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DIMENSÕES DA PSICOPEDAGOGIA “A psicopedagogia tem como propósito abrir espaços objetivos e subjetivos de autoria de pensamento; fazer pensável as situações, o que não é fácil, já que o pensamento não é somente produção cognitiva, mas é um entrelaçamento inteligência-desejo, dramatizado, representado, mostrado e produzido em um corpo. Por isso, muito mais importante que os conteúdos pensados é o espaço que possibilita fazer pensável um determinado conteúdo. Para esse lugar focaremos nossa intervenção, nosso olhar”. (FERNÁNDEZ, 2001). A formação do psicopedagogo no Brasil é feita em cursos de graduação e pós-graduação, lato sensu. Desde a década de 1970, iniciaram se os cursos de lato senso em psicopedagogia, nos quais são recebidos alunos com diferentes cursos de graduação, como pedagogia, fonoaudiologia, psicologia e professores licenciados de um modo geral. Esses cursos oferecem uma formação em psicopedagogia que se dá, comumente, no espaço de dois anos. Posteriormente, desde o final da década de 1990, começam a surgir os cursos de graduação em psicopedagogia, principalmente na região sul do Brasil. Hoje, estendem-se em diferentes regiões do Brasil, sobretudo na cidade de São Paulo – SP. Com relação ao campo da psicopedagogia no Brasil, pode-se dizer que é uma área em maturação, bem diferente, portanto, da- quele existente na Argentina, onde já há, desde algumas décadas, um espaço legitimado de atuação. Na França, a psicopedagogia ficou atrelada à construção de Mery (1985), que a definiu como uma Pedagogia Curativa. Considero a visão de Mery (1985) como um modo interessante de abordar a questão dos problemas de aprendizagem, compreendendo-os com base na dimensão inconsciente, embora tenha ressalvas quanto à sua visão do trabalho psicopedagógico, como da ordem da readaptação. Levar em conta a questão da readaptação poderia nos confrontar com as questões que temos enfatizado pelas quais, readaptar a criança a uma situação de aprendizagem como a que é proposta pela escola, estaria, em muitos casos, reforçando uma das causas presentes em seu adoeci- mento, que também poderá estar referido à própria instituição na qual está aprende, ou muitas vezes, deixa de aprender por conta de algumas “situações de barbárie” que a instituição poderá ter em sua proposta de ensino e pelo modo de relações que aí se estabelecem. Vejo a Psicopedagogia, como uma área de conhecimento que não pode ser tomada com base na junção da Pedagogia e da Psicologia, mas, sim, como uma área que tem seu próprio escopo, sua própria especificidade, que vai além da junção de dois campos do conhecimento. No desvelar de concepções da Psicopedagogia, podemos notar um movimento que toma a atividade de aprender como uma tarefa que está muito ligada à ação escolar, como o desenvolvimento de funções e habilidades cognitivas, até chegar à concepção que propõe levar o sujeito da Psicopedagogia a uma apropriação de seu saber, que também está presente, em meu modo de compreensão, nesta área de conhecimento. Algumas dimensões da psicopedagogia O olhar pedagógico e tudo aquilo que o sustenta é o olhar psicopedagógico. Não há como negar a especificidade de cada um, como também não se pode deixar de reconhecer a importância de cada área de atuação. Campos distintos, mas ambos delimitados pelo respeito ao humano, às suas construções e principalmente pela garantia daquilo que faz de cada indivíduo “ser humano”: a aprendizagem. “O diagnóstico psicopedagógico é o início de uma intervenção como um modo de interversão. Propiciar ‘outras’ versões para o mesmo fato; pensá-la”. (Fernández, 2001). Para Winnicott, saúde psíquica é estar continuamente às voltas com a construção de si mesmo. E é de enorme importância a base de cuidado experimentado no início da vida para que se possa lidar com as adversidades da existência sem sucumbir a elas; ao contrário, usando-as para contínuo amadurecimento, para que se possa sentir e saborear as sutilezas da experiência, de modo pessoal, singular. Ainda, com relação à visão winnicottiana, observa-se que, na clínica dos problemas de aprendizagem, o brincar tem um domínio predominante. Há, no entanto, um modo diferenciado de Klein para abordar a questão do brincar, com relação àquele utilizado por Winnicott que considera o brincar como terapêutico, não por exprimir conflitos inconscientes, mas, em si mesmo, por ser uma forma natural de vida e criatividade. Winnicott é um psicanalista que se caracteriza por um modo próprio de conceber a constituição psíquica, estabelece pontos de diferenciação com relação ao que ele próprio chamou de Psicanálise Clássica. No tocante à reflexão acerca da intersubjetividade, é necessário dar destaque ao “entre”, que Winnicott denomina “espaço potencial”. Quando há dois sujeitos e uma interação, ocorre algo que vai além da subjetividade encenada em si mesma. Winnicott dá importância ao que está presente na expressão do fenômeno; mais do que o discurso, considera o valor da experiência. A clínica de Winnicott não está só alicerçada na representação, no discurso, no desejo, na questão edípica como constituinte do sujeito − como em Aulagnier, mas é também uma clínica que abre espaço para a experiência. Para Winnicott, o gesto do terapeuta é importante porque abre um evento, um acontecimento, um espaço potencial, analista-analisando, possibilitando uma experiência. Winnicott, no trabalho inter-humano, não coloca foco na lógica, mas no paradoxo. Os procedimentos utilizados para a intervenção não mudaram tanto, mas, sim, a perspectiva e o modo de abordá-los, o que trouxe a possibilidade da construção da autoria enquanto espaço de criatividade. “Um fenômeno bonito de ser observado é perceber como as metáforas povoam o nosso cotidiano, o nosso modo de ser e a nossa fala. As particularidades das metáforas variam de pessoa para pessoa. Cada um de nós tem um repertório peculiar de metáforas”. (SAFRA, 2006). A vida inculta e o aprender O ponto de partida de qualquer trabalho pedagógico deve ser a emoção. Como vimos, a emoção do aprendente apropria-se do que será apreendido e, desta forma, o afeto atua no início do processo de aprendizagem para canalizar a atenção e no final para ajudar a memória no resgate das informações. O processo de equilibração no desenvolvimento infantil pode ocorrer com base nas leituras oferecidas pelos livros ilustrados. Segundo Nicolajeva e Scott (2011), “tanto palavras como imagens podem ser evocativas a seu modo e independentes entre si”, ou seja, tanto os textos verbais quanto os visuais apresentam lacunas, sendo assim, palavras e imagens podem preencher as lacunas uma das outras, total ou parcialmente ou essas lacunas poderão ser completadas pelo leitor. A aprendizagem passa primeiramente pelo corpo; o corpo sente para aprender. E é desse bem-estar que os sujeitos falam. Quando se sentem bem também se sentem livres e motivados para aprender nos espaços especialmente significativos. “Acreditar que os leitores podem lidar com textos que os deixem inquietos ou em estado de interrogação é uma maneira de apostar nas aprendizagens sobre a ambiguidade e a polissemia na arte e na vida. Nem todos os silêncios precisam ser preenchidos...” (BAJOUR, 2012). Ser profundamente humano é tarefa que demanda muito mais que a carga genética para tal. Esta afirmação nasce na concepção de ser humano como um ser que pode tomar as rédeas da própria vida, reconhecendo-se como original, portando um valor, aceitando a complexidade da experiência, amando e trabalhando com sentido.
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