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Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 1 Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO O QUE É? Processo inflamatório agudo que afeta o pâncreas, podendo envolver tecidos peripancreáticos e/ou outros órgãos EPIDEMIOLOGIA GLOBAL Principal causa gastrointestinal que motiva internação nos Estados Unidos BRASIL Incidência média de PA no ano de 2014 foi de 19 casos para cada 100.000 habitantes SEGUNDO O QUADRO 90% dos portadores de pancreatite aguda apresentem quadro leve e autolimitado 10% irão evoluir de uma forma dramática, com necessidade de internação prolongada e elevada morbimortalidade CLASSIFICAÇÃO DE ATLANTA Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 2 PANCREATITE AGUDA EDEMATOSA INTERSTICIAL Cursa com aumento difuso ou localizado do pâncreas secundário à edema inflamatório, sem ocorrência de necrose EPIDEMIOLOGIA Ocorre em 90% a 95% dos doentes QUADRO CLÍNICO Doença leve, com baixa morbimortalidade (cerca de 3%) e que apresenta resolução em 1 semana PANCREATITE NECROSANTE Evolução para necrose do parênquima pancreático, dos tecidos peripancreáticos ou de ambos EPIDEMIOLOGIA Ocorre em 5% a 10% dos doentes QUADRO CLÍNICO Quadros graves, com elevada morbimortalidade (cerca de 17% de mortalidade) ETIOLOGIA Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 3 LITÍASE BILIAR EPIDEMIOLOGIA Cálculos biliares representam cerca de 40% das causas de pancreatite aguda, embora apenas 3% a 8% dos portadores de cálculos biliares evoluam para essa condição, sendo mais frequente em mulheres de 50 a 70 anos TAMANHO DO CÁLCULO Cálculos biliares menores que 5 mm são mais propensos a passar pelo ducto cístico e obstruir a ampola de Vater TEORIA OBSTRUTITVA O cálculo biliar migra para o ducto pancreático, obstruindo-o. No entanto, a secreção pancreática mantém-se, promovendo aumento excessivo da pressão no interior do ducto pancreático obstruído TEORIA DO REFLUXO O cálculo biliar fica impactado na ampola de Vater (formada pela união do ducto pancreático com o ducto colédoco), permitindo o refluxo de sais biliares para o pâncreas. Esses sais biliares provocariam, então, uma necrose das células acinares pancreáticas Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 4 ÁLCOOL EPIDEMIOLOGIA Representa cerca de 30% a 35% dos casos, embora apenas 5% a 10% dos etilistas desenvolvem PA, sendo mais frequente em homens jovens FISIOPATOLOGIA 1. O álcool causa uma série de efeitos nocivos ao pâncreas, desencadeando a liberação de citocinas inflamatórias, como NF-kappa beta, TNF alfa, Interleucina 1 (Il1) 2. Ocorre o aumento da expressão e da atividade de proteases apoptóticas, chamadas caspases 3. Há diminuição da perfusão pancreática 4. Promoção do espasmo do esfíncter de Oddi (situado na ampola de Vater) 5. Excesso da sensibilização dos ácinos à colecistocinina 6. Precipitação proteica no lúmen dos ductos pancreáticos, levando a sua obstrução IDIOPÁTICA 25% a 30% dos casos de pancreatite aguda HIPERTRIGLICERIDEMIA Triglicérides ≥ 1000 mg/dL pode levar à pancreatite aguda, sendo sua causa em 1,3% a 3,8% dos casos MEDICAMENTOS FÁRMACOS Sulfonamidas Azatioprina Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 5 Metronidazol Tetraciclina Tiazídicos Furosemida Estatinas Sulfassalazina 6-mercaptopurina Ácido valproico Acetaminofeno Antirretrovirais SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA PANCREATITE AGUDA INDUZIDA POR FÁRMACOS 1. Classe Ia: drogas que têm pelo menos um caso relatado com teste de provocação positivo, excluindo-se todas as outras causas mais comuns a. Exemplos: bezafibrato, codeína, dapsona, enalapril, furosemida, isoniazida, mesalazina, metronidazol, sinvastatina, sulfametoxazol, tetraciclina, ácido valproico 2. Classe Ib: drogas que têm pelo menos um caso relatado com teste de provocação positivo, sem exclusão de todas as outras causas a. Exemplos: amiodarona, azatioprina, lamivudina, losartana, omeprazol, sulfametoxazol-trimetoprima 3. Classe II: drogas com pelo menos quatro casos na literatura e com período de latência consistente em 75%, ou mais, dos casos a. Exemplos: paracetamol, didanosina, eritromicina, propofol, tamoxifeno 4. Classe III: drogas com pelo menos dois casos na literatura, sem período de latência consistente entre os casos e sem teste de provocação a. Exemplos: alendronato, atorvastatina, captopril, ceftriaxona, hidroclorotiazida, isotretinoína, Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 6 lamivudina, metformina, prednisona 5. Classe IV: drogas