Buscar

Interdição e Emancipação

Prévia do material em texto

TGDP-I 
Matéria da 2ª avaliação 
Extraído do livro: FIUZA, César. Direito Civil: curso completo (e-book). 2ª edição. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2015. 
 
INTERDIÇÃO | EMANCIPAÇÃO | AUSÊNCIA | NOME | ESTADO 
 
INTERDIÇÃO 
É o processo judicial pelo qual uma pessoa capaz é declarada incapaz. 
As pessoas passíveis de interdição são os maiores de 18 anos, que não consigam exprimir sua vontade, que 
sejam viciados em álcool ou outra substância tóxica que lhes comprometa o discernimento, ou que sejam 
pródigos. Segundo o Código Civil, como vimos, todos eles serão reduzidos à categoria de relativamente 
incapazes, frise-se, para sua própria proteção. 
O processo de interdição acha-se, atualmente, regulado no Código de Processo Civil (CPC), arts. 747 a 758. 
A interdição poderá ser requerida pelo cônjuge ou companheiro, pelos parentes ou tutores, pelo 
representante da entidade em que o interditando se encontre abrigado e pelo Ministério Público (MP). 
A Lei anterior (Código de Processo Civil de 1973) continha lacuna ao não definir o que fosse parente próximo, 
dentre os que eram admitidos a requerer a interdição. Supunha-se, por analogia a outras normas legais, que 
seriam avós, bisavós etc., na linha ascendente; filhos, netos, bisnetos etc., na linha descendente; e irmãos, 
tios e sobrinhos, na linha colateral. Mas era mera interpretação analógica e sistemática. Poder-se-ia entender, 
por outro lado, que a Lei se referisse a todo parente que estivesse sendo prejudicado pelos atos do 
interditando. O Código de Processo Civil de 2015, a seu turno, refere-se a parentes e tutores (art. 747, II). A 
que parentes estar-se-ia referindo? Evidentemente, a todo e qualquer parente, isto é, pais, avós, bisavós etc., 
na linha ascendente; filhos, netos, bisnetos etc., na linha descendente; e irmãos, tios, sobrinhos e primos, na 
linha colateral, que se estende até o quarto grau. 
O referido dispositivo faz referência ainda aos tutores. O emprego do plural talvez não seja o mais adequado, 
uma vez que cada menor possui um tutor apenas. 
O tutor poderá requerer a interdição nos casos em que os filhos do interditando estiverem sob tutela. 
Suponhamos o caso em que o pai tenha perdido o poder familiar e, estando a mãe morta, haja sido nomeado 
tutor para os filhos. Suponhamos ainda que este pai se torne pródigo, deficiente mental, alcoólatra ou 
toxicômano, começando a destruir todo seu patrimônio. 
Quem requererá a interdição desse pai, se os filhos são incapazes e, portanto, proibidos de fazê-lo? 
Logicamente, caberá ao tutor dessas crianças. 
Outra hipótese é a do tutor de um menor órfão, com síndrome de Down grave. Ao atingir a maioridade, esse 
indivíduo se torna automaticamente capaz, sendo necessário requisitar sua interdição. Quem o fará? 
Naturalmente, o tutor. 
O MP deverá atuar sempre, em todo caso, como fiscal da Lei, devendo também requerer a interdição nos 
casos compatíveis com suas funções. Suponhamos a situação em que, estando morto o pai, a mãe se torne 
deficiente mental, pródiga etc. Os filhos estão evidentemente sem tutor, e não havendo mais ninguém que 
possa requerer a interdição dessa mãe, requerê-la-á o MP, sendo nomeado, para ela, um curador, que será 
também responsável pelos filhos. 
No caso das pessoas que, desde o nascimento, possuam deficiência mental incapacitante, ou que, por 
qualquer causa, não possam exprimir sua vontade, será necessário promover sua interdição ao completar 18 
anos? Em tese, sim. Dentre outras razões, para que lhes seja nomeado curador. 
Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando 
para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a 
incapacidade se revelou. 
O requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou informar a impossibilidade 
de fazê-lo. 
O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará 
minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, desejos, preferências e laços familiares e afetivos e sobre 
o que mais lhe parecer necessário, para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida 
civil. Caso o interditando não possa se deslocar, o juiz o ouvirá no local em que estiver. Essa entrevista poderá 
ser acompanhada por especialista. 
