Buscar

Secreção Gástrica e Estômago

Prévia do material em texto

Fisiologia 
Caso SI 4 
1. Descrever a secreção gástrica. 
Secreção Gástrica 
Introdução 
Quando se estuda o TGI, percebe-se que ele secreta um 
grande volume de substâncias que vão facilitar o trânsito do 
alimento ao longo do trato, digerir esse alimento e exercer 
diversas outras funções. De todo o conteúdo secretado pelo 
TGI, em um dia, se tem em média 2L sendo de conteúdo 
gástrico 
Divisão Anatômica do Estômago 
Quanto as partes do estômago, existe a cárdia, que fica entre 
o esôfago e o corpo gástrico, que é a maior parte do 
estômago. Quando se traça um plano a nível da incisura 
cárdica, se delimita o fundo gástrico, que é a porção do 
estômago superior a 
esse plano e que tem 
forma de cúpula. A 
região pilórica fica entre 
o corpo gástrico e o 
duodeno, e ela é dividida 
em antro pilórico (parte 
mais dilatada) e canal 
pilórico. 
É importante conhecer as partes do estômago porque 
existem glândulas específicas na mucosa de cada região do 
órgão. As glândulas são formadas por tipos celulares 
diferentes, sendo que cada um vai produzir uma secreção 
diferente. 
Glândulas 
As glândulas oxínticas se encontram principalmente no fundo 
e corpo do estômago. São glândulas formadas por células 
parietais que produzem fator intrínseco e HCl, células 
mucosas que produzem muco e células principais (ou 
pépticas) que produzem pepsinogênio. As células ECL 
(enterocromafins like) se encontram no corpo e fundo 
gástrico, muito próximas das glândulas oxínticas (alguns 
autores até consideram elas como parte das glândulas), e 
sua função é secretar histamina. 
As glândulas pilóricas se localizam principalmente no antro 
pilórico. Essas glândulas são formadas por células mucosas 
que secretam muco, células G que secretam o hormônio 
gastrina e células D que secretam o hormônio somatostatina. 
Uma observação que deve chamar a atenção é que nem 
todos os produtos são secretados na luz do estômago. 
Compondo o suco gástrico existem apenas 4 substâncias, o 
HCl, fator intrínseco, pepsinogênio e muco. A histamina, a 
gastrina e a somatostatina NÃO são liberadas no lúmen do 
estômago. 
A célula ECL tem ação parácrinas, porque libera a histamina 
no interstício para agir em células próximas. As células G e 
D, por outro lado, são células endócrinas, porque lançam suas 
secreções na corrente sanguínea. 
.
As reentrâncias da célula parietal, formadas pela membrana 
apical rica em canalículos, estão voltadas para o lúmen 
gástrico. Através dos canalículos mencionados que a célula 
secreta o HCl. Em repouso, as reentrâncias ficam bem 
fechadas e os canalículos diminuídos, o contrário acontece 
quando em atividade. Esta é uma célula extremamente ativa, 
o que justifica a grande quantidade de mitocôndrias. Ela 
recebe estímulos neurais, hormonais e parácrinos. 
Substâncias e receptores que ativam as células parietais 
Mais importante que conhecer a formação do HCl é 
conhecer quais estímulos fazem com que as células parietais 
secretem essa substância. Na membrana basolateral da 
célula parietal existem 3 tipos de receptores para 3 agonistas 
diferentes, um receptor muscarínico do tipo 3 (ou M3) que 
é ativado pela acetilcolina, um receptor H2 que é estimulado 
pela histamina e um receptor CCKb que é estimulado pela 
gastrina. Dessa forma, quando se pergunta quais os estímulos 
para a secreção de HCl, a resposta é acetilcolina, histamina 
e gastrina. 
De diferentes formas, todos os receptores estimulam a 
bomba de prótons a secretar mais H+ na luz gástrica. O 
receptor M3 e o CCKb geram uma cascata química que 
termina com uma sinalização por um segundo mensageiro 
chamado I P3Ca++. O receptor H2 promove uma cascata 
de eventos a partir da ativação do segundo mensageiro 
chamado AMPc. 
A histamina será o principal estimulante para a ação da célula 
parietal, tanto pela velocidade, quanto pela eficiência/ 
intensidade. O estímulo parácrino é representado pela 
histamina, o estímulo neural pela acetilcolina (liberada pelo 
nervo vago) e o estímulo hormonal pela gastrina. 
Estímulos para a liberação dos agonistas 
São vários os estímulos para o nervo vago secretar 
acetilcolina, desde pensar em alimentos, sentir fome e sentir 
o cheiro de algum alimento, até ouvir falar de algum alimento, 
