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29/02/2024, 12:50 wlldd_231_u3_teo_ger_pro
https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315535 1/31
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INTRODUÇÃO
Nesta etapa dos nossos trabalhos, estudaremos as atividades exercidas pelo Estado. Mas o que elas seriam? O
Estado, por in�uência do �lósofo francês Montesquieu, desenvolveu uma tripartição dos poderes estatais em
três grandes funções: o legislativo que cria as leis, o executivo que cumpre estas leis e o judiciário que julga
eventuais descumprimentos destas. Eles agem num sistema de freios e contrapesos sendo que um poder
limita o outro para evitar abusos. Vocês verão que essas atividades não são exclusivas, muitas vezes havendo
o embaralhamento de atividades de um poder para o outro.
Bons estudos!
PODER E JURISDIÇÃO. ATIVIDADES JURISDICIONAL, LEGISLATIVA E EXECUTIVA E SUAS
DIFERENCIAÇÕES
Aula 1
DAS ATIVIDADES DAS FUNÇÕES DE PODER
Nesta etapa dos nossos trabalhos, estudaremos as atividades exercidas pelo Estado. Mas o que elas
seriam? O Estado, por in�uência do �lósofo francês Montesquieu, desenvolveu uma tripartição dos
poderes estatais em três grandes funções.
40 minutos
TEORIA DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO E COMPETÊNCIA
 Aula 1 - Das atividades das funções de poder
 Aula 2 - Princípios da jurisdição
 Aula 3 - Competência
 Aula 4 - Teorias da ação e elementos da ação
 Referências
177 minutos
29/02/2024, 12:50 wlldd_231_u3_teo_ger_pro
https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315535 2/31
O ponto de partida para o entendimento de jurisdição e seus contornos advém da clássica concepção da
tripartição de poderes proposta por Montesquieu. Nosso ordenamento adotou essa teoria (CF, art. 2 ).
A razão de ser da separação dos poderes decorre de uma melhor descentralização da atividade e,
principalmente, da necessidade de evitar que o poder �que na mão de apenas um órgão. Dessa forma, “a
atribuição especí�ca para cada poder deu origem à construção doutrinária denominada de freios e
contrapesos, na medida em que a atuação de um poder especí�co impediria a atuação arbitrária de outro
poder”. Assim, “se houver exorbitância de qualquer dos poderes surge a ação �scalizadora do poder judiciário,
obrigando a cada um a permanecer nos limites de sua respectiva esfera de competências” (DALLARI, 1995, p.
185).
Há ainda um relevante motivo para a separação: a especialidade (especialização do judiciário), ou seja,
exercendo função especí�ca, exerce-a melhor e de maneira mais efetiva (CF, art. 5 , LXXVIII). Dessa forma, o
Estado moderno, para que melhor possa conservar as condições da sociedade, a�nal esta é a sua função,
exerce três funções distintas, mas harmônicas entre si: legislativo, executivo e judiciário.
O legislador estrutura a ordem jurídica. Formula as leis destinadas à regulação da sociedade. O Estado, no
exercício da função executiva, aplica a lei. Esta função administrativa garante a incolumidade do bem comum.
Já a função jurisdicional objetiva compor os con�itos de eventuais lides surgidas da não observância do
ordenamento jurídico ou das regras de conduta predispostas na sociedade, além de operar nos casos em que
a situação jurídica somente poderá produzir seus regulares efeitos com a chancela do Estado (jurisdição
voluntária).
No atual regime, em que a Constituição Federal exerce uma função de �ltro para a aplicação da lei, com a
força normativa dos princípios e a ampla adoção de normas de conceito vago e indeterminado pela legislação
constitucional e infraconstitucional. Assim, o protagonismo é dividido com o judiciário, já que o juiz não
constitui um ser inanimado que apenas interpreta “a vontade concreta da lei” ou “declara a lei no caso
concreto.
Nessa diferenciação da função legislativa, basta pensar que enquanto esta atua em hipóteses em abstrato,
criando norma para todos os casos futuros que se adequarem à descrição da norma elaborada, a função
jurisdicional atua sempre diante de fatos já ocorridos, subsumindo a norma abstrata ao fato concreto (e mais
amplamente a atividade criativa do Poder Judiciário na aplicação do ordenamento jurídico, como será visto).
Ademais, o Poder Judiciário também elabora norma para casos futuros, pois uma de suas funções é a criação
de precedentes prospectivos para regular situações análogas apresentadas em casos diversos que surjam no
Poder Judiciário.
Mais complexa é a diferença entre função jurisdicional e administrativa: ambas são exercidas in concreto, ao
contrário da legislativa, o que di�culta a divisão.
A jurisdição é, por essência, imparcial, ao contrário da administração que possui interesse no resultado da sua
atividade (interesses das mais diversas ordens, como jurídico ou econômico). Ademais, os atos jurisdicionais
têm como característica a potencialidade de se tornar imutáveis. Os atos administrativos, ao contrário, podem
ser revogados a qualquer momento.
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Ao contrário do que uma primeira análise possa transparecer, a atividade jurisdicional não é exclusiva do
Estado-juiz. Também os Poderes Legislativo e Executivo realizam essa função, em determinados casos
devidamente permitidos pela Constituição Federal.
Assim, a administração pública pode exercer essa atividade numa sindicância ou num processo administrativo
ou a atuação do legislativo no caso de impeachment ou mesmo para aprovar as contas apresentadas
anualmente pelo Presidente da República.
Mesmo o Poder Judiciário exerce funções atípicas ao regular o procedimento de organização judiciária ou
acerca de concursos para ingresso na carreira da magistratura.
Dessa forma, não são critérios subjetivos, mas objetivos, que impõem a diferença entre esses órgãos.
A jurisdição se diferencia dos demais poderes, pois é a única atividade apta a gerar imunização pela coisa
julgada. É importante a ressalva: apenas a atividade jurisdicional faz coisa julgada.
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
A primeira grande característica da jurisdição é a substitutividade: A jurisdição é substitutiva da vontade dos
litigantes. Essa substituição deve ser dada somente por sujeito alheio ao con�ito (elemento objetivo) e
imparcial (desinteressado, elemento subjetivo). É substitutiva na medida em que competia às partes a
função da tutela dos seus próprios interesses. Como as partes não chegaram a um consenso em relação à
solução do caso concreto, o Estado precisou substituí-las no plano do processo.
Assim, vedada que é, em regra, a autotutela, e não optando as partes por outros mecanismos de
heterocomposição ou autocomposição, necessária se faz a intervenção do Estado para dirimir os con�itos
com força impositiva. E não haveria nenhuma razão para compreender a atividade jurisdicional se ela não
tivesse esse poder.
Ademais, ela se reveste de imperatividade: como desdobramento necessário da substitutividade, leva-se
necessariamente à compreensão da imperatividade.
É necessário que o Estado tenha a possibilidade de impor suas decisões para os litigantes de maneira coativa,
independentemente de suas vontades, sob pena de esvaziar a utilidade da atividade jurisdicional. Houvesse
qualquer ânimo de espontaneidade à submissão da atividade judicial, a seus resultados e a seus efeitos,
certamente não trataríamos o processo civil como um ramo do direito público. Da imperatividade decorre a
inevitabilidade. Uma vez que a decisão deve ser cumprida e o estado das partes em relação à decisão é de
sujeição, não há como evitar a decisão.
A despeito de o processo civil brasileiro ser informado pelo princípio da cooperação entre a magistrado e as
partes (art. 6 , CPC) não se pode perder de vista, até como uma questão estruturante do Estado, que a
posição das partes é de respeito para aquilo que foi decidido pelo Judiciário decorrente do poder emanado do
Estado.
É possível, contudo, afastar-se previamente do Poder Judiciário socorrendo-se de formas alternativas, como a
arbitragem (Lei nº 9.307/96).
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A jurisdição é ainda imutável (de�nitiva), pois uma vez prestada a atividade jurisdicional e substituída a
vontade dos agentes, imposta a solução no caso concreto, como consequência de sua força, suas decisões
tendem a se tornar imutáveis no sentido de que ela seja impedida de discutir novamente aquilo que foi
julgado. Trata-se do efeito da coisa julgada material. A imutabilidade tem por objetivo evitar a eternização dos
litígios como consequência lógica da segurança jurídica. E por �m, a jurisdição é instrumental: essa teoria foi
criada a partir dos exageros da fase anterior, que estudava o processo como ciência, mas sem se preocupar
com as peculiaridades do direito material. Apesar do isolamento entre o direito processual e o material, que é
importante para o aprofundamento dos estudos do processo civil, não se pode esquecer que o processo é
instrumento do direito material. Não existe processo civil sem que conviva (em verdadeira relação de
simbiose) com outros ramos do direito. Ou seja, o processo é autônomo enquanto ciência, mas
dependente enquanto função do direito material. Por isso, autores italianos como Vittorio Denti e Mauro
Cappelletti desenvolveram a denominada fase instrumentalista, em que o processo deve ser analisado não
pelo que ele é, mas por sua �nalidade, que é conceder o direito a quem o tenha. Para isso, o processo deve
ser moldado para atender ao direito material (o que se veri�ca, por exemplo, na criação de determinados
procedimentos especiais) e com a atuação de um magistrado mais ativo, que deve entender que “o processo
deve dar, quando for possível praticamente, a quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que
ele tenha direito de conseguir” (CHIOVENDA, 1993). O maior expoente dessa teoria no Brasil é o professor do
Largo São Francisco Cândido Rangel Dinamarco, que estudou a instrumentalidade do processo por meio de
três escopos:
Escopos sociais: a função social da jurisdição é a paci�cação e a eliminação do con�ito (efeito primário).