Pode ser o caso de o interditando ser surdo-mudo, cego, ou cadeirante, por exemplo. Nessas hipóteses, 
durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o 
interditando a expressar seus desejos e preferências e a responder às perguntas formuladas. 
A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas. 
No prazo de quinze dias, contado da entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido. 
O interditando poderá constituir advogado, e, caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial. Se o 
interditando não constituir advogado, o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá 
intervir como assistente. 
Decorrido o prazo de quinze dias, o juiz determinará a produção de prova pericial para avaliação da 
capacidade do interditando para praticar os atos da vida civil. Essa perícia deverá ser realizada por equipe 
composta por especialistas com formação multidisciplinar. 
O laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais haverá necessidade de 
curatela. 
Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz proferirá sentença. 
Nessa sentença, o juiz nomeará curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da 
curatela, segundo o estado e o desenvolvimento mental do interdito. Além disso, considerará as 
características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, desejos e preferências. 
A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. 
Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz 
atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz. 
No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deverá dar preferência à 
pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado. 
A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e imediatamente publicada na rede 
mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do 
Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por seis meses, na imprensa local, uma vez, e no órgão 
oficial, por três vezes, com intervalo de dez dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a 
causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá 
praticar autonomamente. 
O curador dos interditos será responsável por eles. Se forem incapazes de exprimir sua vontade, como no 
caso de pessoas em coma, com síndrome de Alzheimer avançada, com síndrome de Down grave, dentre 
outras, representá-los-á. Se sofrerem apenas uma redução incapacitante de discernimento, como os 
pródigos, os viciados em tóxicos, ou mesmo as pessoas com deficiência incapacitante menos grave, assisti-
los-á. A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens do incapaz que se encontrar sob a guarda e a 
responsabilidade do curatelado ao tempo da interdição, salvo se o juiz considerar outra solução como mais 
conveniente aos interesses do incapaz. O curador deverá buscar tratamento e apoio apropriados à conquista 
da autonomia pelo interdito. 
Em caso de urgência comprovada, o juiz poderá nomear curador provisório ao interditando para todos os 
atos cuja prática não possa ser postergada. 
No caso dos pródigos, a interdição os proíbe tão somente de praticar, sem a autorização do curador, atos queimportem diminuição patrimonial, como venda, troca, doação, perdão de dívidas etc. Para outros atos, não 
necessitam qualquer assistência. 
Cessada a causa que a tenha determinado, levantar-se-á a curatela. O pedido de levantamento da curatela 
poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da 
interdição. O juiz nomeará perito ou equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito e designará 
audiência de instrução e julgamento após a apresentação do laudo. 
Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição e determinará a publicação da sentença, 
após o trânsito em julgado, na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o 
juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por seis meses, ou, não 
sendo possível, na imprensa local e no órgão oficial, por três vezes, com intervalo de dez dias, seguindo-se a 
averbação no registro de pessoas naturais. 
Por fim, a interdição poderá ser levantada parcialmente, quando demonstrada a capacidade do interdito para 
praticar alguns atos da vida civil. 
Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a curatela de pessoa com deficiência constitui medida 
protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor 
tempo possível. 
Em que pese o referido Estatuto dispor que a curatela afete tão somente os atos relacionados aos direitos de 
natureza patrimonial e negocial, haverá casos em que, dependendo da gravidade da deficiência (coma, 
Alzheimer avançado, síndrome de Down grave, dentre outros), em que a curatela se estenderá 
necessariamente às relações existenciais. A norma há de ser, pois, interpretada com certa relatividade, sob 
pena de ficar o deficiente sem a devida proteção, abandonado à própria sorte. 
Nos demais casos, havendo certo discernimento por parte do deficiente, a curatela não alcançará o direito 
ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. 
Ainda segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, na esteira da tendência contemporânea, a curatela 
constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, 
preservados os interesses do curatelado. 
 
EMANCIPAÇÃO 
Pela emancipação uma pessoa incapaz torna-se capaz. 
Emancipação é, assim, a cessação da incapacidade e opera-se por concessão dos pais, por determinação legal, 
ou por sentença judicial. 
