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Conceitualização na Terapia


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Profa. Dra. Angela Donato Oliva
Conceitualização Cognitiva
Base de evidências
Aula 06
Base de evidências
TÓPICOS
01. Há concordância entre terapeutas? 
02. Dados de pesquisa disponíveis
01. Há concordância entre terapeutas? 
Relembrando que conceitualização...
É a alma do tratamento. 
É a base a partir da qual o terapeuta fundamenta suas primeiras 
hipóteses a partir dos dados coletados.
É um processo relacional (baseado o empirismo colaborativo).
Relembrando que...
Na conceitualização terapeuta e cliente trabalham com metas para delinear um 
modelo de compreensão e de mudança.
Embora haja uma intervenção-padrão e um norte na sequência das sessões, por 
intermédio da conceitualização o conteúdo da intervenção é construído individualmente. 
Questão:
Qual o grau de concordância entre terapeutas na conceitualização de um mesmo caso?
Ou
Em que medida esse processo será conduzido de maneira semelhante 
por diferentes profissionais?
Grau de concordância na conceitualização entre terapeutas e J. Beck:
Estudo: Kuyken, Fothergill et al., (2005) –
Participantes: 115 terapeutas que assistiram um workshop (1 dia) sobre conceitualização. 
Usaram o Diagrama de Conceitualização de J. S. Beck (1995). 
Judith Beck formulou o mesmo caso também usando seu diagrama.
Resultados sobre o grau de concordância entre conceitualizações - J. Beck e participantes:
Alto para informações descritivas (informações passadas relevantes); 
Moderado para informações fáceis de inferir (estratégias compensatórias); 
Fraco para informações difíceis de inferir (pressupostos disfuncionais). 
Maior concordância entre os terapeutas mais experientes. 
Conclusões: Necessidade de treinamento focado; Experiência dos terapeutas aumenta a qualidade da 
conceitualização nos níveis explanatórios.
ver sentido no modelo cognitivo e esse é um primeiro passo para mudança. 
Questão:
Qual o impacto da conceitualização nos resultados da terapia?
Ou
Qual a utilidade da conceitualização para a terapia?
(Easden & Kazantzis, 2017) 
02. Dados de pesquisa disponíveis.
Revisão sistemática (PRISMA) sobre conceitualização 
Total de 24 estudos
Há poucos estudos examinando o uso da conceitualização e os resultados obtidos (lacuna 
nessa base de evidências da TCC);
Os estudos focaram sobre a avaliação da conceitualização (como era o processo);
Os métodos empregados foram diferentes;
Resultados sugerem que terapeutas experientes (usam o empirismo colaborativo) constroem 
conceitualizações mais confiáveis;
A eficácia da conceitualização na TCC ainda não foi demonstrada empiricamente.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Kuyken et al. (2010) no livro “Conceitualização de casos colaborativa: o trabalho em equipe 
com pacientes em TCC” usa o termo “conceitualização errônea” 
(p. 331 – “erroneous conceptualization” p. 332 ) e “conceitualização errada” (p.259 - “wrong
conceptualization” p. 251 ).
Se a conceitulalização é um processo, que vai se modificando, a questão é se cabe utilizar o 
termo “conceitualização errada” em algum momento dessa construção.
Conceitualização precisa ser ajustada à experiência do cliente (Easden & Kazantzis, 2017). 
Há variabilidade de procedimentos: conceitualização guia intervenções, 
e o terapeuta usa estratégias diferentes para casos semelhantes.
Quadro de depressão: 
O “diário de humor” pode ser usado para ativação comportamental ou para mostrar a ligação entre 
emoção e comportamento ou favorecer escolhas mais eficientes.
A reestruturação cognitiva pode ajudar na busca de situações que não apoiam a crença do cliente sobre 
si de “ser incompetente”, e que é mais realista reconhecer suas capacidades.
O cliente pode se beneficiar de avaliação histórica sobre a crença central, de como ela foi sendo 
construída ao longo do desenvolvimento e reforçada pelos outros
A conceitualização precisa ser útil ou adequada à experiência do cliente, não se pretende chegar a uma 
conceitualização “precisa” ou “correta”.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Reforçando a ideia de que conceitualização:
É um processo relacional, que depende das habilidades do terapeuta.
Se baseia no empirismo colaborativo.
Terapeuta e cliente trabalham com metas para delinear um modelo 
compreensão e mudança.
Questão: Em que medida esse processo será conduzido de maneira semelhante 
por diferentes profissionais.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Sobre estudos envolvendo conceitualização
Pontos pouco explicitados: 
Ø Não há diferença clara entre TCC com ou sem conceitualização, embora esta 
seja parte integrante dessa abordagem;
Ø Nem sempre fica indicado o nível de conceitualização utilizado pelo 
terapeuta; 
Ø Não se informa sobre experiência/habilidades do terapeuta.
