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Autor: Prof. Drd. Rodrigo Vinícius Ferreira @KineticFunctional 1 O acompanhamento médico é imprescindível para a segurança de qualquer agravo a saúde. Ainda, este produto não pode prometer cura de problemas de saúde relacionado ao tema aqui proposto, para tal uma equipe multidisciplinar deverá ser consultada. Agradecemos pelo interesse e leitura deste material. Toda informação aqui publicada consta de seus respectivos autores, referenciados ao final deste trabalho. Este material deve ser o início de um aprofundamento, e não o fim! Boa leitura! Kinetic Functional Brasil Prof. Drd. Rodrigo Vinícius Ferreira @KineticFunctional 2 Postura, como ela funciona? ................................................................................................. 8 ............................................................................................................................................. 8 Desenvolvimento da postura............................................................................................... 10 Postura e dor ...................................................................................................................... 14 Causas dos Desvios Posturais .............................................................................................. 15 Glúteo máximo vs. Isquiotibiais ........................................................................................... 16 @KineticFunctional 3 Síndrome da Inibição Glútea ............................................................................................... 18 Compensações mecânicas ................................................................................................... 19 Compensações na lombar ................................................................................................... 19 Compensações no joelho .................................................................................................... 20 Compensações no ombro .................................................................................................... 20 Outras compensações ......................................................................................................... 21 Entendendo melhor a inibição glútea e a dor lombar .......................................................... 22 Tratamento da inibição glútea ............................................................................................. 22 Como surge a Dor? .............................................................................................................. 24 Tratamento de Desvios Posturais ........................................................................................ 24 Captores Posturais .............................................................................................................. 26 Captor Podal ....................................................................................................................... 27 Pontos Reflexos Plantares .............................................................................................. 29 Relações.............................................................................................................................. 30 Captor Ocular ...................................................................................................................... 30 Captor Manducatório........................................................................................................ 33 Captor Vestibular .............................................................................................................. 35 Trilhos Anatômicos ............................................................................................................. 36 Compreendendo a Fáscia .................................................................................................... 38 Relação entre fáscia e colágeno .......................................................................................... 39 Funções da Fáscia ............................................................................................................... 40 Características da Fáscia ...................................................................................................... 41 Cadeias Musculares............................................................................................................. 41 PM – Cadeia Póstero-Medial ............................................................................................... 44 AM – Cadeia Ântero-Medial ................................................................................................ 44 PA – Cadeia Póstero-Anterior .............................................................................................. 44 AP – Cadeia Ântero-Posterior .............................................................................................. 44 PL – Cadeia Póstero-Lateral ................................................................................................. 45 AL – Cadeia Ântero Lateral .................................................................................................. 45 As cadeias Musculares de Léopold Busquet ......................................................................... 46 1- Cadeia de Flexão ............................................................................................................. 46 2- Cadeia de Extensão ......................................................................................................... 46 3- Cadeia Estática Posterior ................................................................................................. 47 1- As Cadeias Cruzadas Anteriores ....................................................................................... 48 5- Cadeias Cruzadas Posteriores .......................................................................................... 49 Cadeias Musculares do Pescoço .......................................................................................... 50 @KineticFunctional 4 Cadeias Musculares da Pelve ............................................................................................... 50 1- Fechamento dos ilíacos: .............................................................................................. 51 2- Abertura dos ilíacos ..................................................................................................... 51 ........................................................................................................................................... 53 ........................................................................................................................................... 54 @KineticFunctional 5 ....................... 54 ....................... 55 @KineticFunctional 6 ....... 55 Relação Craniossacral .......................................................................................................... 56 Quais são os Padrões Posturais?.......................................................................................... 58 Bloqueios Posturais ............................................................................................................. 60 Perna mais curta ................................................................................................................. 60 Cicatrizes Patológicas .......................................................................................................... 61 Reprogramando o Movimento ............................................................................................ 62 Referências .........................................................................................................................64 @KineticFunctional 7 @KineticFunctional 8 Postura, como ela funciona? A postura correta é definida como aquela em que existirá o máximo de eficiência biomecânica e fisiológica do corpo humano. Para uma boa biomecânica, é necessário alinhamento articular, no qual a pressão intra-articular se manterá constante, se terá ativação muscular de todas as cadeias musculares. Assim se sustentará uma boa congruência articular e estabilidade. Para que esse equilíbrio biomecânico e fisiológico ocorra é necessário o funcionamento correto do sistema postural. Esse sistema cibernético é retroalimentado pela informação aferente dos captores posturais. Os captores notificam o cérebro da posição que o corpo ocupa no espaço, o qual envia uma resposta eferente aos músculos tônicos e tônico-fásicos que realizarão resistência antigravitacional para manter o corpo em equilíbrio. @KineticFunctional 9 A posição fisiológica dos pés é afastados na largura do quadril abduzidos 15 a 16 graus para cada pé, formando uma base em forma de trapézio. No qual o centro de gravidade se localiza no terço posterior, há 30mm posterior ao centro do quadrilátero de sustentação. Em plano sagital, um adulto deverá apresentar o sacro neutro em 32 graus de inclinação, a fecha da curvatura da coluna lombar de 4 a 6 cm do fio de prumo e a flecha da curvatura da coluna cervical de 6 a 8 cm do fio de prumo. O plano escapular e nádegas alinhados. Em plano frontal deverá manter simetria entre as pupilas, os dois tragos, os dois mamilos, os dois ossos estilóides do rádio, cintura escapular e pélvica. Bem como em plano transversal não deverá existir rotações ao nível das cinturas escapular e pélvica. @KineticFunctional 10 Desenvolvimento da postura A verticalização do corpo humano é fundamental para o equilíbrio dinâmico no caminhar, e vai ser definida pela maturidade do sistema nervoso central (SNC), variações anatômicas e encadeamento biomecânico articular. Segundo Liebenson (2017), a postura corporal envolve a ontogênese postural, ou seja, que atividade muscular postural é predeterminada geneticamente e de modo automático durante a maturação do SNC. Na fase neonatal, os ossos e articulações estão imaturos morfologicamente. À medida que o SNC amadurece, o desenvolvimento da função muscular ocorre de forma crescente. Por consequência, os músculos controlados pelo SNC agem sobre as epífises de crescimento ósseo, influenciando na forma e desenvolvimento dos ossos e @KineticFunctional 11 articulações. Logo, a qualidade do desenvolvimento motor e a verticalização durante o primeiro ano de vida repercutem na qualidade da postura corporal pelo resto da vida de uma pessoa. Porque durante a ontogênese postural inicial, as curvas em lordose e cifose da coluna, assim como a posição da pelve e tórax são estabelecidas. Esse processo corresponde a estabilização da coluna, pelve e tórax pelo ganho controle motor em plano sagital. Após assegurar a estabilidade sagital, desenvolve-se a função motora fásica das extremidades, em cadeia cinética aberta e fechada, e nos padrões ipsilateral e contralateral. De modo geral, o desenvolvimento do padrão contralateral em pronação de um bebê vai trabalhar o controle motor da cadeia muscular cruzada, sendo primordial para mais tarde integrar padrões de movimento como engatinhar e marchar. Como o grau de força muscular e controle motor impactam diretamente na centralização e congruência articular, também refletem nas variações anatômicas posturais. De acordo com Bega (2006) todos nascemos com o pé plano. Os arcos longitudinais medial e lateral, bem como, arco transverso dos pés desenvolvem-se desde que a criança começa a caminhar até os 7 ou 8 anos de idade. O tibial posterior é o músculo estático responsável pela sustentação do tripé formado pelo calcâneo e pelas cabeças do 1º e 5º metatarsos, definindo o formato do pé (plano/normal/cavo). Os ossos do pé em conjunto formam importantes arcos de sustentação que ajudam no suporte do peso corporal e na alavanca ao caminhar. Os três arcos @KineticFunctional 12 plantares são arco longitudinal interno, arco longitudinal externo e arco transverso, os quais apresentam mobilidade de acordo com o peso e a pressão que recebem. - Arco longitudinal interno: formado a partir do apoio do calcâneo até a cabeça do 1° metatarso, passando pelo calcâneo, tálus, navicular, 1° cuneiforme e 1°metatarso. - Arco longitudinal externo: sustenta a região de médio pé, passando pelos ossos calcâneo, cuboide e 5° metatarso. -Arco transverso: suspende a cabeça dos metatarsos dando suporte ao antepé, partindo da cabeça do 1°ao 5°metatarso. A ausência ou diminuição desse arco desencadeia deformidades nos dedos como dedos em garra e em martelo. Com base na curvatura do pé, podemos classifica-lo como plano, cavo ou normal. Pé plano: é caracterizado de ausência ou diminuição dos arcos longitudinais, principalmente o arco longitudinal interno. O pé plano normalmente aparece acompanhado da pronação. Pé cavo: é definido pelo aumento da curvatura dos arcos longitudinais, favorecendo a presença de instabilidade por insuficiência de apoio plantar. O pé cavo geralmente acompanha a supinação. Pé normal: é identificado pela elevação do arco longitudinal interno até 1/3 da largura do antepé. Ausência de arco longitudinal externo e presença de arco transverso possibilitando o apoio de todos os dedos. @KineticFunctional 13 Já a genética vai definir o tipo de pé em conformidade com a largura do ante-pé (estreito ou largo) e o comprimento dos dedos, podendo ser o pé grego, romano, egípcio, germânico e céltico. Isso tudo vai influenciar diretamente no tipo de pisada e, por consequência, nas alterações posturais. @KineticFunctional 14 Postura e dor Sentimos dores diversas e na maioria das vezes não buscamos ajuda, até mesmo nós, profissionais do movimento, acabamos ignorando uma dor de vez em quando. Estamos condicionados a ignorá-las! Se a dor for de intensidade moderada a média então, dificilmente alguém buscará tratamento. Existe um problema sério de subnotificação dos desvios posturais. A maioria das pessoas que sofre com eles (que é muita gente) não percebe que existe um problema. A dor lombar no fim do dia é atribuída ao cansaço. “Talvez seja culpa de algum esforço físico diferente, de um jeito de abaixar errado. Daqui a pouco vai passar”, pensam. Depois de ignorar a dor como algo pequeno, a pessoa toma um medicamento para a dor, geralmente analgésicos ou relaxantes musculares, e descansa um pouco. Realmente, o desconforto passa por causa do descanso e do efeito medicamentoso. Porém, os desvios posturais que foram a causa não desapareceram. Desvios da postura são mais comuns do que a maioria imagina. Estima-se que cerca de 93% da população mundial possua algum tipo, mesmo que seja bastante moderado. O mesmo se pode dizer das dores da coluna vertebral. A dor lombar é a mais comum e quase todo mundo experimenta um episódio pelo menos uma vez na vida. Sabendo de tudo isso, quero te fazer uma pergunta: quantos alunos ou pacientes te procuram para corrigir desvios posturais buscando a prevenção ou cura de dores musculares moderadas? Não muitos, certo? A maioria dos pacientes só percebem que precisam de ajuda quando a dor é constante ou forte demais para ser resolvida com um relaxante muscular. @KineticFunctional 15 Causas dos Desvios Posturais Existem diversos motivos que levam ao surgimento de um desvio postural, mas a maior parte dos casos está relacionado a hábitos modernos. O corpo, criado para o movimento e a ação, está tornando-se cada vez mais sedentário. Longos períodos em uma única posição fazem com que algumas musculaturas fiquem tensas enquantooutras se encurtam. Um caso bastante comum, por exemplo, é o da inibição glútea, uma causa frequente da dor lombar inespecífica. Vamos entender melhor este exemplo: O glúteo máximo é um músculo plano, quadrangular e robusto. Ele é o mais volumoso e mais potente da região, e o grande responsável pela manutenção da postura ereta. • Origem: face glútea da asa do ílio, face posterior do sacro, aponeuroses adjacentes. • Inserção: tuberosidade glútea. Ações: • Extensão; • Rotação lateral; • Abdução do quadril; • Extensão do joelho. Notemos que o Glúteo Máximo é o mais superficial e consequentemente estético da região glútea. O Glúteo Máximo produz os movimentos de Abdução do quadril, quando você afasta o Fêmur da região central do corpo. Porém o principal movimento produzido pelo Glúteo Máximo é a extensão do quadril. Ao fazer o movimento com o membro inferior para trás, você realiza uma extensão do Quadril. O Glúteo Máximo é o motor primário da extensão do quadril. O glúteo máximo é um dos principais músculos a realizar o movimento juntamente com os Isquiotibiais. @KineticFunctional 16 Glúteo máximo vs. Isquiotibiais Juntos, os isquiotibiais e o glúteo máximo formam os dois grandes grupos musculares extensores do Quadril. E aí que começam muitos problemas com relação a ativação do glúteo máximo. Dependendo do posicionamento espacial e da postura da pessoa, os potentes isquiotibiais também podem realizar a extensão do quadril. Os posicionamentos das fibras de cada grupo muscular também influenciam nisso. As fibras do glúteo ficam em diagonal para conseguir cumprir todas as suas ações. Já os ísquios têm fibras dispostas transversalmente, o que parece mecanicamente mais favorável para a realização da extensão do quadril. Os isquiotibiais podem facilmente realizar o movimento de extensão do quadril, apesar da função ser primariamente do glúteo máximo. Isso resolveria a questão no caso de os glúteos estarem inibidos e ajudaria na manutenção da nossa estática. A resposta é deficitária, porém é capaz dessa manutenção. Porém isso aumenta os graus de extensão lombar consideravelmente, nos gerando um problema mecânico. Essa pode ser um dos mecanismos fisiopatológicos de formação da dor lombar inespecífica. Logo deduzimos, que o papel principal dos glúteos é empurrar o solo durante a marcha, corrida, ou simplesmente para a manutenção da estática em nossos movimentos oscilatórios do tronco, produzindo assim a forca motriz do corpo. A extensão de quadril desejada para uma boa mecânica corporal durante a corrida é de 30 graus de extensão de quadril. Quando essa amplitude de movimento não é satisfatória, o tronco vai se estender para manter o centro gravitacional. Dessa maneira gera-se o que chamamos de dor lombar pós corrida. Muito comum entre corredores amadores. Como citado acima o Glúteo máximo tem sua origem em sua face posterior junto as aponeuroses. A principal aponeurose a qual o glúteo máximo está interligado é a fáscia toracolombar. Ela é uma estrutura contínua de tecido conjuntivo que se estende desde o sacro chegando até a região cervical. Logo, podemos dizer que a fáscia toracolombar é um elemento do núcleo porque muitos músculos têm continuidade de tensão presentes ao glúteo máximo. Alguns deles são: • Grande dorsal; • Serrátil; @KineticFunctional 17 • Trapézio fibras inferiores; • Isquiotibiais; • Bíceps femoral. A contração ou relaxamento desses músculos aumenta ou diminui a tensão sobre o glúteo máximo por sua tensigridade corporal. Essa tensão fascial junto ao glúteo máximo, e nosso sistema hidropneumático são os grandes responsáveis pela manutenção da nossa postura. Ou seja, qualquer alteração ou desestabilização de tronco pode ativar ou inibir o glúteo máximo. Ao mesmo tempo, a hiperativação ou inibição dos glúteos máximos poderá gerar desequilíbrios e dores em qualquer região do tórax, pelo qual está interligado pela fáscia