência junto ao movimento dos trabalhadores operários. Netto (2009) coloca que, em primeiro lugar, fica claro que a teoria de Marx se beneficiou diretamente da experiência cultural que a precedeu, conforme vimos no tema anterior. Neste sentido, em segundo lugar, subentende-se que Marx é um dos grandes teóricos que, no processo em curso naquela época, passando para as fileiras do movimento operário, procurou conectar o patrimônio cultural existente com a intervenção política do proletariado. Assim sendo, considera que muitas formulações se estruturavam no seio do movimento operário, ou seja, este “movimento era (e é) mais abrangente que a sua expressão teórica marxiana (e marxista)”. Desse modo, podemos entender que é somente quando se instaura a sociedade burguesa que o chamado ser social pode surgir. Netto (2009) ressalta que em Marx pudemos entender o conceito de ser social que é trazido à consciência humana como um ser que, condicionado pela natureza, é diferente dela. Como Marx assinalou, a sociedade burguesa (o capitalismo) "socializa" as relações sociais: estas podem ser apreendidas pelos homens não como resultantes de desígnios e vontades estranhos a eles, mas como produto de sua interação, de seus interesses, de seus conflitos de seus objetivos. Na sociedade burguesa, o processo social — ao contrário das sociedades precedentes — tem características tais que os homens podem percebê-lo como fruto de suas ações e desempenhos. Em síntese: é na sociedade burguesa que os homens podem compreender-se como atores e autores da sua própria história. Mas esta é apenas uma possibilidade (NETTO, 2009, p. 16-17). Percebemos que a sociedade burguesa se funda na exploração e não pressão da maioria oriunda da classe trabalhadora por uma minoria pertencente à classe burguesa, possuindo uma dinâmica que camufla essas estratégias de exploração da classe operária. Tais estratégias são a alienação e a reificação, conectadas ao "fetichismo da mercadoria", tratado por Marx no primeiro capítulo do livro “O Capital”. O conceito de alienação teve sua origem em Hegel1 e foi trabalhado por Feuerbach2 que inverteu o conceito. A alienação, em Hegel, era objetivação e, por consequência, enriquecimento. Para Feuerbach, ao contrário, a alienação era empobrecimento, já que o homem projetava em Deus suas melhores qualidades. Para recuperar tal essência e fazer cessar o estado de alienação e empobrecimento, o homem precisava substituir a religião cristã por uma religião do amor à humanidade. A partir desses conceitos, Feuerbach cria o humanismo naturista que é recebido com entusiasmo por Marx. Tais conceitos instrumentalizaram Marx para romper com a visão filosófica de Hegel e transitar do idealismo objetivo deste último em direção ao materialismo. 1 “Friedrich Hegel (1770-1831) foi um filósofo alemão. Um dos criadores do sistema filosófico chamado idealismo absoluto. Foi precursor da filosofia continental e do marxismo. O sistema desenvolvido por Hegel, o idealismo absoluto, abrangeu várias áreas do conhecimento como a política, a psicologia, a arte, a filosofia e a religião. A teoria do filósofo baseia-se na ideia de que as contradições e dialéticas são resolvidas para a criação de um modelo, que tanto pode refletir-se no espírito — sentido de alma e aspirações ideais — como no Estado político”. Disponível em: <http://www.e-biografias.net/hegel/>. Acesso em: 29 jul. 2016. 2 Ludwig Andreas Feuerbach ( 28 de julho de 1804 /13 de setembro de 1872) foi um filósofo alemão reconhecido pelo ateísmo humanista e pela influência que o seu pensamento exerceu sobre Karl Marx. Abandonou os estudos de Teologia para tornar-se aluno do filósofo Hegel, durante dois anos, em Berlim. Em 1828, passa a estudar ciências naturais em Erlangen e dois anos depois publica anonimamente o primeiro livro, “Pensamentos sobre Morte e Imortalidade”. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Feuerbach>. Acesso em: 29 jul. 2016.http://www.e-biografias.net/hegel/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Feuerbach Apesar de ter sido influenciado pela obra de Hegel, Marx nunca chegou à plenitude de hegeliano, tampouco se tornou inteiramente feuerbachiano. Desse modo, se contrapõe a Feuerbach, que via na dialética hegeliana apenas fonte de especulação mistificadora. Marx percebeu que essa dialética devia ser o princípio dinâmico do materialismo. Assim sendo, compreendemos que as referidas considerações iriam resultar na concepção revolucionária do materialismo como filosofia da prática. Desse modo, devemos compreender que para os idealistas como Hegel, somente concebemos a existência da