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Prévia do material em texto

MATRIZES RELIGIOSAS
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Taiane Flôres do Nascimento
Indaial - 2021
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
xxxxx
 xxxx, xxxxxxxx
 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xx. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 xxx p.; il.
 ISBN xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
 ISBN Digital xxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD xxxxxx
Impresso por:
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS ...........................................7
CAPÍTULO 2
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
NO BRASIL ....................................................................................51
CAPÍTULO 3
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO
SOCIOCULTURAL .........................................................................97
APRESENTAÇÃO
A disciplina de Matrizes Religiosas surge no momento em que a configuração 
do espaço brasileiro passa a ter uma dimensão mais ampla à medida que novas 
religiosidades passam a compor e ter visibilidade no território brasileiro. A partir 
disto, essa disciplina vai contemplar temáticas dentro da proposta, que contribuem 
na formação acadêmica, a fim de levar não apenas conhecimento científico 
através das ciências humanas, mas também levantar questionamentos acerca da 
atual organização espacial-temporal das religiões no Brasil.
A religiosidade, de um modo geral, remete a questionamentos e resulta 
em formação cuja qualidade forma e é formada pela atitude tanto de condução 
quanto de recepção. Conhecer as matrizes religiosas contribui com os aspectos 
formativos a partir do fenômeno religioso – cuja capacidade, quando desenvolvida, 
pode ampliar a reflexão e a ação, com relação aos acontecimentos, formulações, 
normativas e significados, sendo mesmo uma ferramenta para um agir social que 
venha a transformar as relações pessoais positivamente. A particularidade das 
manifestações religiosas, que revelam historicamente as diferentes concepções 
de divindade e formas de cultuar, é por vezes antagônica entre elas, contudo de 
acordo com a fenomenologia e hermenêutica, esses fatores não são excludentes 
quanto ao conhecimento que ele possibilita acesso. É imprescindível a ressalva de 
que a disciplina, no entanto, deve se esquivar das análises que direcionem a mera 
identificação, oposições ou juízo de valor, pois pretende uma ação transformadora 
com os aspectos do fenômeno religioso como um todo no espaço social.
Diante disso, o presente texto está dividido em três partes, contendo 
incialmente, a apresentação das quatro maiores matrizes religiosas do Brasil, com 
bases nas principais religiosidades, processo de hibridismo e sua relação com o 
sincretismo religioso. É importante já assinalar desde o início problematizações 
acerca de religiões marginalizadas, como as de origem afro-brasileiras.
Em um segundo momento, o texto vai trazer o pluralismo e diversidade 
religiosa ressaltando como a religião é conceituada e contextualizada na literatura 
contemporânea, mapeando alguns autores principais sobre a historiografia das 
religiões, bem como as consequências de novas dinâmicas que envolvem a 
interpretação das manifestações no espaço.
E, por último, será abordada a religiosidade na atual configuração sociocultural 
brasileira, ressaltando suas expressões no espaço, dialogando principalmente 
com a questão do inter-religioso, que sugere possibilidades e desafios diante de 
uma perspectiva sobre as práticas de intolerância, discriminação e violência de 
cunho religioso.
Diante da proposta da temática, destaca-se que tanto os conhecimentos 
escolares e acadêmicos quanto os aspectos religiosos trazem consigo o 
potencial formativo, de tal forma carregado de tendências e influências, que 
tanto se complementam quanto conflitam – e por isso mesmo, nesse encontro 
e movimentos, aprofundado em um fazer pedagógico responsável, é possível 
vislumbrar pessoas críticas e protagonistas de suas histórias conscientes da 
importância e contribuição de outras.
Bons estudos!
Professora Taiane Flôres do Nascimento
CAPÍTULO 1
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• conhecer os aspectos estruturantes das diferentes religiosidades a partir de 
pressupostos científi cos;
• conhecer as formas com as quais a academia tem se apropriado a fi m de 
produzir saberes acerca da temática;
• analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, 
política, economia e da ciência;
• compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas em diferentes 
espaço-tempos e territórios.
8
 MATriZES RELiGioSAS
9
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A constante busca pela história dos imigrantes fez com que muitos aspectos 
fossem levados em consideração. Diante das organizações espaciais e também 
das transformações que surgiram a partir da fi xação territorial, encontra-se diversos 
códigos culturais os quais são testemunhados através das suas marcas culturais. 
Neste sentido, a religião é uma forma de explicação do mundo e representa uma 
confi guração ampla e diversifi cada do conhecimento. Muitas ciências, como a 
sociologia e a antropologia, têm despertado interesses em estudos relacionados 
à religião, e o aumento gradativo dessa temática ocasionou uma constante busca 
sobre conceitos e narrativas que contemplem as matrizes religiosas no Brasil. 
As ciências humanas em seu âmbito relacional e com uma visão extremamente 
proporcional em diferentes escalas vem para explicar as transformações desses 
fenômenos no espaço e sua relação com a sociedade, junto às expressões no 
espaço das mesmas para que se possa ter uma dimensão concreta dos fatos. 
A diversidade cultural do Brasil tem gerado inúmeros estudos referentes a 
grupos étnicos como índios, alemães, italianos, poloneses, japoneses, árabes e 
negros. A procura por peculiaridades de cada grupo social remete a descobertas 
signifi cativas às ciências. Os estudos referentes à sociedade neste sentido 
procuram enfatizar as transformações que estes grupos realizaram no passado, 
realizam no presente e se isso poderia implicar no futuro. 
Neste capítulo, serão ressaltadas as quatro principais matrizes 
religiosas que compõem o Brasil, bem como a questão do hibridismo 
cultural juntamente com o mito das três raças, e consequentemente, 
uma ênfase nas religiosidades afro-brasileiras que têm despertado 
muitas curiosidades dentro da academia.
2 AS PRINCIPAIS RELIGIOSIDADES 
NO BRASIL E O MITO DAS TRÊS 
RAÇAS
A temática sobre religião, no geral, tem sido discutida em diferentes áreas 
do conhecimento, e isso remete a uma gama de interpretações acerca de como o 
10
 MATriZES RELiGioSAS
fenômeno religioso se dá a partir do espaço e suas manifestações envolvendo o 
processo de sociabilidade das pessoas. Não se pode esquecer que, atualmente, 
o conceito de religião – o que se verá no Capítulo 2 – não é limitado apenas à 
fé, mas está intrinsicamente ligado à política,economia e até mesmo em uma 
plataforma maior, como a midiática.
Essas “novas” formas de interpretação sobre a religião vem à tona rompendo 
paradigmas que não apenas envolvem preceitos, dogmas etc., mas colabora 
na sociedade atingindo modifi cações nas relações sociais. Isso implicaria, mais 
tarde, nas próprias discussões e abordagens realizadas pelas ciências humanas, 
pois cada uma analisa e traz para si, a experiência, a essência e até mesmo a 
hermenêutica das religiões. Neste sentido, apresentar as principais matrizes 
religiosas do Brasil é abordar elementos culturais que se distinguem no espaço-
tempo em que as manifestações acontecem.
Neste sentido, reconhecendo a existência de um número considerável 
de religiões, entende-se que para dar conta dessa conjuntura precisa-se 
compreender a formação da religiosidade brasileira e refl etir sobre a diversidade 
religiosa a partir da construção histórica do Brasil. E assim, pode-se chegar a um 
consenso de que esse processo, de construção da cultura religiosa, se deu por 
meio de quatro grandes matrizes: indígena, ocidental, africana e oriental.
Conhecer cada uma no processo de sua inserção ou reconhecimento no 
Brasil é uma tarefa importante, pois a partir do que é analisado através de outras 
vertentes como a questão de identidade cultural, política e até ambiental, percebe-
se que as interligações de fatos históricos e geográfi cos são principais condutores 
da manifestação religiosa no espaço. Assim, abre-se uma poderosa construção 
do que realmente é a religião, não apenas a vendo como um conceito abstrato, 
que se remete, principalmente à fé e ao simbólico, mas também um norteamento 
das pessoas na construção da própria sociedade. 
Ressalta-se, então, que as páginas a seguir não são baseadas em juízo de 
valor, mas de considerações históricas e geográfi cas que apontam determinadas 
contribuições de diferentes abordagens, autores e refl exões acerca de como e 
quando as principais religiões estiveram/foram evidenciadas no espaço brasileiro, 
bem como a importância na construção sociocultural do Brasil. Embora existam 
muitas formas de explicação sobre a formação territorial brasileira, considerar a 
religião como fator fundador é como ver a história de outro ângulo, talvez mais 
aberto e mais questionador que os rotineiros. 
A tarefa aqui não é supervalorizar religiosidades, mas demonstrar suas 
condições e manifestações no espaço, sendo elas hegemônicas ou não. É 
explorar, de maneira científi ca e coerente, as principais contribuições de cada 
uma na atual confi guração do espaço do Brasil.
11
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
Diante disso, começa-se uma jornada de contextualizações e números para 
que se possa ter a ideia de como as principais religiosidades estão distribuídas nas 
grandes regiões brasileiras. Primeiramente, destaca-se que devido à diversidade 
de culturas existem quatro grandes matrizes religiosas no Brasil: indígena, 
ocidental, oriental e afro-brasileira. Ressaltar cada uma delas, e seu contexto 
histórico, pode trazer uma gama de interpretações acerca da espacialização 
das mesmas, bem como a construção de espaços sociais que, atualmente, se 
constituem em locais sagrados.
Mas afi nal, qual é a primeira matriz religiosa brasileira? Não 
precisa estudar antropologia para saber que a primeira, obviamente, é 
a indígena. Os povos indígenas do território brasileiro, em toda a sua 
diversidade e grandiosidade cultural, possuíam e ainda possuem um 
grande número de religiosidades, pois são muitos povos com costumes 
e dialetos diferentes. Nesse sentido, o certo seria não falar em uma religião 
indígena, pois existem inúmeras formas de religiosidades quanto há de povos 
distintos e os que ainda não são conhecidos.
Para realizar uma intermediação entre os estudos acadêmicos e a 
religiosidade dos povos indígenas brasileiros adota-se o termo religião, sem 
esquecer que o mesmo não se aplica ao caso estudado em todas as suas 
particularidades e nuances, ou seja, não estará contemplando-as em suas 
totalidades. Tal identifi cação não é apenas uma questão de resgate histórico, mas 
também de alteridade e reconhecimento da importância dos cultos indígenas, 
tanto para esses povos que vêm perdendo traços culturais ao longo dos anos, 
como para a formação da religiosidade da sociedade brasileira.
No início, pode-se dizer que a academia negava a existência de uma religião 
indígena. Quando chegaram ao Brasil, portugueses e espanhóis tentaram e 
conseguiram, com sucesso, catequisar grande parte dos povos originários. Diante 
desse fato, percebe-se que desde 1500, a cultura indígena sofre modifi cações, 
sendo que muitas coisas se perderam no passado e que hoje não são mais parte 
da marca cultural destes.
A catequização indígena foi realizada por grupos jesuítas de origem 
principalmente portuguesa. Pode-se pensar, a priori, que a catequização 
teve por objetivo apenas ensinar dogmas cristãos, porém com o tempo, esses 
ensinamentos passaram a ser estratégicos, no sentido de apropriação de terras, 
recrutamento de mão de obra e até mesmo para futuros combates por domínios 
territoriais. O investimento dos padres jesuítas causou uma perda de patrimônio 
cultural por parte da população indígena. Os costumes foram perdidos. As danças 
foram esquecidas. Os dialetos sumiram e a religiosidade/crença que eles tinham 
foi deixada de lado, como se o catolicismo fosse a religião mais importante. A 
Mas afi nal, qual é 
a primeira matriz 
religiosa brasileira?
Indígena.
12
 MATriZES RELiGioSAS
principal perda através da catequização foi a língua. Os indígenas aprenderam 
o português e passaram a evitar conversas em dialetos, para que os europeus 
pudessem saber de todas as coisas que falavam como estratégia de controle 
sobre os povos.
Diante disso, pode-se dizer que a perda da cultura indígena e morte de 
muitos povos se deu pela resistência de sobreviver ao “povo branco” que estava 
ali para habitar suas terras e escravizar para prosperar em solo brasileiro. 
Somente os índios que se catequizavam estariam a ''salvos'' dos portugueses. A 
religiosidade e crença foi altamente modifi cada com a catequização, se perdendo 
muito mais do que o próprio espaço material, mas também um espaço simbólico e 
fundamental na constituição do que é ser indígena. Nesse sentido, vale ressaltar 
uma consideração de Eliade (1991, p. 14):
[...] a vida do homem moderno está cheia de mitos 
semiesquecidos, de hierofanias decadentes, de símbolos 
abandonados. A dessacralização incessante do homem 
moderno alterou o conteúdo da sua vida espiritual; ela não 
rompeu com as matrizes da sua imaginação: todo um refugo 
mitológico sobrevive nas zonas mal controladas.
As religiões animistas e ameríndias (termos usados nos dias atuais para 
evidenciar as indígenas) passam a representar um número muito pequeno de 
praticantes e adeptos, visivelmente decaída desde a guerra guaranítica que se 
estendeu por parte do Brasil. Muitos dos povos nativos, além de características 
físicas, tiveram que abandonar toda sua crença em divindades que hoje não 
conhecemos, e que fazem parte da construção da sociedade brasileira. Muitos 
grupos de diferentes ciências humanas, como a Antropologia, Ciências Sociais, 
História, Geografi a, tentam reconstruir através de projetos acadêmicos e sociais, 
parte da cultura, mas o que se vê é a mínima parte do que fi cou para trás com o 
fenômeno de hibridismo cultural. 
Segundo Eliade (1998), desde o princípio do século XX, pesquisadores 
etnólogos adotaram o costume de empregar indistintamente os termos xamã, 
homem-médico, feiticeiro ou mago, para designar determinados indivíduos 
dotados de prestígio mágico-religioso e reconhecidos em todas as “sociedades 
primitivas”.
Como as religiões dos índios colocam como seres sobrenaturais e 
divinos elementos da natureza, como o Sol, a Lua e as fl orestas, hoje, não é 
possível que sejam retomadas todas as suas características. Como já se sabe,o desmatamento das fl orestas, principalmente da Amazônia, onde grande 
parte dos povos originários ainda vive em sua cultura de origem, tem perdido 
grandes extensões territoriais, acarretando, assim, não apenas o isolamento 
13
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
dos mesmos, mas também a perda dos elementos naturais que constituem o 
imaginário das crenças indígenas.
Para Eisenberg (2000, p. 61):
Ao perceberem que os índios conferiam autoridade religiosa 
ao curandeiro da tribo, os jesuítas tentaram assumir este 
papel, e para competir com a autoridade religiosa dos pajés, 
começaram a se dedicar ao atendimento médico dos índios e 
adaptar os rituais dos sacramentos cristãos aos usos locais.
A própria sobrevivência dos povos originários é proveniente de uma crença 
religiosa: os peixes nos rios, as caças nas fl orestas, o plantio em determinada Lua, 
inclusive a cura de enfermidades. Tudo está ligado ao sagrado. E aqui aparece 
uma diferença muito grande de outras religiosidades hegemônicas no Brasil: o 
espaço sagrado. Para eles, todo espaço habitado é sagrado, a terra, a casa, os 
animais, a primeira natureza (não tocada pelo homem) é extremamente sagrada. 
Neste sentido, considera-se as palavras de Corrêa (2001, p. 32), que se pode ter 
uma noção dessa relação do índio com a natureza, quando ele salienta que:
O espaço vivido é uma experiência contínua, egocêntrica e 
social, um espaço de movimento e um espaço-tempo vivido 
que se refere ao afetivo, ao mágico, ao imaginário. O espaço 
vivido é também um campo de representações simbólicas, rico 
em simbolismo que vão traduzir em sinais visíveis não só o 
projeto vital da sociedade, subsistir, proteger-se, sobreviver, 
mas também as suas aspirações, crenças, o mais íntimo de 
sua cultura.
Os garimpos, extração de minérios, cortes de árvores e outras atividades 
ilegais nessas regiões destruíram e ainda destroem o que restou do espaço 
sagrado dos indígenas, ou seja, suas terras são alvo de interesse não apenas 
econômico, mas também político, e isso mostra como eles são vulneráveis a 
ponto de não conseguirem uma defesa para sobreviver a essas intervenções 
do “homem branco”. A natureza é parte de suas religiosidades e toda cultura 
fundamentalista indígena parte dela, pois eles acreditam que a terra não é apenas 
o lugar onde moram, mas sim um elemento central da religião e da identidade 
cultural dos mesmos, ou seja, é o lugar onde descansam os espíritos de seus 
ancestrais. 
A primeira matriz religiosa, atualmente, é caracterizada por perdas e 
memórias esquecidas, e obviamente, a crença religiosa atual é diferente da dos 
ancestrais. A cultura de qualquer povo é passada de geração a geração, sendo 
por meio de fala, ensinamentos ou até mesmo escritas vindas de pessoas mais 
velhas e isso infl uenciou a marginalização dos povos originários como a maior 
religiosidade brasileira. Pois se pensar em termos de legados culturais deixados 
14
 MATriZES RELiGioSAS
por ancestrais, certamente, sem a invasão de europeus, a religião indígena seria 
uma das maiores religiões do Brasil e os índios estariam ocupando espaços 
pertencentes a eles mesmos.
Para melhor compreender a história dos povos originários 
e a infl uência ocidental na sua cultura e crença, indicamos o fi lme 
Escolarizando o Mundo, disponível na plataforma Youtube e The 
Mission (A Missão) de 1986, dirigido por Roland Joffé, que conta 
com o contexto histórico da Guerra Guaranítica, entre meados de 
1750 até 1756. Dá ênfase ao povo Guarani, tropas espanholas e 
portuguesas no sul do Brasil após a assinatura do Tratado de Madri, 
no dia 13 de janeiro de 1750. Os Guaranis da região dos Sete Povos 
das Missões não aceitaram deixar suas terras no território do Rio 
Grande do Sul para o outro lado do Rio Uruguai.
A segunda matriz religiosa presente no território brasileiro, com base nas 
linhas anteriores, é originária da Europa ocidental, pois, ainda que se possa 
afi rmar a origem geográfi ca oriental do cristianismo, foi de Portugal e Espanha 
que o cristianismo católico veio para o Brasil no processo de colonização.
Foi nos períodos colonial e imperial que o cristianismo, enquanto matriz 
religiosa, difundiu em terras brasileiras, por meio das missões jesuíticas e da 
devoção às divindades (santos e santas), que é chamado de cristianismo popular. 
Para informação, durante todo o período colonial (1500-1822) e imperial 
(1822-1889), o catolicismo foi a única religião legalmente aceita, não havendo 
liberdade religiosa em nosso país. Nesse período, ou seja, durante quatrocentos 
anos, segundo Mariano (2001, p. 127-128):
[...] o Estado regulou com mão de ferro o campo religioso: 
estabeleceu o catolicismo como religião ofi cial, concedeu-lhe 
o monopólio religioso, subvencionou-o, reprimiu as crenças e 
práticas religiosas de índios e escravos negros e impediu a 
entrada das religiões concorrentes, sobretudo a protestante, e 
seu livre exercício país.
O cristianismo popular é uma das maiores criações culturais em âmbito 
religioso no Brasil, pois se tornou fortemente imposto na maioria das comunidades. 
Neste sentido, pessoas com baixo poder aquisitivo, indígenas e negros, colocados 
15
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
à margem do sistema político e religioso, deram corpo a sua experiência espiritual 
dentro da cultura popular que infl uencia mais pela conexão do inconsciente e do 
emocional do que do racional e do doutrinário.
Como religião hegemônica, o cristianismo é muito forte, principalmente no 
Brasil, sendo uma das principais religiões mundiais. É notável que a mesma 
não infl uenciou somente na cultura de povos. O cristianismo foi, durante muitos 
séculos, disseminador dos ensinamentos de Jesus de Nazaré dentro do Ocidente e 
continua sendo a principal raiz de continuidades entre a cultura ocidental moderna 
e a cultura ocidental antiga. Desse modo, pode-se dizer que, geografi camente, é 
uma das maiores crenças que transita entre os quatro cantos no mundo todo.
Ressalta-se que o cristianismo é uma religião monoteísta (crê somente em 
um Deus), que tem cerca de dois mil anos. Anteriormente, destacou-se que ela 
poderia ter sua gênese oriental, pois é nesses meados que a mesma se derivou 
do Judaísmo na região do Oriente Médio. Apesar deste detalhe em sua formação, 
ela é considerada a mais infl uente no Ocidente e todas as culturas sofreram ou 
sofrem alguma infl uência de seus preceitos.
Ao contrário das religiões indígenas, o espaço sagrado dessa religião são as 
igrejas e santuários, que constituem um número muito grande materializado no 
espaço. É o maior número de construções com essa fi nalidade no Brasil. Aqui, 
considera-se que a refl exão sobre o sagrado envolve a consideração do profano, 
ou seja, ele se apresenta diferentemente do profano, pois o sagrado relaciona-
se às divindades, e o segundo, a priori, não. O sagrado manifesta-se sempre 
como uma realidade de ordem inteiramente diferente da realidade do cotidiano 
(ROSENDAHL, 1996).
Reconhece-se que o pensamento religioso das pessoas e sua conjuntura 
num mundo carregado de valores religiosos permitem que as mesmas identifi quem 
espaços qualitativamente diferentes de outros. A diferença é que espaços 
sagrados, como a igreja cristã, é demarcado e muito distinto e isso remete a uma 
oposição do que é sagrado e do que não é sagrado (profano). Neste sentido, é 
importante conceituar esses dois termos, pois eles fazem parte dos estudos de 
religião e são importantes na compreensão das mesmas e suas espacialidades. 
Rosendahl (1996, p. 30) defi ne que:
O espaço sagrado é um campo de forças e de valores que eleva 
o homem religioso acima de si mesmo, que o transporta para 
um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência. É 
por meio de símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado 
exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade. 
É o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que 
possibilita ao homementrar em contato com a realidade 
transcendente chamada de deuses, nas religiões politeístas, e 
Deus, na monoteísta.
16
 MATriZES RELiGioSAS
Mais além, a autora ainda explica essa relação das pessoas com o espaço 
sagrado:
O homem religioso tem necessidade de se movimentar 
num mundo sagrado, daí o desejo de participar do ritual de 
construção do espaço sagrado. Na realidade, o ritual pelo qual 
o homem constrói um espaço sagrado é efi ciente na medida em 
que ele reproduz a obra dos deuses. E desta forma habita um 
mundo ordenado, Cosmos, e não um espaço desconhecido e 
não consagrado, o Caos. O fenômeno da construção do espaço 
sagrado implica num comportamento religioso de conquista e 
ocupação do que não é “nosso”. A estrutura do espaço sagrado 
implica também na ideia da repetição da hierofania primordial 
que consagra o espaço e, assim transfi gura-o, singulariza-o e 
isola-o do espaço profano (ROSENDAHL, 1996, p. 30-31).
É importante considerar esses conceitos, uma vez que, diferentemente das 
religiões indígenas, a igreja, no geral, incluindo de outras religiões, não é somente 
o lugar que reúne os fi éis, mas igualmente o espaço protegido das infl uências dos 
meios profanos que estão além das instalações materiais. Reconhecendo, então, 
que o homem conhece o sagrado em espaços diferentes do seu cotidiano e que 
as igrejas são os espaços dessas experiências, é possível concluir que o interior 
desses lugares proporciona ao homem religioso uma ruptura com o profano. 
Dessa forma, as igrejas são elementos fundamentais para o entendimento da 
separação entre sagrado e profano. Eliade (1992, p. 29) ressalva:
[...] igreja faz parte de um espaço diferente da rua onde ela se 
encontra. A porta que se abre para o interior da igreja signifi ca, 
de fato, uma solução de continuidade. O limiar que separa 
os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os 
dois modos de ser, profano e religioso. O limiar é ao mesmo 
tempo o limite, a baliza, a fronteira que distinguem e opõem 
dois mundos – e o lugar paradoxal onde esses dois mundos 
se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo 
profano para o mundo sagrado. 
Com a hegemonia do cristianismo, o Brasil passa a ser um território que 
dissemina a religiosidade cristã para os povos que estavam chegando para logo 
mais, fi xar moradia, a exemplo de japoneses, poloneses, italianos, alemães etc. 
Pode-se considerar também que, atualmente, a base estruturante e hierarquizada 
da sociedade, que dita o que é certo ou errado, está associada às convenções 
cristãs, pois a igreja desde sempre foi e é a maior infl uenciadora dos padrões a qual 
as pessoas estão direcionadas. Obviamente, a desconstrução desses padrões tem 
sido evidenciada em diferentes movimentos, como a questão do casamento entre 
duas pessoas da mesma orientação sexual, pois sabe-se que o casamento entre 
orientações sexuais diferentes é uma convenção da igreja católica.
