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Tópicos em Direito 1 Sumário 03 TÓPICO 10 – Direitos humanos ......................................................................................05 1 Conceito de Direitos Humanos e Dignidade da Pessoa Humana....................................05 2 Breve evolução histórica dos Direitos Humanos ...........................................................06 3 Características dos Direitos Humanos ........................................................................08 4 Classificação dos Direitos Humanos ..........................................................................09 5 Organização das Nações Unidas – ONU ...................................................................11 6 Sistemas de proteção dos Direitos Humanos (global e regional) ....................................13 7 Principais tratados ratificados pelo Brasil no Sistema Global .........................................16 8 Principais tratados ratificados pelo Brasil no Sistema Interamericano..............................17 9 A incorporação dos tratados internacionais de Proteção dos Direitos Humanos ao Direito Brasileiro .......................................................................................................18 10 A supralegalidade dos tratados sobre Direitos Humanos no Ordenamento Jurídico Brasileiro ......................................................................................19 11 Os Direitos Humanos observados na Constituição Federal ...........................................20 12 A federalização de crimes graves contra os Direitos Humanos.......................................21 13 As Ações Afirmativas, ou Discriminações Positivas ........................................................22 14 A eficácia vertical e horizontal dos Direitos Fundamentais ............................................24 15 O Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Estatuto de Roma ............................................25 04 Laureate- International Universities Tópico 10 05 1 Conceito de Direitos Humanos e Dignidade da Pessoa Humana Os Direitos Humanos se fundamentam em um sistema de valores universais e comuns que são dedicados a proteger a vida do ser humano e garantir a possibilidade do seu desenvolvimento pleno. Os Direitos Humanos encontram-se hoje protegidos por normas e padrões internacionais e justi- ficam-se por meio de duas teorias: a Teoria do Jusnaturalismo e a Teoria do Positivismo. A Teoria do Jusnaturalismo, teorizado por Fábio Konder Comparato e Dalmo de Abreu Dallari, entende que os Direitos Humanos são direitos preexistentes ao próprio direito, pois não são fruto da criação do homem ou do Estado, mas sim algo inerente a todo ser humano em razão da sua condição humana e, portanto, não sendo constituídos, mas sim declarados, tendo em vista o seu caráter absoluto, atemporal e global. A Teoria do Positivismo, teorizado por Hans Kelsen e Norberto Bobbio, entende que apenas por meio da positivação, isto é, da previsão legal de tais direitos no ordenamento jurídico é que estes se tornam possíveis de serem protegidos e exigidos contra e pelo Estado, uma vez que a não previsibilidade destes no ordenamento jurídico poderiam lhe retirar a eficácia, pela ausência de caráter repressivo que seja capaz de garantir aos seres humanos a aplicação desses direitos. Os Direitos Humanos possuem três pilares (Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ou Solidarieda- de), dos quais resultam os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Os Direitos Humanos são constantemente confundidos com as expressões: Direitos do Homem ou Direitos Fundamentas, devendo-se observar que essas três expressões possuem bastante pro- ximidade, uma vez que têm a mesma essência e orientação, ou seja, visam preservar a vida humana. Os Direitos Humanos se distinguem do Direito do Homem e dos Direitos Fundamentais em razão de: a) Direitos do Homem = expressão de cunho jusnaturalista baseado no direito natural que proclama que os direitos protegidos pelos Direitos Humanos existem pelo simples fato da condição humana do ser vivo, tendo em vista serem inerentes a todo e qualquer ser humano em qualquer tempo e espaço, mesmo que não haja a sua positivação; b) Direitos Humanos = derivam dos Direitos do Homem e são positivados e declarados por Tratados e Convenções Internacionais, portanto, previstos na ordem internacional; c) Direitos Fundamentais = derivam dos Direitos Humanos e são positivados e declarados nas Constituições dos Estados, ou seja, quando os Tratados ou as Convenções Internacionais de Direitos Humanos são devidamente incorporados ao ordenamento jurídico de um Estado, portanto, previstos na ordem interna estatal. Direitos humanos 06 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 A dignidade da pessoa humana é inerente a todo ser humano, em razão da sua simples con- dição humana, podendo ser entendida como sendo a qualidade intrínseca que distingue cada ser humano dos demais e que o protege contra um tratamento degradante e discriminatório, a fim de preservar a sua integridade física e mental, bem como estabelecer as condições mínimas materiais necessárias para a sua sobrevivência e o seu pleno desenvolvimento. Em suma, temos: a) Direitos do Homem = aqueles não expressamente previstos no direito interno de um Estado, nem no direito internacional; b) Direitos Humanos = aqueles previstos em normas internacionais, como tratados e convenções; c) Direitos Fundamentais = aqueles previstos nos textos constitucionais dos Estados. 2 Breve evolução histórica dos Direitos Humanos Idade: Ano: Eventos: Antiguidade 4000 a.C até 476 d.C 1) Código de Hamurabi 2) Grécia Antiga 3) Lei das 12 Tábuas Média 476 d.C até 1453 d.C 1) Magna Carta de 1215 Moderna 1453 d.C até 1789 d.C 1) Petition of Rights em 1628 2) Tratado de Westphalia em 1648 3) Habeas Corpus Act em 1679 4) Bill of Rights em 1689 5) Declaração de Direitos do Povo da Vurgínia em 1776 6) Declaração de Independência e a Constituição de 1787 dos EUA Contemporâneo 1789 d.C até hoje 1) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 2) Constituição Mexicana de 1971 3) Constituição Alemã de Weimar de 1919 4) Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 5) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos em 1966 6) Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais em 1966 07 Em relação à Idade da Antiguidade, temos as seguintes observações: a) Código de Hamurabi = elaborado no século XVIII a.C. para regular a vida na sociedade Assírio babilônica (trazia regras, mas as pessoas eram tratadas de maneiras diferentes de acordo com a sua classe social: Awelum (Elite), Mushkenum (Média) e Wardum (Escravo marcado ou classe baixa); b) Grécia = surgem ideais de igualdade e liberdade; c) Lei das 12 Tábuas = elaborado para regular a vida do povo