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Políticas Públicas de Saúde

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Políticas Públicas 
de Saúde
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Esp. Isabel Souza Lima
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
O Sistema Único de Saúde (SUS)
• O Sistema Único de Saúde (SUS) – Criação e Campos de Abrangência
• SUS – Princípios e Diretrizes (Lei n.º 8.080/90)
• Os Princípios do SUS
• Municipalização do SUS – O Município e a Saúde de seus Cidadãos
• A Gestão do SUS
• O Financiamento do SUS
 · Proporcionar ao aluno o conhecimento sobre a criação e a abrangên-
cia do Sistema Único de Saúde (SUS).
 · Conhecer as principais diretrizes do SUS.
 · Entender o processo de municipalização do SUS e a importância 
desse processo.
 · Entender as formas de gestão e financiamento do SUS.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
O Sistema Único de Saúde (SUS)
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
Contextualização
Caro(a) aluno(a),
Iniciaremos esta Unidade refletindo sobre o que representa o Sistema Único de 
Saúde (SUS) em nosso dia a dia.
Você já parou para pensar porque em alguns lugares do Brasil existem alguns 
tipos de ações de saúde e em outras localidades não? E ainda: quem determina isso?
Hoje temos o SUS implementado e disponível em todos os municípios brasileiros, 
com formas de atendimento à saúde de acordo com o que cada município necessita, 
mas nem sempre foi assim.
Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei n.º 8.080/90, regulamenta, em 
todo o território nacional, as ações do SUS, estabelece as diretrizes 
para seu gerenciamento e descentralização e detalha as competências 
de cada esfera governamental. Enfatiza a descentralização político-
administrativa, por meio da municipalização dos serviços e das ações de 
saúde, com redistribuição de poder, competências e recursos, em direção 
aos municípios. Determina como competência do SUS a definição de 
critérios, valores e qualidade dos serviços (BRASIL. Congresso Nacional. 
Lei n.º 8.080/90, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições 
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o 
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 
Brasília, DF, 1990.
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O Sistema Único de Saúde (SUS) – Criação e 
Campos de Abrangência
O SUS é o resultado de uma nova reorganização de política pública de saúde, que 
surgiu a partir da Constituição Federativa (CF) de 1988, ou seja, foi desenvolvido a 
partir do lançamento dessa nova Constituição. 
A Constituição Federativa de 1988, conforme estudado na Unidade anterior, dá 
direitos e garantias constitucionais à população mediante políticas públicas sociais 
para a saúde com caráter gratuito e universal.
O SUS não é um serviço ou uma instituição, é um sistema que configura um 
conjunto de unidades, de serviços e ações que interagem para um fim comum. 
Esses elementos integrantes do sistema se referem, ao mesmo tempo, às atividades 
de promoção, proteção e recuperação à saúde.
O SUS é considerado um sistema único porque segue a mesma doutrina e os 
mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob a responsa-
bilidade das três esferas autônomas de governo: federal, estadual e municipal. 
Dessa forma, é possível afirmar que em todo o território nacional, todos devem 
seguir os mesmos princípios de saúde.
Sistema é um conjunto de elementos interdependentes, de modo a formar um 
todo organizado.Ex
pl
or
SUS – Princípios e Diretrizes (Lei n.º 8.080/90)
A Lei n.º 8.080/90 dispõe sobre condições para a promoção, proteção e 
recuperação da saúde. É a primeira Lei orgânica que regula a CF, é a Lei que 
garante o estabelecimento da saúde como direito constitucional do cidadão. 
Figura 1 - Sistema Único de Saúde
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
Apesar da Lei possuir 267 artigos que fornecem o direcionamento do SUS, os 
principais artigos que a compõem são do 1º ao 7º. Esses sete primeiros artigos 
possuem o papel de regulamentar e direcionar todo o SUS, guiando suas ações, 
atividades, formas de atendimento que forem ser produzidas no Sistema Único 
de Saúde. 
