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PATOLOGIA Graziela Gonzaga Santana Porque temos calcificação nas áreas de fibrose e necrose? Porque o cálcio tem afinidade pelo ácido e as áreas de necrose possuem fosfolipideos ácidos que atraem os cristais de hidroxiapatita. CONCEITO • Depósitos de sais de cálcio em tecidos que habitualmente não ocorre calcificação. • Locais que geralmente possuem cálcio: ossos e dentes → calcificações NÃO patológicas. Também temos depósitos nos músculos esqueléticos e cardíacos. Além de cálcio iônico no sangue. Tipo de cálcio que se deposita nesses locais: hidroxiapatita. Precisa-se de colágeno tipo I para sustentar os depósitos de hidroxiapatita. TIPOS DE CALCIFICAÇÃO CALCIFICAÇÕES DISTRÓFICAS. • Acontece em locais em que houve alteração estrutural, isto é, onde se tem lesão prévia. • Como a matriz do osso é de colágeno tipo I, o local da calcificação distrófica, de modo geral, também é colágeno tipo I. • É o colágeno tipo I que faz a fibrose em processos inflamatórios crônicos e cicatriciais. Então, em uma placa de aterosclerose há fibrose por inflamação crônica, logo, pode-se depositar nesse local, por exemplo. • Ex.: quando tenho alteração no tecido, em que se aumenta a quantidade de fibrose (colágeno I). • Ex.: locais de necrose, em que temos um pH adequado para essa deposição. Então, necroses apresentam calcificações distróficas. Neoplasias, pancreatite, ateroesclerose e tuberculose → podem cursar com necrose e logo podem calcificar. CALCIFICAÇÕES METASTÁTICAS. • Não precisa estar relacionada a uma lesão estrutural anterior. • Já depende de um nível de hipercalcemia. Isso pode ser causado por: Alteração da paratireoide que produz paratormônio, responsável por tirar cálcio do osso para o sangue. Logo, os casos de hiperparatireoidismo vão gerar hipercalcemia, sendo que esse cálcio em excesso no sangue se deposita em locais que secretam ácido, como pulmões e rins. • Calcificações idiopáticas. MECANISMO • Temos cálcio da dieta e cálcio mobilizado do osso que está sempre em equilíbrio dinâmico (todo dia parte é destruída por osteoclasto e outra parte é feita por osteoblasto). • O osteoclasto destrói a matriz óssea, encaminhando cálcio para o sangue. • O osteoblasto (produz matriz nova) precisa de sinalização para agir, o que é feito pelo estrógeno (estimulador da osteogênese, assim como a testosterona). Além disso, é necessário mobilização, pois quando nos movimentamos, tracionamos o osso, o que gera sinal elétrico (estimulador do osteoblasto). Então, a movimentação é fundamental para a ação do osteoblasto, garantindo uma boa saúde óssea. • Corticoide, estrógeno, testosterona, calcitonina e paratormônio são hormônios relacionados a manutenção da taxa de cálcio e são elementos que influenciam também. • Outro hormônio é o cortisol. Esse hormônio em excesso gera osteopenia, pois ele diminui a síntese de matriz óssea e sem ela não tem hidroxiapatita depositada → ossos frágeis. EVENTOS RELACIONADOS E EXPERIMENTAIS • Proteínas GLA (ácido gamacarboxiglutâmico): inibem a ação osteoclástica. São inibidoras da 2 deposição de cálcio porque elas inibem a ação da proteína morfogenética do osso que promove a ossificação. • Proteína morfogenética do osso (BMP) • Osteopontina • Fetuína A • Osteoprotegerina: inibe a ação do osteoclasto, pois se liga ao receptor RANK que é quem estimula o osteoclasto. Então, quando a osteoprotegerina simula a ligação com o receptor, ela ocupa o lugar no receptor, mas não permite a ativação de osteoclasto, inibindo a destruição do osso. • Mediadores inflamatórios (IL-6, TNF-alfa): são capazes de estimularem a ação osteoclásticas e a deposição de cálcio. • Mi RNA: já foram encontrados alguns micros RNAs relacionados à calcificação. CÁLCIO DIETÉTICO • Nossa dieta usual nos oferece de 600 a 1.000mg de cálcio por dia. Portanto, uma dieta variada seria suficiente para obtermos a quantidade ideal de cálcio diário. • Também é necessário a obtenção da vitamina D, a qual estimula a porção duodenale (importante para a absorção do cálcio no intestino delgado). • Então, vamos absorver em torno de 800mg de cálcio no intestino e vamos ter uma excreção de aproximadamente 700mg através das fezes, de 100 a 300mg através da urina e mais uma pequena quantidade a partir do suor. • Isto é, absorvemos e secretamos a mesma quantidade de cálcio por dia. Portanto, a maior parte do cálcio está no que é mobilizado do osso, já que o que obtemos a partir da dieta acabamos