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Teoria Marxista no Serviço Social

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Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos 
do Serviço Social – Dimensão Marxista 
 
 Aula 1 
 
 
Professora Raquel Barcelos de Araújo 
 
 
 
 
 
Conversa Inicial 
Nessa aula iremos tratar dos pressupostos da Teoria 
Marxista, que são de suma importância para compreendermos 
as categorias que compõem a formação dessa concepção 
teórica, a qual influencia o Serviço Social até os nossos dias. 
Para isso, conheceremos o processo de formação da 
chamada sociedade burguesa, assim como os principais 
pressupostos que contribuíram para constituição da teoria 
marxista, que abrangem os fatores culturais, políticos e 
histórico-sociais. 
Temos alguns objetivos a cumprir, que são: 
 Refletir sobre as revoluções Francesa e Industria e 
seus rebatimentos e influências na formação da 
sociedade burguesa século XIX; 
 Conhecer os pressupostos que deram origem à obra 
de Marx; 
 Compreender o Materialismo Histórico dialético; 
 Conceituar a alienação, a reificação e o fetichismo da 
mercadoria. 
Para tanto, estabeleceremos um dinâmico processo de 
aprendizagem, que conta com recursos variados, tais como 
explicações escritas; vídeos gravados pela professora; 
indicações de leituras e atividades. Serão várias as formas de 
enriquecer o seu conhecimento. Bons estudos! 
Veja no material on-line o vídeo com os comentários 
iniciais da professora Raquel. 
Contextualizando 
Quando vemos a forma como a sociedade moderna 
organiza suas principais instituições — família, igreja, Estados, 
entre outras — parece-nos que essa forma de organização 
das sociedades sempre se deu da mesma forma. 
Torna-se de suma importância refletir sobre o processo 
de formação da sociedade burguesa e suas influências 
conceituais, de crenças e de valores, que tem consequências 
até os nossos dias. 
Devemos também conhecer como uns dos principais 
teóricos contemporâneos, Karl Marx, e as bases de sua teoria 
contribuíram para a reflexão sobre a formação dessa 
sociedade moderna, que tem influência da chamada 
sociedade burguesa. 
Imaginamos que você tenha curiosidades sobre esses 
temas e queremos saber quais suas considerações a respeito. 
Você terá, então, muitas descobertas a fazer em nossa aula! 
 Quais impressões você tem sobre as principais 
características da sociedade burguesa? 
 O que você sabe sobre o teórico Karl Marx? 
Não vamos responder a essas questões agora! 
Cabe ressaltar que o conhecimento adquirido nessa 
aula nos ajuda a entender a forma como a nossa sociedade se 
organiza hoje e como a teoria de Marx foi sendo constituída, 
além de suas contribuições para o Serviço Social. 
Vamos aos estudos e boa aula! 
Confira no vídeo disponível no material on-line a 
contextualização feita pela professora Raquel. 
 
 
Tema 1: A Revolução Burguesa 
Vamos iniciar os estudos sobre as primeiras décadas 
do século XIX principalmente tendo como cenário a Europa 
Ocidental, que é o local de origem das maiores matrizes 
culturais do mundo contemporâneo. Como destaque, podemos 
citar a Revolução Francesa e as insurreições operárias de 
1848, que vão se tornar o eixo norteador do que alguns 
autores denominam razão moderna, com todas as suas 
diferenças e contradições. Ressaltamos que esse contexto foi 
forjado a partir da Idade Média, sendo consolidado nas 
primeiras décadas dos anos de 1800. 
Acessando o link a seguir você confere um interessante 
vídeo a respeito da Revolução Francesa: 
https://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ 
A “razão moderna” tem como base as ideias do 
iluminismo. Para mais informações, assista ao vídeo 
disponível no link a seguir: 
https://www.youtube.com/watch?v=n4lIBgPLzdk 
Outro fator contribuinte foi a Revolução Industrial, que 
ocorreu na Inglaterra e também na França, onde houve o 
processo de empobrecimento massivo dos primeiros 
trabalhadores das indústrias. Desse modo, tal fenômeno de 
pauperização dos primeiros proletariados, na Europa 
Ocidental, vai ser a marca imediata do iniciante processo de 
industrialização, implicando grande custo social. 
Para mais informações sobre a Revolução Industrial, 
ocorrida na Inglaterra, acesse o link a seguir: 
https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU 
 
https://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ
https://www.youtube.com/watch?v=n4lIBgPLzdk
https://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ
https://www.youtube.com/watch?v=n4lIBgPLzdk
https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU
https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU
Yasbek (2001) destaca que se tratou de uma 
superpopulação eminentemente urbana, flutuante e miserável, 
que foi alijada de seus vínculos rurais e enfrentava problemas 
de ordem diversas. Portanto, iniciou um considerável número 
de problemas urbanos, que se traduzem em novas formas de 
sociabilidade, resultantes da ampliação de relações 
impessoais, da exploração profunda da força de trabalho, da 
aceleração de seu tempo e ritmo e da diminuição do tempo de 
repouso. 
Esses fatores contribuem para a consolidação de um 
processo social no qual a sociedade burguesa se estabelece 
com suas características decisivamente delineadas, causando 
profundas alterações na maneira de explorar os recursos 
naturais e produzir os bens. 
Segundo Netto (2009), convencionou chamar essa 
forma de exploração de Revolução Industrial. Ele ressalta, 
ainda, que houve uma radical transformação no controle dos 
sistemas de poder, denominada Evolução Burguesa. Sob 
múltiplas formas, surge então o mundo burguês. 
Seria um mundo absolutamente novo: ele compreende 
uma cultura inédita e uma arte peculiar; imprime um 
conhecimento científico da natureza, atribuindo-lhe funções 
que até então eram desconhecidas, relacionando-o 
estreitamente à produção. Vemos que principalmente a 
economia e a sociedade são organizadas de modo particular, 
sendo ambas submetidas a uma estratégia global burguesa e 
a uma lógica específica que valoriza o capital. Forma-se assim 
um novo padrão de vida social, que é centralizado na 
civilização urbano-industrial. 
 
