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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 214 U n id ad e D • A au ro ra d os t em po s m od er no s A Revolução Científica Entre os séculos XVI e XVII, uma série de desco- bertas, experiências científicas e reflexões filosóficas mudaram radicalmente a maneira como as pessoas viam a natureza e o conhecimento. Esse processo, que ficou conhecido como Revolução Científica, demoliu a visão medieval que se tinha do universo e inaugurou uma nova fase na história humana, na qual a ciência e a razão tornaram-se progressivamente valores domi- nantes, colocando-se no lugar da religião e da fé. Para o homem medieval, o cosmos era visto como um todo finito, fechado e ordenado segundo a vontade de um Deus criador. De acordo com essa concepção, o universo seria formado por uma série de esferas concêntricas, feitas de cristal, sobre as quais todos os astros giravam, formando círculos perfeitos, em torno da Terra. Essa concepção de que a Terra ocupava o centro do universo é chamada geocêntrica. Essa visão permaneceu inquestionável por quase dois mil anos, até que, em 1543, o astrônomo e mate- mático polonês Nicolau Copérnico publicou o livro Sobre a revolução dos orbes celestes. Baseado em cálculos matemáticos e observações astronômicas, o modelo heliocêntrico de Copérnico sustentava que o Sol era o centro do universo. A Terra era apenas mais um astro, dentre outros, que girava em torno do Sol [doc. 8]. Galileu e Kepler No início do século XVII, o italiano Galileu Galilei aperfeiçoou o telescópio, instrumento que tornou possível comprovar empiricamente o modelo de Co- pérnico. Com o uso do telescópio, o alemão Johannes Kepler, na mesma época, descobriu que os planetas moviam-se em torno do Sol em órbitas elípticas e não circulares, e sua velocidade era proporcional a sua distância em relação ao Sol. Na teoria de Copérnico, porém, o cosmo ainda era visto como um todo fechado. Caberia ao italiano Giordano Bruno introduzir a ideia de que o universo era infinito e sem centro. Bruno foi perseguido pela Inquisição e queimado na fogueira em 1600. De acordo com a nova cosmologia desenvolvida por Galileu e Kepler, o universo não era regido pela vontade de um Deus criador, mas por leis da nature- za, fixas e imutáveis. A matemática era a linguagem básica da natureza, que permitia decifrar suas leis. A ciência, vista como investigação racional das leis da natureza, ganhou autonomia e deixou de se subordinar à religião. Por suas ideias contradizerem os dogmas da religião, muitos cientistas e intelec- tuais foram perseguidos pela Igreja [doc. 9]. DOC. 9 Células-tronco: discórdia entre religião e ciência Os conflitos entre ciência e religião continuam gerando polêmica no mundo contemporâneo. A mais recente controvérsia gira em torno do uso de células-tronco embrionárias. Leia abaixo um artigo sobre o tema publicado na imprensa. “[...] Cada vez mais pesquisas mostram que as células-tronco podem recompor tecidos danificados e, assim, teoricamente, tratar um infindável número de problemas, como alguns tipos de câncer, o mal de Parkinson e de Alzheimer, doenças degenerativas e cardíacas ou até mesmo fazer com que pessoas que sofreram lesão na coluna voltem a andar. [...] Basicamente, há dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as de embriões. [...] As células-tronco embrionárias cada vez se mostram mais eficazes para formar qualquer tecido do corpo. [...] O problema é que, para extrair a célula-tronco, o embrião é destruído. Segundo os cientistas, seriam usados apenas em- briões descartados pelas clínicas de fertilização e que, mesmo se implantados no útero de uma mulher, dificil- mente resultariam em uma gravidez. Ou seja, embriões que provavelmente nunca se desenvolverão. Porém, essa ideia esbarra na oposição de setores religiosos e grupos antiaborto que consideram que a vida começa no momento da concepção.” MEDEIROS, Leonardo. Entenda a polêmica sobre as células-tronco. In: Folha de S.Paulo, 13 mar. 2004. 