toracolombar. Vida Moderna Vamos conferir alguns fatos: • A Terra existe há aproximadamente 13 bilhões de anos; • A primeira forma de vida encontrada em nosso planeta foi há aproximadamente 4,8 bilhões de anos; • Os primeiros relatos da nossa bipedestação ocorreram há somente 120 mil anos. Podemos perceber que nosso corpo ainda está se adaptando a bipedestação. Desde o início da bipedestação o estilo de vida mudou muito com o surgimento de facilidades como: • Nossa alimentação; • Nossa locomoção; • Nossa necessidade de habilidades motoras. Devido a essas mudanças, as habilidades motoras estão sendo perdidas ao longo dos anos. Com o advento da tecnologia nos movimentamos menos, caminhamos menos, subimos ou descemos menos escadas. Além disso, permanecermos muito tempo sentados. Como resultado realizamos nossas atividades de vida diária com menos força e com menor recrutamento de fibras motoras. @KineticFunctional 18 A importância do glúteo máximo em nossa evolução é de vital importância. Só caminhamos ou andamos sobre duas pernas para deixarmos os braços livres para executarmos outras tarefas. Com o desenvolvimento da vida humana, os primeiros hominídeos se tornaram ativos numa vida cheia de migrações, caça e coleta. Essa rotina mudou abruptamente, e hoje nossa realidade é: da cama para a cadeira, cadeira para carro, carro para cadeira de escritório. Trabalhamos sentados muito tempo, em seguida, repetimos a rotina em sentido inverso. Da cadeira para o carro, do carro para a cadeira, da cadeira para a cama. Se o edifício tiver um elevador, a falta de subirmos ou descermos escadas pode ser introduzida nessa história. Esta rotina humana é mantida por longos períodos. Por vezes, ao longo de uma vida inteira o ser humano se mantém com os músculos glúteos inativos e que conduz a uma disfunção conhecida como inibição glútea. Síndrome da Inibição Glútea A síndrome da inibição glútea nada mais é do que a perda dos movimentos naturais do glúteo máximo ao longo dos anos. Isso determina a perda da capacidade funcional do quadril, com perda de tônus e força na musculatura. Como o glúteo máximo é o nosso grande cíngulo de anulação das forças que percorrem nosso corpo, perdemos a capacidade de ativação dentro do padrão motor correto. Encontramos: • Inibição das conexões neuromusculares naturais; • Uma fonte de compensações corporais inadequadas; • Ativações musculares errôneas. Quando existe a síndrome da inibição glútea movimentos naturais do dia-a-dia como agachar, andar e correr ficam prejudicados. Nascemos com essas habilidades basta ver como as crianças brincam em posição de agachamento perfeito sem que ninguém as tenha ensinado a realizar o agachamento no padrão motor correto, pois esse aprendizado nos e inato, mas com nossa inatividade perdemos essa capacidade ao longo da vida. O termo inibição glútea refere-se à inibição e ou atraso na ativação dos músculos glúteos. Frequentemente, isso leva ao enfraquecimento do músculo. A inibição glútea afeta negativamente o desempenho e a força dos membros inferiores, o que exporá nosso corpo a uma série de lesões e dor crônica. Lesões associadas com a inibição glútea • Disfunção patelo-femural @KineticFunctional 19 • Síndrome da banda ou do trato ílio-tibial • Herniações ou dores lombares • Síndrome do piriforme • Desalinhamento extremidades inferiores • A ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA). • Instabilidade crônica do tornozelo. • Compensações mecânicas Os quadris não param de se mover, a menos que eles estejam tentando fazer com que você fique estável, dentro de nosso movimento oscilatório do tronco durante a tentativa de nos manter na estática. Se os glúteos estão inibidos, então não estaremos estáveis. Compensações na lombar Quando perdemos a mobilidade do quadril, geramos mais movimentos e mais instabilidade na parte inferior das costas. Perder o movimento em algumsegmento corporal, exige que nos movamos mais em outro segmento corporal, de forma compensatória. Já que o quadril está sem movimento a coluna lombar ganha mais mobilidade. Assim surge dor na lombar por excesso de mobilidade e movimento. A co-contração do glúteo máximo com o Psoas contribui para a estabilização lombo-sacral. O glúteo máximo proporciona estabilidade à articulação sacroilíaca por meio de apoio e compressão. O excesso de movimento na articulação sacro ilíaca compromete as articulações intervertebrais L5-S1 e o disco intervertebral gerando disfunção. O glúteo máximo também proporciona menor estabilidade de volta através de sua conexão com os espinhais e a fascia toracolombar. Algumas de suas fibras são contínuas com as fibras dos espinhais. Uma contração do glúteo máximo irá gerar tensão nos eretores no mesmo lado, proporcionando rigidez à coluna vertebral @KineticFunctional 20 A contração de Glúteo máximo também exerce uma força na extremidade inferior da fáscia toracolombar. A fáscia é uma camada espessa de tecido conjuntivo ligamentar cuja tensão estabiliza as vértebras. Compensações no joelho Os glúteos inibidos também levam a um mau controle do fêmur. Lembrem-se dos movimentos de rotação automática realizados pelos joelhos para uma boa dinâmica da articulação do joelho. Com glúteos inibidos perdemos a capacidade de adaptação do joelho, pela imobilidade da rotação externa realizada pelo glúteo máximo. Claro que temos outros músculos que são rotadores externos do quadril, mas nenhuma é capaz de suprir a falta de potência do glúteo máximo. Mesmo quando essas musculaturas trabalham em conjunto o glúteo máximo faz falta. Compensações no ombro O indivíduo com inibição de glúteo também apresenta diminuição na amplitude de movimento do ombro com consequência dor. Os glúteos se conectam via fáscia, como vimos anteriormente, ao longo do quadril para o ombro oposto. A conexão acontece através da fáscia das cadeias cruzadas de extensão ou abertura da unidade funcional do tronco. Quando os glúteos estão inibidos, a fáscia torna-se mais rígida e a amplitude de movimento do ombro torna-se diminuída. Sem conseguir gerar força a partir do chão para o ombro, você sobrecarregara membros superiores para gerar energia cinética e realizar movimentos. O ombro é uma articulação mais complexa e frágil em relação a quantidade de unidades motoras se comparado ao glúteo máximo. Mesmo assim ele terá de gerar a energia potencial do glúteo. Além disso temos a correlação com o grande dorsal, que não raramente encontra-se encurtado, portanto fraco. O encurtamento gera mais dor lombar e por perda de conectividade, dor em ombro também. @KineticFunctional 21 Outras compensações Para continuar a mecânica compensatória da inibição glútea, o grande músculo opositor de forças é o musculo Psoas. O Psoas flexiona o quadril lordosando-o, enquanto os glúteos o estendem retificando-o. O Psoas traciona a pelve anteriormente enquanto os glúteos o tracionam posteriormente. Se os glúteos estão inibidos, a parte inferior das costas torna-se mais instável e o Psoas aumenta sua tensão. As compensações são feitas para estabilizar a parte inferior das costas aumentando a lordose lombar de forma considerável por causa da potência do músculo. Além disso, enquanto os glúteos rodam o fêmur externamente, o Psoas por sua linha de tração, roda o fêmur internamente. O movimento gera o valgismo dinâmico, como consequência mais dores lombares e nos joelhos. Os isquiotibiais assumem o trabalho principal dos glúteos para estender o quadril. Essa compensação é muito comum em atletas. Encontramos nesse caso uma tração dos joelhos para hiperextensão pelo seu excesso de tensão, chamado comumente de falso varo do esportista. Porém os isquiotibiais só realizam a extensão do quadril, não possuem nenhuma função no plano latero-lateral. Os adutores ficam completamente desgovernados realizando seu papel de adução, sem nenhum musculo em contraposição de forças, reforçando o valgismo dinâmico. Com os glúteos inibidos perderemos a tensão da fáscia em torno da força motriz de quadril necessária para a propulsão para a frente. Essa tensão percorrerá toda a fáscia toracolombar. Ela pode gerar dentre todas as compensações já citadas um aumento da extensão cervical. Assim podemos encontrar um aumento da tensão sobre os músculos da cintura escapular, dentre eles o Trapézio em suas fibras Superiores. Já que a fáscia toracolombar segue até a linha nucal, a tensão sobre esses músculos citados estará aumentada. Cervicalgias e cefaleias cervogenicas podem estar relacionadas à inibição do glúteo. @KineticFunctional 22 Entendendo melhor a inibição glútea e a dor lombar A dor lombar tem sido associada à inibição do glúteo máximo. Quando comparamos pessoas com dor lombar a pessoas saudáveis percebemos que o glúteo máximo se atrasa na ativação nas pessoas com dor. A ativação do glúteo máximo durante a extensão do quadril está atrasada em pessoas com história de dor lombar em comparação com pessoas sem dor lombar. Em pessoas com dor lombar, a extensão do quadril é iniciada pelos isquiotibiais e eretores espinhais em vez do glúteo máximo. Mesmo após o episódio de dor lombar ter sido resolvido, os padrões de disparo alterado no glúteo máximo permanecem. Janda descreveu um padrão semelhante de ativação retardada do glúteo médio durante a abdução do quadril em pacientes com dor lombar. As pessoas que sofrem de lesões de entorse de tornozelo também têm demonstrado ter reduzido níveis de ativação do glúteo máximo. O glúteo máximo desempenha um papel importante na manutenção de uma posição vertical na posição em bípede. Musculatura glútea fraca ou inibida, como resultado de nosso estilo de vida sentado leva a uma diminuição da função estabilizadora no glúteo máximo. A inibição