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TREINANDO O RACIOCÍNIO CLÍNICO- HAM III EMILY ABREU-3°PERÍODO *DOR TORÁCICA Caso 1 Mulher, 42 anos de idade, queixa-se de dor torácica na região esternal, em pontada, desencadeada pela inspiração, iniciada há 2 dias de maneira insidiosa, com melhora parcial a partir do uso de dipirona, associada à tosse com expectoração amarelada e febre de 39 ºC. No exame clínico apresenta pressão arterial de 130 x 80 mmHg, frequência cardíaca de 110 bpm, frequência respiratória de 22 irpm, temperatura axilar de 38,3 ºC, saturação periférica de oxigênio de 95%; jugulares normais; murmúrios reduzidos na base pulmonar direita anteriormente, além de estertores na mesma região; ausculta cardíaca normal; sem edemas; sem outras alterações. Qual é a principal hipótese diagnóstica? Justifique. Caso 2 Homem, 58 anos de idade, tem hipertensão arterial sistêmica e diabete melito, queixa-se de dor torácica na região esternal, em aperto, iniciada há 3 horas, subitamente, de moderada intensidade, persistente, sem fatores de melhora ou piora, com irradiação para os braços. No exame clínico apresenta PA de 130 x 70 mmHg, FC de 115 bpm, FR de 24 irpm, temperatura axilar de 36,3 ºC, saturação arterial de oxigênio de 90%; jugulares normais; bulhas rítmicas, hiperfonéticas, sem sopros, enchimento capilar de 4 segundos; discretos estertores baseada na pulmonares; sem edemas; sem outras alterações. Existe algum diagnóstico que não pode ser esquecido? Qual é um passo importante do exame clínico que não nos foi informado? Qual é o motivo das alterações pulmonares/ventilatórias? Caso 3 Homem, 70 anos de idade, sem acompanhamento médico, tem dor torácica, retroesternal, em pontada, de intensidade moderada, iniciada subitamente, há 3 dias, que piora com a movimentação e a respiração, sem fatores de melhora, associou dispneia e tosse sem expectoração. Exame clínico: PA de 134 x 90 mmHg, FC de 110 bpm, FR de 22 irpm, saturação arterial de oxigênio de 89%. Nota-se uma pessoa emagrecida (ele confirma que perdeu peso nos últimos meses, mas não sabe quantificar), com jugulares normais, auscultas pulmonar e cardíaca normais; sem edemas; sem outras alterações. Qual é a principal hipótese diagnóstica nesse momento? CASO 4 Homem de 62 anos de idade, natural do interior de Minas Gerais, sem acompanhamento médico, queixa-se de dispneia progressiva há 4 meses, inicialmente a grandes esforços, atualmente a esforços moderados, com piora ao decúbito. Notou ganho de peso de 5 kg nas últimas 2 semanas. Nega palpitações, tosse, febre ou precordialgia. Esteve no pronto-socorro pela manhã e foi encaminhado à enfermaria para investigação. Ao exame clínico: REG, consciente, orientado, descorado 2+/4+, hidratado, afebril, acianótico, anictérico, dispneico, frequência cardíaca = pulso = 90 bpm, rítmico, frequência respiratória 24 ipm, pressão arterial 100 x 60 mmHg, SatO2 95% em ar ambiente, tempo de enchimento capilar 4 segundos. Semiologia cardiovascular: estase jugular presente, íctus desviado para a esquerda, bulhas rítmicas, hipofonéticas, presença de B3, sopro holossistólico mitral 1+/6+. Semiologia pulmonar: estertores finos em bases com murmúrios abolidos em base direita onde se constata frêmito toracovocal e ausculta da voz abolidos, sinal de Signorelli presente. Abdome: globoso, flácido, ruídos hidroaéreos presentes, timpânico, hepatimetria de 17 cm, borda romba, sem nodulações, discreta dor à palpação; macicez móvel presente. Membros inferiores: edema compressível 2+/4+ bilateral, sem sinais de trombose venosa profunda. Retorna ao ambulatório com os seguintes exames: Hb 9,8 mg/dL, volume corpuscular médio (VCM) e hemoglobina corpuscular média (HCM) diminuídos, Ht 33%, leucócitos 4.200 células/mm3, plaquetas 250.000 células/mm3, saturação de ferro baixa, ferritina: reduzida reticulócitos corrigidos 0,9% (0,5-1,8%), Na+ 127 mEq/L, K+ 4,9 mEq/L, creatinina 1,1 mg/dL, ureia 