Indo em direção às desconstruções, ressalta-se a terceira matriz religiosa 
introduzida no Brasil: a africana. Ela vem para evidenciar a cultura dos negros 
17
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
escravizados e a crença nos orixás. É importante ressaltar que matriz 
africana é diferente de afro-brasileira. A primeira traz conhecimentos 
tradicionais originários da África, e a segunda, já conta com uma espécie 
de “mistura” de crenças (no terceiro tópico desse texto será discutida 
essa questão). 
Em contextos históricos e geográfi cos, quem trouxe o candomblé 
para o Brasil foram os negros escravizados nativos de diferentes lugares da 
África. Essa religiosidade tem rituais muito peculiares, porém assemelha-se com 
os rituais ameríndios. Eles são realizados ao ritmo de atabaques (instrumento 
musical) e cantos em idioma ioruba ou nagô (nativos), que variam conforme o 
orixá que está sendo cultuado. As cerimônias do candomblé são realizadas nos 
terreiros, que também podem ser casas, mas expressam no nome suas origens – 
clareiras na mata que os escravos podiam expressar sua religiosidade.
A historicidade das religiões africanas no Brasil é comumente associada com 
a afro-brasileira, mas cabe lembrar que os primeiros escravos foram trazidos em 
meados de 1500, não há uma data certa por historiadores. Mas o que é relevante 
aqui, é a premissa de que eles foram quase ou mais de 4 milhões, entre homens, 
mulheres e crianças, trafi cados pelos navios negreiros (REIS, 2000), e isso 
infl uenciou fortemente o povoamento do território brasileiro. O Brasil foi o país 
da América que mais trafi cou escravos negros e eles foram utilizados como mão 
de obra escrava de diversas construções materiais, como a ferrovia em toda a 
extensão territorial, do Norte a Sul.
Há quem diga que a longa permanência do negro no Brasil acabou por 
abrasileirá-lo, inclusive a sua religião de origem. De um lado, o negro africano 
tornou-se experiente e na tentativa de salvar as próximas gerações de suas famílias 
da escravidão, tornou seus fi lhos crioulos e mestiços, ou mais popularmente 
chamados de mulatos, pardos e caboclos. A mestiçagem e hibridismo de cultura 
são temas inevitáveis da história do negro no Brasil.
De outro lado, raros são os aspectos da cultura brasileira que não trazem 
a marca da cultura africana. O assunto já foi muito tratado por historiadores e 
antropólogos, que estudaram a cultura negra, incluindo a origem da família, 
a língua, a religião, a música, a dança, a culinária e a arte popular em geral. 
Cultura esta que também foi se perdendo ao longo do tempo, porém em termos 
simbólicos, ela é mais passível de ser resgatada que dos indígenas. 
Finalizando sobre as matrizes, a quarta matriz religiosa no Brasil 
é a oriental, mais especifi cadamente, o budismo e suas vertentes. Ele 
desembarca em solo brasileiro através da imigração de povos orientais, 
principalmente com a chegada dos japoneses. Ele se expande, abrindo 
Indo em direção às 
desconstruções, 
ressalta-se a 
terceira matriz 
religiosa introduzida 
no Brasil: a africana.
A quarta matriz 
religiosa no Brasil 
é a oriental, mais 
especifi cadamente, 
o budismo e suas 
vertentes.
18
 MATriZES RELiGioSAS
um leque de religiões orientais que mais tarde se torna muito importante na 
construção do espaço religioso brasileiro. Segundo o censo de 2010 do IBGE – 
Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística – são 243.966 praticantes ou adeptos 
no Brasil, número este que decresceu do último censo. Eles estão distribuídos em 
diferentes vertentes do budismo:
GRÁFICO 1 – DISTRIBUIÇÃO DO BUDISMO NO BRASIL
FONTE: Shoji (2004 apud USARSKI, 2008 p. 2)
É importante considerar que pelos dados do IBGE (2010), o budismo no 
Brasil tem se renovado, deixando de ser uma religião composta exclusivamente 
por descendentes de japoneses, mas também há a possibilidade do ingresso de 
outras etnias na religião. No entanto, Usarski (2008 p. 137) considera:
Esse recente declínio do número total de budistas brasileiros 
não só contradiz os exageros numéricos comuns na mídia 
brasileira, mas também indica que não se deve contar com 
a possibilidade de que um número considerável de nipo-
brasileiros que se recusaram a continuar declarando-se 
“amarelos” em 2000 agora apareça sob a rubrica “budista não-
amarelo”. A dinâmica negativa no subcampo torna-se ainda 
mais clara quando se considera a evolução do segmento budista 
de “cor amarela” durante as últimas três décadas. Comparado 
aos 149.633 budistas de “cor amarela” registrados em 1970, o 
19
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
número daqueles autodenominados de “cor amarela” caiu para 
81.345 em 2000, um declínio de 68.288 indivíduos de origem 
asiática predispostos a se identifi car como adeptos da religião 
de seus ancestrais.
Para Usarski (2008), pesquisador sobre a religião budista no Brasil, a queda 
está relacionada a diferentes fatores, incluindo a mortalidade de japoneses e a 
falta de interesse dos descentes emseguir a religião, procurando interagir com 
outras religiões que são mais hegemônicas no Brasil.
Atualmente, o budismo tem sido objeto de estudo de muitas ciências, o que 
ocasiona em uma visibilidade maior por parte da população em geral, no entanto, 
ainda são estudos incipientes que compõem uma trajetória mais abrangente da 
religião. Mesmo assim, o budismo é uma das matrizes religiosas do Brasil, pois o 
país tem a maior população japonesa fora do Japão. Isso também infl uencia muito 
a questão do hibridismo cultural que se tem falado ao longo do texto.
E diante da contextualização, é importante considerar o “mito 
das três raças”, pois ele está intrinsecamente ligado às principais 
matrizes religiosas e culturais do Brasil. Ele foi desenvolvido tanto pelo 
antropólogo Darcy Ribeiro como pelo senso comum da população, em 
que a cultura e a sociedade brasileiras foram constituídas a partir das 
infl uências culturais das três raças: europeia, africana e indígena.
“mito das três 
raças”, pois ele está 
intrinsecamente 
ligado às principais 
matrizes religiosas e 
culturais do Brasil.
IMPORTANTE: Nos dias de hoje, não existe nenhuma sociedade 
ou grupo social que não possua a mistura de etnias diferentes. Há 
exceções como pouquíssimos grupos indígenas que ainda vivem 
isolados na América Latina (o caso de alguns grupos na Amazônia) 
ou em algum outro lugar do planeta.
De modo geral, as sociedades contemporâneas são o resultado de um longo 
processo de miscigenação de suas populações, cuja intensidade variou ao longo 
do tempo e do espaço. Fala-se em senso comum, pois é ele quem divide a espécie 
humana entre brancos, negros e amarelos, que, popularmente, são tidos como 
"raças" a partir de um traço peculiar – a cor da pele. Todavia, brancos, negros 
e amarelos não constituem raças no sentido biológico, mas grupos humanos de 
signifi cado sociológico.
20
 MATriZES RELiGioSAS
IMPORTANTE: É importante destacar que esse mito não é 
compartilhado por diversos críticos, pesquisadores e pela própria 
academia científi ca, pois minimiza a dominação violenta provocada 
pela colonização portuguesa sobre os povos indígenas e africanos, 
colocando a situação de colonização como um equilíbrio de forças 
entre os três povos, o que de historiadores não comprovam.
Alguns estudos utilizaram, entre os séculos XVII e XX, o termo “raça” para 
designar as várias classifi cações de grupos humanos, mas desde que surgiram 
os primeiros métodos genéticos para estudar biologicamente as populações 
humanas, o termo raça caiu em desuso. Neste sentido, "o mito das três raças" 
é criticado por ser considerado uma visão simplista do processo colonizador 
brasileiro.
Desse modo, a crença no mito da democracia racial é estruturante do 
sentimento de nacionalidade brasileiro, a ponto de atuar uma rara aceitação 
valorativa entre as diferentes camadas sociais que formam a sociedade atual. 
Para Ladouceur (1992, p. 417):
O Brasil constitui um espaço plurinacional caracterizado por 
diversas identidades culturais. Este espaço é dominado 
por uma ideologia dominante [sic] com elementos brancos 
euroamericanos. O Estado brasileiro constrói sua geografi a na 
base da territorialidade desigual estabelecida contra as nações 
autóctones e a maioria negra.
Na sua pesquisa que pode ser considerada um dos principais estudos da 
questão étnico-racial no período, Ladouceur (1992, p. 420) identifi ca que quase 
não há uma representação diferenciada de índios e negros no território brasileiro, 
e ele vai mais além ao ressaltar que:
Os índios e negros são desterritorializados e dissolvidos na 
identidade nacional enquanto a pertença a um território próprio 
é destruída nas representações geográfi cas. A territorialidade 
dos índios e dos negros elabora-se unicamente a partir das 
relações inter-étnicas pela conquista do território [...] autóctone 
e a conquista do sexo feminino (implícito nos Livros) permitindo 
a miscigenação. Encontramos só um mapa que ilustra a 
presença territorial das nações autóctones, mas nenhum mapa 
ilustrando a territorialidade negra.
21
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
Destaca-se, ainda, as palavras de Ratts (2010, p. 129):
Como dissemos, nossos “antigos” livros didáticos de geografi a 
do Brasil, tratam de brancos, negros e índios na composição 
étnica do país, trazendo fotografi as, índices populacionais 
e, algumas vezes, mapas. Nesta geografi a imaginativa, 
considerada não como falsifi cação, mas como representação, 
os índios se situam em aldeias muito distantes dos centros 
urbanos, como se seu ambiente próprio se reduzisse a fl orestas 
e matas. São como “orientais” numa terra ocidentalizada. Os 
negros são igualmente originários de um distante, vasto e 
misterioso território: a África. No Brasil, parte do Novo Mundo, 
igualmente exótico, misterioso e distante dos olhos europeus. 
Neste imaginário o pais seria, de modo genérico, mais 
indígena no Norte e Centro-Oeste, negro ao Nordeste e parte 
do Sudeste e branco ao Sul. No entanto, no senso comum 
geográfi co praticamente não existiria mais índios nas regiões 
Nordeste (com exceção do Maranhão), no Sudeste e no Sul. 
[...] Este quadro começa a ser revisto pela permanência por 
vezes incômoda dos “diferentes” e pelo reconhecimento muitas 
vezes tardio que alguns atores sociais hegemônicos fazem das 
identidades de grupos subalternos.
É importante considerar que como sociedade pensadora e crítica, estamos 
em processo de abertura para o reconhecimento da diversidade étnica, racial 
e cultural no país e no mundo, abordando-a nos contextos de desigualdade e 
de reparações de situações históricas de subalternidade. A ideia de trazer as 
principais matrizes religiosas do Brasil é uma confi guração não apenas de uma 
parte da história de alguns povos, mas sim de uma visão mais ampla da própria 
territorialidade brasileira. Nos gráfi cos a seguir, pode-se observar um resumo por 
regiões, a partir de dados de 2010, a composição religiosa do Brasil, considerando 
o mito das três raças.
22
 MATriZES RELiGioSAS
GRÁFICO 2 – REGIÃO NORTE
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
GRÁFICO 3 – REGIÃO NORDESTE
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
23
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
GRÁFICO 4 – REGIÃO SUDESTE
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
GRÁFICO 5 – REGIÃO SUL
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
24
 MATriZES RELiGioSAS
GRÁFICO 6 – REGIÃO CENTRO-OESTE
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Pode-se visualizar nos gráfi cos, que em todas as regiões, as porcentagens 
de adeptos e praticantes de religiões não hegemônicas (matriz africana e afro-
brasileira, espírita e oriental) são baixas em relação à católica. Mesmo que ela 
tenha dados altos e disparados é possível dizer que ela tem sofrido uma gradativa 
decadência de adeptos. Isso pode ser resultado das religiões que estão sendo 
visibilizadas com a proposta de uma multiculturalidade que o Brasil se desenha. 
As relações sociais baseadas nas religiões provocam um aumento importante na 
sociabilidade de determinados grupos marginalizados, a exemplo da população 
LGTBiQ+. Espaços como terreiros e casas espíritas tendem a ser mais abertos às 
expressões desse grupo social subalterno. 
Para tratar essas questões – caso haja interesse sobre – 
indicamos trabalhos desenvolvidos com a temática da religião e 
gênero:
FURTADO, Maria Cristina S.; CALDEIRA, Angela Cristine 
Germine Pinto. Cristianismo e Diversidade Sexual: Confl itos 
e Mudanças. In: Fazendo Gênero: Diásporas, Diversidades, 
Deslocamentos, n. 9, Florianópolis, 2010.
25
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
NASCIMENTO, T. F do. Os terreiros de cultos afro-brasileiros 
e de origem africana como espaços possíveis às vivências 
travestis e transexuais. 2016. 103 p. Dissertação (Mestrado em 
Geografi a) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.
2.1 O PROCESSO DE HIBRIDISMO 
RELIGIOSO NO TERRITÓRIO 
BRASILEIRO
De modo geral,o hibridismo cultural aconteceu e acontece a partir da 
mistura de diferentes culturas. Algumas culturas conseguem adaptar-se a culturas 
hegemônicas, como também podem subverter a elas. Um exemplo importante e 
que já foi considerado anteriormente é a indígena. O hibridismo no Brasil iniciou 
com a chegada de europeus e, consequentemente, eles se sobressaíram em 
relação aos nativos, trazendo uma cultura europeia e eurocêntrica. Diante disso, 
muitos povos foram convertidos a diferentes realidades, como a catequização, 
mas também muitos resistiram a essa mudança de cultura, e foi então que 
aconteceu um dos maiores massacres da história brasileira: a morte de milhares 
de indígenas nas guerras em posse do território. 
Não é novidade essas linhas, porém é importante sempre enfatizar que o 
processo de miscigenação não foi algo natural, mas sim imposto por etnias 
europeias, principalmente portugueses e espanhóis. Tem-se ao longo da história, 
diversas denúncias em forma de contos, livros literários e, inclusive, na mídia, 
que destacou importantes obras de autores literários brasileiros que evidenciavam 
fatos desses períodos ao meio de eufemismo e romances um tanto duvidosos, 
mas que representavam a realidade brasileira. Neste sentido, a literatura passa 
a se tornar um instrumento de denúncia e crítica social, porém de uma forma que 
poucos compreenderam ao longo dos séculos.
Pode-se citar obras como Memórias de um Sargento de Milícias
(1854), de Manuel Antônio de Almeida, Iracema (1865), de José de 
Alencar, Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, dentre outras 
importantes obras dos séculos XIX e XX.
26
 MATriZES RELiGioSAS
Retomando então a contextualização sobre o hibridismo religioso, considera-
se que o mesmo é resultado do multiculturalismo ou pluralismo cultural (será 
discutido nos próximos capítulos), em que caracteriza a sociedade como 
heterogênea, enquanto gênero, raça, religião, padrões culturais e até mesmo 
“defi ciências” em questões identitárias. No entanto, considera-se as palavras de 
Miceli (2004 p. XIII):
[...] uma vez que a cultura só existe efetivamente sob a forma 
de símbolos, de um conjunto de signifi cantes/signifi cados, de 
onde provém sua efi cácia própria, a percepção dessa realidade 
segunda, propriamente simbólica, que a cultura produz e 
inculca, parece indissociável de sua função política. Assim 
como não existem puras relações de força, também não há 
relações de sentido que não estejam referidas e determinadas 
por um sistema de dominação.
Cabe ressaltar que a sociabilidade em todos os seus aspectos, e em todos 
os momentos da sua história, justifi ca a prática religiosa não pelo que está 
visivelmente aparente, mas pelo resultado de uma cooperação, intervenção de 
todos, que faz parte de um pensamento coletivo, rico em elementos sociais os 
quais são objetos de estudos de diferentes ciências humanas. Essa relação 
social imbricada no contexto das religiões traz uma gama de interpretações 
socioespaciais que podem ultrapassar diversos aspectos. Para isso considera-se 
Velho (2001, p. 207):
[...] a sociabilidade em Simmel tem um sentido muito preciso, 
mas, se você fi car preso exclusivamente à defi nição que o 
Simmel deu para sociabilidade no início do século XX, pode 
perder muita coisa interessante que também é chamada de 
sociabilidade, e que acho que está muito mais próxima de uma 
discussão sobre interação, cotidiano e costumes. [...] existe 
esse nível ou esse conjunto de níveis do dia-a-dia, do cotidiano, 
da sociabilidade, que são absolutamente fundamentais e, num 
certo nível, são a base da vida social. [...] Na verdade, o dia-a-
dia, o cotidiano, o microssocial, a interação têm esse potencial 
enorme que tem sido confi rmado na história das ciências 
sociais.
O conceito de sociabilidade é evidenciado por George Simmel. 
Ver em: SIMMEL, G. Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura 
ou formal. In: SIMMEL, G. Georg Simmel: Sociologia. Organização 
de Evaristo de Moraes Filho. Coordenação de Florestan Fernandes. 
São Paulo: Ática, 1983.
27
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
Com as diversas religiões, a sociabilidade é uma forma de vida cotidiana da 
sociedade. Não somente elas, mas sem dúvida é um dos maiores fatores que 
infl uenciam a cotidianidade. 
O maior hibridismo religioso está relacionado às religiões afro-brasileiras 
(último tema deste capítulo), mas adiantando os spoilers, congrega elementos 
simbólicos de diversas religiões hegemônicas do Brasil. Tem-se então uma ênfase 
maior a ela por considerar que a mesma ainda vive um processo de afi rmação e 
que isso está diretamente relacionado ao pluralismo cultural. Para adentrar ainda 
mais fundo nessa discussão, partilha-se o pensamento de Aragão (2002, p. 49):
Acontece que a fé autêntica não se reduz a uma religião. A 
fé autenticamente religiosa prolonga uma fé antropológica 
mediante dados transcendentes sobre valores e signifi cações, 
oferecidos por um grupo de testemunhas. Enquanto as 
tradições religiosas transmitidas como cultura primeiro o 
reconhecimento do sagrado como sobrenatural efi caz e 
passam depois a adotar valores implícitos nesse sagrado, a fé 
religiosa leva a aceitar valores humanos e a reconhecer depois 
o sentido sagrado, absoluto.
É importante considerar esse pensamento do autor, pois se analisar todas as 
estruturas da atual sociedade, percebe-se que a fé não se reduz a uma religião. 
A exemplo disso está o Gráfi co 7, que compõe uma comparação de religiões de 
matriz africana e afro-brasileiras com as cristãs. 
GRÁFICO 7 – RELAÇÃO ENTRE AS RELIGIÕES CATÓLICAS 
E DE MATRIZ AFRICANA/AFRO-BRASILEIRAS
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
28
 MATriZES RELiGioSAS
O gráfi co com os dados de 2010 não conseguem representar a realidade e 
tampouco demonstrá-la, pois as vertentes do catolicismo no Brasil ainda ocupam 
(e provavelmente sempre irão ocupar) o maior número de adeptos. Ele está aqui 
para a visualização de uma realidade que não pode ser comparada. No entanto, 
se destacar apenas as religiões não hegemônicas, pode fazer mais sentido a 
análise. 
Nos próximos gráfi cos é possível verifi car melhor as outras religiosidades no 
Brasil: 
GRÁFICO 8 – RELAÇÃO DAS RELIGIÕES NÃO HEGEMÔNICAS NO BRASIL
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
O Gráfi co 8 mostra a religião espírita com maior número de adeptos e pode-
se explicar esses dados. O senso de 2010 foi o primeiro a considerar a religião das 
pessoas e ao responderem para os recenseadores, muitas delas não expressaram 
a sua religião de forma exata, ou não sabia onde algumas se encaixavam. 
Por defi nição do IBGE, o agente recenseador é o cargo que 
conta com requisito de nível médio, sendo o profi ssional designado 
para coletar as informações dos Censos Demográfi cos nos 
domicílios designados, cumprindo as orientações recebidas por meio 
do dispositivo móvel de coleta.
29
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
Há uma relação forte entre a espírita kardecista com as religiões afro-
brasileiras e a diferença entre elas ainda não é reconhecida por parte da 
população. É uma forma de camufl ar o fenômeno, mas ao mesmo tempo, serve 
de estratégia para a resistência e permanência. No próximo senso, provavelmente 
esse número de adeptos e praticantes de religiões afros tende a aumentar, não 
apenas por essa razão, mas por outros fatores que Nascimento (2014, p. 66) 
aponta:
Primeiramente, acredita-se que o maior e principal fator está 
ligado a inserção da cultura afro-brasileira no currículo escolar, 
pois em 2003, foi promulgada a lei nº 10.639 que alterou a 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando-se 
a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e 
médio incluíssem no currículo o ensino da história e cultura 
afro-brasileira, onde se ressalta a importância da cultura negra 
na formação da sociedade brasileira. [...] O preconceito estaria 
diminuindo em função da educação, e isso poderia acarretarna maior aceitação das religiões afro-brasileiras no Brasil. 
Salienta-se também que a partir destes estudos, o sincretismo 
religioso passa a ser compreendido e abrem possibilidades 
de conhecimentos ligados a estas manifestações ligadas as 
religiões de origem afro. Neste sentido, os professores exercem 
importante papel no processo da luta contra o preconceito e a 
discriminação racial no Brasil.
Ainda exemplifi cando alguns fatores, a autora destaca mais além que: 
O segundo fator estaria ligado à mídia e acesso de 
informações. Com o maior número de acessibilidade às redes 
de informações das mais variadas formas, como a televisão 
e a internet. Assim, a população afro-brasileira passou a 
procurar seus direitos, pois houve um chamado muito grande 
de associações e movimentos 67 negros não só no país, mas 
no mundo todo. Com isso, eles passaram a se integrar em 
manifestações que os revelaram direitos e deveres que ainda 
não eram reconhecidos, a diversidade de fenômenos culturais 
ligados a este grupo social (NASCIMENTO, 2014, p. 66-67).
Possivelmente, esses fatores podem ser agregados à questão da resistência 
também. No entanto, essa discussão é mais profunda em ciências como a 
Geografi a, que propõem uma relação de manifestação do fenômeno no espaço e 
suas relações sociais – o que não foge em nada das principais ideias desse texto 
em si.
Continuando, o Gráfi co 9 apresenta uma comparação talvez esperada nesse 
texto, mas que, a priori, pode ser uma indicação de parâmetros de dados da 
realidade do Brasil.
30
 MATriZES RELiGioSAS
GRÁFICO 9 – RELAÇÃO CATÓLICA X EVANGÉLICA (SEM SUAS VERTENTES)
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Percebe-se através dessa imagem e com os dados especializados, que há 
um número muito elevado de adeptos de religiões evangélicas, o que permite nos 
apresentar uma outra confi guração de religiosidade no Brasil. Sobre isso, conta-
se com a colaboração de Sousa (2017, p. 21), que comenta:
Com o crescimento exponencial dos evangélicos, cresce 
também sua área de atuação, seja no campo da ação social ou 
na política e embora constitucionalmente for um Estado laico, 
o seu povo é extremamente religioso, portanto, é inevitável a 
manifestação de infl uência dos evangélicos no Brasil.
A religião evangélica, que é uma vertente do cristianismo, sob outros 
preceitos, tem um aumento gradativo e importante nas últimas décadas. Ela 
parte de uma matriz maior, porém tem se tornado uma das crenças que mais 
se expande em níveis territoriais, tanto em adeptos quanto de materialização no 
espaço. Realmente, é inevitável que ela não seja infl uente em vários setores, a 
exemplo da economia e da política, no entanto, deve-se ressaltar que há diversas 
vertentes do evangelho no Brasil, como mostra o Gráfi co 10. 
31
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
GRÁFICO 10 – VERTENTES EVANGÉLICAS NO BRASIL
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Conforme os dados de 2010, que podem ser maiores no momento, salienta as 
vertentes Assembleia de Deus e Batista como as maiores igrejas com praticantes 
no Brasil, número este que passará por mudanças no próximo senso, devido à 
expansão no espaço. Para Martins (2016, p. 19):
[...] a Assembleia de Deus atualmente é extremamente 
difundida no país, tanto as convencionais, amplamente 
reconhecidas denominacionalmente, quanto as Assembleias 
de Deus independentes que surgem a cada dia e que não 
são reconhecidas como tais. Dado esse fato, é muito difícil, 
se não impossível, apontar uma doutrina defi nitiva e certa da 
Assembleia de Deus.
As palavras da autora coincidem com os dados do Gráfi co 8, pois evidenciam 
exatamente a sua fala. Há um forte crescimento dessas religiões, pois em tese, 
atingem uma camada menos favorecida da população, pessoa com baixo poder 
aquisitivo, que veem nos preceitos e doutrinas, uma forma de modifi car suas vidas 
pertencendo àquele espaço de sociabilidade. 
