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Características do processo do trabalho Apresentação O processo do trabalho possui algumas características peculiares em termos de estruturação e de organização de suas instituições dotadas de função jurisdicional. Por causa dessas peculiaridades, é necessário aprofundar o estudo na disposição normativa, seja constitucional, seja legal, dos órgãos que integram o Poder Judiciário trabalhista, observando sua estruturação funcional e também suas competências. O tema é de grande importância prática, pois somente com as atribuições funcionais e com o correto enquadramento da competência de cada órgão dotado de jurisdição é que se sabe especificamente qual juiz está capacitado para apreciar, para processar e para julgar determinada ação trabalhista. Saber qual causa cabe a qual juiz é um dos elementos essenciais do processo trabalhista, e sem o qual não se é possível pensar em tramitação rápida, célere e eficiente em um sentido mais amplo de judicatura. Por isso, além de ser necessário compreender quais os critérios de distribuição de competência trabalhista (em termos materiais, funcionais e territoriais), também se faz necessário estudar a organização dos órgãos que compõem a seara trabalhista, bem como suas divisões e subdivisões estruturantes. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender como se organiza a Justiça do Trabalho, quais os órgãos que a integram, como se dá a sua estruturação funcional, pormenorizando esses detalhes nas Varas do Trabalho, nos Tribunais Regionais do Trabalho e também no órgão máximo dessa estrutura do Poder Judiciário, o Tribunal Superior do Trabalho. Também vai relembrar a competência da Justiça do Trabalho, passando pelos três principais critérios de fixação: o material, o funcional e o territorial. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relembrar a organização e a competência da Justiça do Trabalho.• Explicar a competência material da Justiça do Trabalho.• Descrever a competência territorial e funcional da Justiça do Trabalho.• Desafio A questão da fixação da competência é algo de grande importância para o processo como um todo e mais importante ainda no processo do trabalho, que, por ser dotado de uma parte hipossuficiente (o trabalhador), precisa fomentar da maneira mais ampla possível os pressupostos de acesso à Justiça. Tendo em vista o impacto que a fixação da competência pode causar na tramitação do processo e no acesso à Justiça, você como representante da parte autora (reclamante), em um processo trabalhista, tem que zelar pelo bom andamento do processo, de forma ética, equânime e, de preferência, da maneira mais rápida possível. Trazer a resolução e o provimento jurisdicional ao demandante do processo é um dos desafios mais claros para os que atuam na seara trabalhista. Imagine a seguinte situação: Como representante legalmente habilitado, quais opções de fixação de competência territorial lhe apresentaria e qual escolheria, tomando por base que a competência territorial é relativa? Infográfico A estruturação e a organização do Poder Judiciário do Trabalho são uns dos temas mais elementares do Processo do Trabalho, pois é a partir dessa disposição que se pode escrutinar a sua competência e, assim, saber qual é o juiz predeterminado para apreciar e para julgar cada causa trabalhista submetida. Este Infográfico apresenta como se dá essa organização e como os três estratos judicantes do Poder Judiciário trabalhista estão dispostos, desde as Varas do Trabalho, passando pelos Tribunais Regionais e suas competências recursais, chegando, por fim, ao Tribunal Superior do Trabalho, a instância máxima do ramo judiciário trabalhista. Com essa estruturação, é possível esquadrinhar o fluxo processual e recursal das lides na seara laboral. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/d9e02595-fcd1-4a10-9689-e1737b77b76d/a73b9eca-6f0f-4b6b-baf4-8d07b2e12fe3.jpg Conteúdo do livro O Direito processual do trabalho é uma disciplina eminentemente formal, ou seja, demanda estruturas lógicas para se arquitetar juridicamente. A partir dessa noção essencial de como o processo se organiza formalmente, pode-se pensar quais são as estruturas e as formas de moldar que o Poder Judiciário se vale para servir às demandas da sociedade. Assim, a organização e a estruturação do Poder Judiciário trabalhista são fundamentais para que se possa compreender como se dão os seus procedimentos mais práticos, como: onde uma ação deve ser proposta, qual o órgão judiciário competente para apreciá-la e também qual será o órgão ou a instituição responsável para analisar um possível recurso. Todos esses questionamentos e outros que se fundamentam no fluxo processual trabalhista podem ser respondidos a partir do estudo de sua organização e de sua estruturação, elementos que conduzem necessariamente à fixação da competência e dos seus critérios de seleção constitucional e legal. No capítulo Características do processo do trabalho, da obra Direito processual do trabalho, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, veja inicialmente a organização e a estruturação funcional da Justiça do Trabalho, com a sua separação em órgãos e em suas estruturas institucionais, nas Varas do Trabalho, nos Tribunais Regionais e no Tribunal Superior do Trabalho. Além disso, adentre na questão das competências, ou seja, quais os elementos que definem formalmente a qual juízo será cabível determinadas categorias de ações trabalhistas. Nesse primeiro momento, será debatida a questão da competência material da Justiça do Trabalho. Boa leitura. DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Relembrar a organização e a competência da Justiça do Trabalho. > Explicar a competência material da Justiça do Trabalho. > Descrever a competência territorial e funcional da Justiça do Trabalho. Introdução Para poder compreender o funcionamento do ramo do Poder Judiciário que trata das lides trabalhistas, qual seja, a Justiça do Trabalho, é elementar que se saiba como ela se organiza e como é repartida a sua competência. A orga- nização serve de fundamento estrutural de toda a Justiça. A partir do modo como os órgãos são distribuídos e como as instâncias são operacionalizadas, é possível ter um retrato fiel do seu funcionamento processual — ou seja, como que a tramitação ocorre, por quais vias os processos fluem e como se projeta o sistema recursal trabalhista. Assim como os demais ramos do Poder Judiciário, a Justiça do Trabalho se encontra delineada no texto constitucional. O princípio da tripartição dos Poderes, inicialmente delineado por Montesquieu e posteriormente mais bem desenvolvido pela doutrina anglo-saxônica, que o denominou sistema dos freios e contrapesos (checks and balances), encontra-se atualmente amparado no art. 2º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). De acordo com esse princípio, a Justiça do Trabalho tem a função típica de julgar as lides trabalhistas, tendo suas atribuições definidas no art. 111 e seguintes do texto constitucional. Características do processo do trabalho Lauro Ericksen Cavalcanti de Oliveira Neste capítulo, além da organização, já brevemente delineada, você também vai estudar a questão da competência da Justiça do Trabalho. Assim, você vai aprender sobre a competência material, que é a qualidade jurídica intrínseca aos sujeitos do conflito contraposto de interesses na lide — quais sejam, empregados e empregadores. Você também vai compreender as questões das competências funcional e territorial da seara trabalhista. Nesse sentido, você vai verificar os elementos que definem o juízo natural para julgar cada tipo de ação e também os elementos que estabelecem o local onde cada ação deve ser proposta, apreciada e julgada, conforme os critérios estatuídos legalmente. Organização e competênciada Justiça do Trabalho A Justiça do Trabalho foi criada com o advento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, e, ao longo dos anos e das Constituições brasileiras, passou por diversas transformações em sua sistemática de organização e na sua atuação. No entanto, mais importante do que saber como se deu esse transcurso histórico é saber como ela se encontra delineada atualmente. Inicialmente, há de se dizer que o modelo brasileiro de Justiça do Trabalho seguiu o sistema coorporativo