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POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA PROFESSORAS Dra. Mara Cecília Rafael Lopes Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1010 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. LOPES, Mara Cecília Rafael; CORDEIRO, Suzi Maria Nunes. Educação Básica. Cordeiro. Políticas Educacionais e Organização da Mara Cecília Rafael Lopes; Suzi Maria Nunes Maringá - PR: Unicesumar, 2020. 224 p. “Graduação - EaD”. 1. Políticas 2. Educação 3. Organização. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Mara Rafael Lopes Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Juliana Duenha Design Educacional Bárbara Neves Revisão Textual Lorena Martins Ilustração Marta Kakitani Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 379 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-2004-5Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Zagonel NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR Reimpresso em 2023. BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenasde cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Dra. Suzi Maria Nunes Cordeiro Doutora (2019) e mestre (2016) em Educação pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Especialista em EaD e as Novas Tecnologias Educacionais pela Unicesumar (2016) e em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UEM (2014). Possui gradua- ção em Pedagogia pela UEM (2011). Atua como professora do curso de Pedagogia na Unicesumar, coordena o projeto de pesquisa docente sobre Teoria e Prática na formação de professores e o desenvolvimento global dos alunos, bem como orienta alunos de iniciação científica. Tem experiência com disciplinas de Didática, Políticas Educacionais, Estágio Supervisionado, dentre outras da graduação e pós-graduação, tanto com escrita de livros quanto com aulas ministradas. É participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Escola, Família e Sociedade da UEM. Possui pesquisas e livros sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Medicalização, Teoria das Representações Sociais, dentre outros temas relacionados à educação na linha de Psicologia da Educação. Ministra palestras sobre a educação no século XXI, a exemplo, a educação da família e da escola, as políticas educacionais e outras temáti- cas que envolvam o ensino, a aprendizagem e a formação de professores. Currículo Lattes da professora disponível em: http://lattes.cnpq.br/1301448235769294. Dra. Mara Cecília Rafael Lopes Doutora (2016) e mestre (2009) em Educação pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Graduada em Educação Física pela mesma instituição (1996). Graduada em Pedagogia pela Unicesumar (2016). Coordena o curso de Educação Física Licencia- tura e Bacharelado da EaD Unicesumar. Tem experiência na área de Educação e Educação Física, investigando, principalmente, os seguintes temas: políticas públicas educacionais, financiamento da educação e políticas públicas de esporte e lazer. Currículo Lattes da professora disponível em: http://lattes.cnpq.br/5472896495130234. A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Prezado(a) aluno(a), é com satisfação que apresentamos o livro da disciplina de Políticas Educacionais e a Organização da Educação Básica. Para melhor organização, dividimos as discussões em cinco unidades. Na Unidade 1, você conhecerá os indicadores educacionais como fonte de informação e de análise das políticas, compreendendo os avanços e a atual conjuntura da educação brasileira, além de entender conceitos básicos de Estado, governo e políticas públicas, tornando-se capaz de analisar nossa educação escolar. Na Unidade 2, apresentamos o processo de reforma da educação, iniciada na década de 90, a fim de que você compreenda as principais legislações educacionais. Estudaremos os precei- tos constitucionais da educação nacional para conhecer os direitos e deveres do Estado, da família e da escola perante a educação. Analisaremos a Lei n.9.394, de 1996 (BRASIL, 1996a, on-line), seus avanços e retrocessos para a política educacional, a fim de compreender a atual política educacional. A Unidade 3 consiste na explanação dos níveis da educação no Brasil, as etapas da Educação Básica e as modalidades de ensino. Esperamos que você (re)conheça cada conceito, a fim de compreender como a educação escolar brasileira está organizada e estruturada perante a legislação. Por meio da Unidade 4, você conhecerá as principais formas de avaliação externa do sistema educacional brasileiro, com foco na Educação Básica, com o propósito de entender os instru- mentos de regulação do Estado e a relevância na elaboração e implementação de políticas educacionais em nosso país. Por fim, a Unidade 5 trata do início das relações externas do Brasil e suas relações com os Organismos Internacionais, com o objetivo de compreender as recomendações de políticas educacionais para nosso país. Além disso, as retomadas históricas ajudarão a entender as discussões sobre uma base comum curricular como instrumento de orientação dos currículos da Educação Básica, e saber sua relação com a Reforma do Ensino Médio. Desejamos que você, caro(a) aluno(a), tenha ótimos estudos. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará vocêa conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando Ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS, CONCEITO DE POLÍTICA EDUCACIONAL E A INTERPRETAÇÃO DA EDUCAÇÃO 8 A EDUCAÇÃO NA LEGISLAÇÃO: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E LDB DE 1996 36 70 SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA 122 AVALIAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 164 POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: BNCC 209 CONCLUSÃO GERAL 1 INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS, CONCEITO DE Política Educacional e a Interpretação da Educação PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Os Indicadores Educacionais: Censo Escolar, IDH e IDHM • Os Avanços no Acesso à Educação • O que é Política Educacional? OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer os indicadores educacionais como fonte de informação e análise das políticas, a fim de entender as implicações na elaboração das políticas educacionais. • Analisar os indicadores de acesso e democratização da educação, para compreender os avanços e a atual conjuntura da educação bra- sileira. • Compreender os conceitos básicos: Estado, governo e políticas educacionais, a fim de analisar a educação escolar no contexto atual. PROFESSORA DRA. Mara Cecília Rafael Lopes INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica. Iniciaremos a discussão das políticas educacionais, um tema necessário e significativo para a formação cidadã e a prática docente. Nesta unidade, trataremos de alguns Indicadores Educacionais, como os do Censo Escolar, do IDH e IDHM. Todo cidadão deve ter acesso às estatísticas públicas com igualdade e imparcialidade, o que é um consenso internacional para produtores, pesquisadores, órgãos estatísticos e usuários do sistema estatístico que vivem em sociedades sob a tutela do Estado de- mocrático de direito. O conhecimento e análise dos dados sobre a educação escolar e as mais diversas áreas sociais é um direito de todo cidadão, e tal apropriação deve fazer parte da formação inicial e continuada de profes- sores. Assim, desenvolvemos argumentos na defesa de uma educação que elimine as desigualdades e tenha qualidade em sua oferta. A política está relacionada ao campo de estudo das atividades da so- ciedade articuladas ao Estado, por isso estudar o conceito de Estado é tão importante. Esse conjunto de atividades ligadas ao Estado se relaciona com diversas questões, como poder, sociedade política, participação social, or- denamento, legislação, fiscalização, entre outros. Traremos uma análise dos avanços na educação, em estudo analítico das políticas educacionais, para que ao final de nossos estudos tenhamos clareza sobre os impasses e perspectivas das políticas atuais em relação à educação. Apresentaremos os conceitos básicos para o estudo de políticas edu- cacionais, Estado, governo e políticas sociais com as da educação. Para a efetivação dos aspectos legais da educação, como uma educação pública, laica, obrigatória e gratuita, ainda é preciso muita luta nos diversos setores da sociedade. Você, aluno(a), é convidado(a) a fazer parte dela, para que todo cidadão tenha acesso ao conhecimento produzido pela humanidade, e que este conhecimento possa ser suporte para o exercício da cidadania. U N ID A D E 1 10 1 OS INDICADORES EDUCACIONAIS: CENSO ESCOLAR, IDH e IDHM Para compreender as políticas públicas para a educação escolar, assim como a estrutura e organização da Educação Básica, necessitamos entender a relação entre sociedade, Estado e educação. Cabe lembrar que a análise da educação parte da verificação do contexto: olhar a educação, no Brasil, envolve considerar os aspectos históricos e atuais em nosso país, na América Latina, e o que ocorre no mundo hoje, em termos de desenvolvimento humano, social e político. Para iniciarmos nosso estudo, preciso que você responda a algumas perguntas: 1. O que você conhece sobre as políticas educacionais? 