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282 para civilizar os nossos cães por hereditariedade. Demais, o hábito fez perder in- teiramente aos pintainhos este terror do cão e do gato, que era sem dúvida algu- ma primitivamente instintivo neles; o capitão Hutton diz-me, com efeito, que os franguinhos de origem igual, o Gallus bankiva, quando mesmo chocados na Índia por uma galinha doméstica, são, contudo, de uma selvajaria extrema. O mesmo acontece com os faisõezinhos criados na Inglaterra por uma gali- nha doméstica. Não é porque os frangos tenham perdido todo o temor, mas uni- camente o medo dos cães e dos gatos; porque, se a galinha dá o sinal de perigo, eles deixam-na logo (os novos perus principalmente), e vão procurar um refúgio nos alpendres vizinhos; circunstância cujo fim evidente é permitir à mãe voar, co- mo se vê em muitas aves terrestres selvagens. Este instinto, conservado pelos frangos, é além disso inútil no estado doméstico; a galinha, por falta de uso, tem perdido toda a aptidão do vôo. Podemos concluir que os animais reduzidos à domesticidade perderam cer- tos instintos naturais e adquiriram outros, tanto pelo hábito como pela seleção e acumulação que fez o homem durante gerações sucessivas, de diversas disposi- ções especiais e mentais que apareceram, contudo, sob a influência de causas que, na nossa ignorância, chamamos acidentais. Em alguns casos, simplesmente bastam hábitos forçados para provocar modificações mentais tornadas hereditá- rias; noutros, estes hábitos não entraram para nada no resultado, devido aos efei- tos da seleção, tanto metódica como inconsciente; mas é provável que, na maior parte dos casos, as duas causas tenham atuado simultaneamente. INSTINTOS ESPECIAIS É estudando alguns casos particulares que chegaremos a compreender como, no estado de natureza, a seleção pôde modificar os instintos. Não apresen- tarei aqui mais que três: o instinto que possui o cuco de por os ovos no ninho das outras aves, o instinto que certas formigas possuem em procurar escravas, e a faculdade que a abelha tem de construir suas células. Todos os naturalistas con- cordam com razão em considerar estes dois últimos instintos como os mais mara-
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