romano, dava publicidade para as normas; surge, então, o princípio da igualdade, uma vez que não fazia a distinção de classes como o Código de Hamurabi. Em relação à Idade Média, temos as seguintes observações: a) Magna Carta em 1215 = restringiu o poder do Rei João (João “Sem Terra”) da Inglaterra e é considerada por muitos autores como um dos instrumentos de referência dos Direitos Humanos, entretanto, cumpre ressaltar que essa carta não trouxe a proteção suficiente para os Direitos Humanos, tendo iniciado, de forma embrionária, a previsão de direitos fundamentais de primeira dimensão, uma vez que impôs ao Rei, pela primeira vez, submeter-se à Lei, bem como trouxe a previsão do direito à propriedade e do devido processo legal e do habeas corpus, observando que tais direitos estavam restritos apenas aos nobres ingleses, não sendo privilégio de todos os indivíduos. Em relaçãoà Idade Moderna, temos as seguintes observações: a) É marcado por um período de desenvolvimento dos Direitos Humanos, sendo considerada para muitos autores a conquista definitiva destes; b) Petition of Rights de 1628 = incorporou os direitos estabelecidos pela Magna Carta e estabeleceu que determinados atos necessitavam do consentimento do Parlamento; c) Tratado de Westphalia, ou Vestfália, de 1648, composto pelos Tratados de Munster e Osnabruck: pôs fim à Guerra dos Trinta Anos entre católicos e protestantes, inaugurando a concepção de Estado que conhecemos atualmente, tendo como principal resultado o Princípio da Igualdade Formal; d) Habeas Corpus Act de 1679 = destaca o direito à liberdade de locomoção a todos os indivíduos; e) Bill of Rights de 1689 = verifica-se os direitos protegidos pela Magna Carta e, ainda, a previsão de independência do parlamento inglês, surgindo o princípio da divisão dos poderes, bem como consagrou o direito de petição e proibiu a aplicação de penas inusitadas e cruéis; f) Declaração de Direitos do Povo da Virgínia – EUA de 1776 = de influência iluminista, sua importância encontra-se na previsão de que todo o poder emana do povo e em nome dele deve ser exercido, bem como prevê que todo ser humano é titular de direitos fundamentais, como direito à vida, liberdade, busca da felicidade; g) Declaração de Independência dos EUA e a Constituição de 1787 = consolidou barreiras contra o Estado, estabelecendo a tripartição dos poderes, assegurando direitos fundamentais como direito à igualdade, à liberdade, à vida, à propriedade e ao devido processo legal, bem como determinou a inalienabilidade dos Direitos Humanos; 08 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 Em relação à Idade Contemporânea, temos as seguintes observações: a) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 = elaborada na França e resultante da Revolução Francesa, sofreu influência da Declaração de Independência dos EUA e da Declaração do Povo da Virgínia, tendo como objetivo universalizar os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, rompendo com o Estado Absolutista e com os privilégios feudais; definiu que não há crime sem lei que o defina anteriormente, nem pena que não esteja fixada em lei; estabeleceu um Estado Laico, isto é, sem religião oficial; mas eram considerados cidadãos apenas os franceses do sexo masculino, de cor branca e proprietários de terras; b) Constituições do México de 1917 e Alemã de Weimar de 1919 = elevaram os interesses trabalhistas e previdenciários à mesma condição dos direitos fundamentais, afirmando os Direitos Humanos de segunda dimensão e inaugurando o Estado Social de Direito; c) Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH de 1948 e os Pactos Internacionais sobre Direitos Civis e Políticos, e sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966 = considerados os instrumentos normativos gerais do Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos e base de todos os demais Tratados e Convenções que versam sobre Direitos Humanos. 3 Características dos Direitos Humanos Os Direitos Humanos possuem características próprias que os distinguem de outros direitos e demonstram a sua abrangência e importância. São características dos Direitos Humanos: a) universalidade: todo e qualquer ser humano é sujeito ativo dos Direitos Humanos, independentemente de seu credo, raça, sexo, cor, nacionalidade, convicções e orientações, podendo pleiteá-los em qualquer foro nacional ou internacional; b) inviolabilidade: os Direitos Humanos não podem ser violados ou descumpridos por nenhuma pessoa, mesmo que seja uma autoridade; c) imprescritibilidade: os Direitos Humanos não prescrevem, isto é, não sofrem alterações com o decurso do tempo, uma vez que possuem caráter eterno; d) irrenunciabilidade ou indisponibilidade: os Direitos Humanos não podem ser renunciados por seus titulares, ou seja, os destinatários dos Direitos Humanos não podem abdicar, recusar ou rejeitar esses direitos que lhes pertencem, sendo nula de pleno direito qualquer manifestação de vontade nesse sentido; e) complementariedade: os Direitos Humanos devem ser interpretados em conjunto, uma vez que não há hierarquia entre eles, possuindo todos eles a mesma importância e o mesmo objetivo, o de proteger os seres humanos; f) historicidade: os Direitos Humanos se caracterizam por sua evolução ao longo da história da humanidade, vinculados ao desenvolvimento histórico e cultural dos seres humanos, no tempo e espaço; 09 g) inalienabilidade: os Direitos Humanos não são transferíveis, isto é, não podem ser alienados, transmitidos ou disponibilizados a título oneroso, nem gratuito por estarem fora do comércio; h) individualidade: os Direitos Humanos podem ser exercidos por apenas um indivíduo; i) indivisibilidade: os Direitos Humanos são indivisíveis, não podendo ser decompostos ou divididos sob pena de perderem sua natureza e sua configuração em razão de comporem um único conjunto de direitos; j) efetividade: para a proteção dos Direitos Humanos, devem ser criados todos os mecanismos necessários para a efetivação desses direitos, cumprindo ao Estado garantir a sua efetividade, no mínimo dos direitos civis e políticos; k) limitabilidade: os Direitos Humanos não são absolutos e podem sofrer limitações nos casos previstos em lei, como na prisão de um indivíduo que cometeu um crime, ou, ainda, sofrer restrições durante o período do estado de defesa e do estado de sítio; l) interdependência: os Direitos Humanos possuem recíproca dependência por estarem vinculados ou conectados uns com os outros, dependendo desta ligação entre eles para que a finalidade pretendida seja alcançada; m) vedação do retrocesso ou do regresso: aos Direitos Humanos, uma vez estabelecidos, não se admite o retrocesso para limitá-los ou diminuí-los, não podendo ser restabelecida a pena de morte após ser retirado da legislação; n) congenialidade: os Direitos Humanos são inerentes aos seres humanos, isto é, pertencentes ao indivíduo mesmo antes do seu nascimento e independentemente de positivados na legislação do Estado. 