2. Quais autores você leu como referência para o estudo de políticas educacionais? 3. Você já teve acesso às estatísticas sobre educação? Aos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e Minis- tério da Educação (MEC)? 4. Conhece alguns aspectos da legislação sobre educação? Observa-se um aumento significativo da demanda por informações econômi- cas, sociais (como a educação) e ambientais por parte das mais diversas áreas: o setor privado, governo, terceiro setor, organismos internacionais e da popula- ção em geral. Essa necessidade de informações decorre da maior participação do cidadão na sociedade e da atuação do governo, que as utiliza para elabora- ção de políticas públicas. Para que o governo e a sociedade avaliem as políticas U N IC ES U M A R 11 educacionais, precisam de um diagnóstico sobre a educação nacional; assim, as propostas para as políticas educacionais são mais assertivas. Para que seus argu- mentos sobre a educação brasileira tenham validade, mesmo em um debate com família ou amigos, devem basear-se em pesquisas e não no senso comum, certo? “ Deve-se destacar que os indicadores sociais têm sido cada vez mais utilizados para avaliar a situação da educação no Brasil. Esse uso tem sido intensificado nos últimos anos, principalmente por dois motivos: primeiro pela ampliação do grau de cobertura em todos os níveis de educação no país, fenômeno que exige um acompa- nhamento sistemático; e segundo pelo aumento de dados disponí- veis sobre a educação brasileira, principalmente no que se refere à qualidade do ensino, formação dos professores e situação física das escolas (DIAS JÚNIOR; VERONA, 2010, p. 1). Os indicadores sociais e os dados estatísticos são utilizados como suporte para análises e decisões em políticas educacionais, tanto na elaboração como na re- formulação, na avaliação e no monitoramento das políticas públicas. Os estudos internacionais comparativos estão presentes de forma recorrente nas análises dos indicadores nacionais sobre as políticas educacionais. Nesse sentido, durante nossos estudos, apresentaremos conceitos, análises e dados estatísticos como subsídio para o conhecimento da realidade educacional. O estudo das políticas educacionais é fundamental a você, enquanto futuro(a) professor(a) e como cidadão(ã), no acompanhamento e avaliação da sociedade sobre as propostas e a execução das políticas públicas educacionais. Caro(a) aluno(a), você sabe que um preceito fundamental da Constituição Fe- deral de 1988 implica no acesso à informação pública para o seu pleno exercício? “ Artigo 5º [...] XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988). U N ID A D E 1 12 O mesmo inciso determinou, ainda, a criação de uma lei para regulamentar o refe- rido direito, o que só ocorreu em 2011, fruto de muitas reivindicações da sociedade civil. Somente em 2012,foi instituída a Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (Inda), como “política para garantir e facilitar o acesso pelos cidadãos, pela socieda- de e, em especial, pelas diversas instâncias do setor público aos dados e informações produzidas ou custodiadas pelo Poder Executivo Federal” (BRASIL, 2012a, on-line), estabelecendo como objetivos, conforme Art. 1º do referido documento: “ VII - promover a colaboração entre governos dos diferentes níveis da federação e entre o Poder Executivo federal e a sociedade, por meio da publicação e do reuso de dados abertos; VIII - promover e apoiar o desenvolvimento da cultura da publicidade de dados e informações na gestão pública; IX - disponibilizar tecnologias e apoiar as ações dos órgãos e entidades do Poder Executivo federal ou que aderirem à INDA na implementação da transparência ativa por meios digitais; e X - promover a participação social na constru- ção de um ecossistema de reuso e de agregação de valor dos dados públicos BRASIL, 2012a, on-line) No entanto, entre a promulgação da lei, sua implementação e a consequente usu- fruição real pela população há uma distância enorme, às vezes um abismo, que só pode ser superado por meio de estudos, conscientização da população, movi- mentos e lutas empreendidos pela sociedade civil. As informações possuídas, produzidas e divulgadas pelo Estado democráti- co constituem um bem público, de uso individual e coletivo, simultaneamente. Está vinculado diretamente aos princípios basilares da administração pública: a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O princípio da publicidade constitui um elemento essencial para o controle dos atos estatais e fortalecimento da democracia (CARDOSO, 2017). “ O direito de acesso às informações públicas, além de ser um di- reito importante por si mesmo, tem uma finalidade ainda maior por constituir um instrumento necessário para concretização da participação da sociedade civil na reivindicação dos demais direi- tos políticos e sociais constitucionais. Os cidadãos precisam de in- formações para ter livre discernimento, com livre intercâmbio de ideias, auxiliando a tomada de decisões e a reivindicação dos demais U N IC ES U M A R 13 direitos. O direito à informação não se trata, portanto, apenas de um direito constitucional fundamental, mas sim de um direito huma- no, que tem como propósito conquistar outros direitos igualmente constitucionais fundamentais e humanos (CARDOSO, 2017, p. 32). As estatísticas sociais, econômicas e demográficas, utilizadas para a construção dos indicadores no Brasil, são produzidas por diferentes agências nos âmbitos federal e estadual. Nesse sentido, cabe destacar: a) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no fornecimento de dados como o censo demográfico (carac- terísticas demográficas, habitação, escolaridade, mão de obra, rendimentos); b) o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do qual a principal fonte de dados é o censo escolar, que contempla alunos, profes- sores, escolas, turmas e equipamentos, de acordo com as etapas e modalidades da Educação Básica, bem como considera informações do rendimento (aprovação e reprovação) e movimento (abandono e transferência) de cada aluno; c) o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que presta assessoria ao Estado em suas decisões estratégicas, produz informações considerando indicadores e dados refe- rentes às áreas econômica e financeira, além de conter informações relevantes para as pesquisas educacionais em financiamento da educação. Vamos conhecer um pouco das agências e dos dados sobre educação? ■ Censo Escolar O Censo Escolar é um dos principais indicadores nacionais para o sistema edu- cacional, envolve todas as escolas públicas e privadas da Educação Básica. Ao analisarmos as políticas educacionais, sempre recorremos às evidências apre- sentadas no Censo Escolar. U N ID A D E 1 14 “ O Censo Escolar é um levantamento estatístico anual, coordenado pelo Inep e realizado em colaboração com as secretarias estaduais e municipais de educação e as escolas públicas e privadas de todo o País. A pesquisa proporciona a obtenção de estatísticas das condi- ções de oferta e atendimento do sistema educacional brasileiro, na Educação Básica, reunindo informações sobre todas as suas etapas e modalidades de ensino, compondo um quadro detalhado sobre os alunos, os profissionais escolares em sala de aula, as turmas e as es- colas. Os dados e as informações apuradas pela pesquisa subsidiam a operacionalização de importantes políticas públicas, programas governamentais e ações setoriais nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) (BRASIL, 2019, p. 13). Figura 1: Total de matrículas na Educação Básica segundo a rede de ensino – Brasil – 2014 a 2018 Fonte: Brasil (2019, p. 13). No Brasil, o número total de matrículas na Educação Básica, em 2018, foi de 8,5 milhões, distribuídas em 181,9 mil escolas. Em comparação com o ano de 2014, temos 1,3 milhões de matrículas a menos, o que corresponde a uma redução de 2,6% no total de matrículas. 