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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Fundamentos Histórico Teórico Metodológicos do Serviço Social – Dimensão Marxista Aula 4 Profa. Raquel Barcelos de Araújo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à quarta aula de Fundamentos Histórico Teórico Metodológicos do Serviço Social – Dimensão Marxista. Neste encontro, buscaremos aprimorar nossos conhecimentos sobre os conceitos fundamentais do marxismo, dando enfoque ao método proposto pela teoria social de Marx. Tais reflexões nos ajudarão a compreender os princípios da teoria marxista e de seu método e, principalmente, a relação entre essa proposição teórica e esse método com o Serviço Social em seu processo de ruptura com o conservadorismo e de reconceituação. Para tanto, temos alguns objetivos a cumprir: Refletir sobre os elementos do método marxista: a teoria do valor trabalho e a perspectiva da revolução como possibilidade histórica; Compreender como acontece a produção e a reprodução do ser social a partir da categoria trabalho; Realizar uma leitura crítica dos anos 1960 a 1980, que no Serviço Social têm como marco o ano de 1979, no qual aconteceu o “congresso da virada”; Entender quais foram as primeiras influências de diferentes marxismos para o Serviço Social através de aproximações ao marxismo sem a ida ao pensamento de Marx; Compreender o Serviço Social e a construção de um projeto profissional nas décadas de 1980 e 1990. Assim sendo, estabeleceremos um dinâmico processo de aprendizagem que conta com recursos variados, tais como explicações escritas, vídeos gravados pela professora, indicações de leituras e atividades. Serão várias formas de enriquecer o seu conhecimento. Contextualizando Estamos em um momento importante, já que iremos refletir sobre o método e a teoria que lançou os fundamentos para a constituição do Serviço CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Social contemporâneo. Tal processo passa pelo movimento de ruptura com o conservadorismo, caminhando para o período de renovação, onde o Serviço Social lança novos fundamentos teóricos e metodológicos que vão dar origem ao Serviço Social contemporâneo. Quais características do Serviço Social conservador te chamam mais a atenção? Que desafios você considera que os Assistentes Sociais enfrentaram para romper com o conservadorismo? Não vamos responder a essas questões agora! Cabe ressaltar que o conhecimento adquirido nessa aula irá contribuir para que entendamos que todo esse processo histórico influenciou em muito a forma como o Serviço Social foi construindo o seu processo de ruptura com o conservadorismo. Tema 1: Elementos do Método Marxista Vimos em nossos estudos que a teoria social de Marx é uma teoria que busca trazer elementos explicativos da sociedade burguesa e de suas formas de produção e reprodução. Nessa aula, buscaremos entender dois dos três pilares da teoria social de Marx para análise da realidade social, que são o método dialético, a teoria valor-trabalho e a perspectiva da revolução. Falaremos agora sobre os dois últimos, pois em nossas aulas anteriores já tratamos do método dialético. Tais contribuições de Marx estão retratadas em sua obra Crítica da Economia Política, de 1982. A relação estrutural do método em Marx, com a teoria do valor trabalho e a perspectiva da revolução, objetiva explicar a produção e a reprodução do ser social que tem o trabalho como categoria fundante de sua sociabilidade como práxis primeira. O trabalho é a categoria que possibilita aos homens diminuírem aos poucos as barreiras naturais, humanizar a natureza e ser modificado por essa relação. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Vemos em Marx (2010) que o trabalho é indispensável à existência humana e cria o valor de uso. É o que faz o intercâmbio entre o homem e a natureza, promovendo a manutenção da vida humana. Sendo assim, é considerado a base da atividade econômica de uma sociedade na medida em que torna possível a produção de todos os bens, criando valores que formam a riqueza social e revelando o modo de ser dos homens e da sociedade. Portanto, ao modificar a natureza, o homem modifica também a sua própria natureza interior. Segundo Netto e Braz (2006, p. 32, grifo dos autores) “[...] o trabalho é uma atividade projetada, teleologicamente direcionada, ou seja: conduzida a partir do fim proposto pelo sujeito”. Vemos assim que essa habilidade é o que difere o homem do animal, já que o último idealiza as suas atividades antes de realizá-las. A produção de valores de uso por meio da apropriação da natureza tem como fim satisfazer as necessidades humanas. Entendemos assim que apenas o ser social age com teleologia, propõe finalidades antecipando metas e dispõe da capacidade de projetar. Para Marx, o ser social se particulariza porque é capaz de executar atividades teleologicamente orientadas, tratando suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente. Na medida em que o ser social se desenvolve e se diferencia da natureza, ele se enriquece com novas objetivações. Percebemos assim que o processo de trabalho composto por seus elementos é atividade dirigida com o fim de criar valores de uso, transformando os elementos naturais para satisfazer as necessidades humanas; é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e natureza. Conforme vimos, para entendermos a teoria do valor, precisamos entender a importância do trabalho na sociedade capitalista e ainda compreendê-lo no seu movimento histórico, no processo de sua constituição. O CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 modo de produção capitalista foi formado de acordo com algumas mediações e condições que possibilitaram seu desenvolvimento. Desse modo, percebemos que a crítica de Marx a partir da teoria valor- trabalho objetiva explicar os mecanismos da extração material da mais-valia e o trabalho como fonte original do valor nas diferentes fases do capitalismo. A referida teoria ganha concretude como possibilidade de ruptura revolucionária, a partir das contradições internas contidas na própria ordem burguesa. Isso se baseia no fato de que os mesmos mecanismos que oferecem as condições para acumulação do capital recolocam os próprios mecanismos para sua superação, reforçando a desigualdade social estrutural e os dilemas contidos nessa sociabilidade. A perspectiva de revolução está presente na obra de Marx e em sua vida, na medida em que ele vivencia e explicita o acirramento entre a