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N 5 (PEDRA NEGRA)


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Segundo o itaunense e gene-
alogista Guaracy de Castro No-
gueira, na margem esquerda do 
rio São João, adjacente à vila da 
Beira do Rio, no município de 
Itaúna/MG, estendia-se uma sig-
nificativa extensão de terreno 
cultivado, delimitada por um 
“antigo muro de pedras”. 
Este local abrigou a família 
Rodrigues, remanescente de 
quilombo, constituída inteira-
mente por afrodescendentes. As 
visitas a este local revelaram 
algo verdadeiramente extraordi-
nário para a nossa região em 
meados do século XX. Neste re-
fúgio isolado residiam várias 
 
famílias, todas unidas pelo san-
gue partilhado e por vestígios tê-
nues da sua herança africana. O 
mais velho deles era Belmiro, 
que ocupava o estimado cargo 
de patriarca, respeitado por to-
dos. O genealogista ressalta que 
o patriarca revelou várias histó-
rias de outros antepassados da 
mesma linhagem que outrora 
habitaram esta mesma terra, 
embora as suas identidades per-
manecessem envoltas em misté-
rio. 
A própria terra ostentava 
solo fértil e água abundante, re-
sultando em colheitas variadas. 
Sob a sábia liderança do velho 
 
Belmiro, as provisões eram dis-
tribuídas de acordo com as ne-
cessidades individuais de cada 
membro da comunidade, garan-
tindo a sua sobrevivência cole-
tiva. Os habitantes desta comu-
nidade tinham interação mínima 
com a cidade; eles eram quase 
totalmente autossuficientes. En-
volvidos em atividades como 
agricultura, colheita e tecela-
gem, não tinham interesse em 
documentos de propriedade ou 
dinheiro. Em vez disso, o seu de-
sejo era encontrar uma nova 
terra onde pudessem manter o 
seu modo de vida atual. 
 
 
PEDRA NEGRA 
 
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Guaracy, em seu caráter in-
formativo, revela que obteve 
com sucesso autorização de di-
versas empresas e procedeu à 
compra do restante da Fazenda 
do João Alves de Morais (vulgo 
João do Aarão). Neste terreno 
foram construídas seis casas, 
cada uma com sua área cercada 
e escritura oficial. Além disso, foi 
proporcionado a eles acesso à 
água, garantindo que tivessem 
tudo o que desejavam. Como 
gesto de compensação, cada ca-
sal também recebeu Cr$ 
10.0000,00 (dez mil cruzeiros) 
em 26 de janeiro de 1956. 
 
 
Em certas ocasiões, o histori-
ador atravessava o lago de 
barco, acompanhado de alguns 
amigos, e comemorava com “fo-
guetes, bebidas e biscoitos” 
junto com os quilombolas. Estas 
confraternizações festivas pro-
longavam-se até altas horas da 
manhã, com danças animadas 
no terreiro ao ritmo da cabeci-
nha de égua, acompanhadas pe-
los sons melodiosos dos oito 
contrabaixos de Vicente Ven-
tura. 
Os indivíduos expressaram 
profunda gratidão, no entanto, 
constataram de que a terra em 
si não era tão fértil como espe-
ravam. Consequentemente, to-
maram a decisão de vender suas 
propriedades. Inicialmente, 
aqueles que procuravam um re-
tiro à beira do lago eram os prin-
cipais compradores. Infeliz-
mente, a cidade não se mostrou 
benéfica para muitos deles e 
apenas alguns fizeram algum 
progresso significativo. 
Às vezes, ainda segundo Gua-
racy, recebia mensagens solici-
tando transporte de barco para 
levar Belmiro ao hospital, pois 
foi um amigo fiel até sua morte. 
A companheira de Belmiro, 
Dona Conceição, também fale-
ceu na cidade após viver uma 
vida marcante e longa ao lado 
do patriarca. 
O historiador ainda ressalta 
que as histórias de todos aque-
les habitantes permaneceram 
intacta em suas memórias, in-
cluindo Joaquim Rodrigues (vi-
úvo), João Rodrigues casado 
com Mercês Maria Rodrigues; 
Marinho Rodrigues c/c Maria 
Severina de Jesus; Francisco Ro-
drigues c/c Vicentina Rodrigues 
de Paula; José Rodrigues c/c Ma-
ria Alves Rodrigues; Divino Ro-
drigues c/c Raimunda Vieira Ro-
drigues, bem como outros indi-
víduos ainda menores de idade. 
Destaca que se tratava de 
pessoas de bom caráter, honra-
dos, humildes, indiferentes às 
agruras da vida, exemplificando 
a natureza pacífica e vida dinâ-
mica daqueles verdadeiros qui-
lombolas.
 
3 
HIPÓTESE 
Após realizar uma breve investigação sobre o líder quilombola Belmiro, estou confiante de que 
as informações que encontrei estão alinhadas com as conclusões do pesquisador Guaracy. Para 
verificar ainda mais a veracidade, seria necessário o acesso às escrituras de terra daquela época. 
Com base nos documentos que examinei posso fornecer os seguintes dados: o nome completo 
do patriarca era Belmiro Severino Rodrigues, natural de Itaúna. Faleceu em 17 de abril de 1968, 
aos 78 anos, no dia seguinte foi sepultado no Cemitério Central do município de Itaúna. O registro 
de óbito o categoriza como filho de Carlota de tal, o que é bastante intrigante. Vale ressaltar que 
o nascimento de Belmiro ocorreu por volta de 1890, período pós-abolição. A partir disto, pode-
se razoavelmente presumir que a sua mãe provavelmente tinha sido escravizada antes deste ato 
significativo de mobilização. 
 
 
 
Referências: 
Pesquisa e organização: Charles Aquino - Historiador Registro Profissional nº 343/MG 
Fonte Impressa: NOGUEIRA, Guaracy de Castro. In Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em deta-
lhes. Ed. Jornal Folha do Povo, 2003, fascículo 34. 
Imagem Ilustrativa: Autor Johann Moritz Rugendas, Escravidão, Habitation de négres, 1827. Brasiliana 
Iconográfica, Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana/Fundação Estudar. 
Doação da Fundação Estudar, 2007. Disponível em: https://www.brasilianaiconogra-
fica.art.br/obras/19497/habitation-de-negres 
Imagem Ilustrativa: Victor Frond, Escravidão, Négresse de la roca, Acervo: Coleção Brasiliana Itaú, 1861. 
Disponível em: https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/18406/negresse-de-la-roca 
Cemitérios Municipais: Prefeitura Municipal de Itaúna. Registro de óbito. Disponível em: 
https://www.itauna.mg.gov.br/portal/cemiterios/7207/ 
Certidão de óbito MG Cidadão: Disponível em: https://cidadao.mg.gov.br/#/login 
 
 
Edição nº5 Tabloide Histórico: 
 
 
 
 
 
 
 
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PEDRA NEGRA 
HISTÓRIA & MEMÓRIA 
 Apoio Histórico & Cultural 
https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19497/habitation-de-negres
https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19497/habitation-de-negres
https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/18406/negresse-de-la-roca
https://www.itauna.mg.gov.br/portal/cemiterios/7207/
https://cidadao.mg.gov.br/#/login