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Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 5ª Turma Cível Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0703223-76.2022.8.07.0001 APELANTE(S) OLIVEIRA,BRAGA & PARCA ADVOGADOS ASSOCIADOS - EPP e CARLOS MAGNO VIEIRA DA SILVA APELADO(S) MARIA CRISTINA DE SA Relatora Desembargadora ANA CANTARINO Acórdão Nº 1649456 EMENTA APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. RESILIÇÃO UNILATERAL DO CONTRATO. REQUISITOS PREVISTOS NAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. OBSERVÂNCIA. INEXIGIBILIDADE DO VALOR EXECUTADO. OBRIGAÇÃO DE PAGAMENTO EM DINHEIRO. DIVÍSIVEL. SOLIDARIEDADE. AUSENCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. INAPROPRIADA A EXIGÊNCIA DO VALOR TOTAL DE APENAS UM DEVEDOR. 1. A rescindibilidade bem como o arrependimento, são próprios dos contratos, de modo que nenhum contrato pode ser considerado irrescindível. A resilição do contrato traduz o exercício de direito potestativo por uma das partes, a partir de expressa previsão legal ou contratual, que relativiza o princípio da força vinculante dos contratos. 2. Não é cabível condicionar o direito à rescisão unilateral do contrato ao pagamento de quantia que somente seria exigível em razão do resultado obtido após o processamento e julgamento das ações de inventário e reintegração de posse que foram objeto do contrato de prestação de serviços advocatícios. Trata-se de condição contraditória ao direito de o contratante optar por rescindir o contrato antes do término do objeto do contrato. 3. No caso concreto, a embargante optou pela resilição unilateral do contrato antes de que houvesse definição do patrimônio dos herdeiros na ação de inventário, e após o pagamento de metade do valor dos honorários fixos estipulados no contrato, atendendo o disposto na cláusula que admitia a rescisão unilateral do contrato. Portanto, caracterizada a inexigibilidade dos valores apontados na ação de execução por se referir a período em que não já estava mais vigente o contrato de prestação de serviços advocatícios. 4. É certo que a obrigação de pagamento em dinheiro comporta fracionamento, portanto, é claramente divisível. Inteligência do artigo 258 do Código Civil. 5. Consoante o disposto no art. 265 do Código Civil a solidariedade de uma obrigação não se presume, pois decorre da lei ou diretamente da manifestação de vontades. Assim, diante da falta de manifestação expressa no contrato de prestação de serviços advocatícios no sentido de que a obrigação do pagamento de honorários advocatícios contratuais seria solidária entre os contratantes, não se poderia cogitar que a execução da totalidade de eventual débito em dinheiro decorrente de tal contrato fosse direcionada a apenas de um dos contratantes. 6. Recurso conhecido e improvido. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ANA CANTARINO - Relatora, MARIA IVATÔNIA - 1º Vogal e JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora ANA CANTARINO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 14 de Dezembro de 2022 Desembargadora ANA CANTARINO Presidente e Relatora RELATÓRIO Cuida-se de recurso de apelação interposto pelos embargados OLIVEIRA, BRAGA & PARCA ADVOGADOS ASSOCCIADOS EPP e CARLOS MAGNO VIEIRA DA SILVA contra a sentença de ID 40522719, proferida nos autos dos embargos à execução, que julgou procedente o pedido formulado pela embargante MARIA CRISTINA DE SA determinando a extinção da execução por inexigibilidade da dívida. Em face da sucumbência, condenou a parte embargada ao pagamento das custas e honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa. Em suas razões recursais (ID 40522724), os embargados aduzem que a dívida é exigível. Alegam que restou devidamente comprovada a efetiva prestação dos serviços advocatícios, na forma contratada, e que a embargante ficou inadimplente, por não honrar com os pagamentos mensais especificados no contrato, fato que justifica o ajuizamento da ação de execução embargada para a cobrança do valor relativo às parcelas inadimplidas. Defendem que o Juízo proferiu a sentença com base em