ascensão do capitalismo industrial no século XVIII e as manifestações operárias. Vemos em várias obras (principalmente em dois textos publicados no periódico “Anais Franco Alemães”, entre 1843 e 1844: “Para questão Judaica” e “Para a Crítica da filosofia do direito de Hegel”) as contribuições que visavam captar o movimento expresso pelo processo de pauperização da classe trabalhadora, que caminhava com a mesma velocidade em que ocorria a concentração da riqueza nas mãos da burguesia. Sendo assim, a classe operária não assistiu passivamente a ascensão do capitalismo e a sujeição de sua vida ao domínio do capital, mas se mobilizou enquanto classe social. Podem ser encontrados registros de seu processo de organização desde as décadas iniciais do século XIX, em especial na Inglaterra, um processo de recusa e resistência operária que expressavam asrelações antagônicas entre as classes. Assim compreendemos que, no início do século XIX, os trabalhadores começaram a perceber que os seus verdadeiros opressores eram os donos dos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 meios de produção e não as máquinas, já que elas eram simplesmente um instrumento de dominação da burguesia. Na obra Para a Questão Judaica, Marx trata da emancipação política e humana, questões fundamentais para a compreensão do processo que leva à revolução. Diante desse debate, pudemos entender que a emancipação política não implica emancipação humana, que é uma condição para além da religião e de direitos políticos. Marx explicita que, mesmo quando o homem se torna público, (laico) age movido pelo egoísmo, elemento inevitável da vida fundada na propriedade privada e nas relações sociais mediadas pelo dinheiro e pela troca. Como muito bem explica Netto (2008, p. 29): “A emancipação humana supõe a ultrapassagem de uma sociedade civil cuja essência é a reprodução ampliada das desigualdades! A condição elementar para emancipação humana é a supressão da exploração do trabalho pelo capital. ” Percebemos, portanto, que a superação da emancipação política e chegada à emancipação humana é ter como perspectiva a supressão da propriedade privada. Assim sendo, compreendemos que a revolução não é uma abstração, mas uma possibilidade histórica real, cujas origens constituem estruturalmente o mundo do capital. Mundo este que tem implícito em seu processo de constituição tanto a apropriação privada da produção social como a lei geral da acumulação capitalista. Portanto, a sociedade do capital, que possui luta de classes e suas próprias contradições como ordem social, oferece os elementos necessários e fundamentais para sua superação material. Entendemos, portanto a importância da perspectiva da revolução como um dos pilares fundamentais, já que a obra de Marx é impensável sem considerar o protagonismo da classe operária, principalmente após a Revolução de 1848, quando o proletariado se articulou como classe para si e não somente uma classe em si. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Uma classe que se constitui para si na medida em que estabelece uma luta aguerrida por seus direitos e pelo reconhecimento de sua importância política, histórica, social e econômica. A possibilidade concreta da revolução é uma estratégia de supressão da ordem burguesa e, assim sendo, se torna essencial na constituição na teoria marxiana. Recomendamos o vídeo a seguir para um maior embasamento sobre as revoluções ocorridas em 1848: https://www.youtube.com/watch?v=Oq0tdsQtlRw Vemos que o engajamento revolucionário de Marx e seu compromisso com a classe operária estavam além de um mero compromisso ideológico e político, pois ele foi um dirigente revolucionário e protagonista no movimento operário urbano-industrial, configurando no que Netto (2008) chama de “nexo constitutivo de sua obra”, uma vez que há um compromisso político e ideológico de Marx com o movimento operário por dentro e não por fora. Ou seja, Marx falava de dentro do movimento operário e isso possibilitou um olhar diferenciado sobre a ordem burguesa, fundamental para sua produção teórica. Podemos compreender ainda que o outro pilar que sustenta a obra marxiana é a teoria do valor trabalho, que não foi criada por Marx, mas ao entender, a partir dos economistas clássicos, que o trabalho é o principal gerador de valor na ordem política e econômica moderna, se promove a subversão da lógica proposta pelos clássicos e torna a teoria do valor um pilar importante na análise da ordem burguesa. Conclui-se assim que a ordem burguesa e a relação capital-trabalho se apoiam na exploração, já que a realização do trabalho humano produz um valor excedente ao gasto de execução. Sendo assim, podemos concluir que esses pilares são de suma importância para compreender a teoria social de Marx e seu método, uma vez que redundam de uma construção teórica baseada na vida e nos estudos desse autor. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Conclui-se também que essa produção marxiana e sua visão de mundo sobre a ordem burguesa, com todas as suas contradições, serviram de influência para o Serviço Social contemporâneo em sua busca por compreender e analisar a sociedade burguesa, a fim de intervir nessa realidade social. Tema 2: A produção e a reprodução do ser social a partir da categoria trabalho Para compreendermos como acontece a produção e a reprodução do ser social, é importante considerarmos a relação entre os homens e a natureza, e entender como a categoria trabalho é fundamental para a constituição do homem como ser social. Imaginemos que alguém precise descascar uma laranja e para isso algumas alternativas são possíveis: tirar a casca com a boca; construir uma faca para descascá-la; ou comer a laranja com casca. Para realizar a escolha, é preciso avaliar o resultado obtido a partir de cada uma, ou seja, antecipar na consciência o resultado provável das alternativas. A antecipação possibilita a escolha de uma das alternativas, que fará com esse sujeito pratique a ação de acordo com tal escolha. Sendo assim, o sujeito objetiva a alternativa escolhida. Podemos perceber que o homem possui a capacidade ideal e material para transformar a natureza. Assim, o resultado do processo de trabalho é a transformação da realidade e a objetivação produz uma nova situação já que a realidade é transformada assim como o indivíduo que a transforma uma vez que esse sujeito aprende algo ao realizar tal transformação. Desse modo, entendemos que, ao transformar a natureza, o homem se transforma. Algumas