e a ativação retardada do glúteo máximo comprometem a estabilidade pélvica. Isso pode resultar em compensação pela parte inferior da coluna lombar e alterações em padrões de disparo muscular e função. No caso de dor lombar, tornozelo e, provavelmente, todas as lesões do corpo nos membros inferiores. A ativação fraca ou retardada do glúteo máximo pode ser a causa inicial de muitas lesões e dor crônica. Tratamento da inibição glútea Existem dois fatores essenciais para solucionar todas as compensações e comprometimentos acima citados: • Efetuar a ativação dos glúteos; • Melhorar a estabilidade do núcleo. Ativar e fortalecer os glúteos precisa formar uma parte importante de sua rotina de treino. Antes, portanto, faz-se necessário a retirada da hiperexcitação do Psoas. Podemos fazer isso através do seu relaxamento num alongamento ou na liberação manual do Psoas. @KineticFunctional 23 Essa manobra é muito fácil de fazer, basta medirmos o ponto médio entre a Espinha Ilíaca Antero Superior e o umbigo. Depois penetramos a 90 graus com nossos dedos paralelos a bainha do reto abdominal, exercendo uma pressão para a maca até encontrarmos um ponto de tensão. Estaremos no Psoas maior, a partir daí basta mantermos a pressão até seu relaxamento. Após o relaxamento do Psoas ficará mais fácil ativarmos os glúteos. A facilitação da ativação do glúteo máximo se dará pela ausência de uma força opositora criada pelo Psoas, músculo potente e antagonista ao Glúteo máximo O objetivo dos exercícios devem ser: • Fortalecer o núcleo; • Ativar o glúteo; • Anular a ação dos isquiotibiais quando possível. Os melhores exercícios para ativarmos os glúteos sem a ação dos isquiotibiais são os exercícios realizados em cadeia cinética aberta. Também podemos incluir os exercícios realizados com o uso da Miniband para exacerbar a ação glútea. Usando o exemplo da inibição glútea, é possível entender por que a dor surge em um corpo que deixa de se mover. Os músculos glúteos possuem uma função desuporte que permitem a bipedestação. Ou seja, eles nos ajudam a ficar em pé enquanto realizamos outras tarefas. Mas a vida moderna incentiva pouco movimento com muito tempo sentado ou em repouso. Mesmo nos momentos de lazer as pessoas optam por ficarem sentados em frente a uma televisão ou computador. Com o tempo, a falta de uso do glúteo máximo gera perda de tônus muscular e força. Além disso, o quadril perde sua função e passa a realizar compensações para manter o movimento. Como resultado, vemos também uma alteração na posição lombar que surge com o maior uso de musculaturas acessórias do quadril. É uma série de compensações que leva a desvios posturais e mais tarde dor, tudo causado pela falta de movimento. O sedentarismo é parte importante das causas de desvios posturais. Também encontramos outros motivos, como: • Desempenho Muscular • Alterações Anatômicas • Mobilidade Articular @KineticFunctional 24 • Fatores Ambientes e Emocionais Algumas vezes também vemos diversos fatores se combinando para gerar o desvio que mais tarde se torna uma patologia. Para compreender bem o problema do corpo, você precisará trabalhar com uma boa avaliação postural para identificar os principais motivos. Como surge a Dor? Entendemos como os desvios posturais aparecem, mas não significa que isso necessariamente leva à dor. Lembra que boa parte das pessoas não busca tratamento do desvio até surgir uma lesão ou dor aguda? Isso acontece porque muitas vezes os resultados demoram a aparecer. Precisamos lembrar nesse momento que o corpo está sempre em busca de equilíbrio e conforto. A intenção é se movimentar gastando a menor quantidade de energia, garantindo conforto às vísceras e protegendo estruturas vitais. Nem sempre isso é possível, especialmente quando existe um desvio postural. Quando a postura está comprometida, o corpo perde sua mobilidade e estabilidade. Mas ainda existe necessidade de continuar se movendo. Assim, surge algo que já conhecemos bem: desequilíbrios e compensações musculares. Voltarei ao exemplo da inibição glútea aqui. O glúteo está incapaz de realizar suas ações corretamente. Só para lembrar: a inibição glútea não é um desvio postural em si, mas causa desvios do quadril e da coluna lombar. Para que os movimentos continuem, os isquiotibiais entram em ação. É a ação desse extensor de quadril que faz com que os principais desvios posturais apareçam e se mantenham. A dor lombar em casos de um glúteo disfuncional surge por causa da compressão de estruturas da coluna. Isso acontece pela perda de estabilidade e sustentação da coluna, além de exagero da curvatura lombar. Teremos nos casos de desvio postural tensões musculares que com frequência causam pontos-gatilho, uma das fontes de dor. Também existem fraquezas que levam ao desequilíbrio articular e compressão de outras estruturas. Tudo é uma série de compensações que o corpo faz para conseguir voltar ao estado de equilíbrio e continuar se movendo. Tratamento de Desvios Posturais Na verdade, não existe um protocolo padrão para tratamento de desvios posturais que eu possa te oferecer. De nada adianta você querer pegar uma @KineticFunctional 25 sequência de exercícios, aplicar em aula e esperar um resultado igual para todos os alunos. Já passou da hora de entender que cada corpo é único e que precisamos tratá- los dessa maneira. Portanto, o tratamento ideal começa com uma avaliação postural detalhada. Precisamos saber por que aquele desvio surgiu e quais compensações ele gerou. A escoliose é um bom exemplo. Você precisa analisar se existem fatores externos que geraram o desvio da coluna. Será que o aluno possui algum aparelho corretivo dentário causando tensões e um esquema de forças alterado? Ou uma hérnia de disco que faz com que o corpo se altere para evitar a dor? Tudo precisa ser considerado! Depois de identificar as causas, chega a hora de corrigi-las. Vá aos poucos e comece a dar mobilidade à coluna. Ela também precisa de estabilidade, mas nada que comprometa seus movimentos. É importante tomar cuidado com a tendência de só estabilizar e tirar os movimentos da coluna vertebral. Para isso você pode utilizar os inúmeros exercícios. Cada um deles possui sua maneira única de flexibilizar, mobilizar e estabilizar a coluna vertebral. Só se lembre de adaptá-los para cada tipo de coluna trabalhada. @KineticFunctional 26 Captores Posturais Você sabe o que são captores posturais? Tão importante quanto corrigir um movimento é melhorar o input sensorial da via, e os inputs vem de diversos captores posturais. @KineticFunctional 27 Captor Podal O pé é composto por 26 ossos e outros acessórios que nem sempre estão presentes em todos os pés, sendo muitos deles causadores de problemas que impedem a deambulação perfeita. Os ossos são classificados em ossos compactos com alta resistência biomecânica e ossos esponjosos com estrutura trabecular cuja função é absorver o impacto. Os ossos do pé são esponjosos que confere relevância na absorção das ondas de choque provocadas pela posição bípede. A medida que o indivíduo se desenvolve ocorre a ossificação do esqueleto dos pés, tornando-se completo até aproximadamente aos 18 anos. Assim o pé é uma estrutura que apresenta diversas funções: Sustentação: os ossos suportam forças compressivas pela influência da força da gravidade. Plasticidade: possui capacidade de ajustar suas articulações de forma a se adaptar com o solo. Estabilidade: resistência estrutural ao caminhar, ao correr, etc. Absorção: os arcos plantares amortecem os impactos. @KineticFunctional 28 Propulsão: através do hálux, pela ação concêntrica do tibial posterior. O calcâneo é o norteador do movimento do pé, pois durante a marcha, o contato inicial do passo ocorre através dele. No caminhar, o retropé entra em supinação através do eixo calcâneo (calcâneo, cubóide, 4º e 5 º metatarsos) e o antepé termina em pronação para dar o impulso para o próximo passo através do eixo talar (tálus, navicular, cuneiformes, 1º, 2º e 3º metatarsos). Além das características biomecânicas do pé, o mesmo apresenta inúmeras células sensoriais exteroceptivas localizadas na região plantar, como os corpúsculos de Meissner e o disco de Merkel que influenciam e coordenam a postura estática e dinâmica. Bem como sensores proprioceptivos oriundos dos músculos e das articulações, através do fuso muscular e do órgão tendinoso de golgi, respectivamete. Sendo o pé, o ponto de união entre o equilíbrio e o solo. O pé pode ser classificado como: CAUSATIVO - quando a patologia do pé provoca o desequilíbrio postural gerando uma cadeia lesional ascendente; ADAPTATIVO - quando o pé tampona um desequilíbrio vindo do alto (geralmente dos olhos ou dos dentes), sendo num primeiro momento reversível, depois se fixa e retroalimenta a disfunção; MISTO - quando há um componente causativo e um componente adaptativo; DUPLO COMPONENTE - quando toda a carga que entra em supinação no contato inicial e projeta para o primeiro raio associado ao colapso medial de arco longitudinal medial. @KineticFunctional 29 Pontos Reflexos Plantares A reflexologia podal consiste na utilização de um microssistema reflexo do corpo encontrado a nível cutâneo na superfície plantar, dorsal, medial e lateral do pé. A palpação dos pontos reflexos podais informa qualidade e equilíbrio da estrutura que está sendo avaliada. Esses microssistemas podem ser encontrados nos pés, nas mãos, nas orelas, na língua e na íris dos olhos. @KineticFunctional 30 Relações Retropé medial_________________________________Sacro Retropé lateral_________________________________Quadril/Pelve Médio pé_____________________________________Joelho/Cotovelo Antepé _______________________________________Região torácica