premissa equivocada ao sustentar que aa quo embargante realizou o pagamento de 50% do valor dos serviços contratados, para aplicar a regra de rescisão unilateral contida na cláusula sexta do contrato de prestação de serviços. Informam que, a cláusula segunda do contrato de prestação de serviços estipulou que o pagamento dos honorários advocatícios ocorreria da seguinte maneira: I) R$ 2.000,00 por mês durante o período de 24 meses, a partir de 02/01/2020; II) mais o percentual de 10% sobre o valor do acervo patrimonial definido em inventário para os inventariantes e beneficiários na ação de reintegração. Deste modo, a verba honorária pela contraprestação dos serviços, deveria ser honrada em 24 parcelas mensais mais o percentual do benefício econômico advindo do inventario judicial e da ação de reintegração de posse. Esclarecem que como a embargante pagou apenas 12 parcelas mensais e ficou inadimplente por sete meses até o ajuizamento da ação executiva embargada, o contrato não poderia ser rescindido unilateralmente, com esteio na cláusula sexta do contrato, pois não ocorreu o pagamento dos valores de acordo com o disposto na cláusula segunda. Sustentam que, para a embargante se valer da rescisão unilateral, deveria ter realizado o pagamento de montante equivalente ao menos à metade dos dois itens previstos na cláusula segunda (valor fixo e percentual sobre proveito econômico advindo do inventario e reintegração de posse), fato que não ocorreu. Argumentam que a embargante somente poderia optar pela rescisão unilateral do contrato caso estivesse adimplente. Ponderam que não merece guarida a argumentação contida na sentença no sentido de que a embargante não deve pagar o valor integral executado por não ser a única devedora da obrigação, pois como o contrato estabelece o dever de pagar pontualmente aos embargados contratados, a obrigação seria indivisível consoante prescreve o art. 258 do Código Civil. Assim, poderiam ter escolhido qualquer um dos contratantes para responder pelo inadimplemento contratual. Ao final, requerem a reforma da sentença julgando totalmente improcedente o pedido da embargante apelada. Preparo regular (ID 40522726). A embargante apresentou suas contrarrazões no ID 40522733 onde requer que seja confirmada a manutenção integral da sentença proferida. É o relatório. VOTOS A Senhora Desembargadora ANA CANTARINO - Relatora Conheço do recurso, pois presentes os requisitos de admissibilidade. Cinge-se a controvérsia em verificar se é exigível a quantia postulada pelos embargados em desfavor da embargante na ação de execução que tem por objeto o contrato de prestação de serviços advocatícios. Inicialmente é importante ressaltar que os honorários advocatícios contratuais (pactuados entre o advogado e o cliente), consistem na remuneração cobrada pela prestação de um serviço realizado por um advogado. O valor é variado e definido previamente entre as partes contratantes. Tais honorários não se confundem com os honorários de sucumbência. Estes consistem no valor repassado pela parte perdedora de um processo ao advogado da parte vencedora. No caso concreto, verifica-se que o contrato de prestação de serviços advocatícios objeto da ação de execução de título extrajudicial, estabeleceu como seria a remuneração e forma de pagamento em sua cláusula segunda, a seguir transcrita (ID 40522674, p. 4): CLÁUSULA SEGUNDA – REMUNERAÇÃO E FORMA DE PAGAMENTO A remuneração pela prestação de serviços será de (I) R$ 2.000,00 (dois mil reais) por mês durante o período de 24 meses, sendo a primeira em 02 de janeiro de 2020; (II) mais o percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor do acervo patrimonial definido em inventário para os inventariantes e beneficiários e na ação de reintegração. §1º - O pagamento do percentualde 10% ajustado no caput poderá ser pago em dinheiro e/ou compensado em uma área integrante do acervo patrimonial correspondente ao valor do percentual ajustado; §2º - Em caso de pagamento em área estipula-se que as partes, de forma consensual definirão a localização da referida área; §3º No caso de levantamento de