 
A sociedade “pré-capitalista”, datada na Idade Média, 
caracterizava-se por atividades comerciais e feiras com 
artesanatos e produtos de agricultura familiar. Algumas das 
principais peculiaridades das cidades medievais eram as 
muralhas, as torres e os portões, que promoviam maior 
segurança para moradores e comerciantes. Para Carvalho 
(2016), a maioria das cidades não chegava a ter 20 mil 
habitantes — a maior cidade do mundo ocidental era Paris, 
que tinha uma população que não ultrapassava 100 mil 
habitantes. 
Você já pensou como era constituída a cidade 
medieval? Acesse o link a seguir e entenda: 
 https://www.youtube.com/watch?v=0l3TnxKs_C8 
Segundo o autor, a acentuação das atividades 
comerciais nas cidades, a partir do século XI, teve um enorme 
crescimento — proveniente das feiras e das atividades 
comerciais realizadas pelos mercadores nas beiras das 
estradas —, o que mudou consideravelmente suas 
características, ampliando-as para os espaços além-muros. 
Carvalho (2016) destaca que, a partir da ampliação das 
cidades além-muros, novas cidades foram delineadas, além 
das que já existiam. Essas cidades eram chamadas de 
burgos (cidades com muros) e se desenvolveram 
economicamente, ampliando cada vez mais seu tamanho. A 
partir dos burgos surgiram os burgueses, que eram pessoas 
que compunham essa nova classe social, chamada 
burguesia, a qual era formada por importantes comerciantes 
que foram fundamentais para o desenvolvimento da 
mentalidade capitalista. 
https://www.youtube.com/watch?v=0l3TnxKs_C8
https://www.youtube.com/watch?v=0l3TnxKs_C8
Vemos em Netto (2009) que a gestação do mundo 
burguês foi um processo longo e doloroso, uma história 
silenciosa e permeada pela violência. Foi caracterizado, ainda, 
por uma considerável destruição de antigos modos de vida, 
pela substituição de modelos anterioresde controle social e 
pela supressão de organizações societárias precedentes. 
No entanto, aponta que seu triunfo assinalou um 
formidável avanço na existência humana, principalmente no 
âmbito que se colocam possibilidades antes inimaginadas 
para a exploração da natureza e a elevação das condições da 
vida dos homens. Alguns consideram que tais possibilidades, 
quando realizadas, redundaram em um preço social muito alto, 
já que a criação do mundo burguês geraria o progresso e a 
generalização da miséria relativa. 
Assim sendo, podemos compreender que é na metade 
do século XIX que o chamado mundo burguês emerge com 
toda a sua força, estabelecendo um novo modo de vida, 
através de parâmetros para outras formas de pensamento, o 
que gerou matrizes culturais, sociais, políticas e econômicas, 
que têm como eixo a relação capital-trabalho e a luta de 
classes. 
Ressaltamos, ainda, a Revolução Proletária, que fez 
esses primeiros proletários se organizarem como classe 
trabalhadora (em sindicatos e partidos proletários) e como 
movimento operário. Dessa forma, passaram a expressar suas 
reivindicações por melhores condições de trabalho e proteção 
social. Partindo desta ação organizada, os trabalhadores e 
suas famílias conquistam a esfera pública, colocando seus 
pleitos na agenda política e trazendo à tona que a sua pobreza 
era fruto da Revolução Burguesa e da forma de estruturação 
da emergente sociedade capitalista. 
 
 
Desse modo, percebemos que a constituição do mundo 
burguês envolve aspectos contraditórios, como o 
estabelecimento de uma classe detentora dos meios de 
produção — a classe burguesa — e a classe proletária, que 
passou a vender sua força de trabalho. As insurreições 
proletárias iniciadas em 1848 foram um fator importante nesse 
processo. Os levantes proletários foram reprimidos pela 
burguesia, que se associou à nobreza que ela viria a derrubar, 
promovendo assim o fim das “ilusões heroicas" da Revolução 
Francesa e revelando o seu caráter opressor. 
Entre a preparação ideológica da Revolução Francesa e 
1848, ou seja, do Iluminismo à onda contrarrevolucionária, 
Netto (2009) ressalta que ocorre a insurgência operária e é 
constituído um bloco cultural progressista, que procurava se 
apropriar com objetividade da dinâmica da sociedade e da 
história. Assim, temos um pensamento que valoriza a 
racionalidade, expressão mais alta das expectativas dos 
setores burgueses mais esclarecidos. Basicamente, duas 
vertentes se destacavam: a economia política inglesa e a 
filosofia clássica alemã. 
O referido autor coloca ainda que “os traumatismos 
causados pela implantação da ordem burguesa, compreende-
se a partir do pensamento restaurado, de claras conotações 
católicas e ranços trazidos pela revolução burguesa e a 
liquidação, pelo capitalismo, das ‘sagradas instituições’ da 
feudalidade” (NETTO, 2009, p. 15). 
https://www.youtube.com/watch?v=dcW64fNwNl8
Sendo assim, pudemos compreender que a evolução 
do pensamento sobre a sociedade burguesa tem em 1848 um 
divisor de águas que irá contribuir para a criação de 
importantes matrizes da razão moderna: a teoria social de 
Marx e o pensamento liberal conservador, que são produto 
das conjunções da primeira metade do século XIX e de um 
específico movimento cultural com um componente 
sociopolítico, onde se encontra o universo da cultura com o 
universo do trabalho. Universos esses que deram as 
condições sobreas quais Marx erigirá a sua obra. 
Nos próximos temas, conheceremos os pressupostos 
da Teoria de Marx. 
Para mais informações sobre a Revolução Burguesa, 
confira a videoaula da professora Raquel no material on-line. 
 Tema 2: Os pressupostos da obra de Marx 
Ao estudarmos a obra de Karl Marx, vemos que foi de 
fundamental importância para constituição de sua obra sua 
vivência junto ao movimento dos trabalhadores operários. 
Netto (2009) coloca que, em primeiro lugar, fica claro que a 
teoria de Marx se beneficiou diretamente da experiência 
cultural que a precedeu, conforme vimos no tema anterior. 
Neste sentido, em segundo lugar, subentende-se que 
Marx é um dos grandes teóricos que, no processo em curso 
naquela época, passando para as fileiras do movimento 
operário, procurou conectar o patrimônio cultural existente 
com a intervenção política do proletariado. Assim sendo, 
considera que muitas formulações se estruturavam no seio do 
movimento operário, ou seja, este “movimento era (e é) mais 
abrangente que a sua expressão teórica marxiana (e 
marxista)”. 
 