A seguir serão apresentados os principais artigos que compõem a Lei n.º 
8.080/90, bem como a importância de cada um deles:
Art. 1º Essa Lei regula que, em todo território nacional, as ações e serviços 
de saúde, executados isolados ou conjuntamente, em caráter permanente 
ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado 
(Lei n.º 8.080, Art. 1º).
A Lei do SUS trata da assistência à saúde em todas as hipóteses. É uma Lei de 
abrangência nacional que regulamenta todo e qualquer serviço de saúde. Determina 
que tanto as pessoas físicas (exemplo: psicólogos/dentistas), quanto pessoas jurídicas 
(exemplo: convênios médicos), de direito público (exemplo: hospitais públicos) ou 
privado (exemplo: hospitais particulares) que exercitam atividades ligadas à área da 
saúde devem exercer a atividade conforme estabelece a Lei n.º 8.080/90. 
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício (Lei n.º 8.080, 
Art. 2º).
Além de afirmar que a saúde é um direito universal, a Lei prevê ainda que é 
dever do Estado promover a prevenção da saúde e da medicina curativa. Esse Artigo 
determina que o Estado deve criar políticas públicas que garantam o atendimento à 
saúde, no que diz respeito à prevenção, promoção, proteção e recuperação à saúde. 
A Lei ainda deixa claro que o dever do Estado não exclui o dever das pessoas, 
famílias, das empresas e sociedade. Esse Artigo afirma que a saúde é responsabilidade 
de todos, por exemplo: se dentro de um núcleo familiar houver alguém doente, 
é responsabilidade dessa família garantir o cuidado desse enfermo e tratamento 
de sua enfermidade. Outro exemplo: uma empresa tem total responsabilidade 
de prover e garantir o uso correto de Equipamento de Proteção Individual (EPI) 
aos funcionários que precisam utilizar esse equipamento para o exercício de suas 
atividades laborais; além disso, é dever da empresa promover um ambiente seguro 
aos funcionários, a temperatura adequada às condições de trabalho, a higienização, 
entre outros aspectos.
Art. 3º A saúde tem como fatores determinantese condicionantes, entre 
outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o 
trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o aces-
so aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam 
a organização social e econômica do País (Lei n.º 8.080, Art. 3º).
O conceito de saúde se permeia por todos os direitos sociais, como a alimentação, 
o lazer, o trabalho e demais atividades listadas no Artigo 3º. É importante que a 
organização da saúde seja feita interligando-se a todos os setores da sociedade.
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A Lei que rege o SUS garante ainda que a saúde não é apenas o bem-estar fí-
sico, mas também o bem-estar mental e social. Muitas políticas sociais são criadas 
para garantir, promover e exercitar esse direito. Exemplos: as atividades físicas e 
culturais gratuitas em vários pontos de cada cidade, como parques, praças, praias, 
entre outros.
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos 
e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração 
direta e indireta e das funções mantidas pelo Poder Público, constitui o 
Sistema Único de Saúde (SUS) (Lei n.º 8.080, Art. 4º).
O Artigo 4º nada mais é do que o conceito do SUS. Prevê ainda que é obrigação 
do Estado a pesquisa, produção e controle da qualidade de todo o conjunto de 
ações e insumos relacionados à saúde.
O Artigo 5º da Lei n.º 8.080/90 trata dos objetivos do SUS. Nesse Artigo 
estão dispostos os propósitos de criação dessa política pública, conforme pode ser 
observado a seguir: 
Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS):
I. A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes 
da saúde;
II. A formulação de política de saúde destinada a promover, nos cam-
pos econômico e social, a observância do disposto no § 1º do Art. 
2º desta Lei;
III. A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, pro-
teção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações 
assistenciais e das atividades preventivas (Lei n.º 8.080, Art. 5º).
O Artigo 6º da Lei n.º 8.080/90 define a atuação do Sistema Único de Saúde. 
Todas as ações desenvolvidas pelo SUS, independentemente da esfera do governo 
(estadual, municipal ou federal), devem estar dentro do campo de atuação definido 
por esse Artigo. É tudo o que pode ser feito e desenvolvido dentro do SUS.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de 
Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
a. de vigilância sanitária;
b. de vigilância epidemiológica;
c. de saúde do trabalhador; e
d. de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica (Lei n.º 8.080, 
Art. 6º).
