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CIDADES MODERBNAS DO MUNDO

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ESTUDO 
DA CIDADE 
Vanessa Guerini Scopell
Cidades modernas 
no mundo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer características do urbanismo modernista.
  Exemplificar aplicações dos conceitos do urbanismo modernista em 
cidades existentes. 
  Identificar o movimento de crítica às cidades modernistas.
Introdução
O movimento moderno foi uma vertente que surgiu após a Revolução 
Industrial com o objetivo principal de criar soluções e estratégias para 
melhorar as cidades, demonstrando a importância do planejamento 
urbano e do estudo sobre diversos aspectos da cidade, como ruas, quadras 
e habitações. Esse movimento foi um marco para o século XX porque 
trouxe novas visões sobre a vida nos centros urbanos; por outro lado, após 
alguns anos, sofreu duras críticas em virtude de uma nova perspectiva 
levantada por outros estudiosos.
Neste capítulo, você entenderá o que foi o urbanismo modernista e 
quais foram as principais características desse movimento. Você também 
identificará exemplos de cidades que foram projetadas com base nesse 
conceito, no Brasil e no mundo. Ainda, você poderá perceber as críticas 
que esse movimento recebeu ao passar dos anos. 
1 Características do urbanismo modernista
O urbanismo modernista surgiu, conforme Abiko, Almeida e Barreiros (1995), 
a partir de um contexto onde, entre os anos de 1800 a 1914, a população da 
Europa aumentou de 180 milhões de habitantes para 460 milhões. Conside-
rando essa realidade e a consolidação dos processos histórico e civilizatório 
que ocorreram ao fi nal do XIX, por meio da revolução industrial, a busca 
por soluções dos problemas relacionados à cidade foi uma ação obrigatória. 
Para Ultramari (2009), o fenômeno socioeconômico desse período resultou 
em uma intenção de um tipo de cidade requerida, o que necessitava de novos 
procedimentos de análise e de intervenção. 
A cidade do momento da Revolução Industrial traz como consequências 
o congestionamento, a insalubridade, a falta de espaços livres de qualidade, 
a má preservação de edificações históricas, o surgimento de construções de 
baixa habitabilidade, a carência de sistemas de esgoto e abastecimento, a 
proliferação de doenças, entre outros. Esse reflexo se dá pela intenção de uma 
cidade almejada pela iniciativa privada que busca o máximo aproveitamento 
do espaço urbano visando ao lucro, sem qualquer organização ou controle. 
Nesse contexto e diante das novas necessidades, surgiram diferentes ex-
periências para encontrar modelos de cidades ideais que pudessem combater 
e mudar a realidade dos centros urbanos, evitando seus problemas. “Surge 
então a necessidade de uma ação pública, ordenando e propondo soluções que 
até o momento eram implementadas apenas pelo setor privado, com objetivos 
individuais, de curto prazo e em escala reduzida” (ABIKO; ALMEIDA; 
BARREIROS, 1995, documento on-line).
Com isso a disciplina do urbanismo passa a ser considerada, sendo um 
meio para entender e buscar soluções para esses problemas urbanos. Benevolo 
(2001) destaca que o urbanismo surgiu muito antes desse momento, mas foi 
nesse período que ele adquiriu importância. Conforme Abiko, Almeida e 
Barreiros (1995), em um primeiro momento surgiram algumas ideias urba-
nísticas sanitaristas, priorizando abastecimento de água e melhoramento do 
sistema de esgoto, com a intenção de promover a salubridade das cidades. 
Nesse momento legislações relacionadas a esse assunto também foram criadas 
e cidades industriais como Londres, Manchester e Liverpool puderam criar 
estratégias para combater tais problemas.
Ao nível das ideias, os primeiros intelectuais a estudar e a propor formas para 
corrigir os males da cidade industrial polarizaram-se em dois extremos: ou se 
defendia a necessidade de recomeçar do princípio, contrapondo à cidade existente 
novas formas de convivência ditadas exclusivamente pela teoria, ou se procurava 
resolver os problemas singulares e remediar os inconvenientes isoladamente, 
sem ter em conta suas conexões e sem ter uma visão global do novo organismo 
citadino (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995, documento on-line).