 
Desse modo, podemos entender que é somente 
quando se instaura a sociedade burguesa que o chamado ser 
social pode surgir. Netto (2009) ressalta que em Marx 
pudemos entender o conceito de ser social que é 
trazido à consciência humana como um ser que, 
condicionado pela natureza, é diferente dela. Como Marx 
assinalou, a sociedade burguesa (o capitalismo) "socializa" 
as relações sociais: estas podem ser apreendidas pelos 
homens não como resultantes de desígnios e vontades 
estranhos a eles, mas como produto de sua interação, de 
seus interesses, de seus conflitos de seus objetivos. Na 
sociedade burguesa, o processo social — ao contrário das 
sociedades precedentes — tem características tais que os 
homens podem percebê-lo como fruto de suas ações e 
desempenhos. Em síntese: é na sociedade burguesa que 
os homens podem compreender-se como atores e autores 
da sua própria história. Mas esta é apenas uma 
possibilidade (NETTO, 2009, p. 16-17). 
Percebemos que a sociedade burguesa se funda na 
exploração e não pressão da maioria oriunda da classe 
trabalhadora por uma minoria pertencente à classe burguesa, 
possuindo uma dinâmica que camufla essas estratégias de 
exploração da classe operária. Tais estratégias são a 
alienação e a reificação, conectadas ao "fetichismo da 
mercadoria", tratado por Marx no primeiro capítulo do livro “O 
Capital”. 
O conceito de alienação teve sua origem em Hegel1 e 
foi trabalhado por Feuerbach2 que inverteu o conceito. A 
alienação, em Hegel, era objetivação e, por consequência, 
enriquecimento. Para Feuerbach, ao contrário, a alienação era 
empobrecimento, já que o homem projetava em Deus suas 
melhores qualidades. 
Para recuperar tal essência e fazer cessar o estado de 
alienação e empobrecimento, o homem precisava substituir a 
religião cristã por uma religião do amor à humanidade. A partir 
desses conceitos, Feuerbach cria o humanismo naturista que 
é recebido com entusiasmo por Marx. 
 Tais conceitos instrumentalizaram Marx para romper 
com a visão filosófica de Hegel e transitar do idealismo 
objetivo deste último em direção ao materialismo. 
 
1
 “Friedrich Hegel (1770-1831) foi um filósofo alemão. Um dos criadores do 
sistema filosófico chamado idealismo absoluto. Foi precursor da filosofia 
continental e do marxismo. O sistema desenvolvido por Hegel, o idealismo 
absoluto, abrangeu várias áreas do conhecimento como a política, a 
psicologia, a arte, a filosofia e a religião. A teoria do filósofo baseia-se na 
ideia de que as contradições e dialéticas são resolvidas para a criação de 
um modelo, que tanto pode refletir-se no espírito — sentido de alma e 
aspirações ideais — como no Estado político”. Disponível em: 
<http://www.e-biografias.net/hegel/>. Acesso em: 29 jul. 2016. 
2 Ludwig Andreas Feuerbach ( 28 de julho de 1804 /13 de 
setembro de 1872) foi um filósofo alemão reconhecido pelo ateísmo 
humanista e pela influência que o seu pensamento exerceu sobre Karl 
Marx. Abandonou os estudos de Teologia para tornar-se aluno do 
filósofo Hegel, durante dois anos, em Berlim. Em 1828, passa a estudar 
ciências naturais em Erlangen e dois anos depois publica anonimamente o 
primeiro livro, “Pensamentos sobre Morte e Imortalidade”. Disponível em: 
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Feuerbach>. Acesso em: 29 jul. 2016.http://www.e-biografias.net/hegel/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Feuerbach
 
 
 Apesar de ter sido influenciado pela obra de Hegel, 
Marx nunca chegou à plenitude de hegeliano, tampouco se 
tornou inteiramente feuerbachiano. Desse modo, se contrapõe 
a Feuerbach, que via na dialética hegeliana apenas fonte de 
especulação mistificadora. Marx percebeu que essa dialética 
devia ser o princípio dinâmico do materialismo. Assim sendo, 
compreendemos que as referidas considerações iriam resultar 
na concepção revolucionária do materialismo como filosofia da 
prática. 
Desse modo, devemos compreender que para os 
idealistas como Hegel, somente concebemos a existência da 
natureza e das demais coisas graças às nossas sensações, 
que se manifestam em nosso espírito e não têm qualquer 
sentido fora dele. Eles colocam que a realidade só existe a 
partir das ideias e dos conceitos que fazemos dela e que 
residem em nosso espírito. Assim, se não existíssemos, a 
realidade também não existiria. 
Os argumentos básicos do idealismo são: 
1. O espírito cria a matéria; 
2. O mundo não existe fora do nosso pensamento; 
3. São as nossas ideias que criam as coisas. 
Se o idealismo surgiu como uma tentativa não científica 
de explicação do mundo, com fins culturais ou por forças 
políticas e com vistas a legitimar à dominação de classe, o 
materialismo surge do embate entre as ciências contra tais 
formas primitivas de conhecimento e contra as estratégias de 
dominação, por meio da criação de uma verdade legitimadora 
de grupos dominantes com o propósito de reproduzir o status 
quo. 
Vemos assim que, ao buscarmos entender os 
pressupostos da teoria de MARX, a compreensão da 
concepção materialista dialética é de fundamental importância. 
Para tanto, precisamos olhar para a história da filosofia. Na 
Grécia antiga, os primeiros filósofos, também conhecidos 
como pré-socráticos ou filósofos da natureza, buscavam 
encontrar respostas para a origem e a essência do mundo. 
Os filósofos pré-socráticos estudavam a phisys 
(natureza). Nessa busca por conhecimento, muitas das 
descobertas foram feitas a partir de observações e estudos 
que estruturaram e contribuíram para o surgimento de 
algumas ciências. Naquele momento, ciência e filosofia 
constituíam uma só disciplina. No entanto, alguns filósofos 
passaram a ver, na materialidade do mundo, o sentido para a 
compreensão da própria natureza e das ideias produzidas 
sobre ela. 
Acessando o link a seguir você confere um vídeo a 
respeito dos filósofos pré-socráticos: 
https://www.youtube.com/watch?v=Xc9LiBnOObY 
https://www.youtube.com/watch?v=Xc9LiBnOObY
https://www.youtube.com/watch?v=Xc9LiBnOObY
 
 
Os pré-socráticos (século VII a V a. C.) 
 