italiano, integrado por um juiz togado e dois representantes classistas, um do empregador e outro do empregado. A essa participação de classistas se dá o nome de representação paritária (MARTINS, 2015). Tal disposição de sua organização foi suplantada desde a Emenda Constitu- cional (EC) nº 24 de 1999, ainda que também complementada em largo sentido pela EC nº 45 de 2004, quanto às suas competências, o que será analisado mais adiante, em momento oportuno. Nesse sentido, houve uma verdadeira transformação da estrutura da Justiça do Trabalho, pois a EC nº 24/1999 acabou com o modelo de representação paritário e classista que imperava até então, deixando a cargo dos julgamentos apenas os juízes togados — ou seja, aqueles que são investidos no cargo público da magistratura traba- lhista após se submeterem ao concurso público de provas e títulos. Após a referida EC, a estrutura básica trabalhista, definida constitucio- nalmente no art. 111 da CF/1988, é formada pelos seguintes órgãos: � Tribunal Superior do Trabalho (TST); � Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs); e � juízes do trabalho. Características do processo do trabalho2 Cada um desses órgãos representa um “grau de jurisdição” ou, melhor dizendo, uma possibilidade de se acessar o sistema recursal. Em primeiro grau, ordinariamente, as varas do trabalho são geridas e os feitos são julgados pelos juízes e juízas do trabalho. É importante destacar que unitariamente cada juiz ou juíza corresponde a um órgão da Justiça do Trabalho, de modo que eles não são apenas servidores públicos, mas, sim, agentes políticos que se constituem própria e unitariamente como um órgão em separado. A vara do trabalho é o órgão de primeira instância da Justiça do Trabalho. A circunscrição de cada vara é definida localmente por lei e usualmente abarca alguns municípios próximos que sejam ligados por estradas. A juris- dição (após a EC nº 24/1999) passou a ser exercida pelo juiz togado singular, como determina o art. 116 da CF/1988, ao qual compete, em termos mais abrangentes, processar e julgar as lides trabalhistas e as demais que, por exceção interpretativa, não sejam de competência originária dos tribunais (art. 114 da CF/1988). Na próxima instância, ou seja, no grau recursal inicial, têm-se os TRTs, que são um órgão colegiado integrado por desembargadores federais do trabalho. Com a redação dada ao art. 112 da CF/1988 a partir da EC nº 45/2004, não há mais a obrigatoriedade de um TRT por estado da federação. Assim, a regra de disposição territorial atual prevê a repartição do território em 24 unidades (regiões). É importante fazer a observação de que, no estado de São Paulo, diante do volume de processos, existem dois TRTs, o 2 e o 15. Ainda, existem estados, como Acre, Amapá, Roraima e Tocantins, que integram Regionais que possuem sede em outros estados. Os desembargadores dos TRTs são nomeados pelo presidente, e seu quantitativo final depende do volume processual do Regional — no entanto, o número mínimo é de 7 desembargadores, conforme o art. 115 da CF/1988. Os desembargadores devem ser brasileiros e recrutados sempre que possível dentro de um mesmo Regional; o critério etário é ter mais de 30 e menos de 65 anos. Os juízes compõem 4/5 do recrutamento dentro do Regional, e sua promoção ao cargo deve alternadamente contemplar critérios de antiguidade e merecimento. O quinto restante deve ser preenchido pelos advogados com mais de 10 anos de atividade profissional. Tais causídicos devem ser dotados de notório saber jurídico e reputação ilibada; eles não prestam concurso, sendo nomeados pelo presidente da República em listas sêxtuplas elaboradas pelos próprios tribunais (SCHIAVI, 2016). O quinto constitucional também se aplica aos membros do Ministério Público do Trabalho (MPT), com igual tempo de exercício, em conformidade com o disposto no art. 94 da CF/1988. Características do processo do trabalho 3 O art. 96, I, a, da CF/1988 permite aos TRTs criar seu próprio regimento interno, algo que confere autonomia aos seus procedimentos internos. No entanto, combinando as normas celetistas com as disposições constitu- cionais após a EC nº 45/2004, é possível traçar algumas diretrizes gerais de organização e funcionamento dos Regionais. A primeira delas é que os TRTs, na sua composição plena, devem deliberar com a presença de metade mais um de seus membros, além do presidente. Ademais, as decisões nos Regionais devem ser tomadas pela maioria dos presentes, exceto no caso de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público (art. 97, CF/1988). As turmas dos TRTs só podem deliberar com a presença de no mínimo três membros; para atingir o quórum mínimo, pode o presidente de uma turma convocar membros de outra. O presidente do Regional somente terá voto de desempate, exceto no caso supramencionado do art. 97 da CF/1988. Nas sessões administrativas, o presidente votará como os demais membros, cabendo a ele também o voto de qualidade (desempate). Quando houver recurso contra decisão do presidente, do vice ou do relator, havendo empate, mantém-se o conteúdo recorrido do despacho ou da decisão. Demais aspectos de ordem ou procedimento devem ser estabelecidos pelo regimento interno de cada Regional. Em sede de competência, há de se explanar que cabe aos TRTs o julgamento dos recursos ordinários das varas que lhes sejam corres- pondentes, bem como as ações originárias que lhes sejam cabíveis, como ações rescisórias, dissídios coletivos e mandados de segurança. Na última possibilidade de instância recursal se localiza o TST, sendo esse o ápice da estruturação organizacional da Justiça do Trabalho. As disposições organizacionais do TST se encontram dispostas no art. 111-A da CF/1988, o qual estabelece que o Tribunal será formado por 27 ministros, os quais devem ser escolhidos entre os brasileiros com mais de 35 anos e menos de 60 anos, o quais são nomeados pelo presidente da República, após terem seu nome aprovado pelo Senado Federal. A composição dos 27 ministros deve seguir algumas diretrizes constitu- cionais. A primeira delas é o respeito ao quinto constitucional, nos mesmos moldes delineados para os TRTs, sendo alternadamente definido entre os membros da Ordem dos Advogados do Brasil e do MPT, seguindo a observação do art. 94 da CF/1988. Os demais devem ser desembargadores de carreira, escolhidos nos Regionais, devendo ser indicados pelo próprio TST. Existem dois órgãos que atuam junto ao TST que adquiriram, após a EC nº 45/2004, um valor singular: a Escola Nacional de Formação e Aperfei- çoamento de Magistrados do Trabalho e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT). A Escola tem a função didática precípua de regulamentar Características do processo do trabalho4 cursos oficiais de ingresso na magistratura. Já o CSJT exerce a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus. Ele atua de forma centralizada, e suas decisões possuem efeito vinculante às demais instâncias trabalhistas. Para melhor compreender a estrutura e a organização da instância máxima das lides laborais, é necessário adentrar um pouco na disposição normativa do TST, em específico o art. 65 do seu Regimento Interno, para entender como o Tribunal se divide em seções especializadas. O TST se divide em: Pleno, Órgão Especial, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, duas Seções Especializadas em Dissídios Individuaise suas turmas. O Pleno é a composição total do órgão judicante máximo da seara trabalhista. Para que ele inicie as sessões, é necessária a presença de pelo menos 14 ministros. É exigida a maioria absoluta quando se tratar de alguns temas específicos, como: � escolha dos nomes que integrarão a lista destinada ao preenchimento de vaga de Ministro do Tribunal; � aprovação de Emenda Regimental; � eleição dos ministros para os cargos de direção do Tribunal; � aprovação, revisão ou cancelamento de Súmula ou de Precedente Normativo; e � declaração de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público. O Órgão Especial é composto de 17 ministros, sendo eles: o presidente e o vice, o corregedor-geral, os sete mais antigos e mais sete indicados pelo Pleno. Seu quórum de funcionamento é de oito ministros, e as principais matérias debatidas pelo órgão são a disponibilidade ou aposentadoria de magistrado e a existência de relevante