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Capítulo Seção 19.1 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Objetivo Explicar a formação do império comercial inglês. Termos e conceitos • Ind stria moderna • Império comercial • Gentry • Cercamentos 349 C ap ít u lo 1 9 • as e o uç es ng es as e o uç ão nd us tr ia A Inglaterra no século XVI A Inglaterra no princípio da modernidade A Inglaterra foi o primeiro país do mundo a reunir as condições neces- sárias para o desenvolvimento da ind stria moderna, na segunda metade do século XVIII. Isso se deveu a um conjunto complexo de transformações econômicas, sociais e institucionais ocorridas no país a partir do século XVI. Entre essas mudanças, podemos destacar: a expulsão dos camponeses das terras em que viviam, o trabalho assalariado como forma predominante de relação econômica, a urbanização, a constituição de um império comercial e o estabelecimento de limites ao poder absoluto dos reis. No fim do século XIV, a maior parcela da população inglesa era formada por camponeses, que eram donos das terras que cultivavam ou arrendatários de outros proprietários rurais. Cada família tinha direito a cultivar o seu lote de terra e também desfrutava das chamadas terras comuns (open fields), de uso coletivo, utilizadas como pasto e de onde retiravam lenha, turfa e outros produtos necessários para a sobrevivência. Diversas modificações econômicas, sociais e jurídicas, porém, alteraram esse quadro a partir do século XVI. Nesse período, o rei Henrique VIII, ao rom- per com a Igreja de Roma, confiscou as terras eclesiásticas e as vendeu aos proprietários rurais ingleses (classe conhecida como gentry), que puderam assim ampliar suas terras e sua influência social. Para aumentar mais ainda suas propriedades, a gentry solicitava ao Estado as chamadas cartas de cercamento (bills of enclosure), que permitiam aos grandes proprietários cercar as terras comuns e utilizá-las em benefício pró- prio. O processo de cercamentos já ocorria desde o fim da Idade Média, mas se acelerou entre os séculos XVI e XVII. As terras cercadas eram utilizadas majoritariamente como pasto para as ovelhas, cuja lã abastecia as manufa- turas de tecido, que cresciam em número e importância na Inglaterra. Consequências dos cercamentos Muitos camponeses pobres que viviam nas terras comunais foram expulsos dessas áreas pelos grandes proprietários. Já os camponeses que dispunham de pequenos lotes foram obrigados a vender suas terras a preços irrisórios ou foram realocados para as áreas mais improdutivas dos terrenos. A pau- perização da população que vivia nos campos, o despovoamento de vilas e a destruição de orestas para dar ugar s pastagens oram conse u ncias importantes do processo de cercamentos. Apesar da oposição de vários setores da sociedade inglesa aos cerca- mentos, eles não foram revertidos, o que resultou em grande agitação social. Revoltas rurais e urbanas estouraram em várias regiões da Inglaterra. Além disso, muitos camponeses expulsos de suas terras se transformaram em desocupados, formando uma população flutuante que vagava sem destino pelas vilas e cidades inglesas. Outro importante resultado do processo de cercamentos na Inglaterra foi a organização de uma agricultura voltada para o mercado e assentada em bases capitalistas. Os grandes proprietários arrendavam a terra a um intermediário, que contratava mão de obra (ex-camponeses ou camponeses em vias de serem expropriados) para trabalhar na lavoura ou nas pastagens. Para maximizar seus lucros e minimizar os custos de produção, o arrendatário procurava pagar o menos possível para os trabalhadores produzirem mais e a baixo custo. Vocabulário histórico Ind stria Atividade produtiva que transforma matérias-primas em mercadorias com o auxílio de ferramentas e máquinas. Pode-se entender por indús- tria desde a fabricação de produtos artesanais, volta- dos para o consumo próprio, até a produção de mercado- rias que exigem alto grau de desenvolvimento tecnológico, como robôs, computadores e equipamentos eletrônicos diversos. A indústria moder- na surgiu no século XVIII e caracteriza-se, entre outros aspectos, pela racionalização do processo produtivo e pela mecanização da produção, cujo resultado mais expressi- vo é a produção em massa de objetos padronizados. Gentry Categoria social heterogê- nea, geralmente associada aos proprietários de terra, mas que incluía elementos oriundos de outras camadas sociais. A palavra deriva de gentleman (cavalheiro, fidal- go, gentil-homem). Para ser gentleman era preciso ter uma vida gentil, isto é, isenta do tra- balho manual e de suas penas. Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, para alguém se tornar membro da gentry, bastava possuir riqueza, um brasão e estar disposto a comprar uma propriedade rural. HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 349 11/11/10 14:15:54 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 350 U n id ad e F • m a er a de r e o uç es e t ra ns or m aç es As leis contra a vadiagem Para reprimir o descontentamento com as mu- danças no campo e obrigar a população desocupada a trabalhar, o Estado impôs diversas leis contra a aga undagem e a mendic ncia ma ei de enri ue VIII, promulgada em 1530, concedia licença para mendigar apenas aos idosos e incapacitados. Os ho- mens sadios que não trabalhavam eram condenados a serem açoitados publicamente e encarcerados. Na primeira reincidência, além do açoite público, tinham metade da orelha cortada. Se reincidissem novamente, eram considerados criminosos irrecu- peráveis e enforcados em praça pública. Novas leis, promulgadas em 1547 e 1572, tornavam ainda mais duras as penalidades. Agora, aquele que se recusasse a trabalhar era condenado a ser escravo de quem o denunciou, que podia açoitá-lo, obrigá-lo a realizar qualquer trabalho, até os mais degradantes, e acorrentá-lo. Caso o condenado tentasse fugir, era escravizado pelo resto da vida e marcado com a letra S (de slave, “escravo”, em inglês) na testa e nas costas. Se reincidisse ou atacasse seu senhor, era en- forcado como traidor. Os desocupados encarcerados e considerados “incorrigíveis” eram mandados para casas de trabalho forçado (workhouses) por perío- dos que variavam de seis meses a dois anos. Caso reincidissem e fossem surpreendidos mendigando, acabavam irremediavelmente na forca. A formação do império comercial inglês Nos reinados de Henrique VIII (1491-1547) e de sua filha Elizabeth I (1533-1603), a autoridade monárquica foi reforçada, com o objetivo de aumentar a riqueza e o poder do reino. Nesse processo, a participação da marinha inglesa foi fundamental. Os navios ingleses foram modernizados e equipados com armas de fogo de longo alcance. A vitória da marinha inglesa sobre a chamada “invencível armada” espanhola, a maior e mais bem equipada frota de navios da época, em 1588, mostra como a Inglaterra havia se tornado uma potência marítima e uma ameaça ao predomínio espanhol e português dos mares [doc. 1]. Outro reforço para o poderio da monarquia foi a política de concessão de monopólios comerciais. As companhias privilegiadas, formadas por membros da alta burguesia, monopolizavam as relações co- merciais de determinada região ou a exploração de um setor econômico. O objetivo dessa política era encontrar fornecedores de matérias-primas baratas e conquistar mercados para as manufaturas inglesas. O maior exemplo dessa política foi a fundação da Companhia das Índias Orientais. 1. Caracterize o processo de cercamento ocorrido na Inglaterra. 2. O que representou a vitória da marinha inglesa con- tra a armada espanhola? 