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Resumo AP2 - Fundamentos da Educação 3

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Resumo AP2 - Fundamentos da Educação 3
Aula 19 - A Formação do Educador no Brasil (1835 - 1932)
● Depois de um período de grandes agitações, muitos governos buscaram estabelecer
o controle dos seus Estados. Nesse cenário, no qual as fronteiras estavam sendo
redefinidas em muitas partes do mundo ocidental, logo os governantes de países
recém fundados ou que tiveram as suas fronteiras redesenhadas, iriam descobrir na
escola uma possibilidade de moldar a identidade da nação, de canalizar tensões
através do ensino de uma língua nacional e de ideologias que fortalecessem a
identificação dos povos com um ideário de nação. A França foi precursora na
criação de um paradigma de educação escolar público de viés democrático e
influenciou o modelo escolar de muitas nações do mundo ocidental.
● A partir da primeira metade do século XIX o Brasil recebe a influência do modelo
escolar francês através de uma perspectiva bem própria. Nesse mesmo período
muitos países da Europa vivem uma efervescência política que se traduz na
formação de vários movimentos que, em princípio, buscavam a constituição de
nações em torno de ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, lemas principais
da Revolução Francesa.
● A primeira metade do século XIX, no Brasil, foi marcada pela abdicação de D. Pedro
I em favor de seu filho e a necessidade de se consolidar a independência,
trabalhando em prol da soberania nacional. Já na segunda metade do século XIX, o
Brasil foi marcado pela proclamação do fim da escravidão dos negros (lei Áurea ou
Lei imperial n. 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888) e pela proclamação da
República através de levante militar em 15 de novembro de 1889. Prestem atenção,
no entanto, que as primeiras escolas normais no Brasil são fundadas entre 1835 e
1846, ou seja, embora tenham sido incorporadas pela República, elas nascem da
necessidade de educar as elites do império em um tempo em que a escravidão
ainda estava longe de acabar. Embora influenciadas pelo modelo francês, essas
escolas não surgem em um ambiente democrático de educação para todos os
cidadãos. A escola de formação de professores é fundada no Brasil com o objetivo
de se evitar a barbárie através do ensino de normas civilizatórias e consolidar,
através da formação de cidadãos, a fundação do recém-nascido Estado Nacional. A
questão da moral, da índole, pesava muito mais ao candidato(a) ao curso normal do
que o seu conhecimento.
Aula 20 - A Formação do Educador no Brasil (1932 - 2000)
● Um dos eventos mais importantes na área de formação de professores na primeira
metade do século XX foi a criação do Instituto de Educação no Rio de Janeiro. Esse
instituto foi pioneiro por sua estruturação do ensino de formação de professor e,
também, por ter sido o primeiro centro de pesquisas sobre educação no país de que
se tem notícia. Em nossa aula vocês encontrarão uma ótima descrição da estrutura
e do funcionamento do Instituto, por isso não me deterei muito em descrevê-lo aqui.
É importante ressaltar, no entanto, que o Instituto, embora tenha surgido como
necessidade das demandas do início do século XX, foi fruto da mente preparada e
do trabalho persistente de Anísio Teixeira. A sua obra é prova de que, sem sombra
de dúvidas, ele é um dos maiores educadores do século XX. Uma das principais
características de Anísio Teixeira era o estudo profundo dos problemas ligados à
educação juntamente com a sua ação em diferentes frentes do trabalho educativo,
seja no âmbito da administração, na sala de aula ou na pesquisa.
Aula 21 e 22 - A Feminização do Trabalho Docente - Século XIX
● Uma das características que regiam a formação dos Estados no período das
grandes revoluções, principalmente aqueles de orientação republicana, era a
necessidade de se constituir uma escola que atendesse às suas demandas
civilizatórias, para isso era necessário o estabelecimento de uma escola laica, ou
seja, sem conotação ou ligação com a igreja. Essa desvinculação ganha impulso
com a expulsão dos Jesuítas do Reino de Portugal (que incluía o Brasil) em 1759
pelo Marquês de Pombal. A insatisfação com as práticas jesuíticas que, com seu
poder, interferiam na política de vários locais, também começou a ser mal vista em
outros países europeus. Assim, os Jesuítas foram expulsos de vários reinos da
Europa, da península itálica (Napoli, Parma e Piacenza no mesmo ano de 1759), da
França em 1762, da Sardenha em 1773 e de outros países ao longo do tempo. Um
problema com essa expulsão dos jesuítas é que eles não foram prontamente
substituídos, não havia professores formados para, de imediato, realizar a
substituição.