1. Na sua opinião, que sentimentos o rosto da Giocon- da expressa na pintura? Como a técnica do sfumato possibilita a percepção desse sentimento [doc. 5]? 2. Quais características da pintura renascentista pode- mos perceber nessa obra [doc. 6]? QUESTÕES DOC. 8 Harmonia macrocosmica, de Andreas Cellarius, 1660. Biblioteca Nacional da França, Paris. Representação do universo segundo a concepção heliocêntrica de Copérnico. HIST_PLUS_UN_D_CAP_10.indd 214 19.08.10 16:13:18 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 215 C ap ít u lo 1 0 • A ci vi liz aç ão d o R en as ci m en to Seção 10.2 Objetivo Entender o contexto das explorações marítimas europeias e suas consequências. Termos e conceitos • Expansão marítima • Índias A expansão marítima europeia As grandes navegações Até o século XV, a informação que os europeus tinham sobre o mundo era bastante limitada. Os mapas usados pelos navegadores eram imprecisos e deles só constava a Europa, a parte conhecida da Ásia e o norte da África. O restante do globo permanecia desconhecido. Viagens transoceânicas eram consideradas impossíveis. Devido à tecnologia naval rudimentar e aos precários instrumentos de navegação, as embarcações só navegavam perto do litoral. Essa situação modificou-se com o desenvolvimento das caravelas pelos portugueses e o aperfeiçoamento dos instrumentos de navegação. Os nave- gadores podiam determinar sua posição no mar utilizando a bússola magné- tica, o astrolábio (que media a altura do Sol ao meio-dia) e o quadrante (que determinava a altura das estrelas). Outra inovação foi a projeção de mapas mais precisos com a utilização de um sistema de coordenadas verticais e horizontais [doc. 1]. Somente os avanços técnicos, contudo, não são suficientes para explicar a expansão marítima. Para financiar viagens transoceânicas, eram necessárias grandes somas de capital. Os mercadores privados não tinham condições de financiar empreendimentos tão caros e arriscados. Para isso, era indispensá- vel o apoio de um Estado forte e centralizado. A unificação precoce de Portugal, com a Revolução de Avis, de 1385, deu aos portugueses a possibilidade de sair na dianteira nos empreendimentos marítimos. A expansão marítima portuguesa pode ser entendida como parte do con- texto maior de expansão comercial da Europa que estava em curso desde o final da Idade Média. No entanto, o que diferenciava Portugal, e mais tarde a Espanha, das demais nações europeias era o fato de os empreendimentos marítimos terem sido obra do Estado e não da ação de particulares. Nesse sentido, a Coroa assumiu um papel ativo nessa empreitada que, durante muito tempo, foi a principal atividade econômica de Portugal. DOC. 1 Os mapas medievais e os mapas modernos O matemático e geógrafo fla- menco Gerardo Mercator foi fun- damental para o desenvolvimento da cartografia no século XVI. Para projetar o globo terrestre, Mer- cator utilizava uma técnica que resultava em algumas distorções nas dimensões dos territórios, sobretudo nos polos. Mesmo as- sim, seus mapas revolucionaram a cartografia da época e foram muito usados pelos viajantes e aventureiros europeus durante o auge das grandes expedições marítimas. Orbis Terral Compendiosa, o mapa-múndi de Mercator, 1587. Biblioteca Britânica, Londres. Conteúdo digital Moderna PLUS http:// www.modernaplus.com.br Mapa animado: Expansionismo luso-espanhol HIST_PLUS_UN_D_CAP_10.indd 215 19.08.10 16:13:19 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 216 U n id ad e D • A au ro ra