Um dos exemplos de planos desenvolvidos nesse momento foi a proposta 
de cidades-jardins de Ebenezer Howard, que tinha como objetivo, segundo 
Cidades modernas no mundo2
Abiko, Almeida e Barreiros (1995), a eliminação da especulação dos terrenos, 
o controle do crescimento através da limitação da população e o equilíbrio 
funcional entre as atividades. 
Outro exemplo foi a proposta de cidade industrial de Tony Garnier, que, 
com base no urbanismo progressista e racionalista, buscou a ordenação das 
cidades através de soluções plásticas e utilitárias. Esse pensamento de urba-
nismo culminou na criação dos Congressos Internacionais de Arquitetura, 
que iniciaram no ano de 1928 com a junção de arquitetos e urbanistas que 
conceituam o urbanismo e deram origem ao conceito modernista. Segundo 
a Declaração de La Sarraz, de junho de 1928, o urbanismo pode ser definido 
como “[…] a disposição dos lugares e dos locais diversos que devem resguardar 
o desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual, em todas as suas 
manifestações individuais e coletivas” (BIRKHOLZ, 1967, p. 33). Ainda, no 
documento foi destacado que tanto as aglomerações urbanas quanto rurais 
interessam ao urbanismo, e que suas três funções principais são habitar, recrear 
e trabalhar. Com os objetivos do urbanismo foram definidas as ações de uso 
e ocupação do solo e a organização da circulação e legislação.
Já no ano de 1933, o 4º Congresso Internacional da Arquitetura Moderna 
(CIAM), ocorrido na Grécia, originou a Carta de Atenas que, conforme ressal-
tam Abiko, Almeida e Barreiros (1995), foi a chave para mudanças qualitativas 
nas cidades. Dentre as principais características do urbanismo modernista, 
demonstradas nesse documento, pode-se destacar:
  a cidade como parte do conjunto político, econômico e social;
  o urbanismo não pode se submeter às regras estéticas gratuitas;
  o urbanismo deve ser sua própria essência, tendo ordem funcional;
  as cidades devem ter quatro funções principais, as quais o urbanismo 
deve zelar: habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpo e o espírito;
  o parcelamento do solo fruto de partilhas, vendas e especulações deve 
ser alterado por uma economia de reagrupamento;
  o urbanismo deve dar condições para criação de circulações modernas;
  deve priorizar a criação de espaços livres;
  obrigatoriedade do planejamento regional;
  submissão da propriedade privada do solo urbano aos interesses 
coletivos, a industrialização dos componentes e a padronização das 
construções;
  edificação concentrada, mas adequadamente relacionada com amplas 
áreas de vegetação;
3Cidades modernas no mundo
  admite ainda o uso intensivo da técnica moderna na organização das 
cidades, o zoneamento funcional, a separação da circulação de veículos 
e pedestres, a eliminação da rua corredor e uma estética geometrizante;
  zonas urbanas definidas e separadas;
  grandes espaços livres entre as edificações;
  circulações bem definidas.
Ainda, conforme acrescenta Choay (2007), é importante compreender 
que a linha de urbanismo progressista/funcionalista/racionalista que deu 
origem ao urbanismo moderno acreditava que suas estratégias poderiam ser 
utilizadas em qualquer cidade e qualquer local, tendo um caráter universal. 
Nesse sentido, outra característica dessa vertente é que ela é marcada por uma 
simplificação funcional.
Como grandes objetivos do modernismo para as cidades, pode-se destacar 
a ocupação racional do uso do solo, a organização da circulação urbana e a 
criação de meios legais para a atuação de melhoria tanto no território da cidade 
como do campo. Através disso, busca-se promover o desenvolvimento da via 
material, espiritual e sentimental.
Pode-se afirmar que esse foi um momento onde os arquitetos e urbanistas 
puderam colocar suas ideias em prática,
tirando muitas propostas do papel: 
assim, as características mais marcantes desse movimento foram sendo incor-
poradas em propostas e planos urbanos com o intuito de resolver os problemas 
e criar melhores condições de moradias nesses locais.
2 Urbanismo modernista em cidades existentes
O urbanismo modernista foi importante porque trouxe uma nova visão sobre o 
funcionamento das cidades, demonstrando a relevância de se projetar para uma 
melhor qualidade de vida e de pensar questões relativas a recuos, afastamentos, 
ajardinamentos, insolação, ventilação natural e outros aspectos. Com isso, os 
conceitos do urbanismo modernista refl etiram em planos para cidades existentes 
e, igualmente, em planos para novas cidades. A importância desse movimento 
foi tão grande para o período pós-revolução industrial que cidades projetadas 
com base nesse pensamento modernista surgiram no Brasil e no mundo.