Arcoplantar___________________________________Região lombar Hálux ________________________________________Região cervical/cabeça Captor Ocular Inúmeros trabalhos de neurociências provam o papel do olho como captor do sistema postural, corroborando no deslocamento do centro gravitacional do corpo. Um trabalho publicado por Lacour e Roll (1987) demonstrou que o estímulo de vibração mecânica no músculo reto inferior do globo ocular dos dois olhos provocava um deslocamento posterior do centro de gravidade e o estímulo em reto superior tem um efeito inverso. Sendo ao mesmo tempo um endocaptor e um exterocaptor postural, através da atividade muscular extra-ocular e do reflexo óculo-céfalo-giro que submetem os @KineticFunctional 31 músculos do pescoço e ombros aos dos olhos e através de bastonetes da visão periférica, respectivamente. A falha do funcionamento desse captor implicará na insuficiência de convergência ocular. A insuficiência de convergência pode ter etiologia primária ou secundária. • Primária: traumatismo craniano, entorse cervical (lesão de chicote), fenômenos de hiperpressão intracraniana, epilepsia, fratura de coluna. As causas primárias normalmente deixam o olho não dominante hipoconvergente. • Secundária: assimetria postural, escoliose, reação dentária, distúrbio de oclusão, hepatite, uso de antidepressivos tricíclicos e não tricíclicos. As causas secundárias podem apresentar hipoconvergência tanto em olho dominante quanto em não dominante. Os sintomas comumente encontrados cefaleias, vertigem idiopática e instabilidade, cinetose (náusea em transporte ou barco) e cervicalgias. @KineticFunctional 32 @KineticFunctional 33 Captor Manducatório Esse captor é constituído pela relação complexa em língua, ATM (articulação temporomandibular), musculatura orofacial e de pescoço, mastigação e da deglutição, arcada dentária superior e inferior, sendo o captor oclusal a união entre a cadeia muscular anterior e a cadeia muscular posterior. As disfunções craniomandibulares irão influenciar diretamente na oclusão dentária, patologias de língua e deglutição. Para se ter um bom funcionamento desse captor é importante a respiração ser feita por via nasal. Na posição de repouso, os dentes superiores e inferiores não devem se tocar. Os dentes inferiores devem estar circunscritos pelos dentes superiores mantendo uma oclusão normal, ter todos os dentes na arcada superior e inferior, e a língua deve tocar a região anterior do palato (céu da boca). A posição da mandíbula condiciona a posição cervico-escapular. Portanto, na oclusão classe II haverá um desvio anterior da cabeça e dos ombros, e na oclusão classe III ocorrerá um desvio posterior da cabeça. A ausência de dentes desencadeará uma má oclusão e disfunção lingual. @KineticFunctional 34 @KineticFunctional 35 Captor Vestibular Esse captor analisa a aceleração e a desaceleração do corpo no espaço/tempo. O elemento básico do ouvido interno é a célula ciliada e seus constituintes informativos, os quinocílios. Eles estão presentes no utrículo e sáculo e são responsáveis pela medição da aceleração linear. Na ampola, localiza-se a extremidade de cada canal semicircular, na qual os quinocílios detectarão o deslocamento dos cristais de oxalato de cálcio, mensurando a aceleração angular. O captor vestibular é um acelerômetro destinado a coordenar a posição da cabeça e dos olhos durante o movimento. Essa comunicação ocorre através do reflexo vestíbulo-ocular e reflexo vestíbulo-espinal, a fim de manter o controle do equilíbrio na posição ortostática durante a locomoção. @KineticFunctional 36 Trilhos Anatômicos Os músculos e tendões são revestidos externamente por um envoltório de tecido conjuntivo denominado fáscia. Para que se realize o movimento de forma harmoniosa e precisa é fundamental o deslizamento da fáscia sobre o músculo e vice-versa. Os músculos trabalham em sinergia um com o outro compondo um circuito de músculos agonistas e antagonistas do movimento. Esse circuito funciona como meridianos miofasciais que denominamos trilhos anatômicos. Os trilhos anatômicos descrevem a continuidade da conexão entre duas estruturas adjacentes e longitudinalmente alinhadas dentro de uma teia estrutural, formando um sistema fascial. O sistema fascial transmite informações mecânicas de tensão e compressão ao cérebro. Esse tipo de comunicação acontece através da vibração mecânica resultante do jogo de tensão e compressão, numa velocidade três vezes mais rápida que a condução do sistema nervoso. A rede circulatória fornece proteínas para rede fibrosa e mantém o turgor no interior das bolsas do sistema de pressão dentro do corpo. A rede fibrosa guia o fluxo de líquidos, afetando o tônus dos miofibroblastos através da química dos líquidos, modificando a tensegridade do tecido fascial. A rede neural alimenta o sistema fibroso através dos nervos motores alterando o tônus dos músculos. O conjunto de mecanorreceptores fornece informações da rede fascial para o sistema nervoso através dos receptores de Golgi, corpúsculos de Paccini, terminações de Ruffini e terminações nervosas livres (são as mais abundantes). Esses sensores detectam variações no alongamento, carga, pressão, vibração, força tangencial (de cisalhamento), vasodilatação e dor. Sendo a rede fascial o maior “órgão dos sentidos” do corpo. Essa rede fibrosa envolve os músculos, tendões, ossos, órgãos, vísceras, vasos e nervos. Foram descritos doze trilhos anatômicos: @KineticFunctional 37 @KineticFunctional 38 MYERS, Thomas. Trilhos Anatômicos: meridianos miofasciais para terapeutas manuais e do movimento. Rio de Janeiro: Elsevier,2010. Compreendendo a Fáscia A fáscia é uma parte do tecido conjuntivo do corpo que influencia, e muito, nos resultados de tratamentos e treinamentos. Apesar de ser tão importante, as pesquisas a seu respeito ainda estão em desenvolvimento e são um pouco obscuras no meio profissional. Porém, é importante acompanhá-las e saber tudo que é possível sobre o tecido fascial. @KineticFunctional 39 Relação entre fáscia e colágeno A fáscia é formada por proteínas, em especial o colágeno, e faz parte do tecido conjuntivo do corpo humano. Podemos considerá-la como: “tecidos conectivos fibrosos, moles, colágenos, soltos e densos que permeiam (ou seja, são espalhados por todo o corpo)”. O colágeno, que forma boa parte dessa estrutura, é uma proteína produzida pelo corpo desde o nosso nascimento. Ele também é uma das proteínas mais importantes na manutenção do sistema conjuntivo, sendo responsável por manter sua estrutura matricial e força. No entanto, essa substância não é produzida pelo corpo até o fim da vida. Sua produção começa a diminuir mais ou menos aos 28 anos de idade, começando a cair cerca de 1% ao ano após os 35 anos. Quando alguém chega aos 50 anos já deve estar produzindo cerca de 35% do colágeno que seu corpo precisaria para executar suas funções corporais. Nesse momento, o corpo começa a utilizar o estoque de colágeno que foi produzido até os 28 anos de idade, que não é o suficiente. É por isso que o processo de envelhecimento envolve a perda de elasticidade e firmeza do tecido conjuntivo. Essa proteína é tão importante para o corpo que constitui diversas estruturas corporais que são afetadas conforme envelhecemos. Entre elas temos: • Ossos; • Unhas; • Músculos; • Cartilagens; Cerca de 25% da proteína do corpo é colágeno, então não podemos ignorar seu papel. Sua principal função é sustentar as células, fazendo com que elas fiquem juntas e firmes. Isso também acontece no tecido da fáscia, fazendo com que essa proteína seja essencial para o funcionamento do conjunto fascial. @KineticFunctional40 Funções da Fáscia Autores relevantes já definiram a fáscia de forma bem ampla, deixando-a mais simples de compreender. O sistema fascial envolve os músculos, ossos e fibras nervosas e realiza diversas funções no corpo. Isso inclui funções: • Arquitetônicas/estruturais; • Neurológicas; • Transmissão de força biomecânica; • Morfogênese; • Transmissão de sinal celular. Precisamos compreender o tecido conjuntivo e como ele realiza a ligação entre diversas estruturas do sistema musculoesquelético. Quando um atleta sofre lesões por overtraining, por exemplo, a lesão acontece nos elementos da rede fascial do corpo. Os tecidos que devemos desenvolver no treinamento fascial são: Envelopes musculares; Aponeuroses; Adaptações locais específicas (ligamentos ou tendões). No corpo, existem estruturas que são responsáveis por adaptar os tecidos conjuntivos dos sistemas fascial aos estímulos. Eles são os fibroblastos. Por isso, devemos adotar um treinamento orientado para a fáscia. Em atletas, esse treinamento precisa ser ainda mais específico para evitar sobrecarga. Nos treinamentos podemos adotar alguns recursos que ajudam a trabalhar a fáscia, mas nunca em excesso. Recomenda-se que esse tipo de treinamento aconteça entre uma e duas vezes por semana. Conseguimos melhorar o condicionamento fascial em 6 a 24 meses, dependendo do caso específico do aluno. Muitas das lesões que encontramos na prática, envolvem tendões, ligamentos e outras estruturas do tecido conjuntivo. Muitas vezes, somente o tratamento do sistema musculoesquelético pode ser insuficiente. Mesmo que consigamos um resultado, o aluno pode voltar a ter o mesmo tipo de lesão. @KineticFunctional 41 Características da Fáscia A fáscia é um tipo de rede de tensão que recobre todo o corpo. Ela é parte do que conecta diversas estruturas corporais, transmitindo tensões entre todo o sistema. Ela consiste de todos os tecidos conectivos. A fáscia não é moldada por compressão, mas sim por tensões. Esse sistema envolve todos os músculos e órgãos. Podemos considerar alguns elementos