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AULA 4 INOVAÇÃO ABERTA E REDES COLABORATIVAS PARA INOVAÇÃO INTRODUÇÃO Você já observou que um casamento, quando selado, tem alianças? Isso significa que há um compromisso entre eles, que tem objetivos em comum. Nesta etapa, vamos observar que as empresas fazem alianças estratégicas para conseguir crescer e alcançar alguns objetivos. Também existem espaços para a criação, como as incubadoras e os parques tecnológicos. Isso porque as organizações, assim como as empresas, precisam viver em sociedade, com trocas de informação e conteúdo. Nesta etapa, vamos estudar os seguintes temas: 1. Alianças estratégicas; 2. Espaços de criação: parques tecnológicos e incubadoras; 3. Será que sozinho é possível? 4. A inovação é uma proposta nacional? 5. A propriedade intelectual e os direitos sobre uma ideia. TEMA 1 – ALIANÇAS ESTRATÉGICAS O mercado exige de modo acelerado produtos baratos, com qualidade, tecnologia e inovação. O mercado é muito dinâmico e cada vez fica mais difícil para uma empresa conseguir resolver todas essas demandas totalmente sozinha. A globalização e a internacionalização das empresas abriram portas para uma nova realidade, que são as alianças estratégicas, que foram muito difundidas nos últimos anos, proporcionando expansões internacionais, porém, para terem sucesso, elas devem estar previstas no planejamento estratégico da empresa (Nascimento; Labiak Junior, 2011) As alianças estratégicas são parcerias entre duas ou mais empresas que unem esforços para alcançar uma atividade em comum, como a inovação que exige um projeto para investimento financeiro com a mobilização de recursos. As alianças estratégicas são uma alternativa para as empresas desenvolverem inovação com baixo custo, redução de riscos financeiros, agilidade de tempo para lançar os novos produtos no mercado. Segundo Hoskisson et al. (2009), as alianças facilitam o compartilhamento de riscos e recursos para entrar em outros mercados internacionais, sendo uma estratégia que permite as empresas menores atuarem como players no mercado globalizado. 2 Carstens e Fonseca (2019) citam como um exemplo de aliança estratégica que se a empresa está pensando em agregar valor ao produto por meio da inovação da geolocalização, é necessário ter know-how de tecnologia. Se a empresa não possui esse conhecimento, ela deve buscar parcerias, alianças com empresas que tenham esse domínio. Por outro lado, a empresa que está oferecendo o conhecimento tecnológico também será beneficiada, pois está abrindo seu mercado por meio da tecnologia. Segundo os autores, o conhecimento e a tecnologia são as principais contribuições nesse processo de parceria. Eiriz (2001, citado por Nascimento; Labiak Junior, 2011) descreve que a predominância de cooperação pode ocorrer em diversas áreas, como na comercial, na técnica (produção) ou mesmo na financeira, desmembrando alguns tipos de alianças conforme demonstrado no Quadro 1: Quadro 1 – Tipos de alianças estratégicas Predomínio de Cooperação ▪Grupo de exportadores Comercial ▪Acordo de distribuição ▪Acordo de representação ▪Central de compras ▪Franquia ▪Assistência comercial ▪Formação e/ou assistência técnica Técnico ou de produção Saiba mais Know-how: palavra de origem inglesa que se refere a capacidade de uma empresa ou pessoa saber fazer uma tarefa, ter conhecimento técnico e prático, ter experiência.Várias são as possibilidades para a criação de uma aliança estratégica. ▪Subcontratação ▪Acordo de produção conjunta ▪Acordo de P&D ▪Licenciamento de patentes ▪Aquisição de empresa Financeiro ▪Participação minoritária em empresa ▪Joint Venture ▪Fusão Fonte: Nascimento; Labiak Junior, 2011, p. 46 Tipos de alianças estratégicas 3 1.1 Joint ventures As joint ventures são uma das possibilidades de aliança estratégicas, uma parceria temporária, ou não, entre duas empresas normalmente com nacionalidades diferentes para alcançar um objetivo específico, combinando recursos e potencializando resultado. A