Será por concessão dos pais a denominada emancipação parental, quando, tendo o menor atingido a idade 
de 16 anos, for emancipado por seus pais. Basta, para isso, que os pais se dirijam ao Cartório de Registro e 
façam nele inscrever o ato de emancipação. 
Será judicial a emancipação em dois casos. Primeiramente, quando um dos pais não concordar em emancipar 
o filho, contrariando a vontade do outro. Neste caso, só o juiz para decidir a pendência. Em segundo lugar, se 
o menor, com mais de 16 anos, estiver sob assistência de tutor. Ora, o tutor não tem poderes para emancipar 
por si mesmo, pois que não detém o poder familiar ou parental. Neste caso, a emancipação deverá ser 
requerida ao juiz. 
A emancipação legal é automática, não sendo preciso nenhum outro ato complementar. Basta que o incapaz 
se amolde a um dos seguintes casos: casamento, serviço público efetivo, colação de grau em curso de ensino 
superior e exercício de atividade civil ou comercial ou existência de relação de emprego, desde que, em 
função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria. 
A emancipação é irrevogável. Uma vez obtida, só se pode voltar à condição de incapaz pela interdição. Mas e 
na hipótese da emancipação pelo casamento, sendo este anulado, voltaria o menor à condição de incapaz? 
A doutrina é dúbia a respeito. Autores do escol de Caio Mário não fazem menção à hipótese, afirmando 
apenas que, nos casos de morte ou divórcio, continua o menor capaz. Já Washington de Barros, outra opinião 
de peso, se refere, especificamente, à anulação do casamento, fato que não desfaria a capacidade adquirida 
pela emancipação. Pontes de Miranda entende, e este também é nosso entendimento, que a anulação do 
casamento torna o menor que o contraiu incapaz. 
Isto porque, uma vez anulada a causa da emancipação, esta ficaria sem suporte jurídico, restabelecendo-se a 
situação anterior. 
Anulado o casamento, anulados também seriam seus efeitos, dentre eles a emancipação. É evidente que os 
atos praticados na constância do casamento permanecem válidos, salvo má-fé do terceiro em favor de quem, 
eventualmente, tenham sido praticados. 
 
AUSÊNCIA 
Ausente é toda pessoa que desapareça sem deixar pistas. Ninguém sabe se esteja viva ou morta. Para se 
oficializar a ausência, é também necessário processo judicial, em que o juiz apurará a ausência e a declarará 
por sentença. 
O Código Civil de 1916 tratava o ausente como se fosse absolutamente incapaz. O de 2002, adotando a melhor 
doutrina, não considera o ausente incapaz. Ele é simplesmente ausente, devendo, por isso, ser representado 
e podendo ter sua sucessão aberta. 
Analisando o processo de ausência, primeiramente devemos estabelecer quem possa requerer ao juiz a 
declaração de ausência. Em princípio, qualquer interessado, considerando-se tais, herdeiros, credores e o 
Ministério Público. 
Feito o requerimento, a primeira medida que o juiz deverá tomar é esclarecer se o ausente deixou 
representantes legais ou procurador com poderes de administração. O ausente deixará representante legal 
somente se for incapaz, quando será representado por seus pais, ou por tutor, ou mesmo por curador. Neste 
caso, o representante legal continua na administração dos bens do ausente. 
Se o ausente era capaz, não terá representante legal. Mas pode ser que possua procurador com poderes de 
administração, quando, então, este procurador continuará administrando os bens do ausente. 
Mas e se o ausente não deixar nem representante legal nem procurador com poderes de administração? E se 
o procurador não quiser ou não puder continuar o mandato? E se os poderes de administração do procurador 
não forem suficientes? Nestes casos, o juiz nomeará curador para administrar os bens do ausente. Segundo 
o art. 25 do CC, será nomeado curador o cônjuge, por interpretação analógica e sistemática, o companheiro 
(arts. 755, 747, CPC), os pais ou os descendentes, nesta ordem. Entre os descendentes, os de grau mais 
próximo preferem aos de grau mais remoto. Portanto, filhos preferem a netos e assim por diante. Havendo 
disputa entre descendentes de um mesmo grau, filhos, por exemplo, o juiz escolherá o que lhe parecer mais 
competente e capaz para a administração dos bens do ausente. Se não houver parentes habilitados, ou se 
não existir mesmo qualquer parente, o juiz nomeará curador de sua confiança. É o chamado curador ad hoc. 