que fazem parte da rede fascial, incluindo: • Envelopes musculares; • Cápsulas articulares; • Septos; • Tecidos conectivos intramusculares; • Retináculos; • Aponeuroses; • Ligamentos; • Tendões. A rede fascial ao longo do corpo é formada por diversos tipos de tecidos conjuntivos, assim como algumas áreas de transição. Essas áreas ficam localizadas principalmente próximo a articulações. A rede recobre todo o corpo e é responsável por transmitir deformações tensionais multi-articulares. Por isso, cada região do corpo possui uma arquitetura local adaptada às demandas de carga de deformação impostas. As deformações impostas sobre o sistema fascial o moldam e podem influenciar em lesões futuras. Cadeias Musculares O conceito de cadeias musculares é uma abordagem de um encadeamento de músculos unidos, ponta a ponta, através de suas aponeuroses, e que unificam o corpo da cabeça às mãos e, aos pés. Esse contexto de sinergia entre os músculos, aponeuroses e articulações nasceu da síntese de constatações clínicas de Godelieve Denys-Struyf, corroborando para criação do método GDS. @KineticFunctional 42 Vamos pensar em cadeia para responder esta pergunta: será que os isquiotibiais entram em insuficiência passiva durante a execução de um stiff? Para esta resposta é necessário entender que no corpo humano nada acontece de forma isolada, nem mesmo uma flexão de cotovelo é isolada, pode ser do ponto de vista articular, mas neuromuscular, jamais! Deste raciocínio surge o conceito de cadeias musculares e suas várias abordagens de acordo com seus cadeistas. Françoise Mézières, conceituou Cadeias Musculares em 1947 como: “É um conjunto de músculos de mesma direção e sentido que trabalham como um só músculo. São geralmente poliarticulares e se recobrem como as telhas de um telhado.” As Cadeias Musculares apresentam também aspectos psico-comportamentais, segundo Godelieve Denis Struyf, ela afirmava que: “O indivíduo se estrutura sobre sua história de vida. As cadeias musculares irão moldar o indivíduo de acordo com suas necessidades de expressão corporal. “ Phillippe Souchard – Após estudos biomecânicos e histológicos, chegou a definição de cadeias musculares: “Grupos musculares com as mesmas características histológicas e fisiológicas, interligadas por uma rede aponeurótica.” Os músculos agem de forma individual, mas eles também atuam mediante conexões por todo corpo no interior de faixas de fáscias integradas funcionalmente, esta é a definição de Thomas Meyers. Tendo por base estas definições, chegamos à Linha Superficial Posterior (LSP): flexores curtos dos artelhos e aponeurose plantar, tríceps sural, isquiotibiais, ligamento sacrotuberoso, fáscia sacrolombar, eretor da espinha, fáscia epicraniana. Se pegarmos a definição de cadeias, citada por Françoise Mézières, conseguiremos visualizar a mesma analogia, uma estrutura que recobre desde a planta de nossos pés até o topo da cabeça, como as telhas de um telhado. Em um estudo de Franklyn-Miller (2009) demonstraram – usando microcalibradores de esforço – que o grau de força usado em uma contração excêntrica, como no stiff por exemplo, dos isquiotibiais resulta em uma variedade de transferências de cargas inesperadas: •240% do esforço imposto é transferido para o trato iliotibial (IT). •145% da carga dos isquiotibiais é transferida para a fáscia lombar ipsilateral via ligamento sacrotuberoso. @KineticFunctional 43 •103%, para o compartimento crural lateral. •45%, para a fáscia lombar contralateral. •26%, para a fáscia plantar. E chegaram à seguinte conclusão: A transmissão de tensão via continuidades fasciais durante o “alongamento” (contração excêntrica) pode, portanto, afetar muitos tecidos, exceto o músculo ao qual a carga está sendo aplicada. Em outro estudo, Weisman et al. (2014), que tinha o objetivo de mapear a associação de ativações musculares ao longo da linha superficial posterior (LSP) usando condições separadas de amplitude ativa de movimento com e sem resistência e amplitude passiva de movimento através de eletromiografia, obtiveram os seguintes achados: •Durante a contração isométrica máxima do gastrocnêmio direito, houve fortes sinais de ativação registrados nos eletrodos colocados sobre: os isquiotibiais direitos, a espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), o 12º segmento torácico esquerdo e direito (T12) e o trapézio superior direito. •Durante a extensão cervical isométrica máxima (em prono), houve fortes sinais de ativação registrados nos eletrodos colocados sobre o trapézio superior, T6, T12, EIPS, com ativação moderada, mas significativa, nos isquiotibiais. Portanto, percebe-se que, se uma parte da cadeia é acionada, toda a cadeia se ajusta para manter o mínimo de integridade da mesma. Do ponto de vista mecânico, durante a fase excêntrica do stiff, há um braço de momento de resistência (B.M.R.) enorme sendo gerado na coluna vertebral, impossível de ser sustentado somente pelos eretores da espinha, portanto toda a cadeia necessita manter a tensão. Se os isquiotibiais entrassem em insuficiência passiva, a tensão na cadeia se perderia e o indivíduo cairia de “fuça” no chão. As cadeias musculares não se limitam ao sistema locomotor, mas abrangem a unidade da estrutura humana e tudo aquilo que a anima. Essas cadeias formam conjuntos psiconeuromusculares ao sabor da expressão corporal postural e gestual, construindo a postura do indivíduo diante da vida. Tudo está conectado. Se os tornozelos ignoram os joelhos, se os quadris não protegem as vértebras lombares e solicitam excessivamente as articulações sacro-ilíacas, se a primeira vértebra cervical não funciona harmoniosamente com a cintura pélvica, se a mão direta não se coordena facilmente com o pé esquerdo, o corpo está efetivamente com dificuldadede comunicação. Isso gera bloqueios, desvios posturais num primeiro momento flexíveis e posteriormente rígidos. Essa falha de comunicação promove sofrimento de determinada cadeia muscular e articular tracionando as aponeuroses, alimentando um quadro de disfunção paulatinamente gravados nos tecidos. @KineticFunctional 44 O corpo se expressa com a ajuda de nossos músculos, pela postura, pelo gesto e pela mímica. Mesmo se a expressão for inibida, o sistema neuromuscular é ativado da cabeça às mãos e aos pés. Pensamentos e emoções acionam grupos musculares. Com base nessa leitura global do corpo e da postura foram classificadas seis formas de equilíbrio natural em pé, bem como seis bases de expressão corporal e comportamental que acionam seis cadeias musculares em relação as seis direções do espaço (para frente, para trás, para direita, para esquerda, para cima e para baixo). PM – Cadeia Póstero-Medial É composta por músculos paravertebrais lombar, dorsal e cervical (excluindo os músculos profundos que fazem parte da cadeia PA/AP), aponeurose lombar, ligamentos sacroisquiáticos, glúteo máximo, semitendíneo, semimembranáceo, sóleo, flexores dos dedos do pé, músculos do arco plantar e aponeurose plantar. Em membros superiores, compreende o latíssimo do dorso, trapézio parte ascendente, tríceps, flexores dos dedos, pronadores redondo e quadrado. Essa atitude física e emocional expressa pensamento e ação voltados para o futuro, podendo ser encontrado em pessoas orientadas para o sucesso, a superação e competição, tende a se projetar anterior colocando mais pressão em antepé. AM – Cadeia Ântero-Medial É composta pelos músculos do períneo, reto abdominal, peitoral maior, escaleno anterior, esternocleidomastóideo, adutores do quadril, parte medial do gastrocnêmio, adutor do hálux. Em membros superiores, compreende deltóide parte clavicular, bíceps, supinador, abdutor curto e longo do polegar. Confere ao indivíduo uma atitude mais enraizada e estática. O corpo se projeta para trás, parecendo recuar ou se encostar em uma parede. Constrói um futuro com passos medidos voltados ao passado com fundamento e estabilidade. PA – Cadeia Póstero-Anterior Essa cadeia compreende músculos profundos da coluna vertebral, diafragma, transverso do abdômen, músculos inspiratórios, psoas, quadríceps, extensores dos dedos dos pés. Nos membros superiores encontram-se peitoral menor, coracobraquial, tríceps e extensores dos dedos. Tendência ao crescimento axial e extensão, postura ereta. Evoca atitude voluntária, preocupada em fazer bem feito, do lado certo, do lado justo. AP – Cadeia Ântero-Posterior Essa cadeia compreende músculos profundos da coluna vertebral como: diafragma, transverso do abdômen, músculos expiratórios, psoas, quadríceps e extensores dos dedos dos pés. Nos membros superiores encontram-se peitoral menor, coracobraquial, tríceps e extensores dos dedos. Tendência de impulso para baixo, atitudes hipostênicas, orientando através de escalenos e psoas as “quebras” da retidão de PA, postura relaxada. A hiperextensão ligamentar é @KineticFunctional 45 característica comum a postura AP. Confere expressão corporal obedecendo aos truques da lei do mínimo de esforço, da qual tira o máximo de vantagens com jogo de cintura. Indolente, mas vigilante. PL – Cadeia Póstero-Lateral A cadeia é composta de músculos posterior do tronco, partindo dos rombóides, levantador da escápula, trapézio partes descendente e transversa, oblíquos do abdômen, glúteo médio, vasto lateral, bíceps femural, fibulares, gastrocnêmio lateral, abdutor do hálux. Já em membros superiores evidenciam-se supraespinal, deltóide parte acromial, tríceps, extensor ulnar do carpo, abdutor do 5º dedo. Expressa dinamismo inspiratório, necessidade de abertura, de contato, de trocas e de expansão. Característica extrovertida, favorecem atividades exploratória, de curiosidade, de deslocamento, de viagens. AL – Cadeia Ântero Lateral Essa cadeia compreende os músculos anteriores do tronco, glúteo mínimo, tensor da fáscia lata e aponeurose, tibial anterior e posterior, interósseos e lumbricais plantares. Nos membros superiores é composta por: esternocleidomastóideo, peitoral maior, deltóide parte clavicular, redondo maior, latíssimo do dorso, subescapular, bíceps, músculos radiais e palmares. Tendência ao fechamento e introspecção. Necessidade de discrição, de reserva, gosto pela solidão e isolamento. Seletivo, favorece a especialização e aprofundamento das tarefas que empreende para melhor concentrar e focalizar sua atenção. @KineticFunctional 46 As cadeias Musculares de Léopold Busquet: Cadeias Musculares do Tronco 1- Cadeia de Flexão: são divididas em duas, direita e esquerda. É formada pelos Intercostais médios, reto abdominal e músculos do períneo. Sua ligação com a cintura escapular é dada pelos seguintes músculos: transverso do tórax, peitoral menor e trapézio inferior. Já sua ligação com o membro superior é dada pelo Peitoral maior e rombóide maior. É a cadeia responsável pelo enrolamento do tronco. 