4 Classificação dos Direitos Humanos Os Direitos Humanos podem ser classificados de acordo com dois critérios: a) quanto às dimensões ou gerações (classificação temporal); b) quanto aos direitos e às garantias fundamentais (classificação legal). Em relação ao primeiro critério utilizado para a classificação dos Direitos Humanos, cumpre ob- servar que a doutrina indica que a expressão “dimensões de Direitos Humanos” é mais adequada que a denominação de gerações, pois esta última pode dar a falsa ideia de sobreposição de direitos, uma vez que não há sobreposição alguma entre os Direitos Humanos, não importando se de primeira, segunda, terceira ou quarta dimensão, todos gozam de mesma hierarquia em uma linha horizontal. 10 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 No quadro a seguir, dividimos os Direitos Humanos de acordo com a sua dimensão, indicando o valor, os direitos e algumas características importantes em cada uma das dimensões. 1a Liberdade Civis e Políticos a) Afastamento do Estado; b) Estado Liberal de Direito; c) Necessidade de um não fazer ou não agir do Estado. 2a Igualdade Econômicos, Sociais e Culturais a) Surgem com a Revolução Industrial do século XIX em razão das condições degrandes de trabalho; b) Estado Social de Direito; c) Necessidade de agir por parte do Estado na implementação das políticas públicas, sociais e culturais. 3a Fraternidade Ao Meio-Ambiente, à paz, ao desenvolvimento, à Comunicação, ao Patrimônio Comum da Humanidade a) Surgem para acompanhar a evolução rápida da ciência e tecnologia que submeteu a humanidade ao fenômeno da globalização econômica, sendo fortementeinfluenciados pela temática ambiental e a preocupação com a sustentabilidade. b) Caracterizam-se pela proteção aos interesses difusos e coletivos. 4a Solidariedade (Povo) À Informação, à Democracia, ao Pluralismo a) Surgem para proteger direitos que objetivam a preservação do ser humano; b) Orbitam sobre tais direitos assuntos relacionados à biossegurança, direito a democracia, inclusão digital etc. O segundo critério utilizado para a classificação dos Direitos Humanos observa-os de acordo com os direitos e as garantias fundamentais, conforme o quadro a seguir. Direitos Fundamentais Objetivos: Exemplos: Artigos na CF/88: Individuais e Coletivos Tutelar direitos das pessoas e de diversos grupos da sociedade. Direitos à vida, liberdade, igualdade, honra, dignidade e segurança. 5º Sociais Garantir condições materiais mínimas e indispensáveis para o desenvolvimento pleno do ser humano e fruição absoluta de seus direitos. Direitos à educação, à saúde, à moradia, à alimentação, ao trabalho, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, proteção à maternidade, à infância, à assistência, direitos trabalhistas etc. 6º ao 11º 11 Nacionalidade Tutelar os direitos resultantes do vínculo político-jurídico que conecta uma pessoa ao território do Estado. Direito dos nascidos no estrangeiro de adquirir a nacionalidade brasileira nos casos previstos na Constituição. 12º Políticos Estabelecer a participação popular no processo político por meio do exercício do cidadão na vida pública do Estado. Direito ao voto e aos instrumentos de participação popular (plebiscito, referendo, iniciativa popular). 14º Dos Partidos Políticos Tutelar o direito de reunião e organização solene e legal de um grupo de pessoas que possua uma afinidade ideológica de natureza política. Direito à criação de partidos políticos, ao regime democrático, ao pluripartidarismo e etc. 17º 5 Organização das Nações Unidas – ONU Foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945 em São Francisco, EUA, por 51 Estados, contando a Polônia que, apesar de não estar presente na Conferência, foi considerada membro originário. Sua sede foi estabelecida em Nova York, EUA. Substituiu a Liga das Nações, que tinha sido criada pelas Nações vencedoras da Primeira Guerra Mundial em 1919 pelo Tratado de Versalhes e que foi dissolvida em 1946. Ela surgiu da ne- cessidade de existir um órgão internacional de controle efetivo da paz e proteção dos Direitos Humanos, tendo em vista as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Seus objetivos principais são: a) manter a paz e a segurança internacional; b) tornar mais fortes os laços entre os países soberanos; c) garantir e proteger os Direitos Humanos; d) incentivar a autodeterminação dos povos e a autonomia das etnias dependentes; e) promover a cooperação na resolução dos problemas internacionais de caráter econômico, cultural e humanitário; f) promover o desenvolvimento socioeconômico das Nações. 12 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 Os principais órgãos da ONU são: a) Assembleia Geral; a.1) Conselho de Direitos Humanos; b) Conselho de Segurança; c) Conselho econômico e social; d) Secretariado; e) Corte Internacional de Justiça; f) Conselho de Tutela (Atividades Suspensas desde 1994). Assembleia Geral da ONU: é o principal órgão deliberativo da ONU, em que todos os Estados- -Membros da Organização (193 países) se reúnem para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do Planeta, tendo cada Estado-Membro direito a um voto, ou seja, existe total igualdade entre todos os seus membros, observando que os assuntos que fazem parte da pauta das Assembleias são: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões de or- çamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, Direitos Humanos etc. As resoluções – votadas e aprovadas – da Assembleia Geral funcionam como recomendações e não são obrigatórias. Suas principais funções são: a) discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU; b) discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na pauta do Conselho de Segurança; c) discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos jovens e das mulheres; d) discutir assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e Direitos Humanos; e) decidir as contribuições dos Estados-Membros e como essas contribuições devem ser gastas; f) eleger os novos Secretários- -Gerais da Organização. Conselho de Direitos Humanos: é um órgão criado pelos Estados-Membros da ONU objeti- vando reforçar a promoção e a proteção dos Direitos Humanos em todos os países, composto de 47 países eleitos, obedecendo a seguinte distribuição de cadeiras: 13 do grupo dos países africanos; 13 do grupo dos países asiáticos; 7 do grupo dos países do Leste europeu; 8 do grupo dos países da América Latina e do Caribe; e 7 do grupo dos países da Europa Ocidental e outros. Substituiu a antiga Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. Conselho de Segurança: é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais, composto de 15 membros, sendo 5 permanentes (Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China), que