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Jornada de trabalho Apresentação Na sociedade capitalista, há uma busca constante pelo lucro e pela acumulação de riquezas. Aqueles que não detêm os meios de produção precisam vender sua força de trabalho em troca de dinheiro para que, assim, consigam adquirir os bens da vida necessários à sua subsistência. É daí que surgem as relações de trabalho. Todavia, será que o ser humano tem como única finalidade de sua existência trabalhar e produzir riqueza? Como conciliar a necessidade de vender sua força produtiva com o anseio natural de viver outras experiências, tais como curtir a família, dedicar-se ao lazer, ao estudo e à contemplação da natureza? Ora, o ser humano não é máquina e precisa de momentos de descanso durante a realização do trabalho e entre um dia de trabalho e outro. Então, advém a necessidade de a lei regulamentar o tempo de duração da jornada de trabalho. A jornada de trabalho é o período instituído no contrato de trabalho que deve ser cumprido pelo empregado. A Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) prevê a quantidade máxima de 8 horas diárias, totalizando 44 horas semanais, desde que não seja definido outro horário específico. De acordo com as novas regras da reforma trabalhista, as empresas poderão contratar trabalhadores para cumprir jornadas de 12 horas. No entanto, nesses casos, deve haver, obrigatoriamente, um intervalo de 36 horas antes do retorno à empresa. Essas horas devem estar anotadas em um documento que pode ser chamado de folha de ponto para o controle de horas. O trabalhador anotará o seu horário de entrada e de saída, além dos intervalos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as características da jornada de trabalho, suas limitações legais, bem como os períodos de intervalo e descanso do empregado. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir jornada de trabalho.• Comparar as diversas limitações legais da jornada de trabalho.• Analisar os descansos (intervalos) na jornada de trabalho.• Desafio A duração do trabalho é denominada jornada de trabalho — o tempo, dentro do intervalo de um dia ou uma semana, em que o empregado está prestando serviços ao empregador ou à sua disposição no local de trabalho, nos termos do art. 4o da CLT. A Constituição Federal de 1988, no inciso XIII do art. 7o, estabelece limitação diária da jornada de trabalho (8 horas), bem como semanal (44 horas). Por outro lado, a CLT estabelecia apenas a limitação diária de 8 horas, conforme art. 58, o que daria margem para jornadas semanais de 48 horas, respeitando-se tão somente o repouso semanal remunerado. No entanto, por ser a Constituição a norma de hierarquia superior, vale o que ela determina, imperando a limitação dupla da jornada — diária e semanal. A partir disso, analise o caso de Caroline em relação à sua jornada de trabalho: Diante dessa situação, a dona do Salão Beautiful Hair, chefe de Caroline, procura você, advogado trabalhista, para confirmar se Caroline pode, em eventual reclamação trabalhista, ter sucesso em pedido de horas extras pela inobservância do intervalo interjornada. Nesse contexto, como você responderia a questão? Infográfico Todo mundo tem necessidade de repousar e ter tempo livre para se dedicar a outras áreas da vida além da profissional. Além disso, a pessoa que se encontra estafada, sobrecarregada, produz menos, sofre com o estresse e pode enfrentar sérios problemas de saúde. Ciente disso, a legislação limita o tempo pelo qual o empregador pode exigir a prestação de serviço pelo empregado, definindo a duração do trabalho por meio do conceito de jornada de trabalho. Todavia, a legislação estabelece hipóteses em que é possível solicitar que o empregado extrapole a jornada (horas extras) ou trabalhe em horário costumeiramente destinado ao descanso (horas noturnas). Ocorrendo isso, o empregado terá direito aos adicionais. Neste Infográfico, você vai conhecer as diferentes limitações da jornada de trabalho. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/9b882063-faa6-499a-9808-493e8f10c87b/1ede62f3-6592-4764-a81a-fada21d297d6.jpg Conteúdo do livro Sabe-se que, em regra, os empregadores gostariam de exigir cada vez mais de seus empregados. Não é ilógico dizer que, se fosse possível, o empregador exigiria jornadas de trabalho maiores de seus funcionários — o que se comprova por uma visita ao passado e ao momento anterior ao surgimento das normas trabalhistas. É por isso que há a necessidade de normas que regulamentem as relações de trabalho, colocando limite, por exemplo, na quantidade de horas diárias que o empregador pode exigir de trabalho do empregado. Essas normas limitam a duração da jornada de trabalho e também estabelecem os intervalos para descanso, alimentação, o intervalo entre uma jornada e outra e também o repouso semanal remunerado. Conhecer os aspectos gerais da jornada de trabalho e sua definição legal é fundamental para exercer seu trabalho de forma coerente. No capítulo Jornada de trabalho, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer esses aspectos, as limitações existentes na jornada de trabalho e ter uma análise dos descansos e dos intervalos na jornada. Boa leitura. LEGISLAÇÃO E ROTINA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA Miriany Stadler Ilanes Jornada de trabalho Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir jornada de trabalho. Comparar as diversas limitações legais da jornada de trabalho. Analisar os descansos (intervalos) na jornada de trabalho. Introdução A jornada de trabalho corresponde ao período instituído em contrato empresarial e que deve ser cumprido pelo empregado. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê o espaço de tempo máximo de 8 horas diárias, a totalizar 44 horas semanais, desde que não seja definido outro horário específico. De acordo com as novas regras da Reforma Trabalhista, as empresas poderão contratar trabalhadores para cumprir jornadas de 12 horas. No entanto, nesses casos, deverá haver obrigatoriamente um intervalo de 36 horas antes do retorno à empresa e essas horas deverão ser ano- tadas em um documento que pode ser chamado de folha de ponto, específico para o controle de horas. Assim, o trabalhador anotará o seu horário de entrada e de saída de expediente, bem como os intervalos realizados. Neste capítulo, estudaremos sobre aspectos gerais da jornada de trabalho, como a sua definição legal e as suas limitações, para, por fim, investigar como ocorrem os intervalos na jornada. Conceitos fundamentais A rigor, quando falamos em jornada de trabalho, referimo-nos ao número de horas diárias de trabalho, ou seja, ao montante de horas de trabalho em um único dia, como, por exemplo, uma jornada de trabalho de 8 horas. Na língua italiana, o vocábulo giornata signifi ca jornada, trabalho de um dia, C04_Jornada_trabalho.indd 1 17/07/2018 15:03:33 salário de um dia, dia, no sentido de dia de trabalho, ou, ainda, pagamento de um dia. Por isso, também se verifi ca a denominação duração do trabalho (GARCIA, 2017). Ao abordarmos o número de horas de trabalho semanal, mensal ou anual, o correto é utilizarmos a referida denominação, pois o assunto não se restringe ao trabalho diário. O horário de trabalho, por sua vez, diz respeito à hora de início e de término do labor, com os respectivos horários de intervalo inseridos nessa jornada. Nesse sentido, podemos conceituar jornada de trabalho como o montante de horas de um dia de labor. Ademais, é computado na jornada de trabalho não apenas o tempo efetivamente trabalhado, mas também o tempo à disposição do empregador. As chamadas horas in itinere, presentes em certos requisitos, também são computadas. As horas in itinere são horas extras não prestadas no local de trabalho: são as horas que o trabalhadorgasta para se descolar da sua residência até o seu local de trabalho e vice-versa. Em termos puramente teóricos, há três correntes que tratam da abran- gência da jornada de trabalho. A teoria do tempo efetivamente trabalhado não computa na jornada de trabalho as paralisações do empregado, como os intervalos. A teoria do tempo à disposição do empregador é mais abrangente, pois considera como jornada de trabalho não apenas o tempo de efetivo