joint venture normalmente é estabelecida por meio de uma nova entidade jurídica independente das duas anteriores e pode ser o montada em outro país com ativos independentes (Fleury; Fleury 2000). As joint ventures possibilitam a transferência de cultura entre as empresas participantes. As parcerias por meio de joint venture são mais seguras que fazer aquisições, visto que as empresas fazem acordos para alcançar um mercado específico em outro local. Saiba mais Veículos elétricos – um exemplo de joint venture As empresas Honda Motor CO. e Hitachi Automotive Systems anunciaram em fevereiro de 2017 a criação de uma joint venture que tem como foco a fabricação e a criação de veículos elétricos, em um projeto na cidade japonesa Ibaraki que envolve o investimento de ¥ 5 bilhões de Iens (equivalente a cerca de US$ 45 milhões de dólares). Fonte: Carstens; Fonseca, 2019. 1.2 Desafios das parcerias As parcerias e as alianças apresentam desafios, e nem tudo são flores nesse processo de compartilhamento de ideias, de conhecimento, de know-how, de dinheiro... Conflitos de interesses podem surgir quando as empresas atuam no mesmo segmento, correndo o risco de acesso a informações estratégicas e dados confidenciais. Os conflitos ocorrem quando há uma busca por resultados diferentes e processo desigual de troca de informação. Esse é um dos principais motivos de desequilíbrio e de rompimento da parceria (Carstens; Fonseca, 2019). A parceria deve acontecer de modo equilibrado, com comprometimento de ambas as partes. A Fábula da parceria do porco e da galinha é um exemplo de envolvimento e comprometimento. Conta a história que um fazendeiro propôs a um porco e a uma galinha um desafio para cada um fazer um café da manhã diferente de ovos com bacon. Ambos estavam motivados com o desafio. 4 Entretanto, com o tempo, o porco percebeu que a galinha colocava os ovos somente sem envolvimento, sem nenhum comprometimento, enquanto ele tinha que ceder uma parte de si cada vez para entregar o bacon, ou seja, ele tinha comprometimento. empresas, em uma relação na qual todos ganham, ninguém perde. Essa relação tem que ser mais gratificante do que tentar inovar, resolver o problema de modo isolado. A parceria tem que oferecer confiança, baixo risco, alta capacitação, gerenciamento estratégico do marketing e uma determinação específica do objetivo que se pretende alcançar. TEMA 2 – ESPAÇOS DE CRIAÇÃO: PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS Observamos que são extremamente necessárias a inovação e as parcerias para o crescimento e a manutenção da empresa. Entretanto, fica a pergunta: como descobrir e estabelecer as parcerias? Uma possibilidade são os parques tecnológicos e as incubadoras tecnológicas, que são espaços organizados para fomentar apoio às pequenas e médias empresas na inovação, normalmente vinculadas a instituições acadêmicas, ou a alguma iniciativa do poder público para fomentar a inovação e as parcerias. Os parques tecnológicos são espaços geográficos que concentram empresas, instituições de ensino, centros de pesquisas e podem contar com o apoio e a parceria de programas governamentais que atuam de modo colaborativo para promover a inovação na área tecnológica. O objetivo é aumentar a competitividade das empresas envolvidas, por meio da troca de conhecimento e de tecnologia, com a criação de um ambiente de alta qualidade para atividade de pesquisa (Decicino, S.d.). Um dos exemplos mais conhecidos de polos de desenvolvimento é o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), por ser lá que surgiram empresas inovadoras como a Apple, Facebook, Google, Netflix, entre outras. Entretanto, o Brasil também 5 conta com diversos parques tecnológicos. Desde 1990 o país tem investido na formação desses espaços para aumentar a competitividade dos produtos nacionais no mercado mundial. Atualmente, há 28 parques tecnológicos na regiãoSul do Brasil, 19 no Sudeste, 7 no Nordeste, 3 no Centro-Oeste e 1 na região Norte, segundo informações do