Ademais, gera um efeito secundário, que é a educação da sociedade sobre o dever de obe diência às normas
do direito brasileiro. Contudo, a paci�cação social não pode ser analisada de forma isolada, por se tratar do
resultado da atividade jurisdicional em uma de suas vertentes. Assim, nem só de paci�cação vive a jurisdição
(v.g., jurisdição voluntária), e nem só a jurisdição exerce paci�cação (v.g., outros mecanismos de composição
de con�ito, como a arbitragem).
Escopos políticos: trata-se da estabilidade das instituições políticas. Trabalha-se na consolidação do
ordenamento jurídico com o cumprimento contínuo do direito material, assegurando a todos a possibilidade
de exercer seus direitos por meio dos instrumentos processuais colocados à disposição dos jurisdicionados.
Escopos jurídicos: constituem um conceito ultrapassado para a nova ideia de processo. É, em verdade, uma
reminiscência da teoria de Chiovenda (declaratória), segundo a qual o Estado não teria criatividade judicial e,
portanto, não poderia criar a norma individual e concreta. Assim, o processo teria poderes eminentemente
jurídicos como um (mero) instrumento do direito material. É possível fazer uma releitura dos �ns jurídicos à
luz do sistema de precedentes adotados pelo CPC brasileiro. A estruturação da obediência aos precedentes
gera: a) uniformidade do direito na preservação de uma unidade decisória para casos análogos; b)
desestímulo à litigiosidade judicial, uma vez que o dissídio interpretativo e as variadas decisões em sentido
diverso incentivam as partes a buscar o Poder Judiciário na esperança de sua causa ser distribuída a um
magistrado simpatizante de sua tese; c) segurança e previsibilidade, no sentido de as partes terem condição
de saber qual posicionamento será adotado no seu caso tendo em vista as decisões pretéritas sobre situações
similares.
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A aplicação efetiva da Constituição Federal no CPC, embora de certa maneira já seja objeto de alguma
elaboração por parte da doutrina, ainda não é colocada como protagonista.
DIVERSAS PERSPECTIVAS CONCEITUAIS DA JURISDIÇÃO
A doutrina majoritária observa que não se pode emprestar um conceito único de jurisdição a todos os
sistemas e para todos os tempos.
Pode-se conceituar jurisdição como uma função conferida a terceiro imparcial para, de modo
imperativo e criativo, concretizar direitos subjetivos e objetivos postulados com força de
imutabilidade.
A jurisdição pode ser vista, em decorrência da tripartição de poderes, como poder, função e atividade: é
uma manifestação de poder do Estado para decidir imperiosamente as situações a si submetidas; expressa a
função dos órgãos estatais de promover a paci�cação dos con�itos (na maioria dos casos) e é atividade, pois
constitui um complexo de atos do juiz (procedimento) para o exercício do seu múnus público.
Ao contrário da de�nição que lhe emprestou a doutrina tradicional, a jurisdição não cuida exclusivamente de
dizer o direito. Assim, a jurisdição não se circunscreve somente no reconhecer o direito, pois, ao contrário do
que a etimologia da palavra possa fazer entender (juris + dictionis = dizer o direito), ela envolve também as
medidas para proteger um direito ameaçado, bem como pode praticar técnicas executivas que serão
empregadas para modi�cação do plano exterior ao processo para que o direito tal qual reconhecido seja
concretizado.
O Poder Judiciário exerce função típica de atuar a jurisdição na medida em que a ele fora franqueada essa
atividade. Constitui um exercício secundário, instrumental, desinteressado, provocado e insuscetível de
controle externo.
É secundário, pois por meio dele se realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido primariamente
efetivada pelas partes.
É instrumental, pois sua função é exclusivamente fazer atuar outra regra, as de direito material. Mesmo
quando o processo atua sobre o direito processual (v.g., ação rescisória, arguição de incompetência), sua
função é de instrumento ao processo.
É desinteressado, já que a sua atuação exige imparcialidade.
É provocado, já que a manifestação jurisdicional depende de provocação decorrente do princípio da inércia
(CPC, art. 2 ).
É insuscetível de controle externo, pois, ao contrário das atividades legislativas (que podem ser reguladas
por controle de constitucionalidade ou mandado de injunção, por exemplo) e executivas (em que pode haver
o controle dos atos administrativos), a atividade jurisdicional não é controlada por nenhum outro poder.
o
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Em nosso ordenamento, com as mudanças na aplicação do direito empreendidas especialmente a partir dos
anos de 1990 com a denominada onda do “pós-positivismo”, “neoconstitucionalismo” ou “hermenêutica
constitucional” constataram a notória di�culdade de a lei regular tudo e com precisão somados às novas
técnicas de produção legislativa (cláusulas gerais e normas de conceito vago e indeterminado) bem como a
complexidade dos fenômenos sociais o sistema brasileiro adotou, como forma de atuação judicial no caso
concreto, a teoria da criatividade judicial.
Ao exercer a atividade criativa como mecanismo de atuação jurisdicional, o magistrado:
• Possui participação mais atuante na concreção da norma individual e concreta, pois não basta a mera
aplicação da lei no caso concreto (método subsuntivo). É necessário encontrar uma solução que esteja em
conformidade com aquele especí�co caso concreto objeto de julgamento.
• Procede a uma análise dúplice, pois não apenas analisa o conteúdo da norma em si considerada como (e
principalmente) analisa sua incidência sob o enfoque (�ltragem) constitucional. Dessa forma, a Constituição
passa a ser um modo de olhar e interpretar todos osdemais ramos do Direito. Nesse enfoque deverá
proceder à interpretação conforme a Constituição, ao controle de constitucionalidade e ao sopesamento dos
direitos fundamentais.
• Para exercer esse desiderato possui em suas mãos uma grande variedade de instrumentos para
aplicação do direito. Ainda sob uma reminiscência do Estado Liberal do século XIX, o CPC/73 defendia a
ampla primazia da lei (art. 126) autorizando a aplicação das demais fontes somente no caso de omissão de
regra. O atual sistema determina que o juiz se valha de princípios (que não são mais meros mecanismos de
supressão de lacunas, mas, bem diferente, integram o sistema ao lado das regras). Assim, compete ao
Judiciário aplicar, precipuamente, o ordenamento jurídico (CPC, art. 140). A lei deve sempre ser interpretada
de acordo com a Constituição Federal. Caso o juiz, por exemplo, encontre mais de uma solução para o caso
concreto, deve escolher aquela mais rente ao interesse disciplinado na CF. Assim, se um texto de lei der
margem a várias interpretações o juiz não deve valer-se de sua convicção pessoal, mas fazer uso da técnica de
interpretação de acordo com a CF.
A criatividade judicial que constitui uma necessidade à luz de todas as situações acima expostas transfere a
legitimidade do criador da norma. Se antes essa condição era praticamente assumida pelo legislador e o
magistrado apenas “declarava a lei no caso concreto”, hoje ela é exercida pelo juiz ao criar a norma do caso
concreto. O texto é o ponto de partida para se alcançar a norma jurídica, mas esse caminho é fruto da
interpretação do juiz.
A criatividade judicial decorre da inafastabilidade da jurisdição, na medida em que é vedada a proibição do
non liquet.
Por �m, uma importante observação: a criatividade judicial não pode ser confundida com um ativismo
desmedido do Poder Judiciário. Especialmente no momento da interpretação da regra (a norma) é importante
que nenhum juiz se aproxime do direito positivo como alguém neutro ou puro, pois, como bem observa
A criatividade não quer conferir mais poderes aos juízes, mas conferir responsabilidade para diminuir a
denominada “discricionariedade” fazendo um sistema mais coeso e coerente.
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VÍDEO RESUMO
Olá, estudante! Como vai? Agora, neste vídeo, você vai compreender como funciona a estrutura do Poder
Judiciário, com a tripartição de poderes (executivo, legislativo e judiciário). Também veremos a função
jurisdicional e as modernas concepções da jurisdição em especial a atividade criativa que constitui no poder o
juiz de criar a solução do caso concreto. Bons estudos a todos vocês!
 Saiba mais
Vale muito a pena ler o seguinte texto para aprofundamento dos seus estudos: Decisão Judicial e
Políticas Públicas.
CARVALHAES, A. S. N. Decisão Judicial e Políticas Públicas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
2019. 
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta etapa dos nossos trabalhos, daremos um passo além e estudaremos as formas de se enxergar a
jurisdição. Podemos analisá-la sob o critério de haver ou não con�ito, quando então podemos classi�car em
jurisdição contenciosa (com con�ito) ou voluntária (sem con�ito, uma verdadeira administração pública dos
interesses privados). Podemos ainda analisar a jurisdição sob a ótica dos seus princípios, que também lhe
conferem os devidos contornos, como a inevitabilidade, juiz natural, inafastabilidade, aderência ao território e
à investidura. Cada um será esmiuçado nos blocos a seguir.
Desejo ótimos estudos para vocês.