Quando ocorre a declaração da ausência? No primeiro momento, segundo os arts. 22 e 23? Ou um ou três 
anos após a arrecadação dos bens do ausente, segundo o art. 26? 
No caso, há uma antinomia (contradição) no texto legal. Os arts. 22 e 23 dispõem que, desaparecendo uma 
pessoa, qualquer interessado ou o Ministério Público poderão requerer a declaração da ausência. O juiz 
declara a ausência e nomeia o curador, se for o caso. Já o art. 26 dispõe que, após um ano da arrecadação 
dos bens do ausente, e de três anos, se o ausente tiver deixado representante legal ou procurador, os 
interessados poderão requerer a declaração da ausência e a abertura da sucessão provisória. Afinal, a 
ausência será declarada de imediato, ou após os prazos do art. 26? A resposta só pode ser no sentido de que 
a ausência será declarada de imediato. Os prazos do art. 26 são para o requerimento de abertura da sucessão 
provisória. A declaração de ausência a que se refere o art. 26 deve ser interpretada como mera confirmação 
daprimeira declaração. 
Segundo o art. 744 do CPC, declarada a pessoa ausente, o juiz mandará arrecadar seus bens, nomeando-lhe 
curador, se for o caso. Em seguida, mandará publicar, durante um ano, editais na internet, no sítio do tribunal 
a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça. Se não for possível a 
publicação virtual, o edital será publicado na Imprensa Oficial e na imprensa da comarca, de dois em dois 
meses, durante um ano, convocando o ausente a reaparecer. De acordo com o art. 26 do CC, após um ano da 
arrecadação dos bens do ausente, os interessados poderão requerer ao juiz a abertura da sucessão provisória 
do ausente. Quem são esses interessados? A resposta está no art. 27 do CC. São o cônjuge, os herdeiros, os 
que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte e os credores de obrigações vencidas 
e não pagas. Aberta a sucessão provisória, os herdeiros receberão a herança do ausente, e os credores serão 
pagos. A sucessão é, porém, provisória, ou seja, se o ausente reaparecer em período de 10 anos, contados 
da abertura da sucessão provisória, terá direito a reaver dos herdeiros todos os seus bens. Se estes já tiverem 
sido dissipados, os herdeiros terão que indenizá-lo. Aliás, ao receberem os bens a título provisório, os 
herdeiros deverão prestar caução de restituição. Em outras palavras, deverão oferecer garantias reais 
(hipoteca, penhor etc.) ou pessoais (fiança) de que restituirão os bens ao ausente, caso este reapareça. 
Exceção feita aos ascendentes, aos descendentes e ao cônjuge, que podem receber os bens 
independentemente de garantia. 
Quanto aos credores, é lógico que estes recebem a título definitivo, nada tendo, pois, a restituir ao ausente 
ressurgido. 
Escoados esses 10 anos, os interessados poderão requerer a conversão da sucessão provisória em definitiva, 
quando, então, os herdeiros adquirem os bens a título definitivo. Uma vez aberta a sucessão definitiva, o 
ausente se presumirá morto. Apesar disso, caso retorne, no prazo de 10 anos, terá direito a receber os bens 
no estado em que se encontrarem. Se alienados os bens, receberá o preço que os herdeiros houverem 
percebido no negócio. Se permutados, receberá os bens que substituíram os antigos etc. 
Caso algum herdeiro do ausente tenha sido esquecido na sucessão provisória, terá o prazo de 20 anos, 
contados da abertura da sucessão provisória para pleitear seu quinhão. Se o requerimento for apresentado 
durante a sucessão provisória, a herança original será repartilhada. Mas se o requerimento for apresentado 
durante os 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, a herança será repartilhada não como era 
originalmente, mas no estado em que se encontrar. 
De todo modo, na hipótese de o ausente ou algum de seus descendentes ou ascendentes comparecer ao 
juízo do inventário, para requerer a entrega de seus bens, serão citados para contestar o pedido os sucessores 
provisórios ou definitivos, o Ministério Público e o representante da Fazenda Pública, observando-se o 
procedimento comum (art. 745, § 4.º, CPC). 