Ministério da Ciência, Inovação e Tecnologia (Conheça..., 2021). Dentre eles destacam-se (Henrie, 2020): o Parque Tecnológico do Porto Digital, em Recife; Parque Tecnológico de San Pedro Valley, em Belo Horizonte; Parque Tecnológico do Rio de Janeiro; Parque Tecnológico do Vale da Eletrônica Santana do Sapucaí (MG); Parque Tecnológico de São José dos Campos; Parque Tecnológico Sapiens, Florianópolis. Dentro da realidade brasileira, destaca-se a empresa Embraer, que surgiu em 1969, reconhecida internacionalmente, fruto da parceria do governo brasileiro com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com o objetivo de implementar uma indústria aeronáutica no país (Embraer, S.d.). Atualmente a empresa está na bolsa de valores, é uma potência e uma referência mundial no setor. 2.1 Incubadoras tecnológicas O conceito conhecido de incubadora é o das maternidades, que têm como objetivo manter o recém-nascido vivo, até ele criar força e resistência para conseguir sobreviver fora da incubadora. No contexto empresarial, o propósito é simular como uma incubadora Saiba mais A Fábula do porco e da galinha é um clássico utilizado nas aulas de administração, demonstrando a importância do comprometimento para o sucesso da organização.As alianças e as parcerias devem ter comprometimento de ambas as empresarial acolhe, estimula, fortalece e prepara as pequenas empresas para que elas possam crescer e se desenvolver. É um espaço dentro da empresa, da Universidade, ou mesmo do parque tecnológico que permite a criação de incubadas, oferecendo o suporte tecnológico, o conhecimento, o know-how, permitindo a empresa criar estrutura própria para depois poder ganhar autonomia sozinha no mercado. Uma iniciativa empresarial que surgiu incubada têm grandes chances de expansão e crescimento, visto que se utilizou de toda a experiência da empresa acolhedora (Incubadora..., 2017). Carstens e Fonseca (2019) explicam que surge um novo termo com aderência ao conceito incubadora, porém ligado à economia criativa: as aceleradoras, que atuam de modo similar as incubadoras, porém com foco no crescimento rápido, por meio da identificação de oportunidades no mercado, conhecidas como startups. As termo startup significa começar algo novo. Segundo Kolbe (2021), as startups são empresas em fase inicial, possuem propostas inovadoras e um 6 grande potencial de crescimento, conhecidos por utilizar tecnologia e o meio digital para suas operações. Airbnb, que revolucionou a forma como as pessoas se hospedam e vivem suas experiências quando viajam, e a Dropbox, que mudou a maneira de armazenar dados. No Brasil, destacam-se as empresas Nubank, Guia bolso, Quinto Andar, Loggi, entre outras (Startups..., 2022). TEMA 3 – SERÁ QUE SOZINHO É POSSÍVEL? Aristóteles (384 – 322 a.C.) dizia que “O homem é por natureza um animal social”. Pesquisas sociológica realizadas com bebês mostram que, quando não há interação social, o bebê morre. Triste, mas é verdade! No contexto empresarial não é diferente. As empresas necessitam das outras para sobreviver em amplas dimensões: desenvolver parcerias de inovação, fornecedores de matéria-prima, transporte, mão de obra, divulgação, em suma, as empresas, assim como os seres humanos, são ambientes abertos e sociais, precisam de interação. No contexto sociológico, a cooperação é uma forma de interação social, na qual diferentes grupos, pessoas ou comunidades trabalham para alcançar um objetivo em comum (Oliveira, 2000). Segundo Guibert (1996, citado por Nascimento; Labiak Junior, 2011), a cooperação no contexto organizacional é um conjunto de ações complementares estabelecidas por empresas interdependente, objetivando ganhos partilhados ou individuais, que envolve três aspectos importantes: complementaridade, interdependência e partilha de resultados. Segundo os autores, a interdependência demonstra o grau de confiança e de comprometimento na qualidade da relação interpessoal e interorganizacional. Parcerias para alcançar objetivos em comum dependem