interesse público que fundamente a proposta de edição de Súmula. As seções especializadas se dividem em duas categorias: as dos dissí- dios coletivos e as de dissídios individuais. A Seção de Dissídios Coletivos é composta pelo presidente e o vice, o corregedor-geral e mais seis ministros. Seu quórum é de cinco ministros. Já a Seção de Dissídios Individuais (SDI) pode funcionar em sua composição plena ou subdividida em SDI-I ou SDI-II. Na composição plena, ela é formada pelo presidente e o vice, o corregedor- -geral e mais 18 ministros. O quórum da composição plenária é de 11 ministros, e as decisões só podem ser tomadas por maioria absoluta. A SDI-I é formada pelo presidente e o vice, o corregedor-geral e mais 11 ministros (incluindo os Características do processo do trabalho 5 presidentes das turmas). Seu quórum de funcionamento é de oito ministros e haverá no mínimo um e no máximo dois integrantes de cada uma das Turmas. Já a SDI-II é menor, devendo ser composta pelo presidente e o vice, o corregedor-geral e mais sete ministros; ela funciona com no mínimo seis ministros presentes. Por fim, há de se dizer que o TST é composto por oito turmas, e cada uma delas é composta por três ministros; a presidência recai sobre o ministro mais antigo que a integre. As Turmas só pode funcionar com sua plena capacidade. Todavia, diante da ausência de algum ministro que inviabilize o funcionamento dela, é possível que o presidente da turma convoque, mediante entendimento prévio com os demais integrantes, um ministro membro de outra Turma, apenas para compor o quórum de funcionamento. Esses elementos mais formais de organização e de estruturação servem como critério para que se compreenda melhor como se apresenta a compe- tência trabalhista em suas mais variadas e peculiares nuances. Assim, nas seções subsequentes, serão abordados os temas referentes à competência e à jurisdição trabalhista, para que o entendimento da sua organização seja complementado a partir de tal estudo. Juízos de Direito investidos de jurisdição (competência) trabalhista O art. 668 da CLT e o art. 112 da CF/1988 abrem a possibilidade de que, em comarcas onde não existir vara do trabalho, o juiz de direito seja investido de competência para julgar lides trabalhistas. Todavia, atualmente no Brasil, na prática, todas as cidades são abrangidas de alguma forma por varas do trabalho, ainda que itinerantes em alguns locais mais afastados. Jurisdição e competência material da Justiça do Trabalho Usualmente, há uma certa confusão no senso comum entre jurisdição, no sentido de a Justiça ser competente para “dizer o direito”, e competência, não em um sentido vulgar de ser capacitado para aquilo, e, sim, de competir àquele órgão jurisdicional dar o provimento adequado à lide posta para ele. Existe o brocardo jurídico de se dizer que “[...] a competência é a me- dida da jurisdição” (LEITE, 2016, p. 174). A competência, em última instância, Características do processo do trabalho6 é a legitimação do exercício específico do poder jurisdicional, isto é, de que o juiz que está habilitado a apreciar a lide posta. Nesse sentido, pode-se depreender que a jurisdição é una, já que decorre da própria soberania estatal e do monopólio do exercício da força (WEBER, 2015). Dessa maneira, é possível se afirmar que “[...] todo juiz competente possui jurisdição, mas nem todo juiz que possui jurisdição é competente” (RODRIGUES, 2000, p. 135). Ou seja, não basta o elemento formal da jurisdição para tornar um juiz apto a apreciar qualquer demanda — é necessário que haja a competência para tanto. Sinteticamente, a competência é um “[...] critério de distribuição da jurisdição entre os diversos juízes” (SCHIAVI, 2016, p. 213). Dessa forma, pode-se depreender que a competência estabelece critérios para as distribuições das lides, intencionando, assim, uma atuação mais célere e eficiente do órgão julgador responsável por apreciar os conflitos. A maneira mais didática de separar e organizar o estudo da competência na Justiça do Trabalho é seccioná-la em três: � competência material; � competência territorial (ou em razão do lugar); e � competência funcional (ou em razão da pessoa). Nesta seção, será estudada especificamente a competência material da Justiça do Trabalho, cabendo à próxima seção abordar as duas outras categorias de competência enunciadas. Ao se focar na competência material da Justiça do Trabalho, por mais simplório que possa parecer, em um primeiro momento, há de se dizer que ela se manifesta na aptidão que a Justiça do Trabalho possui para conhecer e julgar lides oriundas da relação de emprego (arts. 2º, 39 e 442 da CLT). Nesse sentido, cumpre salientar que a relação de emprego e o contrato de trabalho possuem o mesmo significado, ou seja, abarcam as relações sociais advindas da interação entre empregados e empregadores, em um contrato expresso ou tácito, e que tenham sido entabuladas individual ou coletivamente, por meio de autocomposição (acordos coletivos) ou de heterocomposição (sentenças normativas). O disciplinamento desse tema é ofertado por meio do art. 114 da CF/1988, o qual estabelece de modo exemplificativo a competência material da Justiça do Trabalho. Como bem resume Martins (2015, p. 104): “[...] a competência em razão da matéria vai dizer respeito aos tipos de questões que podem ser suscitadas na Justiça Laboral, compreendendo a apreciação de determinada matéria trabalhista”. Características do processo do trabalho 7 É importante destrinchar a terminologia utilizada no art. 114, I, da CF/1988, que, a partir do advento da EC nº 45/2004, ampliou a competência para “[...] as ações oriundas da relação de trabalho” (BRASIL, 2004, documento on-line). Por se tratar de uma justiça especializada do Poder Judiciário Federal, a competência material da Justiça do Trabalho deve ser algo bem delimitado e especificado. No entanto, o mencionado verbete constitucional, ao ampliar o rol da competência, trouxe certo debate doutrinário, uma vez que há a distinção material entre “relação de emprego” e “relação de trabalho”. Assim, para dirimir esse dissenso, faz-se necessário consultar as lições próprias do Direito Material do Trabalho, ainda que o escopo mais amplo seja averiguar a aplicação de regras processuais. A princípio, pode-se dizer que relação de emprego difere da relação de trabalho em virtude de essa última não estar demarcada por um contrato de trabalho (em seu sentido subordinado). Assim, sempre que não houver um contrato com o fito de subordinar a natureza da relação entabulada entre os entes envolvidos, existirá uma relação de trabalho de fato (MARANHÃO et al., 2003). Sem um contrato de trabalho, em seu sentido mais estrito, dotado de subordinação (e demais elementos celetistas), não há relação de emprego, e, sim, relação de trabalho. Outro autor que se aprofunda melhor nessa distinção conceitual é Nascimento (2015). Aproveitando-se da necessidade de um contrato de trabalho para a caracterizaçãoda relação de emprego, o autor vai mais além, e especifica que não é qualquer contrato que entabula a relação de emprego, e, sim, o Contrato Individual de Trabalho. Ele é a for- malização do vínculo empregatício e elemento materializante dessa relação. Nesse mesmo sentido também se posiciona Bezerra Leite (2016, p. 199), ao dizer que: “[...] a leitura atenta do art. 7º, I, XXIX, XXXIV e parágrafo único, da CF, autoriza dizer que o nosso ordenamento jurídico optou por fazer dis- tinção entre relação de emprego e relação de trabalho, pelo menos para fins de incidência do Direito Material do Trabalho”. Dessa maneira, em termos de incidência das regras processuais do trabalho, o supracitado art. 114, I, da CF/1988 ampliou a competência material da Justiça do Trabalho para a relação de emprego, a qual abarca todas as atividades humanas em que haja o trabalho envolvido (o dispêndio de uma força sobre um determinado espaço físico de deslocamento). Sinteticamente, as relações de trabalho — como autônomo, eventual, de empreitada, avulso, cooperado, doméstico, de representação comercial, temporário, sob a forma de estágio, dentre alguns outros — exigem três elementos basilares: o prestador do serviço, o trabalho (seja ele subordinado ou não) e o tomador. Características do processo do trabalho8 Diante dessa questão, já que a conceituação constitucional