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Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 1 Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO O QUE É? Caracteriza-se pela substituição do parênquima pancreático normal por áreas fibróticas e por alterações anatômicas nos ductos pancreáticos, caracterizadas por irregularidades e estenoses, que levam à progressiva perda da função pancreática PONTOS-CHAVE 1. Irreversível 2. Doença progressiva EPIDEMIOLOGIA GLOBAL Incidência que varia em torno de 5 a 12/100.000 indivíduos, com uma prevalência de 0/100.000. BRASIL Maior prevalência na região Sudeste, possivelmente motivada pelo excessivo consumo de álcool Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 2 ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO ÁLCOOL EPIDEMIOLOGIA Principal fator de risco, que corresponde a cerca de 70% a 80% dos casos de pancreatite crônica FISIOPATOLOGIA 1. Aumento da concentração de proteínas no suco pancreático → contribui com a formação de cálculos no ducto pancreático → obstrução → células pancreáticas não secretam as enzimas digestivas e sofrem autodigestão 2. Provoca síntese e secreção de litostatina pelas células acinares → contribui com a formação de cálculos no ducto pancreático → obstrução → células pancreáticas não secretam as enzimas digestivas e sofrem autodigestão 3. Promove maior secreção de glicoproteína 2 no suco pancreático → contribui com a formação de cálculos no ducto pancreático → obstrução → células pancreáticas não secretam as enzimas digestivas e sofrem autodigestão 4. Metabólitos do álcool aumentam fragilidade dos grânulos de zimogênio e lisossomos → ativação anormal das enzimas no interior das células acinares → autodigestão 5. Acetaldeído provoca lesão direta às células acinares 6. Aumenta atividade de NF-kappa beta 7. Redução da microperfusão pancreática 8. Aumento dos níveis de cálcio intracelular 9. Ativação das células estreladas pancreáticas (CEP) → estimula a síntese de colágeno e outros componentes, contribuindo com a fibrose pancreática Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 3 IDIOPÁTICA Corresponde a 10% a 20% dos casos de pancreatite crônica TABAGISMO Quanto maior o número de maçosdia, maior é a chance de que ocorra progressão para pancreatite crônica HIPERTRIGLICERIDEMIA Pacientes com aumento de triglicérides superiores a 1000 mg/dL têm maior chance de evoluir com pancreatite aguda e esses episódios podem ser recorrentes, levando a um dano pancreático progressivo, com evolução para pancreatite crônica GENÉTICA Gene PRSS1: gene do tripsinogênio catiônico Gene CFTR: gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística Gene SPINK1: inibidor da tripsina secretória pancreática AUTOIMUNE Caracteriza-se por distúrbio inflamatório pancreático crônico associado à fibrose do pâncreas e admite dois subtipos 1. Tipo I: pancreatite esclerosante linfoplasmocitária a. Níveis séricos de IgG4 costumam estar elevados 2. Tipo II: pancreatite ducto-central idiopática ou pancreatite com lesão granulocítica OBSTRUTIVA Tumores pancreáticos, cálculos ductais, retrações fibróticas e cistos da parede duodenal Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 4 RECORRÊNCIA/RECIDIVA DA PANCREATITE AGUDA Após um episódio de pancreatite aguda, 10% dos pacientes evoluirão com pancreatite crônica QUADRO CLÍNICO DOR ABDOMINAL Dor abdominal com intensidade variável, progressiva com a evolução da doença e associada à ingesta alimentar MÁ DIGESTÃO Cursa com clínica de diarreia crônica, esteatorreia, fadiga, perda de peso e hipovitaminoses DIABETES MELLITUS Ocorre em cerca de 40% a 80% dos doentes OUTROS SINTOMAS ICTERÍCIA E COLANGITE Ocorrem em 5% a 10% DIAGNÓSTICO TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE ABDOME Útil não só no diagnóstico da pancreatite crônica, mas também de suas complicações Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 5 ACHADOS Atrofia do pâncreas (54% dos portadores) Dilatação do ducto pancreático (68% dos portadores) Múltiplas calcificações parenquimatosas e intraductais (50% dos portadores) RESSONÂNCIA MAGNÉTICA COM COLANGIOPANCREATOGRAFIA ACHADOS 1. Ducto pancreático principal normal (casos iniciais) 2. Irregularidades leves do ducto pancreático principal e de seus ramos 3. Ducto pancreático principal com áreas focais de estreitamento e dilatação + ectasia dos seus ramos laterais 4. Atrofia glandular TESTES FUNCIONAIS ELASTASE FECAL Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 6 Elastase fecal 100 – 200 mcg/g de fezes → Insuficiência pancreática leve Elastase fecal < 100 mcg/g de fezes → Insuficiência pancreática grave QUANTIFICAÇÃO DE GORDURA NAS FEZES Excreção fecal de gordura > 7 g/dia→ ESTEATORREIA TESTE DA