serviço, mas também o tempo que o trabalhador fica à disposição do empregador (GARCIA, 2017). Nesse aspecto, de acordo com a Súmula nº. 118 do Tribunal Superior do Trabalho (TST): “Jornada de trabalho. Horas extras. Os intervalos concedidos pelo empregador na jornada de trabalho, não previstos em lei, representam tempo à disposição da empresa, remunerados como serviço extraordinário, se acrescidos ao final da jornada” (GARCIA, 2017, p. 509). Já a teoria do tempo in itinere considera como jornada de trabalho todo o período, desde o momento em que o empregado se dirige ao trabalho até o seu retorno à residência (GARCIA, 2017). No Direito do Trabalho de hoje, não há apenas uma teoria amplamente adotada, pois contamos com um sistema híbrido, que entende a jornada de trabalho não somente como o tempo real de serviço, Jornada de trabalho2 C04_Jornada_trabalho.indd 2 17/07/2018 15:03:33 o mas também como o tempo que o funcionário fica à disposição do empregador (GARCIA, 2017). O art. 58 da CLT prevê o seguinte: “A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite” (BRASIL, 1943, documento on-line). Contudo, de acordo com a atual redação do artigo 59 da CLT, a duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Excepcionalmente, para a realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou ainda cuja inexecução possa implicar prejuízos, bem como motivos caracterizados como de força maior, tais limites poderão ser excedidos. Cabe destacarmos que, nos termos do art. 4º, caput, da CLT: “Considera- se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada” (BRASIL, 1943, documento on-line). Quanto à duração, a jornada de trabalho se classifica em dois tipos: Normal ou comum. Oito horas diárias, respeitado o limite semanal de 44 horas, o que, por ser o ordinário, é o presumido. Pode, no entanto, haver previsão legal ou convencional mais benéfica ao empregado ou a certas categorias ou formas de trabalho, fixando jornada de trabalho normal inferior ao referido módulo, como ocorre no trabalho em regime de revezamento (art. 7º, XIV, da Constituição Federal de 1988). Extraordinária ou suplementar. Horas de trabalho além do horário normal. Quanto ao período, a jornada de trabalho se subdivide também em dois tipos: Diurna. Quando o trabalho ocorre no meio urbano no horário das 5 às 22 horas; Noturna. Quando o labor ocorre no meio urbano das 22 às 5 horas (art. 73, § 2º, da CLT). No trabalho rural, o art. 7º da Lei nº. 5.889, de 8 de junho de 1973, estabelece o horário noturno das 21 às 5 horas na agricultura e das 20 às 4 horas na pecuária. 3Jornada de trabalho C04_Jornada_trabalho.indd 3 17/07/2018 15:03:33 Com relação à profissão, é válido atentarmos ao fato de que certas profissões e categorias, como os bancários (art. 224 da CLT) e os telefonistas (art. 227 da CLT), têm jornadas de trabalho especiais, inferiores ao limite constitucional. No entanto, conforme a Súmula nº. 370 do TST, médicos e engenheiros não possuem jornada de trabalho propriamente reduzida, mas apenas há a fixação do salário mínimo profissional, devido para uma jornada de trabalho fixada na respectiva lei (GARCIA, 2017). Leia mais acerca da Reforma Trabalhista na 17ª edição da obra Curso de Direito do Trabalho, do professor Mauricio Godinho Delgado, datada de 2018. Limitações legais da jornada de trabalho A doutrina indica diversos fundamentos para a limitação da jornada de tra- balho pelas normas jurídicas, com natureza cogente. Segundo Garcia (2017), podem ser arrolados, assim, os seguintes fundamentos conformes as suas distintas naturezas: Psíquica e psicológica. O trabalho intenso, com jornadas extenuantes, pode causar o esgotamento psíquico/psicológico do trabalhador, afetando a sua saúde mental e a sua capacidade de concentração, o que pode até gerar doenças ocupacionais de ordem psíquica, como a chamada síndrome do esgotamento profi ssional (burnout). Curioso sobre a síndrome de burnout? Acesse o link a seguir para saber mais sobre essa complicada síndrome: https://qrgo.page.link/3d1yz Jornada de trabalho4 C04_Jornada_trabalho.indd 4 17/07/2018 15:03:34 Física. O labor em