não é deveras clara sobre a total extensão da terminologia da competência material de todas as relações de trabalho, há de se ter como norte que a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para as relações de trabalho deve se centrar no “fator trabalho” e na sua afinidade com “a relação de emprego” (LEITE, 2016, p. 200). Todavia, essa sinalização ampliativa da competência material não corresponde a uma automática assunção de todas as matérias atinentes às relações de trabalho que de fato se concretizam na realidade prática das relações sociais. Para tanto, para poder realmente reconhecer e estabelecer quais são as matérias que se relacionam com a competência material da Justiça do Trabalho, foi necessário um grande empenho jurispru- dencial delimitando essas matérias. Um dos exemplos mais importantes de uma matéria que envolve relação de trabalho (em sentido mais amplo) que não é da competência da Justiça do Trabalho é a questão envolvendo os servidores públicos estatutários. Esse tema foi abordado e debatido na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3.395, a qual acabou por pacificar o entendimento de que o art. 114, I, da CF/1988 não comporta nenhuma interpretação que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a "[...] apreciação [...] de causas que [...] sejam instau- radas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo” (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim sendo, por mais que o vínculo estatutário seja uma forma de trabalho, ele não se inclui no rol das competências materiais da Justiça do Trabalho. Isso porque a natureza dessa relação de trabalho é de matiz puramente administrativa, devendo ficar resguardada aos outros ramos do Poder Judi- ciário — qual sejam, a Justiça Federal, quando disser respeito aos servidores públicos federais, e à Justiça Comum, quando se tratar de servidores públicos estaduais ou municipais. Isso porque o próprio inciso IX do art. 114 da CF/1988, que estabelece a competência derivada da Justiça do Trabalho, estatui a necessidade de haver a mencionada competência para “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho”, desde que haja a previsão para tanto, “na forma da lei”. É de grande valia destacar que, mesmo para as relações de trabalho que não se caracterizem como relações empregatícias, a questão da ampliação da competência da Justiça do Trabalho trazida pela EC nº 45/2004 não veio a con- ferir materialmente todos os direitos contidos nos direitos sociais trabalhistas previstos na CF/1988 (arts. 7º, 8º, 9º, 10 e 11) e na CLT. Não foram trasladados automaticamente aos trabalhadores (em sentido amplo, os não empregados) Características do processo do trabalho 9 tais direitos e garantias salariais, as quais são constitucionalmente deferidas unicamente aos que se encontram albergados pelo rol protetivo dos Contratos Individuais de Trabalho (vínculos de emprego propriamente ditos). Outro elemento próprio da competência material da Justiça do Trabalho diz respeito ao exercício dos atos de greve, conforme disposto no art. 114, II, da CF/1988. Esse tema se cristaliza propriamente em um direito de se exercer atos com fito de causar danos ao lucro dos empregadores, para se obterem melhores condições de trabalho. Nesse sentido, há de se suplantar tais pormenores materiais e se focar no seu delineamento processual, dado pela ampliação da competência material da Justiça do Trabalho por meio da EC nº 45/2004. É importante fazer a ressalva de que a Lei de Greve (Lei nº 7.783) data de 28 de junho de 1989, e seu art. 8º já estabelecia a competência para julgar os dissídios grevistas como sendo atinentes à Justiça do Trabalho. No entanto, como a inserção constitucional dessa competência só veio com a mencio- nada Emenda de 2004, entende-se que houve uma recepção qualificada da disposição legal, incorporando-a ao texto constitucional, fortalecendo ainda mais o rol de ações a serem processadas por esse ramo especializado do Poder Judiciário federal. Outra competência material acrescida ao rol da Justiça do Trabalho pela EC nº 45/2004 foi a que versa sobre as ações envolvendo sindicatos. Essa matéria se encontra disciplinada no inciso III do art. 114 da CF/1988, o qual possui a seguinte redação: “as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores”. Deve- -se destacar que, dentre todas as possibilidades de competência albergadas por esse inciso, apenas o primeiro trecho que menciona as “as ações sobre representação sindical” diz respeito à competência material da Justiça do Trabalho. Os demais exemplos mencionados são de competência relacionada às pessoas (entidades sindicais). Em virtude de o Brasil não ter ratificado a Convenção da Organização Internacional do Trabalho nº 87, que trata da pluralidade sindical, o atual sis- tema vigente estabelece a unicidade sindical (conforme art. 8º, II, da CF/1988). A norma em apreço induz à conclusão de que a unicidade (vedação da criação de mais de uma entidade sindical, em qualquer grau, representativa de cate- goria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que não pode ser inferior à área de um município) é compulsória, na medida em que provém da norma estatal para a categoria — ou seja, de cima para baixo. Dessa maneira, a lei só tolerará a organização de um sindicato que represente a totalidade das categorias (RUSSOMANO, 1998). Características do processo do trabalho10 Antes da Emenda que ampliou as competências da Justiça do Trabalho, as ações que discutiam representação sindical eram da alçada da Justiça Comum. Isso porque não se admitiam ações entre pessoas jurídicas distintas e em que não fosse debatida especificamente uma relação material de vínculo empregatício entre os litigantes na seara laboral. Em virtude da mencionada Emenda, por força de determinação constitucional, tais ações passaram a ser julgadas e processadas no ramo especializado. Derradeiramente, “[...] a decisão da Justiça do Trabalho, portanto, que dirimir a lide sobre representação sin- dical será definitiva e produzirá a coisa julgada material” (LEITE, 2016, p. 230). Outra competência material da Justiça Laboral é a contida no inciso IV do art. 114 da CF/1988, que diz respeito ao mandado de segurança, ao habeas corpus e ao habeas data. Todas essas ações constitucionais possuem um regramento bastante peculiar, e, por ora, basta ter o conhecimento de que a competência material da Justiça do Trabalho para processar ejulgar tais ações incide apenas sobre os atos de seus próprios membros. Ou seja, embora não digam respeito necessariamente a uma relação material de emprego, indiretamente essas ações são derivados processuais de outras ações que englobam tal relação e que tramitam no próprio Poder Judiciário Trabalhista — daí a competência estar atrelada à própria seara laboral. Quando se trata de conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, em regra, eles também serão dirimidos pela própria seara labo- ral. A exceção a essa regra é o caso em que houver um ente integrante do Poder Judiciário Trabalhista conflitando com o Superior Tribunal de Justiça, ou entre Tribunais Superiores (o Supremo Tribunal Federal — STF — e o TST, por exemplo), ou entre eles com qualquer outro órgão judicante. Nessas hipóteses de conflito de competência, de acordo com o disposto no art. 102, I, o, da CF/1988, caberá ao STF decidir, mesmo que haja um órgão trabalhista envolvido na celeuma. Mais uma competência materialmente integrada ao rol da Justiça do Tra- balho, com o advento da Emenda ampliativa, é a do inciso VI do art. 114 da CF/1988, que trata das ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho. Desde antes da alteração constitucional, já havia forte entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido do que foi trazido pela Emenda, de modo que ela veio apenas a consolidá-lo. Outra importante ressalva que deve ser feita é que a competência para reconhecer o acidente de trabalho continua sendo da Justiça Comum — cabe à seara processual trabalhista lidar apenas com as ações que versem sobre o dano moral decorrente do acidente, não sendo ela capaz de atestar ou reconhecer o próprio acidente. Características do processo do trabalho 11 A penúltima competência material a ser tratada na presente seção é a relativa às ações que tratam de penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho. Essa