considerações para enriquecer nossa reflexão: 1. A natureza produz a laranja, mas não a faca para cortá-la, esta é fruto do trabalho humano; 2. O trabalho implica então na transformação da natureza de acordo com o desejo do homem; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 3. A ideação prévia é uma resposta dada diante de uma necessidade concreta; 4. Todo trabalho dá origem a uma nova situação; 5. Quando o homem constrói uma realidade objetiva, também constrói a si mesmo enquanto ser social. Assim sendo, podemos entender como o trabalho eleva o homem ao status de ser social, na medida em que transforma a natureza e se transforma ao mesmo tempo, através do processo de ideação prévia ou teleologia, que permite a construção na consciência de um resultado provável de ação determinada. Desse modo, vemos acontecer a chamada objetivação: a ideação prévia no sentido de transformar a realidade. Percebemos, por fim, que trabalho é o resultado do processo de prévia ideação e da objetivação. Desse modo, vemos que o trabalho é o fundamento ontológico do ser social, sendo a raiz das objetivações pelas quais o mundo dos homens se realiza concretamente. A mediação fundamental entre o homem e a natureza ocorre a partir do trabalho, ação esta que instaura um novo plano ontológico, que se caracteriza por níveis progressivos de socialização. Para conhecer os significados do termo ontologia, acesse: http://www.dicio.com.br/ontologia/ Segundo Lukács (1981:135), a possibilidade de tal processo ocorre porque os atos de trabalho são necessários e contínuos, sendo emitidos para além de si mesmos, ou seja, o trabalho produz sempre o novo. Coloca ainda que, por outro lado, “o trabalho [...] como categoria desenvolvida do ser social, só pode chegar a sua verdadeira e adequada existência num complexo social que se mova e se reproduzaprocessualmente” (Lukács, 1981, p. 135). Partindo de tais reflexões, conseguiremos entender o conceito de reprodução social. Lukács (1981) coloca que: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 “Ela se realiza nas ações dos indivíduos – no imediato, a realidade social se manifesta no indivíduo –, todavia estas ações, para se realizarem, se inserem, por força das coisas, em complexos relacionais entre homens, os quais uma vez atingidos possuem uma determinada dinâmica própria; isto é, não só existem, se reproduzem, operam na sociedade independente da consciência dos indivíduos, mas dão também impulsos, direta ou indiretamente, mais ou menos determinantes às decisões alternativas. ” (Lukács, 1981:156). Dito isso, podemos perceber que a reprodução social tem a ver com as relações estabelecidas pelos homens a partir das construções que fazem em sua vida. Pensemos então em Lukács (1981), que traz alguns pontos da reprodução social necessários para sua compreensão: 1. Há uma dialética entre trabalho e reprodução social. O trabalho é o fundamento e condição de existência do ser social, logo, da própria reprodução deste. Porém, o trabalho só se efetiva no contexto da reprodução social. 2. O ser social e suas ações histórico-genéricas, como criação humana, fundam-se nas atividades individuais que são concretas e singulares. Tais ações são explicitações parciais do gênero humano, gerando e reproduzindo constantemente e de maneira cada vez mais ampliada e complexa o mundo dos homens. Em outras palavras, compreendemos que todo processo de trabalho sempre está voltado para o atendimento de uma necessidade concreta, historicamente determinada, e termina por ir muito além de si próprio. Suas consequências objetivas e subjetivas não se limitam à produção do objeto imediato, mas se estendem por toda a história da humanidade. Ele promove ainda o desenvolvimento das capacidades humanas, das forças produtivas, das relações sociais, de maneira que as sociedades se tornam cada vez mais desenvolvidas e complexas. É esse complexo processo que, fundado pelo trabalho, acaba dando origem às relações entre os homens que não mais se limitam ao trabalho: a reprodução social. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Tema 3: Renovação, reconceituação e o processo de incorporação do marxismo pelo Serviço Social brasileiro Abordaremos neste tema o período de renovação profissional compreendido entre as décadas de 1960 e 1980, momento caracterizado pela degradação do Serviço Social tradicional nos mais variados aspectos, conforme explicita Netto (1996), ao destacar uma interlocução com o marxismo através de diferentes apropriações dessa corrente teórico-filosófica. Coloca Netto (1996) que o feito se reverteu não apenas na revisão crítica dos valores tradicionais da profissão, mas também numa interlocução eclética e vulgar do marxismo, uma vez que as fontes teóricas consultadas incluíam desde o marxismo produzido pelo bloco soviético stalinista, afamado como marxismo da II Internacional, até a consulta às primeiras obras do marxismo gramsciano, que serviu de base teórico-cultural. Saiba mais sobre essas fontes nos artigos a seguir: https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Internacional https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci Vemos assim que ocorreu uma afinidade com algumas vertentes que se aproximavam do marxismo (com todas as diferenças existentes em seu interior), cujo objetivo era o enfrentamento e “intenção de ruptura” com o Serviço Social tradicional. Tais ações foram consolidando o Movimento de Reconceituação, que ocorreu ao longo dos anos 1980. O período de 1960 a 1980 foi um momento de grandes transformações políticas e sociais no Brasil e no mundo, cenário com os quais os teóricos marxistas trabalharam, considerando ainda a crise do marxismo-leninismo, originada na Rússia, e que a América Latina era palco de contestações civis, influenciado, principalmente, pela possibilidade de instauração do socialismo no continente. No Brasil não foi diferente, tanto que o país passou por duas décadas de ditadura militar e posteriormente por um processo de reabertura democrática nesse curto período. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 NETTO (1996:88) coloca que o Brasil, portanto, “[...] inscreve-se num mosaico internacional de sucessão de golpes de Estados”. Do mesmo modo que em toda a América Latina, aqui o objetivo do golpe “de abril de 1964” tinha como eixo central o projeto hegemônico americano de divisão internacional do capital. A especificidade do capitalismo brasileiro formou as bases econômicas e políticas necessárias ao capital monopolista, ou seja, úteis ao capital estrangeiro. Assim sendo, vivenciamos o que Netto (1996) chama de projeto de modernização conservadora, projeto esse que não só dinamizou a ampliação da burguesia rural, a partir da reconcentração da propriedade e da ruína do campesinato, mas também usou como “linha mestra” de modernização o interesse dos monopólios, através das benesses ao capital estrangeiro, sem nenhum controle democrático ou parlamentar. Diante deste contexto, alguns autores afirmam que o mercado de trabalho para os assistentes sociais passou por um profundo redirecionamento a partir dessa projeção histórico-societária. Netto (1996) destaca que não apenas se deu a inserção desse profissional na reorganização do Estado, até porque ele já era o principal empregador do assistente social, mas o mercado nacional da profissão foi dinamizado por outro polo, a saber, as grandes empresas monopolistas e estatais. O autor ressalta também que esse espaço profissional não apenas cresceu a partir de uma demanda industrial, mas teve sua função sociopolítica redimensionada, já que os assistentes sociais comporiam os setores de vigilância e controle da força de trabalho no território da produção. Afirma ainda que no chamado período autocrático burguês, que se deu até o final da década de 1960, as ações e discursos governamentais reforçavam o Serviço Social tradicional. Compreendemos que esse Estado necessitava de “[...] um firme estrato de executores de políticas sociais localizadas, bastante dóceis e, ao mesmo tempo, de contra arrestar projeções profissionais potencialmente conflituosas” (NETTO, 1996, p. 118). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 A partir de 1966 e 1967, o mercado de trabalho redefinido pelo grande capital e pelo Estado autocrático coloca um novo padrão de exigências para seu desempenho profissional. Vemos em Netto (1996) que a racionalização burocrático-administrativa com que a modernização conservadora atingiu os espaços institucionais requereu um assistente social “moderno”, que atendesse às finalidades da racionalidade do Estado autocrático. Desse modo, percebemos a consolidação do processo de ruptura com o serviço social tradicional, implicando em um dimensionamento técnico-racional que foi de encontro com a tradicional postura humanista-cristã adotada pelos Assistentes Sociais. Nesse sentido, a profissão do Serviço Social precisou passar por um processo de renovação profissional, se vendo obrigada a redefinir as matrizes histórico-sociais e ideológico-culturais no interior da profissão. Entendemos assim que é de fundamental importância conectar a análise do processo de renovação do Serviço Social com o contexto histórico do período ditatorial, pois, sem as demandas colocadas pela autocracia burguesa, o Serviço Social não teria desenvolvido as potencialidades que caracterizariam a profissão na década de1980. Por exemplo, se analisarmos a primeira metade da década de 1960, veremos que o exercício da profissão do Serviço Social não apontava controvérsias e trazia certa homogeneidade nos seus desdobramentos teórico- práticos. Vemos que, depois de 1965, acontece uma nova proposição de alternativas profissionais. Vivencia-se, a partir deste período, uma tensão diante da proposição de diversas propostas teórico-metodológicas, resultando em projetos profissionais diferentes que confrontavam diretamente o chamado Serviço Social tradicional. Nesse período de renovação profissional, temos como destaque o que Netto (1996) chama de processo de fortalecimento da laicização da profissão. Processo este que tem seu início na década de 1950, sendo consolidado apenas “(...) pelo desenvolvimento das relações capitalistas durante a modernização conservadora” desse modo, a laicização “[...] só é possível levando-se em conta CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 as suas incidências no mercado de trabalho e nas agências de formação” (NETTO, 1996:129). Além disso, com a consolidação da laicização, ocorre uma diferenciação na categoria profissional. O referido autor coloca que a categoria diferenciação é um elemento fundamental para o processo de renovação profissional, uma vez que, nesse período autocrático, para ele, a profissão passou por uma redefinição profissional, tanto “[...] no âmbito da sua natureza como na funcionalidade constitutiva”, mudando-se, portanto, as condições do exercício profissional, a composição dos quadros profissionais, os padrões de organização “[...] e seus referenciais teórico-culturais e ideológicos”. (Netto 1996:48). Vemos assim, a configuração de um cenário que ultrapassa as requisições da autocracia burguesa ao serviço social. Tais requisições acabam por trazer novas funções à prática profissional dos assistentes sociais a partir dos novos espaços profissionais e, ao redefinir as agências de formação, forjando contraditoriamente novas tendências no interior da profissão. Desse modo, acabam surgindo segmentos profissionais que vão contestar o regime autocrático e provocar a renovação do Serviço Social de acordo com as suas necessidades e interesses. Ou seja, a autocracia burguesa criou ao mesmo tempo um espaço onde se inscrevia a possibilidade de se gestarem alternativas às práticas e às concepções profissionais que ela demandava. (NETTO, 1996, p. 119). Compreendemos que foi o Estado ditatorial, com todas as suas contradições, que provocou o surgimento desses segmentos profissionais de assistentes sociais, a partir de suas ações sociopolíticas, gerando um novo pensamento social de oposição ao regime ditatorial, “explicitamente reclamando- se de esquerda” (NETTO 1996:103). Percebemos que o berço deste pensamento e movimento são os espaços universitários, que se tornam espaços de resistência e oposição, como uma nova reflexão crítica sobre a sociedade brasileira como um todo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Para caracterizar esse processo, podemos citar o período ditatorial dos anos 1970, no qual as escolas e o ensino brasileiro estavam aliançado ao modelo modernizador e sob controle político. Vários professores, insatisfeitos, passaram a explicitar suas demandas corporativas e políticas, e ainda a refletiram criticamente sobre a educação brasileira. O fruto desse momento foi uma vasta produção acadêmica que dá salto qualitativo em busca de vincular suas reflexões teóricas ao movimento social. Nesse período, criou-se um movimento social formado por grupos de docentes de diversas universidades que juntaram suas inquietudes