d os t em po s m oder no s A expansão portuguesa Com a tecnologia naval desenvolvida no período, os portugueses começaram a explorar a África, es- tabelecendo uma série de entrepostos no litoral do continente. Em 1486, Diogo Cão contornou o Golfo da Guiné e chegou até o Rio Congo (na atual Namíbia). Pouco depois, em 1488, o navegador Bar- tolomeu Dias contornou o Cabo da Boa Esperança, atingindo o extremo sul do continente africano. Uma década depois, Vasco da Gama chegou a Cali- cute, fundando o primeiro entreposto português na Índia. Foi também procurando outra rota atlântica para a Índia que, em 1500, Pedro Álvares Cabral chegou às terras que mais tarde fariam parte do Brasil [doc. 2]. Não há consenso entre os historiadores sobre as razões que teriam motivado e, sobretudo, conferido sucesso aos portugueses na empreitada da conquis- ta oceânica. Entre as principais razões, podemos destacar as seguintes: • A Igreja Católica legitimou a conquista. A partir de meados do século XV, bulas papais autorizaram o Reino Português a submeter e converter os po- vos conquistados, conferindo aos portugueses o monopólio da navegação, do comércio e da pesca nas áreas subjugadas. • O desejo de se apoderar do ouro da Guiné. Portugal era um dos poucos reinos da Europa que não tinham moeda nacional de ouro desde 1383. Uma das funções da moeda, além de servir como objeto de troca e como medida comum de valor, era garantir a credibilidade do dinheiro circulante, por isso simbolizava a riqueza (as reservas) de cada nação. Com o ouro vindo da África, em 1457 a Casa da Moeda de Lisboa retomou a cunhagem de moedas de ouro. • A procura do reino do Preste João. Preste João era uma figura mítica, imaginado pelos europeus como o soberano de um poderoso reino cristão nas Índias. Segundo a lenda, Preste João seria um forte aliado na luta contra os muçulmanos. • A busca de especiarias orientais. A partir da década de 1480, os portugueses passaram a se interessar mais seriamente em quebrar o mono- pólio veneziano-mameluco do comércio de espe- ciarias, feito até então por terra e através do Mar Mediterrâneo. Outros fatores que contribuíram para a construção do império marítimo português foram a superioridade dos navios portugueses (bem armados) em relação às embarcações mercantes muçulmanas (desarmadas), a habilidade em explorar as rivalidades internas nas áreas ocupadas e a capacidade de negociação dos por- tugueses, que conseguiram coop tar uma parte da elite das regiões conquistadas. Com a expansão marítimo- -comercial, os portugueses não apenas ampliaram os seus domínios, como também inauguraram as grandes viagens atlânticas e a exploração do Novo Mundo. • Índias. Termo bastante vago que se referia às terras do Oriente, entre as quais a China, o Japão e a própria Índia. • Mameluco. Nesse caso, casta militar que servia ao Império Otomano e que, mais tarde, tornou-se poderosa e dominou o Egito (séculos XIII a XVI) e a Índia durante o século XIII. M ER ID IA N O D E TO RD ES IL H A S OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICOOCEANO ATLÂNTICO ÁFRICA TERRA NOVA ÁSIAEUROPA OCEANIA AMÉRICA DO NORTE AMÉRICA DO SUL CUBA 1500 ANGOLA CABO CRUZ ARÁBIA 1503 ÍNDIA 1498 HISPANIOLA CHINA 1513 JAPÃO 1543 Lisboa CABO DA BOA ESPERANÇA Porto Seguro Calicute MADAGASCAR GROENLÂNDIA Constantinopla 1487 Viagem de Bartolomeu Dias, 1487/1488 Viagem de Diogo Cão, 1485/1486 Viagem de Pedro Álvares Cabral, 1500 Viagem de Vasco da Gama, 1497/1498 Fonte: PARKER, Geoffrey. Atlas Verbo de história universal. Lisboa: Verbo, 1996. p. 73; HALE, John R. Idade das explorações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 37. Grandes viagens marítimas portuguesas (séculos XV e XVI)DOC. 2 2.670 km HIST_PLUS_UN_D_CAP_10.indd 216 19.08.10 16:13:20