ver ele, etc. Todos esses estímulos ativam o bulbo, de onde 
parte o nervo vago levando o estímulo para secretar 
acetilcolina na célula parietal para ela secretar HCl, na célula 
G para ela liberar gastrina e na célula ECL para ela liberar de 
histamina. 
Além dos estímulos vagais, a célula ECL ainda é estimulada 
pela gastrina que foi liberada pela célula G na corrente 
sanguínea. Além dos estímulos vagais, a célula G ainda é 
estimulada por algumas substâncias (principalmente 
proteínas) presentes nos alimentos que, assim que chegam 
ao estômago, ativam receptores que estimulam as células G. 
Resumindo, a célula G é estimulada tanto pelo nervo vago 
quanto pelos alimentos que chegam ao estômago. A célula 
ECL é estimulada pelo nervo vago e pela gastrina. A célula 
parietal é estimulada pela gastrina, histamina e nervo vago. 
Aqui acontece uma exceção à regra: diante de situações 
estressantes, as fibras parassimpáticas do nervo vago liberam 
muito mais acetilcolina, o que intensifica a produção de HCl. 
Formação do HCl 
Como a célula parietal é muito ativa, ela produz muito CO2, 
substância essa que se une à água graças à anidrase 
carbônica. A partir dessa união se forma ácido carbônico, o 
qual se dissocia em H+ e bicarbonato. 
Na membrana basolateral existe um trocador que envia 
bicarbonato para a corrente sanguínea e cloro para dentro 
da célula. Esse Cl- segue para a luz gástrica por difusão. 
Graças a bomba de sódio potássio, a célula possui grandes 
concentrações de K+, o qual é enviado para a luz gástrica 
para retornar logo em seguida por uma bomba que leva K+ 
para dentro da célula e o H+ formado anteriormente para a 
luz gástrica. Essa bomba gasta energia e é chamada de 
bomba de prótons. Dessa forma, o Cl- lançado na luz gástrica 
por difusão e o H+ pela bomba de prótons se unem e 
formam o HCl. 
Farmacologia 
Na década de 50 era comum a secção do nervo vago em 
indivíduos portadores de úlceras porque se acreditava que 
assim iam conseguir cessar a secreção de HCl. Isso não era 
eficaz obviamente. 
.
Passado um tempo, começou-se a usar anti-histamínicos 
para o tratamento de úlceras. Essas drogas deveriam ser 
bem seletivas pois os receptores do estômago são 
diferenciados, são do tipo H2. Foram drogas eficazes, porém 
ainda insuficientes para tratar as úlceras. 
Por volta da década de 80 se descobriu os inibidores da 
bomba de prótons (I BP), drogas que, ao bloquear a bomba 
de prótons, reduzem de maneira muito eficaz a secreção 
de HCl pelas células parietais. Por mais que cheguem todos 
os estímulos à célula parietal, se sua bomba de prótons não 
funciona ela não manda H+ para a luz gástrica e não permite 
a formação de HCl. 
Fases da Secreção Gástrica 
Assim como a secreção pancreática, a secreção gástrica 
possui 3 fases, a fase cefálica, fase gástrica e fase intestinal. 
Enquanto as duas primeiras são responsáveis por estimular 
a secreção gástrica, a última é inibitória (principalmente da 
secreção de HCl). 
Fase Cefálica 
A fase cefálica acontece durante a ingestão do alimento, é 
resultante da experiência extra-sensorial proporcionada por 
ele como estímulos visuais, olfativos, gustativos, etc. A partir 
do córtex cerebral, centros do apetite na amigdala e 
hipotálamo, partem sinais neurogênicos, que seguirão pelos 
nervos vagos até o estômago. Cerca de 30% da secreção 
gástrica é fruto dessa fase. 
*Nessa fase acontece principalmente a estimulação vagal 
Fase Gástrica 
A fase gástrica ocorre quando o alimento entra no estômago 
e estimula reflexos vagais (seguem ao SNC e retornam ao 
estômago), reflexos entéricos locais por distensão da parede 
do estômago e o mecanismo da gastrina pela presença de 
alimento no estômago. Enquanto o alimento permanecer no 
estômago haverá secreção de suco gástrico. Essafase é 
responsável por todo o restante da secreção gástrica. 
*Os alimentos que estimulam a secreção gástrica são chamados 
de secretagogos, sendo os principais exemplos os aminoácidos, 
álcool, cafeína, chocolates, proteínas e peptídeos 
Fase Intestinal 
Por fim, a fase intestinal se inicia quando o quimo (bolo 
alimentar misturado com a secreção gástrica) chega ao 
intestino. O intestino é muito regulatório, ele inibe o 
esvaziamento e a secreção gástrica de acordo com sua 
própria capacidade. 
O duodeno exerce sua regulação por meio do reflexo 