A sucessão definitiva poderá ser requerida em mais três casos. Primeiramente, a qualquer tempo, se o 
ausente for encontrado morto. Em segundo lugar, se o ausente contar 80 anos, e houver decorrido cinco anos 
de suas últimas notícias. Por fim, nas hipóteses de morte presumida, como veremos a seguir. 
Não se deve confundir os casos de ausência com os casos de morte presumida. Até que se decrete sua 
sucessão definitiva, o ausente não é considerado morto, mas apenas desaparecido. Em algumas situações, 
porém, a pessoa desaparecida pode se presumir morta, mesmo sem ser declarada ausente. São as hipóteses 
do art. 7.º do CC e do art. 88 da Lei de Registros Públicos – Lei 6.015/1973. Diz o art. 88 que os juízes poderão 
admitir justificação para assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, 
terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada sua presença no local do desastre e não for 
possível encontrar-se o cadáver para exame. O mesmo se aplica aos desaparecidos em batalha, cujo óbito 
não tenha sido registrado em livro próprio pelos oficiais da corporação correspondente. 
O art. 7.º do CC segue a mesma linha. Dispõe o referido artigo que se presume falecido se for extremamente 
provável a morte de quem estivesse em perigo de vida, bem como de quem, desaparecido em campanha ou 
feito prisioneiro, não venha a ser encontrado até 2 anos após o término da guerra. Nesses casos, talvez seja 
necessária a declaração da ausência por esse período de dois anos, a fim de se abrir a sucessão provisória. 
Passado o biênio legal, poder-se-á abrir a sucessão definitiva, uma vez que a morte já será presumida. 
Além da Lei de Registros Públicos e do Código Civil, cuida da morte presumida a Lei 9.140/1995. Segundo ela, 
presumem-se falecidos aqueles que tenham participado ou que tenham sido acusados de participar de 
atividade política considerada subversiva, no período compreendido entre 02.09.1961 e 05.10.1988. 
Coincide, um pouco para menos e um pouco para mais, com a ditadura militar instalada em 1964. 
Sendo a pessoa presumida morta, será aberta sua sucessão definitiva. Mas o que ocorrerá se o morto 
presumido retornar? A Lei não responde a esta pergunta de modo claro. Por interpretação lógica, conclui-se 
que, se o morto presumido retornar nos dez anos, após a abertura de sua sucessão, terá direito a reivindicar 
seus bens no estado em que se acharem. Depois disso, a nada mais fará jus. Isto porque, a sucessão do morto 
presumido equivale à sucessão definitiva do ausente, que neste caso também se presume falecido. 
Para o Direito moderno, um dos fundamentos mais importantes da morte presumida e da ausência, além da 
relevância familiar, é a função social da propriedade. O patrimônio dessas pessoas não pode ficar acéfalo, 
sem gerência e sem beneficiários. 
 
NOME DA PESSOA NATURAL 
Nome ou firma é uma das características da pessoa. Não só a pessoa natural possui nome. Como atributo da 
personalidade, ao lado da capacidade, também é conferido às pessoas jurídicas. Restringiremos nosso 
enfoque, neste momento, ao nome das pessoas naturais, tratando das pessoas jurídicas mais adiante, ao 
estudarmos as sociedades civis e as associações. 
A variedade de expressões para designar a ideia de nome vem causando na doutrina, com reflexos na própria 
Lei, grave confusão. Assim é que se empregam os termos nome, prenome, apelido, nome de família, 
sobrenome, ora num sentido, ora noutro. A Lei de Registros Públicos utiliza a palavra nome em dois sentidos, 
ora no sentido de sobrenome, ora no sentido de nome completo. Usa também as palavras prenome, apelido 
de família e patronímico. Prenome, no sentido de primeiro nome: José. Pode ser simples (José) ou duplo (José 
Augusto). Apelidos de família são as partes seguintes que integram o nome, uma do pai (patronímico), outra 
da mãe (matronímico). É o que se denomina, vulgarmente, sobrenome. 
Atento ao problema, Pereira Braga procura sistematizar a matéria. Para ele, nome e prenome indicariam o 
primeiro nome individual. Sobrenome, os demais nomes individuais. Apelido, os nomes de família. Essa não 
é, entretanto, a acepção popular da língua portuguesa, no Brasil, que, à sua maneira, mais ou menos, já 
sistematizou a matéria. A Lei de Registros Públicos (6.015/1973) reflete, mais ou menos, o uso popular. 