O hibridismo religioso certamente é uma das temáticas mais interessantes 
e complexas como forma de analisar a organização do espaço do Brasil, pois 
abarca muitas religiosidades que ainda estão em ascensão, e logo depois de se 
fi xarem, outras mais irão aparecer, todas provenientes de algumas das quatro 
maiores matrizes religiosas. Aqui não aparece suas doutrinas de fato, e nem seus 
preceitos, pois é uma tarefa difícil e envolve uma pesquisa muito mais ampla e 
específi ca de cada religião, porém, se destacá-las de uma forma geral, pode-se 
32
 MATriZES RELiGioSAS
absorver um método dedutivo de como elas se manifestam no espaço e quais as 
relações sociais que cada uma infl uencia na construção da própria sociedade.
Indicamos a leitura da seguinte obra:
TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (orgs). As religiões 
no Brasil: continuidades e rupturas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
2.2 AS RELIGIÕES AFRO-
BRASILEIRAS E O “SINCRETISMO 
RELIGIOSO”
Antes de iniciar a última abordagem deste capítulo, é importante considerar 
que as religiões afro-brasileiras são consideradas marginais e não homogêneas. 
A heterogeneidade das religiões indica que a própria construção do espaço é 
totalmente diferenciada, aparecendo singulares manifestações culturais. Umas 
das religiões que são totalmente diferenciadas ao manifestar-se no espaço são as 
afro-brasileiras e de matriz africana (NASCIMENTO, 2016).
Os espaços que elas constituem são diferenciados e exigem uma 
compreensão maior sobre o que é o sagrado e o profano, conceitos estes que 
foram revisitados no início deste texto. O processo de aceitação e afi rmação 
enquanto uma religião legítima teve entrada ainda no século XX, mesmo que ela 
já tivesse em meio aos escravos negros nos anos anteriores. Ela abrange um 
leque de interpretações acerca do conceito do que é religião. Conforma Souza 
(2004, p. 122-123): 
A religião é, antes de tudo, uma construção sociocultural. 
Portanto, discutir religião é discutir transformações sociais, 
relações de poder, de classe, de gênero, de raça/etnia; é 
adentrar num complexo sistema de trocas simbólicas, de jogos 
de interesse, na dinâmica da oferta e da procura; é deparar-se 
com um sistema sociocultural permanentemente redesenhado 
que permanentemente redesenha as sociedades.
Essa ideia de Souza é interessante para contextualizar a questão das 
religiões afro-brasileiras no Brasil, uma vez que elas sofreram e ainda sofrem 
transformações culturais relevantes ao longo do processo de “sincretização”. De 
33
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
maneira geral, ela é vista por muitos pesquisadores, inclusive por praticantes da 
religiosidade, como um “abrancamento” das religiões de matriz africana, como o 
Candomblé, por exemplo. Isso se dá pelo fato de ela congregar em sua possível 
gênese, preceitos das religiões africanas, ameríndias, espírita e católica, sendo 
assim uma mistura de todas. Considera-se que ser “sincrético” pode não ser 
uma boa qualifi cação, especialmente para o senso comum, pois tem um sentido 
negativo, que dá a conotação de mistura confusa de elementos diferentes e de 
inautenticidade (PREVITALLI, 2013), e ela vai mais além quando exemplifi ca (p. 
22-23):
Sincretismo não é um fenômeno recente, tampouco estritamente 
localizado. Fruto da dinâmica da cultura, o sincretismo permite 
que se dê sentido àquilo que foi adquirido do outro. É um termo 
polêmico, de conotação pejorativa, uma vez que pressupõe 
contaminação e inautenticidade, acreditando-se que uma 
suposta tradição pura recebera infi ltrações de símbolos de 
outra tradição aparentemente incompatível.
Esse ponto ainda é muito discutido entre diversos estudiosos da temática 
em questão, visto que há quem defenda que ela seja uma religião legítima do 
Brasil e que tem sua própria estrutura religiosa, fundamentos e formas de cultos 
originais, e por essa razão será utilizado o termo “sincretismo”, entre aspas, 
quando relacionado a elas no texto.
O “sincretismo” da umbanda com o catolicismo também se concretiza comsua relação com outras imagens que são venerados nas duas religiões. Cosme e 
Damião são entidades que dividem opiniões quanto a sua origem, mas as festas 
e oferendas são semelhantes tanto na umbanda quanto na católica. Ainda que as 
crenças sejam diferentes, o objetivo das orações é o mesmo, principalmente no 
que se refere à saúde e estudo de crianças.
Dentre as muitas entidades que são recebidas pelos médiuns das correntes 
nos inúmeros terreiros de umbanda, citam-se como exemplos os Caboclos e 
Pretos Velhos que são considerados as entidades mais cheias de luz espiritual 
e sabedoria. Diante disso, pode-se dizer que é através delas que a umbanda se 
caracteriza por ser uma religião com forte relação com o meio natural (água, terra, 
mata, entre outros), seguindo muitos ensinamentos ligados à natureza.
Essa ligação com a natureza é consequência dos rituais e práticas que 
os negros realizavam em matas fechadas. Como exemplo, pode-se citar os 
Quilombos, os quais se caracterizavam como refúgios e locais de proteção. 
Nesses lugares, eles canalizavam as forças de seus antepassados e, também, 
de antigos índios guerreiros como forma de manifestação ao meio sagrado. 
Retiravam da vegetação, plantas e ervas capazes de realizar rituais de limpeza 
espiritual e também do local onde viviam.
34
 MATriZES RELiGioSAS
Esses rituais que reúnem antepassados e espíritos indígenas, juntamente 
com santos católicos, atingem a fronteira do sagrado e do profano. Precisam, 
assim, de um espaço adequado para acontecer e manter a linha misteriosa 
característica dessa manifestação religiosa. A defi nição de um culto é fornecida 
pela fé e integridade dos médiuns que participam da corrente. O mais importante, 
neste caso, é a conexão espiritual de cada participante nos rituais.
Desde o início mostra-se alguns dados do censo de 2010, mas o que é 
preciso observar, no caso das religiões afro-brasileiras, é que o censo oferece 
números subestimados de praticantes e adeptos. Possivelmente, isso se deve às 
circunstâncias históricas nas quais essas religiões se constituíram no Brasil e ao 
seu caráter “sincrético” que lhe é atribuído. Prandi (2013, p. 16) ressalta:
As religiões afro-brasileiras mais antigas foram formadas no 
século XIX, quando o catolicismo era a única religião tolerada 
no País e a fonte básica de legitimidade social. Para se viver no 
Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente depois, sendo 
negro livre, era indispensável antes de mais nada ser católico. 
Por isso, os negros que recriaram no Brasil as religiões 
africanas dos orixás, voduns e inquices se diziam católicos e 
se comportavam como tais. Além dos rituais de seu ancestrais, 
frequentavam também os ritos católicos. Continuaram sendo 
e se dizendo católicos, mesmo com o advento da República, 
quando o catolicismo perdeu a condição de religião ofi cial.
Essa ideia de Prandi (2013), um dos principais pesquisadores dessa 
temática atualmente, traz fortemente a ideia do sincretismo religioso. O processo 
de hibridismo cultural fez com que os negros que no Brasil chegaram, tivessem 
confrontos com seus senhores relacionados a sua crença. Nascimento (2014, p. 
30) comenta sobre isso:
Nos anos que precedem a abolição da escravatura, não era 
permitida a prática de outra religião sem ser a católica. A 
população que não se identifi cava com a mesma, era proibida 
de revelar suas crenças, uma vez que o sistema racista e 
conservador da época não aceitava. Com isto, muitas pessoas 
praticavam a religião umbanda ocultamente, sem expor 
manifestações que poderiam comprometer seu convívio social.
No geral, as religiões afro, nesse período de colonização e mais tarde, no 
imperial, eram taxadas de crença demoníaca, ou ainda, que cultuavam entidades 
demoníacas. Para Silva (2007, p. 23-24), as religiões afro:
[...] foram perseguidas pela Igreja Católica ao longo de quatro 
séculos, pelo Estado republicano, sobretudo na primeira metade 
do século XX, quando este se valeu de órgãos de repressão 
policial e de serviços de controle social e higiene mental, e, 
fi nalmente, pelas elites sociais num misto de desprezo e fascínio 
35
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
pelo exotismo que sempre esteve associado às manifestações 
culturais dos africanos e seus descendentes no Brasil.
Essa ideia perpassa até os dias de hoje em algumas religiões e crenças, 
porém, com as inúmeras pesquisas que têm destacado essas religiosidades no 
espaço, abriu-se uma forma de desconstruir mitos que eram atribuídos a elas. 
Segundo Previtalli (2013, p. 24), a partir do século XX:
O trânsito religioso proporcionou mudanças no quadro das 
religiões brasileiras. O Brasil deixou de ser um país unicamente 
católico, pois a concorrência religiosa acarretou o crescimento 
dos pentecostais e dos umbandistas, nas classes populares, 
e dos espíritas, nas classes médias. Na disputa pelo mercado 
de bens simbólicos, a umbanda procurava se fi rmar na cidade, 
e passou a se organizar em federações e associações contra 
a perseguição policial, da Igreja Católica e os noticiários 
pejorativos dos jornais. 
Nesse período, o cenário religioso do Brasil passa a integrar outras 
religiosidades que, consequentemente, acabaram caindo no modismo da 
sociedade, principalmente da classe média, pois a umbanda já estava sendo 
cultuada como uma forma diferenciada daquelas que os negros cultuavam anos 
antes. A partir da década de 1950 as perseguições às religiões afro-brasileiras 
diminuíram e a umbanda passou a ser seguida por uma parte signifi cativa da 
classe média carioca. Na década de 1960, as religiões afro-brasileiras passaram 
a ser celebradas pela elite branca (NASCIMENTO, 2014). Bastide (1971, p. 439-
440) argumenta sobre a afi rmação da religião umbandista salientando que:
Ora, o sucesso dessa nova seita, a primeira no Rio, em seguida 
nos outros Estados do Brasil – Minas, Rio Grande do Sul, São 
Paulo, Recife - Prova que ela correspondia à nova mentalidade 
do negro mais evoluído, em ascensão social, que compreendia 
que a macumba o rebaixava aos olhares dos brancos, mas 
que, entretanto não queria abandonar completamente a 
tradição africana. Umbanda é uma valorização da macumba 
através do espiritismo. E o ingresso de brancos em seu seio, 
trazendo com eles restos de leituras mal dirigidas, de fi lósofos, 
de teósofos, de ocultistas, não podia senão ajudar essa 
valorização. Pelo menos, em certa medida. Até o momento 
no qual a valorização se transforma em traição, na qual a 
origem africana de Umbanda é esquecida. Pois existem uma 
valorização negra e uma valorização branca que se cruzam, 
como veremos, por causa desse duplo contingente de adeptos: 
o de cor e o de origem europeia. A luta racial prosseguirá ainda, 
sob a forma mais sutil, é verdade, e mais disfarçada.
Bastide, com essas afi rmações de 1971, em que o cenário político e 
socioeconômico do Brasil já havia sofrido um grande salto, continua coerente 
com a situação atual. A luta das religiões afro-brasileiras para se manter diante 
36
 MATriZES RELiGioSAS
de outras religiões hegemônicas é constante. Em algum momento deste texto 
especifi cou-se que existe um movimento de resistência e permanência de 
terreiros de cultos afros no espaço urbano. Isso é uma forte tendência, visto que 
esse fato também foi condicionado desde que a religião passa a ser parte de 
espaços subalternos. Bastide (1971, p. 72) conta:
[...] diante do modesto altar católico erguido contra o muro 
da senzala, à luz tremula das velas os negros podiam dançar 
impudentemente suas danças religiosas e tribais. O branco 
imaginava que eles dançavam em homenagem à Virgem ou 
aos santos; na realidade, a Virgem e os santos não passavam 
de disfarces e os passos dos bailados rituais cujo signifi cado 
escapava aos senhores, traçavam sobre o chão de terra batida 
os mitos dos Orixás ou dos voduns […]. 
Uma das principais diferenças de algumas religiões é que o espaço sagrado 
nas crenças afro podeser todos os lugares: uma rua, uma mata, um riacho, o mar, 
uma pedreira e até mesmo o cemitério. 
Questionamento: Há uma desconstrução do que é espaço 
profano aqui. O que é espaço profano para as religiões de origem 
afro? Será que existe o profano ou ele está imbricado no sagrado? 
Sem dúvidas (e com elas também), essa questão exige um 
aprofundamento teórico e conceitual da qual ainda não é possível 
trazer aqui, mas fi ca o momento de refl exão.
Retomando para o momento atual, o Gráfi co 11 demonstra as religiosidades 
afros no Brasil:
37
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
GRÁFICO 11 – RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-BRASILEIRAS NO BRASIL
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Separadas pelas grandes regiões, percebe-se que a umbanda e candomblé, 
juntas, lideram em todas elas. Isso se dá pelo fato de os praticantes serem 
adeptos tanto de uma quanto de outra, que não as diferenciam de fato. Porém, 
sabe-se que elas são diferentes. É um trabalho difícil de contextualização, e isso 
fi ca evidente a cada terreiro que se passa, pois cada um tem um jeito particular 
de realizar os cultos. Um dia pode ser culto de umbanda, outro de candomblé, 
poucos são os que conseguem trabalhar apenas com um seguimento. 
Em segundo lugar, aparece a umbanda com certa expressividade no 
gráfi co, e isso remete ao “abrancamento”, pois a própria religião umbandista 
carrega em si, fundamentos de uma umbanda branca, original e real. Como ela, 
possivelmente, é a mais aceita por parte da sociedade, pode ser uma maneira de 
evitar a intolerância e preconceito de outras crenças hegemônicas. Além disso 
tudo, o espaço do terreiro tende a ser aberto a diferentes expressões de gênero 
e sexualidades, ocasionando, assim, uma abertura maior a grupos que fi cam às 
margens da sociedade heterogênea.
38
 MATriZES RELiGioSAS
O livro sugerido apresenta a maior coleção de mitos iorubanos 
e afro-americanos já publicada até hoje no Brasil. É um trabalho que 
envolveu o autor dez anos de pesquisa bibliográfi ca sobre a temática:
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo, 
Companhia das Letras, 2001.
Sobre o Candomblé, atualmente, ele tem se colocado em destaque, uma 
vez que muitos grupos religiosos estão resgatando particularidades da cultura 
africana para os cultos originários. Segundo Prandi (1991), no seu processo 
de transformação em religião universal, isto é, religião que se oferece para 
todos, o candomblé conheceu o que os sociólogos chamam de movimento de 
africanização, que implica certas reformas de orientação fortemente intelectual, 
como o reaprendizado das línguas africanas esquecidas ao longo de um século, a 
recuperação da mitologia dos deuses africanos, que em parte também se perdeu 
nesses anos todos de Brasil, e a restauração de cerimoniais africanos. Prandi 
(2003, p. 22) ainda destaca:
Um elemento importante do movimento de africanização do 
candomblé e sua constituição como religião autônoma inserida 
no mercado religioso é o processo de dessincretização, com o 
abandono de símbolos, práticas e crenças de origem católica. 
É a descatolização do candomblé, que se descentra do 
catolicismo e se assume como religião autônoma.
Dessa forma, pode-se dizer que o resgate da cultura está em evidência, 
justamente para dar maior valor a uma religião que também perde um pouco 
da sua essência dentro do fenômeno do hibridismo cultural. As afro-brasileiras 
contornam uma possibilidade muito maior de aceitação do que as de matriz 
africana, pois como se viu anteriormente, ela congrega em seus cultos, grande 
parte das imagens do catolicismo e parte do espiritismo. Para exemplifi car este 
fato, se traz a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes no catolicismo, que na 
religião umbandista é a mesma entidade denominada Iemanjá. Segue Quadro 1, 
que demonstra:
39
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
QUADRO 1 – “SINCRETIZAÇÃO” DAS ENTIDADES DE RELIGIÕES 
AFRO-BRASILEIRAS COM AS DA RELIGIÃO CATÓLICA
RELIGIÃO CATÓLICA RELIGIÃO UMBANDA
São Jorge Ogum
Nossa Senhora dos Navegantes Iemanjá
Nossa Senhora da Conceição Oxum
Santa Bárbara Iansã
São Jerônimo Xangô
FONTE: A autora
O sincretismo religioso no geral é objeto de estudo principal de teólogos, 
pois abrange uma estrutura de diferentes formas de entendimento sobre as 
religiões. De certo modo, essa preocupação tende a aumentar em diferentes 
pesquisadores e estudiosos, por exemplo, os geógrafos, que veem na própria 
manifestação religiosa no espaço, uma reorganização espacial que confronta 
interseccionalidades resultantes da própria constituição da sociedade brasileira. 
São temáticas associadas, principalmente, por uma questão socioeconômica e 
política. As religiões fazem esse vínculo importante para estabelecer algumas 
normas que ajudam na sua disseminação e espacialização. 
Considerando todo o contexto histórico e social das principais matrizes 
religiosas no Brasil, percebe-se que a própria construção da sociedade foi e é 
baseada nos fundamentalismos religiosos. Esse processo recorre diante do 
espaço-tempo, possibilitando norteamentos das pessoas em seus cotidianos bem 
como uma estrutura social de diferentes sociabilidades. Encerra-se esse primeiro 
capítulo com a ideia de conhecimento de diferentes religiosidades, hegemônicas 
e não hegemônicas em paralelo à formação territorial brasileira, de uma visão 
diferente do habitual.
Para conhecer alguns estudos específi cos sobre as matrizes 
religiosas e suas vertentes, indicamos o site da Revista de Estudos 
da Religião (REVER), do programa de Pós-graduação em Ciência 
da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: https://
revistas.pucsp.br/index.php/rever.
40
 MATriZES RELiGioSAS
1) Religião e religiosidade muitas vezes são conhecidas por serem 
sinônimos. Com base no capítulo, defi na o que você entende 
sobre os dois termos e faça um paralelo com seus signifi cados.
2) Pensando em termos políticos, econômicos e culturais, qual a 
razão da existência de religiões?
3) O que é espaço sagrado e espaço profano? Qual a relação 
entre esses conceitos com religiões diferentes (o catolicismo e a 
umbanda, por exemplo)?
4) No Brasil, há o “Mito das três raças”, desenvolvido tanto pelo 
antropólogo Darcy Ribeiro como pelo senso comum, em que 
a cultura e a sociedade brasileiras foram constituídas a partir 
das infl uências culturais das “três raças”: europeia, africana e 
indígena. Coloque V para verdadeiro ou F para as falsas nas 
alternativas a seguir e justifi que as falsas:
a) ( ) De modo geral, as sociedades contemporâneas são o 
resultado de um longo processo de miscigenação de suas 
populações, cuja intensidade variou ao longo do tempo e do 
espaço.
b) ( ) O conceito “miscigenação” pode ser defi nido como o processo 
resultante da mistura a partir de casamentos ou coabitação de 
um homem e uma mulher de etnias diferentes.
c) ( ) Na atualidade existem sociedades ou grupo social que não 
possua a mistura de etnias diferentes. 
d) ( ) O “mito das três raças” é criticado por ser considerado uma 
visão simplista e do processo colonizador brasileiro.
5) Analise a imagem a seguir e faça uma refl exão dissertativa acerca 
da(o):
a) Intolerância Religiosa
b) Mito das três raças
41
AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
FIGURA – INTOLERÊNCIA RELIGIOSA
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/intolerancia-
religiosa.htm>. Acesso em: 19 jan. 2021.
6) O povo brasileiro, é formado por três grandes raças – negra, 
branca e indígena – e três culturas – africana, europeia e indígena 
americana. Essa formação multirracial e multicultural constituiu, 
nas palavras de Darcy Ribeiro, um povo sui generis, singular, 
até então inexistente em outras partes. A formação multirracial 
e __________ do povo brasileiro acarretou a construção de um 
mito, considerado fundador da __________ brasileira: o mito da 
democracia __________.
Assinale a alternativa que completa corretamentea frase.
a) ( ) Multicultural, nacionalidade, cultural.
b) ( ) Multicultural, nacionalidade, racial.
c) ( ) Multicultural, democracia, racial.
d) ( ) Multicultural, identidade, cultural.
e) ( ) Multicultural, identidade, racial.
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O capítulo sobre as principais matrizes religiosas do Brasil abarcou uma 
gama de informações de cunho qualitativo que trouxe uma linha narrativa de 
interpretação em diferentes áreas do conhecimento científi co: história, geografi a, 
literatura, antropologia, ciências sociais etc. Falar sobre a religiosidade de um 
modo geral não é uma tarefa fácil, pois compreende o conjunto de crenças e 
práticas sociais relacionadas à noção de sagrado, que só é experienciado e vivido 
por cada indivíduo. 
42
 MATriZES RELiGioSAS
A partir da leitura de textos historiográfi cos como os referenciados no capítulo, 
estas páginas propõem uma refl exão teórico-metodológica sobre o fazer histórico 
relacionado aos fatos religiosos. Em um primeiro momento foi proposta uma 
revisão do campo historiográfi co, sobre as quatro principais matrizes religiosas 
do Brasil, descrevendo o caminho que os estudos do campo religioso seguiram 
ao longo do tempo até chegar à proposta da história cultural das religiões, para só 
posteriormente analisar alguns apontamentos desse campo.
Questionamentos acerca do mito das três raças é uma forma de desconstruir 
inúmeras ideias sobre a formação cultural brasileira, podendo ser estendida para 
estudos da organização espacial do Brasil.
Deixando de lado o juízo de valor, que é imprescindível nos estudos 
de religião, considerando os apontamentos da história cultural é possível 
compreender que os próprios signifi cados dos conceitos das religiões variam 
de acordo com o binômio espaço/tempo. Essas conclusões estão longe de 
determinar que a história das religiões não deve levar em consideração uma 
análise comparativa das religiosidades, pelo contrário, os estudos reforçam a 
necessidade da comparação quando o historiador se debruça sobre as práticas 
religiosas. A comparação enriquece a pesquisa na medida em que permite a 
percepção de semelhanças e diferenças entre as práticas religiosas, auxiliando 
o historiador a compreender os hibridismos que ocorrem entre essas práticas, 
facilitando o trabalho de percepção da construção das representações bem como 
das apropriações dessas religiosidades. A partir de estudos que focam o contato 
entre povos distintos, os pesquisadores têm procurado esclarecer os códigos de 
comunicação que foram construídos ao longo dos discursos.
Fecha-se esse primeiro capítulo com a ideia de conhecimento sobre os 
aspectos estruturantes das diferentes religiões a partir de exemplifi cações diante 
do espaço-tempo em que elas aconteceram/acontecem. É possível sair dessas 
páginas analisando as tradições religiosas e o campo da cultura intrínsecas às 
questões políticas e econômicas. 
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AS QUATRO MATRIZES RELIGIOSAS Capítulo 1 
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SOUSA, A. A. de. O Papel social das Igrejas Evangélicas nas comunidades 
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CAPÍTULO 2
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE 
RELIGIOSA NO BRASIL
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• conhecer a historiografi a das religiões por diferentes autores, relacionando com 
as práticas religiosas signifi cantes nos diferentes grupos;
• conhecimento sobre a heterogeneidade religiosa em diferentes aspectos, 
principalmente no que se refere à abordagem teórica contemporânea;
• analisar o papel das religiões na estruturação e manutenção das diferentes 
culturas e manifestações socioculturais;
• desenvolver leitura crítica sobre diferentes aspectos do conceito de religião e 
suas formas de adaptação às novas realidades espaciais.
46
 MATriZES RELiGioSAS
47
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A pluralidade religiosa é um fenômeno espacial que desafia a sociedade 
a viver de forma respeitosa com a diversidade. Pode ser considerado um novo 
paradigma que abre espaço às diversas cosmovisões religiosas, que por meio do 
diálogo e alteridade procura o entendimento, principalmente a tolerância entre os 
grupos religiosos.
Nesta perspectiva, ressaltar a dimensão do que é a pluralidade religiosa no 
Brasil é dimensionar uma visão abrangente e ao mesmo tempo crítica em relação 
à hegemonia e heterogeneidade das religiões. O processo de contextualização 
sobre a religião é transcender a limitação que a própria academia instaura. 
Isso quer dizer que, a partir de uma visão sociológica, histórica, geográfi ca, e 
principalmente humanista, pretende-se com este capítulo, uma abordagem mais 
ampla e coerente, sem juízo de valor acerca não somente do conceitual, mas 
também criar uma meta narrativa capaz de suprir o entendimento do que pode 
ser considerado religião no espaço-tempo em que o fenômeno religioso acontece. 
O impacto que isso ocasiona na visão acadêmica é relevante na própria 
construção de novas metodologias em confl uência com autores que dimensionam 
proposições acerca de como e quando se deve analisar o fenômeno religioso 
através da pluralidade, diversidade e também multiculturalidade. 
Neste capítulo será ressaltado o conceito de religião em 
diferentes abordagens, a pluralidade religiosa e as novas religiões 
e o impacto que elas ocasionam no espaço social. Dessa forma, 
espera-se que ao fi nal da leitura do texto, desperte questionamentos 
e também refl exões sobre a temática.