possuem o direito a veto, e 10 membros não permanentes (3 da África, 2 da Ásia, 1 da Europa Oriental, 2 da América Latina, 2 Europa Oriental e outros), eleitos pela Assembleia Geral por dois anos, observando que este é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho. Suas principais funções são: a) manter a paz e a segurança internacional; b) determinar a criação, continuação e o encerramento das Missões de Paz, de acordo com os capítulos VI, VII e VIII da Carta; c) investigar toda situação que possa vir a se transformar em um conflito internacional; d) recomendar métodos de diálogo entre os países; e) elaborar planos de regulamentação de armamentos; f) determinar se existe uma ameaça para o paz; g) solicitar aos países que apliquem sanções econômicas e outras medidas para impedir ou deter alguma agressão; h) recomendar o ingresso de novos membros na ONU; i) recomendar para a Assembleia Geral a eleição de um novo Secretário-Geral. Conselho Econômico e Social (ECOSOC): é o órgão coordenador do trabalho econômico e so- cial da ONU, das Agências Especializadas e das demais instituições integrantes do Sistema das Nações Unidas, formulando recomendações e promovendo atividades relacionadas com desen- 13 volvimento, comércio internacional, industrialização, recursos naturais, Direitos Humanos, condi- ção da mulher, população, ciência e tecnologia, prevenção do crime, bem-estar social e muitas outras questões econômicas e sociais. Suas principais funções são: a) coordenar o trabalho econômico e social da ONU e das instituições e dos organismos especializados do Sistema; b) colaborar com os programas da ONU; c) desenvolver pesquisas e relatórios sobre questões eco- nômicas e sociais; d) promover o respeito aos Direitos Humanos e às liberdades fundamentais. Secretariado: presta serviço a outros órgãos das Nações Unidas e administra os programas e as políticas que elaboram. Seu chefe é o secretário-geral, que é nomeado pela Assembleia Geral para um mandato de cinco anos, podendo ser reconduzido, seguindo recomendação do Con- selho de Segurança. São suas funções: a) analisar problemas econômicos e sociais; b) preparar relatórios sobre meio ambiente ou Direitos Humanos; c) sensibilizar a opinião pública internacio- nal sobre o trabalho da ONU; d) organizar conferências internacionais; e) traduzir todos os docu- mentos oficiais da ONU nas seis línguasoficiais da Organização; f) administrar as forças de paz. Corte Internacional de Justiça: é o principal órgão judiciário das Nações Unidas, com sede em Haia (Holanda) e composta de 15 juízes chamados “membros” da Corte e eleitos pela Assem- bleia Geral e pelo Conselho de Segurança em escrutínios separados. Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte – que é parte da Carta das Nações Unidas – podem recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos, podem pedir pareceres à Corte Internacional de Justiça, e a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros órgãos das Nações Unidas. A Corte Internacional de Justiça difere do Tribunal Penal Internacional (TPI), pois a primeira julga litígios entre os Estados enquanto o segundo julga apenas pessoas que cometeram os crimes previstos no Estatuto de Roma de 1998. O Brasil é um dos membros fundadores. Atualmente, a ONU possui 193 países-membros, e o seu nascimento foi o marco divisor do pro- cesso de internacionalização dos Direitos Humanos. A ONU é responsável pelo Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos, conhecido, por esta razão, como Sistema Onusiano de Proteção. 6 Sistemas de proteção dos Direitos Humanos (global e regional) A estrutura normativa do sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos é composta de instrumentos de caráter global e regional. Esses instrumentos de caráter global pertencem ao Sistema de Proteção das Nações Unidas (ONU, ou onusiano, ou global, ou internacional); e os instrumentos de caráter regional pertencem aos sistemas regionais: europeu, interamericano ou africano. O Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos possui instrumentos normativos de caráter: a) geral – endereçados a toda e qualquer pessoa humana, indistintamente (ex.: Declaração Universal de Direitos Humanos, Pacto Internacional de Direito Civil e Político, Pacto Internacional de Direito Econômicos, Sociais e Culturais); b) específico – endereçadas à prevenção da discriminação ou à proteção de pessoas ou grupos de pessoas particularmente vulneráveis que necessitam de tutela especial (ex.: convenções internacionais de combate à discriminação racial, discriminação contra as mulheres, contra à violação aos direitos das crianças etc.). 14 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 A ONU é a principal responsável pelos debates sobre assuntos que envolvem a proteção dos Direitos Humanos, sejam eles direcionados a todos os seres humanos (caráter geral) ou a grupos sociais (caráter específico). Os Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos se dividem nos sistemas Americano, Europeu e Africano. O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, do qual o Brasil faz parte, possui como código básico a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 e também possui normas de caráter geral e de caráter específico. Os dois sistemas, Global e Regional, coexistem e são complementares um do outro, uma vez que protegem e tutelam os mesmos Direitos Humanos, de forma que a falta de solução para um caso concreto no sistema interamericano ou qualquer outro Sistema Regional não impede que a vítima procure proteção dos seus direitos no Sistema Global, sendo a recíproca verdadeira. O Sistema Interamericano possui como instrumento básico de proteção do sistema a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, de 1969). Em relação ao Pacto de São José da Costa Rica, de 1969, deve-se observar que: a) entrou em vigor apenas em 18 de julho de 1978 com a 11ª ratificação; b) possui 82 artigos que preveem direitos civis e políticos; c) estabelece que a pena de morte nos Estados que tenham abolido tal pena não podem restabelecê-la, bem como nos países que ainda a admitem não podem aplicá-la para crimes políticos; d) restringe a possibilidade de prisão civil, salvo nos casos de alimentos; e) estabelece como órgãos a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. A Comissão Interamericana: a) possui sede em Washington DC, EUA; b) representa todos os membros da Organização dos Estados Americanos(OEA); c) é composta de sete integrantes de países diferentes e eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de quatro anos; d) possui atribuição consultiva, examinando as denúncias feitas por indivíduos ou entidades não governamentais de violações dos Estados que reconheçam a competência da Comissão; e) em razão de os instrumentos internacionais de Direitos Humanos terem um caráter subsidiário, é necessário para a apresentação de denúncia perante a Comissão a comprovação de interposição e exaurimento prévio de todos os recursos de jurisdição interna, salvo nos casos em que seja negado o acesso à vítima, ou ainda, impedido de esgotá-los ou pela demora injustificada de decisão que tutele o direito violado, demonstrando falha ou omissão das instituições nacionais; f) a Comissão, após conhecer da denúncia, se considerá-la pertinente, encaminhará à Corte Interamericana de Direitos Humanos. 