que não se encaixam nas classes acima, casos únicos relatados em literatura, sem teste de provocação a. Exemplos: cisplatina, colchicina, ciclofosfamida, danazol, diclofenaco, finasterida, octreotide, ritonavir, rosuvastatina, sertralina Fármacos classe Ia, Ib e II teriam, portanto, maior potencial de cursar com pancreatite aguda COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA (CPRE) A pancreatite aguda é a principal complicação associada à CPRE TRAUMA ABDOMINAL Principal causa de pancreatite aguda em crianças HIPERCALCEMIA Causa rara da pancreatite aguda ALTERAÇÕES ANATÔMICAS 1. Pâncreas divisum 2. Tumores do pâncreas 3. Tumores da papila duodenal INFECÇÕES E TOXINAS Vírus: Coxsackievirus, herpes simplex, HIV Bactérias: Mycoplasma, Legionella, Leptospira, Salmonella Fungos: Aspergillus Parasitas: Ascaris, Cryptosporidium e Toxoplasma Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 7 DISTÚRBIOS VASCULARES Isquemia pancreática Choque hemorrágico Vasculites Ateroembolismo Hipotensão intraoperatória GENÉTICA Gene PRSS1: gene do tripsinogênio catiônico Gene CFTR: gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística Gene SPINK1: inibidor da tripsina secretória pancreática Gene CTRC: gene C da quimiotripsina Gene CASR: receptor sensível ao cálcio FISIOPATOLOGIA FASE 1 Ativação de enzimas proteolíticas (Tripsina) FASE 2 1. Reação inflamatória intrapancreática aumentada 2. Ativação, quimiotaxia e sequestro de neutrófilos e macrófagos no pâncreas 3. Ativação de mais tripsinogênio 4. Digestão de tecidos pancreáticos e peripancreáticos FASE 3 Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 8 1. Inflamação extrapancreátrica 2. Lesão e morte celular liberam peptídeos de bradicinina, substâncias vasoativas e histamina 3. Vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular 4. SIRS, SARA e falência de múltiplos órgãos QUADRO CLÍNICO DOR ABDOMINAL Dor abdominal aguda em quadrante superior ou em região periumbilical, podendo ser “em faixa” IRRADIAÇÃO Irradia para o dorso, flancos, tórax ou abdome inferior PIORA Posição supina ALÍVIO Posição genupeitoral NÁUSEAS E VÔMITOS Ocorre em cerca de 90% dos pacientes ICTERÍCIA Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 9 Costuma estar presente em até 25% dos doentes devido, principalmente, à etiologia biliar DISPNEIA Pode acompanhar os pacientes por conta da inflamação diafragmática secundária à pancreatite EXAME FÍSICO SINAIS VITAIS Febre, taquicardia, hipotensão, taquipneia e hipoxemia MUCOSA Icterícia pode ser evidenciada por esclera amarelada, não obrigatória em todos os pacientes com pancreatite aguda ABDOME INSPEÇÃO Distensão abdominal pode ser percebida AUSCULTA Ruídos hidroaéreos abolidos ou reduzidos PALPAÇÃO 1. Dor leve à palpaçãom ou dor intensa, a depender da gravidade da inflamação pancreática 2. Massa abdominal palpável (necrose pancreática encapsulada, pseudocisto pancreático ou pâncreas aumentado com coleções líquidas) pode existir DERMATOLÓGICO Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 10 SINAL DE GREY-TURNER Equimoses em flancos SINAL DE CULLEN Equimose periumbilical SINAL DE FOX Equimoses na base do pênis DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS 1. Achados clínicos típicos/compatíveis: dor abdominal no quadrante superior do abdome associado a náuseas e vômitos. 2. Elevação de 3 ou mais vezes nos níveis séricos de amilase e/ou lipase 3.Achados característicos nos exames de imagem LIPASE Marcador mais acurado, específico e com maior janela diagnóstica no contexto da pancreatite aguda VALORES O aumento da lipase inicia-se em 4 a 8 horas após o início dos sintomas da pancreatite aguda, com pico em 24 horas, e permanece elevada por 8 a 14 dias, quando retorna aos níveis habituais Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 11 ➡ NÍVEIS MAIS ELEVADOS NÃO SIGNIFICAM PANCREATITE AGUDA MAIS GRAVE AMILASE VALORES Costuma aumentar em 6 a 12 horas após o início da pancreatite aguda, ou seja, eleva-se já nas primeiras 24 horas, com pico em 48 horas, e mantém-se elevada por cerca de 3 a 7 dias PANCREATITE ALCOÓLICA Lesão pancreática subjacente pode tornar o pâncreas incapaz de produzir amilase (cerca de 20% dos doentes) PANCREATITE COM HIPERTRIGLICERIDEMIA Os triglicérides aumentados podem interferir no método laboratorial pelo qual a amilase é dosada em cerca de metade dos doentes ➡ O aumento da amilase não é achado obrigatório na pancreatite aguda, não sendo elevada na pancreatite alcoólica e na pancreatite com hipertrigliceridemia EXAMES COMPLEMENTARES EXAMES