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Raciocínio profissional em Terapia Ocupacional PREFª. TUYANY VASCONCELOS BOA VISTA/2022 O QUE É O TRATAR EM TERAPIA OCUPACIONAL??? NÃO EXISTEM DE RECEITAS (DE BOLO) PARA O DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA (Nascimento, 1990). “O que se faz, como se faz, como colocar em palavras o que se faz, qual sentido e qual significado se remete a opção por determinadas palavras para comunicar sobre o que se faz e possivelmente, como contribui para a identidade profissional” (Marcolino et al., 2019). RACIOCÍNIO CLÍNICO No final da década de 1980 a AOTA financiou um estudo sobre o raciocínio clínico em Terapia Ocupacional inaugurando um arcabouço inicial para a compreensão da condução dos casos clínicos em TO (Marcolino, 2014). Objetivos avançar sobre o tema devido à falta de consenso em alguns pontos sobre o tema e ampliar o debate sobre os referenciais teórico- metodológicos que sustentam o raciocínio clínico. DEFINIÇÃO DE RACIOCÍNIO CLÍNICO Raciocínio é um processo usado por profissionais para planejar, dirigir, executar e refletir sobre o cuidado do cliente (Schell et al., 2014). O termo raciocínio profissional, considerado mais amplo, as vezes também é empregado. RACIOCÍNIO CLÍNICO O raciocínio é de base narrativa. Se preocupa com as particularidades dos casos, tanto para construir nossa compreensão, ao contar as histórias sobre os pacientes, como conduzir o processo terapêutico de modo a construir a história terapêutica de sucesso. Possibilitar ao paciente uma vivência de experiência significativa que transforme seu modo de ver, na qual assume um papel mais ativo (Mattingly, 1998; Mattingly & Fleming, 1994). RACIOCÍNIO CLÍNICO A prática profissional é mais intuitiva na medida em que os profissionais vão ganhando experiência profissional. Capacidades de reflexão sobre a prática e produção de conhecimento prático do que pelo tempo de prática (Schon, 2000). O profissional precisa avaliar se há coerência entre o que se pensa e o que se faz na prática profissional. Durante o estágio supervisionado o docente avalia constantemente se o aluno está desenvolvendo o raciocínio profissional a partir da prática. É o desenvolvimento deste raciocínio que irá nortear se houve ou não a incorporação de todas as teorias, técnicas e conceitos discutidos ao longo da graduação. RACIOCÍNIO CLÍNICO O raciocínio clínico permite que: Identificar as múltiplas demandas, as habilidades necessárias e o potencial significado das atividades e ocupações Obter uma compreensão mais profunda das inter-relações entre os aspectos do domínio que afetam o desempenho e apoiam as intervenções centradas no cliente e resultados. Seleção precisa e aplicação de avaliações, intervenções e medidas de resultado centrado no cliente (Cavalcanti et al., 2015). RACIOCÍNIO CIENTÍFICO Raciocínio envolvendo o uso de métodos lógicos e científicos aplicados, como teste de hipótese, reconhecimento de padrão, tomada de decisão baseada em teoria e evidência estatística. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Impessoal, focando no diagnóstico, condição, teoria de orientação, evidência de pesquisa ou que “tipicamente” acontece a clientes semelhantes àqueles que estão sendo considerado. RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO Raciocínio investigativo e de análise da causa ou natureza das condições que necessitam do tratamento de terapia ocupacional. Pode ser considerado um componente do raciocínio científico. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Uso de informações pessoais e impessoais. Os terapeutas tentam explicar porque o cliente está experimentando os problemas pelo uso de uma mistura de informações baseadas na ciência e no cliente. RACIOCÍNIO PROCEDIMENTAL Raciocínio em que o terapeuta ocupacional considera e utiliza as rotinas de tratamento para condições identificadas. Pode ser baseado na ciência e pode refletir os hábitos e a cultura do ambiente de tratamento. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Caracterizado pelo terapeuta que utiliza modelos ou rotinas de tratamento considerados efetivos para os problemas identificados e que são tipicamente empregados com clientes nesses ambientes. Tende a ser mais impessoal e direcionado ao diagnóstico. RACIOCÍNIO PRAGMÁTICO Raciocínio prático que é utilizado para adequar as possibilidades de tratamento à realidade atual de prestação de serviço, como agendar opções, pagamento por serviços, disponibilidade de equipamento, habilidades de terapeutas, diretrizes de tratamento e situação pessoal do terapeuta. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Geralmente não focado no cliente ou na condição do cliente, mas, em vez disso, nos “dados” físicos e sociais que cercam o encontro terapêutico, bem como no sentimento interno do terapeuta do que ele é capaz de e tem tempo e energia para realizar. RACIOCÍNIO ÉTICO Raciocínio direcionado para a análise de um dilema ético, aquisição de soluções alternativas e determinações das ações a serem empreendidas. Abordagem sistemática do conflito moral. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Com frequência, a tensão é evidente quando o terapeuta tenta determinar qual é a coisa certa a fazer, principalmente quando enfrenta dilemas no tratamento, princípios em competição, riscos e benefícios. RACIOCÍNIO INTERATIVO Pensamento direcionado para a construção de relações interpessoais positivas com os clientes, permitindo a identificação colaborativa do problema e a resolução do problema. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: O terapeuta se preocupa com que o cliente gosta ou não gosta. Uso do elogio, comentários empáticos e comportamentos não verbais para incentivar e apoiar a cooperação do cliente. RACIOCÍNIO CONDICIONAL Mistura de todas as formas de raciocínio com objetivo de responder com flexibilidade às condições dinâmicas ou predizer as possibilidades futuras do cliente. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Encontrado tipicamente nos terapeutas mais experientes, que podem “enxergar” múltiplos futuros, baseados nas experiências pregressas dos terapeutas e nas informações atuais. RACIOCÍNIO NARRATIVO Processo de raciocínio utilizado para compreender as circunstâncias particulares das pessoas, projetar o efeito da doença, incapacidade ou problema de desempenho ocupacional sobre suas vidas diárias, e criar uma história colaborativa que seja desempenhada pelos clientes e famílias por meio de tratamento. PISTAS PARA RECONHECER NAS DISCUSSÕES COM O TERAPEUTA: Pessoal, focado no cliente, incluindo passado, presente e futuro antecipado. Envolve a apreciação da cultura do cliente como a base para a compreensão da narrativa do cliente. Relaciona-se “ao que importa” da condição para a vida da pessoa. RACIOCÍNIO CLÍNICO O manejo da relação terapêutica é entendido como procedimento e desse modo, implica na compreensão do terapeuta sobre os aspectos relacionais do paciente e dos modos de se colocar na relação para que novas mudanças possam ocorrer (Marcolino, 2014). RACIOCÍNIO CLÍNICO Não há atividade terapêutica, senão aquela que é feita em um determinado contexto, como uma determinada pessoa- terapeuta (Di Loreto, 1998). A atividade para ser terapêutica tem que estar em uma dinâmica triádica. RACIOCÍNIO CLÍNICO Raciocínio associativo: próprio do MTOD, que vai ligando e tecendo as relações entre as informações obtidas e as hipóteses construídas no processo diagnóstico e que se oferece de matriz para procedimentos em busca da construção de narrativas clínicas (Benetton, 2012). RACIOCÍNIO CLÍNICO O quanto ainda é difícil colocar em palavras a prática. Compreender e avaliar a coerência entre o que fazemos e dizemos que fazemos Necessidade de colocar o que fazemos, como fazemos e o que pensamos obre o que fazemos como objetos de estudos nas nossas pesquisas (Marcolino, 2014). Atuaçãoda Terapia Ocupacional Estabelecer uma reflexão de sentimentos na relação e comunicação com o paciente, para oferecer-lhe meios de lidar com os “fantasmas” que surgem como resultados da doença, bem como respeitar e entender o sujeito/indivíduo como um todo, que possui uma história de vida, dentro de um contexto que é dinâmico e complexo. Mesmo uma conversa (sem a realização de uma atividade como produto) entre terapeuta ocupacional e paciente provavelmente estará voltada para auxiliar o paciente a “...se mover nas suas ações, nos seus projetos, nas suas atividades” (Marcolino et al., 2019). REFERÊNCIAS: CAVALCANTI, A.; DUTRA, F.C.M.S.; ELUI, V.M.C. Estrutura da prática da terapia ocupacional: domínio & processo - 3ed. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo. 26(Ed. Especial), p. 1-49, 2015. MARCOLINO, T. Q. Reflexões sobre a investigação do raciocínio clínico em terapia ocupacional em saúde mental: o caso do Método Terapia Ocupacional Dinâmica. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 3, p. 635-642, 2014. MARCOLINO, T. Q.; et al. “É uma porta que se abre”: reflexões sobre questões conceituais e de identidade profissional na construção do raciocínio clínico em terapia ocupacional. Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 27, n. 2, p. 403-411, 2019. SCHELL, B.A.B. Raciocínio Profissional na Prática. In: NEISTADT ME, CREPEAU EB. WILLARD & SPACKMAN. Terapia Ocupacional. 11a edição, Editora Guanabara Koogan, RJ. 2011. cap. 32, p. 318-331.
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