2 A RELIGIÃO NA LITERATURA 
CONTEMPORÂNEA
A diferenciação conceitual dos termos diversidade religiosa e pluralismo 
religioso está ligada à realidade religiosa diversifi cada. O debate sobre a temática 
permite entender a condição temporal dos sentidos. Em diferentes áreas do saber, 
48
 MATriZES RELiGioSAS
a religião e suas divisões, desdobramentos, implicações embasam conceitos que 
se debruçam na abrangência cultural e religiosa. Neste sentido, abre-se este 
capítulo com a diferenciação. A Unesco (2002, p. 7) considera:
A diversidade cultural [...] refere-se à multiplicidade de formas 
pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram 
sua expressão. Tais expressões são transmitidas entre e dentro 
dos grupos e sociedades. A diversidade cultural se manifesta 
não apenas nas variadas formas pelas quais se expressa, se 
enriquece e se transmite o patrimônio cultural da humanidade 
mediante a variedade das expressões culturais, mas também 
através dos diversos modos de criação, produção, difusão, 
distribuição e fruição das expressões culturais, quaisquer que 
sejam os meios e tecnologias empregados.
Pode-se trazer esse conceito para a realidade do texto, que é a diversidade 
religiosa. Ela entra como um código cultural imaterial, pois abrange inúmeras 
formas como a fé, a manifestação do sagrado e a própria imaterialidade no espaço 
social.
Já considerando a questão da pluralidade, Klinger (2010, p. 21) destaca:
O mais interessante, o mais importante, o mais discutido e 
também o menos esclarecido mote dessa teologia é seu próprio 
conceito-título – o pluralismo. É usado tanto substantiva quanto 
adjetivamente. Signifi ca a multiplicidade atual das religiões com 
a qual temos de lidar, mas ao mesmo tempo a interpretação 
dessa multiplicidade na teologia. Trata-se de sua legitimidade, 
não apenas de sua existência real.
O pluralismo religioso em paralelo com o multiculturalismo possui dimensões 
comuns para uma análise do reconhecimento e valoração da diversidade em 
si mesma e da diversidade religiosa, em específi co. Enquanto o pluralismo 
religioso parte de uma análise da religião para favorecer a diversidade religiosa, 
o multiculturalismo leva em consideração a cultura para reconhecer a diversidade 
cultural. Isso é importante na compreensão da atual confi guração espacial. 
Oliveira (2015, p. 79) ressalta:
O multiculturalismo é a teoria do reconhecimento do outro 
e luta contra todas as formas de homogeneização. Como 
cultura e religião estão interligados, entende-se também que 
multiculturalismo está para o pluralismo religioso como religião 
está para a cultura. O pluralismo religioso se entende como 
uma forma de resistência ao processo de homogeneização e 
universalização por parte de uma determinada religião e chama 
a atenção para os aspectos da multiplicidade, da diversidade 
e da validade das experiências religiosas de outros povos e 
culturas.
49
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
Defi nidos esses conceitos importantes, destaca-se que o principal objetivo 
deste tópico do Capítulo 2 é ressaltar o conceito de religião, destacando autores 
e pensadores contemporâneos, relacionando com os estudos acadêmicos que 
têm partindo de diversas abordagens, tanto dentro das próprias ciências das 
religiões, quanto nas demais ciências que trazem o fenômeno religioso enquanto 
um fenômeno espacial, passível de análise em diferentes perspectivas. Na visão 
acadêmica, o conceito de religião pode ser comum e óbvio, porém, ele traz uma 
bagagem muito maior de abrangência do que se imagina. Ele parece simples, 
mas quando se aprofunda, logo se depara com inquietações que se estendem por 
diversas especifi cações, principalmente na construção do saber. 
Dependendo da ciência que se atrela o conceito, há diferentes perspectivas 
teóricas e metodológicas de se analisar o fenômeno religioso. Camurça (2008, p. 
61) já destaca:
Desta forma, postulo então, outra perspectiva para as Ciências 
da Religião, em que as disciplinas das Ciências Humanas que 
as compõem seriam resguardadas no exercício pleno de sua 
autonomia teórico-metodológica, em torno de uma área (inter)
disciplinar na qual o interesse comum dessas ciências seria a 
religião como tema.
EXTRA EXTRA!! Existem muitas considerações acerca dessa 
temática, principalmente por pensadores e estudiosos clássicos, 
resumidos com suas ideias a seguir: 
• Karl Marx (1818 -1883) faz uma relação da religião com a 
alienação.
• Émile Durkheim (1858 – 1917) fala que a sociedade é criadora da 
religião.
• Max Weber (1864 – 1920), onde defendia a religião como sistema 
sociocultural.
• Sigmund Freud (1856 – 1939), com suas análises dentro da 
psicanálise, onde ressalta a religião como uma neurose.
• Mircea Eliade (1907 – 1986) que se baseava no universalismo do 
elemento religioso.
50
 MATriZES RELiGioSAS
Não é novidade que diversas ciências humanas, como a História, Geografi a 
e Sociologia caminham lado a lado em estudos acadêmicos, no entanto, para 
compreender melhor o processo de interpretação das mesmas sobre religião, 
deve-se considerar todas em suas análises. Religião é uma prática social 
desde que a Filosofi a se torna mãe das ciências. Religião em seu primeiro 
conceito adotado por uma abordagem cultural, em poucas e reduzas palavras, 
é norteamento do homem no mundo. Resgatando as considerações de Pieper 
(2019, p. 8):
Para o senso comum, uma desconfi ança em relação ao 
conceito religião parece até mesmo desprovida de sentido. 
É usual a suspeita com relação à religião. Mas, não sobre o 
conceito de religião. Afi nal, todos sabemos o que é religião; 
todos temos uma resposta pronta para a pergunta sobre o 
que é religião. Não possuímos apenas uma resposta teórica, 
mas conseguimos identifi cá-la ao redor, diferenciando religião 
de outras esferas sociais, como a política, a economia, a 
estética, etc. Alguns se empenham, por exemplo, em mostrar 
o caráter opressivo e violento da religião; outros defendem a 
radical separação entre política e religião. Ora, para afi rmar 
uma separação entre essas duas instâncias, é preciso que elas 
estejam bem delimitadas. Inclusive os cursos reconhecidos 
por instâncias competentes e que se ocupam desse objeto 
organizam congressos, conferências, debates sobre esse 
tema: a religião. 
Nos parece fácil a compreensão, mas quando se relativiza a religião como 
sendouma prática social, a perspectiva predominante muda de direção. Para 
iniciar essa experiência, mapeia-se autores importantes na construção dessa 
meta narrativa sobre o conceito de religião e suas relações com os sistemas 
(social, histórico, político, econômico e cultural) e com eles deve-se criar um 
aporte teórico e também metodológico que interliga as abordagens e práxis de 
tais. Diante disto, o que pode ser considerado conceito de religião?
Para abrir essa discussão, com base no que se viu no capítulo sobre as 
quatro matrizes religiosas no Brasil, pode-se dizer que há muitas metas narrativas 
a cerca desse conceito, principalmente quando se fala em religiosidades no plural. 
Porém, é imprescindível dividir (com o leitor) aqui, alguns conceitos importantes 
como referencial teórico e bibliográfi co, começando com as considerações de 
Hanegraaff (2017, p. 205):
É possível defi nir religião, apesar do fato da pesquisa histórica 
e empírica detalhada parecer minar qualquer tentativa de fazer 
declarações “de aplicação geral”, “universais”, sobre religião 
ou fenômenos religiosos – para não mencionar a ideia ainda 
mais problemática de transcender o relativismo, formulando 
“leis universais” de evolução religiosa, revelando a função 
da religião na sociedade humana, ou a descoberta de uma 
“unidade transcendente das religiões” (grifo do autor).
51
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
A citação acima traz a ideia de que conceituar religião é muito mais difícil 
do que se pensa, considerando as suas pluralidades e diversidades, até porque, 
segundo Eliade (1989, p. 20-22):
Um dado religioso revela seu sentido mais 
profundo quando é considerado no seu plano de referência 
e não quando é reduzido a um dos seus aspectos secundários 
ou aos seus contextos [...]. Isto não signifi ca, evidentemente, 
que um fenômeno religioso possa ser compreendido fora 
de sua ‘história’, isto é, fora dos seus contextos culturais e 
socioeconômicos. Um dado religioso ‘puro’, fora da história, é 
coisa que não existe, pois não existe um dado humano que não 
seja ao mesmo tempo um dado histórico.
Com base nisso, tentar aproximar conceitos e complementar com teorias da 
vertente cultural e humanista, talvez ajude em uma compreensão melhor do que 
é e como se dá o fenômeno religioso a partir de suas interpretações. No entanto, 
vale destacar algumas metas narrativas de autores que dedicaram parte de seus 
estudos acadêmicos, analisando as variadas religiões no mundo, contextualizando 
principalmente com os momentos históricos, econômicos e também políticos da 
sociedade. Ressalta-se a abordagem da tese de Geertz (2008, p. 67), tornada 
explícita pelo próprio, em que religião é:
[...] (1) um sistema de símbolos que atua para (2) estabelecer 
poderosas, penetrantes e duradouras disposições e 
motivações nos homens através da (3) formulação de 
conceitos de uma ordem de existência geral e (4) 
vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade 
que (5) as disposições e motivações parecem singularmente 
realistas.
Para o autor, a religião desempenha uma função social, devendo “servir, 
tanto para o indivíduo como para um grupo” (GEERTZ, 2008, p. 90). A partir 
de suas funções culturais – a saber, modelo da atitude e modelo para a atitude 
(grifos do próprio autor) – estabelecem-se, em decorrência, as funções sociais e 
psicológicas da religião (GEERTZ, 2008).
Pieper (2019, p. 15) esclarece:
Uma possibilidade de esclarecimento, que considero mais 
plausível, nos leva a considerar como a modernidade se 
constitui. Um de seus traços que traz profundo impacto 
para o entendimento da religião é a organização da vida em 
esferas sociais autônomas. Grosso modo, com o advento da 
modernidade, o dossel sagrado não se mostra mais como 
aquela instância que articula e organiza a vida social. Em seu 
lugar, há a lógica da racionalização que, com sua especialização 
52
 MATriZES RELiGioSAS
e burocratização, conduz à concepção de sociedade a partir 
da diferenciação das esferas sociais. Em outras palavras, se 
antes da modernidade o sagrado se colocava como agente 
regulador, agora surgem esferas especializadas, cada qual 
com seu modo de legitimação próprias. Nesse movimento, o 
que será chamado de religião deixa de ser referência última 
para se tornar uma esfera ao lado de outras.
Bataille (2015) vai trazer uma teoria da religião, considerando que a própria 
humanidade criou o mundo profano. Mas antes de continuar, é importante retomar 
o conceito do que é Espaço Sagrado e Espaço Profano, para ter compreensão 
sobre a teoria da religião que será tratado daqui até a entrada para o próximo 
tópico. Incialmente, considera-se uma defi nição sociológica de profano e sagrado. 
Neste sentido, Durkheim (1996, p. 50), ressalta:
Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam elas simples 
ou complexas, apresentam uma característica comum: elas 
supõem uma classifi cação das coisas reais e ideais que 
representam o homem em duas classes, em dois gêneros 
opostos, geralmente designados por dois termos distintos que 
são bem traduzidos pelas palavras profano e sagrado.
E mais além, ele distingue sagrado e profano:
As coisas sagradas são aquelas isoladas e protegidas pela 
proibição; as coisas profanas são aquelas às quais essas 
proibições se aplicam e que devem fi car distantes das 
primeiras. As crenças religiosas são representações que 
expressam a natureza das coisas sagradas e as relações 
que essas implicam umas às outras ou entre elas e as cosias 
profanas. E, enfi m, os ritos são regras de comportamento que 
determinam como o homem deve se comportar com as coisas 
sagradas (DURKHEIM, 1996, p. 56).
Essa distinção sobre profano e sagrado, interessa aqui. No entanto, deve-
se considerar o espaço sagrado, agora com defi nições geográfi cas. Rosendahl 
(1996, p. 30-31), então, conceitua:
O espaço sagrado é um campo de forças e de valores que eleva 
o homem religioso acima de si mesmo, que o transporta para 
um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência. É 
por meio dos símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado 
exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade. 
É o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que 
possibilita ao homem entrar em contato com a realidade 
transcendente chamada deuses, nas religiões politeístas, e 
Deus, nas monoteístas. [...] A estrutura do espaço sagrado 
implica também a ideia da repetição da hierofania primordial 
que consagra o espaço, e assim, transfi gura-o singulariza-o e 
isola-o do espaço profano.
53
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
E sobre espaço profano, considera-se o entendimento de Eliade (1992, p. 
27-28):
A experiência profana, ao contrário [do sagrado] mantém a 
homogeneidade e, portanto, a relatividade do espaço. Já não 
é possível nenhuma verdadeira orientação, porque o “ponto 
fi xo” já não goza de um estatuto ontológico único; aparece e 
desaparece segundo as necessidades diárias. A bem dizer, 
já não há “Mundo”, há apenas fragmentos de um universo 
fragmentado, massa amorfa de uma infi nidade de “lugares” 
mais ou menos neutros onde o homem se move, forçado 
pelas obrigações de toda existência integrada numa sociedade 
industrial (grifo do autor).
Ainda que não adentre de fato a temática da religião propriamente dita, 
esses conceitos sobre sagrado e profano permite ter uma visão ampla sobre as 
religiões, e vieram no começo deste capítulo, pois se falará em sagrado e profano 
daqui adiante. 
Como se viu no capítulo anterior, a priori, esses conceitos defi nem uma igreja 
como espaço sagrado, e o que a circunda, fora dela, como sendo espaço profano, 
por exemplo. Analisa também que o homem que se considera religioso, necessita 
participar desse ritual que concretiza o espaço como sendo sagrado. Dessa 
forma, a institucionalizaçãodo espaço sagrado é realizada e fundamentada nos 
valores do próprio homem.
Bataille (2015, p. 47) diz que a religião resulta da “busca da intimidade 
perdida”. E vai mais além ao relacionar religião e consciência:
A religião, cuja essência é a busca da intimidade perdida, 
se resumiu ao esforço da consciência clara que quer ser 
inteiramente consciência de si: mas esse esforço é vão, já que 
a consciência da intimidade só é possível no nível em que a 
consciência não é mais uma operação cujo resultado implica a 
duração, ou seja, no nível em que a clareza, que é o efeito da 
duração, não é mais nada (BATAILLE, 2015, p. 47).
Percebe-se que a religião está associada à consciência do que o ser humano 
quer em relação a sua posição no mundo. No entanto, podemos considerar 
também que essa relação pode ter rupturas, pois quando se perde a consciência 
de algo, se está fadado à alienação. E isso implica no nível de clareza que se vê 
ou se conscientiza de algo. Nem sempre o que está à frente é o que parece ser. 
Segundo o autor, assim acontece com a religião. A busca pelas particularidades 
perdidas ou ausentes deixou a sociedade fragmentada e susceptível a armadilhas 
de representação do que é real ou não. Aqui a consciência já não é mais clara e 
distinta. Para Lambert (2012, p.87):
54
 MATriZES RELiGioSAS
Uma organização que supõe, no fundamento da realidade 
empírica, uma realidade supraempírica (Deus, deuses, 
espírito, alma...) com a qual é possível comunicar-se por meios 
simbólicos (preces, ritos, meditações, etc.) de modo a procurar 
um domínio e uma realização que ultrapassam os limites da 
realidade objetiva. 
Até aqui, viu-se alguns conceitos sobre como a religião se volta na produção 
do espaço, bem como a propõem enquanto fenômeno espacial. A partir daqui se 
verá uma meta narrativa voltada para a religião no contexto capitalista, industrial 
e político. Acredita-se que desta forma é possível realizar uma contextualização 
da historiografi a da religião diante dos processos sociais em diferentes espaço-
tempos.
Através disto, inicia-se com Bataille (2015, p. 68), que traz que “a busca 
milenar pela intimidade perdida é abandonada pela humanidade produtiva”. A 
problematização aqui referida, é sobre os aspectos do crescimento industrial, pois 
nesse período histórico “[...] o homem se afasta de si mesmo mais do que nunca” 
(BATAILLE, 2015, p. 68).
Ressalta-se, então, que a religião pode ser compreendida como algo político 
e capitalista. As ciências sociais se preocupam em traçar linhas narrativas 
que embasem a religião como um dos pilares desse dualismo. Mesmo que 
ocultamente, a religião pode ser a grande manifestadora da atual confi guração da 
sociedade; isto com a ajuda de uma rede de interesses e interações advindas de 
um processo político e cultural de uma sociedade moderna. Diante disto, segundo 
Moreira (2018, p. 4):
Para analisar esse panorama religioso sem precedentes, 
novas ferramentas são necessárias tanto em nível conceitual 
quanto metodológico. A diversidade religiosa na verdade 
obriga os cientistas sociais da religião, bem como os teólogos, 
a apresentarem novas abordagens teóricas e métodos de 
análise. A transição da diversidade religiosa para o pluralismo 
religioso é um dos desafi os mais importantes que reformularão 
o papel da religião na sociedade contemporânea. Essa 
transição obrigará as ciências sociais da religião e da teologia 
a reconsiderarem muitas das noções, termos e ferramentas 
analíticas que tomam como certas.
Nos livros de História sempre se vê a igreja, ou o cristianismo, em forte 
evidência. Isso implica muito o conhecimento sobre como a religião se expandiu 
no mundo. Ainda que existam religiões milenares, como o Judaísmo, ou até 
mesmo as religiões africanas, o Cristianismo era predominante. Até os dias de 
hoje, as cristãs em sua totalidade, são predominantes. 
55
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
As ciências sociais vão questionar esses fundamentos e dogmas de uma 
forma científi ca e conceitual. O homem é posto em evidência e grande formatador 
dessa confi guração religiosa. Assim como no cenário político, a religião é a 
principal infl uenciadora da sociedade moderna. Isso por que ela é quem cria e 
dita regras, e a política se apropria das mesmas para se fortalecer diante de uma 
sociedade formada e praticante religiosamente. 
A ideia de uma religião doutrinadora é conservada mesmo diante do termo 
“novo”. Isso por que na realidade, o condicionamento religioso, principalmente 
referente ao “estilo de vida, é um, ainda que só um, dos fatores da ética 
econômica” (WEBER, 2015, p. 10). Indo mais além sobre essa questão:
A expressão “ética econômica” alude às tendências práticas 
à ação que se baseiam no nível psicológico e pragmático das 
religiões. [...] A religião nunca determina de modo exclusivo 
uma ética econômica. Certamente, uma ética econômica tem 
uma grande autonomia a respeito das atitudes do homem 
perante o mundo, condicionadas por elementos religiosos ou 
outros elementos internos. Determinados fatores geográfi cos, 
históricos e econômicos condicionam muito essa economia 
(WEBER, 2015, p. 10). 
Obviamente, se pensar que a religião é apenas resultado de uma ética 
econômica, estas linhas iriam se reduzir aos estudos de ciência econômica e 
política. Mas é importante considerar essa questão de Weber, uma vez que se 
depende da sociologia das religiões para compreender a atual confi guração das 
religiões. Essa alusão que o autor fala é passível de relacionar com o espaço 
social. A relação intrínseca entre religião, política e sociedade, dá uma outra 
alternativa de como direcionar as análises sobre a prática social religiosa de 
determinados grupos, ou a predominância de crenças. E isso pode ser visto, nas 
palavras de Weber (2015, p. 12) quando diz que:
Por mais decisivas que sejam as infl uências sociais, econômicas 
e políticas sobre a ética religiosa, em um caso específi co, 
adquire essencialmente sua peculiaridade a partir de fontes 
religiosas e, primordialmente, do sentido de sua pregação 
e de sua promessa. Com frequência, essas pregações e 
promessas já são reinterpretadas pela geração seguinte. 
As reinterpretações adaptam a doutrina às necessidades da 
comunidade religiosa. Quando isso ocorre, o comum é que 
as doutrinas religiosas sejam adaptadas às necessidades 
religiosas.
Weber abre uma gama de análises acerca dessa discussão sobre 
interpretações e reinterpretações religiosas. De início, pode-se considerar 
que a religião é dialética; primeiro por relacionar o trinômio socio-político-
econômico; segundo porque a ideia dinâmica se refere também às interpretações 
simbólicas passadas de geração a geração, remetendo a ideia de religião cultural 
56
 MATriZES RELiGioSAS
(simbologias, crenças, saberes contínuos, estilo de vida norteado pelas bases 
religiosas). Importante dar ênfase às duas ideias, pois considera-se a religião tanto 
como parte de uma cultura, como uma prática social que confi gura e reconfi gura 
espaços (fechados e abertos) a diferentes expressões paradoxais referentes ao 
trinômio socio-político-econômico. É uma maneira inteiramente subjetiva do modo 
de agir em grupo e por consequência, seria necessário estudar as condições e os 
implicações de tal condicionamento. 
Cabe ressaltar, dando continuidade, que o poder religioso se exerce de 
um modo perspicaz, pois a pessoa sempre é remetida a sua própria visão das 
coisas, mesmo se as práticas aplicadas são codifi cadas (WILLAIME, 2012). Para 
Durkheim (1996, p. 30):
A função da religião é fazer-nos agir, é auxiliar-nos a viver. O 
fi el que se comunicou com Deus não é apenas um homem que 
vê novas verdades que o descrente ignora; ele é um homem 
que pode mais. Ele sente em si mais força seja para suportar 
as difi culdades da existência, seja para vencê-las. Ele está 
como que elevado acima de sua condição de homem. Acredita 
ser salvo do mal sobqualquer forma. O primeiro artigo de toda 
a fé é a crença na salvação pela fé.
A infl uência religiosa na vida das pessoas é muito mais complexa do que se 
parece. Ela pode segregar ou incluir grupos sociais subalternos, por exemplo. Em 
caráter geral, signifi ca relação social expressiva que altera e ressignifi ca padrões 
normativos de uma sociedade regradora. Para o espaço geográfi co, isso é 
infl uente, pois ele se reconfi gura de uma forma signifi cativa que dá outro sentido à 
organização a seguir. São outras análises, outras metodologias, outros conceitos, 
quiçá outros modelos sociais apresentados. 
Deve-se considerar Willaime (2012, p. 104) quando pontua:
A religião [...] é voltada para a vida na Terra. Neste sentido, 
a ordem social existente é confi rmada, pois esses grupos se 
socializam em harmonia com os valores dominantes ao mesmo 
tempo que expressam certo estranhamento com relação à 
sociedade abrangente. Em alguns casos, um grande espaço 
é dado à expressão das emoções ou, ao contrário, ao seu 
controle racional.
O autor citado denomina a religião considerando a subjetividade, espaço 
e relações sociais. Tudo o que as ciências humanas (Geografi a, História) 
perceberam a partir dos anos 1970 sobre a religião, os sociólogos perceberam 
um século antes. Por esse motivo, essa revisitação na Sociologia é fundamental 
na construção de um aporte teórico-metodológico sobre a temática dentro desta 
compreensão. 
57
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
Uma defi nição de religião de longa data é a de Durkheim (1996, p. 65): 
“Uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas às coisas 
sagradas, ou seja, isoladas ou proibidas, crenças e práticas que reúnem todos 
aqueles que aderem a tal sistema em uma mesma comunidade moral chamada 
Igreja”.
Se considerar esse conceito atualmente, ele não favorece enquanto 
um conceito a ser utilizado para explicar ou tentar compreender a religião, 
principalmente dentro do atual contexto em que a sociedade se encontra. Ele não 
considera a pluralidade das religiões, o que hoje, é a principal instigação para os 
estudos sobre a temática. A igreja não é a única “comunidade moral” do sistema 
religioso. Ela é sim a materialização do sagrado, mas existem outros espaços que 
determinados grupos religiosos confi guram e reconhecem como sagrado. 
Exemplo concreto de modelo de “comunidade moral” são os terreiros 
de cultos afro-brasileiros. Não são considerados igrejas, mas sim, templos, 
casas espirituais. Outro exemplo são as igrejas “clandestinas” pentecostais e 
neopentecostais, que também podem ser residências. O conceito de religião deve 
ser abordado em uma perspectiva mais ampla e que não se limite apenas como 
um fator cultural, e é isso que se espera desenvolver a partir dessa obra. Para 
isso, reafi rma-se as palavras de Filoramo e Prandi (2010, p. 17):
Para escapar do perigo do reducionismo, que priva o objeto 
de pesquisa de qualquer especifi cidade, e também de um 
idealismo essencialista, que postula desde o início a “realidade” 
de um objeto que a pesquisa terá a obrigação de desvelar 
e testemunhar, só resta percorrer uma difícil “terceira via”, 
trabalhando com um conceito de religião capaz de levar em 
conta tanto os seus aspectos funcionais quanto os específi cos.