até então reprimidas pela ditadura militar. Netto (1996), nos chama a atenção para o fato de que as inspirações desses grupos advinham de diferentes matizes de esquerda, desde “[...] a impostação socialdemocrata a requisições de corte socialista revolucionário, cobrindo proposições utópico-românticas e mesmo anarcóides” (NETTO, 1996:104). Formou-se, portanto, uma sucessão de fatos que contribuíram para a formação do pensamento de esquerda. A análise teórica de Netto (1996:129) demonstra que é neste espaço contraditório – no âmbito de uma universidade brasileira domesticada – que a interlocução entre o marxismo e setores do Serviço Social compor-se-á de uma renovação teórica para a profissão. Entendemos que, apesar das universidades brasileiras representarem esse espaço politicamente domesticado, era também um núcleo de reflexão para parte dos profissionais, que se tornaram a vanguarda da produção teórica profissional na década de 1980. O aporte teórico que deu origem à referida produção teórica veio da tradição marxista emergente no pré-64. Alguns autores consideram que a cultura de esquerda não se resumia ao marxismo, mas teve neste o seu componente fundamental. O resultado foram diferentes interpretações dos marxistas e das obras de Marx, como exemplo do maoismo, que foi usado para justificar o confronto armado com a autocracia e que acabou por converter o pensamento CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 de Marx no que Netto (1996) considera como um repositório de citações e fórmulas rituais. No entanto, a despeito dos desvios teóricos no interior do pensamento da esquerda brasileira, fica claro que a autocracia burguesa promoveu as condições econômicas, sociopolíticas e culturais para o solo de construção “da tradição marxista brasileira que ela quis conjurar” (NETTO, 1996:112). Vemos que as contribuições de Marx foram adotadas a partir da fragmentação do conhecimento, que diluíram o pensamento marxiano: “Para os sociólogos críticos, Marx é um sociólogo; para os economistas heterodoxos, Marx é um economista etc.” (NETTO, 1998, p. 96). Podemos entender que nesse período houve o desmembramento do pensamento de Marx num ecletismo, que contou com várias consequências teóricas que se refletem até os nossos dias. Assim sendo, a principal característica do chamado período de renovação profissional foram as diferentes tendências profissionais que enriqueceram o debate profissional e enfraqueceram completamente a dimensão tradicional da profissão. Esse processo de fragilização do Serviço Social tradicional aconteceu também em toda a América Latina, onde ficou conhecido como movimento de reconceituação do Serviço Social, precisamente a partir de 1965. Tema 4: Os marxismos e o Serviço Social: Equívocos? Vemos em Faleiros (1987), que o Serviço Social latino-americano buscou uma ruptura com o tradicionalismo profissional, sendo inserido em um processo de rompimento com as amarras do capital imperialista, de luta pela libertação e identidade nacional e de mudança com a estrutura capitalista excludente, concentradora, exploradora. Para tanto, o Serviço Social buscou diferentes bases teóricas marxistas. É importante destacar que não se tratou da inserção das fontes originais, mas de um marxismo influenciado por uma leitura neopositivista e eclética. O Neopositivismo foi um movimento desenvolvido por membros do círculo de Viena na base do pensamento empírico tradicional e no CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 desenvolvimento da lógica moderna. Para os neopositivistas, os únicos enunciados que podem ser considerados científicos são os submetidos à verificação lógica, e os que não podem ser submetidos a verificação lógica empírica são considerados sem sentido e absurdos. Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/neopositivismo/ Ecletismo é uma doutrina ou tendência que recolhe e seleciona elementos de outras teoriasque parecem apropriados. A essência do ecletismo está na liberdade de escolher e conciliar vários estilos diferentes. O termo eclético é aplicado, sobretudo, aos representantes da filosofia helenística, aos neoplatônicos e filósofos renascentistas que procuraram conciliar o pensamento de diversos autores clássicos. Se opõe a toda a forma de dogmatismo e radicalismo. Fonte: http://www.significados.com.br/ecletismo/ O Serviço Social brasileiro esteve na vanguarda da reconceituação latino- americana, compondo um caráter profissional naquele período, como salienta Netto (1996, p. 148), desde uma considerável aproximação teórico-metodológica com o pensamento de Paulo Freire até o marxismo dogmático, identificando-se, sobretudo, com o pensamento de Althusser. O chamado marxismo dogmático foi uma das correntes que influenciaram uma parte dos assistentes sociais que abraçaram essa corrente. O autor de referência dessa corrente foi Louis Althursser, que aborda o tema da ideologia na sociedade, desvinculando o conceito de ideologia e elevando-o a uma categoria de análise. Em síntese, seu estudo ficou conhecido como a ideologia da ideologia. NETTO (1981), afirma que Althursser, neste sentido, considera tanto o papel da sociedade como reprodutora de elementos ideológicos como a construção por parte do estado e instituições de um poder sensível à sociedade. Poder esse reproduzido através do que Althusser considera como aparelhos de estado, termo elaborado por Marx para caracterizar os elementos regulatórios CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 e repressores de uma sociedade. Os referidos elementos se dariam em dois níveis: 1. O primeiro é composto pelas instituições governamentais, como o sistema de administração e arrecadação, com suas respectivas formas de sancionar; 2. O segundo plano é relativo às funções formativas, como a religião, a educação formal nas escolas, a família e os grêmios em artes e ciências. Uma segunda influência ideológica foi o chamado “confucionismo ideológico”, que buscou conectar um marxismo dogmático, como os de Althusser, Mao e Kendrov, com o marxismo “romântico” de Camilo Torres e Guevara, objetivando assim uma proximidade com a esquerda cristã. O Marxismo romântico, segundo LÖWY (2005:105), trata-se de um movimento que se manifesta em todas as esferas da vida cultural, incluindo o campo da política, da filosofia, da literatura, da religião, das ciências humanas e da teoria política, que constitui uma das formas fundamentais do espírito moderno. Podemos entender que o conceito de romantismo seria, ao mesmo tempo, uma estrutura de sensibilidade (Raymond Willians) e uma visão social de mundo (Lucien Goldmann), claramente mais “elástica” que a formulação “clássica”. Desse modo, vemos na pesquisa feita por Vicente (1992:664) sobre o documento de Sumaré, que este tinha por objetivo discutir “as três tendências mais marcantes do corpo profissional no conjunto da realidade brasileira: o Serviço Social e a cientificidade; o Serviço Social e a fenomenologia; O Serviço Social e a dialética. ” Segundo a autora, o documento propôs o debate sobre a cientificidade do Serviço Social, a fim de evidenciar uma particularização concreta de natureza histórico-social. Esse debate, segundo a autora, aconteceu por um viés funcionalista e teoricamente eclético. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Ela coloca também que o debate buscou dar um enfoque dialético à problemática teórico-metodológica do Serviço Social, incluindo a discussão sobre o modo de produção social e das formações sociais, conjunturais, políticas e nacionais. Considera que as discussões ocorreram de forma eclética, “utilizando-se de textos heterodoxos do marxismo”: É interessante que o documento não utilize textos originais do pensamento marxiano, mas de alguns de seus intérpretes, como Garaudy na sua fase leninista, além de outros, como Foulquié, Kosick, Lefebvre, Vásquez. É intrigante que se recorra a Dilthey para o conhecimento de historicidade num texto que intenciona ser dialético. Aliás, o ecletismo é decerta forma assumido pelo próprio documento: “Não se entende [...] que o Serviço Social se atraia a uma única abordagem filosófica científica [...]. Absolutizar uma única abordagem seria absolutizar um único caminho, ou seja, negar a ciência ou o comportamento científico de uma prática ou disciplina profissional [...]. Assim, é inadequado enclausurar a ciência [...] em virtude de ser a ciência um movimento anterior a qualquer posicionamento e um projeto histórico em permanente construção. Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviço Sociais,1986, p. 41. ” (VICENTE,1992:666). Vemos nos estudos de Vicente (1992) que há uma crítica aos seminários da CBCISS, particularmente quando afirma que a produção teórica desse Centro foi eclética. Afirma que o documento de Sumaré teve como fundamento as teses de Howard Goldstein e em seu modelo topológico de pesquisa e dos quatros polos convergentes de critério de cientificidade: epistemológico, morfológico, teórico e técnico. Netto (1996) também tece suas críticas sobre o documento, tratando da abordagem teórico-metodológica da temática da cientificidade do documento de Sumaré e os específicos desdobramentos das proposições de Goldstein. Ressalta que essa influência teórica desviou o debate emergente da categoria, ou seja, fugiu completamente ao questionamento da tradição profissional de raiz funcionalista. A análise de Silva (1991:36) apresenta uma crítica feita por Hobsbawm acerca do fato de que essa “inserção marxiana” pela via althusseriana, longe de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 revolucionar as matrizes ideológicas do intelectual brasileiro, levou à apreensão da teoria crítica de Marx como uma ciência que deveria ser aplicada na realidade apresentada. Entre os autores que se tornaram moda mundial, se pode indicar Althusser que, tornando “O Capital” como obra de epistemologia, foi o filósofo que, junto com seus discípulos, talvez tenha ido mais longe na substituição de uma prática política por uma teoria (a prática-teórica) e cuja influência se estendeu de meados anos 1960 até após 1975. (HOBSBAWM, 1988 apud SILVA 1991, p.15). Entendemos ainda que a influência althusseriana no Serviço Social redundou em uma produção teórica com vertentes estruturalistas, funcionalistas, existencialistas, entre outras. Nesse processo, com o tempo, o marxismo foi sendo apreendido, por parte da categoria profissional, como um método a ser acompanhado e aplicado para a implantação do socialismo, de maneira que o pensamento marxiano foi teoricamente amputado, deixando de lado categorias essenciais e promovendo revisões superficiais que provocaram novas fragmentações na tradição intelectual marxista. Compreendemos que esse primeiro encontro da profissão com o marxismo, segundo Santos (2007, p. 73) teve alguns rebatimentos nas posturas profissionais, tais como: o fatalismo dos que acreditavam na realização do socialismo como uma “inelutável” (aspas do autor), assim como as posturas profissionais messiânicas, materializadas por voluntarismo e moralismo, que vislumbravam a luta de classe como a luta do ‘bem e do mal’. Percebemos que, nos dois casos, havia uma concepção abstrata do homem e da sociedade. A unilateralidade dessa apreensão do marxismo como doutrina pragmático-científica “caiu como uma luva” para o momento de ruptura que se tencionava efetivar, justificando ideologicamente a necessidade de superação da neutralidade técnica. Determinada pela conjunturade crise da ditadura militar, a emergência da ‘intenção de ruptura’ pretendeu refundar as bases de legitimidade do serviço social, buscando-as junto aos sujeitos potencialmente CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 questionados da ordem capitalista e sua expressão ditatorial. (SANTOS, 2007, p. 74). Vemos em Santos (2007), que a segunda apropriação do marxismo ao longo da década de 1980 foi predominantemente epistemológica. Neste período aconteceram as primeiras aproximações com fontes marxianas e marxistas de maior densidade analítica, como Gramsci. A referida apropriação epistemológica do marxismo repercutiu na formação profissional, através do currículo aprovado em 1982, fundamentado por uma estrutura em três eixos dissociados: História, Teoria e Método. Segundo Barroco (1996 apud SANTOS, 2007, p. 76), outro reflexo da apropriação epistemológica do marxismo pelo Serviço Social foi a mudança do Código de Ética aprovado em 1986, que “[...] evidenciou os pressupostos marxistas de leitura da sociedade, sem as devidas mediações que particularizam o exercício profissional”. A autora afirma que essa proposição teórica por parte da categoria profissional, retrata “[...] predominantemente a apreensão do marxismo como um modelo que se aplica na prática”. (BARROCO, 1996, apud SANTOS, 2007, p. 76). Sendo assim, podemos compreender que, para o Serviço Social, foi de suma importância todo esse processo de constituição de suas bases teóricas a partir de diferentes vertentes marxistas, até se consolidar a ruptura