Dois grandes exemplos de cidade modernistas são Brasília, capital do Brasil, 
que foi inaugurada no ano de 1960 e atualmente é o centro político do país, 
tendo quase dois milhões e meio de habitantes, e Chandigarh, que é a capital 
dos estados de Punjabe e de Haryana, na Índia. A cidade de Chandigarh foi 
Cidades modernas no mundo4
fundada no ano de 1947, após a divisão do país com o objetivo de servir de 
capital à porção indiana de Punjabe.
Cidade de Brasília
Brasília foi inaugurada no dia 21 de abril do ano de 1960 e é Patrimônio Cultural 
da Humanidade, tendo a maior área urbana inscrita na lista de Patrimônio 
Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (UNESCO). De acordo com Buchmann (2002), a ideia de construir uma 
nova capital para o Brasil surgiu ainda no ano de 1789, em virtude de acharem 
o Rio de Janeiro muito vulnerável a ataques, por estar situado no litoral. Foi 
sugerido que a nova capital fosse localizada na região do planalto central. 
Através da Constituição de 1891, defi ne-se que a Capital deve ser transferia ao 
Planalto Central do país. Porém, somente no ano de 1955 Juscelino Kubitschek 
promete, como campanha para ser eleito, construir a nova capital. Assim, no 
ano de 1956, o então presidente do Brasil anuncia o Concurso Nacional do 
Plano Piloto da Capital do Brasil, que já estabelecia os contornos do Lago 
Paranoá, as localizações do aeroporto, do Palácio da Alvorada e do Brasília 
Palace Hotel. A Figura 1 mostra uma vista aérea de Brasília.
Figura 1. Vista aérea de Brasília.
Fonte: Wagner Santos de Almeida/Shutterstock.com.
5Cidades modernas no mundo
Conforme Buchmann (2002), a ideia da comissão organizadora e julgadora 
do concurso era que a capital fosse diferente de qualquer outra cidade de 500 
mil habitantes (que era a população estimada para habitar esse novo local). O 
local deveria ser uma cidade funcional, com base nos preceitos da Carta de 
Atenas, e que fosse a própria expressão da sua arquitetura. Com a principal 
função governamental, as demais — habitar, trabalhar, recrear e circular — 
deveriam coexistir e formar um traçado moderno, com as funções integradas 
de uma maneira racional. Outra exigência da comissão para o novo Plano 
era que a proposta apresentasse grandeza e unidade, através da hierarquia e 
clareza de elementos.
Deste modo, o plano piloto que melhor integra os elementos monumen-
tais na vida cotidiana da cidade como Capital Federal, apresentando 
composição coerente, racional, de essência urbana, baseado na teoria do 
urbanismo moderno, é o projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa. 
Como o urbanismo moderno/funcionalista trata a cidade como máquina, 
onde o autoritarismo espacial visa um rendimento máximo das funções 
urbanas, o projeto da cidade moderna de Lucio Costa vai ao encontro 
também com os anseios do Governo do então presidente Juscelino Ku-
bitschek (SABBAG, 2012, p. 60).
Sabbag (2012) complementa que essa proposta foi escolhida porque acre-
ditaram que a monumentalidade das edificações e a forma do traçado urbano 
iriam impulsionar a concretização da nova capital. Ainda, além do projeto, 
foram estabelecidas estratégias para o crescimento da capital para os próximos 
40 anos. 
As principais características modernistas na cidade dizem respeito à 
setorização extrema e à funcionalidade rígida do traçado. As áreas são 
definidas em áreas residenciais, administrativa e comercial/serviços. 
A estrutura hierárquica do Plano evidencia a parte residencial disposta no 
eixo rodoviário e a parte administrativa e comercial no eixo monumental. 
Sabbag (2012) destaca que o Plano é resultado do eixo rodoviário, eixo 
monumental e da plataforma, que é a área que faz a ligação entre os dois 
eixos e onde se encontra a rodoviária. Segundo o autor, a proposta foi 
concebida de um gesto que traça dois eixos que se cruzam, formando uma 
cruz, adaptando o Plano à topografia local, considerando o escoamento 
das águas e a orientação solar. Na Figura 2, vemos o croqui do projeto do 
Plano Piloto de Brasília, de 1957.