Ø Não se conhece a aderência do terapeuta ao modelo no caso em questão.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Sobre estudos envolvendo conceitualização
Pontos frágeis: 
Ø A conceitualização é informada pelo processo da terapia, pela experiência do 
terapeuta, pelas técnicas de TCC; 
Ø O resultado do tratamento é dado pelo feedback do cliente, que orienta novos 
deveres de casa, experimentos comportamentais e decisões para 
intervenções futuras;
Ø Fidedignidade e a validade da conceitualização em TCC são frágeis.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Sobre estudos envolvendo conceitualização
Problema com a fidedignidade: 
Ø A conceitualização vai se modificando com o tempo: 
1) Porque novas informações estariam sendo compartilhadas pelo 
cliente e terapeuta; ou 
2) Porque o sistema de crenças do cliente poderia estar mudando 
durante a TCC.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Sobre estudos envolvendo conceitualização
Problema com a validade: 
Ø A conceitualização é avaliada em relação às crenças e estas são medidas por testes 
psicométricos (Attributional Style Questionnaire, Peterson et al., 1982);
Ø Até que ponto os conteúdos identificados no início da terapia (suposições, regras e 
crenças) foram o foco das intervenções nas sessões (por meio de experimentos 
cognitivos e comportamentais, etc).
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Sobre estudos envolvendo conceitualização
O Cognitive Therapy Rating Scale (CTRS) 
Escala de Avaliação em Terapia Cognitivo-Comportamental (adaptada para o Brasil por 
Moreno & DeSousa, 2020) é internacionalmente considerada padrão-ouro para avaliação 
de terapeutas que atuam em TCC. Contudo, essa escala tem muitos itens de competência 
do terapeuta (agenda) e não relacionais.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Sobre estudos envolvendo conceitualização
Papel do terapeuta: 
Ø O conteúdo da conceitualização está inextricavelmente ligado à habilidade do terapeuta, 
seu conhecimento e sua proficiência em TCC.
Ø Na revisão de Easden e Kazantzis (2017) não foi possível determinar se a falta de 
consistência entre os terapeutas reflete um problema ou limitação inerente ao método de 
conceitualização, ou se é uma característica do terapeuta que contribuiu para 
os resultados.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Zarafonitis-Müller, Kuhr, e Bechdolf (2014) conduziram uma metanálise sobre o 
impacto da competência do terapeuta e da sua aderência ao protocolo no resultado da 
TCC.
Eles concluíram que embora a competência em técnicas de TCC se relacione com o 
resultado, a aderência ao manual de protocolo não teve relação.
Os autores identificaram a importância de investigar a relação terapêutica junto com a 
competência do terapeuta (ou seja, o empirismo colaborativo) que pareceu explicar a 
mudança do sintoma.
Os autores consideram que se deve colocar mais foco nas competências do terapeuta.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Bucci, French e Berry (2016) identificaram pelo menos oito medidas que avaliam a 
qualidade da conceitualização e muitas delas estão relacionadas ao terapeuta.
Na conceitualização o terapeuta precisa ter habilidade (proficiência) para tomar 
decisão, integrando os elementos do caso e categorizando-os coerentemente 
(pensamentos, emoções, crenças, etc). Se faz isso usando os pontos fortes do cliente. 
Um clientecom dificuldade de memória devido ao sofrimento psicológico vai trabalhar 
com a conceitualização de maneira diferente do que o cliente que apresenta diminuição 
de suas funções executivas.
Os resultados indicam que o treinamento dos terapeutas é fundamental 
para bons resultados.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Em Síntese...
q A utilidade da conceitualização de caso da TCC ainda não foi 
claramente demonstrada empiricamente.
q A revisão sistemática realizada por Easden e Kazantzis (2017) 
indica que as pesquisas sobre o tema apresentam limitações 
metodológicas.
q Há dúvidas sobre o treinamento do terapeuta e sua habilidade “in 
vivo” no atendimento e conduzindo a conceitualização.
q Portanto, não se pode afirmar com segurança que a 
conceitualização melhore os resultados da TCC. 
q Necessidade de treinar e supervisionar novos terapeutas.
(Easden & Kazantzis, 2017) 
Referências bibliográficas
BIELING, P. J. & KUYKEN, W. (2003). Is Cognitive Case Formulation Science or Science Fiction?. Clinical 
Psychology: Science and Practise, 10 (1), 53-69.
KUYKEN, W., PADESKY, C. A., & DUDLEY, R. (2009). Collaborative Case Conceptualization: Working Effectively 
with Clients in Cognitive-Behavioral Therapy. New York: The Guilford Press.
BUCCI, S., FRENCH, L., & BERRY, K. (2016).Measures assessing the quality of case conceptualization: A systematic 
review. Journal of Clinical Psychology, 72(6), 517–533.
EASDEN, M. & KAZANTZIS, N. (2017). Case conceptualization research in cogntive behavior therapy: A state of the 
science review. J. Clin. Psychol. (1-29) https://doi.org/10.1002/jclp.22516
KUYKEN, W., FOTHERGILL, C. D., MUSA, M., & CHADWICK, P. (2005). The relaability and quality of cognitive case 
formulation. Behavior Research and Therapy, 43, 1187-1201.
BECK, J. S. (1995). Cognitive therapy: Basics and beyond. New York: Guilford Press.
MORENO, A. L. & DeSOUSA, D. A. (2020). Adaptação Transcultural da Cognitive Therapy Rating Scale (Escala de Avaliação em 
Terapia Cognitivo-Comportamental) para o Contexto Brasileiro. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 16 (2), 92-98.
ZARAFONITIS-MÜLLER, S., KUHR, K., & BECHDOLF, A. (2014). The relationship between therapist’s competence and 
adherence to outcome in cognitive-behavioural therapy: Results of a meta-analysis. Fortschritte der Neurologie-Psychiatrie, 
82(9), 502–510.

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