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E JURISDIÇÃO CONTENCIOSA
Aula 2
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
Nesta etapa dos nossos trabalhos, daremos um passo além e estudaremos as formas de se enxergar a
jurisdição. Podemos analisá-la sob o critério de haver ou não con�ito, quando então podemos classi�car
em jurisdição contenciosa.
46 minutos
https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/secao/1188257207/1-constitucionalismo-e-jurisdicao-constitucional-justificacao-das-decisoes-judiciais-decisao-judicial-e-politicas-publicas
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https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315535 8/31
A classi�cação entre essas duas modalidades de jurisdição elege como critério de distinção o modo como o
juiz atua no processo.
Sempre se pensou a jurisdição com objetivo de dirimir con�itos de interesses. É tradicional, mesmo na
doutrina clássica, a de�nição de jurisdição com base nesse pressuposto. Constitui a sua função social como
dito anteriormente.
Contudo, independentemente dessa relevante função, há situações jurídicas em que a produção dos efeitos
�ca condicionada a uma chancela do Estado, ainda que essa situação jurídica não possua con�ito. São
situações que, pela sua importância, exacerbam os limites da esfera privada, sendo de interesse do Estado e
consequentemente da coletividade.
Assim, no âmbito da jurisdição voluntária o juiz não aplica o direito ao caso concreto, substituindo a vontade
dos peticionários, mas, bem diferente, pratica atos integrativos da vontade dos interessados de negócios
jurídicos privados que passam a ser tutelados pelo Poder Judiciário.
É importante tratar das diferenças entre essas duas modalidades de jurisdição:
• Jurisdição contenciosa – tem por objetivo a resolução de con�itos. Entretanto, é importante frisar que nem
sempre a jurisdição exerce sua função em litígios concretos. É possível o seu exercício diante de litígios em
potencial, mas que não foram concretizados. Basta pensar na hipótese da revelia, na atuação do MP como
parte, na renúncia ao direito ou no reconhecimento jurídico do pedido. Nestes casos, mesmo não havendo
pretensão quali�cada por pretensão resistida, haverá jurisdição contenciosa.
• Jurisdição voluntária – a �m de proteger esta ordem, intervém o Estado até mesmo na administração dos
mais diversos interesses privados, pelos mais diferentes órgãos. Em outras palavras: considerando a
importância que têm para o Estado determinadas situações de interesses privados, a lei lhe confere o poder
de intervir na sua administração, conquanto isso venha a limitar a autonomia de vontade dos respectivos
titulares.
Assim, o Estado regula o nascimento e o óbito, o reconhecimento do �lho, o testamento, o casamento, o
registro geral das pessoas, as empresas, e o Ministério Público, no que concerne às fundações e à
propriedade por meio da inscrição no registro imobiliário.
Entretanto, existem certas categorias de interesses privados cuja administração é conferida aos órgãos
públicos, é especialmente delegada aos órgãos jurisdicionais. Essa tutela poderia ser conferida a outros
órgãos, mas pela sua importância e relevância, e porque não dizer, opção político-legislativa) a lei preferiu
atribuir ao Judiciário, pois este se apresenta, em linha de princípio, mais apto a desempenhar sua função, seja
pelo conhecimento jurídico, seja pela idoneidade, seja pelas garantias de independência de que goza.
Da inexistência de con�itos segue-se que os interessados não têm o que contrariar ou contestar, daí a
inexistência de contraditório, ou, ao menos, um contraditório mitigado e eventual. Na jurisdição voluntária
permite-se ao juiz julgar por equidade (Código de Processo Civil, art. 723, parágrafo único).
Jurisdição voluntária é atividade do Estado com objetivo de integrar e �scalizar determinadas
situações jurídicas previstas em lei.
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São características importantes dessa modalidade de jurisdição:
• Atividade inquisitória – justamente por se tratar de atividade que objetiva integrar e �scalizar
determinadas situações jurídicas, é possível que o Estado tome medidas de ofício até mesmo contrária à
vontade dos interessados.
• Não aplicação da legalidade estrita – prevê o art. 723, parágrafo único, do Código de Processo Civil que, ao
tratar de procedimentos especiaisde jurisdição voluntária, “o juiz não é obrigado a observar critério de
legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna”
(BRASIL, 2015). Podendo, portanto, decidir por equidade.
• Procedimento diferenciado – o procedimento da jurisdição voluntária possui diversas peculiaridades:
  - A não executividade, já que na ausência de procedimento especial especí�co para dada situação autoriza-se
a aplicação das regras gerais previstas nos arts. 719-725 do Código de Processo Civil.
  - A legitimidade pertence ao interessado, ao Ministério Público ou à Defensoria Pública.
  - Haverá citação de todos os interessados. A Fazenda Pública (quando houver interesse) e o Ministério
Público (nas hipóteses do art. 178, Código de Processo Civil) serão intimados.
  - O procedimento de jurisdição voluntária encerra-se com sentença, sendo cabível, no caso, recurso de
apelação (arts. 724 e 1.009, Código de Processo Civil).
São procedimentos de jurisdição voluntária à luz do Código de Processo Civil:
1. Das noti�cações e interpelações.
2. Das alienações judiciais.
3. Do divórcio e da extinção de união estável consensuais e da alteração do regime de bens do
matrimônio.
4. Dos testamentos e codicilos.
5. Da herança jacente.
6. Dos bens dos ausentes.
7. Das coisas vagas.
8. Dos interditos e sua curatela.
9. Da organização e da �scalização das fundações.
10. Da rati�cação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo.
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• Além daqueles previstos no art. 725, Código de Processo Civil (mas sem a devida regulamentação
procedimental): I – emancipação; II – sub-rogação; III – alienação, arrendamento ou oneração de bens de
crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos; IV – alienação, locação e administração da coisa comum; V
– alienação de quinhão em coisa comum; VI – extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do
usufrutuário, do termo da sua duração ou da consolidação, e de �deicomisso, quando decorrer de renúncia
ou quando ocorrer antes do evento que caracterizar a condição resolutória; VII – expedição de alvará judicial;
VIII – homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor. Há ainda, procedimentos
de jurisdição voluntária previstos em legislação extravagante como, por exemplo, a alteração posterior do
nome (art. 57 da Lei de Registros Públicos) que pode ser realizado extrajudicialmente também.
OS PRINCÍPIOS DA INEVITABILIDADE, INAFASTABILIDADE E JUIZ NATURAL
Para entender a inevitabilidade, é fundamental a compreensão da imperatividade.
É necessário que o Estado tenha a possibilidade de impor suas decisões para os litigantes de maneira coativa,
independentemente de suas vontades, sob pena de esvaziar a utilidade da atividade jurisdicional. Houvesse
qualquer ânimo de espontaneidade à submissão da atividade judicial, a seus resultados e a seus efeitos,
certamente não trataríamos o processo civil como um ramo do direito público.
Da imperatividade decorre a inevitabilidade. Uma vez que a decisão deve ser cumprida e o estado das partes
em relação à decisão é de sujeição, não há como evitar a decisão.
A despeito de o processo civil brasileiro ser informado pelo princípio da cooperação entre a magistrado e as
partes (art. 6 , Código de Processo Civil) não se pode perder de vista, até como uma questão estruturante do
Estado, que a posição das partes é de respeito para aquilo que foi decidido pelo Judiciário decorrente do
poder emanado do Estado.
É possível, contudo, afastar-se previamente do Poder Judiciário socorrendo-se de formas alternativas, como a
arbitragem (Lei nº 9.307/96).
Constitui certamente o princípio constitucional mais estudado no ordenamento processual. O art. 5 , XXXV, da
Constituição Federal assevera que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”. O Código de Processo Civil, com pequenas alterações, reproduz a mesma regra no seu art. 3 .
Por falar no referido artigo Constitucional, a inevitabilidade possui estreita relação com a inafastabilidade que
possui duas acepções no tocante ao acesso à justiça: a) no plano formal, a possibilidade de acesso ao Poder
Judiciário propondo ação ou sendo demandado. Nesse caso, se confunde com o próprio conceito tradicional
de inafastabilidade, b) no plano material, constitui-se na representação do devido processo legal, no sentido
de não bastar apenas acessar o Judiciário, mas ter direito a uma tutela adequada, célere e efetiva.
O princípio da inafastabilidade (ou da ubiquidade) preconiza que todos podem postular no Judiciário
pretensão a uma tutela jurisdicional. Nenhuma causa pode ser excluída do crivo do Judiciário. Contudo há
duas situações em que se vedam ou diferem a possibilidade de se socorrer da atividade jurisdicional:
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a) Atividade jurisdicional vedada. É proibido se buscar o Poder Judiciário nas hipóteses de crime de
responsabilidade de determinados entes (Constituição Federal, art. 51, I e II).
b) Atividade jurisdicional condicionada (instância administrativa de curso forçado). Em regra, o
ordenamento não exige o esgotamento de alguma seara administrativa ou outra para que somente então se
possa buscar o judiciário. A única exceção nesse tocante no nosso ordenamento é a justiça desportiva
(Constituição Federal, art. 217, § 1 ) em que se exige o exaurimento por essa via especializada para a sua
tutela no Poder Judiciário. O ingresso de reclamação constitucional condicionada ao exaurimento das vias
administrativas (Lei Federal nº 11.417/2006, art. 7 , § 1 ) não ofende o referido princípio, pois a lei veda
apenas a utilização daquela medida (reclamação), mas não outro meio idôneo.