60.000.000 50.000.000 40.000.000 30.000.000 20.000.000 10.000.000 2014 2015 2016 2017 2018 Total Pública Privada 49.771.371 48.796.512 48.817.479 48.608.093 48.455.867 9.090.781 9.057.732 8.983.101 8.887.061 8.995.249 40.680.590 39.738.780 39.834.378 39.721.032 39.460.618 U N IC ES U M A R 15 Figura 2 - Percentual de matrículas na Educação Básica, segundo a dependência administrativa – Brasil – 2018 / Fonte: Brasil (2019). Ao avaliar a distribuição das matrículas por dependência administrativa no ano de 2018, percebe-se que a rede municipal reúne 47,7% das matrículas na Edu- cação Básica, enquanto a rede estadual conta com 32,9%. A rede privada tem uma participação de 18,6%, e a federal mostra número inferior a 1% do total de matrículas. Esses dados são fundamentais para analisarmos, por exemplo, a distribuição dos recursos para a Educação Básica por esfera administrativa. Figura 3 - Número de matrículas na Educação Básica segundo dependência administrativa e localização da escola – Censo Escolar – Brasil – 2018 / Fonte: Brasil (2019). Municipal Estadual Federal Privada 18,6% 32,9% 0,8% 47,7% Urbano Federal 355.937 55.141 Estadual Municipal Privada Rural 8.906.605 88.644 15.116.036 830.380 18.603.701 4.499.423 U N ID A D E 1 16 Em relação à localização, as matrículas da Educação Básica são encontradas ma- joritariamente na área urbana (88,7%). Em relação à rede pública, a rede munici- pal é a que apresenta a maior proporção de matrículas em escolas rurais (19,5%), seguida da rede estadual, com 5,2% das matrículas. Conforme os dados do Censo de 2018 (BRASIL, 1997a, on-line), 10,7% das matrículas da Educação Infantil estão em escolas da zona rural. No Ensino Fundamental, o maior número de matrículas, na zona rural, está nos anos iniciais (15,1%); nos anos finais, temos 11,8%. No Ensino Médio, as matrículas, na área rural, somam 10,2%. Na educa- ção de jovens e adultos, temos 18,3% das matrículas em escolas rurais (BRASIL, 1996a, on-line). Em um total de 48,7 milhões de estudantes, só 5,8 milhões estão matriculados em escolas do campo. Ao nos aprofundarmos um pouco nos dados, notamos que as condições das escolas do campo são muito inferiores e, muitas vezes, inade- quadas se comparadas às escolas na área urbana. Figura 4 - Estrutura das escolas rurais e urbanas / Fonte: Brasil (2019). U N IC ES U M A R 17 A infraestrutura é um dos fatores para pensarmos na melhora da qualidade da educação. Veja, caro(a) aluno(a), de todas as escola que temos no Brasil, apenas 45,7% possuem biblioteca com sala de leitura, de acordo com dados de Saeb/Inep/MEC e INSE/Inep/MEC. pensando juntos A educação é um direito de todos. Para que esse direito seja garantido, são ne- cessários vários fatores, como condições, acesso, permanência e infraestrutura básica.Por isso, as estatísticas públicas constituem um subsídio importante para o conhecimento da realidade social e econômica, além de necessitar chegar a todo cidadão. Em uma sociedade democrática, elas são decisivas para o pleno exercício da cidadania, ao servir de instrumento para propor, reelaborar, acompanhar e avaliar as políticas públicas. ■ O IDH e o IDHM O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado, em 1990, pelos econo- mistas Mahbub ul Haq e Amartya Sem. Seu objetivo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é apresentar uma medida geral do desenvolvimento humano em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB), pois abrange, apenas, os aspectos econômicos do desenvolvimento. Os indicadores do IDH é uma medida resumida do progresso em longo prazo de três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. U N ID A D E 1 18 A dimensão da educação envolve a escolaridade que, no caso brasileiro, tem como base o número de anos de estudos concluídos com aprovação pelo indiví- duo. Há três variáveis que possuem efeitos diretos sobre a escolaridade: a idade do indivíduo, porque a legislação determina as etapas obrigatórias de estudo e a idade mínima para o ingresso na escola; o período ou contexto temporal, no qual o indivíduo ingressa na escola, a sua conclusão em cada série e a continuidade no sistema de ensino, pois se relacionam com a condição econômica de cada aluno; o corte a qual pertence o indivíduo (RIOS NETO et al., 2005). “ Usado desde 1993 pelo PNUD em seu Relatório do Desenvolvi- mento Humano (RDH), o IDH é utilizado, ainda, para classificar os países enquanto “desenvolvidos” (quando atingidos valores acima de 0,900) ou “em desenvolvimento” (para aqueles cujos valores não atingiram 1994, on-line 2005, on-line). Segundo dados do RDH 2009, a Noruega encabeça a lista dos países com maior IDH (0,971), seguida por Austrália (0,970), Islândia (0,969), Canadá (0,966) e Irlanda (0,965). Dentre os países latino-americanos, o Chile, na 44ª posição, é o primeiro a figurar na lista, com um IDH de 0,878 em 2007. O Brasil aparece na 75ª posição, apresentando um IDH de 0,813 (DUARTE, 2010, p. 2). A classificação para leitura dos dados de IDH é a seguinte: baixo, médio, elevado e muito elevado. Valores entre 0 e 0,499 são classificados como baixos; a classifi- cação média localiza-se entre 0,500 e 0,799; a classificação elevada concentra-se em valores entre 0,800 e 0,899; os valores acima de 0,900 indicam um IDH muito elevado (DUARTE, 2010). U N IC ES U M A R 19 Figura 5 - Ranking de Desenvolvimento Humano / Fonte: adaptada de Pnud (2018). Ranking de desenvolvimento humano Os primeiros têm maior desenvolvimento; os últimos, menor. De 188 países, o Brasil está em 79º lugar. 1. Noruega Desenvolvimento humano ‘muito alto’ 0,949 2. Austrália 0,939 3. Suíça 0,939 4. Alemanha 0,926 5. Dinamarca 0,925 6. Cingapura 0,925 74. São Cristóvão e Nevis Países próximos da faixa do Brasil 0,765 75. Albânia 0,764 76. Líbano 0,763 77. México 0,762 78. Azerbaijão 0,759 79. Brasil 0,754 79. Granada 0,754 81. Bósnia e Herzegovina 0,750 82. Macedônia 0,748 83. Argélia 0,754 84. Armênia 0,743 184. Burundi Desenvolvimento humano ‘baixo’ 0,404 185. Burkina Faso 0,402 186. Chad 0,396 187. Níger 0,353 188. República Centro africana 0,352 U N ID A D E 1 20 Reconhecer e combater essa desigualdade é um desafio complexo e permanen- te para a sociedade brasileira. Observemos alguns países vizinhos; o Chile, por exemplo, ficou em 38º lugar, com IDH de 0,847; a Argentina, em 45º lugar (IDH 0,827); o Uruguai, em 54º lugar (IDH 0,795); e a Venezuela, em 71º lugar (IDH 0,767). Uma das principais recomendações das Nações Unidas, para o Brasil, é diminuir as desigualdades e garantir que ninguém seja deixado para trás nos processos de desenvolvimento. O objetivo de diminuir a desigualdade no Brasil está em consonância com os objetivos da nova Agenda 2030 para que sejam alcançados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Outro indicador utilizado para o acompanhamento das políticas educacio- nais é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), composto de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda, que demonstram ser mais adequadas para avaliar os municí- pios brasileiros. O índice possui variabilidade de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. Assim, o IDHM inclui três componentes: IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda. O IDHM no componente educação envolve: Subíndice Escolaridade da Po- pulação Adulta; IDHM – Subíndice Fluxo Escolar da População Jovem (Fre- quência Escolar); IDHM – Taxa de Alfabetização; Índice Ipardes de Desempenho Municipal (IPDM); Taxa de Aprovação no Ensino Fundamental e Ensino Médio; Taxa de Reprovação no Ensino Fundamental e Ensino Médio; Taxa de Abando- no no Ensino Fundamental e Ensino Médio, Taxa de Distorção Idade Série no Ensino Fundamental e Ensino Médio. U N IC ES U M A R 21 Figura 6 - Subíndices do IDHM, Cor, Brasil, 2010 - Fonte: Pnud (2017, p. 16). Figura 7 - Subíndices do IDHM Ajustado, Sexo, Brasil, 2010 / Fonte: Pnud (2017, p. 17). U N ID A D E 1 22 Figura 8 - Subíndices do IDHM, Situação de Domicílio, Brasil, 2010 / Fonte: Pnud (2017, p. 18). Em relação aos dados educacionais e à relação entre brancos e negros adultos, 62% da população branca, com mais de 18 anos, possui o fundamental completo, diante de 47% da população negra. 56,7% das mulheres, com mais de 18 anos, possuem o Ensino Fundamental completo, enquanto a população masculina registrara 53%. “No fluxo escolar da população jovem, as mulheres apresentam maior adequação idade-série, 0,730 diante de 0,657 dos homens (PNUD, 2017, p. 17)”. Quanto à escolaridade da população adulta, 60% da população urbana com mais de 18 anos possui o fundamental completo, ante 26,5% da população rural (PNUD, 2017, p. 18)”. Desse modo, o IDHM, para todas as localidades analisadas, mostra a disparidade existente entre grupos e evidencia melhores resultados para brancos, homens e população urbana. U N IC ES U M A R 23 2 OS AVANÇOS NO ACESSO À EDUCAÇÃO Ao olhar historicamente para os dados, surge uma pergunta intrigante: nós avan- çamos nas políticas educacionais? Sim, o Brasil melhorou a educação nacional em alguns aspectos. Essa é a conclusão de um grupo de pesquisadores que estudou e analisou dados sociais e econômicos do país nas últimas duas décadas. Eles utilizaram os dados com- paráveis, como os da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE. O resultado do levantamento, com dados do período entre 1995 e 2015 sobre educação, habitação, renda e posse de bens, inclusão financeira e digitali- zação virou livro: O Brasil mudou mais do que você pensa, de Lauro Gonzales, Maurício de Almeida Prado e Maiel Deak. Segundo o estudo, a melhora da educação é significativa para os demais fato- res, pois impacta o acesso ao sistema educacional, a permanência e os níveis de conclusão. O acesso à Educação Superior, no Brasil, foi um processo tardio em relação à maioria dos países latino-americanos (CUNHA, 1980). A porcentagem de jovens, entre 18 a 24 anos, a terem acesso à Educação Superior, no período 2000-2010, passou de 9,1% para 18,7% do total. Observe, no gráfico a seguir, os dados do período 1995-2015. U N ID A D E 1 24 Figura 9 - Acesso à Educação Superior de 1995-2015 / Fonte: Inep (1995; 2015). Figura 10 - Escolaridade média da população de 1995 a 2015 / Fonte: Inep (1995; 2015). O acesso à Educação Básica, de forma universalizada, também, é recente em nosso país. Sua universalização só foi alcançada no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, para o Ensino Fundamental. Em 1960, a taxa de atendimento da população em idade escolar (7 a 14 anos) era de 50%, e alcançou 80% apenas em 1973, período DOIS BRASIS Quatro indicadores da evolução do país e da populaçãoem duas décadas Brasileiros no Ensino superior (em número de pessoas) 1995 2015 Classes A e B Classes C, D e E 1,7 milhão 87000 4,4 milhões (2,6 vezes) 2,1 milhões (24 vezes) 3,9 5,4 8,2 8,4 9,7 11,6 ESCOLARIDADE MÉDIA (em número de anos) 1995 2015 Classes D e E Classe C Classes A e B Classes D e E Classe C Classes A e B U N IC ES U M A R 25 em que estagnou até voltar a crescer em 1984. No ano de 1990, impulsionado pelos compromissos da Conferência Mundial de Educação para Todos (realizada em Jomtien, Tailândia, em 1990), o Brasil finalmente incluiu uma parcela da população de baixa renda que ainda estava fora da escola. Assim, a taxa de participação escolar de alunos entre 7 e 14 anos subiu de 87%, em 1992, para 97%, em 2002, sendo que o crescimento atendeu, especialmente, o grupo de renda mais baixa (SIMÕES, 2003). O acesso à educação, que era restrito às classes A e B, passou a incluir milhões de crianças e jovens das classes C, D e E. Sabemos, com isso, que, no Brasil, tivemos uma melhora na distribuição da renda e da riqueza, que, de forma direta, determina o acesso e a permanência dos estudantes na escola. Figura 11 - Taxa de atendimento escolar de 6 a 14 anos por classe / Fonte: Gonzales et al. (2018). “ A primeira preliminar é não ignorar o que é a situação do Brasil em matéria socioeconômica. De há muito os educadores brasileiros correlacionam dialeticamente sociedade e educação. Sabemos todos que a distribuição de renda e da riqueza no país determina o acesso e a permanência dos estudantes na escola. Sabemos também que o aumento da permanência de estudantes na escola depende da realização do direito ao saber, sob um padrão de qualidade possível de ser incrementado. E sabemos também que não se deve exigir da escola o que não é dela, superando a concepção de uma educação salvífica e redentora. Problemas há na escola que não são dela, mas que estão nela e problemas há que são dela e obviamente podem também estar nela. Considerar este contexto socioeconômico des- Taxa de atendimento escolar de 6 a 14 anos por classe, em % Classe AB 100 96 92 88 84 80 Classe C Classe DE 1995 81 89 96 99 98 2003 2015 U N ID A D E 1 26 Para acompanhar as informações sobre a educação, segue alguns sítios para que você possa se aprofundar: INEP: http://www.inep.gov.br. MEC: http://www.mec.gov.br. IBGE: http://www.ibge.gov.br. Observatório do PNE: http://www.observatoriodopne.org.br . explorando Ideias critiva e analiticamente, vê-lo como suscetível de superação por meio de políticas sociais redistributivas e considerar a situação da educação escolar enquanto tal são princípios metodológicos indis- pensáveis para uma análise adequada das políticas educacionais. Afirmar a determinação socioeconômica sobre a educação não é negar as determinações internas a ela (CURY, 2002, p.169). A conscientização sobre a melhora do acesso e permanência à educação é im- portante se consideramos, em nossa análise, a questão histórica e pensarmos o que queremos para o futuro. A melhora da educação, em alguns aspectos, pode não ser a ideal, mas deve ser, sempre, lembrada, pois representa conquistas sociais importantes, conquistas essas que levaram anos de mobilização da sociedade em busca da garantia de um direito, do avanço pela igualdade e consequente avanço em termos de cidadania, especialmente, da parcela da população que foi excluída da participação dos bens sociais. Quando se acha que nada melhorou ou que tem sempre piorado, abrimos espaços para soluções pragmáticas, radicais e em curto espaço de tempo. Lembre-se, caro(a) aluno(a), de que “a ciência e a educação ampla desmentem o passado fictício” (STANLEY, 2018, p. 85). U N IC ES U M A R 27 3 O QUE É POLÍTICA Educacional? Caro(a) aluno(a), como observado até aqui, os indicadores norteiam as ações políticas, incluindo as da educação escolar. Por meio de seus resultados e análises, é possível verificar as práticas que deram certo e as que precisam ser melhoradas, renovadas e/ou excluídas. Dessa forma, chegamos às políticas para educação; mas, afinal, como se definem e como são as políticas educacionais? Para chegar a esse conceito, necessitamos, antes, compreender outros dois: Estado e governo. O Estado pode ser definido como o “[...] conjunto de instituições perma- nentes [...] que possibilitam a ação do governo” (HÖLFLING, 2001, p. 31). Nesse sentido, uma política pública pode ser classificada como de Estado ou de governo. A política é de Estado quando é permanente, ou seja, deve ser concretizada e garantida, independentemente, do governo e do presidente em exercício, porque é sustentada pela constituição. Uma política de governo, em contraponto, pode depender da alternância do governante. Cada governo estabelece seus programas e projetos que, por sua vez, podem ou não se transformar em políticas públicas. Necessitamos, assim, de uma conceituação de governo: refere-se ao grupo res- ponsável pelo planejamento e condução de determinadas políticas e do conjunto de programas e ações durante certo período. O governo é transitório, formado por grupos que se alternam no poder e “[...] assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período” (HÖLFLING, 2001, p. 31). U N ID A D E 1 28 Nesse sentido, é relevante considerar as divergências no conceito de Estado. Em uma perspectiva liberal, o Estado é compreendido como neutro e está acima dos interesses das classes sociais; seu objetivo é a realização do bem comum e o aperfeiçoamento do organismo social em seu conjunto. O foco é no indivíduo, na proteção da liberdade pessoal e na liberdade econômica individual. Em con- traponto, as teorias críticas, com base no materialismo histórico, negam a ideia de um Estado neutro, voltado ao bem comum. Os interesses do Estado apresentam- -se como interesses universais, de todo o corpo social, apenas no nível aparente. “ Nesse sentido, o termo “política” se refere às escolhas, às decisões tomadas por uma determinada autoridade política, decisões estas que conformam “o que fazer” diante de um determinado problema, necessidades ou demandas sociais, podendo ter sido, ou não, fruto de um processo político participativo (RUA, 2015, p. 3). As políticas públicas, também, podem ser definidas como conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos (nacionais, estaduais ou municipais), com o envolvimento e a participação direta ou indireta de grupos sociais. Os programas ou ações podem partir do governo, dos grupos sociais ou ambos, de forma conjunta. Assim, a política pode ser compreendida como resultante da correlação de forças de distintos projetos; ela expressa diversas relações de poder e de conflitos, além disso, destina à resolução, de forma pacífica, dos conflitos que envolvem os bens públicos. A política é um meio; o governo, os indivíduos, os grupos sociais e as organizações estabelecem os objetivos, que mudam conforme o momento social e o projeto para a nação em determinado período. Assim, a política é o que possibilita o alcance desses objetivos. E a educação como política pública? As políticas públicas são autuadas: “ [...] pelo governo quanto à sua implementação e manutenção, mas emergem da sociedade, dos problemas ou demandas que podem ser econômicos, políticos ou de bem-estar. As políticas públicas são o resultado de uma interação complexa entre o Estado e a sociedade. U N IC ES U M A R 29 Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele através do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão resultados ou as mudanças de- sejadas no mundo real (SOUZA, 2003, p. 13). A educação, no campo das políticas públicas, é caracterizada como uma política social. “ Políticas sociais: conjunto de propostas de intervenção sobre proble- mas relacionados com o desenvolvimento social de um determinado país, estado ou município, incluindo as políticasde educação, saúde, habitação, transporte, cultura, esporte e lazer (BRASIL, 2007 p. 243). As políticas sociais, dentre elas a educacional, são uma resposta do governo e do Estado diante das condições de acesso, permanência e qualidade da educação nacional. A política educacional deve garantir os princípios republicanos esta- belecidos no Século XX para uma sociedade democrática: laicidade, gratuidade, igualdade de oportunidades e de qualidade. “ E políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento so- cioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimen- tos populares do Século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais (HÖLFLING, 2001, p. 31). Diante desse conceito, podemos dizer que uma política é boa ou ruim para