Disponível em: 
<http://4.bp.blogspot.com/TdtmygZcR2w/UVDXzvthudI/AAAAAAAAAJ
A/pyvw4xvbCCQ/s1600/Pr%C3%A9+Socraticos.jpg>. Acesso em: 29 
jul. 2016. 
O que propõe o materialismo? 
O materialismo é a concepção filosófica que trata o ser, 
a realidade material, como o elemento fundamental do nosso 
pensamento, das nossas ideias e da nossa vida. Para o 
materialista, as respostas para os fenômenos físicos e sociais 
estão contidas nesses mesmos fenômenos. As compreensões 
— ideias e concepções que a nossa mente projeta sobre o 
mundo — estão definidas pela existência não do pensamento, 
mas pela existência material dos objetos à nossa volta, os 
quais exercem influência sobre nós quando nos relacionamos 
com eles. 
http://4.bp.blogspot.com/TdtmygZcR2w/UVDXzvthudI/AAAAAAAAAJA/pyvw4xvbCCQ/s1600/Pr%C3%A9+Socraticos.jpg
http://4.bp.blogspot.com/TdtmygZcR2w/UVDXzvthudI/AAAAAAAAAJA/pyvw4xvbCCQ/s1600/Pr%C3%A9+Socraticos.jpg
O que seria dialética? 
A palavra dialética vem do grego e quer dizer “apto à 
palavra” ou “movimento de ideias“. Na Antiguidade Grega, a 
dialética era a arte do diálogo e, aos poucos, passou a ser a 
arte de, através do diálogo, demonstrar uma tese por meio de 
argumentações capazes de definir claramente os conceitos 
envolvidos. 
Heráclito de Éfeso (cerca de 540 a 480 antes de nossa 
era) é considerado, por grande parte dos historiadores, o “pai 
da dialética”, pois afirmava que a realidade (a natureza) é um 
perpétuo vir a ser, um constante movimento das coisas que 
são ao mesmo tempo elas mesmas e as coisas contrárias, que 
se transformam umas nas outras. 
Segundo esse filósofo, “é uma mesma coisa ser vivo e 
ser morto, desperto ou adormecido, jovem e velho, essas 
coisas se transformam umas nas outras e são de novo 
transformadas” (Fragmento 88 - Coleção Os Pensadores). 
Para Heráclito, a dialética está na estrutura contraditória do 
real. 
Heráclito, faz afirmações que foram revolucionárias 
para a época e causaram diferentes manifestações entre os 
filósofos, pois ele propunha ao mesmo tempo a mudança e a 
contradição como a “essência” da natureza e dos homens, 
indo de encontro com as leituras que se baseavam na ideia de 
imutabilidade, de permanência a uma só identidade. 
 
 
No entanto, foi a partir de Georg Wilhelm Friedrich 
Hegel (1770 a 1831) que a concepção dialética foi retomada. 
Para Hegel, o que regeria o nosso conhecimento e a nossa 
razão seria a existência de um Espírito Universal que se 
externava na natureza e na cultura. Tal Espírito seria a razão, 
o logos e, a partir do momento em que ele se move e opera no 
universo, ele o descobre e o transforma. 
A História seria, então, fruto da ação do “Espírito 
Absoluto” sobre o mundo, manifestando-se através de suas 
obras (artes, ciência, técnicas) e de instituições (religião, 
filosofia, leis etc.). Assim sendo, para Hegel a Dialética ou 
Ciência da Lógica é o método pelo qual o Espírito Absoluto se 
reconheceria ao operar sobre o mundo. Tal manifestação 
pressupõe a contradição como princípio, vendo nela a 
condição de existência e transformação dos sujeitos. Portanto, 
Hegel desenvolve sua concepção de dialética numa base 
idealista, ou seja, a ação do espírito é o que move e 
transforma a matéria. 
Vemos, no entanto, que foi com Karl Marx (1818-1883) 
e Friederich Engels (1820-1895) que a concepção dialética 
pôde superar a abordagem idealista do início do século XIX. 
Marx e Engels estavam de acordo quando Hegel afirmava que 
o trabalho era a mola que impulsionava o desenvolvimento e, 
ainda, que o pensamento e o universo estão em perpétua 
mudança. 
Eles eram, porém, contrários à concepção de que as 
mudanças no campo das ideias seriam determinantes para a 
definição da realidade. Entediam que era justamente o 
contrário: são as mudanças ocorridas no nível da realidade 
material que determinam as mudanças em nossas ideias. 
Marx e Engels atribuíram à dialética proposta por Hegel uma 
interpretação materialista, invertendo sua análise de caráter 
idealista. 
Assim sendo, compreendemos que o trabalho e a práxis 
teriam um papel fundamental na formação da consciência 
social. Marx e Engels retiraram da dialética todo o invólucro 
idealista e a usam sobre uma base de entendimento da 
realidade que parte da concepção materialista como patamar 
para se analisar a sociedade. 
Vemos nascer então a dialética materialista ou o 
materialismo dialético, que se tornaria um método baseado 
em três elementos: 
1. Lei da negação da negação; 
2. Lei da interpenetração dos contrários; 
3. Lei da passagem da quantidade à qualidade (e vice-versa) 
Veremos cada uma com mais detalhes no próximo 
tema! 
Para mais informações sobre os pressupostos da teoria 
de Marx, confira no material on-line: 
 
 
Tema 3 - As Leis da Dialética 
Temos uma aula bastante interessante na medida em 
que conheceremos as Leis da Dialética que futuramente 
contribuirão para que você possa entender a forma como um 
assistente social que trabalhe a partir do método dialético 
realiza suas intervenções. 
Está pronto para conhecer a primeira Lei da Dialética? 
Mudança dialética 
 Busca constatar que“nada fica onde está e nada 
permanece o que é”. Ou seja, a dialética é movimento, 
mudança. Dessa forma, colocar-se na perspectiva da dialética 
significa colocar-se no ponto de vista do movimento, da 
mudança. Pesquisar e estudar as coisas segundo a dialética 
significa que iremos estudá-las nos seus movimentos, na sua 
mudança. 
Por exemplo, se estudamos a sociedade, do ponto de 
vista metafísico, dir-se-á que sempre houve ricos e pobres e 
será feita uma descrição detalhada da sociedade capitalista, 
buscando compará-la com as sociedades feudal e escravista, 
a fim de verificar quais são as semelhanças e as diferenças. A 
conclusão será: a sociedade capitalista é o que é com suas 
próprias características. 
Já partindo do ponto de vista dialético, compreende-se 
que a sociedade capitalista não foi sempre o que é. Ao 
olharmos o passado, percebe-se que outras sociedades 
existiram durante certo tempo, assim podemos entender que a 
capitalista, como todas as outras, não é definitiva, mas, pelo 
contrário, é para nós uma realidade sempre provisória, uma 
transição entre o passado e o futuro. 
Entender o processo nos ajuda a entender que a 
dialética não diz respeito apenas ao movimento e à 
transformação, mas ao autodinamismo e à transformação 
operada por forças internas, uma vez que nem todo 
movimento é dialético. 
Quer um exemplo? 
 Se vemos uma barata e a esmagarmos, haverá para 
ela uma mudança. Mas seria uma mudança dialética? Não, 
pois sem nós não seria esmagada. Esta mudança não é 
dialética, mas sim mecânica. 
Muita atenção então quando falamos em mudança 
dialética. Um dialético deve procurar nos fatos o que as coisas 
foram anteriormente, buscando observar os detalhes mais 
ínfimos para captar as mudanças e descobrir quais foram suas 
origens. 
Assim, para descobrir o autodinamismo, é preciso 
estudar as coisas, e para explicar dialeticamente as coisas, é 
preciso estudá-las bem, pesquisando sua história e seus 
processos de formação e transformação, em relação aos 
homens e às outras coisas existentes. 
A ação recíproca - o encadeamento dos processos 
A dialética não considera as coisas na qualidade de 
objetos fixos e acabados, mas enquanto movimentos. Parte do 
princípio de que as coisas estão em condições de se 
transformar e de se desenvolver. Nessas transformações, o 
papel dos homens é o de acelerá-las, dar a elas um sentido, 
uma direção. 
 