2- Cadeia de Extensão: também divididas em direita e esquerda. É constituída no plano profundo pelo: transverso espinhoso, supracostal, espinhais, grande dorsal, iliocostal e quadrado lombar. No plano médio, pelo Serrátil posterior superior e inferior. Sua ligação com a cintura escapular se faz através do trapézio Inferior, e como membro superior através do redondo maior. Essa cadeia muscular e responsável pela extensão do tronco. @KineticFunctional 47 Essas duas cadeias retas do tronco são responsáveis pela flexão e extensão do tronco. A cadeia de flexão executa o movimento e a cadeia de extensão o equilibra modulando os movimentos da cadeia de flexão em excentricidade. As duas cadeias se ligam através do sacro. Caso a cadeia de flexão esteja encurtada ou tensionada, a postura adotada pelo individuo será a de enrolamento. Ao contrário, se a cadeia de extensão estiver sob tensão favorecerá a uma postura em extensão. Caso as duas estejam comprometidas ocorrerá um aumento nas curvaturas lombares e cervicais, pelo achatamento gerado por essas duas cadeias. À ação da cadeia de flexão direita e da cadeia muscular de extensão direita em conjunto, geram a inclinação do tronco a direita. Já as duas cadeias de extensão esquerda em conjunto, geram a inclinação do tronco a esquerda. 3- Cadeia Estática Posterior: é única e segundo Busquet, nosso equilíbrio estático é baseado em um desequilíbrio anterior, basta observar que a linha gravitacional passa a frente dos maléolos e da cabeça, logo fica fácil chegarmos a conclusão do porquê dos músculos posteriores estarem sempre em tensão, com esse excesso de trabalho. Partindo dessa observação, Busquet foi buscar na anatomia a resposta para esse desperdício de energia corporal, desobedecendo assim, as leis do conforto e economia. Percebeu então a genialidade da engenharia corporal se deparou e se atentou de que os músculos posteriores são músculos formados de muita aponeurose fascial, criando assim a Cadeia Estática Posterior. Entendendo que esse desequilíbrio anterior é suportado pelas potentes fáscias posteriores, junto com as aponeuroses dorsal e lombar, sem desrespeitar a lei da economia corporal. @KineticFunctional 48 Para Leopold Busquet, uma estática equilibrada depende de quatro fatores: o esqueleto, as fáscias (sobretudo a cadeia fascial posterior), a pressão intratorácica e a pressão intra-abdominal. Busquet coloca os músculos em segundo plano, os quais citamos anteriormente, que são trabalhadores sob o comando de outras estruturas. Como por exemplo, as pressões internas (PIA). As Cadeias Musculares Cruzadas estão ligadas a dinâmica do tronco nos três planos: torção, flexão e rotação. 1- As Cadeias Cruzadas Anteriores. São compostaspelos músculos oblíquo menor esquerdo, intercostais internos esquerdos, oblíquo maior direito, intercostais esternos direitos, serrátil anterior direito, romboide direito, peitoral maior direito, redondo maior direito. Existem duas cadeias cruzadas anteriores: a direita que liga a hemipelve direita ao tórax esquerdo e a cadeia cruzada anterior esquerda ligando a hemipelve esquerda ao tórax direito. A cadeia cruzada anterior direita leva o ombro esquerdo e a hemipelve direita em aproximação. Já a cadeia cruzada anterior esquerda leva o ombro direito e a hemipelve esquerda em aproximação. @KineticFunctional 49 5- Cadeias Cruzadas Posteriores: Formam-se pelos seguintes músculos: quadrado lombar esquerdo, fibras iliolombares esquerda, feixe iliolombar esquerdo, massa comum, quadrado lombar direito, fibras costolombares direita, serrátil póstero-inferior direito, intercostais correspondentes. Sua ligação com a cintura escapular se faz através do trapézio inferior direito à escápula, peitoral menor direito à escápula, transverso do tórax direito ao esterno, grande dorsal e peitoral maior ao úmero. Também são duas as cadeias cruzadas posteriores: a direita, ligando a hemipelve direita posteriormente ao tórax esquerdo e a esquerda que liga a hemipelve esquerda ao tórax direito. São responsáveis por levar a hemipelve e o ombro ao encontro posteriormente. O ponto de torção se dá na altura do umbigo das cadeias cruzadas anteriores e em L3 se tratando das cadeias cruzadas posteriores. As Cadeias Cruzadas Posteriores possuem continuidade com as cadeias cruzadas anteriores e vice-versa. Ou seja, a cadeia cruzada anterior esquerda tem continuidade com a cadeia cruzada posterior esquerda. A ação conjunta dessas duas cadeias gera a translação do tronco a esquerda. O hemicorpo direito também respeita essa continuidade, sendo que a cadeia cruzada anterior direita segue até a cadeia cruzada posterior direita. Em sua ação conjunta, as duas cadeias produzem a translação do tronco a direita. Já a cadeia cruzada anterior direita e a cadeia cruzada posterior esquerda, em conjunto, geram a rotação do tronco a direita e a cadeia cruzada anterior esquerda a cadeia cruzada posterior direita juntas realizam a rotação do tronco a esquerda. As Cadeias Musculares Cruzadas de Flexão do Tronco são também chamadas de cadeias de fechamento e as cadeias Cruzadas de extensão do tronco são também reconhecidas como cadeias de abertura. @KineticFunctional 50 Cadeias Musculares do Pescoço As cadeias musculares de Léopold Busquet seguem pelo tronco em seu caminho de forca e seguem como cadeia de flexão do tronco se inserindo na cavidade bucal, já a de extensão segue seu trajeto se inserindo na cavidade orbicular. As Cadeias Musculares Cruzadas Flexoras do Tronco cruzam na unidade pescoço e a cadeia cruzada flexora direita na unidade tronco torna-se a cadeia cruzada de extensão esquerda na unidade pescoço. À cadeia cruzada de flexão esquerda na unidade tronco cruza na altura da unidade pescoço e torna-se a cadeia cruzada de extensão direita, a cadeia de extensão cruzada extensora direita na unidade tronco torna-se a cadeia de flexão cruzada esquerda na unidade pescoço e a cadeia cruzada de extensão esquerda na unidade tronco também cruzar-se-á tornando-se a cadeia de flexão cruzada a direita na unidade pescoço. O ponto de referência para direita e esquerda também muda e passa a ser o ombro. Logo as Cadeias de Flexão direita e esquerda juntas são responsáveis pela flexão do pescoço, as cadeias direita e esquerda de extensão do pescoço são responsáveis pela extensão do pescoço. As cadeias de flexão e extensão a direita são responsáveis pela inclinação do pescoço a direita, e em contrapartida as cadeias de flexão e extensão a esquerda são as responsáveis pela inclinação do pescoço a esquerda. A cadeia de flexão cruzada direita e a cadeia cruzada de extensão a direita são responsáveis pela translação do pescoço a direita, as mesmas cadeias cruzadas a esquerda são responsáveis pela translação do pescoço a esquerda. Já a cadeia cruzada de flexão a direita e a cadeia cruzada de extensão esquerda são responsáveis pela rotação do pescoço a direita e a cadeia cruzada de flexão esquerda e a cadeia cruzada de extensão a direita realizam o movimento de rotação do pescoço a esquerda. Cadeias Musculares da Pelve Na região inferior ao tronco encontramos a Pelve que é formada por dois ilíacos e o sacro. A mobilidade desses ossos é muito discreta, mas é importante deixarmos muito claro que elas existem. O que confere a pelve uma característica de estabilização. Como também é na Pelve que a força do solo e a força gravitacional se encontram. A Pelve se articula com a coluna lombar formando a articulação lombosacral. Os dois ilíacos se encontram anteriormente formando a sínfise púbica e posteriormente com o sacro formando a articulação sacroilíaca. @KineticFunctional 51 Teoricamente, a Pelve deveria ser bastante estável devido sua importância de sustentação do eixo cranial e da coluna vertebral inteira, que são estruturas nobres do nosso corpo, por onde transitam nosso controle nervoso. Porém a Pelve pode desestruturar toda nossa estática se realizar alguns pequenos movimentos entre seus ossos que são: 1- Fechamento dos ilíacos: o fechamento dos ilíacos se dá quando há um aumento de tensão nos músculos: transverso do abdômen que tracionará a asa ilíaca em direção a linha média, e os adutores que fortalecem esse sistema de fechamento, tracionando as asas ilíacas inferiormente lateralmente. A sínfise púbica não pode se romper de maneira alguma, logo o sacro seguirá a asa ilíaca que se fechou, causando no paciente o seguinte quadro: a espinha ilíaca antero superior, crista ilíaca e espinha ilíaca póstero inferior estarão mais baixas (chamamos de três pontos baixos) do lado de fechamento e o sacro para que o sistema não se rompa acompanhará o ilíaco que fechou, inclinando-se. A cadeia de fechamento dos ilíacos acompanha a linha de força da Cadeia Muscular de Fechamento ou Cruzadas anteriores do tronco. 