a educação? Sim, a partir de estudo, pesquisa e análise das políticas. Mesmo depois de décadas de implementação, uma política não foi capaz de garantir o direito constitucional a qual se propôs, ela necessita ser reformulada ou substituída. U N ID A D E 1 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), na Unidade 1, o objetivo foi tratar conceitos básicos da dis- ciplina, a partir das informações estatísticas, na educação e sua interpretação. Os indicadores nos proporcionam um referencial sobre a situação das políticas educacionais e nos despertam para o acompanhamento e avaliação das políticas, assim como a importância da nossa participação como cidadãos e educadores na proposição e avaliação de políticas educacionais no Brasil. O Inep, como autar- quia federal vinculada ao MEC, possibilita-nos instrumentos para reivindicação dos direitos que devem ser garantidos pelo Estado. Nas últimas décadas, a educação apresentou avanços na universalização do En- sino Fundamental e no acesso às demais etapas da educação. Sabemos, também, que esse acesso não acompanhou a qualidade da educação nacional, mas reconhecer os avanços é uma condição para discutirmos e pensarmos onde queremos chegar. A Constituição Federal de 1988 é a legislação fundante e fundamental da política educacional. Ela enuncia a educação como direito de todos, dever do Estado e da família. A educação no Art. 205 representa mecanismo de desenvol- vimento, tanto do indivíduo como da própria sociedade, em relação à cidadania e ao trabalho. Garantir o seu cumprimento é, também, uma função de todos nós. Esteja atento(a), caro(a) aluno(a), às disputas políticas e à influência do mer- cado sobre a educação. Elas são sedutoras, usam de estratégias de convencimento e tratam a desigualdade social como natural. Em geral, o “mercado educacional”, com uma visão restrita da educação, propõe uma formação precária, aligeirada e instrumental. Por outro lado, entendemos que a educação deve ter como objetivo a formação integral do ser humano, que permita o conhecimento e desenvolvi- mento de suas potencialidades, ancoradas nos conhecimentos, historicamente, acumulados pela humanidade. Todos os indivíduos devem ter a oportunidade educacional de tornarem-se conscientes e críticos do mundo em que vivem. 31 na prática 1. O objetivo do Censo Escolar é levantar informações que permitam a definição e o cálculo de indicadores educacionais, diagnósticos e análises da realidade do sistema educacional brasileiro. Explique como o Censo Escolar é realizado, sua periodicidade e o sistema de coleta. 2. Resumo Técnico: Censo da Educação Básica 2018, obra indicada como leitura comple- mentar, apresenta os princípios constantes adotados para a elaboração do Censo Escolar. Com base no material citado, apresente esses princípios. 3. Os dados oferecidos pelo Censo Escolar nos permitem um mapeamento da Educa- ção Básica no país. Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir: I - No Brasil, o Censo Escolar coleta informações de todas as escolas de ensino regular, do ensino infantil ao Ensino Médio. II - O Censo contribui na elaboração de diversos programas educacionais, como o Programa Nacional do Livro Didático. III - Os resultados obtidos no Censo Escolar, juntamente com os dados do SAEB, são utilizados para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II está correta. e) I, II e III estão corretas. 32 na prática 4. Observe o gráfico a seguir: Fonte: Cruz e Monteiro (2018, p. 15). No Brasil, os problemas com a educação possuem várias vertentes: evasão, reprovação, qualidade, recursos, entre outros. Ao analisar o gráfico do número de crianças e jovens fora da escola, descreva quais problemas da educação po- dem ser identificados. 5. As políticas públicas podem ser propostas pelo governo ou pela população, por meio de grupos sociais. As políticas educacionais, conforme estudamos, possuem características próprias. Assim, analise as alternativas e assinale a correta: a) As políticas educacionais podem se traduzir por programas de ação governa- mental. b) As políticas educacionais são classificadas dentro das políticas econômicas. c) A política educacional é direcionada às instituições públicas, apenas. d) As políticas públicas educacionais possuem ações, fortemente, voltadas à em- pregabilidade. e) A educação é uma política direcionada à população de baixa renda. 5.000.000 4.000.000 3.000.000 2005 2014 2016 2.000.000 1.000.000 5.042.380 2.777.528 2.486.245 Redução pela metade da população fora da escola 2.199.985 1.002.111 1.840.284 1.713.569 459.490 604.469 1.543.713 429.592 512.940 Crianças e jovens fora da escola 2,5 milhões Jovens de 15 a 17 anos Crianças e Jovens de 6 a 14 anos Crianças de 4 e 5 anos Número de crianças e jovens fora da escola Por faixa etária - Brasil - 2005, 2014 e 2015 33 aprimore-se Caro(a) aluno(a), que tal conhecer um pouco sobre o Censo Escolar, que, certamente, fará parte de sua vida profissional ao adentrar o campo da educação? Para tanto, veja a seguir um excerto do texto de Pestana (2010), que caracteriza o Censo Escolar como: Pesquisa de âmbito nacional que coleta dados sobre escolas, turmas, docentes e alunos, de acordo com as etapas e modalidades da Educação Básica (Educação In- fantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Especial e Educação de Jovens e Adultos), e se constitui na principal fonte de dados primários para o sistema nacional de estatísticas educacionais, bem como para sistemas internacionais de estatísticas comparadas. O principal objetivo do Censo Escolar é levantar informações que permi- tam a definição e o cálculo de indicadores educacionais, a elaboração de panoramas, diagnósticos e análises da realidade do sistema educacional brasileiro, de modo a subsidiar o planejamento, a definição, a implementação e o monitoramento de políti- cas públicas na área da Educação Básica. Trata-se de uma pesquisa declaratória e com base em registros administrativos escolares, que é realizada anualmente pelo Institu- to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, em parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação e com a colaboração dos es- tabelecimentos de ensino públicos e privados. A coleta de dados é realizada durante os meses de junho, julho e agosto, por meio de sistema eletrônico denominado Edu- cacenso, disponível na rede mundial de computadores (web). A data de referência da pesquisa é a última quarta-feira do mês de maio, denominada Dia Nacional do Censo Escolar. A pesquisa é composta por quatro formulários – cadastro de escola, cadastro de turma, cadastro de docente e cadastro de aluno – associados e interrelacionados entre si. O formulário cadastro da escola contém informações de nome, endereço,dependência administrativa, localização, regulamentação, recursos humanos, infraes- trutura e equipamentos disponíveis, etapas e modalidades de ensino ofertadas pela escola; o formulário cadastro de turma traz dados sobre etapa e modalidade de ensi- no, disciplinas ofertadas, tipo de atendimento, horário de funcionamento da turma; o formulário cadastro de docente possui informações de nome do docente, data e local de nascimento, nome da mãe, sexo, raça ou cor, escolaridade, área de formação ini- cial e continuada, bem como dados sobre o exercício da docência na escola, tais como turmas e disciplinas em que atua; o formulário cadastro de aluno apresenta dados de 34 aprimore-se identificação do aluno, tais como nome, data e local de nascimento, filiação, sexo, in- formações sobre raça/cor, tipo de deficiência, quando aplicável, e indicação da etapa de ensino, modalidade de ensino e turma em que está matriculado. O Censo Escolar ainda contempla informações de rendimento (aprovação e reprovação) e movimen- to escolar (abandono e transferência) de cada aluno. Tais dados são recolhidos no início do ano letivo subsequente ao ano de referência do censo escolar, também por meio do sistema Educacenso, em módulo específico denominado Situação do Aluno. Com base nos dados do Censo Escolar, é possível traçar perfis de escolas, de docen- tes, de alunos, obter quantidade de matrículas e de funções docentes, de abandono escolar, de aprovação, de reprovação, calcular taxas de rendimento e realizar estu- dos e pesquisas diversos sobre a educação brasileira. A disseminação dos dados do Censo Escolar é realizada pelo Inep, por meio da publicação de sinopses estatísticas, de arquivos com os microdados da pesquisa e da oferta de sistemas eletrônicos de consulta de dados. Os dados do Censo Escolar servem de referência para a operação de programas de distribuição de recursos financeiros e materiais geridos pela União, estados e municípios. As matrículas apuradas pelo Censo Escolar embasam o cálculo dos coeficientes de distribuição dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvi- mento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Fonte: Pestana (2010). 