 
A contradição 
 Já entendemos que a dialética considera as coisas 
como em perpétua mudança. Considera que isso só é possível 
porque a mudança é o resultado de um encadeamento de 
processos. O desenvolvimento dos processos se dá num 
movimento “em espiral”, resultado de um auto dinamismo. 
Por exemplo, as células do corpo humano se renovam 
continuamente, desaparecendo e reaparecendo. Vivem e 
morrem continuamente no ser vivo. Portanto, onde existe vida 
tem morte. 
 
 
Toda coisa é, ao mesmo tempo, ela própria e seu 
contrário. Sendo assim afirmação, negação e negação da 
negação. 
Vemos, assim, que a mudança para a dialética advém 
das contradições. Podemos observar que estas contradições 
seguem um movimento típico: a afirmação, a negação e a 
negação da negação. Se usarmos como base a sociedade 
capitalista, vemos que existem duas classes antagônicas:> 
 A burguesia, que luta para manter a sociedade a partir 
de seus fundamentos; 
 O proletariado, que busca a negação da classe 
burguesa. 
Mas a burguesia não pode existir sem o proletariado. 
Ao afirmar-se, a burguesia cria sua própria negação, ou seja, a 
negação da negação. 
Ainda dentro desta lei, temos o conceito de unidade 
dos contrários. A dialética nos ensina que em tudo podemos 
encontrar uma composição de forças contrárias que se inter-
relacionam e possibilitam diferentes etapas no processo de 
mudança que ocorre nas coisas. Essa dinâmica é chamada de 
unidade dos contrários, ou seja, a afirmação e a negação 
coexistindo no mesmo ser, no mesmo momento. 
Enfim, ao estudarmos as Leis da Dialética, pudemos 
compreender que a dialética trabalha com as possibilidades de 
mudança que ocorrem nas coisas. Ao entendê-la, podemos 
perceber o movimento da realidade social e aprendemos a não 
julgar as coisas pelas aparências, passando a interpretá-las a 
partir de diferentes aspectos, ao contrário do senso comum. 
Para mais informações sobre as Leis da Dialética, 
confira no material on-line o vídeo da professora Raquel: 
 Tema 4: O Materialismo Histórico/Dialético 
 Marx e Engels, na busca de entender a sociedade de 
seu tempo, utilizam os princípios do método dialético para o 
estudo da vida social, aplicando esses princípios aos 
fenômenos sociais e criando, assim, uma nova forma de 
análise da sociedade: o Materialismo Histórico. 
Vemos que o Materialismo Histórico parte da 
concepção materialista da realidade e busca, através do 
método dialético de análise, abordar de maneira mais correta 
e abrangente os diferentes fenômenos, descobrindo ainda as 
leis objetivas mais gerais que regem sua evolução. 
 
 
Desse modo, o Materialismo Histórico/Dialético seria 
uma base filosófica de análise e compreensão do mundo e da 
realidade à nossa volta. 
Em relação aos fundamentos teóricos do Materialismo 
Histórico, podemos compreender que o marxismo se configura 
como um projeto político e ideológico do proletariado, 
resultante das lutas operárias. 
Outros teóricos buscaram compreender a história da 
humanidade criando sistemas filosóficos e teorias econômicas, 
esboçando quadros de uma ordem social ideal. Só em 
meados do século XIX amadureceram as premissas para o 
surgimento da concepção comunista científica do mundo, a 
partir do método dialético. 
O capitalismo provocou a necessidade do aumento da 
produção, dando grande impulso ao desenvolvimento das 
ciências, que acumularam dados suficientes para oferecer 
uma imagem mais elaborada e precisa da realidade. Esse foi o 
pano de fundo para a criação do Materialismo Histórico, onde 
Marx e Engels puderam beber das seguintes fontes teóricas: 
 Filosofia Clássica alemã (Hegel / Feuerbach); 
 Economia Política inglesa (Adam Smith / David 
Ricardo); 
 Socialismo Utópico francês (Saint-Simon / Charles 
Fourier / Robert Owen). 
Marx e Engels inovaram o pensamento alemão ao 
transformarem as contribuições de Hegel (dialética idealista) e 
de Feuerbach (materialismo mecanicista) numa forma 
totalmente nova de analisar a história e a realidade existente, 
chamado então de Materialismo Histórico. 
No campo da Economia Política, os precursores do 
marxismo foram os economistas ingleses Adam Smith e David 
Ricardo, os quais afirmavam que a fonte da riqueza da 
sociedade é o trabalho. Sua análise mantinha-se nos marcos 
do pensamento liberal, apresentando argumentos em defesa 
da lógica capitalista de produção e da concentração da 
riqueza em mãos dos proprietários burgueses. 
Já os socialistas utópicos do século XIX travaram uma 
crítica dura à ordem capitalista, criando os planos de uma 
sociedade ideal. Porém, suas doutrinas não indicavam o 
caminho real para o alcance desses objetivos. Os socialistas 
utópicos acreditavam que a via para esse regime ideal 
passava pela instrução da sociedade e pela persuasão moral 
dos exploradores. 
Marx e Engels foram além da obra dos seus 
precursores teóricos. A partir da reelaboração de maneira 
crítica da herança ideológica do passado, elaboraram um 
processo de superação dialética, através de uma nova teoria, 
que era a expressão dos interesses fundamentais do 
proletariado, uma classe considerada mais avançada e 
revolucionária. 
Assim sendo, despojaram a teoria social de ideias que 
afirmavam ser falsas, de representações fantásticas e de 
esquemas utópicos, e proporiam uma ideologia comunista 
orientada para o estudo das leis objetivas do desenvolvimentohistórico. Vemos nesse momento a transformação da teoria 
social em ideologia do movimento proletário de massa, no qual 
buscavam a superação do caráter contemplativo do 
pensamento social e o divórcio entre a teoria e a prática, 
dotando os trabalhadores de uma ideologia que objetivava 
transformar o mundo. 
 