natureza e das demais coisas graças às nossas sensações, que se manifestam em nosso espírito e não têm qualquer sentido fora dele. Eles colocam que a realidade só existe a partir das ideias e dos conceitos que fazemos dela e que residem em nosso espírito. Assim, se não existíssemos, a realidade também não existiria. Os argumentos básicos do idealismo são: 1. O espírito cria a matéria; 2. O mundo não existe fora do nosso pensamento; 3. São as nossas ideias que criam as coisas. Se o idealismo surgiu como uma tentativa não científica de explicação do mundo, com fins culturais ou por forças políticas e com vistas a legitimar à dominação de classe, o materialismo surge do embate entre as ciências contra tais formas primitivas de conhecimento e contra as estratégias de dominação, por meio da criação de uma verdade legitimadora de grupos dominantes com o propósito de reproduzir o status quo. Vemos assim que, ao buscarmos entender os pressupostos da teoria de MARX, a compreensão da concepção materialista dialética é de fundamental importância. Para tanto, precisamos olhar para a história da filosofia. Na Grécia antiga, os primeiros filósofos, também conhecidos como pré-socráticos ou filósofos da natureza, buscavam encontrar respostas para a origem e a essência do mundo. Os filósofos pré-socráticos estudavam a phisys (natureza). Nessa busca por conhecimento, muitas das descobertas foram feitas a partir de observações e estudos que estruturaram e contribuíram para o surgimento de algumas ciências. Naquele momento, ciência e filosofia constituíam uma só disciplina. No entanto, alguns filósofos passaram a ver, na materialidade do mundo, o sentido para a compreensão da própria natureza e das ideias produzidas sobre ela. Acessando o link a seguir você confere um vídeo a respeito dos filósofos pré-socráticos: https://www.youtube.com/watch?v=Xc9LiBnOObY https://www.youtube.com/watch?v=Xc9LiBnOObY https://www.youtube.com/watch?v=Xc9LiBnOObY Os pré-socráticos (século VII a V a. C.) Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/TdtmygZcR2w/UVDXzvthudI/AAAAAAAAAJ A/pyvw4xvbCCQ/s1600/Pr%C3%A9+Socraticos.jpg>. Acesso em: 29 jul. 2016. O que propõe o materialismo? O materialismo é a concepção filosófica que trata o ser, a realidade material, como o elemento fundamental do nosso pensamento, das nossas ideias e da nossa vida. Para o materialista, as respostas para os fenômenos físicos e sociais estão contidas nesses mesmos fenômenos. As compreensões — ideias e concepções que a nossa mente projeta sobre o mundo — estão definidas pela existência não do pensamento, mas pela existência material dos objetos à nossa volta, os quais exercem influência sobre nós quando nos relacionamos com eles. http://4.bp.blogspot.com/TdtmygZcR2w/UVDXzvthudI/AAAAAAAAAJA/pyvw4xvbCCQ/s1600/Pr%C3%A9+Socraticos.jpg http://4.bp.blogspot.com/TdtmygZcR2w/UVDXzvthudI/AAAAAAAAAJA/pyvw4xvbCCQ/s1600/Pr%C3%A9+Socraticos.jpg O que seria dialética? A palavra dialética vem do grego e quer dizer “apto à palavra” ou “movimento de ideias“. Na Antiguidade Grega, a dialética era a arte do diálogo e, aos poucos, passou a ser a arte de, através do diálogo, demonstrar uma tese por meio de argumentações capazes de definir claramente os conceitos envolvidos. Heráclito de Éfeso (cerca de 540 a 480 antes de nossa era) é considerado, por grande parte dos historiadores, o “pai da dialética”, pois afirmava que a realidade (a natureza) é um perpétuo vir a ser, um constante movimento das coisas que são ao mesmo tempo elas mesmas e as coisas contrárias, que se transformam umas nas outras. Segundo esse filósofo, “é uma mesma coisa ser vivo e ser morto, desperto ou adormecido, jovem e velho, essas coisas se transformam umas nas outras e são de novo transformadas” (Fragmento 88 - Coleção Os Pensadores). Para Heráclito, a dialética está na estrutura contraditória do real. Heráclito, faz afirmações que foram revolucionárias para a época e causaram diferentes manifestações entre os filósofos, pois ele propunha ao mesmo tempo a mudança e a contradição como a “essência” da natureza e dos homens, indo de encontro com as leituras que se baseavam na ideia de imutabilidade, de permanência a uma só identidade. No entanto, foi a partir de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 a 1831) que a concepção dialética foi retomada. Para Hegel, o que regeria o nosso conhecimento e a nossa razão seria a existência de um Espírito Universal que se externava na natureza e na cultura. Tal Espírito seria a razão, o logos e, a partir do momento em que ele se move e opera no universo, ele o descobre e o transforma. A História