O campo de atuação do SUS evolve questões como o saneamento básico; 
organização e formação de recursos humanos na área da saúde; vigilância 
nutricional e orientação alimentar; proteção ao meio ambiente; segurança do 
trabalho; controle e fiscalização de serviços, alimentos e bebidas para consumo 
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UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
humano; produção de medicamentos, equipamentos e qualquer outro insumo 
para saúde; controle e fiscalização de produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; 
desenvolvimento científico e tecnológico; política de sangue e derivados.
Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons
Vigilância sanitária é um conjunto de ações capaz de eliminar, di-
minuir ou prevenir os riscos à saúde e de intervir nos problemas sani-
tários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens 
e da prestação de serviços de interesses da saúde (Lei n.º 8.080, Art. 6º).
Vigilância epidemiológica é um conjunto de ações que proporcionam 
o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos 
fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, 
com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e 
controle das doenças ou agravo (Lei n.º 8.080, Art. 6º).
Ex
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or
O Artigo 7º da Lei n.º 8.080/90 define os princípios do SUS. Os princípios e 
diretrizes do SUS norteiam todas as ações e os serviços de saúde. Esses princípios di-
recionam todas as questões políticas, administrativas e técnicas da implantação efetiva 
dos serviços de saúde em nosso país. São eles:
I. Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis 
de assistência;
II. Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo 
das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos 
para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III. Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física 
e moral;
IV. Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de 
qualquer espécie;
V. Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI. Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a 
sua utilização pelo usuário;
VII. Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a 
alocação de recursos e a orientação programática;
VIII. Participação da comunidade;
IX. Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera 
de governo;
X. Integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e 
saneamento básico;
XI. Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de 
serviços de assistência à saúde da população;
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XII. Cap acidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; 
XIII. Or ganização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios 
para fins idênticos.
Os Princípios do SUS
Dentre os 13 princípios que regem o SUS, existem os princípios doutrinários e 
os princípios organizativos.
Principais Princípios Norteadores do SUS
Princípios
Doutrinados
Princípios
Organizativos
Universalidade;
Intregalidade;
Equidade.
Descentralização;
Regionalização;
Hierarquização;
Participação Social.
Figura 3
É importante ressaltar que todos os treze princípios são de extrema importância 
e devem ser seguidos por todas as atividades e ações desenvolvidas pelo SUS. No 
entanto, os princípios conhecidos como norteadores são os pilares e a forma de 
organização do Sistema Único de Saúde.
Importante!
Que princípio é uma regra ou lei que é o início de todas as outras leis, algo que não pode 
ser quebrado?
Você Sabia?
Princípios Doutrinários do SUS
Os princípios doutrinários formam o núcleo, um centro, são os princípios que 
regem, que conduzem todas as outras ações de saúde, tratam-se do pilar do modelo 
do sistema. Todas as ações que vão compor o SUS se baseiam nos três princípios 
doutrinários, que são a universalidade, a integralidade e a equidade.
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UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
Universalidade
IntegralidadeEquidade
Figura 4
Universalidade – é o princípio que garante que todos os brasileiros tenham 
direito à saúde e aos serviços de saúde que necessitarem, independentemente da 
complexidade, custo ou atividade. Ao mesmo tempo em que impõe ao governo a 
obrigação fornecer saúde a todos os brasileiros de forma igual para todos e com 
livre acesso. 
Esse princípio nasceu a partir do momento em que o conceito de saúde foi 
ampliado e deixou de ser apenas a ausência de doença, passando a ser todas as 
condições que impactam a vida de uma pessoa, desde a sua moradia ou alimentação, 
até o bem-estar, forma de trabalho, transporte, entre outros aspectos. 
Importante!
Que o pagamento do tratamento feito pelo SUS se dá através da modalidade de “financia-
mento solidário”, ou seja, que o custo é saldado pelo dinheiro que todos pagam através de 
vários impostos diferentes? Esse financiamento solidário é de responsabilidade de todos na 
sociedade e de entidades federais.