Cidades modernas no mundo6
Figura 2. Croqui do projeto do Plano Piloto de Brasília (1957), em que se observam o eixo 
monumental (ao centro), com setores de comércio, hotelaria e lazer, e as asas nas laterais, 
compostas pelo setor residencial.
Fonte: Sabbag (2012, p. 64).
Outra característica marcante da cidade de Brasília é a utilização de quatro 
escalas, sendo elas: monumental, residencial, gregária e bucólica. A monumen-
tal refere-se ao eixo monumental, que se estende desde a Praça dos Poderes 
até a Praça do Buriti. A escala residencial é representada pelas superquadras 
das asas norte e sul. A gregária, também chamada como escala de convívio 
refere-se aos setores comercial, hoteleiro, de diversão, plataforma rodoviária 
e antenas. Já a escala bucólica é definida pelas grandes áreas verdes presentes 
e espalhadas por toda a cidade. 
O eixo rodoviário tem como função a integração da circulação e contém 
pistas centrais de velocidade e pistas laterais para tráfego local, substituindo 
as ruas corredor e incorporando sistemas de trevos. A parte administrativa e 
governamental da cidade é composta pelos centros cívico, cultural, de diversões, 
de esportes, entre outros. 
7Cidades modernas no mundo
Conforme Sabbag (2012), a cidade de Brasília é considerada o maior 
exemplo brasileiro do urbanismo modernista, porque além de apresentar 
os preceitos dessa vertente, com a separação de funções e setores na ci-
dade, e das grandes edificações soltas nos espaços verdes e circulações de 
dimensões largas, ela apresenta os ideais de integração, desenvolvimento e 
modernização nacional. Atualmente, Brasília contém mais de 2,5 milhões 
de habitantes que estão situados, além do Plano Piloto, nas adjacências 
através de cidades-satélites. Essas cidades, diferentemente da parte central, 
não foram planejadas e sofrem com diversos problemas relacionados ao seu 
crescimento desordenado.
Cidade de Chandigarh
A cidade de Chandigarh, na Índia, cuja planta vemos na Figura 3, é um dos 
grandes exemplos internacionais de urbanismo moderno. O local foi projetado 
por Le Corbusier, o maior representante dessa vertente urbanista. A cidade, 
que fi ca aos pés da Cordilheira do Himalaia, foi totalmente planejada. Segundo 
Pacca (2016), a proposta de planejamento dessa cidade passou pela mão de 
diversos profi ssionais até chegar para Le Corbusier. O local foi considerado um 
grande laboratório para levantar e aplicar conceitos do urbanismo modernista 
relacionados a densidade, relação entre espaço público e privado, cidade e 
natureza, circulações, entre outros.
O núcleo original da cidade também foi pensado para abrigar 500 mil 
habitantes, e o traçado, segundo Semin (2012), deu-se através da malha orto-
gonal desenhada com base no cardo e no decumano (conceito da morfologia 
romana), considerando hierarquia de circulações e superquadras. 
As unidades de vizinhança explicitam os princípios do movimento mo-
derno e da nova condição política pós-colonial dos indianos. Os centros 
comerciais (inner
market) são mais atraentes e dinâmicos que em Brasília 
por terem mais andares com escritórios e com mais ruas internas com 
estacionamento formando um conjunto muito movimentado por pedestres 
que percorrem as galerias e as ruelas cheias de árvores (SEMIN, 2012, 
documento on-line).
Cidades modernas no mundo8
Figura 3. Chandigarh, planta da cidade projetada.
Fonte: Semin (2012, documento on-line).
As edificações projetadas para a cidade também expressam o momento 
e a ideia do urbanismo, representando um momento de libertação da popu-
lação da Índia através da implantação, das proporções e do tratamento das 
superfícies como, por exemplo, as cores, os volumes, etc. A cidade conta com 
artérias de circulação muito bem definidas que dão origem às superquadras, e 
essas são definidas por setores, como por exemplo, comerciais, institucionais, 
residenciais, entre outros. As áreas verdes contam com enormes canteiros e 
um paisagismo projetado. 