seria, então, fruto da ação do “Espírito Absoluto” sobre o mundo, manifestando-se através de suas obras (artes, ciência, técnicas) e de instituições (religião, filosofia, leis etc.). Assim sendo, para Hegel a Dialética ou Ciência da Lógica é o método pelo qual o Espírito Absoluto se reconheceria ao operar sobre o mundo. Tal manifestação pressupõe a contradição como princípio, vendo nela a condição de existência e transformação dos sujeitos. Portanto, Hegel desenvolve sua concepção de dialética numa base idealista, ou seja, a ação do espírito é o que move e transforma a matéria. Vemos, no entanto, que foi com Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895) que a concepção dialética pôde superar a abordagem idealista do início do século XIX. Marx e Engels estavam de acordo quando Hegel afirmava que o trabalho era a mola que impulsionava o desenvolvimento e, ainda, que o pensamento e o universo estão em perpétua mudança. Eles eram, porém, contrários à concepção de que as mudanças no campo das ideias seriam determinantes para a definição da realidade. Entediam que era justamente o contrário: são as mudanças ocorridas no nível da realidade material que determinam as mudanças em nossas ideias. Marx e Engels atribuíram à dialética proposta por Hegel uma interpretação materialista, invertendo sua análise de caráter idealista. Assim sendo, compreendemos que o trabalho e a práxis teriam um papel fundamental na formação da consciência social. Marx e Engels retiraram da dialética todo o invólucro idealista e a usam sobre uma base de entendimento da realidade que parte da concepção materialista como patamar para se analisar a sociedade. Vemos nascer então a dialética materialista ou o materialismo dialético, que se tornaria um método baseado em três elementos: 1. Lei da negação da negação; 2. Lei da interpenetração dos contrários; 3. Lei da passagem da quantidade à qualidade (e vice-versa) Veremos cada uma com mais detalhes no próximo tema! Para mais informações sobre os pressupostos da teoria de Marx, confira no material on-line: Tema 3 - As Leis da Dialética Temos uma aula bastante interessante na medida em que conheceremos as Leis da Dialética que futuramente contribuirão para que você possa entender a forma como um assistente social que trabalhe a partir do método dialético realiza suas intervenções. Está pronto para conhecer a primeira Lei da Dialética? Mudança dialética Busca constatar que“nada fica onde está e nada permanece o que é”. Ou seja, a dialética é movimento, mudança. Dessa forma, colocar-se na perspectiva da dialética significa colocar-se no ponto de vista do movimento, da mudança. Pesquisar e estudar as coisas segundo a dialética significa que iremos estudá-las nos seus movimentos, na sua mudança. Por exemplo, se estudamos a sociedade, do ponto de vista metafísico, dir-se-á que sempre houve ricos e pobres e será feita uma descrição detalhada da sociedade capitalista, buscando compará-la com as sociedades feudal e escravista, a fim de verificar quais são as semelhanças e as diferenças. A conclusão será: a sociedade capitalista é o que é com suas próprias características. Já partindo do ponto de vista dialético, compreende-se que a sociedade capitalista não foi sempre o que é. Ao olharmos o passado, percebe-se que outras sociedades existiram durante certo tempo, assim podemos entender que a capitalista, como todas as outras, não é definitiva, mas, pelo contrário, é para nós uma realidade sempre provisória, uma transição entre o passado e o futuro. Entender o processo nos ajuda a entender que a dialética não diz respeito apenas ao movimento e à transformação, mas ao autodinamismo e à transformação operada por forças internas, uma vez que nem todo movimento é dialético. Quer um exemplo? Se vemos uma barata e a esmagarmos, haverá para ela uma mudança. Mas seria uma mudança dialética? Não, pois sem nós não seria esmagada. Esta mudança não é dialética, mas sim mecânica. Muita atenção então quando falamos em mudança dialética. Um dialético deve procurar nos fatos o que as coisas foram anteriormente, buscando observar os detalhes mais ínfimos para captar as mudanças e descobrir quais foram suas origens. Assim, para descobrir o autodinamismo, é preciso estudar as coisas, e para explicar dialeticamente as coisas, é preciso estudá-las bem, pesquisando sua história e seus processos de formação e transformação, em relação aos homens e às outras coisas existentes. A ação recíproca - o encadeamento dos processos A dialética não considera as coisas na qualidade de objetos fixos e acabados, mas enquanto movimentos. Parte do princípio de que as coisas estão