 
Devemos mencionar ainda outros elementos que 
integram o marxismo, pois ao proporem a transformação da 
sociedade, segundo os princípios do comunismo, geraram a 
necessidade da análise científica da realidade concreta. Por 
isso, uma das partes essenciais e importantes do marxismo é 
a filosofia, que é uma ciência que busca conhecer as leis mais 
gerais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do 
conhecimento. 
A perspectiva filosófica contribuiu para o marxismo no 
sentido de entender o conjunto de relações sociais, 
econômicas ou de produção, ocupando uma posição 
fundamental para encontrar a resposta para a questão de 
como chegar ao socialismo e ao comunismo. 
Para tanto, tivemos outro importantíssimo elemento 
integrante do marxismo, a economia política, ciência que 
procurara estudar o desenvolvimento das relações de 
produção. Assim sendo, foi constituído um fundamento 
importante para a análise da realidade, o chamado 
comunismo científico, que, partindo da filosofia e da 
economia política marxistas, objetivava preparar o proletariado 
para se lançar nas lutas necessárias ao surgimento e 
desenvolvimento da sociedade comunista. 
Vemos assim que o pensamento marxista não se 
limitou a impulsionar a filosofia, a economia política e a 
doutrina do socialismo. Propôs uma transformação em todas 
as esferas do conhecimento da sociedade: nas ciências 
históricas, na ética, na estética, entre outros. 
Portanto, o Materialismo Histórico/Dialético se 
propõe a ser um sistema fundamentado cientificamente por 
leis gerais que regem o desenvolvimento da natureza e da 
sociedade, a partir das possibilidades históricas e concretas 
dadas pela realidade e de um sistema unitário, onde todas as 
partes integrantes do marxismo se encontram intimamente 
entrelaçadas. 
Sendo assim, é um método “puramente” econômico ou 
filosófico. A filosofia serviu-lhes de método de análise integral 
das relações sociais, e sobre esta base fundamentaram as 
conclusões políticas. Por sua vez, o estudo profundo da 
economia e da política ofereceu novo e abundante material 
para a síntese filosófica. 
Para mais informações sobre o Materialismo 
Histórico/Dialético, confira no material on-line a videoaula da 
professora Raquel. 
Tema 5: Conceituando: trabalho, alienação, reificação e 
fetichismo da mercadoria 
A partir da criação de um método voltado para 
interpretação da realidade social como um todo e por meio do 
chamado Materialismo Histórico dialético, Marx e Engels 
buscaram entender algumas questões referentes à relação 
capital-trabalho. 
Entre elas, pode-se destacar as consequências do 
processo de expropriação da classe trabalhadora que acaba 
por perder, ao longo do tempo, o que os referidos autores 
consideram a essência do homem: o trabalho, que é algo que 
dá sentido à vida humana no processo de transformação da 
natureza para sua subsistência. Sendo assim, três processos 
contribuem para exploração da classe operária: alienação, 
reificação e fetichismo da mercadoria. 
 
 
O que seria, então, o processo de alienação em Marx? 
Entendemos que a alienação ocorre através de um 
processo de exteriorização de algo que só a essência humana 
pode realizar, e do não reconhecimento desta atividade 
enquanto tal. Sendo assim, uma vez estabelecido todo o 
processo de trabalho até o seu final, o produto do processo se 
transforma em algo estranho ao seu produtor. O produto é 
independente do ser que o produziu. 
Este estranhamento que promove “diferença de 
natureza” entre produtor e produto é considerado a essência 
do processo de alienação. 
Marx trata da alienação nos “Manuscritos Econômico-
Filosóficos”, de 1844. Acesse o link a seguir e leia o 
documento na íntegra: 
https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/ca
p01.htm 
Nele, o autor retrata quatro tipos de alienação: 
1. Em relação ao produto do trabalho; 
2. No processo de produção; 
3. Em relação à existência do indivíduo enquanto membro do 
gênero humano; 
4. Em relação aos outros indivíduos. 
Na sequência, estudaremos com detalhes cada um desses 
itens. 
 
https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm
https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm
1. A alienação em relação ao produto do trabalho 
Este é o processo de estranhamento vivenciado pelo 
produtor, no qual não se reconhece um produto que tem 
dentro de si a essência do trabalhador. O produto sai do 
produtor, mas ele não mais o reconhece como fruto de seu 
trabalho. Quando o produto está feito, só resta ao trabalhador 
exigir um salário no fim do mês. Vemos então que o produto 
final não é ontologicamente de ninguém, é um ser 
independente, um objeto estranho à “natureza” de qualquer 
indivíduo que trabalhou nele. 
2. A alienação no processo de produção 
Esta forma de alienação é chamada por Marx de 
“alienação ativa” ou “atividade de alienação”. Ela ocorre a 
partir da constatação de que se o trabalhador está alienado 
em relação ao produto de seu trabalho, então é importante 
verificar que isto não aconteceu do nada, mas estava presente 
no próprio processo produtivo. 
Marx trabalha a ideia de que esse processo de 
alienação confere ao trabalho o caráter de sofrimento e não 
realização. O trabalho é forçado, trabalha-se para sobreviver, 
e o guia do trabalho não é a necessidade, mas sim os 
interesses daqueles que exercem poder sobre os 
trabalhadores. 
 