SECRETINA Pâncreas exócrino normal → bicarbonato ≥ 80 – 90 mEq/L Insuficiência exócrina leve → 75% do valor normal Insuficiência exócrina moderada → 30% – 75% do valor normal Insuficiência exócrina grave → ≤ 30% do valor normal TESTE DA COLECISTOCININA Tripsina < 50 mcg/kg/hora → sugere insuficiência pancreática exócrina TESTE DA BENTIROMIDA Excreção PABA e metabólicos ≥ 70% → Normal Excreção PABA e metabólicos < 50% → Diminuída DOSAGEM DO TRIPSINOGÊNIO SÉRICO Níveis séricos inferiores a 20 ng/mL sugerem o diagnóstico de insuficiência pancreática exócrina TESTE RESPIRATÓRIO COM TRIGLICÉRIDES MARCADOS COM 13C 13CO2/12CO2 reduzida TESTE DA D-XILOSE Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 7 Excreção D-xilose < 6,0 ± 1,5 g ou concentração sérica < 20 mg/dL → Má absorção por problemas na mucosa intestinal Valores normais → Observados na má absorção por problemas na digestão (exemplo: pancreatite crônica) CONDUTA ORIENTAÇÕES 1. Cessar etilismo 2. Cessar tabagismo 3. Dieta pobre em gordura CONTROLE ÁLGICO 1. Paracetamol ou AINES 2. Se não houver melhora, tramadol ou morfina ENZIMAS PANCREÁTICAS Tais enzimas são comumente ingeridas antes das refeições e melhoram a digestão alimentar, diminuindo a disabsorção e, consequentemente, seus sintomas, como é o caso da esteatorreia TRATAMENTO CIRÚRGICO INDICAÇÕES Dor refratária Obstrução biliar ou pancreática Obstrução duodenal Pseudocisto pancreático Pseudoaneurisma Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 8 Possibilidade de neoplasia pancreática DUCTO PANCREÁTICO DILATADO Ducto pancreático principal medindo, pelo menos, 7 mm de diâmetro Indica-se Procedimento de Puestow-Gullesby Procedimento de Frey DUCTO PANCREÁTICO SEM DILATAÇÃO Indica-se Duodenopancreatectomia: procedimento de Berger Pancreatectomia distal Pancreatectomia total PROCEDIMENTO DE PUESTOW 1. abertura do ducto pancreático em sua face anterior em sua extensão longitudinal 2. Divisão do Jejuno 3. Anastomose do ducto pancreático ao jejuno (látero-lateral) Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 9 4. Jejuno-Jejuno anastomose (em Y de Roux) PROCEDIMENTO DE FREY 1. Abertura do ducto pancreático em sua face anterior em sua extensão longitudinal 2. Ressecção do tecido fibrótico na cabeça do pâncreas em sua porção anterior, deixando 1 cm de tecido pancreático ao longo da borda duodenal 3. Divisão do Jejuno 4. Anastomose do ducto pancreático ao jejuno (látero-lateral) 5. Jejuno-Jejuno anastomose (em Y de Roux) DUODENOPANCREATECTOMIA Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 10 Indicada nos pacientes com obstrução duodenal ou biliar e/ou inflamação na cabeça do pâncreas RESSECÇÃO DA CABEÇA PANCREÁTICA COM PRESERVAÇÃO DUODENAL (PROCEDIMENTO DE BERGER) 1. Secção do colo do pâncreas 2. Ressecção subtotal da cabeça pancreática, mantendo uma borda de parênquima pancreático que contenha o suprimento sanguíneo da arcada duodenal e a via biliar intacta 3. Anastomose pancreatojejunal em Y de Roux PANCREATECTOMIA DISTAL Indicada para pacientes com pancreatite crônica e doença localizada no corpo e cauda do pâncreas PANCREATECTOMIA TOTAL Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 11 A cirurgia consiste em ressecar todoo parênquima pancreático e duodeno, bem como anastomose gastrojejunal e coledocojejunal COMPLICAÇÕES PSEUDOCISTO PANCREÁTICO Coleção fluida sem conteúdo sólido, formada por paredes bem definidas de fibrose, restos inflamatórios e tecido de granulação Ocorre em cerca de 10% a 40% OBSTRUÇÃO DUODENAL Ocorre em 5% a 10%, apresentando clínica de dor abdominal pós- prandial e saciedade precoce OBSTRUÇÃO DO DUCTO BILIAR Ocorre em 5% a 10%, cursando com dor abdominal, icterícia, colestase e até mesmo cirrose biliar PSEUDOANEURISMA Pancreatite Crônica - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 12 A artéria mais comumente afetada pelo pseudoaneurisma pancreático é a artéria esplênica (40% dos casos), seguida pela artéria gastroduodenal (30%) DERRAMES INTRACAVITÁRIOS Pode cursar com derrame pleural e ascite secundários à ruptura do ducto pancreático, com formação de fístulas para cavidade pleural ou peritoneal, ou à ruptura de pseudocisto com derramamento de seu conteúdo para as respectivas cavidades TROMBOSE DA VEIA ESPLÊNICA Ocorre em cerca de 11% dos pacientes, cursando com hipertensão no sistema porta e, consequentemente, varizes gástricas INSUFICIÊNCIA PANCREÁTICA ENDÓCRINA Após anos de pancreatite crônica, 30% a 50% evoluem com insuficiência pancreática endócrina, manifestando-se a DM CÂNCER DE PÂNCREAS Paciente com pancreatite crônica apresenta risco aumentado de evolução para câncer de pâncreas devido à inflamação crônica do pâncreas
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