com o conservadorismo e se constituir os fundamentos para todos os documentos regulatórios do Serviço Social a partir dos anos de 1980. Tema 5: O Serviço Social e a construção de um projeto profissional nas décadas de 1980 e 1990 Consideramos importante entendermos como se deu a construção de um novo projeto profissional para o Serviço Social a partir das décadas de 1980 e 1990 e seus aspectos constituintes. Para tanto, segundo Netto (1996), devemos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 levar em conta dois traços importantes originados a partir do movimento de reconceituação latino-americano. Primeiramente, devemos considerar a tradição marxista, reconhecida como central e que passou a ser “um dado da modernidade profissional”. É importante, neste momento, destacar que não se tratou da inserção das fontes originais, mas de um marxismo apropriado por uma leitura neopositivista e eclética. No entanto, tivemos a possibilidade de pensar a profissão sob a lente de correntes marxistas a partir de sua inserção em um marxismo. Em um segundo plano, devemos considerar o “confucionismo ideológico”, que conforme já vimos, faz uma conexão entre um marxismo dogmático, como os de Althusser, Mao e Kendrov, com o marxismo “romântico” de Camilo Torres e Guevara. Partindo dessas influências teóricas e seus embates, chegamos na década de 1980, muito produtiva para a definição dos rumos técnico-acadêmicos e políticos do Serviço Social. Foi ao longo dessas duas décadas que houve a construção de um projeto profissional para o Serviço Social, amplamente discutido e coletivamente construído, promovendo a conexão de segmentos significativos de assistentes sociais. O referido projeto partiu de algumas diretrizes norteadoras que resultaram em frutos como o Código de Ética Profissional do Assistente Social, de 1993, que foi consolidado tanto pela Lei da Regulamentação da Profissão de Serviço Social como na nova Proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social. Desse modo, cria-se um projeto de profissão e de formação profissional hegemônico e historicamente situado. Por sua vez, é fruto e expressão de um amplo movimento da sociedade civil desde a crise da ditadura, onde busca a afirmação do protagonismo dos sujeitos sociais na luta pela democratização da sociedade brasileira. Segundo Iamamoto (1998), foi no contexto de ascensão dos movimentos sociais, das mobilizações para a formação da Assembleia Constituinte e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 aprovação da Carta Constitucional de 1988, das pressões populares que redundaram no afastamento do Presidente Collor, entre outras manifestações, que a categoria dos assistentes sociais foi sendo desafiada a questionar em sua prática política em diferentes segmentos da sociedade civil. Vemos assim, que os assistentes sociais não ficaram de fora desses acontecimentos. Muito pelo contrário, passaram a ser seus coautores, coparticipantes desse processo de lutas democráticas na sociedade brasileira. Encontra-se aí a base social para o novo ordenamento da profissão nos anos 1980. Partindo dessa vivência foi proposto um novo currículo, com conteúdos que deveriam compor todas as grades curriculares dos cursos de Serviço Social do Brasil. Foi proposta então a composição de um currículo mínimo e o estabelecimento de diretrizes gerais para os cursos. Uma vez estabelecidas as diretrizes, foi colocado um patamar comum ao ensino no país, que segundo Iamamoto (1998), assegurou, ao mesmo tempo, a flexibilidade e descentralização deste às realidades locais e regionais, permitindo que o ensino das disciplinas da grade curricular acompanhasse as profundas transformações oriundas do mundo contemporâneo. Assim sendo, tivemos um contexto favorável à proposta da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social – ABESS, das "Diretrizes Gerais para o curso de Serviço Social" que foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação e tinha como base o currículo mínimo aprovado em Assembleia Geral Extraordinária de 8 de novembro de 1996. Compreendemos, a partir dos estudos de Iamamoto (1998), e de um olhar retrospectivo para as duas décadas que estamos estudando, de que não há dúvidas de que nesse período o Serviço Social deu um salto de qualidade e auto qualificação na sociedade. Ainda ganhou visibilidade pública por meio do estabelecimento de um Novo Código de Ética do Assistente Social (1993), das revisões da legislação profissional e das profundas alterações verificadas no ensino universitário na área. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Vemos ainda o incremento do mercado editorial e da produção acadêmica. Parcela significativa do acervo bibliográfico e principais publicações do Serviço Social, disponíveis ainda em nossos dias, são resultantes dos estudos feitos a partir dos anos de 1980 e 1990. Os assistentes sociais adentraram os anos 1990 como uma categoria profissional que também faz pesquisa e ganha reconhecimento por isso, principalmente pelas agências de fomento. Olhando de outra perspectiva, percebemos que também amadureceram suas formas de representação político-corporativas, já que passou a se contar com órgãos de representação acadêmica e profissional, reconhecidos e legitimados. Outro fator significativo para a construção de um novo projeto profissional foi um amplo debate em torno das políticas sociais públicas, em especial da assistência social que, a partir da Constituição Federal de 1998, alcança o patamar de política de Estado e se consolida como um dos direitos sociais na teia das relações entre o Estado e a sociedade civil. Fato este que, para Iamamoto (1998), contribuiu para adensar o debate sobre a identidade desse profissional, fortalecendo o seu auto reconhecimento. Desse modo, entendemos que tanto a formação profissional quanto o trabalho do Assistente Social, nos anos 1980, conseguiram se consolidar através de um salto qualitativona análise sobre a profissão e de um exercício contínuo de ruptura. Alguns autores consideram que este exercício deva ser contínuo para se manter as conquistas já obtidas e preservá-las. E também deve ser mantida uma relação de ruptura em função das mudanças históricas ocorridas e da necessidade de superação de impasses profissionais vividos e condensados em reclamos da categoria profissional. Segundo Iamamoto (1998), quais seriam esses impasses profissionais? Distanciamento entre o trabalho intelectual, de cunho teórico- metodológico, e prática profissional