em condições de se transformar e de se desenvolver. Nessas transformações, o papel dos homens é o de acelerá-las, dar a elas um sentido, uma direção. A contradição Já entendemos que a dialética considera as coisas como em perpétua mudança. Considera que isso só é possível porque a mudança é o resultado de um encadeamento de processos. O desenvolvimento dos processos se dá num movimento “em espiral”, resultado de um auto dinamismo. Por exemplo, as células do corpo humano se renovam continuamente, desaparecendo e reaparecendo. Vivem e morrem continuamente no ser vivo. Portanto, onde existe vida tem morte. Toda coisa é, ao mesmo tempo, ela própria e seu contrário. Sendo assim afirmação, negação e negação da negação. Vemos, assim, que a mudança para a dialética advém das contradições. Podemos observar que estas contradições seguem um movimento típico: a afirmação, a negação e a negação da negação. Se usarmos como base a sociedade capitalista, vemos que existem duas classes antagônicas:> A burguesia, que luta para manter a sociedade a partir de seus fundamentos; O proletariado, que busca a negação da classe burguesa. Mas a burguesia não pode existir sem o proletariado. Ao afirmar-se, a burguesia cria sua própria negação, ou seja, a negação da negação. Ainda dentro desta lei, temos o conceito de unidade dos contrários. A dialética nos ensina que em tudo podemos encontrar uma composição de forças contrárias que se inter- relacionam e possibilitam diferentes etapas no processo de mudança que ocorre nas coisas. Essa dinâmica é chamada de unidade dos contrários, ou seja, a afirmação e a negação coexistindo no mesmo ser, no mesmo momento. Enfim, ao estudarmos as Leis da Dialética, pudemos compreender que a dialética trabalha com as possibilidades de mudança que ocorrem nas coisas. Ao entendê-la, podemos perceber o movimento da realidade social e aprendemos a não julgar as coisas pelas aparências, passando a interpretá-las a partir de diferentes aspectos, ao contrário do senso comum. Para mais informações sobre as Leis da Dialética, confira no material on-line o vídeo da professora Raquel: Tema 4: O Materialismo Histórico/Dialético Marx e Engels, na busca de entender a sociedade de seu tempo, utilizam os princípios do método dialético para o estudo da vida social, aplicando esses princípios aos fenômenos sociais e criando, assim, uma nova forma de análise da sociedade: o Materialismo Histórico. Vemos que o Materialismo Histórico parte da concepção materialista da realidade e busca, através do método dialético de análise, abordar de maneira mais correta e abrangente os diferentes fenômenos, descobrindo ainda as leis objetivas mais gerais que regem sua evolução. Desse modo, o Materialismo Histórico/Dialético seria uma base filosófica de análise e compreensão do mundo e da realidade à nossa volta. Em relação aos fundamentos teóricos do Materialismo Histórico, podemos compreender que o marxismo se configura como um projeto político e ideológico do proletariado, resultante das lutas operárias. Outros teóricos buscaram compreender a história da humanidade criando sistemas filosóficos e teorias econômicas, esboçando quadros de uma ordem social ideal. Só em meados do século XIX amadureceram as premissas para o surgimento da concepção comunista científica do mundo, a partir do método dialético. O capitalismo provocou a necessidade do aumento da produção, dando grande impulso ao desenvolvimento das ciências, que acumularam dados suficientes para oferecer uma imagem mais elaborada e precisa da realidade. Esse foi o pano de fundo para a criação do Materialismo Histórico, onde Marx e Engels puderam beber das seguintes fontes teóricas: Filosofia Clássica alemã (Hegel / Feuerbach); Economia Política inglesa (Adam Smith / David Ricardo); Socialismo Utópico francês (Saint-Simon / Charles Fourier / Robert Owen). Marx e Engels inovaram o pensamento alemão ao transformarem as contribuições de Hegel (dialética idealista) e de Feuerbach (materialismo mecanicista) numa forma totalmente nova de analisar a história e a realidade existente, chamado então de Materialismo Histórico. No campo da Economia Política, os precursores do marxismo foram os economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo, os quais afirmavam que a fonte da riqueza da sociedade é o trabalho. Sua análise mantinha-se nos marcos do pensamento liberal, apresentando argumentos em defesa da lógica capitalista de produção e da concentração da riqueza em mãos dos proprietários burgueses. Já os socialistas utópicos do século XIX travaram uma crítica dura à ordem capitalista, criando os planos de uma sociedade