de motivação e interesse, que demanda recursos, objetos, tempo, dinheiro, entre outros, que justifique a existência da relação. Em suma, é necessário confiança no parceiro, pois dele depende parte dos recursos. Saiba mais Startups são empresas orientadas para a execução de ideias disruptivas, escaláveis, em um cenário de muita incerteza. Ao assumir riscos, elas também apresentam grandes chances de mudança para o mercado (8 Exemplos..., 2022). Dentre as startups famosas que passaram por aceleradoras, destaca-se a 7 As empresas com êxito e sucesso no mercado trabalham em cooperação com outras. Segundo Nascimento e Labiak Junior (2011), existem riscos em entrar em um processo de cooperação, pois a empresa, ao atuar em coletividade, perde o total domínio da situação, entretanto é necessário para produzir projetos. Segundo Le Cardinal et al. (citados por Nascimento; Labiak, 2011), vários são os motivos que impedem uma empresa de produzir um projeto sozinho: • Necessidade quantitativa: é necessário mais pessoas para atuar no projeto; • Necessidade qualitativa: falta know-how para desenvolver o projeto; • Necessidade legal: por uma questão de legislação é necessário a participação de mais atores sociais; • Necessidade de informação, fornecimento de materiais ou energia: parcerias comerciais, com expectativa de retorno financeiro; • Necessidade psicológica: apoio para avançar com o projeto Suprir a necessidade tem por objetivo reduzir a chance de fracasso que traria sérias consequências e prejuízos para a organização. A busca por parcerias empresariais nem sempre diz respeito à necessidade de outras empresas para alcançar seus objetivos; muitas vezes busca-se a cooperação para facilitar e trazer conforto na realização do seu projeto (Nascimento; Labiak Junior, 2011), que se caracteriza por compartilhamento de esforços; realização mais rápida de projetos, com melhor qualidade e precisão. Segundo Eiriz (2001, citado por Nascimento; Labiak Junior, 2011, p. 44), algumas características de cooperação trazem para a empresa uma importância de dimensão estratégica: • Pode ser resultado de um conjunto coerente de decisões; • Desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis; • Causa impacto organizacional a longo prazo; • Afeta decisões operacionais; • Envolve níveis hierárquicos; • Envolve todas as atividades da organização. Lembrando da frase atribuída a Aristóteles “uma andorinha só não faz verão” (Torres, 2009), as empresas também precisam da troca de outros atores sociais para crescer e se desenvolver. As empresas são organizações vivas, dinâmicas, que se adaptam ao meio e às necessidades para sobreviver. 8 TEMA 4 – INOVAÇÃO É UMA PROPOSTA NACIONAL? Observamos que trabalhar de modo colaborativo é fundamental ao processo de crescimento e transformação. O trabalho colaborativo para a inovação se diferencia de um país para o outro, conforme sua realidade. Observa- se que o desenvolvimento do país estimula e permite mais parcerias inovadoras. Assim, quanto mais desenvolvido e melhor o sistema educacional, maior é a tendência é que o sistema nacional seja inovador. Segundo Lundvall (2010, p. 2, citado por Carstens; Fonseca, 2019), um Sistema Nacional de Inovação (SNI) é definido como “elementos e a relação entre estes elementos que interagem na produção, difusão e uso de conhecimentos novos e economicamente uteis”. Um sistema que busca a inovação envolve os mais diversos atores sociais, como a indústria, os órgãos de pesquisa, as incubadoras, os órgãos governamentais e os financiadores, entre outros. Todos estão envolvidos com um objetivo em comum, participando de um projeto coletivo, cada qual com a sua parcela de contribuição, por meio de novas tecnologias, trocas de informação,regulação; em suma, há uma busca de algo em comum, com um trajeto que favorece o desenvolvimento nacional e que atenda à necessidade do mercado. Um sistema de inovação favorece a troca de informações, a troca de aprendizado e a troca de novas tecnologias e os