Nome é expressão genérica ou específica. Genericamente, nome é o conjunto de apelidos que recebe a 
pessoa: José Augusto da Silva Pereira. Daí falar-se em nome completo ou nome todo. Enquanto espécie, nome 
é sinônimo de prenome: José Augusto, em que Augusto é o que se chama de segundo nome ou nome do 
meio. A Lei de Registros Públicos fala, nestes casos, em duplo prenome. 
A seguir vem o sobrenome, composto dos apelidos de família, normalmente o patronímico do avô materno 
e o do avô paterno, sucessivamente:da Silva Pereira. 
Teríamos, assim, 
– Nome (completo ou todo): José Augusto da Silva Pereira. 
– Prenome ou nome: José (primeiro nome) Augusto (segundo nome ou nome do meio). 
– Sobrenome ou nome de família ou apelidos de família: da Silva (sobrenome ou patronímico da mãe) e 
Pereira (sobrenome ou patronímico do pai). 
Nome, em sentido bem amplo, é composto de elementos fixos e contingentes. Fixos são o prenome e o 
sobrenome, que estarão sempre presentes. Contingentes são o apelido ou alcunha, como “Joca”, o 
pseudônimo ou nome artístico, os títulos etc., que nem sempre estarão presentes. 
Não devemos confundir nome com direito ao nome. Nome, como definimos acima, é atributo da 
personalidade. Mas e o direito ao nome, que seria? Seria direito subjetivo? E, sendo, seria público ou privado? 
Nas concepções de Kohler, Roguin e Spencer Vampré, o direito ao nome amolda-se à categoria dos direitos 
pessoais absolutos. É direito subjetivo individual, personalíssimo. É direito subjetivo público. 
Para outros, o direito ao nome seria direito de propriedade. Direito subjetivo privado. 
Negando esta teoria, Planiol insurge-se, dizendo ser o nome não objeto de direito subjetivo, mas objeto de 
obrigação. 
“Nome é instituição de polícia civil; é a forma obrigatória da designação das pessoas.” 
O nome não é objeto de propriedade, por não ser alienável, por não estar à disposição de seu titular. A Lei 
confere nome às pessoas atendendo a interesses públicos, não particulares. O nome seria objeto de obrigação 
legal, não de direito subjetivo. 
Segundo Savigny, Jhering e Clóvis Bevilaqua, nome é a forma pela qual o indivíduo aparece na ordem jurídica. 
Não é objeto de direito subjetivo, mas de todo um complexo de direitos. 
Para Pacchioni e Stolfi, o direito ao nome seria direito subjetivo privado sui generis. Realmente, não se o 
poderia classificar como direito de propriedade. Não obstante, é direito subjetivo de ordem privada. Como 
não se amolda nem aos direitos reais nem aos creditícios, é direito sui generis. 
Finalmente, entende-se o direito ao nome, bem como seus desdobramentos, como direito da personalidade, 
recebendo mesmo proteção constitucional. Esta vem sendo a tese mais adotada atualmente. 
Em pesquisa à legislação pátria, deparamos com algumas regras importantes sobre o nome. 
Em primeiro lugar, diz a Lei de Registros Públicos, Lei 6.015/1973, que o prenome é imutável, a não ser por 
motivo justo, como, por exemplo, quando exponha seu titular ao ridículo. Aliás, tais nomes vexaminosos 
deverão ser recusados pelo oficial do registro. Se os pais não se conformarem com a recusa, o caso será 
submetido ao juiz competente para decidir a questão. 
Mas, uma vez registrado, só ao titular é permitido mudar seu prenome, judicialmente ou extrajudicialmente. 
A retificação extrajudicial do prenome, e apenas dele, será feita pelo interessado, no primeiro ano após 
completada a maioridade. Esgotado este prazo, a retificação só poderá ser judicial, e desde que haja motivo 
justo. 
O sobrenome é composto pelos nomes ou apelidos de família. Na realidade, compõe-se dos patronímicos 
paterno e materno. 
O sobrenome adquire-se de pleno Direito, isto é, ipso iure, e pela prática de ato jurídico. Ipso iure será a 
aquisição por nascimento ou reconhecimento de paternidade. Pela prática de ato jurídico, adquire-se o 
sobrenome, por exemplo, pela adoção, pelo casamento etc. 