● Foi a partir desses acontecimentos que começam a surgir professores não ligados à
igreja. No Brasil, além de professores não ligados à ordens religiosas, outras ordens
religiosas como, por exemplo, a dos beneditinos foram autorizados a ensinar. No
entanto, a prática e o acesso ao ensino era ainda um privilégio do mundo masculino.
Nas sociedade patriarcais, somente os homens, em princípio, precisam ser
educados para atuarem na esfera pública, enquanto que as mulheres deveriam se
restringir à apreensão de saberes para atuar exclusivamente no mundo privado.
Saberes como a leitura, a escrita e outras matérias não eram entendidos como
necessários às práticas domésticas. Apenas em 15 de outubro de 1827 foi aprovada
uma lei que permitia à mulheres o direito à educação elementar e a possibilidade de
atuarem como professoras primárias. É bom lembrar que havia muitas restrições, a
maioria delas de cunho moral ou cultural, para que as mulheres pudessem fazer
parte do mundo da escola, seja como alunas, seja como professoras.
● Com a entrada das mulheres no mundo da escola e com diversas transformações
sociais pelas quais o mundo passou, vai-se construindo, aos poucos, o mito de que
a educação está relacionada à maternidade, à domesticidade. Com a expansão da
rede de ensino básico, a partir da segunda metade do século XIX, a feminização da
educação ganha impulso.
● Com a expansão da rede de ensino no Brasil (e em vários lugares do mundo) e o
aumento dos custos para a manutenção do sistema, o salário dos professores sofreu
forte queda. Assim, os homens, geralmente, pais de família, preferiam se dedicar a
profissões mais lucrativas. As mulheres ocuparam cada vez mais esse espaço
devido, não apenas ao baixo salário (em geral, a sociedade entendia que ela apenas
iria ajudar na economia familiar que, ao menos em tese, tinha o homem como o seu
provedor principal), mas também por ser um dos poucos espaços para a atuação
profissional da mulher. Além disso, a sociedade da época entendia que a mulher era
mais apropriada para cuidar da educação inicial, devido à considerarem que a
mulher seria inclinada naturalmente à educação.
Aula 23 - As Condições de Trabalho Docente nos Diferentes
Tempos Históricos - Do Século XVII ao Século XIX
● O conceito de hegemonia foi inicialmente elaborado pelo pensador, professor e
político italiano Antonio Gramsci para definir a supremacia de uma classe ou povo
sobre outro através de várias estratégias que podem ir da destruição provocadas
pelas mais diferentes armas aos mecanismos de convencimento como a
propaganda, por exemplo. A ideologia é um conceito com muitas possibilidades
interpretativas, dependendo do uso, da escola filosófica, etc. Em seu Dicionário
Básico de Filosofia (Jorge Zahar editor, 1990:136) Japiassú e Marcondes trazem,
dentre outras, uma definição que podemos utilizar aqui:
● “O termo “ideologia” é amplamente utilizado, sobretudo por influência do
pensamento de Marx, na filosofia e nas ciências humanas e sociais em geral,
significando o processo de racionalização – um autêntico mecanismo de defesa –
dos interesses de uma classe ou grupo dominante. Tem por objetivo justificar o
domínio exercido e manter coesa a sociedade, apresentando o real como
homogêneo, a sociedade como indivisa, permitindo com isso evitar os conflitos e
exercer a dominação”.
● Outros destaques da aula de hoje são a referência à luta dos professores da cidade
de Chicago,Estados Unidos, já em 1897, em prol de melhores salários, melhores
condições de trabalho e de aposentadoria digna e o enfoque em alguns aspectos da
escola brasileira.
Aula 24 - As Condições de Trabalho Docente nos Diferentes
Tempos Históricos - Século XX
● 1) Estado Educador: O que estamos chamando de Estado Educador se configura,
principalmente, entre o final do século XVIII e em grande parte do século XIX, mas
veremos que em muitos países esse processo se estende até parte do século XX.
Nesse paradigma, o Estado era centralizador, o seu papel é politico e cultural.
Buscava-se através da escola pública gratuita criar uma identidade nacional.
● Como vimos em aulas anteriores, o Estado Educador nasce, principalmente, sob
influência da escola francesa, como resultado da expulsão dos jesuítas em 1759 do
Reino de Portugal e do Brasil pelo Marquês de Pombal e de outros países. No
mesmo ano do reino de Napoli, e do ducado de Parma e Piacenza, da França em
1762, da Sardenha em 1773, etc.
No contexto da passagem do século XIX para o XX a escola se constitui como um
aparato central do Estado para a formação de cidadãos.