valores através de alvará judicial será repassado aos contratados o percentual de 10% sobre os referidos valores liberados. Através da leitura da referida cláusula verifica-se que além de um valor fixo a ser pago a título de honorários (cláusula 2, item I), existia um valor que seria objeto de pagamento ao final das ações de inventário e reintegração que os exequentes, ora embargados apelantes, foram contratados para ajuizar (cláusula 2, item II). Constata-se que o pagamento estabelecido no item II da cláusula segunda se trata, na realidade, de verba de honorários fixados , poisad êxitum a verba só seria devida após a conclusão da ação de inventário e da ação de reintegração de posse, onde restaria definido o acervo patrimonial que caberia aos contratantes. Portanto, o item II da cláusula segunda estabelece uma obrigação de resultado entre os contratantes, entendendo-se como resultado aquele decorrente dos bens que comporiam o acervo patrimonial dos contratantes após definição das ações judiciais propostas sob seu patrocínio (ação de inventário e reintegração de posse). Estabelecida tal premissa, necessário verificar qual o parâmetro que deve ser adotado para a incidência da cláusula sexta do contrato celebrado entre as partes a qual dispõe sobre a possibilidade de rescisão unilateral do contrato de prestação de serviços advocatícios. Confira-se a seguir o teor da referida cláusula (ID 40522674, p 3-4): “CLÁUSULA SEXTA – RESCISÃO CONTRATUAL Este Contrato poderá ser rescindido por ato unilateral dos CONTRATANTES desde que seja pago aos contratados 50% dos valores avençados na cláusula segunda.” É certo que a rescindibilidade bem como o arrependimento, são próprios dos contratos, de modo que nenhum contrato pode ser considerado irrescindível. Por esse motivo, os princípios da força obrigatória e da intangibilidade dos contratos podem ser mitigados pela lei ou pelo próprio exercício da autonomia da vontade dos contratantes, que podem prever a possibilidade de arrependimento por manifestação unilateral de qualquer das partes com o exercício do denominado direito de resilição. Portanto, um contrato firmado poderá ser terminado por vontade de apenas uma das partes, sem que haja necessariamente motivo ou justa causa. Esta é a chamada rescisão unilateral, prevista no art. 473 do Código Civil. No caso concreto, verifica-se que as partes estabeleceram a possibilidade de rescisão unilateral do contrato de prestação de serviços celebrado entre as partes (cláusula sexta do contrato de ID 40522674), para tanto ficou estipulado que esta poderia ocorrer após o pagamento de 50% do valor dos honorários avençados entre as partes. Assim, considerando que a rescisão unilateral tem o condão de assegurar que nenhuma das partes seja obrigada a continuar vinculada a uma relação contratual, não é razoável entender que seria necessário que a embargante além de arcar com o pagamento dos honorários fixos, teria que arcar com o pagamento de 50% dos bens que fariam parte do seu acervo patrimonial após o término do inventário, pois, consoante restou afirmado na sentença, se tivesse sido definida a partilha dos bens do inventário, estaria encerrado o objeto do contrato de prestação de serviços advocatícios, não sendo necessário ocorrer a resilição unilateral. Analisando detidamente a presente ação, observa-se que os embargados exequentes afirmaram na inicial da execução (documento de ID 40522675, p. 3) que a embargante executada arcou com o pagamento pontual da quantia de R$ 2.000,00 de janeiro de 2020 até dezembro de 2020, ou seja, 12 meses pagando a quantia indicada, cujo somatório equivale ao montante de R$ 24.000,00, justamente metade do valor indicado no item I da cláusula segunda. Deste modo, consoante restou constatado, a aplicação da possibilidade de rescisão unilateral prevista na cláusula sexta poderia ocorrer quando houvesse o pagamento de metade dos honorários fixos estabelecidos no inciso I da cláusula segunda (R$ 24.000,00), pois o pagamento dos honorários devidos no item II da cláusula segunda somente seriam devidos ao final da ação de inventário, ou seja