A religião, atualmente, com maior nitidez, congrega elementos políticos e 
econômicos, resultando na relativização de parâmetros que defi ne a necessidade 
de uma sociedade institucionalizada por um poder normativo e coercivo, impondo 
regras e utilizando a força de forma disciplinadora, porque a vida e cotidianidade 
das pessoas decorre do convívio e experienciações. É importante trazer essas 
considerações de determinados autores para que seja justifi cada a melhor forma 
de se analisar a religião como fenômeno no espaço, ressaltando sua importância 
na construção do ser social.
58
 MATriZES RELiGioSAS
Para complementar a leitura sobre a religião no contexto 
contemporâneo é interessante você conhecer as obras listadas a 
seguir:
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. 
Trad. de Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. 
Trad. Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 191 p.
59
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
WEBER, Max. Sociologia das religiões. São Paulo: Ícone, 2015.
MARX, F. Contribución a la crítica de la fi losofía del derecho de Hegel. 
In: MARX, K.; ENGELS, F. Sobre la religión. 2. ed. Salamanca: 
Sígueme, 1979a.p. 93-106.
MARX, K. Tesis sobre Feuerbach. In: MARX, K.; ENGELS, F. Sobre 
la religión. 2. ed. Salamanca: Sígueme, 1979b.p. 159-161.
FREUD, Sigmund. Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
(Trabalho original publicado em 1913).
2.1 CONSEQUÊNCIAS DO 
PLURALISMO RELIGIOSO NO BRASIL
Para iniciar este tópico, deve-se considerar que o pluralismo religioso pode 
ser compreendido como sendo uma condição observada em sociedades nas 
quais não ocorre a hegemonia de uma única religião, ou ainda, onde a hegemonia 
religiosa tende a desaparecer. O Brasil se encaixa nessa compreensão, visto que 
há grandes matrizes religiosas que compõem o fenômeno religioso no espaço. No 
entanto, para Teixeira e Menezes (2013, p. 25):
[…] não há como negar a força do referencial cristão na 
sociedade brasileira. Mas já se começa a perceber nele uma 
diversifi cação cada vez mais evidenciada. Junto com essa 
multiformidade interna ao campo cristão, verifi ca-se também 
uma pluralização religiosa cada vez maior, com visibilização 
crescente.
60
 MATriZES RELiGioSAS
Essa condição pode estar associada à democratização das sociedades no 
geral, que considera todos os sujeitos religiosos como legítimos. As sociedades 
que se tornam democráticas, reconhecem o direito à diferença dos indivíduos 
e grupos sociais, sendo os grupos religiosos pertencentes e reconhecidos à 
convivência entre as diferentes denominações. Para estes grupos, o diálogo inter-
religioso – que virá no próximo capítulo – surge como uma necessidade e um 
desafi o ao mesmo tempo. Para Neto (2006, p. 142), pluralismo:
É o modo pelo qual se percebe que cada cultura vê toda a 
realidade, mas parcialmente, e que se traduz numa atitude em 
prol de que a diversidade seja um espaço de paz e justiça. 
Como tal, exige mais que o simples reconhecimento, da 
multiplicidade, além da superação do pensamento desejoso de 
unidade – que não é concebida como um ideal imperioso e 
necessário, pois o pluralismo assume e aceita positivamente a 
existência de aspectos irredutíveis na cultura.
Tratar o pluralismo religioso em um país democrático tende a 
ser menos difícil do que em países onde a religiosidade é absoluta e 
homogênea, como alguns países do Oriente. Ainda que as minorias 
religiosas sejam a base do pluralismo religioso no Brasil, elas devem 
ser consideradas a partir de um resultado da própria condição de 
povoamento brasileiro. A ideia é que a diversidade religiosa aparece 
na medida em que povos europeus e orientais se instalam em território 
brasileiro. Nesse sentido, resgata-se a síntese de Freyre (1968, p. 36-
37):
No Brasil, havendo uma mística de abrasileiramento, sob a 
forma outras procedências, além de portuguesa, de métodos 
ou de técnicas de adaptação do europeu ao trópico americano, 
já desenvolvidas com êxito pelo luso brasileiro), há, por outro 
lado, uma tradição atuante no sentido de se conservarem, ou 
de se desenvolverem, dentro da mística de abrasileiramento, 
variações regionais de culturas associadas a predominâncias 
étnicas regionalmente diversas: a do ameríndio, na alemão, 
em Santa Catarina; a do polonês, no Paraná, a do africano, 
na Bahia. Através dessas predominâncias, regionalmente 
diversas, de étnica e cultura – ou da tradição delas – vários 
Brasis se fazem sentir dentro de um só Brasil, já bastante seguro 
de sua singularidadecomo sistema nacional de convivência, 
para temer semelhantes variações. Ao contrário: elas – e mais 
a japonesa, a síria, a libanesa, a húngara – são hoje antes 
estimadas que lamentadas pelo brasileiro: pelo brasileiro 
médio e não apenas pelo superior em inteligência política ou 
em saber sociológico. A estrangeiros ilustres que ultimamente 
tem visitado o Brasil não vem escapando o fato de ser o nosso 
país uma nação ao mesmo tempo uma e plural. Um Brasil, e 
ao mesmo tempo, vários Brasis. E em semelhante combinação 
parece-lhes haver antes vantagem que desvantagem para 
o desenvolvimento, entre nós, de uma cultura pluriregional. 
Ainda que as 
minorias religiosas 
sejam a base do 
pluralismo religioso 
no Brasil, elas devem 
ser consideradas a 
partir de um resultado 
da própria condição 
de povoamento 
brasileiro.
61
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
Uma cultura de que Brasília seja a cúpula, reunindo em seu 
modo novo, mas não – livre-nos Deus – incaracteristicamente 
internacional, de ser a cidade, a expressão do que há na 
sociedade e na cultura brasileira, de étnica e regionalmente 
diverso, vário, plural.
A constante busca dos imigrantes e migrantes em se manter em uma 
região que não é a oriunda de seu povo, acaba por modifi car toda sua cultura, 
principalmente a religião, no entanto, ainda pode-se dizer que um dos obstáculo à 
convivência inter-religiosa continua sendo o fundamentalismo religioso. Giordan e 
Pace (2014, p. 1) consideram:
O pluralismo religioso é um conceito-chave para entender o 
que está acontecendo em nosso mundo, mesmo que o risco, 
como todas as palavras que se tornam populares e modernas, 
se torne um guarda-chuva sob o qual reunimos fenômenos 
bastante diferentes e heterogêneos, às vezes difi cilmente 
consistentes uns com os outros. Esse erro que ocorre com 
frequência em grande parte da literatura sociológica, é sobrepor 
o signifi cado do pluralismo ao de diversidade, como se fossem 
sinônimos. [...] não devemos confundir o nível normativo, a 
saber, o pluralismo, com o nível descritivo de diversidade 
empírica.
Se por um lado, os fenômenos religiosos infl uenciaram os acontecimentos 
históricos no Brasil, por outro lado, esses mesmos fenômenos foram 
transformando-se de forma dinâmica pela realidade plural desenhada e vivenciada 
no espaço social. Com base nisso, ressalta Negrão (2008, p. 263):
O catolicismo foi, no passado colonial brasileiro, uma religião 
obrigatória: os que aqui nasciam o aceitavam por pressuposto 
de cidadania, exceto os indígenas, aos quais se exterminava 
ou se convertia. Os que aqui não nasciam tinham que adotá-lo, 
mesmo que não o compreendessem: os negros escravizados 
eram batizados no porto de procedência ou de desembarque. 
Já os judeus, sob a pressão de serem perseguidos pelos 
inquisidores, de perderem seus bens ou mesmo suas vidas, 
preferiram, em geral, tornar-se “cristãos novos”.
Essa descrição do autor sobre as várias etnias sugere que muitos 
povos optaram pela religião predominante para não sofrerem represálias ou 
discriminação. O caso dos judeus em diferentes localidades do mundo está 
ligado à perseguição (muitas vezes com morte), onde viam nas outras religiões 
(principalmente no catolicismo), uma maneira de camufl agem aos seus 
perseguidores. Muitos deles em solo brasileiro, optaram por se tornarem cristãos, 
e abandonaram o judaísmo junto de muitos de seus códigos culturais. 
62
 MATriZES RELiGioSAS
Essa informação acima é oriunda da história familiar da autora 
deste livro, que ao pesquisar a árvore genealógica da família, 
descobriu que seus ancestrais eram judeus convertidos da região 
dos Açores que se instalaram em Rio Pardo/RS.
Seguindo sobre a diversidade religiosa, Mariano (2003, p. 112) considera 
importante:
No caso brasileiro, a ampla liberdade religiosa resultante da 
secularização do Estado está na raiz da desmonopolização 
religiosa, da formação e expansão do pluralismo religioso e, 
por conseqüência, do acirramento da concorrência religiosa. 
Isto é, a concessão de liberdade religiosa e a separação 
Igreja–Estado romperam defi nitivamente o monopólio católico, 
abrindo caminho para que outros grupos religiosos pudessem 
ingressar e se formar no país, disputar e conquistar novos 
espaços na sociedade, adquirir legitimidade social e consolidar 
sua presença institucional. 
Este fenômeno não se deu de um dia para o outro, pois a separação 
Igreja-Estado é algo muito discutido há séculos. Em defesa dessas 
páginas, é possível dizer que essa separação resulta principalmente na 
desmonopolização religiosa, na liberdade e no pluralismo religioso, pois 
ainda, segundo Mariano (2003, p. 115):
Numa situação de monopólio, em contraste, a diversidade de 
produtos e serviços religiosos tende a ser mais limitada, na 
medida em que uma única religião tem menor capacidade de 
diversifi car sua oferta de bens de salvação – sem comprometer 
sua mensagem e seus propósitos – para atender, satisfatória 
e concomitantemente, à heterogeneidade dos interesses e 
preferências religiosos dos mais distintos grupos sociais de 
uma sociedade complexa e pluralista.
O Brasil, atualmente, vive o ápice de liberdade religiosa, ou seja, as religiões 
nunca foram tão livres como nessa atual confi guração social. Tal liberdade 
acarreta o processo de pluralidade religiosa com tendência a ser independente de 
qualquer monopólio religioso. Considerando o cenário de uma sociedade plural, 
as pessoas ou grupos sociais são abertos para manifestar suas crenças sem 
precisar esconder ou camufl ar sua identidade religiosa.
Em defesa dessas 
páginas, é possível 
dizer que essa 
separação resulta 
principalmente na 
desmonopolização 
religiosa, na 
liberdade e no 
pluralismo religioso.
63
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
Em contrapartida, também vive uma intensa polarização de religiosidades 
não hegemônicas que vivem às margens da população, ou seja, estão 
principalmente localizadas nas regiões mais periféricas, tendendo a resgatar 
uma população subalterna que não se encaixa na hegemonia normativa, o que 
ocasiona desigualdades em relação a visibilidade das mesmas. Para Teixeira e 
Menezes (2013, p. 122):
O tempo atual é marcado por um pluralismo religioso 
intransponível e irrevogável, que tende a se ampliar nos próximos 
anos. Não há porque seguir mantendo posicionamentos 
teóricos e práticos que reduzem a diversidade religiosa. O 
desafi o mais fundamental está em buscar compreender esse 
pluralismo como valor.
A pluralidade religiosa brasileira, que se apresentou e se apresenta de 
forma mais sólida nas últimas décadas, é também um campo em debate, onde 
a intolerância religiosa se apresenta de contorno violento especialmente contra 
religiões de matriz africana e afro-brasileiras, já que as mesmas não mais aceitam 
se esconder ou se camufl arem, pois a liberdade religiosa é um direito constitucional. 
No entanto, grupos não cristãos, dentro de uma hegemonia cristã, ainda 
são vistos como implicados ou como possíveis pessoas a serem convertidas, 
especialmente por grupos pentecostais em ascensão no cenário religioso. Ribeiro 
(2014, p. 38) assinala para o fato de que:
A dinâmica da globalização e de pluralismo por que passa 
a sociedade contemporânea afetou vários segmentos da 
sociedade, e de forma especial a religião. Os fundamentalismos, 
por exemplo, encontram-se diante de um desafi o: dialogar com 
outros grupos e rever conceitos que já não fazem mais sentido 
no contexto atual. Para as práticas religiosas, assim como 
para as análises científi cas sobre a religião, a comunicação 
dialógica se faz necessária e o alargamento das fronteiras 
é imprescindível. Difi cilmente haverá espaço na sociedade 
para interpretações singulares e herméticas, que privilegiam 
determinadas tradições.
Por isso, atesta-se que o pluralismo religioso apresenta como exigência o 
diálogo entre as variadastradições e culturas religiosas, resultando então, no 
alargamento das fronteiras (no sentido de barreiras religiosas). Isso tem sido 
debatido constantemente dentro da academia, principalmente com o objetivo 
dentro das relações sociais. Conclui-se, então, que a pluralidade religiosa 
é resultado da diversidade e liberdade religiosa que se vivencia no Brasil. 
A hegemonia religiosa, que uma vez era (e continua sendo em partes) do 
catolicismo, está diminuindo. Gabatz (2014, p. 513) afi rma que o reconhecimento 
do “pluralismo representa a democratização do campo religioso, em que todos 
os sujeitos são reconhecidos como legítimos em suas reivindicações, desde que 
respeitados os seus princípios éticos”. 
64
 MATriZES RELiGioSAS
A pluralidade representa essa democratização do campo religioso, em que 
todos as pessoas são reconhecidas como legítimas em suas reivindicações, 
desde que respeitados os seus princípios éticos. Para Hall (2000, p. 7) também 
existe um risco, pois:
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram 
o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas 
identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui 
visto como um sujeito unifi cado. A assim chamada crise de 
identidade é vista como um processo mais amplo de mudança, 
que está deslocando as estruturas e processos centrais das 
sociedades modernas e abalando os quadros de referência 
que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo 
social.
Seguindo essa linha de raciocínio, a própria pluralidade religiosa aponta para 
uma sociedade democrática e plural. Ao assinalar para uma sociedade plural, 
cidadã, democrática, o pluralismo religioso aposta em processos de autonomia 
e de emancipação das pessoas, o que se pode defi nir também como sendo uma 
consequência do fenômeno.
Faz-se então, um comparativo de 2000 e 2010, considerando apenas a 
religião católica apostólica (romana e brasileira, gráfi cos 1 e 2, respectivamente), 
que ainda consegue se tornar a principal matriz religiosa no Brasil:
GRÁFICO 1 – GRANDES REGIÕES E RELIGIÃO CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA 
NOS ANOS 2000 E 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
65
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
GRÁFICO 2 – GRANDES REGIÕES E RELIGIÃO CATÓLICA APOSTÓLICA BRASILEIRA 
NOS ANOS 2000 E 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Nota-se no Gráfi co 1, que em uma década, houve decrescente número de 
adeptos na região Sudeste. Essa região em específi co sofre infl uência de grandes 
cidades como São Paulo e Rio de Janeiro (as quais a compõem junto do Espírito 
Santo e Minas Gerais, o Sudeste), que concentra a maior parte de imigrantes 
(fi xos e transitórios) no Brasil. É também infl uenciada por ter uma diversidade 
étnica muito grande em relação as outras regiões. A questão da população 
transitória segue o fl uxo de acessibilidade para outros estados, pois a fronteira 
garante essa entrada e saída com maior facilidade. 
Já no Gráfi co 2 percebe-se que o número total de adeptos da apostólica 
brasileira é bem inferior à apostólica romana, isso pode ser pelo fato de a 
população praticante não as diferenciarem totalmente – acontece o mesmo 
com outras vertentes das afros e cristã no geral. Houve um aumento na região 
nordeste, e isso por ser explicado pela maior acessibilidade de informações já que 
a mesma, é uma região considerada afastada das grandes metrópoles do Brasil.
O multiculturalismo resulta no acréscimo gradual de religiões heterogêneas, 
e isso imbrica o decréscimo das hegemônicas. Não se pode comparar a católica 
com a budista, por exemplo, no entanto é importante evidenciar essas diferenças, 
na medida em que a própria pluralidade das religiões permite que elas estejam ali, 
ocupando um espaço social dentro de muitos processos de sociabilidade, ou seja, 
elas fazem parte do espaço religioso brasileiro. Para Gomes e Souza (2013, p. 4):
Na modernidade a expansão do pluralismo religioso origina-se 
66
 MATriZES RELiGioSAS
em decorrência do secularismo e a laicização do estado. Se o 
estado é laico o pluralismo religioso será aceito na sociedade 
sem restrição, nessa sociedade haverá abertura para escolha 
sem interferências externas, pois o secularismo visa um 
estado democrático e livre. Neste aspecto não existe mais um 
monopólio religioso, mas uma abertura a um novo paradigma 
que valoriza a pluralidade religiosa e a liberdade do indivíduo.
A liberdade das pessoas em relação a sua crença é um processo que requer 
muita informação e isso ainda está acontecendo, principalmente nas regiões 
periféricas do espaço. Nesse sentido, ainda pode-se considerar o que Prandi 
(1997, p. 68) escreve a seguir:
A diferenciação [...] se dá também nos espaços físicos das 
grandes cidades, que cada vez mais separam pobres e ricos, 
nativos e migrantes, com bairros fortifi cados de classe média 
separados das etnias marginalizadas e “perigosas”, como se 
uma mesma cidade comportasse vários mundos e civilizações.
Prandi (1997) sempre defendeu a pluralidade religiosa, especialmente as 
que envolvem o “sincretismo”. No entanto, atualmente, pensar a diversidade com 
certeza não pode se limitar que as mesmas não produzem espaços sociais. Existe 
uma romantização da pluralidade, onde diversas etnias vieram, se instalaram e 
foi a partir daí que começou o processo de hibridismo cultural. Essa ideia acaba 
sendo refutada quando se percebe que ao longo da colonização, a mestiçagem 
acontece de diversas formas, incluindo violência sexual, conversão de e para 
culturas hegemônicas com a justifi cativa de pena de morte, submissão de trabalho 
escravo etc. Já se ressaltou isso no capítulo anterior, porém é “óbvio” que precisa 
ser reforçado a cada ponto em que se fala de pluralidade, principalmente no Brasil.
Retomando, então, Negrão (2008, p. 266) destaca e sintetiza:
A herança do catolicismo colonial e imperial foi, contudo, de 
certa forma preservada, apesar das profundas transformações 
republicanas. Não obstante a cessação da obrigatoriedade, a 
maioria dos brasileiros, apesar de ter continuado a se declarar 
católica, continuou a sê-lo de maneira formal e superfi cial: sem 
frequência às missas, avessa aos sacramentos, apegada às 
devoções e às rezas. Além disso, muitos dos descendentes 
de negros e índios criaram cultos sincréticos, em que o 
catolicismo coexiste com crenças e práticas que lhe são 
estranhas, como o candomblé baiano (e outros cultos afro-
brasileiros assemelhados) e as pajelanças do norte e nordeste 
do Brasil. Já no Império, começaram a se introduzir grupos 
protestantes históricos, como os batistas, os presbiterianos, os 
congregacionais, os metodistas, que, embora não numerosos, 
tiveram alguma infl uência no sistema educacional ao longo do 
período republicano. Mas é apenas a partir do fi m da primeira 
década do século passado que começam a introduzir-se 
67
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
no cenário religioso brasileiro os protestantes pentecostais 
que, pelo seu crescimento intenso e presença marcante, 
passam a alterá-lo substancialmente, sobretudo, nas regiões 
metropolitanas do país. 
O autor concretiza em sua sintetização, aspectos relevantes nessa discussão, 
porém sem enfatizar as subalternidades que ocorreram durante o processo 
(NEGRÃO, 2008). A principal consequência desse pluralismo religioso, sem 
dúvida, está ligada à marginalização e também resistência de algumas religiões no 
espaço. A expansão e domínio de territorialidades também é uma consequência, 
no que tange outras religiões que têm um crescimento desproporcional em relação 
às outras. É sobre isso que o próximo tópico irá tratar, pois não apenas elas se 
manifestam no espaço, mas também o dinamizam em diferentes formas, incluindo 
função e estrutura, impactando não só a organização espacial, mas também na 
economia, política e sociabilidade entre grupos sociais. 
Nessa perspectiva, existem muitas discussões sobre a questãode gênero e subversão, que por enquanto não serão abordadas. 
Salientando que é importante e fundamental discussões a partir 
dessas vertentes, pois é emergente e compreende uma gama de 
interpretações acerca da temática. No entanto, para o leitor que 
quiser aprofundar esse tema, indicamos algumas leituras:
SOUZA, Sandra Duarte de. (org.) Gênero e Religião no Brasil: 
Ensaios Feministas. 2007. São Bernardo do Campo: Editora da 
Umesp. 167 p.
LIMA, Rita. Lourdes de. Diversidade, identidade de gênero e 
religião: algumas refl exões. Revista em Pauta, n. 28, 165-182, 2011.
68
 MATriZES RELiGioSAS
BANDINI, C. Gênero e poder na Igreja Universal do Reino De 
Deus. Horizonte - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da 
Religião da PUC Minas, 13(39), Belo Horizonte, 2015, p. 1410-1426.
ALENCAR, G. F.; FAJARDO, M. P. Pentecostalismos: uma 
superação da discriminação racial, de classe e de gênero? Estudos 
de Religião 30(2), São Paulo-SP, Universidade Metodista de São 
Paulo, 2016, pp. 95-112
2.2 SURGIMENTO DE NOVAS 
RELIGIÕES E SEUS IMPACTOS
Para iniciar este último tópico, é importante ressaltar que será 
abordado um novo conceito, o de novo movimento religioso (NRM), 
que supõe em resumidas linhas, termo geral para defi nir diferentes 
comunidades religiosas ou grupos espirituais com origens modernas, 
que tem um lugar periférico dentro da principal cultura religiosa de 
uma nação. Os NRM podem ser visto como “novo” na origem ou em 
parte de uma religião mais ampla, no caso de serem diferentes das 
denominações pré-existentes e hegemônicas.
Estudos religiosos contextualizam o surgimento de NRM na modernidade, 
observando-o como o resultado de uma solução diante dos processos modernos 
de secularização, globalização, fragmentação e individualização. Alguns desses 
novos movimentos religiosos lidam com os desafi os colocados pelo mundo 
moderno ao envolver o individualismo onde outros buscam meios de coesão 
coletiva.
Apesar da constante imposição sobre as religiões predominantes, deve-
se ressaltar a importância do que é chamado de “novos movimentos religiosos” 
(WILLAIME, 2012). Novos elementos que qualifi cam a nova realidade da 
confi guração da sociedade em relação as suas práticas religiosas – mas seriam 
novos? Podemos afi rmar que esses fenômenos não estavam espacializados? 
São realmente um campo religioso? São questionamentos realizados por quem 
69
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
se “atreve” a ir mais afundo sobre a temática. Em tempos onde a informação 
chega em segundos até a uma população mais remota, devemos considerar que 
as redes informativas são as grandes infl uenciadoras para unir grupos sociais e 
visibilizar esses “novos movimentos religiosos”. 
Sobre isso, ressalta Willaime (2012, p. 103) quando introduz:
Podemos distinguir algumas características importantes 
desses novos movimentos religiosos. Eles são frequentemente 
muito modernos no que diz respeito à sua organização e 
suas técnicas de divulgação. A experiência ali, valorizada: os 
indivíduos são convidados a aderir a um corpo de doutrinas, 
e não a experimentar uma forma de sabedoria que lhes traria 
supostamente certo bem-estar.
Apesar de ainda não existir um critério ou conjunto de critérios para descrever 
um grupo como novo movimento religioso, o uso do termo exige normalmente 
que o grupo tenha uma origem prescrita e seja ao mesmo tempo diferente das 
religiões existentes. Nesse sentido, pode-se considerar duas perspectivas sobre o 
que seria essas religiões existentes: a primeira seria uma abordagem mais restrita 
que sugere diferenças em religiões existentes. A diferença aplica-se à fé que, 
apesar de poder ser vista como parte de uma religião existente, encontra rejeição 
dessa mesma religião por não partilhar o mesmo credo básico, ou se autodeclara 
como separada da religião existente ou até como a única fé correta. A outra 
perspectiva está ligada ao que se considerada uma proposta de expansão do 
critério de diferença, considerando que os movimentos religiosos quando tirados 
do seu contexto cultural tradicional, surgem em novos locais, com de formas e 
preceitos modifi cados. 
Segundo o IBGE (2010, p. 91):
[...] o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no 
Brasil, revelando uma maior pluralidade nas áreas mais 
urbanizadas e populosas do País. A proporção de católicos 
seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas 
anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo, 
consolidou-se o crescimento da parcela da população que se 
declarou evangélica. Os dados censitários indicam também 
o aumento do total de pessoas que professam a religião 
espírita, dos que se declararam sem religião, ainda que em 
ritmo inferior ao da década anterior e do conjunto pertencente 
a outras religiosidades.