competência possui natureza dúplice. Ela se refere materialmente às “ações relativas às penalidades administrativas”, mas também tem seu teor funcio- nal, ao especificar que elas são “impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho”, tendo como sujeito passivo da fiscalização o empregador e o sujeito ativo a autoridade administrativa que impõe a multa. O regramento legal da imposição dessas multas advindas de fiscalização está disposto na CLT, art. 634 e seguintes. A última competência material primária descrita na Constituição está contida no art. 114, VIII, e trata da competência material executória. A Justiça do Trabalho possui uma dupla capacidade executória: a das próprias sentenças e a das contribuições previdenciárias. A execução das próprias sentenças decorre do princípio lógico da teoria geral do processo, em que, após a sen- tença, advém a execução. Aliás, no atual processo civil, a execução não é mais um processo em apartado, e sim uma mera fase processual, algo que confere ainda mais agilidade à própria materialização do direito processual. Já a execução das contribuições previdenciárias se dá ex officio (ou seja, proativamente por parte do magistrado, mesmo após a reforma trabalhista, já que se trata de um crédito acessório) e engloba os atos de quantificação da dívida, intimação para pagar no prazo, constrição (arresto, penhora), expropriação (hasta pública) e satisfação do exequente (MENESES, 1999). Acerca desse tema, é importante destacar o item I do verbete da Súmula 368 do TST, que enuncia que: A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contri- buições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição (BRASIL, 2017, documento on-line). Dessa forma, não basta que a sentença seja declaratória da existência da necessidade contributiva do ente laboral. É necessário que ela decorra de uma condenação ou de um acordo que reconheça o vínculo empregatício e a respectiva contribuição previdenciária. Características do processo do trabalho12 Justiça do Trabalho e matéria criminal O entendimento mais recente do STF é de que a Justiça do Trabalho não detém competência criminal (ADI 3.684). Por maioria de votos, foi firmado o seguinte entendimento: O disposto no art. 114, inc. I, da Constituição da República, introduzido pela EC nº 45/2004, não compreende outorga de jurisdição sobre matéria penal, até por- que, quando os enunciados da legislação constitucional e subalterna aludem, na distribuição de competências, a ações, sem o qualificativo de penais ou criminais, a interpretação sempre excluiu de seu alcance teórico as ações que tenham caráter penal ou criminal. Competência funcional e territorial da Justiça do Trabalho Para além da competência material, a Justiça do Trabalho é esquadrinhada em termos de competências funcionais (em razão da função) e de competências territoriais (também conhecidas como em razão do lugar). A competência funcional diz respeito à distribuição dos feitos trabalhistas, de acordo com as disposições constitucionais, legais e regimentais de cada órgão da seara laboral. No entendimento de Schiavi (2016, p. 313), “[...] a competência funcional adota o critério do exercício das funções do juiz em determinado processo [...] quais atos pode o juiz praticar”. Tomando-se por base a organização da Justiça do Trabalho, como delineado na primeira seção deste capítulo, tem-se que há competência funcional das varas do trabalho, dos TRTs e também do TST. A competência funcional das varas do trabalho está elencada na CLT, nos arts. 652 e 653, ainda que com a nomenclatura antiga de “juntas”, as quais devem ser compreendidas atualmente como “varas”. Compete às varas do trabalho conciliar e julgar as lides em que se almeje o reconhecimento da estabilidade de empregado, bem como também processos concernentes a remuneração, férias e indenizações por motivo de rescisão do contrato individual de trabalho. A competência funcional das varas abarca também: � os dissídios resultantes de contratos de empreitada em que o emprei- teiro seja operário ou artífice; � outras lides concernentes ao contrato individual de trabalho; � as ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão de Obra decorrentes da relação de trabalho. Características do processo do trabalho 13 De forma semelhante, cabe às varas do trabalho processar e julgar os inquéritos para apuração de falta grave, julgar os embargos opostos às suas próprias decisões, bem como impor multas e demais penalidades relativas aos atos de sua competência. Há também a mais nova possibilidade inserida na reforma trabalhista (Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017): decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho. Por meio do magistrado competente, também cabe às varas, como estatui o art. 653 da CLT: � requisitar às autoridades competentes a realização das diligências necessárias ao esclarecimento dos feitos sob sua apreciação, repre- sentando contra aquelas que não atenderem a tais requisições; � realizar as diligências e praticar os atos processuais ordenados pelos TRTs ou pelo TST; � julgar as suspeições arguidas contra os seus membros; � julgar as exceções de incompetência que lhes forem opostas; � expedir precatórias e cumprir as que lhes forem deprecadas; � exercer, em geral, no interesse da Justiça do Trabalho, quaisquer outras atribuições que decorram da sua jurisdição. É importante destacar também o conteúdo do art. 659 do diploma cele- tista, o qual enuncia que compete funcionalmente ao juiz titular (ou ao juiz substituto em exercício) na vara do trabalho: � presidir as audiências das varas; � executar assuas próprias decisões e aquelas cuja execução lhes for deprecada; � dar posse ao chefe de Secretaria e aos demais funcionários da Secretaria; � despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão recorrida antes da remessa ao Tribunal Regional; � assinar as folhas de pagamento dos membros e funcionários da vara; � apresentar ao presidente do Tribunal Regional, até 15 de fevereiro de cada ano, o relatório dos trabalhos do ano anterior; � conceder medida liminar, até decisão final do processo, em reclamações trabalhistas que visem a tornar sem efeito transferência disciplinada pelos parágrafos do art. 469 da CLT; Características do processo do trabalho14 � conceder medida liminar, até decisão final do processo, em reclama- ções trabalhistas que visem a reintegrar no emprego dirigente sindical afastado, suspenso ou dispensado pelo empregador. No que tange às competências dos TRTs, há de se dizer que elas são fixadas na CLT e nos Regimentos Internos dos Tribunais. Como bem destaca Schiavi (2016), os TRTs podem ser divididos em turmas ou não e, frequentemente, os que têm maior número de juízes os são. Assim, conforme estatuem os arts. 678, 679 e 680 da CLT, quanto às competências funcionais dos Regionais, quando divididos em turmas, compete, ao Tribunal Pleno, especialmente: � processar, conciliar e julgar originariamente os dissídios coletivos; � processar e julgar, originariamente: ■ as revisões de sentenças normativas; ■ a extensão das decisões proferidas em dissídios coletivos; ■ os mandados de segurança; ■ as impugnações à investidura de vogais e seus suplentes nas varas do trabalho. � processar e julgar em última instância: ■ os recursos das multas impostas pelas turmas; ■ as ações rescisórias das decisões das varas do trabalho, dos juízes de direito investidos na jurisdição trabalhista, das turmas e de seus próprios acórdãos; ■ os conflitos de jurisdição entre as suas turmas, os juízes de direito investidos na jurisdição trabalhista, as varas do trabalho, ou entre aqueles e estas. � julgar em única ou última instâncias: ■ os processos e os recursos de natureza administrativa atinentes aos seus serviços auxiliares e respectivos servidores; ■ as reclamações contra atos administrativos de seu presidente ou de qualquer de seus membros, assim como dos juízes de primeira instância e de seus funcionários. Em relação às turmas, compete-lhes: � julgar os recursos ordinários previstos no art. 895, a; � julgar os agravos de petição e de instrumento, estes de decisões de- negatórias de recursos de sua alçada; Características do processo do trabalho 15 � impor multas e demais penalidades relativas a atos de sua competência