ideal. Porém, suas doutrinas não indicavam o caminho real para o alcance desses objetivos. Os socialistas utópicos acreditavam que a via para esse regime ideal passava pela instrução da sociedade e pela persuasão moral dos exploradores. Marx e Engels foram além da obra dos seus precursores teóricos. A partir da reelaboração de maneira crítica da herança ideológica do passado, elaboraram um processo de superação dialética, através de uma nova teoria, que era a expressão dos interesses fundamentais do proletariado, uma classe considerada mais avançada e revolucionária. Assim sendo, despojaram a teoria social de ideias que afirmavam ser falsas, de representações fantásticas e de esquemas utópicos, e proporiam uma ideologia comunista orientada para o estudo das leis objetivas do desenvolvimentohistórico. Vemos nesse momento a transformação da teoria social em ideologia do movimento proletário de massa, no qual buscavam a superação do caráter contemplativo do pensamento social e o divórcio entre a teoria e a prática, dotando os trabalhadores de uma ideologia que objetivava transformar o mundo. Devemos mencionar ainda outros elementos que integram o marxismo, pois ao proporem a transformação da sociedade, segundo os princípios do comunismo, geraram a necessidade da análise científica da realidade concreta. Por isso, uma das partes essenciais e importantes do marxismo é a filosofia, que é uma ciência que busca conhecer as leis mais gerais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do conhecimento. A perspectiva filosófica contribuiu para o marxismo no sentido de entender o conjunto de relações sociais, econômicas ou de produção, ocupando uma posição fundamental para encontrar a resposta para a questão de como chegar ao socialismo e ao comunismo. Para tanto, tivemos outro importantíssimo elemento integrante do marxismo, a economia política, ciência que procurara estudar o desenvolvimento das relações de produção. Assim sendo, foi constituído um fundamento importante para a análise da realidade, o chamado comunismo científico, que, partindo da filosofia e da economia política marxistas, objetivava preparar o proletariado para se lançar nas lutas necessárias ao surgimento e desenvolvimento da sociedade comunista. Vemos assim que o pensamento marxista não se limitou a impulsionar a filosofia, a economia política e a doutrina do socialismo. Propôs uma transformação em todas as esferas do conhecimento da sociedade: nas ciências históricas, na ética, na estética, entre outros. Portanto, o Materialismo Histórico/Dialético se propõe a ser um sistema fundamentado cientificamente por leis gerais que regem o desenvolvimento da natureza e da sociedade, a partir das possibilidades históricas e concretas dadas pela realidade e de um sistema unitário, onde todas as partes integrantes do marxismo se encontram intimamente entrelaçadas. Sendo assim, é um método “puramente” econômico ou filosófico. A filosofia serviu-lhes de método de análise integral das relações sociais, e sobre esta base fundamentaram as conclusões políticas. Por sua vez, o estudo profundo da economia e da política ofereceu novo e abundante material para a síntese filosófica. Para mais informações sobre o Materialismo Histórico/Dialético, confira no material on-line a videoaula da professora Raquel. Tema 5: Conceituando: trabalho, alienação, reificação e fetichismo da mercadoria A partir da criação de um método voltado para interpretação da realidade social como um todo e por meio do chamado Materialismo Histórico dialético, Marx e Engels buscaram entender algumas questões referentes à relação capital-trabalho. Entre elas, pode-se destacar as consequências do processo de expropriação da classe trabalhadora que acaba por perder, ao longo do tempo, o que os referidos autores consideram a essência do homem: o trabalho, que é algo que dá sentido à vida humana no processo de transformação da natureza para sua subsistência. Sendo assim, três processos contribuem para exploração da classe operária: alienação, reificação e fetichismo da mercadoria. O que seria, então, o processo de alienação em Marx? Entendemos que a alienação ocorre através de um processo de exteriorização de algo que só a essência humana pode realizar, e do não reconhecimento desta atividade enquanto tal. Sendo assim, uma vez estabelecido todo o processo de trabalho até o seu final, o produto do processo se transforma em algo estranho ao seu produtor. O produto é independente do ser que o produziu. Este estranhamento que promove “diferença de natureza” entre produtor e produto é considerado a essência do processo de alienação. Marx