Os novos movimentos religiosos parecem não partilhar necessariamente um 
conjunto de características particulares, mas têm sido atribuídos à hegemonia da 
cultura religiosa dominante. É atribuído a eles também, a existência de um espaço 
relativamente concorrido dentro da sociedade como um todo. O que não deixa 
70
 MATriZES RELiGioSAS
de ser real, pois algumas religiões “novas” têm vindo fortemente e recrutando o 
máximo de adeptos possíveis, fi xando-se rapidamente no espaço. Dessa forma, 
é possível que os novos movimentos religiosos variem em termos de liderança, 
autoridade, conceito sobre família e até mesmo de gênero e outras formas, como 
estrutura organizacional. É por esse motivo que essas variações colocaram 
um desafi o aos pesquisadores da temática nas tentativas de formular critérios 
abrangentes e também específi cos para classifi car esses novos movimentos 
religiosos. 
Mariano (2011, p. 239) faz uma ressalva sobre isso, quando diz que:
A partir da estrondosa emergência de grupos religiosos na 
esfera pública stricto sensu e do crescimento vertiginoso 
de novos movimentos religiosos e de religiões mágicas e 
fundamentalistas em quase todas as regiões do planeta nas 
últimas décadas, a teoria da secularização – teoria colada 
à da modernização e até o fi m dos anos 1960 hegemônica 
e praticamente inconteste nas Ciências Sociais – tornou-
se objeto de acirrada controvérsia na sociologia da religião. 
Desde então, perdeu a aura de asserção quase autoevidente e 
assumiu uma posição defensiva.
Os novos estudos religiosos são um estudo interdisciplinar de novos 
movimentos religiosos que surgiram em meados de 1970, juntamente com a 
revolução de diferentes ciências, a exemplo da geográfi ca, que implementou 
em seus estudos humanos, a crítica aos métodos quantitativos de se analisar a 
sociedade, pois eles não dariam conta da totalidade de códigos e símbolos sociais 
que se encontram nas relações socioespaciais. Um deles é a questão da religião, 
que não se pode mensurar em números exatos (aproxima-se e estima-se segundo 
o IBGE), e que as relações de fé, doutrinação e valores são signos que competem 
a uma cultura imaterial. Na lista de Novos Movimentos Religiosos há grupos 
originados nas grandes religiões, há grupos de matriz oriental e de matriz indígena 
e africana. Pode-se observar que há nestes grupos um grande sincretismo, sendo 
esta uma característica comum a muitos deles (MARTINS, 2017). Neste sentido, 
pode-se considerar que a identidade religiosa contemporânea não é herdada, mas 
uma construção individual “a partir dos diversos recursos simbólicos colocados à 
sua disposição” (HERVIEU-LÉGER, 2008).
A questão difícil de responder é: por que surgem os novos 
movimentos religiosos?
71
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
Bem, essa é uma tarefa difícil de colocar nessas linhas, mas pode-se ter uma 
compreensão nas palavras de Prandi (1991, p. 34):
As mais díspares religiões, assim, surgem nas biografi as dos 
adeptos como alternativas que se podem pôr de lado facilmente, 
que se podem abandonar a uma primeira experiênciade 
insatisfação ou desafeto, a uma mínima decepção. São 
inesgotáveis as possibilidades de opção, intensa a competição 
entre elas, fraca a sua capacidade de dar a última palavra. A 
religião de hoje é a religião da mudança rápida, da lealdade 
pequena, do compromisso descartável. 
Certamente, nas considerações de Prandi, ele deixa algumas pistas de como 
prosseguir nessa análise que é intrínseca e ponderada. Primeiramente, pode-
se dizer que todo e qualquer novo movimento religioso surge nas fragilidades 
deixadas pelas religiões existentes ou hegemônicas. O surgimento do novo 
é uma declaração da carência das respostas que as igrejas institucionalizadas 
têm fornecido e que não conseguem atender às expectativas dos adeptos. Outra 
questão a ser levada em conta é que nas democracias ocidentais, a relativização 
das mensagens religiosas, a autonomia individual em relação às opções 
religiosas, aliada à liberdade de culto, facilita sobretudo, o surgimento de líderes 
espirituais com novas mensagens ou novas revelações, que possam fazer mais 
sentido diante das condições espaciais em que os adeptos estão inseridos. 
Mas afi nal, quem são os novos movimentos religiosos? De modo 
geral, podemos destacar quatro grandes grupos que representam a 
maioria dos Novos Movimentos Religiosos, apontados por Guerriero 
(2005, p. 37-55), que são:
a) Grupos oriundos de igrejas cristãs tradicionais.
b) Grupos sincréticos.
c) Grupos orientais.
d) Grupos esotéricos ou da Nova Era.
Não é fácil defi nir um novo movimento religioso, porém a partir da distribuição 
de Guerriero (2005) pode-se trazer alguns exemplos para cada grupo proposto 
pelo autor. Neste sentido, parte-se:
• Grupo oriundo das igrejas cristãs tradicionais
Pode-se colocar nesse grupo, as igrejas neopentecostais, pois elas são 
oriundas da crença cristã e que hoje é uma vertente bem diferente daquela a qual 
saiu. A expressão Terceira Onda do Pentecostalismo designa a terceira onda do 
movimento pentecostal. É um movimento dentro do cristianismo que surgiu em 
meados dos anos 1970 e 1980. Para Gonçalves e Pedra (2017, p. 76):
Mas afi nal, quem 
são os novos 
movimentos 
religiosos?
72
 MATriZES RELiGioSAS
A terceira onda, denominada neopentecostal, é representada 
pelas igrejas que surgiram na segunda metade dos anos de 
1970. Foi um movimento que garantiu forte visibilidade e se 
fortaleceu nas décadas posteriores. São consideradas igrejas 
neopentecostais a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada 
em 1977 no Rio de Janeiro; a Igreja Internacional da Graça 
de Deus, fundada em 1980 também no Rio de Janeiro; a 
Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, fundada em 1976 
em Goiás; a Igreja Renascer em Cristo, fundada em 1986 em 
São Paulo; e a Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada em 
1998 em São Paulo. Trata-se de igrejas fundadas por pastores 
brasileiros, constituindo essas as principais denominações 
neopentecostais no Brasil.
O crescimento da vertente neopentecostal está associado ao engajamento 
e trabalho de evangelização desempenhado principalmente por adeptos que 
procuram disseminar a crença através de panfl etos, abordagens em vias públicas 
para explicar sobre como a religiosidade é, e convidar as pessoas, bem como o 
trabalho solidário em comunidades periféricas. Destaca-se então, Mafra (2001, p. 
43-44), que caracteriza:
Ao contrário da ênfase assembleiana na autonomia e 
personalidade do pastor e na criação de uma rede de pequenas 
comunidades morais ligadas o lugar, o pastor da Universal é 
visto principalmente como um funcionário de uma instituição 
que tem um papel fundamental em termos escatológicos, isto 
é, na consumação do tempo e da história. Esses pastores, bem 
como os “obreiros” e “obreiras”, são selecionados segundo seu 
carisma e seu dom de oratória, num reconhecimento da graça 
dada ao indivíduo, mas que só ganhará valor se aceita pela 
lógica institucional.
Sem submergir necessariamente sua peculiaridade religiosa, as igrejas 
neopentecostais revelam-se, entre as pentecostais, as mais oblíquas a 
acomodarem-se à sociedade abrangente e a seus valores, interesses e práticas. 
Neste sentido, seus cultos basearem-se na oferta individualizada de serviços 
mágico-religiosos, de cunho terapêutico e taumatúrgico, centrados em promessas 
de concessão divina de prosperidade material, cura física e emocional e de 
resolução de problemas familiares, afetivos, amorosos e de sociabilidade. Essas 
promessas são atrativas a grande parte da população marginalizada, pois elas 
tendem a fi xar-se em espaços onde essas variantes costumam a ser dinâmicas e 
conturbadas (MARIANO, 2004). 
Já que aqui neste tópico fala-se sobre a religião neopentecostal, podemos 
abrir um parêntese para abordar as pentecostais como um todo, pois elas também 
podem ser consideradas como um novo movimento religioso em relação às 
grandes matrizes. Valoriza-se, então, nos gráfi cos 3, 4, 5, 6 e 7, uma visão muito 
mais objetiva dessa religião e suas vertentes no Brasil. 
73
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
GRÁFICO 3 – REGIÃO NORTE NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
GRÁFICO 4 – REGIÃO NORDESTE NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
74
 MATriZES RELiGioSAS
GRÁFICO 5 – REGIÃO SUDESTE NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
GRÁFICO 6 – REGIÃO SUL NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
75
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
GRÁFICO 7 – REGIÃO CENTRO-OESTE NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Considerando os gráfi cos, o crescimento pentecostal se mostrou de modo 
desigual, com algumas igrejas experimentando um surpreendente crescimento e 
outras até perdendo fi éis. A Assembleia de Deus se apresenta destacadamente 
como a maior igreja evangélico-pentecostal com o maior número de adeptos em 
todas as regiões, seguida de longe pela Congregação Cristã do Brasil com o 
segundo maior número de autodeclarados. Isso mostra como as religiões cristãs 
evangélicas tendem a ter o maior número de vertentes distribuídas em diferentes 
cantos do espaço brasileiro. Essa projeção provavelmente já é muito maior neste 
ano presente, uma vez que elas estão em constante crescimento não apenas de 
fi éis, mas material também. As igrejas pentecostais têm uma visibilidade muito 
maior do que as outras minorias, e isso é uma infl uência para recrutar pessoas. 
Elas se tornam mais acessíveis, pois estão fi xadas nas comunidades periféricas e 
regiões centrais, e em grandes centros urbanos.
• Grupos sincréticos
Estes grupos se caracterizam por uma subversão com as grandes matrizes 
religiosas instituídas e buscam alternativas para expressarem sua fé, bem como 
a religiosidade no geral. Embora possa até mesmo ser um agir inconsciente, 
eles se apropriam de elementos constantes em várias religiões, misturando-os e 
apresentando um novo signifi cado. Pode-se até confundir com as religiões afro-
brasileiras, mas aqui existe um diferencial: não há um preceito, dogma, mas sim 
uma mistura de vários cultos para o momento. A exemplo disso, pode-se citar 
o Santo Daime, que segundo Higuet (2001), o grupo tem esse nome derivado 
76
 MATriZES RELiGioSAS
do fato de os nativos pedirem o chá alucinógeno em forma de prece: "Dai-me 
o chá, dai-me luz, dai-me amor, dai-me força, dai-me saúde". Nestes grupos, 
a valorização e interação com a natureza é o principal fundamento, visto que 
mesmos dependem quase que exclusivamente dos alimentos que a fl oresta 
fornece para a sobrevivência do grupo. A consciência ecológica é parte efetiva da 
vida no grupo e a fl oresta na sua totalidade se torna uma divindade. 
• Grupos orientais
Como o próprio nome do grupo diz, trata-se das novas religiões orientais 
trazidas ao Brasil pelos imigrantes, principalmente os japoneses. Dentre elas 
destacam-se Igreja Messiânica Mundial e a Seicho-No-Ie. No ano de 2010, a 
religião Messiânica (Gráfi co 8) aparece no censo,pois há uma expressividade 
considerável de adeptos no território brasileiro. 
GRÁFICO 8 – RELIGIÕES ORIENTAIS NO BRASIL NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Esses grupos religiosos ainda são ofuscados por mais que estejam integrando 
a heterogeneidade religiosa. O gráfi co demonstra a disposição numérica das 
religiões orientais no Brasil em relação à matriz oriental predominante que é o 
Budismo. Ainda que sejam novas, elas também sofrem com a invisibilidade no 
espaço, principalmente no urbano, porém têm tido um aumento gradativo de 
adeptos e participantes na última década.
• Grupos esotéricos ou da Nova Era
77
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
São muitos os grupos que se encaixam nesta possível categoria. A priori, 
muitos deles procuram passar uma ideia de que não se constituem em uma 
religião, por não possuírem doutrinas defi nidas. O Gráfi co 9 mostra as tradições 
esotéricas nas grandes regiões, em uma população total de 38.507 auto 
declarantes. 
GRÁFICO 9 – TRADIÇÕES ESOTÉRICAS NAS GRANDES REGIÕES NO ANO DE 2010
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
Dessa forma, muitos fi éis de outras religiões acabam frequentando cultos 
esotéricos sem terem consciência da abrangência do que realmente é transmitido 
como ensinamento. Para Martins (2017, p. 15):
Estes grupos caracterizam-se pelo relativismo no tocante à 
salvação, pois advogam que existem várias maneiras de se 
achegar à iluminação completa e que todas elas são válidas. 
Há uma grande ênfase no emocional, em uma religiosidade 
que se expressa através dos sentimentos, intuições e 
meditações místicas que venham proporcionar um sentimento 
de paz espiritual. É uma religiosidade que apela muito para o 
subjetivo. Muitos destes grupos disponibilizam espaços para 
práticas esotéricas que visam o desenvolvimento pessoal e a 
felicidade do cliente/adepto.
No Brasil, há uma ligação muito forte dos grupos esotéricos com questões de 
terapias alternativas. Essa linha terapêutica é construída por saberes “místicos” 
que têm por objetivo a expansão de consciência. Dentro da psicologia há uma 
vertente de estudos sobre essa temática, que debate principalmente o uso dessas 
técnicas no tratamento de pessoas com depressão, ansiedade, bem como para o 
desenvolvimento pessoal.
78
 MATriZES RELiGioSAS
O acelerado crescimento do número e da diversidade de grupos religiosos, de 
doutrinas, de fi losofi as, de novas religiões e de novas religiosidades, nas últimas 
décadas, tem sido um fenômeno bastante signifi cativo. Neste sentido, a principal 
consequência disso é a pluralidade religiosa. Mesmo que em um número muito 
menor que as matrizes hegemônicas e suas vertentes, essas religiões se tornam 
parte da composição territorial e plural da organização socioespacial. Isso por que 
a partir do momento em que elas criam espaços de sociabilidades, desestruturam 
toda a hegemonia majoritária. É redundante de se pensar? Sim. No entanto, as 
vezes o óbvio ainda não é “tão óbvio” quanto parece. 
Acredita-se que uma grande parte da população do Brasil ainda não 
consegue diferenciar determinadas crenças e isso prejudica de certa forma 
a validação e afi rmação de outras religiosidades que estão se destacando em 
determinado espaço-tempo. O fenômeno religioso é proporcional à cultura 
híbrida e isso transforma o espaço habitado e social em uma desconfi guração 
de tradições, tornando os saberes populares uma forma ímpar de se reconhecer 
enquanto sujeito social e religioso. 
1) Faça a correspondência corretamente:
(1) Estado laico
(2) Estado religioso
(3) Estado ateu
( ) Pode ocorrer de forma orgânica ou subjetiva.
( ) Rejeita todos os credos em favor da “não crença”.
( ) É também conhecido como Estado Secular.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a) ( ) 1, 2, 3.
b) ( ) 1, 3, 2.
c) ( ) 2, 1, 3.
d) ( ) 2, 3, 1.
2) Analise o gráfi co e assinale a resposta correta:
79
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
GRÁFICO – RELIGIÕES CATÓLICA E EVANGÉLICA
FONTE: Adaptado de IBGE (2010)
a) ( ) Em 2010, as religiões evangélicas tiveram um decréscimo de 
adeptos em relação ao ano 2000.
b) ( ) Em 2000 e 2010, a religião católica se manteve com os 
mesmos dados.
c) ( ) As religiões evangélicas aumentaram o número de adeptos 
entre os anos de 2000-2010.
d) ( ) Comparando as duas religiões é possível dizer que as 
evangélicas tiveram acréscimo de adeptos, porque a católica 
perdeu praticantes entre os anos de 2000 e 2010.
3) Com base nas minorias religiosas, assinale a resposta correta:
a) ( ) Ainda que as minorias religiosas sejam a base do pluralismo 
religioso no Brasil, elas devem ser consideradas a partir de um 
resultado da própria condição de povoamento brasileiro.
b) ( ) Não se deve considerar a pluralidade religiosa no que tange 
às religiões afro-brasileiras, neopentecostais e messiânicas. 
c) ( ) As minorias religiosas não devem ser aceitas dentro da 
validação da diversidade religiosa.
d) ( ) O espaço religioso do Brasil é apenas formado pelas quatro 
grandes matrizes religiosas, sem suas vertentes minoritárias. 
80
 MATriZES RELiGioSAS
4) Leia o texto a seguir:
 “O Estado Brasileiro é laico. Isso signifi ca que ele não deve ter, e não 
tem religião. Tem, sim, o dever de garantir a liberdade religiosa. 
Diz o artigo 5º, inciso VI, da Constituição: “É inviolável a liberdade 
de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício 
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos 
locais de culto e a suas liturgias.” A liberdade religiosa é um dos 
direitos fundamentais da humanidade, como afi rma a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, da qual somos signatários. [...] 
Invadir terreiros de umbanda e candomblé, que, além de locais 
sagrados de culto, são também guardiães da memória de povos 
arrancados da África e escravizados no Brasil; desrespeitar a 
espiritualidade dos povos indígenas, ou tentar impor a eles a 
visão de que sua religião é falsa; agredir os ciganos devido à sua 
etnia ou crença, mesmo motivo que os levou ao quase extermínio 
na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial: tudo isto é 
intolerância, é discriminação contra religiões. É o contrário do que 
pretende o Programa Nacional dos Direitos Humanos.” 
 FONTE: JUNIOR, José Rezende. Diversidade religiosa e 
direitos humanos. Disponível em: http://www.mestreirineu.org/
diversidade.htm. Acesso em: 16 fev. 2021.
 São muitos os casos noticiados acerca do desrespeito às 
religiões, principalmente às afrodescendentes. Como defende, 
porém, o artigo 5º da Constituição e a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, o Brasil é um país em que há um cenário de 
pluralidade religiosa. Algo que defende essa pluralidade e garante 
o reconhecimento legal da sociedade das diversas instituições e 
grupos religiosos é o:
a) ( ) Ecumenismo. 
b) ( ) Pluralismo religioso.
c) ( ) Sincretismo religioso. 
d) ( ) Ceticismo.
5) Sobre o conceito de religião, pode-se afi rmar:
a) ( ) Refere-se à multiplicidade de formas pelas quais as culturas 
dos grupos e sociedades encontram sua expressão.
b) ( ) É a teoria do reconhecimento do outro e luta contra todas as 
formas de homogeneização.
81
PLURALISMO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL Capítulo 2 
c) ( ) Defi nida como um conjunto de crenças e práticas sociais 
relacionadas com a noção de sagrado.
d) ( ) São um sistema solidário de crenças e de práticas relativas 
às coisas sagradas, ou seja, isoladas ou proibidas, crenças e 
práticas que reúnem todos aqueles que aderem a tal sistema em 
uma mesma comunidade moral chamada Igreja.
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Para dar fi nalidade a este capítulo, espera-se, sobretudo, que deve haver 
o respeito em relação às minorias religiosas, levando-se em conta que estas 
são subestimadas, desassistidas e, acima de tudo, que suas crenças possuem 
o mesmo valor que qualquer outra religiãoabrange, independentemente de sua 
matriz. Nesse sentido, deve-se agenciar a quebra de paradigmas, a aceitação 
das diversas religiões e o reconhecimento do princípio de laicidade aderido pelo 
Estado brasileiro, perante o combate das desigualdades e garantia, efetiva, dos 
direitos constitucionais.
As hermenêuticas das religiões estão diante de debates para as readaptações 
de aceitação e diálogo com o diferente. A priori, a violência e os fundamentalismos 
não são tolerados em tempos de pluralismo religioso. Isso por que a realidade 
social é predominante nesse quesito. Cabe discutir a razão da intolerância e seus 
desdobramentos: discriminação, perseguição, fundamentalismo e violência, que 
existem em meio às religiões no Brasil, confi gurando-se tais realidades como 
desafi os de convivência entre elas.
Por fi m, salienta-se que é necessária a perspectiva que busca entender 
a religião a partir de si mesma, ou ainda, tratar a religião como tendo origem e 
função distintivamente religiosa, ou seja, examinar a religião em “escala religiosa”. 
Em outros termos, reconhece-se a religião como esfera social com aspectos 
peculiares e que, portanto, exigiria aproximação própria, buscando captar aspectos 
distintivos dessa esfera em relação às demais. As relações de sociabilidade 
entram nessa perspectiva, pois ao mesmo tempo em que a religião tem uma 
origem e principalmente uma função, considera-se ela parte da construção do ser 
social e no próprio espaço social que acontece o fenômeno. 
82
 MATriZES RELiGioSAS
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CAPÍTULO 3
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL
CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL
 A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• conhecer como a religiosidade pode infl uenciar a estrutura de organização 
espacial da sociedade, principalmente relacionada à construção de espaços de 
sociabilidade;
• refl etir como acontece a manifestação do transcendente nos espaços sagrados 
que também podem ser em espaços públicos;
• debater, problematizar e posicionar-se aos discursos e práticas de intolerância, 
discriminação e violência de cunho religioso;
• argumentar com base em fatos, dados e informações confi áveis, para formular, 
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e 
promovam os direitos humanos.
86
 MATriZES RELiGioSAS
87
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Para iniciar o capítulo de fechamentodesta obra é importante 
destacar e retomar algumas considerações para que se possa criar 
e recriar um elo que permita o desenvolvimento da crítica construtiva 
acerca das matrizes religiosas e suas diversas discussões que envolvem 
seu leque de temáticas. O principal objetivo deste capítulo é atrelar os 
conhecimentos dos capítulos anteriores com a atual expressão das 
religiões no contexto social em que vivemos e vivenciamos. Para isso, 
é importante considerar que essas manifestações e expressões estão 
em constante movimento, ou seja, as religiões seguem se modifi cando e 
dinamizando seus aspectos relacionais.
Essas mudanças seguem as contextualizações políticas, econômicas e 
culturais da sociedade, então, após o término desta obra, é possível que haja muito 
mais considerações acerca da temática proposta em diferentes contribuições 
dentro das ciências sociais e humanas. 
A história do desenvolvimento das religiões em geral, como se viu 
anteriormente, ocorre paralelamente com as transformações sociais, e, de certa 
forma, as religiões acabam surgindo como resposta às indigências do espaço-
tempo em que está inserida. Apesar de, por muitos anos, o cristianismo brasileiro 
ter uma grande dependência europeia, pois estes foram responsáveis pela 
grande parte dos dogmas, trazendo consigo seus ideais, aos poucos, os cristãos 
brasileiros foram criando uma autonomia, não só doutrinária, mas também, 
cultural. No entanto, as outras religiões como o protestantismo, espíritas, afro-
brasileiras também ganham um destaque importante nessa construção, pois na 
medida em que crescem suas porcentagens em todas as unidades territoriais do 
Brasil, criam-se também manifestações expressivas no espaço. Essas expressões 
garantem que as religiões se solidifi quem, fazendo com que a sociedade passe 
a ter ampla visão (contraditória ou não) sobre as contribuições das práticas 
estabelecidas naquele espaço.
Então, pode-se dizer que com a maior união de adeptos foi necessária 
a criação das instituições religiosas, que são criadas como um modo de 
manifestação da fé e por necessidades de ganhar espaço. Por muito tempo, 
apenas manifestações foram centralizadas e restritas, mas com o fenômeno da 
multiculturalidade, esses espaços começaram a se abrir e possuir caráter não 
apenas religioso, mas também uma forma de resistência as religiões hegemônicas.
Para isso, é 
importante 
considerar que essas 
manifestações e 
expressões estão 
em constante 
movimento, ou seja, 
as religiões seguem 
se modifi cando e 
dinamizando seus 
aspectos relacionais.
88
 MATriZES RELiGioSAS
2 EXPRESSÕES CONTEMPORÂNEAS 
DE RELIGIOSIDADES
Quando falamos em expressões contemporâneas de religiosidades, logo nos 
vem algo muito subjetivo, mas que pode conter inúmeras formas de interpretação, 
incluindo questões espaciais, sociais e culturais. Apesar da subjetividade ser 
resultado de experiências individuais, também é produzida pelas coletivas e 
institucionais. Dessa maneira, atrelar o fenômeno religioso à atual confi guração 
da sociedade, nos parece conduzir um referencial importante no processo de 
conhecimento, principalmente relacionado às diferentes possibilidades de analisar 
e ter um conhecimento mais amplo sobre as matrizes religiosas.
Partindo desse princípio, essas expressões de religiosidades atualmente estão 
atreladas à manifestação no espaço, principalmente no que tange à perspectiva 
simbólica individual. Léger (2005, p. 41) esclarece que “esta concepção religiosa 
de uma fé pessoal é uma peça mestra do universo de representações de que a 
fi gura moderna do indivíduo, sujeito autônomo que governa a sua própria vida, 
emergiu progressivamente”.
Pensemos que, no atual momento, mais do que em qualquer outro período 
da história da sociedade, a própria religião se caracteriza por um pluralismo 
cultural, pluralidades estas que muitas vezes se tornam intrigantes, na medida em 
que fogem dos referenciais estabelecidos. Há uma enorme diversidade religiosa 
e expressões culturais que podem ser desconhecidas por grande parte de nós. 