No mais, afora o casamento, a separação, o divórcio e as hipóteses de anulação do casamento, o sobrenome 
só pode ser alterado judicialmente e por justa causa. 
Aliás, afora a hipótese da alteração do prenome, entre os 18 e os 19 anos, que será extrajudicial e sem justa 
causa, a alteração do nome (prenome e sobrenome) deverá ser judicial e acompanhada de justa causa. Esta 
poderá ser o vexame, o erro evidente de grafia, a tradução de nome estrangeiro (o indivíduo se chama 
Christhophorus e deseja mudar seu nome para Cristóvão; ou Stephen para Estêvão), a inclusão de apelido 
notório (Luiz Inácio “Lula” da Silva é o exemplo mais famoso no Brasil), a adoção e o casamento (nestes casos, 
a alteração é apenas do sobrenome), o uso prolongado e constante de nome diverso (por exemplo, o 
indivíduo se chama Wemerson, mas todos o chamam de Emerson), a homonímia depreciativa (por exemplo, 
a pessoa cujo nome seja Adolf Hitler), dentre outros casos. O Ministério Público será ouvido, e jamais será 
autorizada a mudança leviana de nome, bem como se houver suspeita de fraude. 
A Lei protege o nome tanto na esfera civil quanto na criminal. 
Penalmente, constitui crime violar direitos autorais, aí incluídos o nome e sua usurpação (art. 184 do CP). 
Civilmente, protege-se a aquisição e o uso exclusivo do nome, mediante ações próprias. De acordo com os 
arts. 16 a 19 do CC, todos têm direito ao nome, que não poderá ser usado por outrem em publicações ou 
representações vexatórias, ainda que não haja intenção de difamar. Além disso, não se pode empregar o 
nome alheio, sem autorização, em propaganda comercial. Por fim, o pseudônimo receberá a mesma proteção 
conferida ao nome, desde que adotado para fins lícitos. Assim, o pseudônimo do traficante de drogas não 
será protegido, para fins de tráfego. 
 
ESTADO 
Estado é o conjunto de designações dadas pelo Direito para delimitar as relações familiares, sociais, políticas 
etc. de uma pessoa. Como vimos, é, ao lado da capacidade e do nome, atributo da personalidade, enquanto 
elemento distintivo da situação jurídica das pessoas. 
O estado não deve ser visto como categoria neutra e abstrata, mas como instrumento de efetivação do 
princípio da igualdade. É com base nos estados da pessoa, que receberá ela o tratamento mais adequado a 
sua condição. É classificando as pessoas de acordo com os estados, que se poderá tratar desigualmente os 
desiguais (por exemplo, nacionais e estrangeiros), segundo o princípio da igualdade. 
Com base na inserção da pessoa em determinado estado, a ela são conferidos vários direitos e deveres. Pode-
se dizer, assim, que os estados são atributos que categorizam as pessoas em molduras jurídicas, compostas 
de diversos direitos e deveres. 
O estado pode se referir tanto às qualidades da pessoa, quanto às funções que exerce. Seguramente, estado 
não é apenas um recipiente de normas agrupadas, por razões de economia legislativa, de acordo com 
determinados critérios como, por exemplo, nacionalidade. O estado é, como vimos, elemento distintivo da 
situação jurídica das pessoas, não um mero critério de economia legislativa, nem um simples conjunto de 
qualidades. 
O Direito Romano, em geral, classificava as pessoas segundo três estados. O status familiae determinava se 
uma pessoa era dependente de um chefe de família (paterfamilias), caso em que se denominava persona 
alieni iuris – pessoa de direito alheio, 
ou se era independente, quando se denominava persona sui iuris – pessoa de direito seu. O status civitatis 
separava as pessoas em três grupos: romanos, latinos e estrangeiros. Segundo esta divisão eram atribuídos 
os direitos de cidadania. E o status libertatis dividia os homens em livres, semilivres e escravos. 
O estado era importante no Direito Romano, uma vez que era com base nele que um indivíduo se considerava, 
por exemplo, capaz ou incapaz para os atos da vida civil. Assim, eram plenamente capazes os cidadãos 
romanos livres e sui iuris. 
O Direito Brasileiro adota, a partir do Direito Romano, classificação mais adequada aos tempos modernos. 