trata da alienação nos “Manuscritos Econômico- Filosóficos”, de 1844. Acesse o link a seguir e leia o documento na íntegra: https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/ca p01.htm Nele, o autor retrata quatro tipos de alienação: 1. Em relação ao produto do trabalho; 2. No processo de produção; 3. Em relação à existência do indivíduo enquanto membro do gênero humano; 4. Em relação aos outros indivíduos. Na sequência, estudaremos com detalhes cada um desses itens. https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm 1. A alienação em relação ao produto do trabalho Este é o processo de estranhamento vivenciado pelo produtor, no qual não se reconhece um produto que tem dentro de si a essência do trabalhador. O produto sai do produtor, mas ele não mais o reconhece como fruto de seu trabalho. Quando o produto está feito, só resta ao trabalhador exigir um salário no fim do mês. Vemos então que o produto final não é ontologicamente de ninguém, é um ser independente, um objeto estranho à “natureza” de qualquer indivíduo que trabalhou nele. 2. A alienação no processo de produção Esta forma de alienação é chamada por Marx de “alienação ativa” ou “atividade de alienação”. Ela ocorre a partir da constatação de que se o trabalhador está alienado em relação ao produto de seu trabalho, então é importante verificar que isto não aconteceu do nada, mas estava presente no próprio processo produtivo. Marx trabalha a ideia de que esse processo de alienação confere ao trabalho o caráter de sofrimento e não realização. O trabalho é forçado, trabalha-se para sobreviver, e o guia do trabalho não é a necessidade, mas sim os interesses daqueles que exercem poder sobre os trabalhadores. 3. Alienação do sujeito enquanto pertencente ao gênero humano Nesse momento, Marx destaca a própria característica do humano enquanto ser genérico, animal multifacetado com inúmeras potencialidades e capacidades. Coloca que, quando o homem está separado de sua essência, de sua ligação com a comunidade, de seu trabalho, ele se individualiza, não se sentindo mais membro de sua espécie, mas sim um indivíduo solitário. Entendemos que o trabalho enquanto fator individualizante provoca a transformação do sujeito multifacetado em um sujeito unilateral e único. O trabalhador só tem valor em sua vida enquanto trabalhador, e não enquanto um ser único, específico, que é a representação de sua mais pura humanidade. 4. Alienação em relação aos outros homens Esse item é resultado do processo de alienação, pois é consequência da individualização e unilateralização da vida. Quando o trabalhador passa a não se reconhecer em seu trabalho, e quando este não é reconhecido como parte essencial da vida humana e do ser humano enquanto gênero/espécie, então a própria vida passa a ser uma objetificação nociva. Assim, toda e qualquer vida já não tem seu significado. Ser alienado enquanto parte da espécie humana, como no terceiro tópico foi explicado, implica se alienar também dos outros. Consideramos importante mencionar três categorias fundamentais da teoria de Marx: trabalho, reificação e fetichismo da mercadoria. Karl Marx (1989) afirma que o processo de trabalho acontece a partir de três elementos: atividade adequada a um fim; matéria a que se aplica o trabalho (objeto do trabalho) e meios de trabalho (instrumento). Acesse o link a seguir e confira um interessante vídeo sobre Karl Marx desenvolvido a partir das explicações do sociólogo brasileiro Gabriel Cohn: https://www.youtube.com/watch?v=I2AZAbg1rLw Percebemos que há uma conexão entre essas categorias, mas para conectá-las precisamos entender alguns conceitos. Segundo Marx, a matéria-prima é fruto da modificação de um objeto a partir do processo de trabalho. Ela é sempre objeto de trabalho, embora nem todo objeto sejamatéria-prima. É possível, também, ser matéria e objeto ao mesmo tempo, ao passo que os valores de uso o determinam ora como produto, ora meio de produção, dependendo de sua função no processo de trabalho. Partindo dessa percepção, podemos entender que o meio de trabalho é um conjunto de coisas que o trabalhador insere entre si e seu objeto. Ao fazer essa escolha, ele aponta as condições sociais onde se realiza o trabalho, sendo assim o trabalhador se torna “o apêndice da máquina”, o medidor da própria capacidade de produção. https://www.youtube.com/watch?v=I2AZAbg1rLw É a partir desse processo que ocorre a alienação tratada anteriormente. A partir da alienação é que acontecem o fetichismo e a reificação. De acordo com Marx, a reificação é o processo de coisificação, onde as ações humanas e suas implicações deixam de ser