100 mg/dL, NT-pró-BNP aumentado, radiografia de tórax com aumento de área cardíaca, sinais de congestão pulmonar e derrame pleural à direita e eletrocardiograma com bloqueio de ramo direito. Sorologia para Chagas positiva. Ecocardiograma com Doppler mostrando fração de ejeção de ventrículo esquerdo de 30%, com hipocinesia difusa e discreto refluxo mitral. CASO 5 Paciente do sexo masculino, 68 anos, procura unidade básica de saúde com queixa de dispneia aos esforços há 2 meses. Relata cansaço ao subir um lance de escadas e ao caminhar no plano por quatro quadras. Precisa de dois travesseiros grandes para dormir e às vezes acorda sufocado durante a madrugada, melhorando após sentar-se na cama. Notou que as pernas têm inchado um pouco. Tem antecedentes de hipertensão, diabete e tabagismo, usa enalapril e metformina. No exame clínico, bom estado geral, corado, hidratado, afebril, eupneico. Aparelho cardiovascular com bulhas rítmicas normofonéticas sem sopros, presença de estase jugular a 45 graus, pressão arterial 140 × 90 mmHg, frequência cardíaca 90 bpm. Asculta pulmonar com murmúrio vesicular presente bilateralmente, com estertores finos em bases. Abdome flácido, indolor, fígado palpável a 2 cm do rebordo costal direito, membros inferiores com edema 2+, boa perfusão periférica. Qual é a principal hipótese diagnóstica para o caso? Quais os achados de anamnese e exame clínico que corroboram essa hipótese? Quais exames complementares devem ser solicitados para a investigação diagnóstica? CASO 1 Comentários: Note que com base nas queixas narradas na anamnese já é possível pensar em uma principal hipótese diagnóstica: pneumonia. Por isso, a construção apropriada da história clínica, baseada na escuta atenta e na anamnese estruturada, é parte essencial da abordagem clínica. Diferentemente de questões ou de livros, durante um atendimento você deverá buscar ativamente essas informações para conseguir construir um caso clínico bem descritivo e que facilite seu raciocínio. Não é raro que pessoas deixem de valorizar esse passo a passo. Pacientes com dor torácica aguda (aquela de início há menos de 1 semana) devem ter seus sinais vitais atentamente aferidos. Anormalidades na pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR) e na saturação periférica de oxigênio (SpO2) já devem indicar maior probabilidade de diagnósticos com comprometimento sistêmico e de maior risco de óbito. A presença de febre permite aumentar a chance de os eventos ocorrerem por uma infecção. Nesse caso, a paciente tem taquicardia e febre, sugerindo que a taquicardia deve ser relacionada à própria febre. Há um padrão de dor pleurítica, e a apresentação de febre e tosse com expectoração amarelada já indica a possibilidade de pneumonia como desencadeante dos sintomas. A taquipneia pode ser relacionada à própria pneumonia, dificultando a troca gasosa ou mesmo com a dor do paciente. Por sua vez, o exame clínico permitiu identificar estertores e corroborar ainda mais essa hipótese diagnóstica. Note que a ausculta pulmonar da região anterior é importante e permitirá a avaliação do lobo médio pulmonar. CASO 2 Comentários:Diante de uma pessoa com dor torácica, é preciso lembrar-se de 5 diagnósticos: SCA, TEP, PNTX, DA e ruptura esofágica. O paciente tem uma dor torácica do tipo anginosa, de instalação aguda, indicando um diagnóstico sindrômico principal: SCA. Nesse contexto, a taquicardia pode significar um infarto mais significativo, uma vez que a redução do volume ejetado pelo ventrículo esquerdo provocará uma taquicardia reflexa em uma tentativa de manter o débito cardíaco. Também é por causa dessa redução da função ventricular que o paciente começa a fazer uma congestão a montante, gerando os estertores pulmonares, a tendência à redução da saturação arterial de oxigênio e a taquipneia compensatória. Na abordagem do paciente com dor torácica, na qual se aventam as cinco etiologias mais graves, é