secretando. • Essa calcemia, no plasma, deve ser mantida entre 8,8 e 10,4mg% (intervalo bem pequeno). • Assim, teremos o cálcio do sangue sendo mantido pela reabsorção óssea e pela aposição óssea. • Também terá a volta do cálcio para o osso por ação de estimulação de osteoblástica. • Se tiver tecido lesado ou excesso de cálcio, terá as calcificações. • Os fatores de risco para osteoporose é ser mulher (5 a 10 anos após a menopausa temos uma osteopenia que pode evoluir para osteoporose), ser de etnia caucasiana, ser fumante (o cigarro diminui a aposição de cálcio no osso), sedentarismo, magros. • Não se suplementa um paciente com cálcio sem medir a quantidade que tem no sangue. PROCESSO DO CÁLCIO • Temos a hidroxiapatita, a mesma que ocorre nos dentes e nos ossos, na qual temos cristais de fosfato de cálcio arranjados, formando hexágonos de cristais de hidroxiapatita se depositando em moléculas de colágeno ou de osteonectina. • Vamos formar cristais de hidroxiapatita e essa inicia a nucleação. Assim, vamos ter essa hidroxiapatita se depositando em móleculas de colágeno e isso inicia dentro da célula, pois mitocôndria e REL são os depósitos de cálcio intracelular. • Vamos ter depósito ainda, iniciando de maneira extracelular, pois temos, fosfolipideos ácidos na membrana e esses se ligam a íons de cálcio. Dessa forma, teremos a deposição se iniciando intra e extracelular. • À medida que o depósito de cálcio acontece, vamos ter cada vez mais hidroxiapatita se Ajudam a deposição (inibidoras de calcificação) 3 depositando que é o que chamamos de crescimento. • O que influencia a presença desse crescimento? a presença de cálcio extracelular, a presença de fosfatase alcalina, a osteopontina e o pH e depende ainda do suprimento de sangue para chegada do cálcio e da vitamina D. • Esse cálcio começa a se depositar, inicialmente, ou dentro da célula, principalmente em mitocôndria, ou em membrana ligado a fosfolipídios ácidos. • Áreas de necrose, de degeneração → liberação de fosfato que junto com o cálcio → forma a hidroxiapatita → começa a fase de crescimento, a qual vai depender da quantidade cálcio fora e dentro da célula; da presença da fosfatase alcalina; da osteopontina; do pH; da vitamina D3 e do suprimento sanguíneo para levar o cálcio. HIPERPARATIREOIDISMO • Hiperparatireoidismo primário: quando a glândula está lesada. Ou se tem uma hiperplasia (aumento do número de células → aumento da quantidade de paratormônio), ou aumento volumétrico, por ser uma neoplasia (adenoma de paratireoide). Portanto, é primária pelo fato de o próprio órgão estar acometido, desencadeando a produção hormonal. • Hiperparatireoidismo secundário: quando se tem uma disfunção, nutricional ou renal, que leva a um desequilíbrio entre cálcio e fosfato. A partir daí, aumenta-se a produção de paratormônio para tentar compensar. • Renal: Primeiro se tem uma baixa de vitamina D3, com isso se tem uma menor absorção de cálcio. Como o nível sérico de cálcio está baixo, começa a ativar a paratireoide para ela produzir mais paratormônio, com isso aumenta a absorçãoóssea e aumento o nível de cálcio no sangue, gerando calcificação. Esse caso é secundário. Podemos ter também uma doença renal em que não se consegue secretar o excesso de fosfato. Portanto, como se faz uma hipofosfatúria, acaba fazendo uma hiperfosfatemia, aumentando o fosfato no sangue. É necessário ter os níveis de fosfato e de cálcio equivalentes, mas diante dessa situação, isso não ocorre. Com uma quantidade maior de fosfato no sangue, o organismo entende que é necessário transferir mais cálcio dos ossos para o sangue, o que é feito por paratormônio. Logo, nível elevado de fosfato age na paratireoide, aumentando a secreção de paratormônio e, com isso, se tem hipertparatireoidismo (cálcio do osso para o sangue). Esse caso é secundário, pois a alteração é renal. 