consideradas propriamente “humanas” para serem encaradas como “coisas”, passando a serem tratadas como substituíveis e plurais. No que diz respeito ao fetichismo, a aparência da mercadoria esconde a essência do próprio fenômeno de produção da mercadoria, mascarando as relações sociais que o envolvem e a capacidade de envolvimento de que o próprio fenômeno necessita, já que sem o envolvimento do humano (subjetivo), o fenômeno (abstrato) não ocorre. Marx percebe que a mercadoria (manufatura) quando finalizada, não mantinha o seu valor real de venda. Esse valor não era definido pela quantidade de trabalho materializado no artigo, mas sim por uma valoração de venda irreal e infundada, como se não fosse fruto do trabalho humano e nem pudesse ser mensurado. Ele acaba denunciando, então, que a mercadoria parecia perder sua relação com o trabalho e ganhava vida própria. Assim sendo, conseguimos entender nesses estudos os conceitos fundantes da teoria de Marx que foram de suma importância para a constituição de seus pressupostos teóricos e do método histórico e dialético, elementos esses que influenciaram o processo de ruptura do Serviço Social com o conservadorismo. Convidamos você a conhecer esse processo em nossas próximas aulas. Para mais informações sobre o conceito de trabalho, alienação, reificação e fetichismo da mercadoria, confira no material on-line a videoaula da professora Raquel. Trocando Ideias Caro aluno, gostaria de sugerir que conheça pelo menos as obras de Marx citadas em nossos estudos. Isso é importante para que você possa fazer suas próprias interpretações sobre alguns dos pressupostos fundantes da obra desse autor. Esse conhecimento é essencial para que os assistentes sociais na contemporaneidade possam entender as proposições colocadas por nossa categoria profissional, que tem como base a teoria marxista. A seguir, você confere a relação de obras de Karl Marx para enriquecer seus conhecimentos: Diferença da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro. Ano: 1841. Tese de doutoramento na Universidade de Iena. Crítica da filosofia do Direito de Hegel. Ano: 1843. A questão judaica. Ano: 1843. Contribuição para a crítica da filosofia do Direito em Hegel. Ano: 1844. Manuscritos econômico-filosóficos. Ano: 1844. Teses sobre Feuerbach. Ano: 1845. A Sagrada Família. Ano: 1845. A ideologia alemã. Ano: 1845-1846. Miséria da filosofia. Ano: 1847. Manifesto comunista. Ano: 1848. Trabalho assalariado e capital. Ano: 1849. As lutas de classe na França de 1848 a 1850. Ano: 1850. Mensagem da Direção Central da Liga Comunista. Ano: 1850. O 18 brumário de Luís Bonaparte. Ano: 1852. Punição capital. Ano: 1853. Grundrisse. Ano: 1857-1858. Para a crítica da economia política. Ano: 1859. População, crime e pauperismo. Ano: 1859. Salário, preço e lucro. Ano: 1865. O Capital: crítica da economia política (Livro I: O processo de produção do capital). Ano: 1867. A guerra civil na França. Ano: 1871. Resumo de “Estatismo e anarquia”, obra de Bakunin. Ano: 1874-1875. Crítica do Programa de Gotha. Ano: 1875. Notas sobre Adolph Wagner. Ano: 1880. Na Prática Acesse o link a seguir e assista ao vídeo “Vida Maria”: https://www.youtube.com/watch?v=rmCKCic5Vwg A partir da história retratada, aplique as Leis da Dialética (mudança dialética, ação recíproca e contradição) para entender a realidade vivenciada por essa família. https://www.youtube.com/watch?v=rmCKCic5Vwg Protocolo de resposta: 1. Mudança dialética: essa lei busca constatar que “nada fica onde está nada permanece o que é”. A conclusão será: as mudanças ocorridas com a família passam por ciclos geracionais que se reproduzem. Ao olharmos o passado, percebemos que outras gerações existiram durante certo tempo, assim podemos entender que, como todas as outras, essa não é definitiva, mas, pelo contrário, é para nós uma realidade sempre provisória, uma transição entre o passado e o futuro. 2. A ação recíproca - o encadeamento dos processos: a dialética não considera as coisas na qualidade de objetos fixos, acabados, mas enquanto movimentos. Parte do princípio de que as coisas estão em condição de se transformar, de se desenvolver. Nestas transformações, o papel dos homens é acelerá-las, dar a elas um sentido, uma direção. Sendo assim, vemos na história retratada no vídeo as mudanças acontecidas na família, que está em movimento se transformando de geração em geração. 