Suas superquadras têm dimensões de 800 × 1200 metros, rodeadas por 
estradas que não dão acesso direto às residências. Cada setor foi pensado para 
atender às necessidades dos seus habitantes e é composto por faixas verdes para 
acomodar equipamentos, com tráfego proibido. As estradas são classificadas 
em algumas categorias, sendo divididas em vias rápidas, arteriais, caminhos 
de pedestres e ciclovias, entre outros. 
9Cidades modernas no mundo
Conforme Semin (2012), existem ainda áreas de interesse arquitetônico 
especial, que contam com uma harmonização e unificação nas construções, 
além do controle arquitetônico e também do rígido zoneamento. Nas áreas 
industriais, as indústrias devem ser movidas à eletricidade, para evitar a 
poluição. A cidade ainda conta com um lago, com o objetivo de promover aos 
cidadãos o contato com a natureza. O paisagismo foi pensado tendo em vista 
as espécies da Índia, que foram escolhidas para cada porção, considerando 
a composição e o esquema de cores para embelezar a cidade. A Figura 4, a 
seguir, mostra o zoneamento de Chandigarh.
Figura 4. Zoneamento de Chandigarh.
Fonte: Adaptada de Fiederer (2017).
Cidades modernas no mundo10
A duas cidades demonstradas como exemplo são referências no Brasil e no 
mundo porque foram projetadas levando em conta os princípios do urbanismo 
modernista e se tornaram um marco para o momento em que foram construídas, 
de forma a demonstrar novas visões em novas formas de planejar as cidades 
que até então eram tradicionais.
3 Crítica às cidades modernistas
O urbanismo modernista foi referência por trazer novas formas de pensar 
às cidades e discutir assuntos importantes que até então não eram tão con-
siderados. Ainda, esse planejamento permitiu a valorização e destacou a 
importância e a necessidade de um planejamento urbano para que os centros 
urbanos pudessem estar adequados à necessidade dos habitantes.
Apesar de trazer diversas contribuições, com o passar do tempo seus prin-
cípios passaram a ser discutidos e analisados, tendo em vista que tudo pode 
ser melhorado e evoluído. Dessa maneira, e conforme as novas necessidades 
da população e também questões mal resolvidas ou problemas que foram 
surgindo nas cidades modernas, alguns estudiosos e críticos começaram a 
elaborar novos conceitos e novas formas de planejar as cidades, criticando o 
urbanismo modernista. 
Uma das grandes críticas às cidades modernistas, e principalmente ao fun-
cionalista, é feita por Henry Lefebvre (2001, p. 185), que afirma que essa ideia 
trata-se de uma “[...] inteligência analítica”, e que quem determina os setores e 
suas funções acha-se um expert por acreditar que tudo pode prever e organizar, 
quando na verdade um centro urbano é muito mais complexo do que isso.
Lefebvre (2001) complementa ainda que nesse modelo de cidade as pessoas 
e as habitações funcionam como se fossem anexos e auxiliares da organiza-
ção técnica do trabalho. Dessa forma, esses planos ortogonais e setorizados 
acabaram dissociando as atividades da cidade, que antes se comportavam 
de forma orgânica e espontânea. Ele destaca ainda que são as cidades que 
devem adaptar-se aos moradores, e não o contrário. E ainda que essas questões 
acabam contribuindo para a segregação social, na medida em que cada classe 
e cidadão tem o seu lugar específico na cidade.
A segregação […] hierarquiza os grupos e classes sociais e desfaz as formas 
tradicionais de sociabilidade espontânea — cafés, pequenos comércios e as 
próprias ruas. É, neste sentido, uma força no desenraizamento, na dissociação 
de vínculos, além de retirar parcelas da população da arena das decisões co-
11Cidades modernas no mundo
letivas e excluí-las dos bens socialmente produzidos na cidade. Deste modo, 
a segregação contribui para instalar no urbano a cotidianidade — o trabalho 
estranhado, o lazer passivo e a vida privada reclusa — e, com isto, a fragmen-
tação interna e externa dos sujeitos, o tédio e a monotonia, características da 
modernidade capitalista industrial (COLOSSO, 2016, p. 83).