4 • Nutricional: Muito raro acontecer em humanos, acontece mais em animais de confinamento. Pode acontecer por: Excesso de grãos (aumento de fosfato). Indivíduo que só come carne e não ingere ossos e nem suplementação de cálcio (aumento de fosfato). Intoxicação por vitamina D3 (pode aumentar a absorção intestinal de cálcio e evoluir para uma hipercalcemia). Intoxicação pelas plantas Solanum malacoxylon e Cestrum diurnum. Casos de válvula aórtica com calcificação de febre reumática que gerou lesão e fibrosa da válvula e, a partir da fibrose, gerou calcificação; ela apresenta pequenos nódulos no folheto da válvula, os quais são decorrentes em uma lesão previa, mais caracteristicamente da febre reumática. Caso de calcificação distrófica, pois é em tecido previamente lesado. Necrose. Válvula cardíaca toda fusionada e com distorção anatômica; ela é tanto insuficiente (não fecha) e estenótica (não abre). Caso de calcificação distrófica. É possível ver as áreas de calcificação. Isso causa sopro cardíaco. A: Áreas com coloração mais roxa circuladas → áreas de calcificação da parede arterial. B: no processo de fazer a lâmina, mesmo que o tecido seja descalcificado, ao cortar acaba sendo danificado, pois o cálcio é duro e a ferramenta de corte acaba atingindo-o. D: mesmo aspecto de B, mas em maior aumento. Doença que causa calcificação de vasos: aterosclerose Grande área calcificada (circulada em verde escuro) fazendo protrusão da luz da artéria Área de calcificação circulada de amarelo. A placa consiste em todo o espaço calcificado (circulada em vermelho). A calcificação está dentro dela, que é uma das complicações da aterosclerose. Sei que a ateroesclerose em fase avançada calcifica, eu vou procurar a calcificação na tomografia, porque sei que quanto mais calcificado, maior é a placa e menor é a luz da artéria. Assim, maior consequência isquêmica para o coração. 5 / ACHADOS MONOGRÁFICOS • Uma mulher deve fazer mamografia com intuito de verificar existência de câncer. • Sabe-se que neoplasias benignas grandes ou malignas, mesmo que pequenas, fazem muita necrose, o que tendem a calcificar. • Logo, baseado nisso, usamos a mamografia para classificar os achados de calcificações na mama da mulher. Isto é, utilizamos uma ciência básica em um exame clínico que nos dá um diagnóstico. CLASSE I – ACHADOS MAMOGRÁFICOS NEGATIVOS: MAMOGRAFIA NORMAL CLASSE II – ACHADOS MAMOGRÁFICOS BENIGNOS • Casos de calcificações vasculares, calcificações cutâneas, calcificações com centro lucente, fibroadenoma calcificado, cisto oleoso (esteatonecrose), calcificações de doença secretória ("plasma cell mastitis"), calcificações redondas (acima de 1 mm), calcificações tipo "milk of calcium", fios de sutura calcificados, linfonodo intramamário. Área de tuberculose que calcificou (evolução da necrose caseosa para calcificação). Alvéolo pulmonar com necrose caseosa e calcificação. Fibrose ao redor da necrose calcificada. Mamografia normal, sem nenhum achado de calcificação. 6 CLASSE III – ACHADOS MAMOGRÁFICOS PROVAVELMENTE BENIGNOS • Nódulo de densidade baixa, contorno regular, limites definidos e dimensões não muito grandes, calcificações monomórficas e isodensas sem configurar grupamento com características de malignidade. CLASSE IV – ACHADOS MAMOGRÁFICOS SUSPEITOS • Nódulo de contorno bocelado ou irregular e limites pouco definidos, microcalcificações com pleomorfismo incipiente, densidade assimétrica, algumas lesões espiculadas. CLASSE V – ACHADOS MAMOGRÁFICOS ALTAMENTE SUSPEITOS • Nódulo denso e espiculado, microcalcificações pleomórficas agrupadas, microcalcificações pleomórficas seguindo trajeto ductal, ramificadas, tipo letra chinesa. IMAGENS Calcificação circulada em vermelho; nódulo com bordas regulares e definidas, calcificação grosseira → tumor benigno chamado de fibroadenoma. Achados que provavelmente são benignos; nódulo de baixa densidade, borda regular, limitado... No ECO vemos o nódulo (circulado em vermelho) sólido, regular e bem definido. Alteração mais importantes; contorno bocelado, pouco limitado, assimétrico e com lesões espiculadas (cheio de pontinhas). Câncer; bem irregular e bem invasivo. • Na classe II já tem que planejar o que será feito, punção ou acompanhamento. Já a classe III exige punção (aspirar o conteúdo do nódulo com uma agulha). Fibroadenoma (tumor benigno); acontece em mulheres jovens; não tem necessidade de punção (classe II). Câncer bem irregular, parece estar irradiado. 7 • Portanto, o princípio da mamografia vem do conhecimento da calcificação. Pela distribuição do cálcio, temos a hipótese se é maligno ou benigno. IMPORTÂNCIA • É muito importante entender a respeito de calcificação, pois a partir ela pode ser indicativo de neoplasia, de áreas prejudicadas... Câncer de ovário em que temos um arranjo de calcificação (circulado em vermelho). Então, temos áreas de calcificação no meio da neoplasia, formando pequenos grânulos. Raio-x mostrando fêmur com calcificação (distrófica) na articulação por processo inflamatório crônico → artrose. Área de calcificação. A parte circulada de verde é fibrose e o restante é calcificação.