 
3. Alienação do sujeito enquanto pertencente ao gênero 
humano 
Nesse momento, Marx destaca a própria característica 
do humano enquanto ser genérico, animal multifacetado 
com inúmeras potencialidades e capacidades. Coloca que, 
quando o homem está separado de sua essência, de sua 
ligação com a comunidade, de seu trabalho, ele se 
individualiza, não se sentindo mais membro de sua espécie, 
mas sim um indivíduo solitário. 
Entendemos que o trabalho enquanto fator 
individualizante provoca a transformação do sujeito 
multifacetado em um sujeito unilateral e único. O trabalhador 
só tem valor em sua vida enquanto trabalhador, e não 
enquanto um ser único, específico, que é a representação de 
sua mais pura humanidade. 
4. Alienação em relação aos outros homens 
Esse item é resultado do processo de alienação, pois é 
consequência da individualização e unilateralização da vida. 
Quando o trabalhador passa a não se reconhecer em seu 
trabalho, e quando este não é reconhecido como parte 
essencial da vida humana e do ser humano enquanto 
gênero/espécie, então a própria vida passa a ser uma 
objetificação nociva. Assim, toda e qualquer vida já não tem 
seu significado. Ser alienado enquanto parte da espécie 
humana, como no terceiro tópico foi explicado, implica se 
alienar também dos outros. 
Consideramos importante mencionar três categorias 
fundamentais da teoria de Marx: trabalho, reificação e 
fetichismo da mercadoria. Karl Marx (1989) afirma que o 
processo de trabalho acontece a partir de três elementos: 
atividade adequada a um fim; matéria a que se aplica o 
trabalho (objeto do trabalho) e meios de trabalho 
(instrumento). 
Acesse o link a seguir e confira um interessante vídeo 
sobre Karl Marx desenvolvido a partir das explicações do 
sociólogo brasileiro Gabriel Cohn: 
 https://www.youtube.com/watch?v=I2AZAbg1rLw 
Percebemos que há uma conexão entre essas 
categorias, mas para conectá-las precisamos entender alguns 
conceitos. Segundo Marx, a matéria-prima é fruto da 
modificação de um objeto a partir do processo de trabalho. Ela 
é sempre objeto de trabalho, embora nem todo objeto sejamatéria-prima. É possível, também, ser matéria e objeto ao 
mesmo tempo, ao passo que os valores de uso o determinam 
ora como produto, ora meio de produção, dependendo de sua 
função no processo de trabalho. 
Partindo dessa percepção, podemos entender que o 
meio de trabalho é um conjunto de coisas que o trabalhador 
insere entre si e seu objeto. Ao fazer essa escolha, ele aponta 
as condições sociais onde se realiza o trabalho, sendo assim o 
trabalhador se torna “o apêndice da máquina”, o medidor da 
própria capacidade de produção. 
https://www.youtube.com/watch?v=I2AZAbg1rLw
 
 
É a partir desse processo que ocorre a alienação 
tratada anteriormente. A partir da alienação é que acontecem 
o fetichismo e a reificação. De acordo com Marx, a reificação é 
o processo de coisificação, onde as ações humanas e suas 
implicações deixam de ser consideradas propriamente 
“humanas” para serem encaradas como “coisas”, passando a 
serem tratadas como substituíveis e plurais. 
No que diz respeito ao fetichismo, a aparência da 
mercadoria esconde a essência do próprio fenômeno de 
produção da mercadoria, mascarando as relações sociais que 
o envolvem e a capacidade de envolvimento de que o próprio 
fenômeno necessita, já que sem o envolvimento do humano 
(subjetivo), o fenômeno (abstrato) não ocorre. 
Marx percebe que a mercadoria (manufatura) quando 
finalizada, não mantinha o seu valor real de venda. Esse valor 
não era definido pela quantidade de trabalho materializado no 
artigo, mas sim por uma valoração de venda irreal e 
infundada, como se não fosse fruto do trabalho humano e nem 
pudesse ser mensurado. Ele acaba denunciando, então, que a 
mercadoria parecia perder sua relação com o trabalho e 
ganhava vida própria. 
Assim sendo, conseguimos entender nesses estudos os 
conceitos fundantes da teoria de Marx que foram de suma 
importância para a constituição de seus pressupostos teóricos 
e do método histórico e dialético, elementos esses que 
influenciaram o processo de ruptura do Serviço Social com o 
conservadorismo. Convidamos você a conhecer esse 
processo em nossas próximas aulas. 
 
 
Para mais informações sobre o conceito de trabalho, 
alienação, reificação e fetichismo da mercadoria, confira no 
material on-line a videoaula da professora Raquel. 
 Trocando Ideias 
Caro aluno, gostaria de sugerir que conheça pelo 
menos as obras de Marx citadas em nossos estudos. Isso é 
importante para que você possa fazer suas próprias 
interpretações sobre alguns dos pressupostos fundantes da 
obra desse autor. Esse conhecimento é essencial para que os 
assistentes sociais na contemporaneidade possam entender 
as proposições colocadas por nossa categoria profissional, 
que tem como base a teoria marxista. 
A seguir, você confere a relação de obras de Karl Marx 
para enriquecer seus conhecimentos: 
 Diferença da filosofia da natureza em Demócrito e 
Epicuro. Ano: 1841. 
 Tese de doutoramento na Universidade de Iena. 
Crítica da filosofia do Direito de Hegel. Ano: 1843. 
 A questão judaica. Ano: 1843. 
 Contribuição para a crítica da filosofia do Direito em 
Hegel. Ano: 1844. 
 Manuscritos econômico-filosóficos. Ano: 1844. 
 Teses sobre Feuerbach. Ano: 1845. 
 A Sagrada Família. Ano: 1845. 
 A ideologia alemã. Ano: 1845-1846. 
 Miséria da filosofia. Ano: 1847. 
 Manifesto comunista. Ano: 1848. 
 