jurisdicional; � julgar os recursos interpostos das decisões das juntas dos juízes de direito que as impuserem. Por fim, compete, ainda, aos Tribunais Regionais, ou às suas turmas: � determinar às varas e aos juízes de direito a realização dos atos pro- cessuais e diligências necessárias ao julgamento dos feitos sob sua apreciação; � fiscalizar o cumprimento de suas próprias decisões; � declarar a nulidade dos atos praticados com infração de suas decisões; � julgar as suspeições arguidas contra seus membros; � julgar as exceções de incompetência que lhes forem opostas; � requisitar às autoridades competentes as diligências necessárias ao esclarecimento dos feitos sob apreciação, representando contra aque- las que não atenderem a tais requisições; � exercer, em geral, no interesse da Justiça do Trabalho, as demais atri- buições que decorram de sua jurisdição. O órgão máximo da estrutura laboral também é dotado de competência funcional própria, e o seu escopo primordial é a uniformização da jurispru- dência trabalhista. Diferentemente das varas do trabalho e dos Regionais, a competência funcional do TST não está prevista na CLT, e, sim, em uma lei apartada (Lei nº 7.701, de 21 de dezembro de 1988). Está prevista também na Resolução Administrativa nº 1.295/2008 (Diário de Justiça da União de 09 de maio de 2008), a qual foi responsável pela instituição do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. De maneira bastante condensada, é correto afirmar que a competência funcional do TST, nos moldes do art. 67 do seu Regimento Interno, se baseia em processar, conciliar e julgar, na forma da lei, em grau originário ou recursal ordinário ou extraordinário: � as demandas individuais e os dissídios coletivos que excedam a juris- dição dos Tribunais Regionais; � os conflitos de direito sindical, assim como outras controvérsias de- correntes de relação de trabalho; e � os litígios relativos ao cumprimento de suas próprias decisões, de laudos arbitrais e de convenções e acordos coletivos. Características do processo do trabalho16 Para melhor lidar com essa miríade de competências, o TST é dividido, como já demarcado na seção anterior, em Pleno, Órgão Especial, Seção Especializada de Dissídios Coletivos e duas SDIs, além de oito turmas de sessão e julgamento. Além da competência funcional, há de se falar também da competência em razão do lugar, também conhecida como competência territorial (ratione loci). Como a própria origem etimológica alude, essa competência se vale de critérios espaciais e geográficos para determinar a qual juiz compete julgar determinada ação proposta. Usualmente, essa competência é atribuída a uma certa secção territorial para as varas do trabalho, as quais são dotadas, cada uma, de uma circunscrição de atuação própria, estatuída por lei federal. Toda- via, os Regionais também possuem competência, seja originária ou derivada, para julgar e processar causas trabalhistas que costumam corresponder a uma região, a qual corresponde aos limites físicos de um território de um estado da Federação. Porém, existem algumas exceções de TRTs que abarcam mais de um estado ou de presença de mais de um TRT no mesmo estado, como já dito anteriormente. O TST, por seu turno, possui competência territorial para julgar e processar, em grau recursal, todas as decisões dos Regionais e, originariamente, as lides coletivas que extrapolem o limite de um ou mais estados da Federação. Assim, é correto asseverar que o TST possui competência territorial sobre todo o território nacional. A competência territorial possui regramento próprio na CLT, no seu art. 651. Este traça alguns parâmetros para análise da competência territorial, que são: � o local da prestação do serviço; � se o empregado é agente ou viajante comercial; � se o empregado é brasileiro que trabalha no estrangeiro; � se a empresa promove a prestação do serviço fora do local contratado. No que tange às ações civis públicas, a SDI-2 do TST editou uma orientação jurisprudencial (OJ), a OJ nº 130. Esta, em seu verbete, assevera que, para essas ações, deve-se seguir o norteamento do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor, fixando a competência territorial pela extensão do dano causado. Assim, se o dano é de âmbito regional, a competência é de uma das varas do trabalho da capital do Regional; se for um dano de maior escala, de extensão que englobe várias regiões ou nacional, o foro é o Distrito Federal. A regra básica no estabelecimento da competência territorial é que a ação deve ser proposta no local da prestação de serviços, por mais que o local da Características do processo do trabalho 17 contratação tenha sido diverso, ou até mesmo no estrangeiro. Deve-se acres- centar como regra geral o entendimento de que, havendo multiplicidade de locais de prestação de serviço, no curso do contrato de trabalho, demarca-se a competência em razão do último lugar onde houve o vínculo empregatício. Bezerra Leite (2016) indica que a escolha do legislador por esses critérios foi facilitar o acesso à justiça por parte do reclamante, facilitando-lhe robustecer o escorço probatório, inclusive o testemunhal, pouco importando o local de contratação ou os locais pretéritos de prestaçãode serviço, representando “[...] presumidamente, menos gastos com deslocamento” (SCHIAVI, 2016, p. 303). Tal regra é válida mesmo que o último local da prestação do serviço não seja exatamente o local de residência do empregado. Uma das excepcionalidades ao regramento do último local da prestação de serviços está estampada no § 1º do art. 651 da CLT, que é o caso do empregado agente ou viajante comercial. Esse artigo traz duas regras de excepcionali- dade, que, segundo Bezerra Leite (2016), deverão ser observadas de modo sucessivo. A primeira delas é que haverá a competência territorial da vara da localidade em que a empresa tenha agência ou filial à qual o empregado esteja diretamente vinculado e subordinado. A segunda regra, a ser aplicada apenas caso a primeira não seja suficiente, estabelece que, caso não exista agência ou filial, será competente a vara da localização em que o empregado seja domiciliado ou a vara da localidade mais próxima de seu domicílio. Também existe a consagração da competência internacional da Justiça do Trabalho (SCHIAVI, 2016, p. 309), insculpida no § 2º do art. 651 da CLT. Essa competência serve para tratar sobre lides trabalhistas em que o empregado seja brasileiro e não disponha o contrário em convenção internacional, sendo- -lhe facultado dar início ao processo em território brasileiro. Como bem assevera Martins (2015, p. 132), a “[...] ação deverá ser proposta perante a Vara onde o empregador tenha sede no Brasil, se a empresa não tiver sede no Brasil, haverá a impossibilidade da propositura da ação, pois não será possível sujeitá-la à decisão de nossos tribunais”. Ou seja, por mais que haja essa possibilidade de a prestação do serviço ter ocorrido no estrangeiro, é um dos requisitos básicos dessa excepcionalidade da propositura da ação no Brasil que a parte reclamada tenha alguma filial no território nacional, sob pena de ser inócua a tentativa de resolução da lide trabalhista, uma vez que, por causa da soberania nacional de cada país, o Brasil não teria como processar, julgar e executar tal ação. Bezerra Leite (2016) defende que, mesmo que não haja filial no Brasil, é possível o processamento Características do processo do trabalho18 e prosseguimento da ação por meio de carta rogatória, algo um tanto quanto pouco profícuo, já que caberá ao país destinatário da ordem decidir se aceita ou não se submeter à jurisdição da Justiça do Trabalho brasileira. A última disposição acerca da competência territorial da Justiça do Tra- balho se encontra no § 3º do art. 651 do diploma celetista. Trata-se do ente profissional (empregador) que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho. Nesse caso, a lei faculta ao empregado apresentar a reclamação trabalhista em dois locais: no local da celebração do contrato ou no local em que os serviços são prestados. Existe certa discussão doutrinária sobre qual seria a denominação do em- pregador que promove a realização de serviços fora do seu local de celebração — isto é, se a atividade desempenhada por esse empregador é necessariamente transitória e de local incerto na prestação, ou se esse