15 A Corte Interamericana: a) possui sede em São José da Costa Rica; b) é composta de sete juízes de nacionalidades diferentes e eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de seis anos, cabendo a reeleição uma única vez; c) possui atribuição jurisdicional, consultiva e contenciosa, podendo apenas responsabilizar internacionalmente um Estado-parte da OEA, e nunca um indivíduo; d) possuem capacidade postulatória perante a Corte somente os Estados-partes e a Comissão Interamericana, observando os mesmos requisitos de admissibilidade para denúncias e apresentação de casos na Comissão; e) exceção: pessoas e organizações podem peticionar diretamente para a Corte Interamericana somente quando for relacionado a um caso já submetido à Corte e que o requerente solicite medidas provisórias; f) suas sentenças são definitivas e inapeláveis. O Pacto de São José da Costa Rica foi aprovado pelo Brasil pelo Decreto Legislativo nº 27/1992 e promulgado pelo Decreto nº 678/1992, possuindo como um dos principais reflexos na legis- lação interna a abolição da prisão do depositário infiel. Em síntese, as principais diferenças entre os dois sistemas são: Sistema Global (ONU ou Internacional): Sistema Regional (Interamericano): Carta da ONU – 1945 Carta da OEA – 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem – 1948 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - 1966 (normas autoaplicáveis – 1ª dimensão) Pacto de São José da Costa Rica – 1969 (Direitos Civis e Políticos – Normas autoaplicáveis – 1ª dimensão) Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – 1966 (normas programáticas – 2ª dimensão) Protocolo de San Salvador – 1988 (Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – normas programáticas – 2ª dimensão) Órgãos - ONU: a) Assembleia Geral; a.1) Conselho de Direitos Humanos; b) Conselho de Segurança; c) Conselho econômico e Social; d) Secretariado; e) Corte Internacional de Justiça; f) Conselho de Tutela. Órgãos – OEA: a) Comissão Interamericana; b) Corte Interamericana. 16 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 7 Principais tratados ratificados pelo Brasil no Sistema Global Tratado Internacional: Ano: Ratificado em: Natureza Jurídica: Observações: Carta das Nações Unidas Conferência de São Francisco – 1945 Assinada em 21.09.1945 pelo Brasil Decreto-Lei 7.935/1945 Promulgada pelo Decreto 19.841/1945 Declaração Universal dos Direitos Humanos Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 217-A Assinada em 10.12.1948 pelo Brasil Pacto Internacional dosDireitos Civis e Políticos Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 2.200-A de 1966 Ratificado em 24.01.1992 Decreto Legislativo 226/1991 Promulgado pelo Decreto 592/1992 Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 2.200-A de 1966 Ratificado em 24.01.1992 Decreto Legislativo 226/1991 Promulgado pelo Decreto 591/1992 Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 429 de 1950 Promulgado pelo Decreto 50.215/1961 Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 39/46 de 1984 Ratificado em 28.09.1989 Decreto Legislativo 4/89 Promulgado pelo Decreto 40/91 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 34/180 de 1979 Ratificado em 01.02.1984 Promulgado pelo Decreto 4.377/2002 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução 2.106-A de 1965 Ratificado em 27.03.1968 Convenção sobre os Direitos da Criança Assembleia- Geral das Nações Unidas: Resolução L 44 de 1989 Ratificado em 24.09.1990 Decreto Legislativo 28/90 Promulgado pelo Decreto 99.710/1990 Estatuto de Roma Criou o Tribunal Penal Internacional na Conferência de Roma de 17.07.1998 O Brasil assinou em 07.02.2000 Decreto Legislativo 112 de 2002 Promulgado pelo Decreto 4.388/2002 17 Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo Assembleia- Geral das Nações Unidas: de 30.03.2007 Decreto Legislativo 186 de 2008 Promulgado pelo Decreto 6.949/2009 8 Principais tratados ratificados pelo Brasil no Sistema Interamericano Tratado Interamericano: Carta da Organização dos Estados Americanos Assinada em 30.04.1948 em Bogotá – Colômbia Ratificada pelo Brasil em 1951 Decreto Legislativo 64/1949 Convenção Americana sobre Direitos Humanos Pacto de São José da Costa Rica de 1969 Decreto Legislativo 27/1992 Promulgada pelo Decreto 678/1992 Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos de 1985 Ratificado pelo Brasil em 20.07.1989 Protocolo de San Salvador 1988 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher Convenção de Belém do Pará Promulgada pelo Decreto 1973/1996 Atentar-se para as seguintes leis resultantes da incorporação dos tratados internacionais dos sistemas Global e Interamericano no ordenamento jurídico pátrio: a) Lei nº 7.716/1989 – descreve preconceito racial; b) Lei nº 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial; c) Lei nº 12.990/2014 – reserva de vagas em concursos públicos; d) Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – combate à violência doméstica; e) Lei nº 9.455/1997 – contra a tortura; f) Lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e Adolescente; g) Lei nº 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência. 18 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 9 A incorporação dos tratados internacionais de Proteção dos Direitos Humanos ao Direito Brasileiro Tratado é uma palavra usada para se referir a Cartas, Convenções, Pactos ou Acordos Interna- cionais celebrados entre sujeitos de Direito Internacional. A Convenção de Viena em 1969 disciplinou e regulou o processo de formação dos tratados internacionais celebrados somente entre Estados. Os tratados internacionais apenas se aplicam aos Estados-partes que aderirem de forma expres- sa, não criando obrigações para os demais Estados que não os aderiram. Um Estado-parte não pode invocar disposições do seu direito interno para justificar o não cum- primento com a obrigação assumida ao aderir o Tratado, conforme artigo 27 da Convenção de Viena. O processo de formação dos tratados inicia com os atos de negociação, conclusão e assinatura pelo Poder Executivo de um Estado. A simples assinatura do tratado não produz efeitos imediatos no ordenamento jurídico interno do Estado signatário. O tratado, para produzir efeitos o ordenamento jurídico do Estado signatário, necessita de apre- ciação e aprovação pelo Poder Legislativo, por