ao final da prestação dos serviços contratados, o que é incompatível com o intuito da resilição unilateral, a qual é uma forma de extinção antecipada do contrato. Portanto, conclui-se que a interpretação dada pelo Juízo a quo na sentença recorrida está correta. Ademais, restou incontroverso que a embargante notificou os embargados, ora apelantes, a respeito da resilição do contrato de prestação de serviços, pois os próprios apelantes embargantes admitiram tal fato em sua impugnação aos embargos (ID 40522699) e na ação de execução (ID 40522675). Inclusive, verifica-se que não houve o prosseguimento da ação de inventário ajuizada pelos embargados exequentes, pois houve a desistência da ação, consoante se observa pelo documento de ID 40522148. Assim, como os embargados apelantes não tiveram atuação até o deslinde da repartição dos bens dos herdeiros, e, constatada a resilição do contrato de prestação de serviços, não está caracterizada a obrigação contratual ao pagamento de honorários relacionada a obrigação de resultado prevista no item II da cláusula segunda. Portanto, constata-se que de fato ocorreu a rescisão unilateral do contrato de prestação de serviços, após o decurso do prazo de 12 meses, e mediante o pagamento de metade do valor dos honorários contratuais fixos estabelecidos no item I, da cláusula segunda, de acordo com a previsão contratual existente (cláusula sexta). Assim, não há que se falar em exigibilidade do débito perseguido na ação de execução, eis que a quantia pleiteada é de período posterior à rescisão unilateral do contrato. Destarte, alegam os embargados apelantes, que a obrigação de pagamento de honorários estipulada no contrato de prestação de serviços advocatícios poderia ser exigida em sua totalidade da embargante apelada por se tratar de obrigação indivisível. Verifica-se que o contrato de prestação de serviços advocatícios de ID 40522674 tem como contratantes MARIA CRISTINA DE SA (embargante apelada) e EDSON CORREA DE ARAUJO ROCHA. Vale ressaltar que a obrigação contraída pela embargada e o outro contratante, de pagar pelos serviços advocatícios, não se qualifica como obrigação indivisível. É o que se pode observar pelo disposto no artigo 258 do Código Civil: “Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.” A obrigação indivisível, segundo a inteligência desse dispositivo legal, é aquela que tem por objeto prestação que só pode ser adimplida integralmente, isto é, que não comporta cumprimento fracionado ou por partes. Portanto, como o contrato celebrado entre as partes estabelece obrigação de pagamento em dinheiro a qual comporta fracionamento, trata-se de obrigação claramente divisível. Ademais, também não se está diante de uma obrigação solidária, onde se poderia se exigir de apenas um devedor a responsabilidade integral por determinada obrigação (solidariedade passiva), pois consoante do disposto no art. 265 do Código Civil, a solidariedade não se presume, pois decorre diretamente da lei ou de manifestação de vontade, o que não é o caso do presente feito. Assim, acaso se estivesse diante de uma quantia exigível, a qual não é o caso do presente feito, consoante restou demonstrado acima, não se poderia exigir somente da embargada o débito em sua totalidade, por se tratar de obrigação divisível e não solidária, hipótese em que ocorreria a incidência do disposto no art. 257 do Código Civil, que estabelece “havendo mais deum devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais ou distintas, .quantos os credores ou devedores” Deste modo, forçoso reconhecer a inexigibilidade do débito perseguido na ação de execução proposta pelos embargados apelantes. Ante o exposto, CONHEÇO E NEGO PROVIMENTO ao recurso. Considerando, ainda, a sucumbência recursal dos embargados, ora apelantes, majoro os honorários fixados na sentença para 12% (doze por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, §11, do CPC. É como voto. A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal Com o relator DECISÃO CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.
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