Você Sabia?
Equidade é o princípio que garante que pessoas diferentes tenham tratamento 
diferenciado para que todos obtenham direitos iguais e suas necessidades sejam 
atendidas. Isto é, todos têm o mesmo direito, entretanto, algumas pessoasprecisam 
de mais apoio do que outras para garantir esse direito. Por exemplo: todos têm 
direito ao atendimento pelo SUS, porém algumas pessoas possuem mobilidade 
limitada e para que essa pessoa tenha atendimento, será preciso o fornecimento 
de uma cadeira de rodas, transporte especial, ou ainda atendimento domiciliar. 
É o princípio que envolve a generosidade, a solidariedade e a convivência entre 
diferentes e diferenças. Equidade não é igualdade, é mais do que isso.
Outro ponto da equidade é que ela diz que cada região do País tem a sua 
particularidade de doenças, por isso, medidas diferentes devem ser criadas para 
diferentes regiões. Ou seja, todas as pessoas serão atendidas pelo SUS, levando-se 
em consideração a sua necessidade. Por exemplo: faz muito mais sentido ser feita 
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uma campanha de conscientização e vacinação contra a malária no Norte do País 
do que na região Sul, onde não existem casos dessa doença. Com isso, todos serão 
contemplados por serviços de saúde, todos terão atendimento adequado à saúde 
pelo SUS de forma igual, porém atendendo às necessidades de cada região.
A integralidade garante que todas as pessoas sejam atendidas desde suas 
necessidades básicas – e não apenas no tratamento de uma doença, mas sim em 
todo o ciclo de vida que envolve o indivíduo. Aspectos como a prevenção de doença, 
promoção de saúde, promoção de vida e reabilitação de saúde devem ser abordados. 
A integralidade é o princípio que traduz o movimento da Reforma Sanitária 
e da Constituição de 1988. A Constituição Federal diz que a saúde é um todo, 
envolvendo desde o aspecto biológico, social, econômico e até espiritual. Quer dizer 
que para fornecer saúde, é necessário unir conhecimentos tradicionais, populares, 
científicos, filosóficos, pois cada pessoa é tudo isso ao mesmo tempo.
Esse princípio significa que os que serviços devem estar integrados, ou seja, 
funcionando em rede. Por exemplo, uma pessoa pode ser consultada em uma 
Unidade Básica de Saúde (UBS), mas se precisar de outros serviços – como um 
exame de qualquer grau de complexidade – terá também acesso. Outro exemplo de 
integralidade é que uma pessoa terá direito ao acesso da saúde, desde uma orientação 
sobre como escovar os dentes, até uma cirurgia de transplante de coração. 
Princípios Organizativos do SUS
São princípios que efetivamente operacionalizarão os princípios doutrinários 
a partir de ações descentralizadas, regionalizadas, com hierarquia nos serviços e 
contando com a participação social em cada região. 
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
Descentralização é o princípio que faz com que o SUS esteja em todos os 
lugares, espalhado pelo Brasil. Antes do SUS, as unidades básicas de saúde e 
hospitais eram situadas apen as em lugares urbanos, por isso o atendimento era 
considerado centralizado. Com a descentralização do SUS, cada região, cada 
município precisa ter um posto de atendimento do SUS, fazendo com que a saúde 
chegue a todos os lugares, em todas as áreas do Brasil, atendendo à população 
como um todo e não apenas nos pontos onde existem mais pessoas.
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UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
A descentralização é considerada um dos princípios do SUS, uma de suas bases, 
pois trata do tema de redistribuição do poder e das responsabilidades entre as três 
esferas do poder: municipal, estadual e federal. Sinaliza que cada esfera tem a sua res-
ponsabilidade. Nesse modelo, cada esfera do governo é autônoma e soberana nas suas 
decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da sociedade.
• Regionalização implica na delimitação de uma base territorial para o sistema 
de saúde, que leva em conta a divisão político-administrativa do País, mas 
também contempla a delimitação de espaços territoriais específicos para 
a organização das ações de saúde, subdivisões ou agregações do espaço 
político-administrativo.