meio de Decreto Legislativo e ratificado pelo Poder Executivo por meio de Decreto. A ratificação é o ato jurídico que confirma formalmente de que o Estado signatário de um tratado estará obrigado ao seu cumprimento. A assinatura de um tratado pelo Estado é o aceite precário e provisório – não produz efeitos jurídicos vinculantes; já a sua ratificação é o aceite definitivo – obriga o Estado ao cumprimento do tratado assinado. No Brasil, o artigo 84, VIII, da CF/88 determina que é de competência privativa do Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, devendo ser referendados pelo Congresso Nacional. No Brasil, o artigo 49, I, da CF/88 determina que cabe ao Congresso Nacional, exclusivamente, deliberar, de maneira decisiva, sobre os tratados, acordos ou atos internacionais. No Brasil, os tratados internacionais são celebrados pelo Presidente da República e aprovados pelo Congresso Nacional por meio de Decreto Legislativo. O Processo de aprovação de tratado internacional pelo Congresso Nacional não tem prazo de- terminado para ocorrer. 19 No âmbito do Mercosul, a recepção dos acordos ou tratados internacionais celebrados pelo Bra- sil precisam seguir uma série de atos revestidos de caráter político-jurídico para produzir efeitos e serem executados no ordenamento jurídico interno, tais como: a) aprovação pelo Congresso Nacional mediante Decreto Legislativo; b) ratificação pelo Chefe de Estado mediante depósito do respectivo instrumento; c) promulgação pelo Presidente da República mediante decreto para viabilizar a publicação oficial do texto do tratado e executoriedade do ato, vinculando, obrigando e produzindo efeitos no plano do direito positivo interno. No Brasil, o Sistema Constitucional não consagra o princípio do efeito direto ou de aplicabilida- de imediata de tratados ou convenções internacionais (Carta Rogatória 8.279/República Argen- tina, Tribunal Pleno, j. 17.06.1998, rel. Min. Celso de Mello, DJ 10.08.2000). 10 A supralegalidade dos tratados sobre Direitos Humanos no Ordenamento Jurídico Brasileiro O Brasil adota o sistema de incorporação não automática dos tratados de Direitos Humanos, caracterizado pela concepção dualista que discrimina o ordenamento jurídico nacional do orde- namento jurídico internacional, entendendo serem ordens jurídicas distintas, autônomas e inde- pendentes. Os tratados internacionais sobre Direitos Humanos são normas supralegais (acima das leis, mas abaixo da Constituição). A prisão civil do depositário infiel (autorizada quando o devedor, após intimado a entregar o bem do qual era depositário, não o entregava, inadimplindo o contrato), atualmente, foi declarado inconstitucional pelo STF em virtude de o Brasil ser signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mais conhecido como o Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívida. Súmula Vinculante 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modali- dade do depósito”. Os tratados internacionais de Direitos Humanos no Brasil possuem duas naturezas: a) supralegais = quando não aprovados pelo quórum de emenda constitucional, terão status ou natureza de norma supralegal. b) emenda constitucional = quando aprovados com o quórum qualificadode três quintos (60%) dos votos em dois turnos nas duas casas legislativas do Congresso Nacional, conforme artigo 5º, parágrafo 3º, da Constituição Federal, terão status ou natureza de emenda constitucional. No Brasil, apenas a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo tem status ou natureza de Emenda Constitucional. 20 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 11 Os Direitos Humanos observados na Constituição Federal A atual Constituição Federal Brasileira possui em vários artigos Direitos Humanos que foram declarados pelos principais instrumentos normativos do Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos, bem como prevê mecanismos de proteção dos Direitos Humanos em nosso País. Entre os inúmeros artigos em que podemos observar os Direitos Humanos em nossa Constituição Federal, relacionamos os mais importantes: os artigos: 1º, 3º, 4º, 5º, 6º, 109, 225 e outros, conforme quadro a seguir. Art. 1o Fundamentos Inc. III Dignidade da Pessoa Humana Inc. IV Valores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa Parág. Ú Todo Poder vem do Povo Art. 3o Objetivos Fundamentais Inc. I Sociedade Justa, Livre, Solidariedade Inc. II Garantir o desenvolvimento nacional, diminuindo a desigualdade Inc. III Erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionas Inc. IV Promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade Art. 4o Os princípios que regem a relação do Brasil com outros países Inc. II Prevalência dos direitos humanos Inc. III Autodeterminação dos povos Inc. VI Defesa da paz Inc. VII Solução pacífica dos conflitos Inc. VIII Repúdio ao terrorismo Inc. IX Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade Inc. X Concessão de asilo político Art. 5o Direitos Individuais e Coletivos Caput e incisos Proteção ao direito à vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade e mecanismos de efetivação desses direitos como os remédios constitucionais. Art. 6o Direitos Sociais Caput Direitos à educação, à saúde, à moradia, à alimentação, ao trabalho, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, proteção a maternidade, à infância, à assistência, direitos trabalhistas etc. Art. 225 Direito ao Meio Ambiente Caput e incisos Proteção ao direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado com o objetivo de assegurar uma qualidade de vida, cuja responsabilidade se divide entre Estado e a sociedade, a fim de preservar para as futuras gerações. 21 Deve-se ficar atento aos mecanismos de garantia dos Direitos Humanos, conhecidos como re- médios constitucionais, ou writs: habeas corpus (HC), habeas data (HD), mandado de segurança (MS), mandado de injunção (MI), ação popular e direito de petição. A EC 45/2004 incluiu o parágrafo 3º ao artigo 5º da CF/88 estabelecendo que os tratados inter- nacionais sobre Direitos Humanos que forem aprovados em dois turnos em cada casa legislativa do Congresso Nacional por três quintos dos votos de seus membros terão natureza de emenda constitucional. Importante: Até hoje há apenas um tratado internacional constitucionalizado, é o Decreto n° 6.949/2009, que trata da Proteção das Pessoas com Deficiência e o seu Protocolo Facultativo. 