enterogástrico reverso: diante do aumento do volume de 
quimo no duodeno há uma distensão da parede duodenal, o 
que ativa neurônios entéricos (presentes na parede do 
duodeno) que enviam sinais para inibir os neurônios da 
parede do estômago, o que reduz tanto a motilidade quanto 
a secreção gástrica 
A outra forma que o duodeno inibe a motilidade e secreção 
gástrica é por meio da secreção de hormônios chamados 
de enterogastronas, como a secretina, colecistoquinina, 
peptídeo inibidor gástrico e o polipeptídeo intestinal 
vasoativo. São 4 hormônios de efeitos sistêmicos, porém, o 
foco é na ação inibitório do estômago. 
Fatores que Inibem a Secreção de HCl 
O ácido clorídrico do estômago é responsável por estimular 
as células D, pertencentes às glândulas pilóricas, a produzirem 
somatostatina (principal forma fisiológica de inibir a secreção 
de HCl)., substância que realiza um mecanismo indireto de 
inibição da secreção de HCl inibindo as células G e células 
ECL. O mecanismo direto de inibição acontece por meio do 
bloqueio dos três tipos de receptores presentes na 
membrana basolateral das células parietais. Todo esse 
mecanismo descrito é fisiológico. 
Quando a quantidade de HCl está muito aumentada e esse 
mecanismo de feedback negativo se torna insuficiente, há 
uma condição patológica em que o ácido passa a atravessar 
a barreira de muco e lesar as células da parede do estômago. 
Diante dessa lesão, todas as células passam a secretar 
prostaglandinas, substância que exerce a mesma função da 
somatostatina inibindo as células parietais de secretar HCl. 
Outros Constituintes do Suco Gástrico 
Pepsinogênio 
O pepsinogênio liberado pelas células principais presentes no 
corpo e fundo do estômago é convertido em pepsina no 
ambiente ácido. Essa enzima é responsável por digerir 
principalmente proteínas no ambiente ácido (pH acima de 5 
inativa a pepsina). Diante de grandes quantidades de pepsina, 
ela própria passa a converter o pepsinogênio em novas 
moléculas de pepsina. O estímulo para a liberação dessa 
substância é a distensão da parede do estômago e a 
acetilcolina secretada pelo nervo vago nas células pépticas. 
Fator Intrínseco 
A vitamina B12 (cobalamina), quando em contato com a saliva, 
se liga a uma proteína R. Quando essa vitamina chega ao 
estômago, mais proteínas R se ligam a ela para que o ácido 
clorídrico não destrua essa vitamina, porque ela será 
absorvida só quando chegar ao duodeno. 
.
Após secretado, o fator intrínseco segue ao duodeno. No 
duodeno, a vitamina B12 se desliga da proteína R e se liga ao 
fator intrínseco, porque é ele que vai dar continuidade à 
proteção da vitamina, só que agora de enzimas pancreáticas. 
A proteção é realizada até a vitamina chegar ao íleo, onde 
o fator intrínseco se desliga dela para que a absorção da 
vitamina possa acontecer. 
A vitamina B12, após sua absorção, segue ao fígado para ser 
encaminhada à medula óssea, onde promove a maturação 
das hemácias, junto do ácido fólico. Por esse motivo, na 
ausência de fator intrínseco não se absorve vitamina B12. Isso 
faz com que o tamanho das hemácias seja muito maior do 
que o adequado, por esse motivo quando elas passarem pelo 
sistema retículo-endotelial do baço elas vão se romper, muito 
antes do seu tempo de vida médio de 120 dias. Isso faz as 
taxas de hemácias circulantes caírem, o que provoca uma 
anemia. 
Pacientes gastrectomizados por exemplo, que apresentam 
anemia por falta de células parietais graças à cirurgia, devem 
receber vitamina B12 intravenosa, porque dessa forma ela 
não precisa ser absorvida pelo TGI e já é encaminhada para 
a medula óssea para cumprir sua função. 
Muco 
Produzido por células mucosas do estômago, células 
caliciformes intestinais e outras células especializadas para 
essa produção, tem como principais funções formar uma 
cobertura protetora sobre a mucosa do TGI, neutralizar um 
pouco o pH do TGI e lubrificar seu conteúdo. 
Secreção Gástrica entre Refeições 
Durante o período entre duas refeições, chamado período 
interdigestivos, o estômago secreta poucos mililitros de suco 
gástrico por hora, por ser um momento em que pouca ou 
nenhuma digestão está acontecendo. A secreção desse 
período é quase totalmente não-oxíntica, isto é, envolve 
muco e pouca pepsina principalmente.

Continue navegando

Outros materiais