3. Cite as principais bases do império comercial inglês. QUESTÕES A rainha Elizabeth I também estimulou a piratariaconcedendo as cartas de corso, um documento decla- rando que os piratas, chamados corsários, atuavam a serviço da Coroa. O corsário inglês Francis Drake ficou famoso por atacar galeões espanhóis carregados de metais retirados das colônias hispânicas na América. A derrota espanhola Em 1585, sob pretexto de defender os Países Baixos da dominação espanhola, Elizabeth I de- c arou guerra span a e ento mais marcante do conflito foi a derrota da armada espanhola, em 1588. Os estaleiros ingleses haviam aperfeiçoado o desenho dos galeões portugueses e espanhóis e criado navios de grande capacidade de manobra, munidos de canhões de longa distância. Mesmo em inferioridade numérica (eram sessenta navios da Inglaterra contra 130 da Espanha), os ingleses obtiveram uma vitória bastante expressiva. DOC. 1 A armada espanhola, gravura colorizada no século XIX a partir de desenho do século XVI. A derrota da “invencível armada espanhola” marcou a ascensão do domínio ultramarino inglês. HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 350 11/11/10 14:15:56 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Seção 19.2 Objetivos Compreender as motivações para as Revoluções Inglesas e as mudanças que elas desencadearam na Inglaterra. Avaliar a importância da Revolução Industrial e identificar os resultados que produziu. Termos e conceitos • Monar uia absolutista • Revolução uritana • Atos de navegação • Revolução Gloriosa 351 C ap ít u lo 1 9 • as e o uç es ng es as e o uç ão nd us tr ia A crise do absolutismo inglês O início da era Stuart A rainha Elizabeth I morreu em 1603, sem deixar herdeiros. Jaime IV, primo de Elizabeth e rei da Escócia, assumiu o trono inglês e adotou o nome de Jaime I. Iniciava-se, assim, a dinastia Stuart. Ao contrário dos reinados anteriores de Henrique VIII e de Elizabeth I, em que o soberano governava com o apoio do Parlamento, Jaime I tentou fazer valer a doutrina do direito divino dos reis, que legitimava as monarquias absolutistas. A atitude do novo rei mostrou-se um grande erro político, pois nessa época o Parlamento inglês havia se tornado uma instituição muito atuante [doc. 1]. Formado pela nobreza fundiária e pelos grandes negociantes, o Parlamento a ia se a ituado a isca i ar e até a a er cr ticas atuação da oroa as monarquias absolutistas tradicionais, como a França de Luís XIV, o Parlamento, chamado de Estados Gerais, era apenas um órgão consultivo, sem poder real, convocado esporadicamente para sancionar certas decisões da Coroa. Na Inglaterra, ao contrário, o Parlamento era uma instituição forte e restringia o poder da monarquia, que não podia governar de forma absoluta. No início do século XVII, a inflação, resultante do afluxo contínuo de me- tais preciosos vindos da América, e os gastos com a guerra contra a Espanha DOC. 1 Rainha Elizabeth I da Inglaterra e Irlanda presidindo o Parlamento, gravura de 1608. O reinado de Elizabeth I foi marcado por um grande desenvolvimento econômico da Inglaterra. Vocabulário histórico Parlamento Desde a assinatura da Magna Carta, em 1215, os reis tinham de consultar o chamado Conselho Real para aprovar impostos e taxas. No fim do século XIII, o con- selho real passou a chamar-se Parlamento, e era eleito entre os nobres e proprietários de terra do reino. A partir do século XIV, o Parlamento foi dividido em duas casas: a Câmara dos Lordes, representando a nobreza e o alto clero, e a Câmara dos Comuns, representando os homens livres que fossem proprietários de terras. Em tese, nenhuma lei ou taxa poderia ser proposta sem a aprovação de ambas as casas do Parlamento. haviam esvaziado os cofres da Coroa. Diante das negativas do Parlamento em aprovar os pedidos de verbas e de aumento de impostos, solicitados por Jaime I, o monarca o dissolveu, em 1610, e passou a controlar o país como soberano abso- luto até 1621. Ao governar sem o Parlamento, porém, Jaime I ganhou a antipatia da nobreza e da burguesia, que eram majoritariamente calvinistas. Para obter renda para o Estado, Jaime I recorreu a políticas mercantilistas, como a imposição de tarifas protecionistas, a ven- da de monop ios o est mu o pirataria e a criação de novos impostos. Outro expediente de que lançou mão e que lhe valeu ainda mais críticas foi a venda indiscriminada de cargos e honrarias. Sua política externa de aproximação com a Espanha gerava desconfiança crescente entre os calvinistas, que o acusavam de privi- legiar os católicos. HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 351 11/11/10 14:15:58