12 A federalização de crimes graves contra os Direitos Humanos Conhecido, também, como incidente de deslocamento de competência, é a possibilidade de mudança de competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal suscitado pelo Procurador Geral da República perante o Superior Tribunal de Justiça nos casos de crimes graves contra os Direitos Humanos. Previsão Legal = Artigo 109, incisos V e V-A e parágrafo 5º da CF/88 (introduzido pela EC 45/2004). São pressupostos para a autorização do incidente de deslocamento de competência: a) existência de grave violação a Direitos Humanos previstos em tratados internacionais que o país faça parte; b) crime estar previsto em tratado internacional que o Brasil tenha aderido e cujo descumprimento possa resultar em responsabilização internacional suportada pelo País; c) Justiça Estadual viciada ou cooptada, isto é, incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas para proteção do direito humano violado. Só o Procurador Geral da República pode suscitar alteração de competência perante o STJ. No Brasil, o incidente de deslocamento fui suscitado pela primeira vez em 2005, no caso Dorothy Stang, assassinada por ordem de um fazendeiro no estado do Pará, em razão do seu engaja- mento em atividades a favor da reforma agrária, porém o pedido foi indeferido pelo STJ por entenderem que a atuação da Justiça Estadual estava de acordo com a lei. O primeiro caso de incidente de deslocamento deferido pelo STJ foi em 2010, no caso do ad- vogado Manoel Bezerra de Mattos Neto, morto depois de ameaçado em razão da sua atuação contra grupos de extermínios locais na divisa dos estados da Paraíba e de Pernambuco. 22 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 13 As Ações Afirmativas, ou Discriminações Positivas Denominada também de Discriminações Positivas, são definidas como ações realizadas pelo Estado com o objetivo de proteger os Direitos Humanos de determinados grupos sociais (mino- rias e grupos vulneráveis) que foram prejudicados em algum momento da história, tratando de forma igual os iguais, e de forma desigual os desiguais, na medida de suas desigualdades. A fundamentação para essas ações afirmativas, ou discriminações positivas, encontram-se no princípio fundamental e nos objetivos da República Federativa do Brasil, conforme os artigos 1º, inciso III, e 3º, incisos I, III e IV, que preconizam a construção de uma sociedade livre, justa e solidária mediante a redução das desigualdades sociais e a promoção do bem-estar de todos os cidadãos sem quaisquer formas de discriminação, atendendo ao princípio da dignidade da pessoa humana que compreendem de forma universal todo ser humano. Minorias são grupos de pessoas que, dentro de determinada sociedade, não possuem a mesma representatividade política que os outros indivíduos ou cidadãos de um Estado e que sofrem dis- criminações ao longo da história e de forma constante em razão das características que marcam a sua personalidade e singularidade – que as distanciam das características aceitas como padrão por aquela sociedade, tornando-os pessoas consideradas “diferentes” dentro do mesmo Estado. Em relação às minorias, as características que marcam a sua singularidade podem ser em razão da sua etnia, nacionalidade, língua, religião, condição pessoal, orientação sexual e outras, por- tanto, são pessoas que possuem uma identidade coletiva específica. São exemplos de minorias, entre outros: pessoas da comunidade LGBTI, os indígenas, os qui- lombolas, os refugiados. Grupos vulneráveis são grupos de pessoas, entendidas como coletividades mais amplas de pes- soas por não possuírem uma identidade coletiva específica, que necessitam de proteção especial em razão de sua fragilidade ou indefensabilidade que as tornam mais suscetíveis de sofrerem violações dos seus Direitos Humanos ou fundamentais. São exemplos de grupos vulneráveis, entre outros: crianças e adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, mulheres, consumidores. As ações afirmativas ou discriminações positivas são exceções ao princípio da igualdade formal, isto é, de que todos são iguais perante a lei, característica do Estado Liberal de Direito. No caso das ações afirmativas, ou discriminações positivas, o que prevalece é a igualdade material ou substancial, isto é, o tratamento igual aos iguais, e o tratamento desigual aos de- siguais, uma vez que se reconhece as características particulares de cada pessoa envolvida em determinadasituação jurídica e a necessidade de uma proteção especial aos grupos de pessoas que possuem essas singularidades ou que são consideradas mais frágeis ou indefensáveis, carac- terística do Estado Social de Direito. O objetivo das ações afirmativas, ou discriminações positivas, são o de criar condições e oportu- nidades de igualar as pessoas desses grupos com as demais pessoas da sociedade por meio de uma amparo legal especial de ordem jurídica estatal, possibilitando o acesso, a proteção e a efe- tivação de todos os Direitos Humanos e fundamentais aos indivíduos que compõem esses grupos. As Ações Afirmativas foram admitidas pelo STF por votação unânime na ADPF 186/DF. 23 No quadro a seguir, relacionamos algumas legislações e ações afirmativas, ou discriminações positivas, que objetivam proteger e viabilizar o acesso aos Direitos Humanos dos grupos vulne- ráveis ou das minorias no Brasil. Grupos Vulneráveis ou Minorias Alguns exemplos de Ações Afirmativas ou Discriminações Positivas Mulheres a) Lei Maria da Penha b) Feminicídio c) Criação de Delegacias das Mulheres d) Lei de cotas que reservam porcentagem para candidaturas de mulheres para cada partido político ou coligação LGBTI a) Reconhecimento pelo STF da união estável homoafetiva com efeitos de entidade familiar b) Reconhecimento pelo STJ da possibilidade de habilitação de pessoas do mesmo sexo para o casamento c) Resolução do CNJ proibindo que os Cartórios no Brasil recusem celebrar os casamentos civis de casais do mesmo sexo Afrodescendentes a) Programas de Cotas para Afrodescendentes em Universidades b) Estatuto da Igualdade Racial Indígenas a) Estatuto do Índio Crianças e Adolescentes a) Estatuto da Criança e do Adolescente b) Estatuto da Juventude Idosos a) Estatuto do Idoso Pessoas com Deficiência a) Postos de trabalho reservados para pessoas com deficiência em empresas privadas b) Porcentagem de cargos públicos destinados às pessoas com deficiência c) Estatuto da Pessoa com Deficiência Refugiados a) Estatuto dos Refugiados 24 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 14 A eficácia vertical e horizontal dos Direitos Fundamentais Entende-se como eficácia das normas fundamentais a capacidade da norma fundamental de pro- duzir efeitos, ou seja, ter eficácia, enquanto que a efetivação desses direitos pode ser entendida como a concretização dos dispositivos constitucionais que tratam dos direitos fundamentais no meio social. A eficácia dos direitos fundamentais pode ser classificada em duas espécies: vertical e horizontal. A eficácia vertical incide na relação que existe entre Estado e os cidadãos, uma vez que o Estado goza de um poder hierarquicamente superior em relação aos cidadãos, como numa linha ver- tical, indicando que as normas que preveem os direitos fundamentais destinam-se ao Estado e resultam numa relação jurídica-constitucional entre as pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, e os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Observa-se que, nessa relação resultante da eficácia vertical, as pessoas, físicas e jurídicas, são os sujeitos de direito, enquanto o Estado deve obedecer às normas constitucionais e garantir os direitos fundamentais aos seus destinatários. A eficácia horizontal incide na relação entre particulares, ou seja, a aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações privadas, como numa linha horizontal, uma vez que não há hierarquia entre pessoas, gozando todas dos mesmos direitos e possuindo os mesmos deveres ou obrigações. A eficácia horizontal pode ser observada quando os direitos fundamentais são utilizados para solucionar conflitos entre particulares, como no caso de lides, processos ou demandas entre pessoas físicas ou jurídicas, por exemplo, propriedade privada versus direitos de reunião ou manifestação, como aconteceram nos casos de “rolezinhos” nos shoppings centers de São Paulo. Em relação à efetividade dos direitos fundamentais, isto é, sua concretização no meio social, deve-se destacar três teorias: a) a reserva do possível: posição sustentada pelos governos com base de que a implementação dos direitos fundamentais encontra limitação no orçamento aprovado para a gestão pública; b) mínimo existencial: posição sustentada pela Defensoria Pública e Sociedade Civil com a fundamentação de que deve ser assegurado pelo Estado condições mínimas materiais para a existência digna das pessoas e a possibilidade de seu desenvolvimento pleno; c) proibição do retrocesso ou do regresso: como vimos anteriormente, com base no efeito cliquet ou ampliativo dos Direitos Humanos, estes não podem sofrer diminuição após serem conquistados, por exemplo: no caso da prisão civil por dívida do depositário infiel que foi extinta da nossa legislação após a Convenção do Pacto de São José da Costa Rica. Lembre-se, em suma, temos: a) Eficácia Vertical = Estado x Pessoa física ou jurídica; b) Eficácia Horizontal = Pessoa física ou jurídica x Pessoa física ou jurídica. 25 15 O Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Estatuto de Roma Diferentemente da Corte Internacional de Justiça, o Tribunal Penal Internacional tem competência para julgar pessoas, e não Estados. Ele foi criado pelo Tratado de Roma em 17 de julho de 1998. O Brasil assinou o Tratado de Roma em 7 de fevereiro de 2000, depositando o instrumento de ratificação em 20 de junho de 2002, após aprovação do Congresso Nacional que resultou no Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. É um tribunal judicial permanente com jurisdição internacional para processar e condenar pes- soas por violações graves e leis humanitárias e está vinculado à ONU, e sua sede fica em Haia (Holanda). Tem competência para julgar crimes contra a humanidade, crimes de guerra, geno- cídio e de agressão. Precedentes Históricos: Tribunais de Exceção ou “ad hoc”: a) Tribunal de Nuremberg – 1945/1946; b) Tribunal de Tóquio – 1946; c) Tribunal Ex-Iugoslávia – 1993; d) Tribunal Ruanda – 1994. O Tribunal Penal Internacional difere dos Tribunais de Exceção e “ad hoc”, uma vez que é um tribunal permanente com previsão legal, ao contrário dos segundos que surgem mediante reso- lução do Conselho de Segurança da ONU. O TPI é composto, atualmente, de 122 Estados divididos da seguinte forma: 34 africanos; 27 latino-americanos e caribenhos; 25 europeus ocidentais e outros; 18 europeus do Leste; e 18 asiáticos e do Pacífico. Os principais princípios fundamentais do TPI são: a) complementariedade = reconhecimento de que a competência do TPI é residual, subsidiária, ou seja, somente autorizada sua atuação quando o Estado que possuir competência jurisdicional para julgar e condenar tal indivíduo não o faça ou demonstre incapacidade para realizar o julgamento; b) universalidade = os Estados-membros se submetem integralmente ao Tribunal; c) responsabilidade penal individual = o indivíduo responde pessoalmente por seus atos; d) irrelevância da função oficial = permite que sejam responsabilizados chefes de Estado ou de Governo, ministros, parlamentares e outras autoridades, sem privilégios ou imunidades; e) responsabilidade de comandantes e outros superiores = exige que todos os oficiais militares, mesmos aqueles que ausentes nos locais dos crimes, sejam responsabilizados se não fizeram nada para evitar tais crimes; f) imprescritibilidade = não prescrevem, isto é, não possuem prazo limite fixado para aplicação da sanção penal, conforme artigo 29 do Estatuto de Roma. 26 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 São crimes em espécie, previstos no Estatuto de Roma: a) crime de genocídio (art. 6º) = é configurado pela intenção de querer destruir determinado grupo social, isto é, quando alguém tem o objetivo de diminuir ou eliminar um grupo nacional, racial, étnico oureligioso; b) crimes contra a humanidade (art. 7º) = é configurado pelos seguintes atos praticados durante um ataque generalizado ou sistemático cometido contra qualquer população civil: homicídio, extermínio, escravidão, deportação ou transferência forçada de uma população, prisão ou outra forma de privação de liberdade física grave, tortura, agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer violência no campo sexual de gravidade comparável, perseguição de um grupo ou coletividade, desaparecimento, crime de apartheid, entre outros; c) crimes de guerra (art. 8º) = é configurado por atos de tortura, tratamentos desumanos, experiências biológicas, ato de compelir prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir forças inimigas, dirigir ataques de forma intencional contra bens civis, matar ou ferir combatente que tenha deposto armas ou que tenha incondicionalmente se rendido (a ideia de punir práticas que contrariam as leis e os costumes aplicáveis em conflitos armados, cumprindo observar que este crime pode ser configurado mesmo quando não houver guerra declarada e mesmo que o conflito armado seja de âmbito interno, e não internacional); d) crimes de agressão (art. 8º por meio de Emenda ao Estatuto de Roma) = também conhecido como “crime contra a paz”, é configurado quando um indivíduo causar um ataque armado de um Estado contra o outro sem motivo que o justifique, como no caso de legítima defesa ou, ainda, sem prévia autorização do Conselho de Segurança. O órgão julgador do TPI é composto de, no mínimo, 18 juízes, que devem ser de nacionalidades diferentes e dos sexos feminino e masculino. O Brasil já teve uma brasileira integrando o órgão julgador; foi a brasileira Sylvia Steiner, que integrou o corpo de juízes do TPI, cumprido seu mandato até 2012. Atenção: Tribunal Penal Internacional (TPI) = julga apenas indivíduos. Corte Internacional de Justiça (CIJ) = julga litígios entre Estados.
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