• Hierarquização é a garantia de formas de acesso aos serviços de saúde, 
independentemente do grau de complexidade (baixo, médio ou alto). 
Organiza ainda as unidades de saúde quanto ao grau de complexidade e tipo 
de serviço prestado.
• Participação social é a participação da população desde o processo de 
construção do SUS até a decisão sobre o funcionamento do serviço de saúde, 
como, por exemplo, onde será implantada uma nova UBS ou qual melhor 
horário de funcionamento de um serviço. A participação social se dá através 
dos conselhos e conferências de saúde. Buscam formular estratégias, controlar 
e avaliar toda a política de saúde em nível municipal, estadual e federal. 
Municipalização do SUS – O Município e a 
Saúde de seus Cidadãos
A municipalização do SUS é a estratégia adotada pelo governo em transferir 
para cada município brasileiro a responsabilidade de garantir que a saúde chegará 
para todos, transferindo, assim, para cada localidade as funções de coordenação, 
negociação, controle, avaliação e auditoria da saúde local, controlando os recursos 
financeiros, as ações e os serviços de saúde prestados em cada localidade. 
Esse processo é necessário porque o Brasil tem um território muito extenso para 
ser administrado de forma centrada, ou seja, de forma única. Com a municipalização, 
a responsabilidade é transferida e facilita que ações locais e pontuais sejam tomadas. 
Por exemplo: uma ação de vacinação contra a gripe é muito mais válida no Sul do 
País, onde o índice de resfriados é mais alto por conta do tempo frio, do que no 
Nordeste do Brasil. 
Com a municipalização, cada município tem a chance e o dever de prover a 
saúde conforme as características e necessidades de suas sociedades e destinar 
os recursos necessários para ações que são realmente necessárias e fundamentais 
para aquele nicho territorial.
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O princípio de descentralização que norteia a municipalização do SUS ocorre, 
especialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos para a esfera 
municipal, estimulando novas competências e capacidades político-institucionais 
dos gestores locais, além de meios adequados à gestão de redes assistenciais de 
caráter regional e macrorregional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção 
e a racionalização de recursos. Os Estados e a União devem contribuir para a 
descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e financeira para o 
processo de municipalização.
Regionalização é o princípio que orienta e organiza a descentralização das 
ações do SUS considerando as desigualdades territoriais, as especificidades de cada 
região do País. De acordo com a Constituição Federal de 1988, o Sistema Único 
de Saúde deve ser organizado em uma rede regionalizada e hierarquizada.
A Lei n.º 8.080/90 regulamenta, em todo o território nacional, as ações do 
SUS, estabelece as diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e detalha 
as competências de cada esfera governamental. Enfatiza a descentralização 
político-administrativa, por meio da municipalização dos serviços e das ações 
de saúde, com redistribuição de poder, competências e recursos em direção aos 
municípios. Determina como competência do SUS a definição de critérios, valores 
e qualidade dos serviços. Trata da gestão financeira, define o plano municipal de 
saúde como base das atividades e da programação de cada nível de direção do 
SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços nos atendimentos públicos e 
privados contratados e conveniados ao SUS.
Normas Operacionais Básicas do SUS
As Normas Operacionais Básicas (NOB) do SUS são orientações especificas e 
pactuadas para organizar o modelo de gestão, complementam toda a legislação do 
SUS. Representam os instrumentos de regulação do processo de descentralização 
e tratam de questões como: divisões de responsabilidades de cada gestão; 
relacionamento entre os gestores do SUS; como é feito o critério de transferência 
dos recursos federais, do Estado e Município.
Os principais objetivos das NOB são:
 · Alocar recursos;
 · Promover a integração das três esferas de governo;
 · Promover atransferência para os Estados e os Municípios das responsabili-
dades do SUS.
Acesse: https://goo.gl/bzfnPf
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UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
A Gestão do SUS
Os gestores do SUS são as entidades encarregadas de fazer com que o SUS seja 
implantado e funcione adequadamente dentro das diretrizes doutrinárias, da lógica 
organizacional e dentro dos princípios estabelecidos.