atores sociais envolvidos. Segundo Carstens e Fonseca (2019), a realidade de inovação dos países emergentes se diferencia dos países já desenvolvidos, por exemplo, no Brasil (bem como em países subdesenvolvidos) o SNI é pouco eficiente se comparado com países desenvolvidos, como na Alemanha que tem um processo de inovação maduro e estruturado, com a participação de muitas organizações e parcerias do poder público, entre outros atores que buscam oportunidade para inovar. A capacidade de inovação no Brasil é baixa, com fraco desempenho. O país depende muito da tecnologia da estrangeira. O Brasil é conhecido por ser um país que produz em volume, porém com baixa capacidade de inovação tecnológica. Se olharmos para a indústria brasileira, observamos que o país recebe indústrias multinacionais que aqui se instalam para utilizar a mão de obra. Produzir no Brasil ainda é barato se comparado com os países desenvolvidos. Pela extensão territorial e pelo número de habitantes, o Brasil tem pouca representatividade com indústrias referências no mercado internacional – uma das 9 empresas de destaques é a Embraer. Essa realidade é consequência de uma educação de baixa qualidade, pouco voltada para a inovação e para o desenvolvimento tecnológico. Saiba mais Inovação no Brasil Segundo pesquisa da CNI, um a cada três empresários acredita que a indústria brasileira precisará dar um salto de inovação nos próximos cinco anos para garantir a sustentabilidade dos negócios em curto e longo prazos. Para 31%, o grau de inovação da indústria será alto ou muito alto nos próximos cinco anos, principalmente por necessidade. A pesquisa também mostra que 83% das indústrias precisarão de mais inovação para crescer ou mesmo sobreviver no mundo pós- pandemia, sobretudo em sua linha de produção. E apesar das startups terem deslanchado em 2020, ainda tem muito mercado para crescer, pois 90% das indústrias grandes e médias brasileiras NUNCA trabalharam com uma startup. Ao longo dos anos os governos não deram prioridade para políticas, investimentos e o consequente desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Retrato dessa realidade é que ocupamos apenas o 62o lugar no Índice Global de Inovação no ranking que abrange 131 países, posição incompatível com o fato de sermos a 9a principal economia do mundo. Os dez mais bem colocados do índice são: Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Singapura, Alemanha e Coreia do Sul. Os países da OCDE investem em média 2% do PIB em P&D. Já os países considerados mais inovadores vão bem além. A Coreia do Sul destina 4,3% do PIB, Israel – 4,2% e o Japão – 3,4%. Países competitivos no cenário global têm indústria forte e elegeram a inovação como estratégia de desenvolvimento. É isso que o Brasil precisa! Essas nações priorizam investimentos em ciência, tecnologia e inovação e apostam fortemente em políticas com visão de futuro a fim de fortalecer a qualidade da educação e o sistema de financiamento e fomento à inovação. Como tornar a inovação uma realidade “Um ponto importantíssimo para que a indústria possa investir mais é a aprovação de marcos legais que tragam segurança jurídica para atrair investidores para o Brasil”, diz Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI. 10 Outro fator essencial para o aumento dos investimentos é o descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal ferramenta de financiamento à inovação do país. Em 2020, pouco mais de 10% dos R$ 680 milhões, apenas 13% dos R$ 6,8 bilhões previstos no orçamento para essa área foram liberados pelo governo federal. O Projeto de Lei Complementar (PLP) n. 135/2020, que impede a retenção de verbas destinadas ao fundo, foi aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro, mas o principal ponto que trata do descontingenciamento dos recursos do Fundo foi vetado pelo presidente. Esperamos que o Congresso Nacional derrube o veto. “É preciso agir com rapidez, pois diante do ambiente de crescente competição internacional, a inovação