Muitos cultos derivados de outras religiosidades também infl uenciam a criação de 
grupos sociais fora dos padrões em que estamos imbricados.
É importante destacar isso, pois falamos sobre subjetividade e ela está 
intrinsicamente relacionada com a busca das pessoas por algo sobrenatural e 
que seja consistente ao mesmo tempo. Essa explosão de diversidades religiosas 
justifi ca a atual organização socioespacial em que estamos confi gurando, como 
sendo uma “era das religiões”, isso porque elas são essencialmente fundamentais 
nos dias de hoje, competindo inclusive dentro de interesses econômicos e 
políticos.
89
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
As religiões sempre estiveram presentes na formação 
socioeconômica da sociedade, porém não de uma forma tão 
concorrida e exposta quanto atualmente. Apesar de Max Weber – 
autor que vimos no Capítulo 2 – atribuir às crenças e valores religiosos 
um papel importante na conduta dos indivíduos em sociedade, ele 
também defendeu a tese de que a religião protestante exerceu uma 
poderosa infl uência no surgimento do modo de produção capitalista.
Se quiser saber mais sobre o assunto, sugerimos a leitura da 
obra:
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 
São Paulo: Companhia das letras, 2005.
Ela está disponível na versão PDF em: http://www.
ldaceliaoliveira.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/18/1380/184/
arquivos/File/materiais/2014/sociologia/A_Etica_Protestante_e_o_
Espirito_do_Capitalismo_Max_Weber_-_Flavio_Pierucci.pdf.
90
 MATriZES RELiGioSAS
Considerando então, que na medida em que nada é permanente, nada é 
estável, os valores, principalmente religiosos, são ligeiramente substituídos por 
outros. Diante de muitas multiplicidades e de infl uências tão confl itantes e, às 
vezes, adversas, as pessoas vivenciam e escolhem a forma de expressar os seus 
anseios espirituais, numa busca pessoal de sentido espiritual, como ser único, à 
procura de sua identidade religiosa. Para isso, salienta Wolff (2015, p. 85), quando 
ele explica que:
Uma das expressões da característica plural dos nossos 
tempos é a diversidade de correntes de espiritualidade que 
emergem constantemente tanto no interior das tradições 
religiosas históricas quanto à sua margem. A atual sociedade é 
de pouca religião e de muita espiritualidade. As novas formas 
de crer são fl uidas, sem a preocupação de formular doutrinas, 
ritos e mediações que lhe deem estabilidade. Isso gera crise 
nas convicções, nos valores, nas posturas e nas doutrinas que 
sustentam o ato de crer. E apresentam a exigência de revisão, 
ressignifi cação e redimensionamento do ato de fé tradicional. 
Trazendo os novos movimentos religiosos para esse debate – os quais vimos 
no capítulo anterior – percebe-se que ainda há uma resistência muito grande 
das religiões hegemônicas no que se refere às “novas religiões” – entre aspas, 
pois sabemos que muitas delas já estão há mais de um século fazendo parte 
da sociedade, no entanto, foram invisibilizadas pelas predominantes. Religiões 
como a protestante, de uma forma geral, ganha maior destaque na produção do 
espaço, pois ela veio com força questionando e quebrando paradigmas cristãos. 
O protestantismo e suas vertentes pode ser considerado um dos maiores 
movimentos religiosos que teve no Brasil nas duas últimas décadas. Isso quer 
dizer que apesar de se constituir em uma crença “nova”, tem uma estrutura de 
adequação em qualquer lugar do espaço, conseguindo, então, recrutar um 
número considerável de adeptos. 
O crescimento gradativo das religiões não hegemônicas pode ser uma forma 
de permanência na pluralidade do espaço – a tendência é de que sejam marginais 
e isso explicaria o recrutamento menos “em massa”, a exemplo das religiões afro-
brasileiras.
A expressividade dessas religiões de origem afro são limitadas aos terreiros/
casas/centros de cultos,pois o “diferente” é questionado por quem não a cultua. 
No entanto, o espaço sagrado é considerado todo lugar que tenha natureza. 
Ainda que um de seus preceitos estejam fundamentados em rituais que envolvam 
elementos como água, fogo, ar, terra, mata, os ritos difi cilmente aparecem fora 
das quatro paredes. Há exceções como as festas e procissões nas praias e rios. 
Uma das manifestações religiosas mais tradicionais, que junta religiões 
diferentes, está ligada à divindade Nossa Senhora dos Navegantes ou Iemanjá. 
91
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
A data de 2 de fevereiro é simbolicamente associada a esta imagem, tanto pela 
igreja católica quanto para as religiões de origem afro. Católicos e afro-religiosos 
se unem para celebrar o dia de uma das divindades mais conhecida no Brasil. 
Ainda que haja o “sincretismo”, a forma de expressar a fé e devoção é totalmente 
diferente. As representações advindas das religiosidades diversas fazem com que 
o incomum passe a ser visto como algo notório, tendo como construção, o próprio 
conhecimento da cultura popular. Nossa Senhora dos Navegantes/Iemanjá é uma 
das fi guras mais populares do Brasil, sendo inclusive uma das maiores tradições 
religiosas nos quatro cantos do território brasileiro. 
Considerando essas expressões, Schechner (2003, p. 27) destaca:
A performance cultural não é gratuita. São expressões 
artísticas, rituais ou cotidianas marcadas pelo limite de 
tempo e espaço, regras e programa organizado, atuação dos 
atores e participação de uma plateia. Performances afi rmam 
identidades, curvam o tempo, remodelam e adornam corpos, 
contam histórias.
Schechner (2003) alerta a percepção para a existência de diferentes divisões 
que se relacionam na composição da performance, afi rmando que é preciso 
examinar o fenômeno em si e suas inter-relações sociais e políticas. E essa 
expressão cultural que une católicos e afro-religiosos é o resultado da própria 
multiculturalidade, pois Souza (2007, p 31) ressalva:
Na diáspora forçada, fugindo à coisifi cação imposta pela 
escravização, os africanos e afrodescendentes costuraram e 
teceram identidades e, a partir da memória, reorganizaram suas 
vidas desenhando novas confi gurações culturais advindas da 
sua situação em terras estrangeiras. Enfaticamente, no campo 
da música, da dança e de religiosidade, as tradições culturais 
permaneceram como espaços privilegiados de memória e 
de recriação, o que faz das performances um dos elementos 
signifi cativos na transmissão, circulação e reconfi guração da 
memória dos afrodescendentes.
A maioria das relações religiosas que envolvem mais de uma cultura está 
ligada com a história do povoamento do Brasil e perpassa por uma série de 
adaptações não apenas culturais, mas também econômicas e políticas ao longo 
dos anos. E essa ideia de que a maioria dos novos movimentos religiosos se 
resultem no “sincretismo”, é mais uma forma de tentar homogeneizar a estrutura 
religiosa. 
Pode-se trazer também o exemplo do próprio catolicismo popular, que se 
tornou uma matriz religiosa potente por diversos motivos, dentre eles, alguns 
citados nas palavras de Wernet (1995, p. 41-42), que podem ser atribuídos até os 
dias de hoje:
92
 MATriZES RELiGioSAS
Elementos típicos desse catolicismo popular foram: linguagem e 
estilo dos sermões acessíveis ao povo; uma profunda devoção 
mariana; o cultivo e a promoção de formas tradicionais de 
religiosidade como romarias e festas populares; a presença de 
elementos externos emocionais e sentimentais de religiosidade; 
cerimônias pomposas e edifi cantes, que tocavam o coração e 
a alma e não apenas a razão; a valorização da experiência, da 
simplicidade e da sabedoria em oposição a religião sofi sticada 
e intelectualizada dos fi lósofos e teólogos e o amor e a estima 
do povo simples e camponês.
Essa forma de expressão do catolicismo permite que a tradição do mesmo 
seja fi xada e com enorme importância no espaço social religioso. Apesar de 
Wernet (1995) trazer essas análises na década de 1990, e considerando todas 
as manifestações de “novas” religiões, ainda é possível afi rmar que o catolicismo 
é presente em todas as unidades territoriais, sendo fortemente infl uenciado pela 
própria cultura popular que é destaque brasileira.
Outra expressão importante a considerar são as manifestações religiosas do 
espiritismo. Sobre isso, Ribeiro (2012, p. 24) enfatiza:
Muito embora a doutrina não tenha sofrido muita infl uência 
externa, pode-se dizer com certeza que ela infl uenciou 
várias das outras correntes religiosas no Brasil. Por tratar 
do sobrenatural e explicar as manifestações dos espíritos, 
essa religião se alinhou bastante com as crenças populares 
brasileiras, servindo como ponto de apoio para várias 
dissidências religiosas.
Inte ressante observar que as manifestações do espiritismo são 
fundamentadas em explicar algumas questões que sempre estiveram no 
imaginário popular, como forças sobrenaturais, espíritos, incluindo a própria 
manifestação de pessoas que faleceram e que ainda deixariam recados de como 
estão no novo plano, aos seus entes queridos. 
De certa forma, pode-se dizer que as religiões em geral perpassam uma 
experiência religiosa marcadamente utópica em seu aspecto religioso teológico 
prático, pois estão sempre preocupadas com o que ainda está por vir, ou seja, ela 
parece preparar as pessoas para o futuro. 
Abrindo espaço para falar sobre experiências religiosas, é importante 
considerar as expressões em espaços públicos. Existem muitos lugares religiosos 
que são patrimônios culturais no Brasil. Isso é uma expressão que vai além 
da questão imaterial e abstrata, tornando-se apoio material na construção da 
sociabilidade religiosa. A maioria das igrejas católicas são patrimônios materiais 
culturais de uma matriz religiosa predominante. Assim, como existem terreiros 
93
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
de cultos afros que são patrimônios culturais de determinadas regiões onde a 
religiosidade afro se destaca.
Pensando por esse lado, Camargo (2002) afi rma que os testemunhos 
contidos no monumento histórico enquanto patrimônio cultural estão repletos de 
valor simbólico. E ele vai mais além quando fala que:
O valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é 
decorrente da importância que lhes atribui a memória coletiva. 
E é esta memória que nos impele a desvendar o seu signifi cado 
histórico-social, refazendo o passado em relação ao presente, 
e a inventar o patrimônio dentro dos limites possíveis, 
estabelecidos pelo conhecimento (CAMARGO, 2002, p. 30-
31).
Nesse sentido, a noção de materialidade verifi cada através dos monumentos 
históricos religiosos, sobretudo em suas expressões edifi cadas, transformou-se 
numa das formas do patrimônio arquitetônico. Além disso, esse tipo de patrimônio 
está diretamente relacionado a conceitos de territorialidade e temporalidade, na 
medida em que a sociedade defi ne o que será eleito e legitimado dependendo do 
tempo e lugar em que se situa (SOUZA, 2011). 
Vamos ver a seguir, imagens de alguns patrimônios religiosos mais 
expressivos no Brasil e suas datas de construção, respectivamente.
FIGURA 1 – IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO 
– VILA VELHA (ES) – DATADA EM 1535
FONTE: <https://secult.es.gov.br/Media/secult/Importacao/
Noticias/1450371045-rosarioa.JPG>. Acesso em: 10 jun. 2021.
94
 MATriZES RELiGioSAS
FIGURA 2 – I GREJA MATRIZ DOS SANTOS COSME E DAMIÃO 
– IGARASSU (PE) – INÍCIO DA CONSTRUÇÃO EM 1535
FONTE: <https://www.roteirospe.com/wp-content/uploads/2017/05/
principal-4-1024x576.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
FIGURA 3 – I GREJA NOSSA SENHORA SANTANA, ILHÉUS (BA) – 1537
FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/legacy/2016/12/28/
igreja-nossa-senhora-santana-ilheus.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
95
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo3 
FIGURA 4 – IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO, RIO DE JANEIRO (RJ) – 1590
FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/
legacy/2016/12/28/igreja-do-carmo-rj.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
FIGURA 5 – TERREIRO CASA BRANCA DO ENGENHO 
VELHO - SALVADOR (BA) – DATADO DE 1830
FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1636>. Acesso em: 10 jun. 2021.
96
 MATriZES RELiGioSAS
FIGURA 6 – IGREJA EVANGÉLICA FLUMINENSE, RIO DE JANEIRO (RJ) – 1914
FONTE: <https://www.temploshistoricos.info/evangelica-
fl uminense>. Acesso em: 10 jun. 2021.
FIGURA 7 – IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, GASPAR (SC) – 1986
FONTE: <https://turismo.gaspar.sc.gov.br/o-que-fazer/item/igreja-adventista-do-setimo-
dia-de-gaspar#:~:text=A%20Igreja%20Adventista%20do%20S%C3%A9timo,do%20
Gaspar%20Alto%2C%20em%20Gaspar>. Acesso em: 10 jun. 2021.
97
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
Essas são as principais e mais antigas igrejas e templos em funcionamento 
até os dias de hoje registrados no Brasil. Existem muito mais, no entanto, as 
imagens e locais são limitados e não se encontram com facilidade. Para isso, 
lista-se algumas que não há fotos, mas que também são importantes patrimônios 
religiosos com suas datas fundadoras:
• Terreiro do senhor Nicanor, Rio de Janeiro (RJ) – 1890.
• Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) – 1904.
• Congregação Cristã no Brasil (CCB) – 1910.
• Igreja Missão de Fé Apostólica - 1911, mais tarde (1918) conhecida como 
Assembleia de Deus.
A ideia de expressão contemporânea das religiões também congrega locais 
sagrados de peregrinação. Esses lugares, ainda, transcendem as quatro paredes, 
como cidades que são consideradas espaços sagrados na sua totalidade. Pode-
se denominá-las como sendo cidades religiosas, pois sua expressividade vem 
através do turismo religioso. Vejamos as principais brasileiras a seguir.
FIGURA 8 – CATEDRAL B ASÍLICA NOSSA SENHORA APARECIDA
FONTE: <http://blog.ibrturismo.com.br/wp-content/uploads/2017/06/Santu%C3%A1rio-
Nacional-de-Nossa-Senhora-Aparecida-1024x678.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
98
 MATriZES RELiGioSAS
A Catedral Basílica Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição 
Aparecida, também conhecida como Santuário Nacional de Nossa Senhora 
Aparecida, é um templo religioso católico localizado no município de Aparecida 
(SP). É o maior templo católico do Brasil e o segundo maior do mundo. Essa 
cidade turística religiosa recebe milhões de pessoas todos os anos, principalmente 
na data de 12 de outubro. Além de tudo, Nossa Senhora Aparecida é a padroeira 
do Brasil, o que faz com que todo município se torne um espaço amplamente 
sagrado.
FIGURA 9 – MEMORIAL PADRE CÍCERO, JUAZEIRO DO NORTE (CE)
FONTE: <https://badalo.com.br/wp-content/uploads/2018/10/
IMG_6807.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
O município de Juazeiro do Norte (CE) é conhecido devido à fi gura de Padre 
Cícero, e é considerado um dos três maiores centros de religiosidade popular do 
Brasil, junto a Aparecida (SP) e Nova Trento (SC), esta última veremos a seguir. 
O memorial de Padre Cícero contém toda a vida da fi gura popular, bem como 
a história da cidade. Além dele, ainda há o Museu Vivo do Padre Cícero, que 
conta com esculturas de cera; e Museu Padre Cícero, que foi a casa onde ele 
residiu por vários anos antes de sua morte. Com isso, o município todo acaba 
sendo considerado uma cidade religiosa. 
99
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
FIGURA 10 – S ANTUÁRIO DE SANTA PAULINA, NOVA TRENTO (SC)
FONTE: <https://santuariosantapaulina.org.br/wp-content/uploads/2019/01/
Santu%C3%A1rio-Santa-Paulina-.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
Após a canonização de Madre Paulina, primeira santa brasileira, o município 
de Nova Trento (SC) fi cou reconhecido como uma cidade religiosa. Apesar de 
apresentar cerca de 15 mil habitantes (IBGE, 2019), o município do oeste do 
estado de Santa Catarina tem se destacado como ponto turístico religioso desde 
2006, quando foi inaugurado o santuário.
Os números de visitantes aumentam gradativamente fazendo com que outros 
pontos da cidade se tornem parte do turismo religioso, como o Morro da Cruz, que 
é uma trilha com vista panorâmica, tornando-se uma caminhada de peregrinação. 
Também conta com o Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro, que é o 
destino fi nal da trilha e outros locais de visita ao longo do trajeto.
Apesar de não estar na lista ofi cial de templos/monumentos, a Basílica 
de Nossa Senhora Medianeira (Figura 10), também tem sido destaque na 
manifestação religiosa católica no Brasil.
100
 MATriZES RELiGioSAS
FIGURA 11 – BASÍLICA DE NOSSA SENHORA MEDIANEIRA, SANTA MARIA (RS)
FONTE: <https://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/0f/20/1b/
ff/basilica-nossa-senhora.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2021.
Localizado no município de Santa Maria (RS), o Santuário da Medianeira, 
como é popularmente conhecido, recebe números incontáveis de fi éis devotos 
à Nossa Senhora Medianeira a cada ano. É uma das maiores manifestações 
religiosas no espaço do Rio Grande do Sul, e tem sido percebida, inclusive, fora do 
país. No entanto, não é somente o espaço sagrado da basílica que é importante. 
Todo o profano em volta se torna religioso, pois a Romaria que acontece todos os 
anos no segundo domingo de novembro, conta com a procissão que tem início na 
área central do município, e logo após, uma programação de missas e celebrações 
religiosas (o qual a basílica não comporta todos, e há um revezamento de fi éis 
que se aglomeram no lado de fora), ainda acontece a tradicional festa da romaria, 
que traz inúmeros comércios relacionados à santa. Essa movimentação é muito 
expressiva na região do interior do Rio Grande do Sul, pois o dia de Romaria é 
planejado durante o ano todo pelos santa-marienses e quem vêm de municípios 
limítrofes. 
Outro exemplo de evento religioso que podemos destacar é o Congresso 
Internacional de Missões dos Gideões Missionários da Última Hora, que acontece 
em Balneário Camboriú (SC) – local sede –, que é considerado o maior congresso 
missionário protestante pentecostal do Brasil. Este congresso tem por objetivo 
principal, a divulgação do evangelho de Cristo em território brasileiro e no mundo. 
Uma das características desse evento é a duração de cerca de 10 dias, onde 
as pessoas se envolvem em inúmeros cultos diários, com a presença de cantos, 
palestras e atividades religiosas no intuito de levar a Obra de Deus para milhares 
de pessoas.
101
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
É importante considerar essas expressões religiosas, mas também não 
podemos esquecer que a maioria delas é ligada às religiões predominantes. 
Manifestações protestantes, afro-religiosas, espíritas, dentre outras, são limitadas 
e acontecem em espaços muito menores (praças, áreas de lazer, bairros locais) e 
não têm um número muito grande de pessoas. No entanto, elas são maiores em 
número de vezes em que acontecem. Por exemplo, um culto protestante pode 
acontecer em uma área de lazer de um bairro, pelo menos umas quatro vezes 
durante um mês. Ele pode não ser expressivo ao conhecimento nacional, mas é 
expressivo para as pessoas que residem onde ele acontece. 
Essas pequenas e, às vezes, não notáveis manifestações são as que mais 
ganham força no sentido local, e acabam se ramifi cando em escala pequena 
até que uma rede de aparições se cria e interliga espaços religiosos uns com os 
outros.
Outro exemplo que podemos utilizar nesse entendimento são as 
comemorações da Nossa Senhora dos Navegantes, a qual já vimos anteriormente, 
mas que ganha expressividade por acontecer em quase todas as regiões 
litorâneas do país, e apesar de não ser de uma exclusiva de uma matriz religiosa, 
cria essa manifestação em rede que liga diferentes crenças.
Dessa forma, além da pluralidade e diversidade, a constante 
fragmentação religiosa é resultadoda dinâmica socioespacial 
contemporânea. Considera-se que, a partir do século XX, o campo 
religioso tem sofrido transformações e reordenam-se diferentes formas 
de expressão religiosa, sejam elas institucionais ou não, tradicionais/
hegemônicas e novas, permanentes ou temporárias, fundamentalistas 
ou performáticas. Esse contexto em que vivemos – da multiculturalidade 
– não apresenta um limite de diversidade, e o fenômeno religioso 
acompanha na mesma proporção.
Moreira e Oliveira (2008) defendem que a globalização trouxe transformações 
duradouras para o campo religioso. Resumindo as considerações acerca das 
transformações feitas pelos autores, tem-se:
• Religião e ordem global se interpenetram: as religiões tanto sofrem os 
efeitos como têm sido fatores importantes do fenômeno da globalização. 
Elas infl uem e são infl uenciadas por outras culturas distintas. 
• Aproximação de fronteiras entre sistemas simbólicos: a visualização do 
outro, do exótico e do diferente não está mais distante, podendo haver 
convivência, como um espaço aberto a todos.
• Hibridismo nas práticas religiosas: uma mescla ou combinação eventual 
de universos simbólicos distintos.
Dessa forma, além 
da pluralidade 
e diversidade, 
a constante 
fragmentação 
religiosa é resultado 
da dinâmica 
socioespacial 
contemporânea.
102
 MATriZES RELiGioSAS
• Pluralidade religiosa: as ofertas simbólicas são as mais diversifi cadas.
• Desenvolvimento de identidades particulares e subalternas: os 
regionalismos, nacionalismos e fundamentalismos são um meio de 
preservação da identidade diante de uma acirrada competição, da 
dominação e da dependência cultural da hegemonia.
• As religiões, de modo geral, se tornaram um elemento fl utuante: tradições 
religiosas foram liberadas de seus contextos de origem.
• Religião da escolha de cada pessoa: perda da autoridade vinculante das 
instituições religiosas e a maior autonomia das pessoas na procura de 
seus próprios seguimentos religiosos.
• Deslocamento do campo religioso: outras instituições assumem funções 
das igrejas no campo cultural, principalmente a mídia e a política.
• Disputa pela interpretação ou afi rmação: as lutas pela legitimação entre 
os diversos seguimentos religiosos devem expandir.
• Confl ito de apropriação das próprias religiões: devido ao grande número 
de informações, pela era informacional que estamos passando, a maioria 
não consegue chegar a um acordo sobre o que pode e não pode ser 
absorvido.
A emergência da sociedade, em geral, abriu a possibilidade 
para diversas alternativas e pertencimentos religiosos. As velhas 
tradições dão lugar a uma cultura religiosa menos intolerante, e a 
autoridade sobre sentidos e códigos simbólicos está cada vez mais 
difícil. Neste sentido, “o esforço das instituições para assegurar uma 
identidade uniforme parece ir a contrapelo de uma tendência sincrética 
predominante que busca o intercâmbio entre símbolos pertencentes 
a diversos sistemas religiosos” (STEIL, 2008, p. 8). O fenômeno da 
globalização, ao mesmo tempo que aproximou sistemas religiosos, produziu 
também a comercialização do campo religioso e as tentativas de resistência com o 
renascimento do fundamentalismo. A constante luta por mais adeptos e as novas 
demandas institucionais fi zeram com que muitas religiões aderissem à dialética 
da concorrência de mercado. As incertezas geradas pelo que é novo, por outro 
lado, reforçaram normativas e atitudes de intolerância em relação à diversidade. 
A emergência 
da sociedade, 
em geral, abriu a 
possibilidade para 
diversas alternativas 
e pertencimentos 
religiosos.
Existem diversas formas de expressões religiosas no espaço e 
uma delas é dentro da escola. Nesse sentido, sugere-se a leitura de 
um texto interessante sobre a temática: 
ROCHA, M. Z. B. Expressões religiosas em escolas públicas: 
representações sociais ou ideologia?. Revista Acta Scientiarum 
Education, Maringá, Paraná, v. 38, n. 3, p. 231-246, 2016.
103
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
1) Neste momento não apenas de refl exão sobre as expressões 
religiosas atuais, seria importante você conhecer outras 
além destas que partilhamos no texto. Para isso, descreva 
uma manifestação religiosa que você conhece ou que tenha 
pesquisado e analise os seguintes aspectos a seguir:
a) Características da manifestação (qual religião pertence, local, 
escala).
b) Se possível, anexe uma foto do fenômeno.
c) Função social que ele exerce na sociedade.
3 TECNOLOGIA E RELIGIÃO: BREVE 
CONTEXTUALIZAÇÃO
Partindo do pressuposto de que a religião sempre foi vista como algo 
tradicional, rústico e inalterado, fadado às inúmeras páginas de seus livros 
sagrados, história oral e cultura passada de geração em geração etc., é quase 
impossível pensar no binômio religião-tecnologia. No entanto, essa característica 
clássica está mudando no campo religioso, pois a sociedade está cada vez 
mais conectada com as mídias sociais, forçando com que as religiões estejam 
acompanhando essa evolução do cotidiano. 