LABORATORIAIS Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 12 HEMATÓCRITO > 44% Critério independente para pancreatite aguda grave UREIA 20 mg/dL Preditor independente de mortalidade na pancreatite aguda grave PCR ≥ 150 mg/dL no 3º dia Critério preditor de pancreatite aguda grave USG DE ABDOME Exame OBRIGATÓRIO na admissão do paciente com pancreatite aguda, devendo ser realizada nas primeiras 48 HORAS DE ADMISSÃO do doente para avaliar etiologia biliar TC DE ABDOME NÃO é exame OBRIGATÓRIO no contexto da pancreatite aguda, sendo dispensável nos casos de pancreatite aguda leve QUANDO REALIZAR? Dúvida diagnóstica Suspeita de complicações Avaliação de prognóstico ÍNDICE DE GRAVIDADE DA TC DE ABDOME CRITÉRIO DE BALTHAZAR CLASSIFICAÇÃO ACHADOS PONTUAÇÃO A Pâncreas normal 0 pontos B Aumento focal ou difuso do pâncreas 1 ponto C Inflamação peripancreática 2 pontos Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 13 associada a anomalias pancreáticas D Coleção líquida em apenas uma localização 3 pontos E Duas ou mais coleções líquidas e/ou gás no pâncreas e adjacências 4 pontos NECROSE PANCREÁTICA PERCENTUAL DE ÁREA NECRÓTICA ACHADOS PONTUAÇÃO Nenhuma Ausência de necrose pancreática 0 pontos < 30% Necrose de < 30% do pâncreas 2 pontos 30% - 50% Necrose de 30% a 50% do pâncreas 4 pontos > 50% Necrose de > 50% do pancreas 6 pontos ÍNDICE DE SEVERIDADE POR TC MORBIDADE MORTALIDADE SOMA DAS PONTUAÇÕES 0 0 0 – 1 pontos 8% 3% 2 – 3 pontos 35% 6% 4 – 6 pontos 92% 17% 7 – 10 pontos AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE FATORES DE RISCO PARA GRAVIDADE C: Comorbidade A: Alcoolismo Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 14 I: Idade > 60 anos O: Obesidade CRITÉRIOS DE RANSON CRITÉRIOS ADMISSIONAIS Mnemônico ÁGILL (com DOIS “L”s) Paciente com suspeita de pancreatite aguda chegou na admissão?! Seja ÁGILL A → AST G → Glicose I → Idade L → LDH L → Leucócitos CRITÉRIOS APÓS 48H DA ADMISSÃO Frase “Urgente! Hoje Li Belíssimo Capítulo de Pancreatite” Urgente → Ureia (falência renal) HojE → Hematócrito (falência circulatória) LI → Perda de Líquidos (falência circulatória) BElíssimo → BE (base excess) (falência renal) CApítulo → Cálcio de PAncreatite → PaO2 (falência respiratória) CRITÉRIOS DE APACHE II Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 15 Escore complexo, mas com a vantagem de que pode ser completamente aplicado na admissão ou em qualquer momento da internação do paciente, ao contrário do escore de Ranson, que precisa de pelo menos 48 horas para ser calculado CLASSIFICAÇÃO DE ATLANTA REVISADA Pancreatite aguda leve Ausência de falência orgânica E Ausência de complicações locais ou sistêmicas Pancreatite aguda moderadamente grave Falência orgânica reversível em 48 horas (falência orgânica transitória) E/OU Presença de complicações locais ou sistêmicas Pancreatite aguda grave Falência orgânica não-reversível em 48 horas (falência orgânica persistente) CONDUTA RESSUCITAÇÃO VOLÊMICA Etapa mais importante no manejo do paciente com pancreatite aguda, que deve utilizar cristaloides nas primeiras 12 a 24 horas, independentemente de instabilidade hemodinâmica CONTROLE ÁLGICO A dor deve ser agressivamente tratada nas primeiras 24 horas com a utilização de analgésicos Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 16 MANEJO DIETÉTICO Preconiza-se a rápida instituição da dieta tão logo possível PANCREATITE AGUDA DE ETIOLOGIA BILIAR COLECISTECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA Recomendada para pacientes com pancreatite aguda leve de etiologia biliar PANCREATITE AGUDA ALCOOLICA Além do tratamento de suporte, o paciente deverá ser encaminhado para tratamento do alcoolismo, com acompanhamento profissional periódico e adequado. PANCREATITE AGUDA POR HIPERTRIGLICERIDEMIA Aférese ou uso de insulina regular intravenosa em bomba de infusão contínua PANCREATITE AGUDA POR HIPERCALCEMIA O tratamento deverá ser direcionado à normalização dos níveis séricos de cálcio e identificação da causa da hipercalcemia COMPLICAÇÕES LOCAIS Coleção fluida peripancreática aguda Pseudocisto pancreático Coleção necrótica aguda Coleção pós-necrótica aguda ou walled-off Pancreatite Aguda - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 17 PANCREATITE AGUDA COMPLICADA 1. Persistência ou recorrência da dor abdominal 2. Novo aumento nos níveis séricos das enzimas pancreáticas (amilase e lipase) 3. Piora da disfunção orgânica 4. Piora clínica do doente: sinais de sepse, como febre, leucocitose etc
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