jornadas de elevada duração também pode acarretar a fadiga somática do empregado, resultando em cansaço excessivo, bem como aumentando o risco de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, de modo a colocar a saúde e a vida do trabalhador em risco. Social. Também é necessário à sociedade que, além de trabalhar, a pessoa exerça outras atividades relevantes na comunidade em que vive, inclusive no seio familiar, que é a base da sociedade. Econômica. Jornadas de trabalho de elevada duração podem fazer a empresa deixar de contratar outros empregados, passando a exigir trabalho somente dos poucos que prestam serviços, aumentando o desemprego e, por consequência, gerando crises na economia. Humana. Para ter a sua dignidade preservada, o trabalhador não pode ser exposto a jornadas de trabalho extenuantes, o que afetaria a sua saúde e colocaria em risco a sua própria vida, inclusive em razão de riscos relativos a acidentes de trabalho: A inclusão, na Constituição de 1988, de um aparelho constitucional ante- vendo uma jornada menor, de 44 horas semanais, para todos os cidadãos brasileiros, foi de certa forma o efeito inevitável da forte greve operária de 1985, quando foram conquistadas, pelos trabalhadores, reduções na jornada normal de 48 horas para 45, 44 e até mesmo 40 horas semanais (SARAIVA; SOUTO, 2018, p. 192). Em termos legais, o ato de normatizar constitucionalmente a diminuição da carga horária semanal foi tarefa simples. Todavia, em termos práticos, essa alteração foi bastante complexa e lenta, pois exigia a mudança dos hábitos de trabalho vigentes há 100 anos. Determinados setores econômicos com força de trabalho organizada se anteciparam à lei ou agruparam de imediato a mudança legal, ao passo que os grupos menos preparados ou com força de trabalho mais dispersa, embora tenham formalmente adotado de imediato a alteração da jornada das antigas 48 horas para 44 horas semanais, não desistiram do antigo padrão de trabalho. A tática da classe empresária foi converter as antigas 4 horas de trabalho ordinário em trabalho extraordinário. Assim, observamos que a grande massa de trabalhadores alcançou somente uma alteração formal do tempo de trabalho, sem que acontecesse uma real mudança na prática. 5Jornada de trabalho C04_Jornada_trabalho.indd 5 17/07/2018 15:03:34 As normas que regulam a duração do trabalho são imperativas e têm natureza publi- cística. Dessa forma, elas são inderrogáveis e irrenunciáveis. Por meio dessas normas, cujo grau mais elevado de hierarquia é a própria Constituição, o Estado manifesta o seu interesse pelo problema da fadiga do trabalhador, de modo a velar para que ele não seja submetido a longas jornadas de trabalho, capazes de lhe sacrificar a saúde. De outro lado, já ficou perfeitamente demonstrado que jornadas muito longas não são nada úteis às empresas, pois, com a sucessão das horas, o rendimento do trabalho declina (SARAIVA; SOUTO, 2018). Posto isso, o limite legal da jornada de trabalho diário é o máximonormal. Entretanto, nada impede que o empregador estabeleça uma jornada de menor duração. Nesse sentido, se estiver em curso o contrato de trabalho, o encurta- mento da jornada por decisão do empregador não determinará a diminuição do salário, pois ele é protegido pelo princípio da inalterabilidade. Ademais, significa uma alteração unilateral das condições estabelecidas no contrato de trabalho. Alguns doutrinadores entendem que, na hipótese aventada, caso haja concordância do empregado, a redução salarial se reveste de legalidade (SARAIVA; SOUTO, 2018). Intervalos na jornada de trabalho A duração do trabalho é compreendida como o tempo em que o empre- gado se coloca em disponibilidade perante o empregador em decorrência do contrato ou, sob outra perspectiva, o tempo em que o empregador pode dispor da força de trabalho do empregado em um período delimitado. O seu estudo remete necessariamente ao exame dos períodos de descanso (DELGADO, 2017). Efetivamente, a duração diária (jornada) surge, de maneira geral, en- trecortada por períodos de descansos mais ou menos curtos no seu inte- rior, chamados de intervalos