será um grande diferencial com peso, cada vez maior, para o desenvolvimento de um país. Fortalecer a indústria e priorizar a inovação serão peças-chave para o crescimento e o desenvolvimento do Brasil”, completa Gianna Fonte: Inovação..., 2021. TEMA 5 – PROPRIEDADE INTELECTUAL E DIREITOS SOBRE UMA IDEIA A criação e o desenvolvimento de uma ideia dão ao responsável o direito de obter recompensa pela própria criação por um determinado período. O direito à propriedade intelectual é a forma pela qual as empresas protegem suas inovações, resguardando-se em caso plágio ou uso indevido ou não autorizado de tal propriedade (O papel..., 2020). A propriedade intelectual é a área do direito que garante aos inventores ou responsáveis, por meio de leis, o direito por qualquer produção do intelecto – seja nos domínios industrial, científico, literário ou artístico (Se tem empreendedorismo..., 2015). O objetivo da proteção intelectual é guardar o know- how da empresa. Segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), o dispositivo da propriedade intelectual se divide em duas categorias (Se tem empreendedorismo..., 2015): • Propriedade Industrial que inclui as patentes (invenções), marcas, desenho industrial, indicação geográfica e proteção de cultivares; 11 • Direitos Autorais que abrangem trabalhos literário e artísticos, e cultura imaterial como romances, poemas, peças, filmes, música, desenhos, símbolos, imagens, esculturas, programas de computador, internet, entre outros. Segundo Carstens e Fonseca (2019, p.230), são três os objetivos da proteção intelectual: • Proteção jurídica do esforço inovativo dispendido para a criação de um bem ou serviço proveniente de uma ideia inovadora; • Monopólio provisório, normalmente de 20 anos, para a utilização da inovação, com legitimação para o criador explorar exclusivamente a invenção durante esse lapso temporal; • Garantia de retorno financeiro pelo trabalho de criação com base em uma ideia, o que estimula a atividade de pesquisa no sentido de prosseguir as buscas de mais inovações, acirrando o combate e estimulando a competitividade. No Brasil a Constituição Federal, em seu art. 5o, inciso XXIX, informa que a lei garantirá “aos autores de inventos industriais privilégio temporário para a sua utilização, bem como proteção e criações industriais, à propriedade de marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do país” (Brasil, 1988). A defesa da propriedade criativa permite ao criador a obtenção de patentes garantida no Brasil pela Lei da Propriedade Industrial (LPI), a Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996 (Brasil, 1996). Os avanços da tecnologia e da inovação demonstram que a lei necessita de atualização, pois a propriedade intelectual e relevante para a inovação do país. Para registrar uma marca, uma ideia, o primeiro passo é realizar um cadastro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI, 2019), que é um órgão do governo vinculado ao Ministério da Economia. O registro de uma ideia, de uma marca, nome comercial, produtos, cores ou serviços pode ser realizado no Brasil com validade em outros países, conforme o Protocolo de Madri. Saiba mais INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Protocolo de Madri. INPI, 8 jul. 2019. Disponível em: <https://www.gov.br/inpi/pt- br/servicos/marcas/protocolo-de-madri>. Acesso em: 13 out. 2022. 12 Saiba mais Protocolo de Madri Basicamente, é um processo que garante a proteção de empresasem territórios internacionais e que pode ser realizado tanto individualmente com o Estado de interesse, quanto em diversos países por meio do Protocolo de Madri. Também chamado de Sistema de Madrid, esse tratado internacional tem base legal e determina que uma empresa não precisa mais registrar sua marca em cada um dos países para onde exporta seus produtos e serviços. A adesão ao Protocolo de Madri também permite, desde 2019, que as empresas brasileiras façam o registro internacional de suas marcas, com a contrapartida de que as marcas estrangeiras aqui registradas gerem renda e tributos no País. No total, 120 países fazem parte do acordo, incluindo potências como Estados Unidos e China. Além disso, os países que assinaram o tratado representam 80% da economia mundial, o que significa que ótimas mudanças para cenário de exportação local podem acontecer. Fonte: Registro..., 2021. 