3. A contradição: já entendemos que a dialética considera as coisas como uma perpétua mudança. Considera que isso só é possível porque a mudança é o resultado de um encadeamento de processos. Vemos, assim, que a mudança para a dialética advém das contradições. Podemos observar que estas contradições seguem um movimento típico: a afirmação, a negação e a negação da negação. Vemos os diferentes papeis desempenhados por homens e mulheres na família. Os homens como provedores e as mulheres como sua negação na medida que também contribuem com a provisão da casa e sua manutenção. Ao afirmar-se como homens, acabam por criar a sua negação, ou seja, a negação da negação de seu papel de provedor. Síntese Nessa aula, conhecemos os pressupostos da Teoria Marxista, que são de suma importância para compreendermos as categorias que compõem a formação dessa concepção teórica, a qual influencia o Serviço Social até os nossos dias. Refletimos também sobre o processo de formação da chamada sociedade burguesa, assim como abordamos as revoluções Francesa e Industrial e seus rebatimentos e influências na formação da sociedade burguesa século XIX. Percebemos o quanto a influência do chamado mundo burguês foi determinante para o processo de constituição do modo de produção capitalista, onde a relação do homem com a natureza foi transformada, criando assim duas classes distintas: a burguesa ou capitalista, detentora dos meius de produção, e a operária ou trabalhadora, que vende a sua força de trabalho para suprir suas necessidades. Conhecemos os pressupostos que deram origem à obra de Marx e vimos no que consiste o método dialético e suas leis constitutivas: mudança dialética, ação recíproca e contradição. Percebemos, então, que esse método nos desafia a entender o movimento da realidade. Foi interessante, ainda, nossa busca por compreender o Materialismo Histórico dialético, que é um método orientado por leis gerais que regem o desenvolvimento da natureza e da sociedade, a partir das possibilidades históricas e concretas dadas pela realidade e de um sistema unitário, onde todas as partes integrantes do marxismo se encontram intimamente entrelaçadas. Por fim, buscou-se conceituar três elementos importantes criados por Marx e Engels, para entender a relação da classe operária com o trabalho e o processo de expropriação da força do trabalho: a alienação, a reificação e o fetichismoda mercadoria. Assim sendo, conseguimos entender nesses estudos os conceitos fundantes da teoria de Marx, o que nos dará base para melhor compreensão do processo de ruptura do Serviço Social com o conservadorismo, assunto das nossas próximas aulas. Confira no vídeo disponível no material on-line a síntese da professora Raquel. Referências YASBEK, M. C. Assistência social brasileira: limites e possibilidades na transição do milênio. São Paulo, 2001. CARVALHO, Leandro. Surgimento da burguesia. Brasil Escola. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/historiag/surgimento- burguesia.htm>. Acesso em: 29 jul. 2016. MARX, K. Introdução: temas de ciências humanas. In: ______. Crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Grijalbo, 1977. v. 2, p. 1-14. ______. Trabalho alienado e superação positiva da autoalienação humana. In: FERNANDES, F. Marx e Engels: história. São Paulo: Ática, 1989. ______. Crítica ao programa de Gotha. In: MARX, K.; ENGELS, F. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa Omega, 1980. ______. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos: seleção de textos de José Arthur Giannotti. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). ______. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. ______. Trabalho estranhado (extrato). Ideias, v. 9, n. 2, p. 455-472, Campinas, 2003. ______. Manuscritos econômico filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004. ______. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. In: ______. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1980. ______. Cartas filosóficas e o manifesto comunista de 1848. São Paulo: Moraes, 1987, p. 102-116. ______. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa Ômega, 1980. POLITZER, Georges. Princípios Elementares de Filosofia. 9. Ed. Edições Prelo, 1979. KONDER, Leandro: O que é dialética. 1. ed. Abril Cultural, 1985. (Coleção Primeiros Passos). Chakhnazárov, G.; Krássine, Iú: Fundamentos do Marxismo- Leninismo. 1. Ed., Moscou-URSS: Edições Progresso, 1985. Sites consultados: <https://colunastortas.wordpress.com/2014/02/05/o-que-e- alienacao-em-marx>. <http://www.pcb.org.br/portal/docs/materialismo.pdf>. Acessados em: 29 jul. 2016. https://colunastortas.wordpress.com/2014/02/05/o-que-e-alienacao-em-marx https://colunastortas.wordpress.com/2014/02/05/o-que-e-alienacao-em-marx http://www.pcb.org.br/portal/docs/materialismo.pdf
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