● 2) Estado Desenvolvimentista: O Estado Desenvolvimentista se desenvolve,
sobretudo, depois da Primeira Guerra mundial e se caracteriza, principalmente, pela
industrialização da economia. Nesse contexto, a escola assume um papel de
formação para o mundo do trabalho.
● A escola desenvolvimentista no Brasil pode ser dividida em três fases:
● I. Com o governo de Vargas. Este período pode ser dividido em várias fases, mas,
essencialmente, se caracterizou por ter sido período no qual, entre outros, aspectos,
a escola pública assume um alto controle sobre todo ensino fundamental e médio.
● II. A Escola da República Pós Estado Novo (Pós segunda Guerra). Este período se
caracteriza, pela preocupação com a formação do professor e com o
desenvolvimento de espaços democráticos de ensino (destaque para projetos de
socialização da educação, com destaque para o trabalho de Paulo Freire).
● III. A Escola do Período da ditadura militar. Este momento se caracterizou por uma
abordagem tecnicista do ensino/aprendizagem e pelo controle rígido das instituições
educacionais.
● O período pós ditadura militar (década de oitenta) se caracteriza, por de uma
reconstrução gradual da autonomia da escola. Nota-se neste período o trabalho para
que a escola se adapte ao modelo democrático
● 3) O Estado Regulador é fruto das políticas neoliberais de redução do Estado. Nesse
contexto, a escola recebe menos investimento por parte do Estado e se dá a
mercantilização da educação.
● Hoje a escola deve reencontrar o seu sentido. Evitar ser um sofrimento geral.
Sofrimento de professores, pais e, principalmente, de alunos. Educação, como já
apregoava Teixeira (2007) é um direito fundamental de ser educado, não se trata de
um mercadoria.
● A volta do Estado é favorável à luta dos professores e contra a mercantilização da
escola que deve buscar ser um espaço de construção de uma mensagem ética que
une esforço, empenho e trabalho em busca da transformação humana dentro de
uma perspectiva democrática.
● Como tenho enfatizado no decorrer do curso, até de forma repetitiva, é necessário
uma educação integral para a vida, muito além das forças destrutivas dos interesses
do capital que hoje ameaçam a estabilidade de tantos povos.
Aula 25 - O Jogo das Representações Mútuas - Como Professores
e Alunos Percebem Seus Papéis Sociais
● A partir de uma perspectiva histórica, você irá perceber que, ao longo do tempo, em
várias sociedades, a educação, sempre esteve atrelada a algum tipo de violência.
Muitas vezes, a ideia de disciplina está associada à punição e ao que o pensador,
pesquisador e pesquisador francês Michel Foucault chamou de “corpo disciplinado”.
Ele (cf. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, 1977:138-9) observa que, dentro desta
perspectiva, “o corpo e o gesto são postos em correlação: o controle disciplinar não
consiste simplesmente em ensinar ou impor uma série de gestos definidos; impõe a
melhor relação entre um gesto e a atitude global do corpo, que é a sua condição de
eficácia e de rapidez. (...) Um corpo bem disciplinado forma o contexto de realização
do mínimo gesto. Uma boa caligrafia, por exemplo, supõe uma ginástica – uma
rotina cujo rigoroso código abrange o corpo por inteiro, da ponta do pé à
extremidade do indicador (...)” e aqueles que não se encaixam dentro dessa (e de
outras) disciplinas devem ser punidos. Alguns dos exemplos trazidos por Foucault
em sua pesquisa podem não mais estar associados com práticas atuais de
educação, mas como nos informa Perissé (2002), cujo texto está citado em nossa
aula de hoje, a violência ainda está presente na escola de diversas formas. Se no
passado os professores se utilizavam de práticas violentas e de instrumentos como
a palmatória, hoje eles se utilizam de ameaças diversas, como, por exemplo, a
ameaça da reprovação. Por outro lado, a violência por parte dos alunos é cada vez
mais uma realidade com a qual todos devem lidar.
● O uso da violência, psicológica ou física, tende a gerar um círculo vicioso que atinge
pais, alunos e professores igualmente, podendo explodir de formas jamais
imaginadas. Um exemplo triste de como isso pode acontecer pôde ser visto nos
últimos anos em diferentes pelo mundo, bem como um, infelizmente acontecido há
poucos anos atrás em uma escola do Rio de Janeiro na qual um ex-aluno, em um
ato de violência extrema, retornou à escola e matou e feriu vários alunos. Depois de
várias investigações, foi diagnosticado que ele mesmo foi, de certa forma, fruto da
violência escolar. O seu histórico de vivência na escola foi o de recriminação e
humilhação. Toda essa experiência negativa somada uma mente com transtornos
psíquicos, explodiu em uma vingança cega contra vidas de pessoas inocentes anos
depois.
