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N 3 (PEDRA NEGRA)

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O vocabulário quimbundo, é 
evidentemente lacunoso e 
como acredito que seja a pri-
meira tentativa feita no Brasil 
com o fim de recolher esse im-
portante material etnográfico, 
penso que prestará algum ser-
viço aos estudiosos do assunto 
e concorra para trabalho mais 
amplo exigido pela afrologia 
brasileira. 
O vocabulário que apre-
sento aos estudiosos brasilei-
ros é evidentemente lacunoso, 
mas já constitui uma contribui-
ção aqueles que melhor apare-
lhados quiserem completa-lo, 
 
 
ampliando o número de pala-
vras e retificando-lhe a pro-
nuncia e a significação. Princi-
palmente a pronúncia que va-
ria de pessoa a pessoa e a 
gente não pode fixa-la porque 
não tem um ponto de referên-
cia na literatura escrita, que a 
língua não possui. 
O quimbundo, ou “undaca 
de quimbundo”, que conhece-
mos, é um dialeto congoês 
que, em presença do novo 
meio onde se expandiu, há de 
ter se modificado bastante em 
relação à pureza original. Mas 
é justamente por esse motivo 
 
 
que ele mais nos interessa. Por 
essa transformação operada 
com o fim de servir de expres-
são num ambiente estranho 
aquele em que se gerou, adap-
tando-se e vincando a língua 
do Brasil. 
E o vocabulário que organi-
zei, com o auxílio do preto Ma-
nuel da Cruz, e dos srs. Serjo-
bes Augusto de Faria, de Ita-
úna, oeste de Minas, e José 
Aristides de Sales e João Jus-
tino, de Belo Horizonte, fixa 
justamente esse momento de 
transformação que a “undaca” 
sofreu em presença do meio 
brasileiro. 
PEDRA NEGRA 
2 
 
O município de Itaúna, sob o 
ponto de vista dos estudos ne-
gros, é uma região, digna de 
apreço, antes que desapare-
çam os últimos vestígios quim-
bundos que ali tiveram mar-
cada importância. São comuns 
na toponímia do município as 
palavras bántus como Ca-
tumba, Calambau, Caxambú, 
Marimbondo, Cafuringa, etc. 
E é coisa curiosa a examinar o 
povoado do Catumba, que se 
me afigura às ruínas de consi-
derável quilombo. Ainda hoje 
só é habitado por pretos que só 
falam entre si o quimbundo 
[...]. 
Ainda me lembro bem de vá-
rios tipos populares negros, 
hoje desaparecidos, que ser-
viam de troça para os mole-
ques de Itaúna. Eram pretos de 
ascendência africana, si não di-
reta, pelo menos muito pró-
xima. 
E como era costume aditar ao 
nome do negro o da nação a 
que pertencia, chamavam a es-
ses pretos Vicente Bunda[1], 
Chico Bié, Cristina Bunduda, 
sendo que está me parece Ka-
kuana, pela pequena estatura 
e a monstruosa esteatopigia[2] 
que apresentava. 
Língua de formação bem rudi-
mentar ainda, o congoês, pelos 
seus dialetos, não possui os 
atributos e as flexões que apre-
sentam as línguas mais evoluí-
das como o português. 
Por isso, o quimbundo que sur-
preendi em Minas recorre 
sempre ao português nos casos 
em que o dialeto não possui re-
curso para a expressão. Estão 
neste caso os artigos demons-
trativos, as conjunções, etc. 
 
Aliás, utilizam esses recursos 
em casos absolutamente indis-
pensáveis por motivo de cla-
reza. O dialeto não os possui. 
Quando querem dizer: - “ O 
João fala muito bem a língua de 
preto”, se expressam assim: - 
“João oméra navuro quiapos-
sóca undaca de quimbundo”. 
A formação do feminino tam-
bém é de simplicidade infantil. 
Resume-se em ajuntar a pala-
vra - mulher (ocaia ou man-
dumba) ao subistantivo a ser 
modificado: - rei (vicóra), Rai-
nha (ocaia do vicóra) – mulher 
do rei. Porco (camguro), porca 
(mandumba do canguro) [3]. 
O número de verbos é reduzi-
díssimo e nunca flexionam 
para as diversas expressões de 
tempo e modo. A compreen-
são exata da frase se consegue 
pelo assunto de que trata a 
oração. Cachia, por exemplo, é 
o infinito do verbo chegar. 
E a frase: O cuêto vindêro ca-
chia no curimã, que dizer: - o 
 
 
branco está chegando no ser-
viço ... 
 
[1] É interessante o fenômeno 
que se deu com esta palavra no 
Brasil. Bunda ou M’bunda pe 
adjetivo gentílico de um povo 
bántu. Por extensão, emprega-
vam-na com a significação de 
ruim, feio, reles, inferior. E por 
isso é empregada vulgarmente 
para designar a anatomia pos-
terior aos ossos da bacia (náde-
gas) ... 
 
[2] Esteatopigia é um termo 
médico que define o acúmulo 
de gordura nas nádegas. 
 
[3] Quer me parecer que man-
dumba eles empregam quando 
se tratam de irracionais e vi-
córa quando de gente. 
 
 
3 
 
CATUMBRA 
Entre os municípios Itaúna e Pará de Minas Rodovia MG-431 
 
NO IMAGINÁRIO DO CATUMBA 
Ainda hoje chamam o lugar de Catumba dos Pretos (parte inferior) e Catumba dos Brancos (parte superior). 
Segundo moradores ficou conhecido assim, porque os brancos iam comprando as terras dos pretos. 
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(são mais de 150 palavras de A a U) 
 
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REFERÊNCIAS: 
Parte do texto: FILHO, João Dornas. A Influência Social do Negro Brasileiro. 
Ed. Guaíra, São Paulo, 1942, p.71-72 -74. 
Pesquisa, Organização, Arte e Fotografia: Charles Aquino. 
Acervo: Prof. Marco Elísio, Charles Aquino, SIAAPM: 
 http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/brtbusca/index.php?action=results&query=DORNAS 
 
 
 
 
Edição Tabloide Histórico: 
Charles Galvão de Aquino - Historiador Registro Nº343/MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
´ 
PEDRA NEGRA 
HISTÓRIA & MEMÓRIA 
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/brtbusca/index.php?action=results&query=DORNAS