O princípio da inafastabilidade espraia seus efeitos nas normas infraconstitucionais (art. 140 do Código de
Processo Civil e art. 4 da Lei de introdução das normas do direito brasileiro). O primeiro artigo em comento
disciplina que “o juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento
jurídico”. Trata-se da regra de vedação ao non liquet, ou seja, é vedado ao judiciário não dar resultado à tutela
pleiteada.
Deve se compreender o ordenamento jurídico como o conjunto de fontes que o magistrado poderá valer-se
para decidir o caso concreto, como a adoção dos precedentes (arts. 926 e 927, Código de Processo Civil).
É importante não confundir lacuna da lei com falta de regulamentação infraconstitucional quando a
Constituição disciplinou determinada norma, mas por ser de e�cácia limitada, depende de regulamentação
ordinária.
Neste caso não há lacuna da lei, pois o direito já existe. A parte tem o direito, mas não sabe como concretizá-
lo.
Exatamente para evitar situações nesse sentido que o ordenamento prevê o Mandado de Injunção
(Constituição Federal, art. 5 , LXXI, e Lei nº 13.300/2016), para permitir que o requerente exercite o seu direito,
previsto constitucionalmente, mas carente de regulamentação.
A despeito da inafastabilidade da jurisdição, o Código de Processo Civil deseja que esta seja a última
alternativa colocada à disposição das partes. Assim, estabelece de maneira genérica as seguintes proposições:
a) A permissibilidade da arbitragem (que vem regulamentada na Lei nº 9.307/96 e art. 3 , § 1 , Código de
Processo Civil).
b) O Estado deve, sempre que possível, promover a solução consensual dos con�itos (art. 3 , § 2 ). Assim não
apenas com o estímulo de métodos alternativos às soluções de con�ito como a conciliação, a mediação como
soluções paci�cadoras endoprocessuais. Como prova, tem-se a obrigatoriedade da audiência de conciliação
ou mediação (art. 334, Código de Processo Civil). Todos os que participam do processo devem estimular a
composição amigável do con�ito (juiz, advogados, defensores, MP epartes). A inafastabilidade que, num
primeiro momento se mostra adequada, possui ao menos dois efeitos colaterais relevantes: a) o aumento
exponencial de processos no Brasil, abarrotando as mesas dos juízes e b) com o aumento dos processos, deve
se aumentar o efetivo de juízes e cartorários, aumentando o custo do Poder Judiciário, arcado pela sociedade.
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Em frequentes pesquisas feitas pelo CNJ constatou-se a presença de milhões de processos tramitando no
território nacional, constatando que o Poder Judiciário não possui condições técnicas de prestar a jurisdição
adequada com esses números superlativos.
Falaremos agora do juiz natural: juiz é todo aquele que ocupa cargo expressamente previsto na Constituição
Federal (art. 92, I a VII). É o administrador da justiça em nome do Estado. Uma vez investido no cargo, será
designado para uma causa com base nas regras gerais e abstratas de competência previstas no ordenamento
processual.
Dessa forma, não é possível que um tribunal seja criado ou designado para que julgue um especí�co caso. A
autoridade judiciária deve preexistir ao caso a ser julgado.
Dispõe a Constituição Federal que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” e “ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente” (art. 5 , respectivamente incisos XXXVII e LIII) (BRASIL, 1988).
Perceba que o ordenamento não prevê expressamente a existência de juiz natural, mas é possível se extrair
com fundamento na conjugação dos dois incisos citados anteriormente.
Ocorre que o princípio do juiz natural (tendo como seu corolário lógico a vedação do tribunal de exceção)
constitui uma garantia aos jurisdicionados de julgamento imparcial e isento, na medida em que não se
estabelecerão juízos ou tribunais para aquela especí�ca situação.
Assim, a existência do princípio decorre de dois critérios. Pode-se estabelecer um critério formal (juiz
investido por regras gerais e abstratas preexistentes ao caso concreto) e outro critério substancial
(imparcialidade de independência dos magistrados).
OS PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO: ADERÊNCIA AO TERRITÓRIO, INVESTIDURA,
INDELEGABILIDADE
A jurisdição só pode ser exercida por quem dela seja legitimamente investido. Esse é o conceito de
investidura: a jurisdição é função do Estado e, pois, os juízes que atuam deverão ser investidos por ato o�cial e
legítimo. Os atos processuais praticados por quem não é investido legitimamente são nulos de pleno direito,
incorrendo, seu autor, no crime capitulado no art. 324 do CP. Quem não for investido na autoridade de juiz,
não poderá desempenhar uma função jurisdicional sob pena de inexistência jurídica dos atos praticados.
A jurisdição pressupõe um território em que possa ser exercida. Assim, a jurisdição não pode ser exercida fora
do território ao qual é adstrito o juiz. Fora de sua circunscrição territorial, o juiz não exerce a sua jurisdição,
sendo ele simples cidadão particular. É a denominada aderência ao território.
Eventual afronta a essa característica gera o vício de incompetência, que será mais bem analisado em capítulo
posterior.
Essa característica é também denominada princípio da territorialidade. Desse princípio decorre a necessidade
de cooperação entre os órgãos judiciários, da qual são instrumentos as cartas precatória e de ordem, por
exemplo.
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Essa regra sofre temperamentos como a possibilidade de citação, intimação ou atos de constrição em
comarcas contíguas (fora da sede do juízo, portanto), conforme dispõe o Código de Processo Civil no art. 255 e
no art. 60, que especi�ca: “Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado, comarca, seção ou subseção
judiciária, a competência territorial do juízo prevento estender-se-á sobre a totalidade do imóvel” (BRASIL,
2015.
Ademais é possível a oitiva das partes ou testemunhas por meio de videoconferência (arts. 385, § 3 , e 453,
§§ 1 e 2 , Código de Processo Civil).
Não se pode confundir a territorialidade, instituto ligado ao estudo da competência, com a autoridade e os
efeitos da decisão proferida por um dado juiz.
A autoridade de uma decisão judicial de um juiz de Guaxupé, Minas Gerais, por exemplo, projeta seus efeitos
para todo território nacional (observando evidentemente os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada).
Exceção à regra a essa questão se encontra no art. 16 da Lei nº 7.347/85 (Ação Civil Pública) ao disciplinar que
“a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator,
exceto se o pedido for julgado improcedente por insu�ciência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova” (BRASIL, 1985).
Quanto à indelegabilidade, uma ideia antiga de Estado de Direito é aquela que explicita que tanto o Estado
como aqueles que por ele são regidos devem se submeter ao império da lei. Assim, dado que a função
jurisdicional lida no contexto da tripartição dos poderes, esta atividade judicante não pode ser delegada.
Tal característica deve ser entendida no sentido de que os órgãos que podem exercer a função jurisdicional
são única e exclusivamente aqueles que a Constituição Federal cria e autoriza. É vedado que haja alguma
forma de delegação para outros órgãos não autorizados. A indelegabilidade é uma decorrência da
territorialidade e do juiz natural.
Rege a matéria, mesmo que de forma implícita, o art. 2 da Constituição Federal ao determinar que “são
poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL,
1988).
É importante frisar que a expedição de carta precatória não constitui delegação de atividade, pois esta não
pertence ao juízo deprecante. Em decorrência da territorialidade, o juízo não poderá colher depoimento oral,
proceder apreensão ou citação em comarca diversa daquela em que está. Assim, com fundamento na
cooperação nacional, requer a ajuda de órgãos diversos que possuam essa competência.
A tendência nesse caso é de uma gradual relativização na medida em que se forem aprimorando os
mecanismos tecnológicos e a sua consequente aplicação de maneira mais corriqueira. O Código de Processo
Civil já municiou em diversos artigos a possibilidade de depoimento pessoal ou testemunhal por
videoconferência (arts. 385, § 3 , e 453, § 1 ).
É importante não confundir impossibilidade de delegação da atividade jurisdicional com a delegação para
cumprimento de atos decisórios. Em decorrência do sistema hierarquizado estabelecido no Poder Judiciário,
as decisões dos tribunais e tribunais superiores, no mais das vezes, são cumpridas pelo juiz de primeira
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instância. A este juiz não compete decidir, mas apenas cumprir o que foi determinado na Carta de Ordem (art.
260, Código de Processo Civil).
É possível ainda que causas de competência originária do STF sejam delegadas aos juízes de primeira instância
para a prática de determinados atos processuais.
É o que vem estabelecido no art. 102, I, m, da Constituição Federal:
Em situação também de possibilidade de delegação encontra-se a hipótese do art. 93, XI, da Constituição
Federal ao estabelecer que
VÍDEO RESUMO
Olá, estudante! Como vai? Agora, neste vídeo, você vai compreender como funciona a distinção entre
jurisdição contenciosa e voluntária e, em especial, o conceito de importantes princípios do direito processual
civil como inevitabilidade, juiz natural, inafastabilidade, aderência ao território, indelegabilidade e investidura.
Bons estudos a todos vocês!
 Saiba mais
Vale muito a pena ler o seguinte texto para aprofundamento dos seus estudos: Sobre o conceito de
jurisdiçãovoluntária.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe: I – processar e julgar, originariamente: ... m) a execução de sentença nas
causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática
de atos processuais. 