2- Abertura dos ilíacos: os músculos responsáveis pela abertura dos ilíacos são os glúteos que tracionarão a asa ilíaca no seu ápice para fora, e os músculos do assoalho pélvico que por sua vez tracionarão a parte inferior da asa ilíaca para dentro aproximando os ísquios. Observaremos o paciente da seguinte maneira com os três pontos anatômicos altos (EIAS, Crista ilíaca, EIPI) do lado da abertura, o sacro acompanhará o ilíaco que se abriu, portanto ele se inclinará para o lado da abertura. A Cadeia de Abertura na unidade Pélvica, acompanha o circuito de forca das Cadeias Musculares de abertura ou Cruzadas Posteriores do Tronco. 3- Anterioridade: se dá pelo tensionamento do quadrado lombar que tracionará a asa ilíaca em sua parte posterior para o alto e o reto femoral, que por sua vez tracionará a parte anterior do ilíaco para baixo. Encontraremos no paciente EIAS e crista ilíaca mais baixas do lado ilíaco em anterioridade e @KineticFunctional 52 EIPS mais alta do mesmo lado, encontraremos ainda o sacro mais alto e lordótico. A Cadeia Muscular da unidade pelve segue a linha de forca da Cadeia de Extensão do Tronco. 4- Posterioridade: a posterioridade é provocada pelos músculos reto abdominal e isquiotibiais, que juntos tracionarão a asa ilíaca para cima em sua parte anterior e para baixo em sua face posterior. No paciente veremos: EIAS mais alta, crista ilíaca mais alta e EIPI mais baixa, além da lombar retificada e mais baixa do lado da posterioridade. Esse tipo de desvio da asa ilíaca impossibilita e incapacita demais o paciente, pois vai totalmente contra a lógica corporal, pois nas três distorções anteriores, vão a favor da lógica corporal em algumas situações. E a Cadeia Muscular da unidade pelve seguea Cadeia De Flexão do Tronco. A abertura e o fechamento das asas ilíacas, além da anterioridade é absolutamente funcional quando no fechamento do momento do parto, e abertura após o parto, a pelve aos poucos vai retornando ao abrir as asas ilíacas. @KineticFunctional 53 @KineticFunctional 54 @KineticFunctional 55 @KineticFunctional 56 Relação Craniossacral O sistema craniossacral se estende desde o crânio, face e boca, inferiormente até o sacro e cóccix. É constituído por um compartimento formado pela membrana dura-máter, dentro do qual está contido o líquido cefalorraquidiano, por um sistema hidráulico semi-fechado que regula o fluxo do líquido, pelos ossos, aos quais as membranas estão inseridas, e pelas articulações e suturas que interligam estes ossos. Devido ao seu conteúdo – o cérebro, a medula espinhal e todas as estruturas relacionadas – restrições ou desequilíbrios no sistema craniossacral podem afetar diretamente quaisquer, ou até mesmo todos, aspectos do desempenho do sistema nervoso central. O líquido cérebro-espinhal banha o cérebro, medula espinal e as células que os compõem. Ele é bombeado ritmicamente a uma frequência de 6 a 12 ciclos por minuto, denominado movimento respiratório primário. Para acomodar estas alterações de pressão, os ossos do crânio e sacro precisam permanecer móveis durante toda a vida. Portanto, quando a mobilidade natural da dura-máter, ou qualquer dos ossos anexos a ela é comprometida, a função do sistema craniossacral – e do sistema nervoso central por ele envolvido – também pode ser comprometida. As suturas cranianas, a foice do cérebro, os ventrículos cerebrais, a medula e o complexo sacrococcígeo estão conectados e integrados por um tecido fascial denominado dura-mater. A dura-máter é a meninge mais externa que reveste o tecido nervoso e está aderida aos ossos do crânio, da coluna vertebral e do sacro. Através da dura-máter é possível que se transmitam forças que gerem bloqueios, quer a nível cranial ou a nível sacral. A biomecânica do sistema craniossacral se dá pela mobilidade contínua e sincronizada do osso esfenóide e do osso occiptal do crânio que compõe a sínfise esfeno-basilar, que se relacionam com sacro durante a respiração através da interconexão meníngea. Quando inspiramos, ocorre uma flexão da sínfese esfeno-basilar, rotação externa do osso temporal associada à contranutação sacral e produção do líquido cefaloraquidiano. Quando expiramos, ocorre uma extensão da sínfese esfeno-basilar, rotação interna do osso temporal acompanhada de uma nutação sacral e reabsorção do líquor. Logo, uma rotação e báscula de quadril irá levar a uma mordida cruzada e má oclusão, devido a relação craniossacral. Percebe-se então, que a respiração tem forte influência na movimentação do líquor, auxiliando assim nas relações craniossaral e respiração/relaxamento A respiração é importante para o movimento, promovendo o equilíbrio tônico das cadeias musculares e a mobilidade visceral. Além disso, influencia no sistema nervoso autônomo, regulando a ação simpática e parassimpática. Bem como guia a frequência do fluxo do líquor pelo sistema nervoso central, dando origem ao movimento respiratório primário (mrp). @KineticFunctional 57 A relação entre a respiração e o movimento respiratório primário no crânio é direta. O que se diferencia é a frequência. Pois, a frequência respiratória normal é de 12 a 20 incursões respiratórias por minuto, em repouso, para um adulto. O movimento respiratório primário normal é 6 a 12 ciclos por minuto. Cada ciclo envolve o movimento de flexão e extensão do crânio que dura em média 3 segundos cada fase. O movimento respiratório primário é fundamental para a funcionalidade do sistema nervoso central, principalmente quando se fala em produção de neurotransmissores. Quando o movimento respiratório primário está abaixo de 6 ciclos é muito comum encontrar casos de depressão. Já, acima de 12 ciclos, possibilita aparecimento de casos de ansiedade, hiperatividade e déficit de atenção. A harmonização do sistema craniossacral e da respiração considera- se relevante para o equilíbrio biopsicossomático. @KineticFunctional 58 Quais são os Padrões Posturais? Na posição bípede, o corpo humano sofre constantemente a ação da força da gravidade. Assim, a atividade gravitacional irá influenciar na função morfológica, anatômica e funcional da estrutura corporal. Como sabemos da conectividade existente entre o crânio e os pés, ocorre um encadeamento biomecânico postural em resposta antigravitacional para mantermos o equilíbrio no desequilíbrio, através da orientação dada pelos captores posturais. @KineticFunctional 59 @KineticFunctional 60 Bloqueios Posturais Perna mais curta As pernas mais curtas existem, mas não se deve acreditar em sua existência toda vez que a pelve bascular. Pensando assim precisamos identificar se a perna curta é verdadeira ou falsa. A perna curta falsa está relacionada com uma pisada valga ou vara assimétrica. Essa assimetria provoca uma anteversão do ilíaco de um lado do corpo, alongando a perna, e retroversão do ilíaco contralateral, encurtando a perna pela tensão dos músculos piriforme e quadrado lombar, respectivamente. Sua correção se dará por técnicas manipulativas. Já a verdadeira perna mais curta vai estar associada a um crescimento assimétrico dos membros inferiores que estão ligados ao desequilíbrio postural e a lei de Delpech. Essa lei afirma que durante o crescimento toda a pressão aumentada sobre um membro inibe o crescimento nesse membro; o inverso também é verdadeiro, toda diminuição de pressão estimula o crescimento. Achados clínicos são: hipoconvergência ocular contralateral a perna mais curta; báscula pélvica é frequentemente homolateral e persiste após a reprogramação; báscula pélvica mais importante que a escapular; desalinhamento das fossetas de Michaelis; no teste da perna mais curta, a espinha ilíaca póstero-superior estará mais baixa ipsilateral a perna mais curta e pisada desarmônica. A verdadeira perna mais curta poderá ser adquirida. Sua etiologia pode ser genética, traumática ou cirúrgica. A perna mais curta genética aparece durante o desenvolvimento motor e de crescimento de forma automática de acordo com a hereditariedade. Já a traumática surgirá devido a fratura óssea. Sempre que há fratura, os macrófagos reabsorvem os fragmentos ósseos e preparam a área para que os osteoblastos consolidem a fratura, gerando encurtamento ósseo. Quando se realiza prótese de joelho e de quadril pode ocorrer, como consequência, uma discrepância de membros, normalmente o lado protetizado tende a ser mais longo. Quando se descobre a verdadeira perna mais curta na infância é fundamental reprogramar o sistema tônico postural e corrigir a perna mais curta através de palmilhas posturais. O equilíbrio permanente induzido pelas palmilhas provocarão a diminuição da pressão do membro curto e desta forma estimulará o crescimento. Assim, a discrepância será automaticamente corrigida no momento dos estirões de crescimento. Já se a perna mais curta foi encontrada na fase adulta, será necessária a correção da totalidade do encurtamento e pelo resto da vida. Uma perna mais curta não corrigida durante a reprogramação @KineticFunctional 61 retroalimenta a desarmonia podal, a rotação e báscula pélvica e escapular e dores lombares. Cicatrizes Patológicas A pele e seus anexos surgiram a partir da ectoderma no desenvolvimento embrionário, juntamente com o sistema nervoso. Sendo assim, a pele é um elemento fundamental de exterocepção e é igualmente o suporte dos meridianos e dos pontos de acupuntura. Logo, a perda da continuidade do circuito sensorial da pele por uma cicatriz patológica provoca efeitos que podem desregular o organismo
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