5.1 Registros e patentes tecnológicas Quando você é proprietário de um imóvel ou um bem, você tem uma nota fiscal, um registro em cartório certificando que você é o proprietário legal. O processo é similar ao que se refere uma ideia, uma patente. O que difere é o processo para a obtenção deste registro, que exige a observação e os registros das etapas legais que evidenciam que houve um processo de criação e inovação (Carstens; Fonseca, 2019). O registro ocorre mediante a obtenção da carta patente do INPI, que é liberado com base na demonstração de múltiplos registros que demonstrem e comprovem como surgiu o processo de inovação, sem essas evidencias o registro se torna inviável. Após a análise, o INPI oficializa publicamente quem é o proprietário da ideia. De modo geral, o proprietário da ideia é o detentor exclusivo por 20 anos de uso e reprodução de seu bem e fica resguardado conforme as proteções legais outorgadas pelo Estado. Segundo Tidd e Bessant (2015, citado por Carstens; Fonseca 2019), alguns elementos validam a natureza jurídica da inovação: 13 • Novidade: o primeiro que registrar a inovação fica com a patente, mesmo que não tenha sido o primeiro a criar; • Etapa inventiva: a inovação pode ser uma das etapas de um processo produtivo, da forma de produzir; • Matéria patenteável: certificar-se que a inovação pertence a categoria que pode ser patenteado, em alguns países programas e matérias primas não podem ser patenteados. • Divulgação clara e completa: deixar registrado publicamente a inovação. Se você tem uma grande ideia, ou já fez alguma inovação, seguem algumas dicas para fazer o registro junto ao INOI. Saiba mais Guia básico para registrar uma patente – Instituto Nacional da Propriedade Industrial 1. Entenda: ter a patente de um produto significa ter o direito de impedir terceiros de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar, sem o seu consentimento. Existem dois tipos de patente: a. Patente de Invenção (PI): para novas tecnologias, sejam associadas a produto ou a processo, como um novo motor de carro ou uma nova forma de fabricar medicamentos; b. Patente de Modelo de Utilidade (MU): para novas formas em objetos de uso prático, como utensílios e ferramentas, que apresentem melhorias no seu uso ou na sua fabricação. 2. Faça buscas: antes de pedir sua patente verifique se ninguém desenvolveu algo parecido com sua invenção ou seu modelo de utilidade. O INPI só poderá te dar a patente se ninguém tiver inventado antes um produto ou processo idêntico ao seu. 3. Inicie o pedido: se depois de fazer as buscas você achar que sua invenção ou seu modelo de utilidade realmente são diferentes do que já existe, então é hora de começar a escrever seu pedido. O pedido de patente é composto pelos seguintes documentos: 14 • Evidências. 4. Pague a GRU: Verificar no site Fonte: INPI, S.d. • Relatório descritivo; • Quadro reivindicatório; • Resumo; • Desenhos (se for o caso); 15 REFERÊNCIAS BALESTRIN, A.; VERSCHOORE, J. Redes de cooperação empresarial. Porto Alegre: Grupo A, 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 maio 1996. CARSTENS, D. D. S; FONSECA, E. Gestão da tecnologia e inovação. Curitiba: InterSaberes, 2019. CONHEÇA 8 polos tecnológicos no Brasil e sua importância para a inovação. Fundação Telefônica Vivo, 26 out. 2021. Disponível em: <https://fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/conheca-8-polos- tecnologicos-no- brasil-e-sua-importancia-para-a-inovacao/>. Acesso em: 13 out. 2022. DECICINO, R. Parques tecnológicos – Parceria entre governo, empresas e universidades. UOL, S.d. 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