requisito é desprezível. Martins (2015) coloca que o empregador deve desenvolver suas atividades em lugares incertos, transitórios ou eventuais para que a opção do § 3º do art. 651 da CLT se perfaça. Já Bezerra Leite (2016) coloca apenas a necessidade de o empregado prestar o serviço em várias localidades, pouco importando se elas são esporádicas ou perenes. Isso porque a Lei quis privilegiar o acesso à Justiça, pouco importando a qualificação das atividades do empregador para esse fim, haja vista que o escopo maior é prover ao empregado, parte hipossuficiente, um maior leque de possibilidades processualmente válidas para o ajuizamento da ação trabalhista. Esse é o regramento disposto na CLT acerca das competências territoriais, o qual possui em última instância o intento de privilegiar a parte hipossuficiente da relação, o empregado, tornando mais elásticas suas possibilidades de acesso à justiça. OJ nº 149 da SDI-2: declaração de ofício de incompetência relativa A competência territorial, por regra, é uma matéria relativa, ou seja, não cabe ser conhecida de ofício pelo juiz, diferentemente da incompetência material, que é absoluta, por exemplo. Por esse motivo, quando se trata da opção colocada no § 3º do art. 651, da CLT, o TST decidiu, por meio de sua OJ nº 149, SDI-2, que “Não cabe declaração de ofício de incompetência territorial no caso do uso, pelo trabalhador, da faculdade prevista no art. 651, § 3° da CLT. Nessa hipótese, resolve-se o conflito pelo reconhecimento da competência do juízo do local onde a ação foi proposta”. Características do processo do trabalho 19 Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 28 nov. 2020. BRASIL. Emenda Constitucional nº 24, de 9 de dezembro de 1999. Altera dispositivos da Constituição Federal pertinentes à representação classistas na Justiça do Trabalho. Brasília: Presidência da República, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc24.htm. Acesso em: 28 nov. 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 368. Brasília: TST, 2017. Dis- ponível em: http://brs02.tst.jus.br/cgi-bin/nph-brs?d=BLNK&s1=368&s2=bden. base.&pg1=NUMS&u=http://www.tst.gov.br/jurisprudencia/brs/nspit/nspitgen_un_pix. html&p=1&r=1&f=G&l=0. Acesso em: 28 nov. 2020. LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: LTr, 2016. MARTINS, S. P. Direito processual do trabalho. 37. ed. São Paulo: Atlas, 2015. MARANHÃO, D. et al. Instituições de direito do trabalho. 21. ed. São Paulo: LTr, 2003. MENESES, G. M. e S. Competência da Justiça do Trabalho ampliada em face da Emenda Constitucional n. 20/98. Jornal Síntese, n. 24, p. 7, 1999. NASCIMENTO, A. M. Curso de direito processual do trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. RODRIGUES, M. A. Elementos de direito processual civil. São Paulo: RT, 2000. v. 1. RUSSOMANO, V. M. Princípios gerais do direito sindical. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. SCHIAVI, M. 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Características do processo do trabalho20 Dica do professor O Direito é uma disciplina das Ciências Sociais Aplicadas que demanda fundamento material e fundamento formal. Por vezes, esses fundamentos se entrelaçam para que seja mais didático compreender como alguns elementos se materializam na prática social. Ao se falar de Direito Processual do Trabalho, especificamente em suas características, é necessário tecer algumas ponderações sobre os elementos formativos desse ramo, ou seja, debater sobre sua estruturação formal, sua organização e como tais pontos dão sustentação à sua prática forense. Nesta Dica do Professor, veja uma exceção peculiar da fixação da competência e da abrangência da circunscrição da Justiça do Trabalho, queé a possibilidade de haver um juízo comum investido com a "jurisdição" (ou melhor, competência trabalhista) e abrangido por essa circunscrição. Essa excepcionalidade encontra guarida tanto no texto constitucional, em seu art. 112, quanto no diploma celetista, no art. 668 e seguintes. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/de7de7127ec5520bcb29c54a908508bc Exercícios 1) A organização da Justiça do Trabalho é operada em três estratos, os quais incluem as Varas do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e, em última instância, o Tribunal Superior do Trabalho. Acerca dessa estruturação, é correto afirmar que: A) a circunscrição da Vara do Trabalho é definida por lei federal e costuma abarcar alguns Municípios próximos. Elas são geridas por juízes ou juízas do trabalho, após aprovação em concurso de provas e de títulos, os quais são agentes políticos considerados órgãos da estrutura do Poder Judiciário Federal. B) mesmo após a edição da Emenda Constitucional nº 24/99, ainda existe a representação classista (ou paritária) na Justiça do Trabalho, uma vez que tanto empregadores quanto empregados precisam estar representados em juízo. Sem uma representação paritária. C) os chamados Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) correspondem a uma "região" trabalhista, a qual coincide com um Estado da Federação brasileira, sendo obrigatório ter ao menos um TRT por Estado. No entanto, é possível que haja mais de um TRT por Estado, como é o caso do TRT 2 e do TRT 15, ambos cobrindo o Estado de São Paulo. D) os desembargadores dos Tribunais Regionais do Trabalho são nomeados pelo Presidente da República e seu quantitativo final depende do volume processual do Regional aos quais eles se encontram vinculados. No entanto, o número mínimo é de 10 desembargadores, não havendo quantitativo máximo para que haja a fixação da quantidade de desembargadores a serem designados. E) após a Emenda Constitucional nº 45, foram criados dois órgãos auxiliares ao TST: a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT). A Escola tem a função de regulamentar cursos oficiais de ingresso na magistratura. 2) Diferentemente das Varas do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) possui sua organização funcional descrita de forma mais pormenorizada no seu regimento interno, especificamente em seu art. 59. Considerando as disposições legais dessa norma de organização interna, é correto afirmar que: A) o TST se divide em: Pleno, Órgão Especial, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, duas Seções Especializadas em Dissídios Individuais e suas 10 Turmas. B) o Pleno é a composição total do órgão judicante máximo da seara trabalhista. Para que ele inicie as sessões, é necessária a presença de pelo menos 14 ministros, sendo exigida a maioria simples quando se tratar de aprovação. C) o Órgão Especial é composto de 17 ministros, sendo eles o Presidente e o Vice, o Corregedor-Geral, os 7 mais antigos e mais 7 indicados pelo Pleno. Seu quórum de funcionamento é de 8 ministros. D) as seções especializadas se dividem em duas categorias: as dos dissídios coletivos e as de dissídios individuais. Existem duas seções de dissídios individuais e ambas possuem o mesmo quantitativo de ministros. E) o TST é composto por 8 Turmas, e cada uma delas é composta por 4 ministros, e a presidência recai sobre o ministro mais antigo que a integre. As turmas podem funcionar com quórum mínimo de 3 ministros. 3) A questão da competência, em termos processuais, diz respeito à forma como a jurisdição é repartida segundo os vários órgãos jurisdicionais integrantes do Poder Judiciário, e serve para organizar melhor a distribuição dos feitos e para ordenar o fluxo procedimental nas instâncias processuais. Uma das maneiras de se repartir e fixar a competência é a material e, na seara laboral, ela se encontra disposta no art. 114 do texto constitucional. Acerca desse tema, é correto afirmar que: A) para fins de competência material da Justiça do Trabalho, a relação de emprego e a relação de trabalho não possuem o mesmo significado. Relação de emprego corresponde a contrato de trabalho. Por mais que o Poder Judiciário do Trabalho seja competente para julgar algumas relações de trabalho, materialmente, não se aplica para elas o regramento legal (CLT). B) a competência da Justiça do Trabalho abarca as relações sociais advindas da interação entre empregados e empregadores, em um contrato expresso ou tácito, e que tenham sido convencionadas individual ou coletivamente, por meio de autocomposição (sentenças normativas) ou de heterocomposição (acordos coletivos). C) a respeito da competência material da Justiça do Trabalho e das questões que envolvem servidores públicos, a ADI nº 3.395 pacificou o entendimento de que o art. 114, I, da CF/88 não comporta nenhuma interpretação que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas que sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. D) após a Emenda Constitucional nº 45/04, foi incluída a competência material para a Justiça do Trabalho julgar questões de ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores. Essa competência foi incluída em razão de o Brasil ter ratificado a Convenção da OIT nº 87, que trata da pluralidade sindical a qual se encontra prestigiada no art. 8º, II, da CF/88. E) as ações que discutem representação sindical são da alçada da Justiça Comum, uma vez que não se admitem ações entre pessoas jurídicas distintas e que não se debata especificamente uma relação material de vínculo empregatício entre os litigantes na seara laboral. Assim, a Justiça do Trabalho materialmente possui competência para julgar ações entre pessoas físicas (trabalhadores) e pessoas físicas ou jurídicas (empregadores). 