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e-Tec Brasil13 Aula 1 – A cultura na nossa vida Nesta aula nós vamos apresentar a definição de cultura e instrumentos necessários para compreendê-la, pois no curso de eventos dominar o en- tendimento de cultura é essencial. Olá estudante do curso de eventos, nesta matéria de interculturalidade apre- sentaremos os instrumentos necessários para que vocês entendam a cultura e a diversidade cultural. Sabem por quê? Porque “cultura” é uma das ma- térias-primas de eventos. No seu trabalho você vai dialogar com as diversas culturas e, portanto, necessita conhecer os significados de cultura para além do senso comum. É importante salientar, ainda, que nesta área de trabalho a cultura faz parte do negócio, pois, é ela que organizamos e anunciamos como parte significativa das nossas atividades profissionais.. Então vamos lá! Falar de cultura é, ao mesmo tempo, fácil e difícil. Torna-se fácil porque fala das coisas do nosso cotidiano. E difícil porque trata da compreensão do nosso dia a dia de maneira mais profunda. E o que isso quer dizer? Significa que temos que compreender como algumas coisas passam a fazer parte da nossa cultura, outras não e porque existem culturas tão diferentes. Na música do Gonzaguinha “O que é o que é?” o autor questiona sobre a vida. Trouxemos um trecho para refletir: [...] E a vida! E a vida o que é? Diga lá, meu irmão. Ela é a batida De um coração Ela é uma doce ilusão [...] A partir deste questionamento podemos pensar que a vida pode ter diferen- tes significados para as pessoas. Pensar a vida e as relações que as pessoas têm entre elas é refletir sobre cultura. Cotidiano De todos os dias; que acontece diariamente. = diário. Que é muito comum ou banal. Conjunto das ações! Praticadas todos os dias e que constituem uma rotina. = dia a dia. O que acontece todos os dias. Vamos então entender um pouco sobre a palavra “cultura”, pois ela não é só uma palavra como pão ou água que quando nos falam “quero um copo de água e um pedaço de pão” sabemos exatamente o que a pessoa quer. Cultura, em nosso cotidiano, é usada para se referir hábitos, valores, crenças e manifestações coletivas. Então, cultura está en- trelaçada nas nossas vidas inten- samente, ao tempo que produ- zimos cultura, também, somos influenciados por ela. Mas é importante saber que esta palavra foi tendo seu conceito desenvolvido ao longo da história. E, agora, precisamos pensar na palavra cientificamente – a partir de conceitos. Como grande parte da produção humana, a definição de cultura é influenciada pela formação dos pesquisa- dores tendo-se, assim interpretações e compreensões diferentes. Então vejamos algumas dimensões cientificas de cultura: 1.1 Uma análise histórica do desenvolvimento do conceito de cultura A cultura é uma marca humana na realidade. A cultura não é natural, tam- pouco é herdada geneticamente. Significa que um filho de chineses criado por brasileiros terá como base a cultura do Brasil nas suas relações sociais. Ou ainda, que o grupo de pagode do Japão, cantando em japonês está se ma- nifestando artisticamente usando um elemento cultural brasileiro: o samba. Vejamos um exemplo na foto da figura 1.2 temos uma banda de samba japonesa. Como esta marca humana se manifesta? Ela se manifesta por meio do conhecimento, das ideias, crenças, artes, arquitetura, literatura, polí- tica, etc. E quando a cultura passou a ser uma preocupa- ção para as pessoas? Figura 1.1: Cultura jovem Fonte: PYMCA (Photographic Youth Music Culture Archive) http://www.descolex.com Figura 1.2: Y-no: grupo japonês de samba Fonte: http://virgula.uol.com.br Interculturalidadee-Tec Brasil 14 Veremos dois momentos importantes na história que resultaram em definições distintas de cultura, o evento alemão e o francês. Momentos esses em que houve reflexão científica para elaboração de novas ideias sobre a cultura e, por esses motivos, corroboram com o conceito de cultura acima abordado. 1.1.1 Alemão A partir do século XIX, principalmente na Alemanha, com a necessidade de unificar o país, foi a cultura que indicava quem era alemão. Essa era uma necessidade porque a Alemanha não era um só país como conhecemos hoje. Como, nessa época, ainda não havia organização política e um estado alemão forte, a cultura servia de elo entre os habitantes da nova nação (uni- ficada em 1871). A noção de cultura (kultur) dos alemães era de cultivar as tradições e fazer parte daquela sociedade. Neste sentido a palavra cultura tem o conceito semelhante ao de cultivar uma planta - cultivo de feijão, por exemplo. Os elementos da cultura, que são importantes, dão significado ao grupo social que os cultiva, daí também vêm os valores do grupo. Então a cultura estabelece e dá significado aos valores de cada grupo. Veja os exemplos das figuras 1.2 e 1.3, ambas retratam uma luta, porém tem significados diferentes para seus grupos de pertencimento. A primeira (1.2) é uma luta que representa um rito de passagem para uma nação indígena, a segunda (1.3) é uma manifestação cultural esportiva para a sociedade contemporânea. Figura 1.3: Ritual Kuarup (luta huka- -huka) dos indígenas do Alto Xingú. Fonte: http://oglobo.globo.com Figura 1.4: Luta de MMA