● Cabe ao professor, em um trabalho coletivo que una outros professores, os alunos, a
direção escolar e os pais, criar um ambiente de integração social propício ao ato de
construção do conhecimento. Para isso ele tem de estar atento, entre outros
elementos, à representação que faz de seus alunos. Como o professor vê, percebe,
entende seus alunos, pode guiar a sua maneira de conduzir a sua ação em sala de
aula, a sua ação pode ser positivamente transformadora, ou, ao contrário,
humilhante, esmagadora de potencialidades, impingindo aos alunos uma violência
que só pode gerar tristezas, desgosto pelo aprendizado e, em alguns casos, mais
violência.
Aula 26 - Os Esquemas de Controle da Profissão Docente
● A nossa apostila define cultura docente como sendo um “Conjunto de crenças,
valores, hábitos e normas dominantes que determinam o que esse grupo social
considera valioso em seu contexto profissional, assim como os modos politicamente
corretos de pensar, sentir, atuar e se relacionar entre si” e traça uma compreensão
desse fenômeno em três níveis.
● O que entendo como sendo o objetivo principal da aula de hoje é a compreensão de
que, como acontece com muitas profissões, as rotinas interacionais da profissão
docente estão em constante mudança. Essas mudanças refletem não apenas as
tendências da passagem do tempo, mas, também, dos diferentes contextos sociais
e, até mesmo, geográficos (de localização dos espaços educacionais) e de atuação
docente. Outra questão importante é levarmos em conta que a profissão docente é
uma profissão que exige atenção constante aos elementos de constituição social
que, necessariamente, estão em mudança contínua. Qualquer saber está em
constante reformulação. Qualquer professor que queira ser, de fato, professor deve
ser um pesquisador de sua prática como já bem formulou Paulo Freire em seu livro
A Pedagogia da Autonomia (1996:32): “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa
sem ensino. Esse que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino
continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque
indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo eu
educo e meeduco. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade”.
Aula 27 e 28 - O Mal-estar e desafios do docente
● A nossa aula fala dos desafios de professores e professoras e das múltiplas tarefas
que lhe são exigidas. Da recomposição de seu papel social. Tudo isso não é novo,
temos visto em nossas aulas, através de uma perspectiva histórica que, à medida
que as sociedades se modificam, o papel do professor também se modifica. Toda
necessidade de mudança, de lidar com o novo gera angústias e incertezas, mas
lidar com a mudança faz parte da existência dos seres humanos. Temos de nos
adaptar e oferecer a nossa contribuição na medida de nosso saber, com vontade e
determinação, mas com a consciência de que não podemos carregar o mundo
sozinhos. Nenhum profissional de qualquer profissão que seja pode resolver sozinho
todos os problemas de uma sociedade. A escola não pode lidar sozinha com os
problemas trazidos por seus alunos, nem pode ser responsabilizada por todos os
problemas da sociedade na qual ela está inserida. O professor que queira atender
ou que seja forçado a atender a todos os anseios da sociedade acabará sofrendo de
diversas formas, inclusive se tornando alvo de desequilíbrios emocionais e e,
mesmo físicos. Por isso, é importante o desenvolvimento de uma cultura de
mobilização coletiva, de uma coletividade que abranja professores, pais, alunos e
demais interessados educação, ou seja, toda a sociedade.
● Como bem colocado em nossa aula, não há um manual a ser seguido. Isso porque a
escola é múltipla, os problemas são locais. Por isso, a importância do tema do
diálogo que trouxe acima. É somente com uma escola na qual se privilegia e se
resguarda o espaço do diálogo que professores e professoras podem realizar com
apoio, segurança e prazer a construção de saberes para a vida, objetivo de toda a
verdadeira prática educativa.
● Abrir espaço ao diálogo não quer dizer abrir mão da disciplina necessária para que a
construção do conhecimento ocorra, ou de um rigor metodológico e epistemológico,
mas propiciar a atenção e o cuidado do outro. Algumas vezes a construção do saber
é afetada pelo medo de dialogar, pelo medo do confronto, mas, devemos nos
lembrar que, muitas vezes, é com o confronto civilizado e equilibrado de ideias que
podemos chegar à resolução de problemas. Às vezes precisamos abrir mão de
interesses pessoais para pensamos e agirmos em prol de interesses coletivos.