— (BRASIL, 1988)
[...] nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído
órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o
exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do
tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por
eleição pelo tribunal pleno. 
— (BRASIL, 1988)
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GODINHO, R. R.  Sobre o conceito de jurisdição voluntária. Revista do Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro, n. 79, jan./mar. 2021.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta etapa dos nossos trabalhos dentro da teoria geral do processo, falaremos sobre a divisão do trabalho
exercida pelo Poder Judiciário denominada competência. Para tanto, iremos analisar as diversas doutrinas
que formam o conceito do instituto bem como os critérios de competência com a divisão em competência
material (em razão da matéria), funcional (em razão da função do juiz no processo), em razão da pessoa
(como exemplo, as pessoas que possuem foro privilegiado), a competência territorial (de comarcas e seções
judiciárias) e a competência pelo valor da causa (como os juizados especiais cíveis). Veremos também, a
classi�cação, as formas de se modi�car a competência e as regras de perpetuação da jurisdição.
Bons estudos!
DIFERENÇA ENTRE COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO. CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DA
COMPETÊNCIA: TERRITORIAL, FUNCIONAL E OBJETIVO
Jurisdição, como visto, é o poder do Estado em dizer o direito e além disso tem como importante característica
ser una e poder ser exercida em abstrato por todos os órgãos jurisdicionais investidos. Hipoteticamente seria
possível até acometer a um único juiz no Brasil todas as causas do território nacional, pois todo juiz exerce
jurisdição.
Todavia, por impossibilidades práticas, jurídicas e até mesmo físicas, seria impossível deixar aos cuidados de
um único magistrado o encargo de dirimir todas as situações que se apresentam na sociedade e ensejam a
busca do Poder Judiciário. É preciso que se dividam as tarefas jurisdicionais entre os diversos juízes e órgãos a
�m de tornar a tutela a ser prestada mais ágil e efetiva. Os critérios de distribuição aos diversos órgãos e
juízes acerca de sua atribuição jurisdicional é chamada de competência.
Aula 3
COMPETÊNCIA
Nesta etapa dos nossos trabalhos dentro da teoria geral do processo, falaremos sobre a divisão do
trabalho exercida pelo Poder Judiciário denominada competência.
50 minutos
https://www.mprj.mp.br/documents/20184/2157471/Robson%20Renault%20Godinho.pdf/
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O termo competência deriva do verbo competere, que signi�ca proporção, simetria. Assim, a competência é
o limite da jurisdição, pois delimita as hipóteses em que o órgão jurisdicional pode julgar a lide.
A jurisdição legitima o exercício do poder pelo Estado de�nindo quais os casos em que esta atividade pode ser
concretizada. Alguns autores entendem que a competência é medida de poder (Athos Gusmão Carneiro,
Ernane Fidélis dos Santos, Frederico Marques); outros que se refere ao próprio poder (Vicente Greco e
Moacyr Amaral); alguns ainda entendem que se trata de regra de distribuição de atribuições (Arruda Alvim
e Humberto Theodoro Júnior) e outros, asseverando que por ser a jurisdição una e indivisível, não estaria
sujeita a medidas ou quantidades sendo apenas a delimitação do exercício da atividade jurisdicional
(Antônio Carlos Marcato, Alexandre Freitas Câmara). Há quem defenda ainda que competência não seja
critério quantitativo (medida), mas qualitativo, pois constitui legitimidade para exercer a jurisdição
(Marinoni-Arenhart-Mitidiero).
J.J. Canotilho confere uma vertente positiva à competência, como autorização para o exercício do poder
jurisdicional, e uma vertente negativa pela delimitação desse mesmo exercício.
É conceito da teoria geral do direito e não do direito processual, já que diversas searas (tais como o direito
administrativo e constitucional) igualmente se utilizam do termo competência.
A competência possui como características:
A – Tipicidade e indisponibilidade: a competência sempre decorre de lei (princípio da tipicidade) e é
indelegável e intransferível (princípio da indisponibilidade). Dessa forma, a competência tem sua fonte na lei
em diversos níveis jurídico-positivos. Assim, a Constituição Federal disciplina a competência de jurisdição e a
competência hierárquica dos tribunais superiores.
As leis federais regulam a competência territorial, as leis de organização judiciária regulam a competência de
juízo e a competência interna e as Constituições Estaduais regulam a competência dos tribunais locais.
Em resumo: a Constituição de�ne a justiça competente; o Código de Processo Civil, o foro competente; e
as leis de organização judiciária, o juízo competente.
Todavia, admite-se, em certos casos, a existência de competência implícita (implied power). Dessa forma,
quando não houver regra expressa, algum órgão haverá de ter competência para apreciar a questão. Não se
pode admitir um non liquet em decorrência da não previsão da competência. Como exemplo, os casos de
união estável até a sua regulação pela Lei de 1994, ou mesmo os embargos de declaração para o STJ e o STF
sendo que não há previsão expressa neste sentido.
No tocante à indisponibilidade, admite-se excepcionalmente exceções como as hipóteses do art. 69, § 2 , do
Código de Processo Civil (atos de cooperação) e 109, V-A, §§ 3 a 5 (competência dos juízes federais) da
Constituição Federal.
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B – Pressuposto de validade: ao contrário da falta de jurisdição, que gera a inexistência jurídica, a falta de
competência gera apenas uma ilegitimidade no exercício dessa jurisdição, mas o processo existe e o juiz
incompetente mantém sua jurisdição. Tanto que ele mesmo poderá se declarar incompetente quando esta
incompetência for absoluta. Trata-se da teoria da Kompetenz Kompetenz. Essa regra é a�rmada no art. 16 do
Código de Processo Civil, que estabelece que a jurisdição será exercida pelos juízes e tribunais em todo
território nacional.
C – Não exclusividade: e em virtude da regra anterior, há de se entender que, a despeito de mais comum,
nem sempre a jurisdição é exercida por órgão do Poder Judiciário. Assim é possível veri�car atividade
jurisdicional: a) no Senado, ao julgar o Presidente da República (art. 52, I e II, Constituição Federal); b) o
Tribunal de Justiça desportiva (que julga con�itos esportivos); c) os Tribunais de Contas (art. 73 da Constituição
Federal); e d) o Tribunal de Ética da OAB.
Os critérios de competência são divididos em seis grupos. Este roteiro, é o itinerário que deve ser observado
para que se busque a competência para determinada causa:
Competência da jurisdição brasileira (a ser identi�cada no CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL).
Competência dos Tribunais (a ser identi�cada na Constituição Federal).
Competência das justiças especializadas (a ser identi�cada na Constituição Federal).
Competência da Justiça Federal (a ser identi�cada na Constituição Federal).
Competência de foro (a ser identi�cada no CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL).
Competência de juízo (a ser identi�cado no CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL e organização judiciária).
PREVENÇÃO E PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS. CAUSAS MODIFICATIVAS DA
COMPETÊNCIA. REUNIÃO DE PROCESSOS
Em decorrência de peculiaridades regionais estabelecidas pela organizaçãojudiciária, antes de se ajuizar uma
causa é possível que dois ou mais órgãos possam ser concorrentes e abstratamente competentes para o seu
julgamento (como exemplo, a existência de várias varas cíveis numa mesma cidade).
Contudo, após o ajuizamento e com a distribuição da causa, haverá a �xação de um juízo especí�co.
De acordo com o art. 312 do Código de Processo Civil, considera-se proposta uma ação no momento de sua
distribuição (protocolo) e ainda o art. 284 estabelece: “Todos os processos estão sujeitos a registro, devendo
ser distribuídos onde houver mais de um juiz” (BRASIL, 2015).
Este órgão (escolhido pelos critérios de competência previstos em lei) é o competente para processar,
conduzir e decidir aquela causa em detrimento de qualquer outro.
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Assim, a regra da perpetuação da jurisdição “perpetuatio jurisdictionis” (que melhor seria chamada de
perpetuação da competência) consiste na cristalização da competência perante um dado juízo no
momento da propositura da ação.
Assim, quer-se dizer que, no momento em que se perpetua a competência do juízo, nenhuma modi�cação do
estado de fato (mudança de domicílio do réu, por exemplo) ou de direito (ampliação do teto da competência
em razão do valor da causa nos juizados especiais, por exemplo) superveniente poderá alterá-la.
Conforme dito, há vários órgãos abstratamente competentes para julgar determinada causa. Quando há a
distribuição ou o registro, apenas um deles será competente para a causa. Vê-se aí a perpetuação.
Há, contudo, exceções:
• Supressão do órgão judiciário. Por exemplo, a extinção de uma vara de família em determinada comarca,
v.g., transferindo esses processos todos para a vara cível.
• Alteração superveniente da incompetência absoluta. O Código de Processo Civil vale-se genericamente
da locução “absoluta”, que alcança todos os casos de competência dessa natureza, até mesmo no tocante à
competência em razão da pessoa, ao juízo (no que se refere a foros regionais, utilizados em algumas cidades
brasileiras) e à territorial absoluta (Código de Processo Civil, art. 47). Assim, a criação de varas de falência em
uma comarca faz remeter os autos da originária vara cível para essa vara especializada.
• Perda da competência pelos critérios modi�cativos. Critérios decorrentes de conexão, continência,
derrogação e prorrogação (arts. 55 a 58, 63 e 65, Código de Processo Civil) tema que será enfrentado adiante,
ainda neste capítulo.