As três esferas de governo (federal, municipal e estadual) possuem gestores 
próprios. Os gestores dos municípios são as secretarias municipais de saúde ou as 
prefeituras, sendo responsáveis pelas mesmas os respectivos secretários municipais 
e prefeitos. Nos Estados, os gestores são os secretários estaduais de saúde e em 
nível federal, trata-se do Ministério da Saúde.
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
A responsabilidade sobre as ações e serviços de saúde em cada esfera do governo 
é do titular da respectiva secretaria e do Ministério da Saúde em nível federal.
As Principais Responsabilidades dos Gestores
Em nível municipal, cabe aos gestores programar, executar e avaliar as ações de 
promoção, proteção e recuperação da saúde. Significa que o município deve ser o 
primeiro e maior responsável pelas ações de saúde para sua população.
O secretário estadual de saúde, como gestor estadual, é o responsável 
pela coordenação das ações de saúde de seu Estado. Seu plano diretor será a 
consolidação das necessidades propostas de cada município, através de planos 
municipais, ajustados entre si. O Estado deverá corrigir distorções existentes e 
induzir os municípios ao desenvolvimento das ações. Assim, cabe também aos 
Estados o planejamento e controle do SUS em seu nível de responsabilidade e 
execução apenas das ações de saúde que os municípios não forem capazes e/ou 
que não lhes couber executar.
Em nível federal, o gestor é o Ministério da Saúde e sua missão é liderar o 
conjunto de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, identificando 
riscos e necessidades nas diferentes regiões para a melhoria da qualidade de 
vida do povo brasileiro, contribuindo para o seu desenvolvimento. Ou seja, é o 
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responsável pela formulação, coordenação e controle da política nacional de saúde. 
Tem importantes funções no planejamento, financiamento, cooperação técnica e 
controle do SUS.
Nas três esferas deverão participar, também, representantes da população, que 
garantirão, através de entidades representativas, envolvimento responsável no 
processo de formulação das políticas de saúde e no controle da sua execução.
O funcionamento do SUS deve ser controlado pela população, em conjunto com 
o Poder Legislativo, além de cada gestor das três esferas de governo. A população 
deve ter conhecimento de seus direitos e reivindicá-los ao gestor local do SUS 
(secretário municipal de saúde), sempre que os mesmos não forem respeitados. 
O sistema deve criar mecanismos através dos quais a população possa fazer essas 
reivindicações. Os gestores devem, também, dispor de mecanismos formais de 
avaliação e controle e democratizar as informações.
O Financiamento do SUS
Da mesma forma que o controle do SUS deve ser feito pelas três esferas do 
governo federal, os investimentos e custeio também o devem. 
Os recursos da saúde são provenientes de contribuições tributárias pagas pelo 
cidadão, esses tributos são os impostos e as contribuições pagas por cada indivíduo 
da sociedade como, por exemplo, o Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre 
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Esses tributos compõem o orçamento 
de cada esfera governamental que organiza o seu orçamento para pagar os serviços 
de saúde. Por isso, é correto afirmar que os recursos federais para o SUS provêm 
do orçamento da seguridade social (que também financia a previdência social e a 
assistência social), acrescidos de outros de outros recursos da União, constantes da 
Lei de diretrizes orçamentárias, aprovada anualmente pelo Congresso Nacional. 
Esses recursos, geridos pelo Ministério da Saúde, são divididos em duas partes: uma 
é retida para o investimento e custeio das ações federais; e a outra é repassada às 
secretarias de saúde, estaduais e municipais, de acordo com critérios previamente 
definidos em função da população, necessidades de saúde e rede assistencial. 
Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
19
UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
Em cada Estado os recursos repassados pelo Ministério da Saúde são somados 
aos alocados pelo próprio governo estadual, de suas receitas e geridos pela 
respectiva Secretaria de Saúde, através de um fundo estadual de saúde. Desse 
montante, uma parte fica retida às ações e aos serviços estaduais, enquanto outra 
parte é repassada aos municípios, de acordo também com critérios específicos.