4) A competência territorial é uma das formas mais práticas de definição e de fixação de competência na Justiça do Trabalho, e seus parâmetros se encontram estabelecidos no art. 651 da CLT. Quando se fala de ação civil pública na Justiça do Trabalho, alguns critérios de fixação devem ser observados. A respeito desse tema, é correto afirmar que: A) a SDI-2 do TST editou uma orientação jurisprudencial, a OJ nº 130, que estabelece que, para as ações civis públicas, deve-se seguir o disposto no art. 93 do Código de Defesa do Consumidor, fixando a competência territorial pela extensão do dano causado. Assim, se o dano é de âmbito regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da capital do Regional; se for um dano de maior escala, de extensão que englobe várias regiões ou nacional, o foro é o Distrito Federal. B) o pleno do TRT-10, do Distrito Federal, editou a Súmula nº 130, que estabelece que, para as ações civis públicas, deve-se seguir o disposto no art. 93 do Código de Defesa do Consumidor, fixando a competência territorial pela qualidade do dano causado. Assim, se o dano é baixa gravidade, a competência é de uma das Varas do Trabalho da capital do Regional; se for um dano de maior gravidade, o foro é o Tribunal Superior do Trabalho. C) o Pleno do TST editou a Súmula nº 130, que estabelece que, para as ações civis públicas, deve-se seguir o disposto no art. 93 do Código de Defesa do Consumidor, fixando a competência territorial pela extensão do dano causado. Assim, se o dano é baixa gravidade, a competência é de uma das Varas do Trabalho da capital do Regional; se for um dano de maior gravidade, o foro é o Distrito Federal. a SDI-2 do TST editou uma orientação jurisprudencial, a OJ nº 130, que estabelece que, para as ações civis públicas, deve-se seguir o disposto na Consolidaçãodas Leis do Trabalho (CLT), fixando a competência territorial pela gravidade do dano causado. Assim, se o dano é de âmbito regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da capital do Regional; se for D) um dano de maior escala, de extensão que englobe várias regiões ou nacional, o foro é o Distrito Federal. E) a SDC do TST editou uma orientação jurisprudencial, a OJ nº 130, que estabelece que, para as ações civis públicas, deve-se seguir o disposto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), fixando a competência territorial pela gravidade do dano causado. Assim, se o dano é de baixo grau de lesão, a competência é de uma das Varas do Trabalho da capital do Regional; se for um dano de alto grau de lesão a direitos fundamentais, o foro competente é o Distrito Federal. 5) A competência territorial do processo do trabalho possui como regra geral a propositura e o processamento da lide trabalhista no local da última prestação do serviço. Todavia, o parágrafo 2º do art. 651 da CLT traz a possibilidade da "competência internacional da Justiça do Trabalho". Sobre esse tema, marque a alternativa correta. A) A competência internacional da Justiça do Trabalho se estende aos brasileiros e aos estrangeiros domiciliados no Brasil, desde que não haja convenção internacional dispondo o contrário, devendo a ação ser proposta no atual domicílio do empregado. B) A competência internacional da Justiça do Trabalho independe de convenção internacional, podendo ser proposta a qualquer tempo em que o empregado vier a residir no Brasil, devendo ser proposta no local em que o empregador possua filial ou agência em território nacional. C) A competência internacional da Justiça do Trabalho se estende aos brasileiros e aos estrangeiros domiciliados no Brasil, desde que não haja convenção internacional dispondo o contrário, devendo a ação ser proposta diretamente no TST, que é o responsável por lides que abrangem mais de um Estado ou entes estrangeiros. D) A competência internacional da Justiça do Trabalho se estende aos brasileiros, natos ou naturalizados, independentemente de haver convenção internacional tratando do tema, devendo a ação ser proposta diretamente no domicílio do empregado. A doutrina não admite que seja feita a citação da empresa que não tenha filial no Brasil por carta rogatória, em virtude de o Brasil não ter jurisdição. E) A competência internacional da Justiça do Trabalho se estende aos brasileiros, desde que não haja convenção internacional dispondo o contrário, devendo a ação ser proposta onde a empresa possua agência ou filial. Parte da doutrina admite que a ação seja proposta no domicílio do empregado e que a empresa seja notificada por carta rogatória, caso não tenha filial no Brasil. Na prática Compreender como se dá a dinâmica da fixação da competência territorial é fundamental para saber onde propor uma ação trabalhista. Essa matéria é disciplinada no art. 651 da CLT e em seus parágrafos, nos quais são trazidas algumas excepcionalidades à regra geral delineada no caput do artigo. Veja, Na Prática, o caso do pedreiro Tício, que foi contratado por uma construtora para trabalhar em local diverso de onde o seu contrato de trabalho foi assinado, em virtude da natureza das atividades de construção e de reparação de obras que seu empregador desenvolvia. O Sr. Tício, após ser dispensado, procurou um escritório de advocacia no seu atual domicílio (que não foi o último local de trabalho) para poder saber onde a sua reclamação trabalhista deveria ser proposta. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/257eb1a0-c2dc-45e1-9c29-cb523c230daa/8b6be1da-2b54-4442-b470-72b15e56f027.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja a seguir as sugestões do professor: Competência material da Justiça do Trabalho Aqui, aprofunde-se mais sobre os critérios de definição da competência material da Justiça do Trabalho e sobre como a jurisprudência definiu algumas questões relativas a esse tema. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Jurisdição e competência da Justiça laboral: ações de estrangeiros no Brasil e brasileiros no exterior Neste artigo, informe-se acerca da competência internacional da Justiça do Trabalho no julgamento de ações interpostas por brasileiros residentes no exterior e por estrangeiros que trabalham no Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Justiça do Trabalho e competência penal Neste artigo, informe-se mais acerca da competência criminal da Justiça do Trabalho, particularmente adentrando na questão da adequação dos crimes relacionados ao trabalho à Justiça laboral. https://www.youtube.com/embed/TB6sWjIshJc http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133949.pdf Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Processo eletrônico trabalhista e competência territorial: reflexões a partir da "penhora on-line" Nesta dissertação, pesquise mais acerca da chamada penhora on-line, que permite o bloqueio de contas do devedor em todo o território nacional; uma excepcionalidade à competência territorial. Confira: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.rodolfopamplonafilho.com.br/upload/justica-do-trabalho-e-competencia--penal-20160530103928.pdf https://meriva.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/7118/1/000467145-Texto%2bParcial-0.pdf
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