Já as causas modi�cativas da competência consistem na alteração da competência decorrente de dois fatores:
lei ou vontade das partes. É fenômeno processual da qual um juízo abstratamente incompetente passa a ser
concretamente competente para a causa.
Só há modi�cação da competência relativa (art. 54, Código de Processo Civil). A competência absoluta não
poderá ser modi�cada, pois esta é improrrogável e indisponível. Veja as hipóteses no quadro a seguir:
Quadro 1 | Modi�cação da competência
Modi�cação da competência
Convencional
Prorrogação (tácita)
Derrogação (expressa)
Legal
Conexão
Continência
Fonte: elaborado pelo autor.
A – Modi�cação convencional
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A1 – Prorrogação (tácita): ocorre prorrogação quando a parte não exerce seu ônus e deixa de arguir a
incompetência relativa em preliminar de contestação. É considerada tácita, pois a prorrogação é fruto de uma
omissão do réu.
A competência relativa, como dito, foi instituída para atender o interesse das partes. O objetivo é proporcionar
que a parte não tenha di�culdades em exercer o seu direito de defesa em decorrência da di�culdade de
acesso ao foro do juízo quando não devidamente convencionado. Por isso, como foge da esfera de interesse
do Estado, não podendo ser conhecida de ofício (art. 337, § 5 , Código de Processo Civil e Enunciado 33 da
Súmula do STJ).
Há, contudo no Código de Processo Civil uma possibilidade de conhecimento de ofício da competência
territorial: quando o juiz constatar no processo a abusividade da cláusula de eleição de foro (Código de
Processo Civil, art. 63, § 3 ). Constitui mecanismo para evitar que uma das partes �que extremamente lesada
e di�culte o exercício de sua defesa em decorrência do foro da causa. Contudo, mesmo nessa situação, o
Poder Judiciário somente poderá decretar antes da apresentação da contestação, pois se a parte, na defesa,
não alegou a abusividade é porque o foro adotado não lhe causou prejuízo. E o réu deverá fazê-lo na primeira
oportunidade em que falar aos autos (contestação) sob pena de preclusão.
A2 – Derrogação (expressa): é a forma expressa de modi�cação convencional da competência. Isso ocorre
porque as partes podem eleger o foro competente para o julgamento da causa (art. 78 do Código Civil c/c art.
63 do Código de Processo Civil). Importante dizer que aquilo que é elegido é o foro e não o juízo. Para a
e�cácia da derrogação deve constar em contrato escrito e mencionar expressamente o negócio jurídico
(Código de Processo Civil, art. 63, § 1 ), obrigando, igualmente, herdeiros e sucessores (Código de Processo
Civil, art. 63, § 2 ). Aliás, é o que preconiza o Enunciado 335 da Súmula do STF: “É válida a cláusula de eleição
do foro para os processos oriundos do contrato”.
B – Modi�cação legal
B1 – Conexão e continência
É fato inexorável que milhões de demandas coexistem no Poder Judiciário. Se essas demandas forem, entre si,
diferentes, esse fenômeno não importa em nada ao direito. Contudo, se houver semelhança entre elas tendo
por base os seus elementos identi�cadores (partes, causa de pedir e pedido) é necessário proceder ao
confronto entre essas causas para se veri�car se o caso será de reunião ou resolução de alguma delas.
Assim podemos estabelecer a seguinte gradação entre duas ou mais demandas:
Quadro 2 | Gradação entre duas demandas
Diferença total entre as
demandas
Semelhança parcial dos
elementos
da demanda
IDENTIDADE total
dos elementos
da demanda
Irrelevante para o direito Conexão ou continência Litispendência
Fonte: elaborado pelo autor.
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Conexão e continência são, portanto, modalidades de relação parcial entre duas ou mais demandas.
As demandas possuem diversos graus de intensidade umas com as outras, desde o mais intenso, quando
ocorre a litispendência, que é a completa identidade entre duas demandas, a nenhuma relação entre duas
causas, que, por isso, não produz nenhum efeito jurídico já que a lei não se interessa por esse fenômeno.
Todavia, a parcial identidade entre as demandas também recebe tratamento jurídico pelo sistema
denominado conexão e continência.
Tanto a conexão quanto a continência (em uma de suas hipóteses) produzem o efeito de reunião dos feitos
perante determinado juízo prevento (previamente estabelecido por lei, Código de Processo Civil, arts. 58 e
59). O objetivo da reunião de feitos é: a) economia processual, pois a instrução será feita em uma única
oportunidade; e b) evitar decisões con�itantes, que podem ser geradas por demandas julgadas em
separado.
Serão conexas, de acordo com a lei, as causas quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir
(Código de Processo Civil, art. 55). Assim, como providência de economia processual, deverá o magistrado
determinar a reunião dos feitos perante o juízo prevento (Código de Processo Civil, art. 58). Conquanto seja
mais comum que haja identidade entre as partes nos processos a serem reunidos, não é necessário que
sejam as mesmas.
O art. 55, § 3 , do Código de Processo Civil traz importante possibilidade que amplia o conceito de conexão.
Trata-se da conexão sem os requisitos da conexão. Como o fato gerador para a criação da conexão é o risco
de se gerar decisões con�itantes ou contraditórias caso as demandassejam julgadas separadamente, mesmo
não havendo conexão, a mera potencialidade de gerar esse tipo de decisão acarreta a reunião dos feitos.
Haverá continência quando entre duas causas houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o
pedido de uma, por ser maior que o da outra, a abrange (Código de Processo Civil, art. 56).
Os autores entendem que a continência é uma forma quali�cada de conexão e, também, gera a alteração da
competência.
É necessário que os pedidos não sejam diferentes: um pedido deve abranger (= conter) o outro. A continência
pode ser aferida tanto no pedido imediato como no mediato.
Por �m, é necessário estabelecer o conceito de prevenção. Prevenção quer dizer “vir antes”, “prever”.
Constitui a �xação da competência perante um determinado juízo por critérios estabelecidos em lei ou
por negócio jurídico processual. A prevenção também atua como critério de �xação da conexão, pois é no
juízo prevento que as causas conexas serão processadas (art. 58, Código de Processo Civil).
No que concerne à continência, o Código de Processo Civil estabelece um interessante critério cronológico:
i) se a ação continente for proposta antes da ação conteúdo, essa segunda será extinta sem resolução do
mérito;
ii) se a ação conteúdo for proposta antes da ação continente, estas serão reunidas para julgamento.
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No que se refere à conexão a regra é bem simples: a prevenção se dá pelo registro ou distribuição da petição
inicial, independentemente de se tratar de mesma ou diversa competência territorial (como ocorria no Código
de Processo Civil anterior). Essa regra está em consonância com a Lei de Ação Civil Pública (art. 2 da Lei nº
7.347/85 [com redação dada pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001]) e para a ação popular (art. 5 , § 3 , da
Lei nº 4.717/65). Assim, a propositura da demanda gera a prevenção e atrairá todas as demandas com o
mesmo pedido ou causa de pedir.
ANÁLISE DA DELIMITAÇÃO DA COMPETÊNCIA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Em certos casos, as regras de competência foram criadas para atender preferencialmente os interesses das
partes. Em outros, visa atender o interesse do Estado (público). No primeiro caso, objetivam ajudar o acesso
ao judiciário e melhorar as oportunidades das posições jurídicas de vantagem, como a defesa. No segundo
caso, o interesse é para administração da justiça e do bom funcionamento do procedimento.
É dessa forma que o sistema divide, respectivamente, a competência em absoluta e relativa. Na segunda, as
regras são dispositivas, o que acarreta alto grau de �exibilização pelas partes. Na primeira, trata-se de
normas cogentes, devendo ser rigorosamente observadas e controladas pelas partes e pelo Estado.
Acreditamos que as regras de competência absoluta não podem ser objeto de convenção processual (art. 190,
Código de Processo Civil), pois in�uenciam diretamente na estrutura do Poder Judiciário. Esse entendimento,
aliás, foi objeto do Enunciado n. 20 pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis: “Não são admissíveis os
seguintes negócios bilaterais, dentre outros: acordo para modi�cação da competência absoluta, acordo para
supressão da primeira instância, acordo para afastar motivos de impedimento do juiz, acordo para criação de
novas espécies recursais, acordo para ampliação das hipóteses de cabimento de recursos”.
A competência relativa, como dito, foi estruturada para atender os interesses das partes. Essa premissa
norteia todo regramento referente ao regime dessa modalidade de competência.
Uma primeira questão é que apenas o réu (em preliminar de contestação) possui legitimidade para arguir a
incompetência relativa.
A decisão sobre a incompetência relativa no curso do processo não comporta agravo de instrumento e apenas
poderá ser recorrida em preliminar de eventual apelação ou contrarrazões da decisão �nal (art. 1.009, § 1 ,
Código de Processo Civil).
O art. 64, § 4 , do Código de Processo Civil estabelece que “salvo decisão judicial em sentido contrário,
conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o
caso, pelo juízo competente” (BRASIL, 2015). É interessante estabelecer duas importantes premissas:
A competência absoluta convive com a relativa de forma equilibrada harmonizando as duas vertentes que
ensejaram a criação dos critérios de competência: de um lado, a liberdade das partes para se permitir até
mesmo a derrogação de regras já estabelecidas em razão de suas próprias conveniências e, de outro,
questões de interesse do Estado que transbordam esses interesses das partes.