intrajornadas, separando-se das jornadas fronteiriças por distintos e mais extensos períodos de descanso, que são os intervalos interjornadas. Os períodos de descanso comparecem mais uma vez na interseção dos módulos semanais de labor, por meio do que se denomina repouso semanal, ou eventualmente por meio de certos dias excepcionalmente eleitos para descanso pela legislação federal, regional ou Jornada de trabalho6 C04_Jornada_trabalho.indd 6 17/07/2018 15:03:34 local, os feriados. Finalmente, eles marcam presença até no contexto anual da duração do trabalho, mediante a figura das férias anuais remuneradas (DELGADO, 2017, p. 1068). Os períodos de descanso se configuram como lapsos temporais regulares, remunerados ou não, situados intra ou intermódulos diários, semanais ou anuais do período de labor, em que o empregado pode sustar a prestação de serviços e a sua disponibilidade perante o empregador com o objetivo de recuperação e implementação das suas energias ou da sua inserção familiar, comunitária e política. Tais períodos de descanso abrangem, como vimos (DELGADO, 2017): os descansos intrajornadas, normalmente denominados intervalos; os descansos interjornadas, também comumente denominados intervalos; o descanso, ou repouso, semanal; os descansos em feriados; o descanso anual, denominado fé rias. Os distintos períodos de descanso têm duração padrão normalmente fixada pela legislação heterônoma estatal. No tocante aos intervalos intrajornadas, o art. 71 da CLT fixa o lapso temporal de 1 a 2 horas para jornadas continuas superiores a 6 horas e de 15 minutos para jornadas contínuas situadas entre 4 e 6 horas. Sobre os intervalos interjornadas, entre um dia e outro de labor, o parâmetro numérico é de 11 horas, conforme o art. 66 da CLT e o art. 5º da Lei nº. 5.889/1973 (DELGADO, 2017). A Lei do Trabalho Rural (Lei nº. 5.889/1973) curiosamente preferiu se reportar aos usos e costumes da região a fixar um parâmetro numérico para o intervalo intrajornada para refeição e descanso no campo, nos termos do seu art. 5º. Embora o critério pudesse se justificar quando instituído, 40 anos atrás, ele tem sido contemporaneamente criticado em face da dimensão sanitária que se confere aos intervalos nas modernas concepções de administração da saúde e segurança no ambiente de trabalho. Por consequência, a jurisprudência recentemente decidiu adotar o parâmetro nu- mérico universal da CLT, referido no regulamento normativo da Lei do Trabalho Rural, que é o intervalo mínimo de 1 hora para jornadas contínuas superiores a 6 horas (ex-Orientação Judicial [OJ] nº. 381 da 1ª Turma da Seção de Dissídios Individuais [SDI-I] do TST; Súmula 437, I, do TST) (DELGADO, 2017). 7Jornada de trabalho C04_Jornada_trabalho.indd 7 17/07/2018 15:03:34 Ao lado dessa duração padrão dos intervalos intra e interjornadas, existem inúmeros intervalos especiais fixados pelo Direito do Trabalho, seja em decorrência do exercício pelo empregado de certas funções específicas (por exemplo, art. 72 da CLT), seja em decorrência da prestação de trabalho em circunstâncias especiais ou gravosas (ilustrativamente, arts. 253 e 298 da CLT) (DELGADO, 2017). A duração padrão do descanso semanal, por sua vez, é de 24 horas (art. 67 da CLT e Lei nº. 605, de 5 de janeiro de 1949). Na mesma fronteira, situa-se o descanso em feriado, embora ele se fixe em dia, não em horas (art. 70 da CLT; Lei nº. 605/1949; e Lei nº. 9.093, de 12 de setembro de 1995). Finalmente, no tangente ao descanso anual, a duração padrão legalmente fixada é de 30 dias quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco) vezes (art. 130 da CLT) (DELGADO, 2017). Intervalo interjornada De acordo com Saraiva e Souto (2018), intervalo interjornada é a pausa con- cedida ao obreiro entre o final de uma jornada diária de trabalho e o início de uma nova jornada no dia seguinte para o seu descanso. O art. 66 da CLT assegura um intervalo interjornada de, no mínimo, 11 horas consecutivas. Ao trabalhador rural também foi assegurado o intervalo interjornada mínimo de 11 horas consecutivas, mediante determinação do art. 5º da Lei nº. 5.889/1973. A