Finamente, cabe aos próprios municípios destinar parte adequada de seu 
próprio orçamento para as ações e serviços de saúde de sua população. Assim, 
cada município gerirá os recursos federais repassados a esse e os seus próprios 
recursos alocados pelo governo municipal para o investimento e custeio das ações 
de saúde de âmbito municipal. Os municípios também administrarão os recursos 
para a saúde através de um fundo municipal de saúde. A criação dos fundos é 
essencial, pois assegura que os recursos da saúde sejam geridos pelo setor de saúde 
– e não pelas secretarias de fazenda, em caixa único, estadual ou municipal, sobre 
o qual a saúde tem pouco acesso. 
Hoje, a maior parte dos recursos aplicados em saúde tem origem na previdência 
social. Essa tendência deverá alterar-se até que se chegue a um equilíbrio das três 
esferas de governo em relação ao financiamento da saúde. Para tanto, Estados e 
Municípios deverão aumentar os seus gastos com saúde, atingindo em torno de 10% 
de seus respectivos orçamentos, enquanto a União deverá elevar a participação de 
seu orçamento próprio.
No ano 2000 foi instituída a Emenda Constitucional n.° 29, que definiu os 
percentuais mínimos que cada esfera governamental deveria investir em um 
percentual de seu orçamento nas ações de saúde. 
Os ajustes foram graduais até o final de 2004, quando se definiu que os Estados 
deveriam investir 12% de sua arrecadação total em ações de saúde, os municípios 
15% e a União 5%, índices esses corrigidos pelo Produto Interno Bruto (PIB) e pela 
inflação de cada ano.
PIB é uma medida do valor dos bens e serviços que o País produz em um período, na 
agropecuária, indústria e serviços. O objetivo é medir a atividade econômica e o nível 
de riqueza de uma região. Quanto mais se produz, mais se está consumindo, investindo 
e vendendo. O produto interno bruto per capita (ou por pessoa) mede quanto, do total 
produzido, “cabe” a cada brasileiro se todos tivessem partes iguais.
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fonte: http://g1.globo.com/economia/pib-o-que-e/platb
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
12 fatos sobre o transplante de órgãos
Assista ao vídeo intitulado 12 fatos sobre transplantes, promovido pelo site Mega Curioso
https://youtu.be/UCdh-2rCsic
Série SUS - Você já ouviu falar bem do SUS?
Assista também ao vídeo Você já ouviu falar bem do SUS?, promovido pelo programa Série SUS
https://youtu.be/C2YRU_lvW4Y
 Leitura
Brasil: A importância do SUS (Sistema Único de Saúde)
BRASIL: A importância do SUS (Sistema Único de Saúde). Economia, Além. 2 jul. 2015
https://goo.gl/2XMfv7
Norma Operacional Básica (NOB) do SUS
Norma Operacional Básica (NOB) do SUS. Educação, Portal. 11 jan. 2013.
https://goo.gl/k6euyK
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UNIDADE O Sistema Único de Saúde (SUS)
Referências
BRASIL. 8ª Conferência Nacional de Saúde: relatório final. In: MINAYO, M. C. S. 
(Org.). A saúde em estado de choque. Rio de Janeiro: Fase, 1996. p. 117.
________. Congresso Nacional. Emenda Constitucional n.° 29, de 13 de setembro 
de 2000. Brasília, DF, 2000.
________. Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as 
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e 
o funcionamentodos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, 
DF, 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. ABC do SUS. Doutrinas e princípios. Brasília, 
DF, 1990.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Norma Operacional Básica do Sistema Úni-
co de Saúde - SUS (publicada no D.O.U. de 6/11/1996). 1996. Disponível em: 
<http://conselho.saude.gov.br/legislacao/nobsus96.htm>. Acesso: 10 ago. 2016.
MUNICIPALIZAÇÃO. [20--]. Disponível em: <http://sistemaunicodesaude.wee-
bly.com/municipalizao.html>. Acesso: 29 jul. 2016.
NAIME, L. et al. Entenda o PIB. G1, [20--]. Disponível em: <http://g1.globo.com/
economia/pib-o-que-e/platb>. Acesso: 2 ago. 2016.
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