Entendo que somente em uma sociedade que zela democraticamente pelos
interesses de todos, que os indivíduos podem preencher verdadeiramente os
anseios pessoais. Não pode haver felicidade plena (ou como postulou Aristóletes em
seu Ética a Nicômaco, a eudaimonia, o bem viver) em uma sociedade que alguns
possuem tudo e outros possuem muito pouco ou absolutamente nada. A
transformação da escola é um importante aspecto na transformação da sociedade.
Ela não pode se eximir de sua responsabilidade, ela deve ser um espaço de diálogo
sempre, um diálogo que não tenha medo dos conflitos, mas que se proponha a agir
para resolvê-los.
● Abrir espaço ao diálogo não quer dizer abrir mão de uma disciplina ou de um rigor
metodológico e epistemológico, mas propiciar a atenção e o cuidado do outro.
Algumas vezes a construção do saber é afetada pelo medo de dialogar, pelo medo
do confronto, mas, devemos nos lembrar que, muitas vezes, é com o confronto
civilizado e equilibrado de ideias que podemos chegar à resolução de problemas. Às
vezes precisamos abrir mão de interesses pessoais para pensamos e agirmos em
prol de interesses coletivos. Entendo que somente em uma sociedade que zela
democraticamente pelos interesses de todos, que os indivíduos podem preencher
verdadeiramente os anseios pessoais. Não pode haver felicidade plena (ou como
postulou Aristóletes em seu Ética a Nicômaco, a eudaimonia, o bem viver) em uma
sociedade que alguns possuem tudo e outros possuem muito pouco ou
absolutamente nada. A transformação da escola é um importante aspecto na
transformação da sociedade. Ela não pode se eximir de sua responsabilidade, ela
deve ser um espaço de diálogo sempre, um diálogo que não tenha medo dos
conflitos, mas que se proponha a agir para resolvê-los. A esse respeito, fecho esta
parte de nossa aula com as palavras escritas por Paulo Freire em seu livro
Pedagogia da autonomia (São Paulo: Editora Paz e Terra, 199, p. 152), justamente
em um capítulo intitulado "Ensinar exige disponibilidade para o diálogo":
● "Nas minhas relações com os outros, que não fizeram necessariamente as mesmas
opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso
partir de que vejo "conquistá-los", não importa a que custo, nem tampouco temo que
pretendam "conquistar-me". É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na
coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou com elas. É
na minha disponibilidade à realidade que construo a minha segurança, indispensável
á própria disponibilidade à realidade sem segurança, mas é impossível também criar
a segurança fora do risco da disponibilidade.
● Como professor não devo poupar oportunidade para testemunhar aos alunos a
segurança com que me comporto ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor
minha posição em face de uma decisão governamental. Minha segurança não
repousa na falsa suposição de que sei tudo, de que sou o "maior". Minha segurança
se funda na convicção de que sei algo e de que ignoro algo que se junta a certeza
de que posso saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. Minha
segurança se alicerça no saber confirmado pela própria existência de que, se minha
inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância, me abre,
de outro, o caminho para conhecer.
● Me sinto seguro porque não há razão para me envergonhar por desconhecer algo.
Testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus
desafios, são saberes necessários à prática educativa. Viver a abertura respeitosa
aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática
de abertura ao outro como objetivo da reflexão crítica deveria fazer parte da
aventura docente. A razão ética da abertura, seu fundamento político sua referência
pedagógica; a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo. A experiência da
abertura como experiência fundante do ser inacabado que terminou por se saber
inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos
outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O fechamento
ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude.
● O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em
permanente movimento na História."
● A nossa aula fala dos desafios do professor e das múltiplas tarefas que lhe são
exigidas. Da recomposição de seu papel social. Tudo isso não é novo, temos visto
em nossas aulas, através de uma perspectiva histórica que, à medida que as
sociedades se modificam, o papel do professor também se modifica. Toda
necessidade de mudança, de lidar com o novo gera angústias e incertezas, mas
lidar com a mudança faz parte da existência dos seres humanos. Temos de nos
adaptar e oferecer a nossa contribuição na medida de nosso saber, com vontade e
determinação, mas com a consciência de que não podemos carregar o mundo
sozinhos. Nenhum profissional de qualquer profissão que seja pode resolver sozinho
todos os problemas de uma sociedade. A escola não pode lidar sozinha, nem pode
ser responsabilizada por todos os problemas da sociedade na qual ela está inserida.
O professor que queira atender ou que seja forçado a atender a todos os anseios da
sociedade acabará sofrendo de diversas formas. Por isso é importante o
desenvolvimento de uma cultura de mobilização coletiva, de uma coletividade que
abranja professores, pais, alunos e demais interessados educação, ou seja, toda a
sociedade.
RESUMODO CONTEÚDO (aula 29)

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