cotidiana. Esse é um desafio colocado por estudantes e profissionais ao salientarem a defasagem CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 entre as bases de fundamentação teórica da profissão e o trabalho de campo. Construção de estratégias técnico-operativas para o exercício da profissão, ou seja, preencher o campo de mediações entre as bases teóricas já acumuladas e a operabilidade do trabalho. A autora comenta que o caminho para superação desses impasses parece estar no cultivo de um trato teórico-metodológico rigoroso. Considera que vários avanços aconteceram nos anos de 1980, devido à aproximação do Serviço Social aos seus fundamentos, em diferentes matrizes: às concepções de cunho positivista ou estrutural-funcionalista, fenomenológica e teoria social- crítica. E ainda ressalta que essa longa trajetória de construção teórica, dada pelo Serviço Social, merece ser preservada e aprofundada, aliada a um atento acompanhamento histórico da dinâmica da sociedade. Por fim, precisamos refletir sobre os pressupostos em que se baseou a procura de novos pilares para o exercício profissional e os desvios de rota verificados, que segundo Iamamoto (1998), são: Temos como o pressuposto primeiro a crença de que a apropriação teórico-metodológica no campo das grandes matrizes do pensamento social permitiria a descoberta de novos caminhos para o exercício profissional. Vemos que a assertiva é que a busca de novos caminhos passaria por uma apropriação mais rigorosa da base teórico-metodológica. O segundo pressuposto é o reconhecimento da dimensão política da profissão e as suas implicações, que vão além do campo estrito da ação profissional, pensada a partir da inserção nos movimentos organizados da sociedade. Vemos que a assertiva é a de que o mero engajamento político, descolado de bases teórico-metodológicas e do instrumental operativo para a ação, não é suficiente para trazer luz a novas perspectivas para o Serviço Social. O terceiro pressuposto é de que o aperfeiçoamento técnico-operativo se mostra uma exigência para a inserção qualificada do Assistente Social no mercado de trabalho. Vemos que a assertiva seria a de articular a profissão e a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 realidade, um dos maiores desafios, pois se entende que o Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas também na realidade. Nesta perspectiva, pudemos compreender que as análises conjunturais são de suma importância para compreensão dos rumos tomados pelo profissional a partir das décadas de 1980 e 1990, uma vez que foi um período de suma importância para a constituição do projeto profissional que desfrutamos ainda em nossos dias. Na perspectiva assinalada, a investigação e o espírito indagativo adquirem um patamar fundamental no Serviço Social como condições essenciais ao exercício profissional. Precisaremos, claro, aprofundar esses estudos em nossas próximas aulas. Trocando Ideias Sugerimos que você assista às palestras proferidas por professores e assistentes sociais que participaram do chamado Congresso da Virada, marco para nossa categoria profissional. Ressaltamos a importância da fala da Assistente Social Rosalina Santa Cruz, que compartilha sua vivência de luta pela anistia, abertura política e pela construção de um projeto profissional comprometido com os movimentos sociais e com a classe trabalhadora. A palestra está disponível a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=QqHPVzEsoSI Também não deixe de trocar ideias com seus colegas no fórum! Na Prática Imaginemos que uma Assistente Social foi convidada a trabalhar em uma instituição que a 50 anos atende famílias de uma comunidade extremamente vulnerável. O principal serviço prestado pela instituição é a distribuição de cestas básicas e de roupas. A referida assistente social é convidada a trabalhar nessa instituição, desempenhando as seguintes funções: Traçar o perfil socioeconômico das famílias; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 Selecionar as famílias a serem beneficiadas Fazer reuniões com os beneficiários para tratar sobre educação de filhos e controle de natalidade. Você acha que essa profissional deve aceitar essa proposta, mesmo sendo uma intervenção com viés conservador? Que contraproposta ela poderia apresentar? Síntese Nesse encontro, buscamos aprimorar nossos conhecimentos sobre os conceitos fundamentais do marxismo, dando enfoque ao método proposto pela teoria social de Marx. Tais reflexões foram de suma importância para que possamos compreender os princípios da teoria marxista e de seu método, e principalmente qual relação a proposição teórica e o método têm com o Serviço Social em seu processo de ruptura com o conservadorismo e de reconceituação. Para tanto, fizemos uma reflexão sobre a teoria do valor trabalho e a perspectiva da revolução como possibilidade histórica e percebemos que esse debate é fundamental, pois ambas proposições teóricas fazem parte dos pilares constitutivos da teoria social de Marx e de seu método. Outro fator importante em nosso debate foi entender a importância da categoria trabalho para a compreensão do processo de produção de reprodução do ser social. Pudemos também entender o movimento de ruptura do Serviço Social com a perspectiva conservadora. Por fim, pudemos refletir sobre as primeiras influências de diferentes marxismos para o Serviço Social, através de aproximações ao marxismo sem a ida ao pensamento de Marx. Isso redundou numa série de equívocos que foram sendo superados ao longo das décadas de 1980 e 1990, através da construção de um projeto profissional, um currículo mínimo, novas diretrizes curriculares e outras mudanças muito significativas e determinantes para constituição do Serviço Social até nossos dias. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 28 Referências I CONGRESSO INTERNACIONAL DE POLÍTICA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS. Notas sobre os fundamentos da teoria social crítica e o Serviço Social. Londrina/PR, de 09 a 12 de junho de 2015. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de Ética do Assistente Social (1993). 9ª ed. ver. e atual. Brasília: CFESS, 2011. GUERRA, Yolanda. Expressões do pragmatismo no Serviço Social reflexões preliminares. Revista Katalysis, Florianópolis, v. 16. n. especial, p.39- 49, 2013. HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. São Paulo: Paz e Terra, 2004. IAMAMOTO, M. V. A questão social no capitalismo. 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