entre os bra- sileiros Anderson Silva e Demian Maia Fonte: http://www.abril.com.br MMA (do inglês Mixed Martial Arts) artes marciais mistas.1.1.2 Francês Para os franceses a noção de cultura tem a ver com a realização material. Dife- rentemente da Alemanha, na França a cultura se referia à construção de con- dições materiais e, quanto mais sofisticadas, melhor demonstrava o avanço Veja um trecho do texto “Ópera, cultura e nação: Richard Wagner na formação do orgulho nacional alemão”, de Alan Carlos Ghedini, o autor apresenta uma breve explicação sobre a importância da cultura para reconstrução nacional para unificação: Diferentemente da concepção universalista de cultura, proposta pela França, a Alemanha vai buscar na regionalização e nos costumes locais a sua cultura nacional. Segundo Herder, [HERDER, 1999] era preciso gerar um conceito de cultura capaz de devolver às nações o seu orgulho nacional. Fonte: http://www.cce.udesc. br/cem/simposioudesc/anais/ st5/st5alan.doc acessado em 30/05/2011 Rito de passagem São as cerimônias que marcam a mudança de um indivíduo ou de um grupo de uma situação social para outra. Como exemplo podemos citar aqueles relacionados à mudança das estações, aos ritos de iniciação, aos ritos matrimoniais, aos funerais e outros, como a gestação e o nascimento. e-Tec BrasilAula 1 – A cultura na nossa vida 15 tecnológico do país; essa condição é que caracteriza a cultura. Por exemplo, a construção de pontes, edifícios e monumentos como a Torre Eiffel e Arco do Triunfo são expressões destas formas de ver a cultura e, para os franceses, está relacionada diretamente ao conceito de civilização como desenvolvimen- to científico e progresso material de uma nação. Neste sentido a realização material identifica o nível de cultura de uma determinada sociedade. Os dois conceitos, o alemão e o francês, nos ajudam a elaborar uma ideia de cultu- ra mais abrangente mas, devemos lembrar que a materialização da cultura não torna uma cultura pior, ou melhor do que a ou- tra; é, sim, mais uma forma de manifes- tação. Ou seja, de demonstração material e coletiva de uma forma de pensamento. Trazemos como outro exemplo duas ma- nifestações materiais de tempos e espaços diferentes. A figura 1.4 é uma moradia in- digena do Yanomami que habita a região norte do Brasil. Já a figura 1.5 é uma construção Asteca (1325 até 1521; uma civilização que existiu principalmente entre os séculos XIV e XVI, no território que corres- ponde atualmente ao México). Figura 1.6 Civilização Asteca Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br Assim, afirmamos que a cultura indígena não é inferior à cultura não indí- gena; são apenasdiferentes. Não deveria, portanto, uma cultura querer se sobrepor à outra sob preceitos de superioridade. Até aqui é possível afirmar que a cultura se manifesta de maneiras diferen- tes. Mas, o importante é que, além de diferenciar o ser humano dos animais, a cultura também diferencia os grupos humanos. Figura 1.5: Aldeia-casa, chamada “xapono”, para todo um grupo de parentes – abriga de 65 a 85 indivíduos Fonte: http://pensandomelhorgeo.blogspot.com Interculturalidadee-Tec Brasil 16 Inicialmente podemos definir cultura como capacidade humana de produção, realização e comunicação. A cultura se realiza na confecção de objetos, bem como no desenvolvimento de práticas e manifestações sociais, e ainda na in- teração das pessoas. Atribuindo significado aos objetos e às relações entre os indivíduos e os grupos sociais; a cultura promove a comunicação, realiza e aproxima os sujeitos construindo identidades aos grupos sociais e sociedades. O conceito de cultura se estruturou a partir do século XIX, mas podemos afirmar que a cultura humana é muito mais antiga. Desde que os homens re- gistraram imagens com pinturas rupestres, criaram ferramentas de trabalho e desenvolveram símbolos, consequentemente, elaboraram cultura. Dessa forma os seres humanos produzem e são influenciados pela cultura. Então, de maneira mais elaborada cultura é um processo coletivo que é pro- duzido num grupo social. Ela é fruto de padrões sociais que fazem parte da vida dos sujeitos. A cultura organiza grupos ou sociedades e dá significado às práticas e manifestações sociais. Também é dinâmica, histórica e simbóli- ca, pois transmite, produz e escolhe: hábitos, usos, costumes, valores, sím- bolos, manifestações, ideias, produtos, práticas e comportamentos. Resumo Nesta aula vimos que o significado de cultura mudou ao longo da história da humanidade e que em algumas civilizações tinha sentidos muito diferentes. Descobrimos também que atualmente cultura é uma palavra complexa e que designa a forma como os seres humanos dão significado e valor a tudo que lhes envolve e identificando grupos sociais e sociedades. Atividades de aprendizagem • Explique o seguinte conceito de cultura segundo Gilberto Velho: “A cul- tura não é, em nenhum momento, uma entidade acabada, mas sim uma linguagem permanentemente acionada e modificada por pessoas que não só desempenham ‘papéis’ específicos, mas que têm experiências existenciais particulares” (Velho apud Lago, 1996:17). e-Tec BrasilAula 1 – A cultura na nossa vida 17
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