35 eu recomendo! Resumo Técnico: Censo da Educação Básica 2018 Autor: Ministério da Educação. Editora: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinopse: a Diretoria de Estatísticas Educacionais (DEED) disponi- biliza à sociedade o Resumo Técnico do Censo Escolar da Edu- cação Básica de 2018. Essa publicação compõe o conjunto de instrumentos de divulgação dos resultados da pesquisa e, assim como os demais instrumentos, foi elaborada para fazer cumprir a finalidade institucional de disse- minar as estatísticas, os indicadores e os resultados das avaliações, dos estudos, da documentação e dos demais produtos de seus sistemas de informação. livro O Inep possui um Plano de Dados Abertos (PDA) com objetivo de disponibilizar informações estatísticas que ajudam a construir e a interpretar a educação. Web: http://inep.gov.br/web/guest/dados. conecte-se 2 A EDUCAÇÃO NA LEGISLAÇÃO: CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988 e LDB de 1996 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Reforma da Educação a par- tir de 1990 • a Educação na Constituição Federal de 1988 • a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer o processo de reforma da educação iniciada na década de 1990, a fim de compreender as principais legislações educacionais • estudar os preceitos constitucionais da educação nacional, para conhecer os direitos e deveres do Estado, da família e da escola quanto a educação • analisar a LDBEN, seus avanços e retrocessos para a política educacional, com o intuito de compreender a atual política educacional. PROFESSORA DRA. Mara Cecília Rafael Lopes INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta segunda unidade, abordaremos o processo de Re- forma da Educação iniciado na década de 90, marcado pela inserção do Brasil nas práticas do pensamento neoliberal: a atual legislação da Educa- ção Básica e da Educação Superior, particularmente, no que tange o apor- te legal da Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (BRASIL, 1996, on-line). Para tanto, traçamos paralelos que nos instigam a refletir acerca dos contextos legais e sua con- solidação nas políticas educacionais. A Constituição Federal de 1988 é um marco no processo de redemo- cratização do nosso país. Conhecê-la, interpretá-la e utilizá-la em sua prá- tica docente é um ato político. A Constituição Federal expressa um projeto de sociedade democrática em que a educação é tida como um dever do Estado e um direito de todo cidadão. As políticas educacionais materializa-se, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996 (BRASIL, 1996a, on-line), desdobraram-se nos demais ordenamentos legais. Mais importante do que conhecer cada Artigo da legislação, é entendê-la no contexto das reformas educacionais, na sua relação com as demais legislações referentes à educação e analisá-la no quadro mais amplo das mudanças econômicas, políticas, culturais e globais. Esperamos que, com essa unidade, você possa discutir conosco temas fundamentais para a educação e sua ação docente. O corpo teórico apre- sentado precisa ser estudado e apropriado para que iniciemos um debate que foge dos “achismos” presentes na educação. Lembremos que esta é uma leitura inicial, entretanto, atente-se aos materiais indicados na unidade e sinta-se à vontade para buscar outras fontes que possam sanar as dúvidas durante os momentos de estudo. U N ID A D E 2 38 1 REFORMA DA EDUCAÇÃO a Partir de 1990 As reformas na área educacional ganharam força, a partir da crise do estado de bem-estar, quando ocorreu um reordenamento da economia e das políticas so- ciais, sustentado por uma paulatina transferência das responsabilidades estatais para a comunidade e organizações não governamentais. No início de 1970, a crise econômica atingiu uma escala global. Uma das consequências foi a responsabilização do Estado pela crise, o que fez com que a política econômica incorporasse a teoria monetarista neoliberal como tentativa de manter a estabilidade e retornar à taxa de crescimento. Essa mesma teoria passa a ser adotada como fundamento para a atuação do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), que centralizaram as ações de crédito interna- cional, influenciando as políticas internas dos países devedores (SOARES, 1996). Nesse sentido, as ideias neoliberais compreendem que todas as políticas e processos que apresentam obstáculos para a economia e o livre mercado devem ser reduzidas ou eliminadas. Os argumentos do modelo neoliberal sustentam a ideia de que a intervenção do Estado não favorece a economia e a produtividade: além de provocar uma crise fiscal do Estado, gera, também, revolta nos contri- buintes; como consequência, desestimula o capital a investir. O ideário neoliberal tem como premissas as liberdades individuais aliadas à diminuição da função do Estado. Nesse sentido, o indivíduo deixa de ser um ele- mento social sob a proteção do Estado “cidadão” e passa a ser responsável por suas U N IC ES U M A R 39 capacidades e responsabilidades individuais, visto como “consumidor”. Conforme Boneti (2013, p. 278), “o ser cidadão não mais significa ter direitos, mas possuir um conjunto de habilidades e/ou capital que o faz ser, nunca de responsabilidade do Estado, mas do indivíduo”. Nesse momento, o Estado, junto da sociedade civil e o mercado, são com- preendidos como parceiros no processo de desenvolvimento. As políticas pú- blicas, especialmente, as educacionais, são tidas como aquelas que são respon- sáveis por preparar as habilidades individuais. Na educação, portanto, o foco é direcionado às habilidades, competências e condições do ambiente produtivo.A estrutura de funcionamento da reforma do Estado e da educação caracteriza-se pela diminuição das responsabilidades sociais e transferência dessas responsa- bilidades ao indivíduo. Nesse processo, as políticas visam racionalizar recursos; diminuir as políticas sociais, saúde e educação; desregulamentar a economia; privatizar e abrir mercados, conforme as diretrizes neoliberais. Com a Reforma do Estado, em 1995, a administração pública gerencial passa a considerar o cidadão cliente dos seus serviços. Para isso, exige formas flexíveis de gestão e de descentralização. Na busca pela qualidade e efetividade, instaura um modelo de avaliação sistemática dos serviços prestados, como as avaliações nacionais, no caso da educação. O desenvolvimento deixa de ser um projeto conduzido apenas pelo Esta- do-nação e passa a ter como base o mercado mundial, conforme as orienta- ções do Consenso de Washington, formulado em 1989, que estabelece seus dez mandamentos: “disciplina fiscal, prioridades na despesa pública, reforma fiscal, liberalização financeira, taxas de câmbio, liberalização do comércio, investimento estrangeiro direto, privatização, desregulamentação e direitos de propriedade” (TEODORO, 2008, p. 25). Em relação ao Consenso de Washington: “ Trata-se dos resultados dos encaminhamentos tratados nas reuniões de economistas do FMI, do Bird e do Tesouro dos Estados Unidos realizadas em Washington D.C. no início dos anos 1990. Foram pro- venientes dessas reuniões recomendações dos países desenvolvidos, aos países em desenvolvimento, para que estes adotassem políticas de abertura de seus mercados (SANDRONI, 1999, p. 123). O Brasil, nesse contexto, implementa políticas de ajuste para se inserir no mundo globalizado. O discurso de modernização coloca em evidência a própria educação e U N ID A D E 2 40 a necessidade de reformas, o progresso tecnológico e científico, assim como a otimi- zação dos processos produtivos, aliados à implementação de novas formas de gestão do trabalho. As ideias neoliberais foram incorporadas no Brasil no final da década de 1980 e início de 1990, mas tornaram-se evidentes no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Houve a instauração da política neoliberal e a participação das agências financiadoras do capital internacional, os organismos multilaterais na direção das políticas educacionais, os quais colocavam a educação como estra- tégia para a inclusão do país na agenda global, tornando-o competitivo. Nesse sentido, o Neoliberalismo é uma política liberal readequada ao contexto histórico da globalização (OLIVEIRA, 2010; SHIROMA et al., 2011). As ideias que deram suporte às políticas, em cada período, são resumidas no qua- dro a seguir Lembre-se, caro(a) aluno(a): as diferenças e semelhanças entre elas foram determinadas pelas circunstâncias históricas em que surgiram, em contextos diversos. ESTADO LIBERAL ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ESTADO NEOLIBERAL Não-intervencionista Intervencionista Não-intervencionista O liberalismo é um conjunto de ideias que nasceu na Sociedade Moderna. Consolidou- -se em 1668, na Ingla- terra, com a Revolução Gloriosa. No restante da Europa, deu-se só após a Revolução Fran- cesa, em 1789. Nos Estados Unidos, porém, ocorreu com a luta pela Independência, em 1776 (CHAUÍ, 2000). Surgiu após a crise de 1929, como tentativa de recuperar as economias nacionais, reverter o quadro de desemprego e aumentar a capacidade de consumo da população. Surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial, como uma reação teórica e política ao Estado Intervencionista Key- nesiano. Com a crise do