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PROCEDIMENTOS PRÉ E PÓS- CIRURGIA ESTÉTICA Ana Carla Happel Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Indicar os cuidados estéticos no pré-operatório de cirurgias plásticas abdominais. � Descrever os cuidados estéticos no pós-operatório de cirurgias plás- ticas abdominais. � Listar as indicações e contraindicações das técnicas estéticas aplicadas em cirurgias bariátricas e abdominoplastias. Introdução O número de cirurgias estéticas realizadas no Brasil vem aumentando significativamente, o que aumentou também, por consequência, os encaminhamentos de pós-operatórios para os esteticistas. Sendo assim, essa alta demanda trouxe a necessidade de profissionais mais preparados. Ao longo dos anos, foi possível perceber que um acompanhamento pré-operatório feito corretamente diminui, e muito, as chances de com- plicações pós-operatórias, o que aumenta as possibilidades de o profis- sional da estética trabalhar juntamente com o cirurgião plástico e outros profissionais da saúde, montando protocolos de atendimento conforme as orientações individuais. Neste capítulo, você verá quais são as técnicas mais adequadas para os cuidados de pré e pós-operatório e as indicações e contraindicações das técnicas estéticas aplicadas em cirurgias bariátricas e abdominoplastias. 1 Cuidados estéticos no pré-operatório de cirurgias plásticas abdominais Apesar de a maioria dos clientes não procurar um profissional da estética para o tratamento pré-operatório, os cuidados estéticos nesse período são muito importantes, pois auxiliam na reabilitação da cirurgia plástica. Segundo Borges (2010), é de extrema importância uma avaliação estética antes da cirurgia, quando deve ser avaliada a condição da pele, a fraqueza muscular e a presença de flacidez ou irregularidades, como depressões na região em que será realizada a cirurgia. O tratamento estético pré-operatório é extremamente necessário, pois ele ajuda a aumentar a hidratação e a elasticidade tecidual, além de melhorar o fluxo linfático. Um dos tratamentos mais utilizados no pré-operatório é a drenagem linfática manual (DLM), pois, além de direcionar o fluxo linfático e eliminar os líquidos em excesso presentes no interstício, previne edemas mais complexos no pós-operatório (MAUAD, 2012). Pensando nisso, você, profissional da estética, deve oferecer protocolos baseados na avaliação do aspecto cutâneo do cliente que melhorem as condições desse tecido, utilizando técnicas como DLM, reforço muscular, microcorrentes, ionização e hidratação cosmética. Na avaliação pré-operatória, é importante que seja feito o registro das condições da pele na região a ser operada, para que o acompanhamento do pós-operatório seja adequado. Observe a Figura 1. Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais2 Figura 1. Regiões com excesso de gordura e flacidez tissular em região de flancos e infra-abdominal. Fonte: staras/Shutterstock.com. Tratamentos pré-operatórios Os tratamentos pré-operatórios devem iniciar o mais breve possível, de pre- ferência no mínimo 15 dias antes da cirurgia, podendo seguir até alguns dias antes; já os protocolos devem ser personalizados conforme a avaliação do cliente. A seguir, estão algumas sugestões de técnicas que podem auxiliar quanto à melhor escolha do tratamento após uma avaliação minuciosa. Drenagem linfática manual A DLM consiste na facilitação da remoção de líquidos acumulados através dos sistemas de comportas, sendo a terapia mais utilizada no pré-operatório, em razão de direcionar o fluxo linfático e diminuir o líquido intersticial, aumentando a circulação sanguínea e a elasticidade do tecido, combatendo a retenção de líquidos e eliminando toxinas, prevenindo, assim, edemas no pós-operatório (STAMM; ROSA, 2018). 3Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Nesse tipo de massagem, é realizada a estimulação mecânica dos tecidos por meio de direcionamento linfático, movimentos rítmicos, com pressão suave (em torno de 40 mmHg), e estiramento na pele, os quais produzirão os efeitos por meio da estimulação da rede de receptores, ativando o sistema nervoso autônomo parassimpático e auxiliando a diminuição dos níveis de ansiedade do pré-operatório do cliente (PEREIRA, 2013). Para Borges (2010), a drenagem é importante na preparação para a cirurgia plástica, pois estimula a circulação arteriovenosa, evitando possíveis necroses, além de ativar a circulação linfática, que favorece o metabolismo celular, evitando edemas e melhorando a reparação tecidual no pós-operatório. Corrente russa Trata-se de uma corrente de média frequência (2.500 Hz) que pode ser usada para auxiliar no reforço muscular, principalmente nos casos de diástase ab- dominal, na qual durante a cirurgia plástica será feita a plicatura dos mús- culos retos abdominais. Essa técnica, realizada previamente à intervenção, contribuirá com os resultados, pois recruta as fibras musculares, reforçando a musculatura da região. A recomendação é utilizar a corrente no ventre muscular, especificamente no ponto motor, e são preconizadas as contrações involuntárias combinadas com contrações voluntárias, lembrando que os parâmetros devem ser ajustados conforme as necessidades de cada cliente (BORGES, 2010). Microcorrentes São correntes de baixa frequência que promovem uma eletroestimulação com parâmetros de intensidade na faixa dos microampères e, em razão de suas características subsensoriais, não causam nenhum tipo de desconforto ao cliente (BORGES, 2010). Agem no metabolismo das células elevando a sua produção de trifosfato de adenosina, estimulando o sistema linfático, acelerando a restauração e a cica- trização do tecido, melhorando a hidratação e atuando como anti-inflamatório e bactericida (BORGES, 2010). No pré-operatório, as microcorrentes reestabelecem a bioeletricidade te- cidual, melhorando a circulação dos tecidos, o que ajuda a diminuir o déficit circulatório comum no pós-operatório (MAUAD, 2012). Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais4 Vacuoterapia Também chamada de endermoterapia, a vacuoterapia é um tipo de massagem que utiliza pressão negativa e sucção para a mobilização do tecido subcutâneo (BORGES, 2010). A técnica pode ser utilizada nos protocolos pré-operatórios, pois promove a uniformização do relevo da pele pela mobilização dos tecidos subcutâneos por meio de pressão negativa, na qual são utilizados diferentes tipos de manoplas, promovendo vasodilatação e, consequentemente, melho- rando a circulação dos tecidos. Essa técnica pode ser iniciada 30 dias antes da cirurgia (PEREIRA, 2013). Radiofrequência São ondas eletromagnéticas que promovem o aquecimento dos tecidos abaixo da pele, aumentando a circulação sanguínea e a oxigenação, induzindo a produção de novas fibras de colágeno, podendo ser uma terapia utilizada nos tratamentos de pré-operatório (BORGES, 2010). Para manter os tecidos com a hidratação e a elasticidade normais, a ionto- forese, combinada com cosméticos ionizados contendo princípios ativos como ácido hialurônico, ureia e extrato de aloe vera e hidrolisados de colágeno e elastina, pode ser associada e incluída aos protocolos de pré-operatório. Mauad (2012) sugere os seguintes protocolos para o pré-operatório de abdominoplastia. � 15 dias antes: DLM, microcorrentes e ionização. � 12 dias antes: repetir a sessão anterior. � 9 dias antes: DLM. � 6 dias antes: DLM. � 3 dias antes: DLM. Entretanto, é importante lembrar que a montagem dos protocolos, mesmo que pré-operatórios, devem ser personalizados conforme a situação da pele na região a ser operada, respeitando as orientações do médico e trabalhando em equipe multidisciplinar para minimizar os riscos de complicações no pós-operatório. 5Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Para obter os resultados desejados, as manobrasda DLM devem ser realizadas por meio de movimentos lentos, no sentido do sistema linfático, com ritmo constante e pressão leve. 2 Cuidados estéticos no pós-operatório de cirurgias plásticas abdominais A abdominoplastia é uma das intervenções cirúrgicas mais utilizadas para a retirada de excesso de gordura, flacidez pós-emagrecimento ou gestação, diástase abdominal e até mesmo cicatrizes abdominais. A cirurgia consiste na retirada do tecido subcutâneo excedente, por meio de uma incisão suprapú- bica com transposição do umbigo e plicatura dos músculos retos abdominais (BORGES, 2010). Além das várias técnicas que cada cirurgião utiliza, existem dois tipos de abdominoplastia bastante utilizados: a abdominoplastia tradicional, que é mais indicada em casos de flacidez muito elevada e grandes sobras de pele associada à diástase dos músculos retos abdominais; e a miniabdominoplastia, que é mais indicada para mulheres na idade de 30 a 45 anos que apresentem pouca flacidez abdominal e musculatura normal, sendo que esse tipo de cirurgia pode ser associado à lipoaspiração (MAUAD, 2012). Durante o pós-operatório, o cliente faz uso de cinta ou malha compressiva por 30 a 90 dias, dependendo da orientação do médico, pois elas têm a função de modelar, manter a postura, proteger a região e conter os tecidos e líquidos. Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais6 O paciente é liberado para o pós-operatório entre o 3º e o 10º dia, mas isso varia de médico para médico, sendo que alguns liberam somente pelo 20º dia após a retirada total dos pontos cirúrgicos (BORGES, 2010). Para dar início aos cuidados estéticos no pós-operatório, é preciso estar atento às queixas do cliente e às orientações do médico e dos fisioterapeutas. Caso surjam dúvidas e seja necessário, entre em contato antes de realizar qualquer procedimento (MAUAD, 2012). Para a realização dos protocolos de atendimento, é preciso ter como base as fases do pós-operatório para que os tratamentos não interfiram na cicatrização. Fase inflamatória É a primeira fase do processo de cicatrização. Inicia imediatamente após o término da cirurgia e permanece até 48 a 72 horas após a intervenção. Esse processo inflamatório é a defesa do organismo para reorganizar o tecido lesado. O sangue proveniente dessa fase contém plaquetas, hemácias, fibrina e células inflamatórias que são fundamentais para estimular a cicatrização dos tecidos, pois é nessa fase que ocorre o rompimento da membrana celular, fazendo com que a histamina, um dos principais agentes químicos modificadores da lesão, seja liberada (BORGES, 2010). Alguns dos sinais característicos do processo inflamatório são dor, calor, rubor e edema. Fase proliferativa Fase que ocorre entre o 3º e o 14º dia do pós-operatório, podendo variar conforme os fatores de risco e a resposta de cada metabolismo tecidual. É responsável pela formação de um novo tecido de reparo, que substitui o tecido formado na fase anterior. Os fibroblastos surgem na ferida pelo terceiro dia e são associados aos capilares neoformados, compostos de colágeno e glicoaminoglicanas, dando início ao tecido de granulação (BORGES, 2010). Alguns dos sintomas característicos dessa fase são edema, alterações de sensibilidade, dor e sensação de dormência. 7Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Fase de remodelação A fase de remodelação ou remodelamento começa, em média, pelo 11º dia e permanece até aproximadamente até o 40º, podendo se estender de tecido para tecido, sendo nesse período que a matriz extracelular continua se modificando até que forme uma matriz mais estável, na qual o colágeno frouxo é substituído pelo denso. É nessa fase que a evolução final da cicatriz e a última etapa de remodelação são iniciadas, sendo que a cicatriz pode se remodelar até um ano após a cirurgia (BORGES, 2010). Veja no Quadro 1 algumas técnicas indicadas conforme cada fase cicatricial. Fonte: Adaptado de Borges (2010). Fase inflamatória Fase proliferativa Fase de remodelação Orientações gerais Orientações gerais Orientações gerais Repouso DLM DLM Compressão Ultrassom Ultrassom Aparelhos eletroestéticos para auxiliar na redução da dor Microcorrentes Vacuoterapia – Mobilização do tecido conjuntivo Radiofrequência Quadro 1. Condutas mais frequentes utilizadas em cada fase do pós-operatório A seguir, veremos algumas das técnicas que podem ser utilizadas nos protocolos para pacientes de pós-operatório. Dentre as indicações, algumas já foram mencionadas no período pré-operatório, entretanto, na descrição, serão percebidas algumas particularidades desse período. Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais8 Drenagem manual linfática Vários estudos comprovam a eficácia da DLM no pós-operatório imediato, podendo ser iniciada após 48 a 72 horas do procedimento, dependendo da sensibilidade do paciente. Nesse caso, o profissional não deve realizar movi- mentos de deslizamento, pois o arraste pode causar complicações, dentre elas a deiscência de sutura. Estudos comprovam a eficácia da DLM, demonstrada por meio de ultrassonografia e ressonância magnética, para a redução do edema e a revascularização dos tecidos (BORGES, 2010). Pereira (2013) descreve que o quanto antes se realizar o desbloqueio gan- glionar e a manipulação dos tecidos linfáticos distais, mais rápida será a recuperação do paciente, contudo, deve ser discutido com o médico-cirurgião quando iniciar com a técnica. A drenagem é uma das terapias mais indicadas no pós-operatório, em razão dos seus efeitos diretamente na circulação san- guínea, reduzindo o edema, desintoxicando os tecidos, melhorando a nutrição das células e amenizando a dor (MAUAD, 2012). O uso do taping linfático acompanhado da DLM auxilia a reduzir o edema, a formação de equimose e, principalmente, a formação de fibrose no pós- -operatório. A aplicação do taping utilizando o corte fan, ou “polvo”, tem como objetivo o redirecionamento da circulação linfática e dentre seus efeitos fisiológicos estão a diminuição da dor e a remoção do congestionamento linfático, de fluídos ou hemorragias (CHI et al., 2018). Para saber mais, leia o artigo A drenagem linfática como recurso terapêutico pós abdomi- noplastia, disponível no site da revista Universo, da Universidade Salgado de Oliveira. Microcorrentes O uso das microcorrentes em pós-operatórios de abdominoplastia é muito eficaz em razão do seu efeito de reparação tecidual, além de ter propriedades terapêuticas – analgésica, anti-inflamatória e bactericida (STAMM; ROSA, 2018). 9Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Ultrassom O ultrassom é uma corrente mecânica que, na frequência de 3 MHz, em modo pulsado ou contínuo, conforme o ajuste dos parâmetros, pode ter ação anti- -inflamatória e analgésica, sendo usado também para a eliminação de aderências cicatriciais (PEREIRA, 2013). Ele aumenta a circulação sanguínea e linfática, melhorando a nutrição celular e acelerando a cicatrização, prevenindo, assim, a formação de fibroses, cicatrizes hipertróficas e queloides. Radiofrequência Por meio do uso da radiofrequência é possível diminuir ou aumentar a densidade do colágeno, portanto, ela tem seu uso indicado no tratamento de aderências cicatriciais, pois aumenta a maleabilidade do tecido colágeno, sendo importante observar qual o parâmetro a ser utilizado para que não tenha efeitos adversos (BORGES, 2010). Trata-se de um ótimo tratamento para a reorganização de colágeno em pós-operatório tardio, se mostrando muito eficaz no combate das fibroses persistentes, porém, seu uso é indicado somente a partir de 30 dias de cirurgia (PEREIRA, 2013). Laser de baixa potência É uma onda eletromagnética que emite fótons, sem efeito térmico, somente efeito de fotobioestimulação celular, sendo os mais utilizados o de hélio-neônio e o de arsenieto de gálio (GUIRRO; GUIRRO, 2007). O laser aplicado no pós-operatório promove a angiogênese, o estímuloda mitose celular e a regulação dos fibroblastos, normaliza a produção de fibras elásticas e colágenas e evita o surgimento de queloides, hipertrofias e alarga- mentos, por isso é indicado desde a fase inflamatória (STAMM; ROSA, 2018). Vacuoterapia A técnica, quando realizada na fase de remodelamento e com os parâmetros ideais, auxilia a reduzir e até eliminar irregularidades e fibroses. Seu me- canismo de tração, de palpar e de rolar a pele melhora consideravelmente o tecido operado (PEREIRA, 2013). Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais10 Alta frequência São “faíscas” eletromagnéticas que geram ozônio entre a superfície do eletrodo e a pele, com efeitos terapêuticos: bactericida, antisséptico e anti-inflamtório. Seu uso é indicado em feridas abertas mais superficiais a nível cutâneo, em razão da sua ação bactericida que estimula o trofismo dérmico, potencializando o fechamento da ferida (BORGES, 2010). Diodo emissor de luz O diodo emissor de luz (LED, do inglês light-emitting diode), trata-se de diodos de semicondutores submetidos a uma corrente elétrica que emite luz com comprimento de onda que varia de 450 nm (azul) a 940 nm (infravermelho). A fotoestimulação dessa luz age como antimicrobiano e anti-inflamatório, além de recuperar a nutrição dos tecidos, melhorando deiscências e prevenindo necroses (BORGES, 2010). Dentre os efeitos adversos e as complicações mais comuns, Borges (2010) chama a atenção para as equimoses, as fibroses e os seromas, que são frequen- tes e sem uma causa isolada. Estes podem ocorrer como resposta ao grande deslocamento cirúrgico, à hemostasia insuficiente, ao uso em excesso de eletrocautério e também à compressão inadequada ou às atividades precoces. Já a ocorrência de necrose no pós-operatório de abdominoplastia é mais raro, mas pode ocorrer, sendo, normalmente, consequência de um excesso de pressão na área central da cicatriz junto à lesão dos vasos linfáticos e arteriais. A seguir, estão listados os efeitos adversos e as complicações após uma cirurgia plástica de grande porte (BORGES, 2010): � Hematoma � Fibrose cicatricial � Seromas � Cicatriz umbilical não anatômica � Infecções � Hipertrofia cicatricial � Edema � Desvios laterais do umbigo � Necroses � Estenoses umbilicais � Deiscências nas suturas � Dor ventilatório-dependente 11Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais � Recidiva de diástases abdominais � Dispneia constante � Abaulamento epigástrico � Alterações de sensibilidade tátil � Elevação dos pelos pubianos � Linfedema do retalho inferior � Flacidez residual Cicatrizes hipertróficas e queloideanas Toda lesão intencional ou não resultará em uma cicatriz, mas, diferente das cicatrizes normais, as cicatrizes hipertróficas e queloideanas têm as fibras colágenas desorientadas; elas se apresentam em espiral sobre a superfície cutânea, deixando a cicatriz em relevo. A cicatriz hipertrófica é causada pelo desarranjo total das fibras colágenas, que ficam com aparência retorcida e emaranhada. Ela ocorre dentro dos limites da lesão, adquire cor de pele normal, depois de regredir, e normalmente não causa dor. O queloide nada mais é do que a cicatrização excessiva, ou seja, um processo exagerado de regeneração do tecido conjuntivo, que é mais frequente em raça negra ou caucasiana de pele morena e ocorre mais em mulheres. Com o passar do tempo, a cicatriz adquire coloração vermelho-escura, rosada ou esbranquiçada. Além das características genéticas, o que pode influenciar a formação de queloide e cicatrizes hipertróficas é a qualidade do processo de cicatrização, que inclui a genética, a espessura da pele, a direção das linhas das fendas, a qualidade da sutura e os cuidados pós-operatórios (GUIRRO; GUIRRO, 2007). Poucas são as diferenças visuais entre as cicatrizes hipertróficas e o que- loide; suas diferenças são morfológicas e imuno-histoquímicas. As cicatrizes hipertróficas tendem a regredir em até um ano, já o queloide não apresenta melhora espontânea (GUIRRO; GUIRRO, 2007). Para Borges (2010), a principal estratégia de tratamento das alterações cicatriciais ainda é a prevenção, por isso, para que a cicatrização ocorra de forma correta e a probabilidade de alterações cicatriciais seja evitada, alguns cuidados durante a cirurgia e o pós-operatório devem ser tomados (STAMM; ROSA, 2018): � Emprego da técnica cirúrgica adequada. � Suturação por planos para diminuir a tensão na cicatriz. Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais12 � Remoção de corpos estranhos. � Cuidado e manejo adequado da ferida. � Não manipulação excessiva no traumatismo dos tecidos. � Prevenção de hematomas e infecções. A região do abdome, as mamas e o rosto têm mais chances de apresentar cicatrizes hipertróficas ou queloides. 3 Indicações e contraindicações das técnicas estéticas aplicadas em cirurgias bariátricas e abdominoplastias Dentre as indicações das terapias, a mais indicada para a redução de edema é a drenagem linfática, que, combinada ao taping, pode somar os benefícios no pós-operatório (BORGES, 2010; CHI et al., 2018). Segundo Pereira (2013), o mais indicado para tratamento de fibroses e aderências é o uso do ultrassom, desde que, como ressalta Borges (2010), sejam observados os parâmetros corretos. Dentre os cuidados e as contrain- dicações dos equipamentos, ao utilizar o ultrassom, é preciso estar atento aos parâmetros, especialmente quanto às fases de cicatrização, em razão dos seus efeitos térmicos e mecânicos, que podem causar efeitos adversos e complica- ções indesejadas aos tecidos. Além disso, o uso contínuo do ultrassom só é indicado na fase de remodelamento, quando é necessário o uso de calor para a remodelação (BORGES, 2010). Ainda, esse equipamento não é indicado para ser usado diretamente sobre próteses metálicas, processos infecciosos, tromboflebites e varizes e em gestantes (GUIRRO; GUIRRO, 2007). Outro recurso também muito utilizado na fase de remodelamento é a vacuoterapia, já que auxilia na redução de fibroses e aderências. Entretanto, para não haver complicações, são muito importantes os cuidados na escolha da pressão e manopla certa, assim como a técnica ao utilizar esse recurso (PEREIRA, 2013). 13Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Ainda, após uma lesão no corpo e o rompimento de sua atividade elétrica normal, as microcorrentes podem produzir sinais elétricos semelhantes aos que acontecem naturalmente durante a recuperação de tecidos lesionados. Contudo, não é indicado em clientes desidratados, pois pode causar náuseas, tonturas ou dores de cabeça, além de um desconforto na pele (BORGES, 2010). A corrente russa é muito utilizada para melhorar a qualidade muscular e o trofismo muscular em protocolos pré-operatórios; não é indicada sobre fraturas, inflamações articulares, miopatias e lesões nervosas (BORGES, 2010). Segundo Pereira (2013), o laser de baixa potência é muito utilizado para restabelecer logo a cicatrização e para o tratamento de complicações pós- -operatórias. Ele é contraindicado no pós-operatório imediato, podendo ser aplicado somente de 48 a 72 horas após o procedimento, evitando a região da tireoide e do globo ocular. O uso de alta frequência, que tem indicação para cicatrização de feridas em um pós-operatório, em peles com cosméticos inflamáveis, como álcool ou éter, é contraindicado em razão do risco de queimaduras, causadas pelo faiscamento do aparelho (BORGES, 2010). Já a radiofrequência, que é indicada tanto para o pré-operatório (em tra- tamentos de flacidez tissular e vascularização tecidual) quanto para o pós- -operatório (para aquecimento e maleabilidade do tecido), é contraindicada nas fases inflamatória e proliferativa em razão do seu aquecimento. Ela só é indicada na fase de remodelamento, a fim de auxiliar no tratamento de fibroses, e, ainda assim, em temperaturas abaixo dos 37°C (BORGES, 2010). Esse equipamento também é contraindicadonas mesmas situações sinalizadas que o ultrassom, a diferença é que no caso de próteses metálicas não se deve utilizar a radiofrequência, independentemente da localização