Assim, é possível visualizar a competência absoluta com base na natureza cogente das normas que a
estabelecem e sua consequente imodi�cabilidade.
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A incompetência absoluta em razão disso a) confere legitimidade ampla aos sujeitos do processo para sua
alegação e b) não estabelece preclusão temporal para sua arguição.
No que concerne à legitimidade é importante observar que o juízo poderá conhecê-la de ofício (art. 64, § 1 ,
Código de Processo Civil). A expressão “deve” contida no artigo revela que não se trata de mera faculdade.
O réu naturalmente poderá alegá-la, assim como o Ministério Público (na condição de �scal da ordem jurídica
ou parte) e os terceiros intervenientes.
Igualmente não há preclusão temporal para alegação da incompetência absoluta (ao contrário da relativa). O
§ 1 do art. 64 estabelece “em qualquer tempo e grau de jurisdição”.
Por qualquer tempo e grau de jurisdição leia-se enquanto perdurar o processo. A despeito de o Código de
Processo Civil falar que a incompetência absoluta deva ser alegada em preliminar de contestação (arts. 64 e
337, II), constitui apenas um referencial ou uma sugestão, pois a alegação não se preclui nessa oportunidade.
Parece não haver dúvidas que a alegação poderá ser dada de qualquer forma ao longo do processo
(verbalmente em audiência, por petição simples, em preliminar de apelação, em contrarrazões, na
sustentação oral, etc.) e durante as instâncias ordinárias.
A decisão sobre a incompetência absoluta no curso do processo não comporta agravo de instrumento e
apenas poderá ser recorrida em preliminar de eventual apelação ou contrarrazões da decisão �nal (art. 1.009,
§ 1 , Código de Processo Civil). Sobre os efeitos da declaração de incompetência vide o item anterior.
As principais diferenças de seus regimes jurídicos são:
Quadro 3 | Diferenças entre os regimes jurídicos
ABSOLUTA RELATIVA
Regrada para atender o interesse público. Regrada para atender o interesse das partes.
Pode ser alegada a qualquer tempo e grau de
jurisdição pelas partes e pelo juiz (Código de Processo
Civil, art. 64, § 1 ) até mesmo em rescisória (Código
de Processo Civil, art. 966, II).
Deve ser arguida em preliminar de contestação (art.
337, II) sob pena de prorrogação da competência
(Código de Processo Civil, art. 65), não podendo ser
conhecida de ofício (art. 337, § 5 , do Código de
Processo Civil e Enunciado 33 da Súmula do STJ).
Não há forma própria para alegar este tipo de
incompetência, mas a lei sugere que a parte o faça
em preliminar de contestação (Código de Processo
Civil, art. 337, II), não impedindo que o realize de
maneira oral, por petição simples ou em qualquer
peça processual apresentada.
Deve ser arguida necessariamente em preliminar de
contestação.
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Reconhecida a incompetência, remetem-se os autos
para o juízo competente (Código de Processo Civil,
art. 64, § 3 ) que, salvo decisão judicial em contrário,
tentará conservar os efeitos da decisão proferida
pelo juízo incompetente (Código de Processo Civil,
art. 64, § 4 ). Adota-se a regra da translatioiudicii.
Nos juizados especiais, o reconhecimento da
incompetência relativa gera a resolução do feito,
conforme art. 51, III, da Lei nº 9.099/95.
Reconhecida a incompetência, remetem-se os autos
para o juízo competente (Código de Processo Civil,
art. 64, § 3 ) que, salvo decisão judicial em contrário,
tentará conservar os efeitos da decisão proferida
pelo juízo incompetente (Código de Processo Civil,
art. 64, § 4 )
Não pode ser derrogada, nem pelas partes nem por
conexão ou continência (Código de Processo Civil, art.
62).
Pode ser derrogada pelas partes (v.g., foro de eleição,
conexão, continência ou prorrogação).
Aplica-se à competência material, funcional, em razão
da pessoa e em alguns casos na territorial e pelo
valor da causa (no critério “do mais para o menos”).
Aplica-se aos casos de competência territorial e de
valor da causa com as exceções que serão
devidamente estudadas ao longo do capítulo.
A decisão sobre a incompetência absoluta no curso
do processo não comporta agravo de instrumento e
apenas poderá ser recorrida em preliminar de
eventual apelação ou contrarrazões da decisão �nal
(art. 1.009, § 1 , Código de Processo Civil).
A decisão sobre a incompetência relativa no curso do
processo não comporta agravo de instrumento e
apenas poderá ser recorrida em preliminar de
eventual apelação ou contrarrazões da decisão �nal
(art. 1.009, § 1 , Código de Processo Civil).
Fonte: elaborado pelo autor.
Sobre a incompetência, tanto absoluta como relativa, importante falar sobre a legitimidade do Ministério
Público.
Evidente que o Ministério Público como réu pode alegar, a despeito de muito difícil, se encontrar nessa
situação. Como autor, conforme explanado no item 5.3.1, supra, o Ministério Público não poderá alegar,
igualmente, a incompetência quando for relativa. Contudo, nas causas coletivas (em que é ampla a
legitimidade ativa do MP) na qual a competência territorial é absoluta, torna evidente a possibilidade do
Ministério Público em arguir a incompetência na condição de autor da demanda.
A questão diz respeito ao Ministério Público como �scal da ordem jurídica. O Código de Processo Civil
estabelece que o Ministério Público possui legitimidade para arguir incompetência relativa exclusivamente nos
casos em que ele atuar (art. 65, parágrafo único). Acreditamos que sua legitimidade se mantém incólume
ainda que não haja participado anteriormente do processo mesmo que devidamente intimado. Portanto, a
interpretação que deve ser dada ao referido artigo não diz respeito à sua atuação efetiva, mas, também, às
causas em que poderia ter atuado.
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VÍDEO RESUMO
Olá, estudante! Como vai? Agora, neste vídeo, você vai compreender todas as regras de competência, desde a
�xação da competência perante um determinado juízo (denominado perpetuatio jurisdictionis) até os critérios
de modi�cação de competência e a classi�cação da competência em absoluta e relativa. Bons estudos a todos
vocês!  
 Saiba mais
Vale muito a pena ler o seguinte texto para aprofundamento dos seus estudos: Modi�cações de
competência.
DAL COL, H. M. Modi�cações da competência. Âmbito Jurídico, 2002.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta etapa dos nossos trabalhos, falaremos sobre o exercício do direito de ação. Ação é o ato de provocar o
Poder Judiciário buscando dele uma providência, tendo em vista que a jurisdição só pode agir quando
provocada. Após tratarmos do conceito de ação, falaremos sobre o �ltro que delimita as ações que ingressam
no poder judiciário: as condições da ação (legitimidade e interesse) e falaremos ainda dos elementos da ação
(partes, causa de pedir remota e próxima e pedido). Esses têm por objetivo identi�car a demanda (com seus
elementos) para poder confrontá-la com as demais, especialmente em casos como litispendência, conexão,
continência, perempção, coisa julgada, etc.
Bons estudos!
CONCEITO DE AÇÃO, NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE AÇÃO E SUAS TEORIAS
Aula 4
TEORIAS DA AÇÃO E ELEMENTOS DA AÇÃO
Nesta etapa dos nossos trabalhos, falaremos sobre o exercício do direito de ação. Ação é o ato de
provocar o Poder Judiciário buscando dele uma providência, tendo em vista que a jurisdição só pode agir
quando provocada.
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A ação pode ser vista de duas formas: i) como um direito. O direito constitucional de acessar o Judiciário
dada a inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5 , XXXV); ii) como um exercício. Também chamada de “ação
exercida” e denominada por sinonímia, como causa, lide, pleito, feito. Ação exercida é a ação que concretiza
no processo o direito abstrato de ação. Sua importância processual é fundamental, pois é por meio da ação
exercida que se desenvolvem os estudos sobre elementos da ação, cumulação de ações, conexão,
continência, coisa julgada e as condições da ação que são estudadas por esse enfoque.
Teorias sobre a ação:
Teoria Imanentista (clássica, civilista)
Remonta um período de nossa história em que o direito processual não era estudado como ciência
autônoma, mas um capítulo próprio do direito civil. Partindo dessa premissa, a ação era “imanente”, unida ao
direito material.
Identi�cava-se a ação com o direito subjetivo material; assim, se alguém fosse ao Judiciário levar uma
pretensão (direito a ser indenizado, v.g.) era o próprio direito que estava sendo pleiteado e não o
direito de ação para exigir o crédito.
Teoria concreta
Em 1857 começou uma grande discussão doutrinária na Alemanha. Theodor Muther publicou uma obra
objetivando atacar o trabalho de Bernhard Windscheid publicado um ano antes. O centro da discussão entre
os autores era saber se a ação se assemelhava com a actio romana ou com a Klage alemã.
Surgiu então a teoria do direito autônomo e concreto. Para essa teoria apenas haverá direito de ação se a
sentença for julgada procedente (ou seja, se concretamente existir o direito pela procedência do
pedido).