petróleo de 1973 e inflação, o neolibera- lismo gradativamente volta à cena. U N IC ES U M A R 41 ESTADO LIBERAL ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ESTADO NEOLIBERAL Não-intervencionista Intervencionista Não-intervencionista O principal teórico e pai da teoria do liberalismo econômico foi Adam Smith, com A Riqueza das Nações. Proposto por John My- nard Keynes, em A Teoria Geral do Emprego. Principais teóricos: Friedrich von Hayek (austríaco) e Milton Friedman, da escola de Chicago. Oposição ao Estado Absolutista. Oposição ao Liberalismo. Oposição ao Estado de Bem-Estar Social. Acordo direto entre em- pregador e empregado. Regula as relações co- merciais e de trabalho. Flexibilização das rela- ções trabalhistas. O Estado defende o direito à propriedade e o livre comércio. A propriedade privada é vista como um direito natural. o Estado como provedor de direitos sociais. O Estado deve garan- tir apenas os direitos “naturais” (direitos de propriedade, de livre comércio, de livre pro- dução). A desigualdade é positiva, pois é o mo- tor da concorrência. Defende a via demo- crática, concretizada pelo voto. O Estado deveria funcionar como representante dos interesses coleti- vos. As leis represen- tariam um contrato, no qual o coletivo so- cial negociaria, como poderia firmar, um tipo de governo volta- do à manutenção da liberdade e da igualda- de entre os indivíduos. Defende a garantia pelo Estado das res- ponsabilidades com os serviços básicos sociais: educação, saúde, sanea- mento básico, habita- ção, segurança pública, questão agrária, entre outros, uma vez que o custo desses serviços é pago mediante encargos sociais – impostos (publi- cistas, estadistas). O objetivo da política econômica é defender a moeda, asseguran- do a estabilidade dos preços e garantindo o cumprimento dos contratos e da livre concorrência (desregu- lamentação em geral e do mercado, em parti- cular. Estado máximo para o mercado). U N ID A D E 2 42 ESTADO LIBERAL ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ESTADO NEOLIBERAL Não-intervencionista Intervencionista Não-intervencionista As ideias liberais exal- tam a educação como forma de resolver o problema do traba- lhador, como possibi- lidade do exercício da cidadania. Defende-se a oferta privada da educação. O Estado deve ser responsável e garantir a educação. O indivíduo é visto como empreendedor dele mesmo. A defesa da livre concorrência e da autorregulação do mercado traz como foco a educação priva- da. Estado mínimo para as políticas sociais. A ascensão social é de responsabilidade de cada um: as condições estão postas para to- dos, o insucesso é fru- to da incompetência. O Estado não poderia interferir na economia, o próprio mercado dispunha de mecanis- mos de regulação, a chamada “mão invisí- vel”. A liberdade econô- mica foi sintetizada na frase “laissez faire, laissez passer”, que em francês significa “deixe fazer, deixe passar”. O governo desempenha um papel fundamental no enfrentamento da pobreza, do desemprego e da desigualdade de renda, por meio da ofer- ta ou subsídio de bens de serviços à população. Defende a não existên- cia de políticas sociais. Descaracteriza qual- quer tipo de ação cole- tiva, em particular as de natureza sindical, que são vistas como “corpo- rativistas” e contrárias ao interesse geral. Quadro 1 - Estado Liberal, Estado de Bem-Estar Social e Estado Neoliberal / Fonte: a autora. U N IC ES U M A R 43 Conforme o conteúdo apresentado, você concorda com a proposta neoliberal de que a educação deverá ter o objetivo de atender ao mercado de trabalho e formar o trabalha- dor de forma a instrumentalizá-lo para atuar em sua função, e não para adquirir todo o conhecimento construído historicamente? pensando juntos As políticas neoliberais, para a educação, implementadas no Brasil, mudaram o que anteriormente era compreendido como objetivo ou função social da edu- cação, originada na escola republicana francesa, voltada à formação do cidadão, que destaca o saber não somente pelo seu valor profissional, mas por seu valor social, cultural e político. A perspectiva neoliberal, para a educação, tem o foco na formação de “capital humano”, ou seja, de conhecimentos apreendidos pelos indivíduos desde que sejam valorizados economicamente– uma escola que cada vez mais se insere na ordem competitiva de uma economia globalizada. “Na nova ordem educativa que se delineia, o sistema educativo está a serviço da competiti- vidade econômica, está estruturado como um mercado deve ser gerido ao modo das empresas” (LAVAL, 2004, p. 20). Nesse sentido, entendemos que a educação deve preocupar-se com a forma- ção para o mercado de trabalho, mas não atuar apenas por esse objetivo. A edu- cação possui, como função social, o desenvolvimento do indivíduo nas diversas áreas, que permita o desabrochar de suas potencialidades; uma educação que forme para o exercício da cidadania, tendo em vista sujeitos críticos, autônomos e emancipados, que possam ler a sociedade e propor soluções para seus problemas. “ [...] a função social da educação seria de “ordenar e sistematizar as relações homem-meio para criar as condições ótimas de desenvol- vimento das novas gerações [...]”. Portanto, a finalidade da educa- ção e o próprio homem, quer dizer, a sua promoção: “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela, transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e colaboração entre os homens” (SAVIANI, 1992, p. 52). U N ID A D E 2 44 A reforma educacional que se deu, partir da década de 1990, tem uma de suas raízes na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien – Tailândia, em 1990, organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial (BM). Participaram 155 países, que assumiram o compromisso de implementar as diretrizes estabelecidas na conferência. O Brasil, ao assumir esse compromisso, elaborou o Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003). No processo do início da reforma, dentre os documentos que sinalizam a implementação de mudanças, podemos citar: ■ Plano Decenal de Educação para Todos - PDE (1993-2003). ■ Sistema de Avaliação da Educação Básica em 1995 – Saeb. ■ Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 - LDBEN (lei n. 9.394). ■ Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental em 1996 – Fundef. ■ Relatório da Unesco, intitulado: “Educação: um tesouro a descobrir”, sob a organização de Jacques Delors e publicado, no Brasil, em parceria da Unesco com o MEC, em 1998. ■ Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998 – PCN. ■ Diretrizes Nacionais do Ensino Médio de 1998 – DCNEM. ■ Plano Nacional de Educação (2001-2010) – PNE. ■ Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica de 2006 – Fundeb. ■ Plano de Desenvolvimento da Educação de 2007 – PDE. ■ Plano de Ações Articuladas de 2008 – PAR. U N IC ES U M A R 45 Os documentos citados são essenciais para compreender esse processo de refor- ma, mas o material relevante não se limita a eles. Muitos documentos, legislações, relatórios e pareceres são produzidos até o atual momento. Isso nos permite dizer que vivemos, ainda, um processo de reforma da educação. A reforma, ainda em curso, das políticas educacionais teve suas mudanças propostas pelos organismos internacionais para a educação na América Latina, com base nas políticas econômicas neoliberais e com uma forte crítica às políti- cas sociais. O discurso participativo e de descentralização produziu significados polissêmicos dos termos e o esvaziamento de seus significados políticos. A des- centralização ocorreu de forma “centralizadora do controle pedagógico (em nível curricular, de avaliação do sistema e de formação docente)” e descentralizadora “dos mecanismos de financiamento e gestão do sistema” (GENTILI, 1998, p. 25). A burocratização da rotina da escola e a formalização da participação ocorre- ram nas instâncias colegiadas, além da ênfase na atividade administrativa como estratégia de racionalização de recursos; tais aspectos provocaram mudanças na gestão da escola, que prioriza a figura do gestor, e na formação de professores. O Estado, nesse processo de reforma e desresponsabilização para com a Educação, em especial quanto aos recursos, passa mais reponsabilidades para as famílias, para a sociedade e às escolas (KRAWCZYK; VIEIRA, 2008). Como conceber alguns aspectos da reforma educacional se a Constituição Fede- ral de 1988 versa sobre a educação como um direito do cidadão e dever do Estado? Vamos, assim, conhecer melhor os artigos que tratam da educação em nossa lei maior. U N ID A D E 2 46 2 A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO Federal de 1988 O Estado de direito democrático inclui os princípios da participação e soberania popular. Por meio das eleições, exige o voto de todos como forma de garantir a soberania da população. Nesse sentido, participamos da vida política do país por meio de representantes eleitos, mas, também, podemos atuar de forma direta. Isso envolve participar do controle social da própria administração pública; inclui fiscalização, monitoramento e controle das ações dos administradores, como os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (CACS). Um exemplo é o Conselho do Fundo da Educação Básica. Quanto mais coletivas e participativas são as decisões, mais democráticas elas são; portanto, possuem maior possibilidade de garantir os direitos fundamentais. Veja os outros direitos fundamentais prescritos na Constituição Federal de 1988: Constituição Federal de 1988 Art. 3º: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I. construir uma sociedade livre, justa e solidária; II. garantir o desenvolvimento nacional; III. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV. promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988). U N IC ES U M A R 47 É possível efetivar uma sociedade livre, justa e solidária? Dentre as inúmeras possibilida- des de resposta, podemos pensar o quanto a educação de qualidade é condição para o alcance de tais objetivos. pensando juntos Os direitos fundamentais presentes, no artigo citado, já constavam na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, da qual o Brasil é signatário. Constituição Federal de 1988 Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). O Art. 205, além de tratar a educação como direito de todos, afirma ser, também, um dever do Estado e da família. Isso significa que eles têm o dever de propor- cionar condições reais para que todos possam ter acesso à escola. Cada instância, porém, possui responsabilidades específicas. Estado Dever de ofertar a educação a todos e de propor políti- cas públicas que efetivem os direitos previstos na CF/88. Governo Responsabilidade em todos os níveis na implementação das políticas públicas de educação. Família Responsabilidade no encaminhamento das crianças e adolescentes às escolas e no acompanhamento de seus estudos. Ministério Público e da Defensoria Pública Responsabilidade na função de provocar o Poder Judi- ciário em face da omissão do Estado e das famílias. Educandos Responsabilidade na participação dos processos de aprendizagem desenvolvidos pela escola. Quadro 2 - Constituição Federal de 1988 – Art. 205 / Fonte: a autora. U N ID A D E 2 48 O que ocorre, porém, se não houver vagas para os alunos? A Constituição Federal atrelou a função do Ministério Público à defesa do regime democrático e ao exercício dos direitos políticos. Dessa forma, pode-se recorrer ao Ministério Público, que tem como uma das suas funções defender a ordem jurídica do regi- me democrático e, assim, os interesses coletivos e individuais. O Ministério Públi- co poderá entrar com uma ação civil públicaou com um mandado de segurança contra o ente federativo (União, Estado, Distrito Federal ou Município), quando direitos individuais, como a educação, estão indisponíveis, exigindo esse direito. E quando a família se recusa a matricular o filho na escola? No Brasil, a educação é, constitucionalmente, uma responsabilidade compartilhada entre famí- lia, escola, sociedade e Estado. Se o aluno estiver em idade para frequentar o ensino obrigatório (de 4 aos 17 anos de idade) e não estiver matriculado, a família deve responder por abandono intelectual, conforme Art. 246 do Código Penal (BRASIL, 1940, on-line). O período de escolaridade obrigatória, conforme a Emenda Cons- titucional n. 59/09, é da pré-escola, aos quatro anos, até os catorze anos. O Art. 205 é também reforçado pelo Art. 6º como primeiro dos direitos sociais. Constituição Federal de 1988 Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988). O direito à educação é um direito público, juridicamente, protegido e é preciso que ele seja garantido de forma quantitativa e qualitativa. Se é um direito de todos, ninguém pode ficar fora da escola, ninguém pode ser excluído, e o Estado deve dar condições para isso. Veja, a seguir, alguns pontos fundamentais da Constituição Federal quanto à educação. U N IC ES U M A R 49 Art. 205 Direito à educação. Objetivos da edu- cação. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colabora- ção da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206 Acesso e perma- nência. Liberdade de aprender e ensinar. Pluralismo de Ideias. Coexistência de instituições públi- cas e privadas. Valorização dos profissionais da educação. Gestão democrá- tica do ensino público. O ensino será ministrado com base nos seguintes prin- cípios: I- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. II- Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. III- Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de en- sino. IV- Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. V- Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com in- gresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democráti- ca do ensino público, na forma da lei. VII - Garantia de padrão de qualidade. VIII - Piso salarial profissional nacional para os profis- sionais da educação escolar pública, nos termos da lei federal. Art. 207 Educação Superior – Universidade. Sobre as universidades que dispõem de autonomia di- dático-científica, administrativa, de gestão financeira e patrimonial, e devem obedecer ao princípio de indisso- ciabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. U N ID A D E 2 50 Art. 208 Educação Básica. Educação especial. Ensino noturno. Programas suple- mentares. Recenseamento. Expressa o dever do Estado com a educação efetivado conforme a garantia de: I- Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria. II- Progressiva universalização do Ensino Médio gratui- to. III- Atendimento educacional especializado aos porta- dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. IV- Educação Infantil, em creche e pré-escola, às crian- ças de até 5 (cinco) anos de idade. V- Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. VI- Oferta de ensino noturno regular, adequado às con- dições do educando. VII- atendimento ao educando, em todas as etapas da Educação Básica, por meio de programas suplementa- res de material didático-escolar, transporte, alimenta- ção e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Po- der Público, ou sua oferta irregular, importa responsa- bilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- dos no Ensino Fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. Art. 209 Ensino privado. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguin- tes condições: I - Cumprimento das normas gerais da educação na- cional. II - Autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Pú- blico. U N IC ES U M A R 51 Art. 210 Conteúdos mínimos. Ensino religioso Facultativo. Educação Indígena. Serão fixados conteúdos mínimos para o Ensino Fun- damental, de maneira a assegurar formação básica co- mum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacio- nais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, consti- tuirá disciplina dos horários normais das escolas públi- cas de Ensino Fundamental. § 2º O Ensino Fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- genas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Art. 211 Regime de cola- boração. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. Art. 212 Recursos para a educação. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de im- postos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Art. 213 Escolas comunitá- rias, confessionais ou filantrópicas. Os recursos públicos serão destinados às escolas públi- cas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, con- fessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - Comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação. II - Assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas ativi- dades. U N ID A D E 2 52 Art. 214 Plano Nacional de Educação. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de du- ração decenal, com o objetivo de articular o sistema na- cional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implemen- tação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalida- des por meio de ações integradas dos poderes públi- cos das diferentes esferas federativas que conduzam a I - Erradicação do analfabetismo. II - Universalização do atendimento escolar. III - Melhoria da qualidade do ensino. IV - Formação para o trabalho. V - Promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI - Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto in- terno bruto. Quadro 3 - Constituição Federal de 1988 - Arts.205 a 214 / Fonte: Brasil (1988). Dentre vários aspectos sobre a Constituição Federal (1988), convidamos você, caro(a) aluno(a), a discutir conosco três questões fundantes e essenciais para a educação: o direito à educação escolar pública, gratuita, laica e de qualidade. A garantia desses direitos é condição necessária para a formação da cidadania em uma sociedade democrática. Para tanto, retomaremos um marco na história da educação nacional, nos anos trinta do século XX, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), que trouxe a proposta de criação de um sistema educativo pautado em uma educação laica, obrigatória e gratuita. “ A laicidade, que coloca o ambiente escolar acima de crenças e dis- putas religiosas,