do metal. Sabe-se que até mesmo a drenagem linfática tem contraindicações no pós-operatório, não sendo indicados os movimentos de deslizamento para não afastar as bordas da cicatriz, o que pode vir a causar uma deiscência (PEREIRA, 2013). A cirurgia bariátrica é destinada a pessoas obesas. Nessa cirurgia, é feita a redução do estômago, o que força uma grande perda de peso em razão da pouca ingestão de alimento e da redução de absorção de vitaminas (STAMM; ROSA, 2018). No caso da cirurgia plástica de abdome após cirurgia bariátrica, em função da sobra de pele ocasionada pela perda significativa de peso, é possível que o cirurgião plástico precise fazer uma incisão extra, causando uma cicatriz em formato de âncora, bem maior do que a incisão realizada na abdominoplastia clássica ou na miniabdominoplastia, o que vai depender da quantidade de excesso de tecido (STAMM; ROSA, 2018). Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais14 Os cuidados para os pacientes bariátricos precisam ser maiores, a fim de melhorar a qualidade da pele, que, além de um déficit nutricional, pode vir a apresentar desidratação, flacidez tissular e muscular e estrias largas e profundas. Já os riscos da abdominoplastia em pacientes bariátricos são maiores, como seromas, hematomas e até aumento das chances de embolia, por isso há a necessidade de cuidados maiores no pré e no pós-operatório (ROSA et al., 2018). Estudos apontam que pacientes bariátricos acima de 40 anos de idade que perderam muito peso (acima de 50 kg) após a cirurgia e que o peso do retalho retirado na abdominoplastia foi superior a 2 kg tiveram várias complicações. Ainda, outra informação a considerar é que a perda de peso, mesmo que significativa, não consegue reverter totalmente o seu risco aumentado para complicações. Sendo assim, os cuidados no pré e no pós-operatório de abdomi- noplastia pós-cirurgia bariátrica se tornam essenciais para diminuir tais riscos. O que acontece com uma paciente que realizou a cirurgia bariátrica há menos de um ano e ainda não tem a perda de peso estabilizada, mas mesmo assim optou por fazer uma abdominoplastia? Os riscos da cirurgia são maiores e o resultado não será satisfatório, pois ela continuará a perder peso e poderá surgir novamente sobra de pele, por isso é importante a avaliação e as orientações quanto às escolhas dos tratamentos. BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2010. CHI, A. et al. Prevenção e tratamentos de equimose, edema e fibrose no pré, trans e pós-operatório de cirurgias plásticas. Rev. Bras. Cir. Plást., São Paulo, v. 33, n. 3, p. 343-354, 2018. Disponível em: http://rbcp.org.br/details/2165/pt-BR/prevencao-e-tratamento-de- -equimose--edema-e-fibrose-no-pre--trans-e-pos-operatorio-de-cirurgias-plasticas. Acesso em: 6 mai. 2020. GUIRRO, E. C. O; GUIRRO, R. R. J. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos, patologias. São Paulo: Manole, 2007. 15Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. MAUAD, R. Estética e cirurgia plástica: tratamento no pré e pós-operatório. 4. ed. São Paulo: Senac, 2012. PEREIRA, M. de F. L. (Org.). Recursos técnicos em estética. São Paulo: Difusão Editora, 2013. 2 v. STAMM, L. N.; ROSA, P. V. da. Estética aplicada à cirurgia plástica. Porto Alegre: Sagah, 2018. ROSA, S. C. et al. Abdominoplastia em pacientes pós-bariátricos: perfil antropométrico, comorbidades e complicações. Rev. Bras. Cir. Plást., São Paulo, v. 33, n. 3, p. 333-342, 2018. Disponível em: http://www.rbcp.org.br/details/2164/pt-BR/abdominoplastia-em- -pacientes-pos-bariatricos--perfil-antropometrico--comorbidades-e-complicacoes. Acesso em: 6 mai. 2020. Leituras recomendadas ELWING, A.; SANCHES, O. Drenagem linfática manual. São Paulo: Senac, 2010. LEDUC, A.; LEDUC, O. Drenagem linfática: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Manole, 2007. Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas abdominais16
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