Classifica as pessoas segundo seu estado civil, que se divide em estado familiar, político, individual e 
profissional. Segundo o estado familiar, seremos solteiros, casados, companheiros, separados, divorciados ou 
viúvos, seremos filhos ou pais. A união estável é estado? Sem dúvida que sim. Trata-se, por assim dizer, de 
uma moldura jurídica, composta de vários direitos e deveres, tal como o estado de solteiro, de casado, de 
separado, de divorciadoe de viúvo. 
De acordo com o estado político, seremos cidadãos ou não cidadãos, nacionais, estrangeiros ou apátridas, ou 
seja, sem pátria. O estado individual preocupa-se com a situação jurídica da pessoa, oriunda de suas próprias 
peculiaridades. Daí que, quanto ao estado individual, podem as pessoas se classificar em maiores ou 
menores, homens ou mulheres, emancipados ou interditos etc. Finalmente, o estado profissional divide as 
pessoas de acordo com seu trabalho, sua profissão, de acordo com o fato de estarem ou não empregadas. 
A classificação das pessoas em estado tem sua importância prática, até para garantir o tratamento isonômico 
entre elas. 
Assim, o seguro desemprego é pago aos desempregados. O estado de pais implica uma séria de vantagens, 
até mesmo de ordem tributária. Estes são dois exemplos da importância da categorização em estados. 
O estado tem seus caracteres próprios, que se classificam em intrínsecos e extrínsecos. 
Intrinsecamente, o estado é indivisível, indisponível e imprescritível. 
Indivisível porque, apesar de serem muitas suas designações, não pode ser considerado a não ser em seu 
conjunto. Assim, uma pessoa não se considera solteira e casada ao mesmo tempo. 
É indisponível no sentido de que não se pode renunciar a ele, não se pode transferi-lo a outra pessoa etc. 
Mas não é imutável. Dessa forma, se hoje sou casado, amanhã poderei ser divorciado. 
É imprescritível. Imprescritibilidade é aqui usada em sentido amplo, ou seja, os direitos relativos ao estado 
podem ser exercidos por prazo indeterminado. Sempre poderei, portanto, exigir reconhecimento de 
paternidade, para que se me atribua o estado de filho de alguém. 
Quanto aos caracteres extrínsecos, o estado é pessoal, geral e de ordem pública. 
É pessoal porque se identifica com a própria pessoa que o detém. Geral, porque repercute em todas as esferas 
do Direito, produzindo efeitos contra todos. 
Por fim, é de ordem pública, uma vez que as designações referentes ao estado são impostas pela Lei no 
interesse público, não no particular. 
O estado é protegido por ações que lhe são próprias. São as chamadas ações de estado ou prejudiciais. Neste 
rol, encontram-se a ação de investigação de paternidade, a ação de contestação da paternidade e muitas 
outras. 
Na verdade, as ações de estado podem ter dois objetivos. Primeiro, o de reconhecer ou negar a existência de 
um estado. Segundo, o de modificar um determinado estado, como ocorre na ação de divórcio. 
Características das ações de estado é que, também elas, são indisponíveis e imprescritíveis. 
O estado das pessoas prova-se pelos chamados atos de estado, realizados, normalmente, por registro público. 
Nesta categoria, o registro de nascimento, morte, casamento, divórcio etc. Logicamente, a prova constituída 
pelo registro não é absoluta, uma vez que se pode derrubá-la, provando-se sua falsidade. Pode-se provar o 
estado por outros meios distintos do registro, tais como a matrícula para a prova do estado de estudante. Há, 
outrossim, a prova pela posse de estado. Se, por exemplo, uma pessoa é filha de alguém, mas não tem a 
certidão de nascimento para comprová-lo, que deverá fazer? Deverá requer outra no cartório em que tiver 
sido registrada ao nascer. Mas o que fazer, caso o cartório se houver incendiado, nada mais restando de seus 
antigos registros? Neste caso, a prova será feita pela posse do estado de filho. O interessado deverá 
demonstrar que seu nome leva o sobrenome dos pais, que recebe tratamento de filho e que goza da fama de 
filho no meio social. Comprovados o nome, o tratamento e a fama, diz-se que este indivíduo é possuidor do 
estado de filho, sendo, portanto, filho.

Continue navegando