Teoria abstrata
A teoria concreta teve o mérito de estabelecer a autonomia entre o direito e processo, mas não �cou imune a
críticas por parte da doutrina. Paulatinamente surgiram os defensores de uma teoria abstrata que se
posicionaram contra a ideia de que para haver uma ação era necessário haver uma sentença de
improcedência, o que existiu até então? Uma demanda oca? Dessa forma, o direito de ação é autônomo,
mas não poderia ser condicionado a um resultado, já que não há nenhum requisito para que essa
possa existir.
Essa é a essência da teoria abstrata (que vem de abstraído, separado do direito): repise-se,
independentemente do resultado estampado na sentença, o direito de ação foi exercido.
A teoria eclética e as denominadas condições da ação
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Liebman iniciou seus estudos sobre ação nos anos de 1930 e lançou suas ideias sobre ação na sua aula
inaugural (prolusione) em 1949 na Universidade de Turim. Das diversas ideias, teceu críticas às denominadas
teorias concreta e abstrata apresentando uma terceira vertente: a denominada teoria eclética.
A teoria eclética da ação, em uma análise simplista, constitui uma conciliação entre as teorias concreta e
abstrata. Denomina-se eclética justamente porque é formada pelas virtudes dessas duas espécies. Essa teoria
objetiva não vincular demais o direito da ação ao direito material (teoria concreta) nem de menos (teoria
abstrata) (KLIPPEL; BASTOS, p. 212, 2014).
Liebman aproxima-se da teoria abstrata quando assevera a não necessidade da vitória do autor na
sentença para a con�guração do direito de ação. Contudo, aproxima-se (ainda que de forma mais
tênue) da teoria concreta ao criar elementos mínimos, aferíveisno direito material, para que a ação
prossiga (condições). E isso porque a possibilidade de ajuizamento desmedido, sem a menor exigência
de requisitos, soaria como simples direito de petição.
Assim Liebman constrói a famosa teoria do trinômio de questões em que se confere a ordem pela qual a
cognição do magistrado deve ser exercida: primeiro sobre o processo (analisando os pressupostos
processuais), depois sobre a ação (veri�cando as condições da ação) e por �m o mérito (análise substancial da
demanda).
IMPORTÂNCIA DOS ELEMENTOS DA AÇÃO E SUA FUNÇÃO: DELIMITAÇÃO DO JULGAMENTO,
IDENTIDADE DE AÇÕES
Os fatos e as relações jurídicas submetidas ao Poder Judiciário são múltiplos e complexos. Para que ela não
venha a atuar mais de uma vez sobre a mesma controvérsia é preciso identi�car cada uma das suas atuações.
Esta é a utilidade dos elementos da ação.
É com base nessa premissa que se mostra essencial proceder ao estudo desses elementos para autorizar a
produção dos efeitos materiais (permitir o correto julgamento sobre aquilo que se pediu no campo do direito
material) e processuais (possibilitar a resolução de problemas de ordem prática como a litispendência, a coisa
julgada, a conexão e a continência).
A identi�cação dos elementos de uma demanda serve como uma técnica de confronto entre duas ou
mais ações, tomando como base a relação jurídica de direito material, para veri�car se são estas
idênticas ou diversas.
Constituem os elementos da demanda as partes (elemento subjetivo), a causa de pedir e o pedido
(elementos objetivos). O Código de Processo Civil não diz quais são os elementos da ação, mas estabeleceu,
na redação de alguns dispositivos, a forma como os elementos podem ser identi�cados. Nesse sentido,
veri�ca-se nos arts. 55, 56, 319, II, III e IV, 330 e 337, §§ 1 a 3 , a demonstração dos elementos: partes, causa
de pedir e o pedido.
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Causa de pedir: não basta ao autor apresentar o pedido sobre o bem da vida desejado. É necessário que ele
apresente os motivos que o levam a formular o pedido. A esses motivos denomina-se causa de pedir. A causa
de pedir é composta dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido (Código de Processo Civil, art. 319, III).
Os fatos (causa de pedir remota) constituem a narrativa daquilo que aconteceu. Mas não basta apenas os
fatos, é necessário o fundamento jurídico (causa de pedir próxima). Fundamento jurídico é o enquadramento
desses fatos no mundo do direito (lei, doutrina, jurisprudência, etc.).
Fundamentação jurídica e fundamentação legal não se confundem. A fundamentação jurídica, conforme dito,
é uma qualidade que atinge o fato por estar ele – fato – sujeito a uma situação jurídica. A fundamentação legal
prescreve somente o artigo de lei (regra) que dá vigência à fundamentação jurídica em um de seus aspectos.
Existe uma classi�cação adotada por parte da doutrina que divide a causa de pedir em ativa e passiva. Esta
classi�cação tem como base o interesse processual do autor na demanda. Não se trata de fácil classi�cação
como já asseverou Cândido Rangel Dinamarco (2017): “A distinção entre causa de pedir ativa e passiva não é
nítida em todos os casos, mas às vezes reveste-se de muita valia, seja para a boa compreensão da versão
sustentada pelo autor, seja para a delimitação precisa da causa de pedir”.
A causa de pedir ativa refere-se à existência do direito alegado. Trata-se dos fatos ou o do conjunto de fatos
necessários a fundamentar a pretensão do autor. Guarda estreita referibilidade com o fato constitutivo levado
ao Judiciário.
Já a causa de pedir passiva é a situação fática, antijurídica, que leva o requerente a pretender a obtenção de
tutela pelo Estado. Se o autor requer a restituição de quantia emprestada a terceiro, o aspecto ativo é o
empréstimo, fato constitutivo do direito, e o não pagamento da dívida no vencimento gerando dano constitui
o aspecto passivo da causa de pedir.
Nas demandas condenatórias a causa de pedir passiva caracteriza-se pelo inadimplemento. Este
inadimplemento pode ser atual (lesão) ou iminente (ameaça a direito). Nas demandas constitutivas não
necessárias (aquelas que podem ser obtidas com a vontade das partes se assim desejarem) é fundamental
demonstrar a necessidade concreta de se requerer a criação, extinção ou modi�cação de determinada relação
jurídica.
Contudo, nas demandas constitutivas necessárias a causa de pedir passiva se torna desnecessária na medida
em que o Estado já presume esta necessidade.
Por �m, nas demandas declaratórias o interesse (e consequentemente na constatação da sua causa de pedir
passiva) decorre do não reconhecimento, por determinada pessoa, da posição jurídica que ocupa em
determinada relação.
AS CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE AÇÃO
O Código de Processo Civil estabelece em seu art. 17 que “para postular em juízo é necessário ter interesse e
legitimidade”. No art. 485, VI, preconiza que não haverá resolução de mérito quando “veri�car a ausência de
legitimidade ou interesse processual” (BRASIL, 2015). Em momento algum o Código de 2015 (ao contrário do
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anterior), se utiliza do vocábulo “condições da ação”, deixando a cargo da doutrina e da jurisprudência a
referida função.
As condições da ação constituem um �ltro para evitar que haja exercício da jurisdição quando faltarem os
requisitos que a lei considera essencial, pode ser moeda especulativa e um modo de atenuar o desequilíbrio
inicial entre os dois polos”.
Há duas condições da ação tipi�cadas no Código de Processo Civil: interesse de agir e legitimidade de parte.
Assim como é possível ter interesse sobre diversos bens da vida (alimentos, vestuário, eletrodomésticos),
podemos ter interesse na tutela jurisdicional. Interesse é a vontade concreta de quem pede.
O interesse de agir é composto por três elementos:
Necessidade – Quando se fala em necessidade de se buscar o judiciário, deve-se ter em mente que o Estado-
juiz deve ser a última alternativa existente para obter no plano do direito material aquilo que lhe foi negado.
Assim não haverá interesse (pela necessidade) se o credor ajuizar uma demanda em que o devedor nunca se
recusou a pagar, ou numa consignação em pagamento em que o réu (da consignação) também não se
recusou a receber.
Utilidade – A utilidade será aferida sempre que o provimento jurisdicional puder, in concreto, conceder ao
autor um resultado que lhe seja útil. Não se pode ir ao Poder Judiciário para resolver rusgas pessoais ou
questões particulares que não possuírem utilidade prática. Por se tratar o interesse de agir do núcleo
fundamental do direito de ação (DINAMARCO, 2017 ) somente será lícito buscar o judiciário se este tiver
aptidão de responder ao pedido formulado.
Todo interesse decorre de uma relação entre uma necessidade e um bem que se deseja. Se apenas temos
interesse naquilo que nos é útil, a utilidade é um elemento importante para a con�guração do interesse.
Assim, pode se a�rmar inútil o pedido de divórcio feito pela esposa logo após o falecimento do marido, assim
como a cobrança de valor irrisório ou ainda, o pedido do segundo credor em alegar fraude à execução
quando primeiro credor já havia alegado anteriormente e o valor do bem cobre somente a primeira dívida.
Adequação – Por adequação deve se entender como o autor se vale dos meios adequados para buscar a
tutela, ou seja, acertar a ação judicial cabível ao caso.
Além do interesse há a legitimidade de parte. Todos é dado o direito inafastável de ingressar em juízo (CF, art.
5 , XXXV).
Todavia, somente é possível ter direito à prestação da tutela jurisdicional aquele que detenha o direito
subjetivo de exigir em juízo aquilo que lhe é devido. Assim, somente poderá pleitear – em nome próprio – no
judiciário o sujeito que �gurou na relação jurídica de direito

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