Lei nº. 9.719, de 27 de novembro de 1998, também assegurou ao trabalhador portuário avulso um intervalo mínimo de 11 horas consecutivas entre duas jornadas, salvo em situações excepcionais constantes de acordo ou de convenção coletiva de trabalho. As horas trabalhadas após o repouso semanal remunerado, com prejuízo ao intervalo interjornada de 11 horas consecutivas para descanso, devem ser remuneradas como extraordinárias, com incidência do adicional de, no mínimo, 50% (Súmula nº. 110 do TST) (SARAIVA; SOUTO, 2018). Vale mencionar que o TST editou a OJ nº. 355 da SDI-I, estabelecendo que as horas subtraídas do intervalo interjornada serão pagas como horas Jornada de trabalho8 C04_Jornada_trabalho.indd 8 17/07/2018 15:03:34 extras, isto é, a hora normal acrescida do adicional de 50% (SARAIVA; SOUTO, 2018). Intervalo intrajornada Para Saraiva e Souto (2018), intervalo intrajornada designa a pausa que ocorre inserida na jornada diária de trabalho, objetivando o repouso e a alimentação do trabalhador. A seguir, consideraremos alguns exemplos de intervalos interjonadas. Quando a jornada diária exceder de 6 horas, é obrigatria a concessão de um intervalo para repouso e alimentação de, no mínimo, 1 hora e, salvo acordo ou convenção coletiva de trabalho, não poderá exceder 2 horas (art. 71 da CLT), não sendo computado o intervalo na duração da jornada. Quando a jornada diária exceder de 4 horas, mas não ultrapassar 6 horas, o intervalo intrajornada será de 15 minutos (art. 71, § 1º, da CLT), também não sendo computado na duração da jornada. O limite mínimo de 1 hora de intervalo para repouso e alimentação, previsto no caput do art. 71 consolidado, poderá ser encurtado por deli- beração do Ministério do Trabalho aps prévia fiscalização da empresa, mediante comprovação de que o estabelecimento possui refeitrio de acordo com os padrões fixados na norma específica e que os empregados não estejam submetidos jornada suplementar. Não sendo concedidos os intervalos previstos no art. 71, caput e § 1º, da CLT, ficará o empregador obrigado a remunerar o período suprimido, com um acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (SARAIVA; SOUTO, 2018). Intervalo interjornada: um empregado que é liberado da sua jornada diária às 20h só poderá retornar ao trabalho no dia seguinte após às 7 horas da manhã, visto que, entre as 20h e a primeira hora de trabalho do dia seguinte, deve haver intervalo mínimo de 11 horas. Intervalo intrajonada: intervalo para descanso e para alimentação, como lanche, almoço ou janta. 9Jornada de trabalho C04_Jornada_trabalho.indd 9 17/07/2018 15:03:34Jornada de trabalho10 C04_Jornada_trabalho.indd 10 17/07/2018 15:03:36 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm>. Acesso em: 6 jul. 2018. BRASIL. Decreto-lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Traba- lho. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 6 jul. 2018. DELGADO, M. G. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2017. GARCIA, G. F. B. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. SARAIVA, R. T.; SOUTO, R. T. Direito do Trabalho. 20. ed. Salvador: JusPodivm, 2018. SOUZA, I. Reforma trabalhista: entenda as mudanças na jornada de trabalho. Politize!, 11 abr. 2017. Disponível em: <http://www.politize.com.br/jornada-de-trabalho-reforma- -trabalhista/>. Acesso em: 6 jul. 2018. Dica do professor Durante uma semana de trabalho, o empregador é obrigado a conceder alguns períodos de descanso ao empregado, quer seja durante a realização da jornada de trabalho, quer seja entre uma jornada e outra. Trata-se dos intervalos intrajornada e interjornada. O intervalo intrajornada é aquele concedido durante a jornada de trabalho, ou seja, no período de um dia de trabalho. Há momentos em que o trabalhador não está prestando serviço, sendo esse tempo dedicado ao repouso e à alimentação. Por sua vez, o intervalo interjornada é aquele que ocorre entre uma jornada de trabalho e outra, ou seja, entre um dia e outro de serviço. Tal intervalo tem a intenção de permitir que o trabalhador se recupere da jornada anterior, descanse e tenha tempo para cuidar de outras áreas da sua vida. Nesta Dica do Professor, você vai conhecer um pouco mais sobre os intervalos das jornadas de trabalho existentes, seja intrajornada, seja interjornada. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/1e13755d2c0dd7315ccdd67310953a89 Exercícios 1) A CLT regulamenta a jornada de trabalho na intenção de assegurar a concessão de intervalos para que o trabalhador descanse e possa se dedicar às demais áreas de sua vida. A respeito dos intervalos intrajornada e interjornada, nos termos previstos na CLT e pelas orientações jurisprudenciais e súmulas do Tribunal Superior do Trabalho (TST), assinale a alternativa correta. A) Entre duas jornadas de trabalho, haverá um período mínimo de 12 horas consecutivas para descanso. B) Não excedendo 4 horas de trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de 15 minutos quando a duração ultrapassar 2 horas. C) Os intervalos de descanso serão computados na duração do trabalho. D) Os intervalos concedidos pelo empregador na jornada de trabalho, não previstos em lei, representam tempo à disposição da empresa, remunerados como serviço extraordinário, se acrescidos ao final da jornada. E) Quando o intervalo intrajornada não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de, no mínimo, 25% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. 2) Todo trabalhador tem direito a intervalos para descansar de seu trabalho. Alguns intervalos são concedidos durante a jornada; outros, entre uma jornada e outra; outros, semanalmente; e um deles, anualmente (férias). A CLT regulamenta a duração mínima de tais intervalos a fim de assegurar a proteção à saúde do trabalho. Sobre esse tema, é correto afirmar que, tendo cumprido sua jornada de trabalho de 8 horas diárias, o empregado somente poderá iniciar a próxima jornada de trabalho após o intervalo mínimo de: A) 9 horas. B) 10 horas. C) 11 horas. D) 8 horas. E) meia hora. 3) O período da noite é reconhecidamente aquele destinado ao descanso. A medicina demonstra que o sono durante o dia não é revigorante da mesma forma que o sono da noite. Atenta a isso, a CLT estabelece normas na intenção de compensar financeiramente o trabalhador que presta atividade nesse período. O primeiro ponto de relevância é estabelecer o que a lei considera como período noturno. Nesse sentido, conforme previsão contida na CLT, para o trabalhador urbano, considera-se noturno o trabalho executado: A) das 21h de um dia às 5h do dia seguinte. B) das 20h de um dia às 4h do dia seguinte. C) das 22h de um dia às 5h do dia seguinte. D) das 20h de um dia às 5h do dia seguinte. E) das 21h de um dia às 6h do dia seguinte. 4) A CLT estabelece que, durante a jornada, o empregado terá direito a alguma(s) pausa(s) para repouso e alimentação. Trata-se do intervalo intrajornada, cuja finalidade é assegurar a proteção da saúde do trabalhador. Sabe-se que o tempo de duração de tal intervalo é variável, a depender do tempo de duração da jornada. Sendo assim, analise as jornadas de três trabalhadores: - Caio trabalha na farmácia ABC e tem jornada diária de trabalho de 5 horas. - Mévio trabalha na farmácia XYZ e tem jornada diária de trabalho de 4 horas. - Tício trabalha no supermercado KWY e tem jornada diária de trabalho de 7 horas. Quanto à concessão e à duração do intervalo intrajornada de Caio, Mévio e Tício, é correto afirmar que: A) Caio terá direito a 15 minutos de intervalo, Mévio não terá direito a intervalo e Tício terá direito a uma hora. B) Caio e Mévio não terão direito ao intervalo e Tício terá direito a uma hora de intervalo. C) Caio e Mévio terão direito a 15 minutos de intervalo e Tício terá direito a uma hora de intervalo. D) Caio e Mévio terão direito a 15 minutos de intervalo e Tício terá direito a 30 minutos de intervalo. E) Caio, Mévio e Tício terão direito a 15 minutos de intervalo. 