Um exemplo de cidade projetada em que Lefebvre (2001) critica ainda mais o urbanismo 
modernista é Mourenx, localizada nos Pirineus-Atlânticos, que foi elaborada para os 
trabalhadores da indústria de gás natural. Segundo o autor, a cidade é composta por 
um conjunto de edifícios e torres que alternam as linhas verticais e horizontais da 
cidade e rompem com a paisagem e com a porção antiga, não estabelecendo qualquer 
conexão. Com isso, a cidade não contava com algum passado, porque não tinham 
monumentos, igrejas, cemitérios, e, portanto, não tinha vida urbana, e prevalecia a 
monotonia e o tédio. 
Outro ponto criticado pelos estudiosos pós-modernos diz respeito à des-
consideração da análise do lugar para a implantação dos planos, na medida 
em que o urbanismo modernista acreditava que seus princípios seriam os mais 
adequados para qualquer situação. Com isso, eles não consideravam as espe-
cificidades de cada local, o contexto, a vida urbana, a história e os elementos 
naturais dos sítios. “A ideologia urbanística decorre, em grande medida, do 
fato de o urbanismo se pretender um saber cujas decisões são estritamente 
técnicas, portanto, pautadas por um conhecimento científico exato, indepen-
dente do solo histórico-social no qual foi erigido” (COLOSSO, 2016, p. 82).
Outra grande crítica do urbanismo modernista foi Jane Jacobs, uma jor-
nalista norte-americana que escreveu o Livro Morte e Vida das Grandes 
Cidades (2007), o qual traz diversos aspectos das cidades modernas com 
os quais ela não concorda. A autora destaca a prevalência do automóvel nas 
cidades modernas, evidenciando que o pedestre se perde nesse meio de grandes 
superfícies vazias e superquadras.
Em seu livro, Jacobs (2007) critica que uma política urbana voltada para o 
automóvel e determinada pelo capital despreza os valores sociais e prejudica 
a moradia, a mobilidade e o lazer, desprezando, acima de tudo, o cidadão. 
Cidades modernas no mundo12
Nesse sentido, o urbanismo modernista acaba originando cidades que não 
valorizam a escala humana. Ela complementa que os espaços monumentais e a 
setorização urbana geram uma monotonia na cidade, originando locais vazios 
onde as pessoas não vão e nem permanecem. Isso acaba negando a vitalidade 
e também a interação de funções, negando a diversidade.
A autora acredita que as ruas e a calçadas são os espaços vitais de uma 
cidade, e que a convivência e a integração social se desenrolam por meio 
desses elementos. Na cidade moderna esses espaços não são pensados para 
as pessoas, nem com relação à escala e nem com relação aos usos, o que faz 
com que as cidades se tornem cada vez mais inseguras e tediosas. Para Jacobs 
(2007), uma cidade deve ser pensada considerando o pedestre, as distâncias 
caminháveis, a variedade de usos, quarteirões curtos, valorização e conservação 
de prédios antigos, entre outros elementos. 
O urbanismo modernista surgiu com uma ótima intenção, que era a de 
melhorar as condições das cidades existentes, que estavam
sofrendo com a 
desordem e o caos provocados pela revolução industrial. Com ideias inovadoras 
e diferenciadas, os modernistas demonstraram os problemas das cidades, 
propondo soluções. Seus planos, muitas vezes utópicos e ilusórios, serviram 
para demonstrar alternativas e estratégias que melhorariam a salubridade, os 
congestionamentos, as edificações e a qualidade de vida.
Mesmo com todas essas contribuições, na medida em que esse tipo de 
urbanismo foi sendo aplicado, uma nova vertente passou a discutir essas 
propostas inovadoras, percebendo os outros problemas que elas causavam, 
como a falta da sensação de pertencimento na cidade, a insegurança gerada 
pelos grandes espaços abertos e livres, e também a escala voltada para o 
automóvel. 
Assim, críticas a esse movimento surgiram para que o planejamento urbano 
pudesse evoluir mais uma vez e tornar-se mais adequado às necessidades do 
período. Tanto Jacobs, como Lefebvre e outros pesquisadores e estudiosos 
começaram a trazer novos elementos para serem pensados nos planos urbanos, 
como por exemplo, uma escala voltada para o pedestre, a diversificação de 
usos, entre outros elementos. De qualquer forma, todos os pensamentos, seja 
da vertente modernista como da pós-modernista, trouxeram contribuições para 
o urbanismo e serviram para os estudos e a evolução a respeito da qualidade 
das cidades.
13Cidades modernas no mundo
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Cidades modernas no mundo14
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