 
 Trabalho assalariado e capital. Ano: 1849. 
 As lutas de classe na França de 1848 a 1850. Ano: 
1850. 
 Mensagem da Direção Central da Liga Comunista. 
Ano: 1850. 
 O 18 brumário de Luís Bonaparte. Ano: 1852. 
 Punição capital. Ano: 1853. 
 Grundrisse. Ano: 1857-1858. 
 Para a crítica da economia política. Ano: 1859. 
 População, crime e pauperismo. Ano: 1859. 
 Salário, preço e lucro. Ano: 1865. 
 O Capital: crítica da economia política (Livro I: O 
processo de produção do capital). Ano: 1867. 
 A guerra civil na França. Ano: 1871. 
 Resumo de “Estatismo e anarquia”, obra de Bakunin. 
Ano: 1874-1875. 
 Crítica do Programa de Gotha. Ano: 1875. 
 Notas sobre Adolph Wagner. Ano: 1880. 
Na Prática 
Acesse o link a seguir e assista ao vídeo “Vida Maria”: 
https://www.youtube.com/watch?v=rmCKCic5Vwg 
 A partir da história retratada, aplique as Leis da 
Dialética (mudança dialética, ação recíproca e contradição) 
para entender a realidade vivenciada por essa família. 
https://www.youtube.com/watch?v=rmCKCic5Vwg
Protocolo de resposta: 
1. Mudança dialética: essa lei busca constatar que “nada 
fica onde está nada permanece o que é”. A conclusão será: 
as mudanças ocorridas com a família passam por ciclos 
geracionais que se reproduzem. Ao olharmos o passado, 
percebemos que outras gerações existiram durante certo 
tempo, assim podemos entender que, como todas as 
outras, essa não é definitiva, mas, pelo contrário, é para 
nós uma realidade sempre provisória, uma transição entre 
o passado e o futuro. 
2. A ação recíproca - o encadeamento dos processos: a 
dialética não considera as coisas na qualidade de objetos 
fixos, acabados, mas enquanto movimentos. Parte do 
princípio de que as coisas estão em condição de se 
transformar, de se desenvolver. Nestas transformações, o 
papel dos homens é acelerá-las, dar a elas um sentido, 
uma direção. Sendo assim, vemos na história retratada no 
vídeo as mudanças acontecidas na família, que está em 
movimento se transformando de geração em geração. 
 
 
3. A contradição: já entendemos que a dialética considera 
as coisas como uma perpétua mudança. Considera que 
isso só é possível porque a mudança é o resultado de um 
encadeamento de processos. Vemos, assim, que a 
mudança para a dialética advém das contradições. 
Podemos observar que estas contradições seguem um 
movimento típico: a afirmação, a negação e a negação da 
negação. Vemos os diferentes papeis desempenhados por 
homens e mulheres na família. Os homens como 
provedores e as mulheres como sua negação na medida 
que também contribuem com a provisão da casa e sua 
manutenção. Ao afirmar-se como homens, acabam por 
criar a sua negação, ou seja, a negação da negação de 
seu papel de provedor. 
 Síntese 
Nessa aula, conhecemos os pressupostos da Teoria 
Marxista, que são de suma importância para compreendermos 
as categorias que compõem a formação dessa concepção 
teórica, a qual influencia o Serviço Social até os nossos dias. 
Refletimos também sobre o processo de formação da 
chamada sociedade burguesa, assim como abordamos as 
revoluções Francesa e Industrial e seus rebatimentos e 
influências na formação da sociedade burguesa século XIX. 
Percebemos o quanto a influência do chamado mundo 
burguês foi determinante para o processo de constituição do 
modo de produção capitalista, onde a relação do homem com 
a natureza foi transformada, criando assim duas classes 
distintas: a burguesa ou capitalista, detentora dos meius de 
produção, e a operária ou trabalhadora, que vende a sua força 
de trabalho para suprir suas necessidades. 
Conhecemos os pressupostos que deram origem à obra 
de Marx e vimos no que consiste o método dialético e suas 
leis constitutivas: mudança dialética, ação recíproca e 
contradição. Percebemos, então, que esse método nos 
desafia a entender o movimento da realidade. 
Foi interessante, ainda, nossa busca por compreender o 
Materialismo Histórico dialético, que é um método orientado 
por leis gerais que regem o desenvolvimento da natureza e da 
sociedade, a partir das possibilidades históricas e concretas 
dadas pela realidade e de um sistema unitário, onde todas as 
partes integrantes do marxismo se encontram intimamente 
entrelaçadas. 
Por fim, buscou-se conceituar três elementos 
importantes criados por Marx e Engels, para entender a 
relação da classe operária com o trabalho e o processo de 
expropriação da força do trabalho: a alienação, a reificação e o 
fetichismoda mercadoria. 
Assim sendo, conseguimos entender nesses estudos os 
conceitos fundantes da teoria de Marx, o que nos dará base 
para melhor compreensão do processo de ruptura do Serviço 
Social com o conservadorismo, assunto das nossas próximas 
aulas. 
Confira no vídeo disponível no material on-line a síntese 
da professora Raquel. 
 
 
Referências 
YASBEK, M. C. Assistência social brasileira: limites e 
possibilidades na transição do milênio. São Paulo, 2001. 
CARVALHO, Leandro. Surgimento da burguesia. Brasil 
Escola. Disponível em: 
<http://brasilescola.uol.com.br/historiag/surgimento-
burguesia.htm>. Acesso em: 29 jul. 2016. 
MARX, K. Introdução: temas de ciências humanas. In: ______. 
Crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Grijalbo, 
1977. v. 2, p. 1-14. 
______. Trabalho alienado e superação positiva da 
autoalienação humana. In: FERNANDES, F. Marx e Engels: 
história. São Paulo: Ática, 1989. 
______. Crítica ao programa de Gotha. In: MARX, K.; 
ENGELS, F. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa Omega, 
1980. 
______. Manuscritos econômico-filosóficos e outros 
textos escolhidos: seleção de textos de José Arthur 
Giannotti. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os 
Pensadores). 
 ______. O Capital: crítica da economia política. Rio 
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. 
 ______. Trabalho estranhado (extrato). Ideias, v. 9, n. 2, p. 
455-472, Campinas, 2003. 
 ______. Manuscritos econômico filosóficos. São Paulo: 
Boitempo, 2004. 
 ______. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. In: ______. 
Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos 
escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). 
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: 
Martins Fontes, 1980. 
______. Cartas filosóficas e o manifesto comunista de 
1848. São Paulo: Moraes, 1987, p. 102-116. 
 ______. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa Ômega, 1980. 
 POLITZER, Georges. Princípios Elementares de Filosofia. 9. 
Ed. Edições Prelo, 1979. 
 
 
KONDER, Leandro: O que é dialética. 1. ed. Abril Cultural, 
1985. (Coleção Primeiros Passos). 
 Chakhnazárov, G.; Krássine, Iú: Fundamentos do Marxismo-
Leninismo. 1. Ed., Moscou-URSS: Edições Progresso, 1985. 
 
 Sites consultados: 
<https://colunastortas.wordpress.com/2014/02/05/o-que-e-
alienacao-em-marx>. 
 <http://www.pcb.org.br/portal/docs/materialismo.pdf>. 
 Acessados em: 29 jul. 2016. 
 
 
 
 
 
https://colunastortas.wordpress.com/2014/02/05/o-que-e-alienacao-em-marx
https://colunastortas.wordpress.com/2014/02/05/o-que-e-alienacao-em-marx
http://www.pcb.org.br/portal/docs/materialismo.pdf

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