5) A CLT estabelece normas a respeito do intervalo intrajornada, ou seja, aquele intervalo para repouso e alimentação do trabalhador que deve ser concedido durante a jornada diária de trabalho. Tal intervalo tem a finalidade de assegurar a proteção à saúde, física e mental, do trabalhador. Sobre esse assunto, analise o caso a seguir: Amália labora em uma tecelagem. Sua jornada diária de trabalho é de 8 horas e a semanal é de 44 horas. No entanto, diariamente, Amália tem direito a apenas 40 minutos de intervalo intrajornada, o que foi determinado por ordem de seu empregador. Nesse sentido, de acordo com o que estabelecem a Constituição e a CLT, Amália tem direito a: A) uma hora extra diária em virtude da supressão do intervalo integral, acrescida de 50%. B) 20 minutos extras diários em virtude da supressão parcial do intervalo, acrescidos de 50%. C) uma hora extra diária em virtude da supressão do intervalo integral, sem acréscimo de 50%. D) 30 minutos extras diários em virtude da supressão do intervalo integral, sem acréscimo de 50%. E) 20 minutos extras diários em virtude da supressão parcial do intervalo, sem acréscimo de 50%. Na prática A supressão do intervalo intrajornada, ou seja, a não concessão do intervalo para descanso e alimentação durante a jornada de trabalho gera para o empregado o direito ao recebimento do tempo suprimido como horas extraordinárias. Anteriormente à Reforma Trabalhista de 2017, o empregador que não concedesse corretamente o intervalo intrajornada, o suprimindo total ou parcialmente, estava sujeito ao pagamento de todo o período de intervalo como hora extra, o que foi alterado com a reforma, sendo devida, agora, apenas a parte suprimida. Confira, Na Prática, um caso real que estava na Justiça do Trabalho, em que o empregado reclama que, durante todo o período em que laborou na empresa, não teve direito aos descansos devidos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sentença Neste link, você vai conferir o texto, na íntegra, da sentençado caso apresentado no item Na Prática. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Operador receberá integralmente intervalo intrajornada suprimido Em que pese a reforma trabalhista ter modificado o regime de pagamento do intervalo intrajornada suprimido, dando direito ao pagamento com 50% a mais apenas do período efetivamente suprimido, a questão ainda se mantinha quanto às demandas que pleiteavam tal pagamento referentes à supressão ocorrida anteriormente à reforma. Neste texto, você vai conferir que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) assim se manifestou sobre o assunto. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O direito à desconexão: uma análise dos impactos do teletrabalho na saúde do trabalhador Em tempos de conexão constante e facilidade de se acionar o empregado a todo momento, a discussão quanto ao respeito do descanso do trabalhador se torna cada vez mais presente. Contatos constantes por parte do empregador no período de descanso do empregado geram direito a horas extras? A legislação ainda não é clara sobre o assunto, mas a doutrina tem se ocupado do tema. http://publica.sagah.com.br/publicador/objects/attachment/1879729906/sentenca.pdf?v=1382331609 https://www.tst.jus.br/-/operador-receber%C3%A1-integralmente-intervalo-intrajornada-suprimido Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Justiça do Trabalho comemora 80 anos de existência Fruto de muita luta da classe trabalhadora, as limitações da jornada de trabalho, os intervalos para descanso e repouso são, hoje em dia, conquistas conhecidas pelos trabalhadores, que conhecem cada vez mais seus direitos e sabem onde buscar proteção em caso de descumprimento – o que se deve, em grande medida, à existência da Justiça do Trabalho, que atua constantemente para que as normas da CLT sejam cumpridas. No ano de 2021, a Justiça do Trabalho completou 80 anos de instalação. Já no ano de 2023, a CLT completa 80 anos de existência. Muito se conquistou ao longo de todos esses anos, mas perdas também foram encaradas. Neste documentário, você vai acompanhar a história dessa justiça especializada, tão importante para a concretização dos direitos dos trabalhadores. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://periodicos.cesupa.br/index.php/RJCESUPA/article/view/53/26 https://www.youtube.com/embed/s1kG2BCC654
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