imprescindível que exame clínico contemple a aferição da PA em diferentes membros. A simples presença de PA assimétricajá permite aventar a possibilidade de dissecção aórtica. De acordo com o DATASUS, entre 2008 e 2019 ocorreram cerca de 1 milhão de internações por IAM, com uma taxa de mortalidade de 12% e um valor total associado de 3,3 bilhões de reais. A faixa etária mais afetada pela condição é entre 60 e 69 anos, sendo seguida pelas pessoas entre 50 e 59 anos e depois por aquelas entre 70 e 79 anos. CASO 3 Comentários:Eventos de instalação súbita sempre devem suscitar a possibilidade de mecanismos vasculares. No caso em questão, o paciente tem taquicardia, taquipneia e redução da saturação arterial de oxigênio, indicando um acometimento cardiopulmonar, mas o exame clínico desses sistemas foi normal. Essa combinação indica a possibilidade de tromboembolia pulmonar. Apesar de não ter sinais periféricos de trombose venosa profunda, nem todos os pacientes com TEP apresentarão esses sinais. Por outro lado, o exame clínico detectou um emagrecimento. Nesse contexto de uma pessoa idosa com suspeita de TEP, o emagrecimento pode ser indício de neoplasia subjacente e ainda não diagnosticada. Por isso, é interessante fazer melhor avaliação do emagrecimento, de fatores de risco para neoplasia e até mesmo de sintomas de neoplasias que já possam estar presentes. CASO 4 Comentário: O diagnóstico sindrômico deste paciente é dispneia crônica agudizada de origem cardíaca por insuficiência cardíaca congestiva, de etiologia chagásica, apresentando-se descompensada por anemia. As possíveis etiologias que justifiquem a piora do paciente são anemia hipocrômica e microcítica, além da progressão natural da doença, sobrecarga hidrossalina associada a piora da função renal. O exame clínico sugere área cardíaca aumentada com provável congestão pulmonar e presença de terceira bulha, o que sugere fortemente a descompensação cardíaca com alteração da complacência cardíaca. O sopro sistólico provavelmente se associa a dilatação do anel mitral, decorrente da dilatação cardíaca. Há sinais de descompensação de câmaras direitas, visto que o paciente apresenta estase jugular, congestão hepática, ascite e edema de membros inferiores. A provável causa de descompensação deve estar relacionada ao aparecimento de anemia. Os exames confirmam a presença de fração de ejeção de ventrículo esquerdo (FE) 30%, corroborando o diagnóstico de insuficiência cardíaca sistólica (FE < 50%), com área cardíaca aumentada, sinais de congestão pulmonar e derrame pleural, NT-pró-BNP aumentado, que corrobora a causa cardíaca para a dispneia. Em relação à anemia, trata-se de anemia ferropriva, sendo necessária a investigação de perdas sanguíneas, que ocorrem frequentemente a partir do trato digestório, sendo as principais causas doença ulcerosa péptica, neoplasia gástrica ou de cólon. CASO 5 Comentário: No caso relatado, apresenta-se um paciente com quadro clínico clássico da síndrome de insuficiência cardíaca, com sintomas (dispneia aos esforços, ortopneia, dispneia paroxística noturna) e sinais (estase jugular, estertores em bases, hepatomegalia, edema periférico) de congestão clínica. Em relação à etiologia, pode-se pensar na etiologia isquêmica, considerando os fatores de risco para doença arterial coronariana, e na hipertensiva como as mais prováveis. O principal exame a ser solicitado é o ecocardiograma transtorácico, que ajudará a confirmar o diagnóstico de insuficiência cardíaca, bem como o eletrocardiograma, que pode auxiliar na avaliação etiológica, e a radiografia de tórax, como exame para descartar diagnósticos diferenciais. Caso a suspeita de miocardiopatia isquêmica seja reforçada pelos exames complementares, deve-se considerar a realização de exame para estratificação adicional da coronariopatia, possivelmente cineangiocoronariografia. REF:MARTINS, Mílton de A.; et al. Semiologia clínica. Editora Manole, 2021.