Diante do meio técnico-científi co-informacional sugerido por Santos (2008), 
no qual estamos inseridos, a produção de conceitos e interpretações acerca da 
temática proposta é incontável. No entanto, as perspectivas do emprego dessa 
temática é o que nos faz realizar um mapeamento do que podemos utilizar no 
entendimento das múltiplas relações religiosas no espaço.
As discussões que alavancam o destaque para o diálogo inter-religioso não 
está apenas em livros, mas toma conta de um espaço midiático, que propõe o 
mesmo a acontecer via ciberespaço. Ou seja, a ação pode ser realizada diante 
de diferentes contextos e localidades, pois não precisa ser exatamente em um 
espaço físico. 
Uma das possibilidades das manifestações religiosas está, então, no que se 
pode chamar de tecnologia espiritual, ou ainda, igreja on-line (SPADARO, 2013). 
Para introduzir melhor essa visão, Sbardelloto destaca (2011, p. 47):
104
 MATriZES RELiGioSAS
Vemos hoje um deslocamento das práticas de fé ao ambiente 
online, a partir de lógicas midiáticas, complexifi cando o 
fenômeno religioso e as processualidades comunicacionais. A 
religião, especialmente a católica, em sua necessidade de dar 
a conhecer as suas verdades sobre o mundo, se apropria dos 
dispositivos comunicacionais digitais ao seu alcance, através 
de suas várias possibilidades, para transmitir sua mensagem 
de fé. Dessa forma, as pessoas passam a encontrar uma oferta 
da fé não apenas nas igrejas de pedra, nos padres de carne 
e osso e nos rituais palpáveis, mas também na religiosidade 
disponível em bits e pixels. Formam-se novas modalidades de 
percepção e de expressão do sagrado em novos ambientes de 
culto. Manifesta-se, assim, uma nova forma de hierofania, uma 
nova forma de revelação e manifestação do sagrado, agora 
midiatizada: midiohierofanias que lançam a religião para novos 
patamares de existência.
Existem muitas manifestações religiosas em programas de televisão, 
principalmente em canais abertos. A ideia é levar as experiências religiosas para 
o mais afastado lugar, recrutando fi éis não apenas locais, mas também de outros 
lugares fora do original. Sobre isso, Sbardelloto (2011, p. 5) sugere:
[...] até mesmo a religião constrói e gera sentido ao fi el também 
por meio de processos sociais que ocorrem dentro do fenômeno 
da midiatização. A religião também passa a existir nessa nova 
cultura, tentando, aos poucos, remodelar suas estruturas 
para as novas processualidades midiáticas, reconstruindo 
e ressignifi cando práticas religiosas tradicionais de acordo 
com os protocoles da internet. Ou seja, em uma sociedade 
em midiatização, o religioso já não pode ser explicado nem 
entendido sem se levar em conta o papel da mídia. 
De modo geral, a mídia – canais de televisão, programas de rádio e internet 
– tem dedicado parte de sua grade de horários a programas e discussões 
relacionados com a religião. Como já sesabe, a religião continuamente foi uma 
das temáticas privilegiadas nas ciências sociais e humanas, notando-se um 
interesse em compreender a religião como um fenômeno social no âmbito dos 
estudos a respeito da sociedade. 
Os principais pensadores das ciências sociais, Marx, Weber e Durkheim, 
dedicaram muito tempo de estudos ao tema, incluindo aí algumas de suas 
obras clássicas, as quais foram apresentadas nesse texto. Os diversos 
caminhos trilhados por esses estudos, no entanto, parecem trazer como objeto 
a preocupação em estudar a religião como uma prática social, ou um espaço 
de relações sociais, ou até mesmo campo específi co de saberes populares, de 
maneira que suas relações com outros aspectos da sociedade são levadas em 
consideração no sentido de se pensar a relação com outras dinâmicas sociais 
objetivadas no sentido de intersecções com a política, a economia, identidades 
ou vínculos com a sociabilidade. Obviamente, nenhum desses autores trouxe 
105
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
a religião nas mídias (espaço-tempo é a justifi ca), e essa temática é considera 
emergente na atualidade. Para Martino (2014, p. 84):
A desvinculação da “sociologia da religião” dos estudos de 
caráter religioso parece ter sido fundamental para a emergência 
de uma área de “mídia e religião” na medida em que a inclusão 
de outras instâncias, no caso a comunicação, passa a ser 
possível e desejável na constituição de formas específi cas de 
ação religiosa.
 
Cabe ressaltar que, no geral, as religiões cristãs têm se transformado em 
função da mídia, pois a sua abrangência de “telespectadores” é muito maior do 
que dentro de um espaço físico. Como os canais de comunicação fazem a notícia 
chegar em qualquer lugar em segundos, aliar-se à tecnologia nos dias de hoje é 
praticamente uma obrigação. Para Martins e Rivero (2019, p. 13):
O entendimento é de que a internet também é um espaço 
de comunhão que chama a comunidade religiosa a ser mais 
unida e ligada. As redes sociais, auxiliadas pela fl uidez 
e espaços interativos, atuam como agentes da circulação 
dos discursos; para a religião, tornam-se protagonistas no 
processo de interação e circulação do campo religioso. As 
redes sociais, enquanto um sistema digital interconectado, são 
micro-manifestações desse campo religioso. As igrejas cristãs 
se adaptaram às mídias, começando pelas eletrônicas, como 
rádio e televisão, e depois migraram para as digitais, com a 
internet e suas redes sociais, sobretudo Facebook e YouTube, 
como estratégia de evangelização, pois é possível alcançar um 
número maior de pessoas.
A aproximação da religião com novas tecnologias está ampliando a forma 
com que as pessoas acessam, ensinam ou compartilham seu modo de vida 
religioso. Hoje, por exemplo, é possível carregar a bíblia em um aparelho 
smartphone, ter acesso a inúmeros aplicativos de estudos religiosos e diferentes 
recursos para auxiliar no entendimento do mesmo. A íntima ligação entre religião 
e tecnologia (principalmente, a internet) atinge diretamente a forma como as 
pessoas aprendem e disseminam a sua religião, compartilhando conhecimentos, 
experiências com pessoas de qualquer lugar do mundo. Nesse sentido, a 
tecnologia ajuda a aprimorar qualquer forma de transmissão de mensagens, 
conteúdo ou informações para outras pessoas, e facilita especialmente a 
comunicação de longa distância e em massa.
Tendo a capacidade de conectar e construir relações de sociabilidade, 
a tecnologia é uma ferramenta importante para o crescimento de qualquer 
seguimento religioso. Ainda que muitos líderes de religiões hegemônicas sejam 
resistentes a essa nova era digital, é notável que a maioria das congregações 
religiosas que recorrem à tecnologia estão tendo maior visibilidade, resultando na 
maior disseminação de seus preceitos para a sociedade no geral. 
106
 MATriZES RELiGioSAS
Ela não é apenas uma forma de alcance por mais adeptos, mas também 
auxilia na interação com seus fi éis, estimulando a participação, aprendizado e 
compartilhamento de múltiplas experiências. Em tempos de pandemia, onde o 
distanciamento social se faz presente e possivelmente continuará fazendo parte 
do cotidiano, a tecnologia ajuda na aproximação de pessoas, principalmente 
quando envolve a fé, independentemente de sua crença religiosa.
A rede que se forma através da comunicação em massa é poderosa e efi caz 
na própria construção do espaço virtual – pois o mesmo tende a ser dinâmico e 
multirrelacional, podendo abranger intersecções culturais, políticas e até mesmo 
econômicas. 
Exemplifi cando essa prática, podemos ter como referência a religião católica. 
Uma igreja que marca presença no mundo digital, tem envolvimento em tempo 
real com a vida das pessoas, e ao invés de esperar que elas venham ao seu 
encontro, as leva simultaneamente para “dentro” de seus espaços religiosos. 
As pessoas tendo acesso às informações sobre atividades, eventos e recursos 
disponíveis, ajuda a elevar o perfi l de adeptos, bem como mostra a expressividade 
e representatividade da igreja em maiores escalas.
As mídias sociais, principalmente, são ótimos canais para as igrejas 
compartilharem sua cultura, suas histórias e momentos de manifestação de fé, 
o que resulta em interação, engajamento e desperta interesse em diferentes 
gerações, que é o caso dos jovens, pois eles têm maior cotidiano virtual se 
comparado a todas as faixas etárias.
Com isso, podemos dizer que a mobilidade das religiões no ciberespaço é 
uma forma inteligente de manifestação e expressão contemporânea. O processo 
de inserção ainda é tímido, porém bastante efi caz quando bem organizado pelas 
entidades, e isso permite uma prática não apenas social, mas também funcional 
das mesmas. 
Observa-se em termos panorâmicos, que a tendência em adotar a tecnologia 
como objeto principal de comunicação entre religião e sociedade é uma realidade 
emergente e imposta pela atual confi guração socioespacial, tendo como base 
o uso de ferramentas tecnológicas que podem se ajustar à vida cotidiana do 
adepto. Um exemplo disso são os cultos on-line, onde um líder religioso pode 
realizar várias vezes ao dia, para contemplar as pessoas que não podem em 
determinados horários. Talvez isso não seria possível se o culto fosse presencial. 
Há uma fl exibilidade que permite esses planejamentos e com isso a adaptação 
seja algo permanente para cada pessoa.
107
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
Para refl etir:
Considerando o momento atual que estamos vivendo, é 
possível que a identidade religiosa das matrizes originais possa ser 
preservada mesmo que elas se aliem à era digital? 
De certa forma, isso é uma visão muito particular de cada um, 
pois as experiências nunca são iguais e possivelmente as respostas 
para esse questionamento serão extremamente singulares. 
Lembrando que, ao mesmo tempo em que a tecnologia avança, 
muitas coisas vão se perdendo com o tempo. Isso vale para a cultura 
e também seus códigos culturais.
4 DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: 
POSSIBILIDADES E DESAFIOS
Quando iniciamos esta obra, falamos sobre as principais matrizes religiosas 
no Brasil, detalhamos com dados os adeptos e comparamos umas com as outras, 
destacamos o conceito de religião em diferentes perspectivas em referências 
contemporâneas, incluímos no debate, questões sobre a pluralidade cultural e 
religiosa presente no território brasileiro. Tudo isso forma uma boa base teórica e 
também metodológica para a discussão fundamental que tem se destacado nos 
dias de hoje: o diálogo inter-religioso.
Pensamos em possibilidades e desafi os por conta dos inúmeros 
questionamentos acerca da temática, o que pressupõe que nesta seção, 
busquemos mais um compreendimento sobre como isso é apresentado em forma 
de objeto de estudo, bem como a posicionalidade das pessoas no que tange à 
diversidade. 
Partindo então do pressuposto de que a sociedade é o resultadoda uma 
herança genética e cultura histórica (BORGES, 2010), podemos acrescentar que 
também é resultado de vivências e relações sociais. 
Para Borges (2010, p. 40):
A religião enquadra-se na experiência radical de dependência, 
implicando, portanto, na sua compreensão estrita, um núcleo 
com dois polos: um polo objetivo, constituído pela presença 
108
 MATriZES RELiGioSAS
de uma realidade superior de que se depende, e um polo 
subjetivo, que consiste na atitude de reconhecimento dessa 
realidade por parte do homem.
Apesar de o conceito de religião apresentar limitações em virtude da sua 
complexidade e multiplicidade de formas e conteúdos historicamente construídos 
nos diversos grupos sociais espalhados pelo mundo, com essa defi nição de 
Borges (2010), abre-se então, uma discussão pertinente e fundamental na 
atualidade: a convivência com o que é diferente. Grosso modo, é a partir disso 
que surgem os diálogos inter-religiosos. Teixeira (2002, p. 156) comenta:
O grande, difícil e arriscado desafi o do diálogo inter-religioso 
consiste em apontar e demonstrar a possibilidade de um 
horizonte de conversação alternativa; de indicar que a violência 
religiosa não faz parte da essência da religião, mas constitui 
um desvio ou traição do dinamismo mais profundo que anima a 
relação do ser humano com o Absoluto.
O principal desafi o está relacionado com a história das religiões, em que 
elas se detêm nos confl itos como a hostilidade, o fanatismo, agressões e ódio. As 
perseguições religiosas foram e ainda são signifi cativas no Brasil, e em diversos 
casos, as atitudes de extremismo e exclusão apoiaram-se em sentimentos 
enraizados de superioridade, arrogância identitária e pretensão exclusiva de 
verdade, que impossibilitam qualquer exercício de fraternidade mútua. Em 
função disso, Teixeira (2002, p. 156) extrai que “em razão e sua inserção 
histórica, as religiões podem, contrariando a sua motivação original, exercer uma 
“instrumentalização do sagrado” em favor da afi rmação de seu poder particular 
com respeito aos outros”. 
Considerando o contexto, signifi cado e gênese do diálogo inter-religioso, 
acrescenta Teixeira (2017, p. 2):
Na década de 80 pode-se registrar um evento que foi 
paradigmático para o diálogo inter-religioso. Trata-se da 
Jornada Mundial de Oração pela Paz, realizada na cidade de 
Assis (Itália), em 1986, sob a iniciativa do papa João Paulo II. 
Reuniram-se em Assis inúmeros cristãos das tradições católico-
romana, ortodoxa e protestante, budistas, judeus, muçulmanos 
e representantes das religiões tradicionais da África e América. 
Este evento signifi cou uma novidade no campo da experiência 
inter-religiosa, uma iniciativa histórica de grande alcance, 
e que até hoje setores do vaticano não conseguem digerir 
com facilidade. A unidade das religiões estava agora sendo 
construída e fi rmada em torno da oração em favor da paz.
A Jornada Mundial de Oração pela Paz passa a ser um marco tanto temporal 
quanto material do diálogo inter-religioso. A partir deste evento, uma série de 
109
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
outros encontros inter-religiosos vêm ocorrendo em todo o mundo, com o intuito 
de sinalizar a força das práticas comuns e das experiências espirituais partilhadas. 
Fica mais evidente do que nunca, que as pessoas passam de uma consciência 
cósmica, imersa no cosmos, a uma consciência refl exiva, de uma consciência 
submersa no grupo e no coletivo a uma consciência de identidade individual 
(BORGES, 2010).
As variantes que defi nem o diálogo inter-religioso são constituídas a partir 
das relações sociais diante do espaço-tempo em que a sociedade está inserida. 
No entanto, ela continua tendo um propósito: respeito recíproco entre todas as 
religiões. Isso é visto como um desafi o e ao mesmo tempo uma possibilidade que 
resultaria na anulação “total” dos confl itos que se estendem até os dias de hoje.
Entendendo que a questão do inter-religioso é um desafi o porque o diferente 
sempre traz incertezas e receios, também faz com que as tradições hegemônicas 
religiosas sejam questionadas desestabilizando as verdades, dogmas, normativas 
estabelecidas, ocasionando a tendência de sempre afi rmar sua identidade em um 
processo contínuo de construção. Nesse sentido, retoma-se as palavras de Wolff 
(2015, p. 85), que nos explica:
Vivemos em uma sociedade eminentemente plural em todas 
as suas expressões socioculturais e religiosas. Por um lado, 
essa pluralidade é expressão da riqueza do espírito humano e 
de seus múltiplos valores. Possibilita ampliação dos horizontes 
da existência individual e coletiva, progressos que qualifi cam o 
ato de viver, superação de carências e de males que afl igem 
a humanidade. Por outro lado, a realidade plural apresenta 
também desafi os para a manutenção do sentido de totalidade 
do real, do conjunto da vida humana e social. Tal desafi o faz-se 
sentir, sobretudo, onde imperam tendências de subjetivismo, 
individualismo e pragmatismo na condução da existência, o 
que implica fragmentação na compreensão da realidade, das 
relações e das experiências.
Considerando toda história da sociedade, em nenhum momento 
histórico anterior, as religiões se viram tão vizinhas umas às outras, devendo 
reciprocamente se reconhecerem e se respeitarem. Consequentemente, a cada 
seguimento religioso é imposta a inevitável tarefa de integrar em sua respectiva 
autocompreensão às demais manifestações religiosas. Diante disso, Wolff (2015, 
p. 90-91) destaca:
O encontro entre as religiões é o encontro entre seus 
signifi cados espirituais para a vida das pessoas. As religiões 
precisam encontrar-se naquilo que realmente conta para os 
crentes. Nisso está o desafi o para as religiões promoverem, 
juntas, o espírito humano e alargarem seu universo simbólico. 
Isso se dá pela observação dos valores, direitos e obrigações 
110
 MATriZES RELiGioSAS
que sustentam sua dignidade, como a justiça, a solidariedade, 
a amizade, a paz. É preciso fazer da afi rmação religiosa uma 
afi rmação apaixonada do ser humano. 
Entendendo que ainda há uma certa alusão de que as religiões hegemônicas 
dominam o espaço religioso, os padrões normativos que regem a estrutura da 
sociedade são voltados a elas. As afi rmações religiosas das heterogêneas são 
compostas por construções de espacialidades múltiplas que defi nem os seus 
limites enquanto dogmas. O diálogo inter-religioso pode quebrar essas barreiras 
que impedem as religiões subalternas de produzirem não apenas espaços 
religiosos, mas também um espaço de sociabilidade entre grupos diversos.
Miranda (1997, p. 34) comenta que:
Limitando-nos ao cristianismo, observamos que a questão 
posta pelas outras religiões eclodiu diversamente, ao longo 
dos séculos, na consciência cristã. De um juízo duro e negativo 
com relação às religiões «pagãs» passou-se a uma maior 
preocupação com o indivíduo pertencente a outra tradição 
religiosa, sobretudo no que dizia respeito à sua salvação 
(grifos do autor).
Apesar da citação acima ser da década anterior, ela ainda se torna pertinente 
para o entendimento multifacetário do diálogo e as religiões. Ele não fala, 
especifi camente, em fragmentação, porém o fenômeno religioso nos dias de 
hoje tem sofrido constantes infl uências de um hibridismo cultural acentuado. A 
preocupação da “salvação do outro” é o começo de uma interação em religiões e 
o que determina maior diálogo é a questão de “ver o diferente”.
Para que haja um início de sociabilidade entre seguimentos religiosos, Sousa 
(2020, p. 243) destaca:
[...] é necessária uma apresentação primeiro da espiritualidade 
e só depois da religião, uma religião que seja capaz realmente 
de “religar” o imanente com o transcendente e que valorize o 
clima de liberdade, de diversidade religiosa e de abertura ao 
pluralismo cultural, ao diálogo inter-religioso, portanto, uma 
prática religiosa que não esteja presa ao peso da instituição, da 
estruturae da hierarquia, muito embora não deva ser à revelia 
dessas.
Valorizar a liberdade, a diversidade religiosa, a pluralidade cultural, são 
variáveis fundamentais para que o diálogo inter-religioso passe a ser uma 
consequência social. Dessa forma, a função social da religião se reitera como 
sendo uma prática social que transcende o imaginário subjetivo. Devemos 
considerar também, que vivemos em uma sociedade impregnada nas ações 
de consumo e globalizada, o que especifi ca que a mesma se torne alienada na 
111
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
própria construção do seu cotidiano. Nesse sentido, é importante deixar claro que 
o intuito do diálogo inter-religioso, em termos teológicos, segundo Miranda (1997, 
p. 34), consiste:
[...] em determinar o fundamento mesmo de sua existência, 
que não pode ser apenas de ordem extrínseca ou funcional, 
enquanto favorece a paz no mundo. Devemos, portanto buscar 
o solo comum a todas as religiões, que seja de caráter intrínseco 
e substantivo, e que demonstre ser o diálogo, ou o respeito e 
acolhimento do outro, não apenas uma postura política ou de 
boa educação, mas a atitude correta e necessária. Além disso, 
a colaboração das religiões pela paz, pela justiça ou pela vida, 
porá, mais cedo ou mais tarde, a questão sobre Deus e sua 
ação no ser humano (grifos do autor).
Já comentamos que o ser religioso é constituído de suas experiências e 
vivências cotidianas, e isso pode ser a base comum do diálogo inter-religioso, 
pois parte da própria estrutura do ser humano, ou seja, como de um ser aberto 
para uma realidade que o transcende. Pode-se dizer que estas estruturas se 
farão atuante e presentes no ser humano diversamente, conforme os diferentes 
contextos sócio-culturais-religiosos, em que estão integrados. Wolff (2015, p. 92) 
discute:
Tanto o conteúdo quanto a linguagem da religião são objetos do 
diálogo entre as diferentes tradições religiosas e, não raro, são 
motivos de tensões e confl itos. Mas podem ser também vias de 
encontro entre as religiões à medida que possibilitam sintonias 
das espiritualidades que sustentam cada expressão religiosa. 
A espiritualidade aponta para uma superabundância de sentido 
que provoca as religiões para uma atitude de acolhida mútua 
no horizonte do Mistério que se revela para além de cada uma 
delas. Na dimensão espiritual as religiões se encontram. Daí a 
necessidade de as religiões colocarem seus conteúdos, seus 
símbolos e suas linguagens religiosas à disposição umas das 
outras, num intercâmbio espiritual crítico que lhes possibilite 
crescerem, juntas, na compreensão da Verdade sobre o Deus 
que as ampara e fundamenta. 
Nesta perspectiva de diálogo, não se trata de afi rmar que uma experiência 
espiritual ou uma religião que a possibilita é “mais” verdadeira que as outras, mas 
sim considerar que em um mundo multirreligioso e multicultural, assim como os 
princípios e dogmas religiosos não são únicos, também a interação sociedade-
religião se dá de modo diferente em cada contexto espacial.
Diante disso, um dos desafi os está em construir uma cultura comum que 
reúna não só a riqueza dos diversos valores sociais, mas também as múltiplas 
inspirações religiosas desses valores, não numa mesclagem indistinta, mas numa 
unidade estruturada e diferenciada que respeite a identidade de cada elemento 
(AMALADOSS, 1996). 
112
 MATriZES RELiGioSAS
A ideia é de que o diálogo inter-religioso ocorra entre fi éis que estão 
enraizados e que tenham assumido o compromisso com sua própria fé, 
porém igualmente disponíveis ao aprendizado com a diferença. Em nível mais 
existencialista, compartilhar o diálogo é disponibilizar-se a entrar em uma 
conversação de diferentes temas (no caso, diferenças religiosas), o que signifi ca 
viver uma experiência de fronteira ou experiência transcendente. Amaladoss 
(1996, p. 15) considera que o diálogo inter-religioso se trata de desenvolver uma: 
[...] cultura pluralista que seria, ao mesmo tempo, uma e 
muitas, uma variedade na unidade, tendo as várias religiões 
o direito à auto-expressão, respeitando-se umas às outras e 
lutando juntos pelo estabelecimento de uma dimensão comum 
para sua cultura comum. Somente o diálogo religioso sincero 
e autêntico, que já foi além da mera tolerância e coexistência 
pacífi ca, pode fazer isso.
É um dos objetivos do diálogo inter-religioso, então, traduzir a riqueza de 
um novo aprendizado ou ainda, traduzir os elementos culturais de um novo 
aprendizado, conduzindo que a relação com a diferença e a alteridade signifi ca que 
pode haver a apropriação de outras possibilidades e a abertura de transformação 
entre as religiões.
Em resumo, o diálogo inter-religioso envolve uma reunião entre participantes 
de diferentes tradições religiosas e acontece em diversos níveis ou formas. 
Independentemente da maneira em que se consolida, a prática do diálogo traduz 
um espírito de abertura, hospitalidade e cuidado, ou seja, o diálogo refere-se a um 
caráter particular de ação. O esquema a seguir pode ser a base de como funciona 
a dinâmica do diálogo inter-religioso:
FIGURA 12 – DINÂMICA BASE DO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
FONTE: A autora
113
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
A função do intérprete é fundamental para que o diálogo inter-religioso garanta 
o alcance dos objetivos propostos. Neste sentido, enfatizar sua competência é 
uma forma de garantir que todas as características e traduções sobre a religião 
em que se propõem seja condizente ao que é real. Mas ele também tem a tarefa 
de achar o melhor entendimento de determinadas “falas” para todos os presentes. 
É dele a responsabilidade de todos os integrantes da conversação entenderem o 
processo pelo qual estão ali reunidos. 
A partir daqui, há importantes consequências para o diálogo inter-religioso. 
Este diálogo congrega um espaço em um grupo de pessoas, suas crenças 
distintas, já estão ligadas entre si. Apesar da diferença das suas pertenças 
e costumes religiosos, essas pessoas já se encontram em sociabilidade umas 
com as outras, embora se mantenha entre elas uma distinção de nível religioso, 
independente de hierarquias.
Dupuis (2002, p. 69) destaca:
No presente contexto do pluralismo religioso, o diálogo inter-
religioso tornou-se de primordial importância para a vida do 
mundo. Para que este diálogo possa ser frutuoso é necessário 
que os cristãos tenham uma avaliação positiva das outras 
tradições religiosas. Impõe-se acrescentar que, na actual 
situação do mundo, o diálogo se torna ainda mais imperativo. 
Os recentes acontecimentos que sacudiram o mundo, e que 
continuam a perturbá-lo tão profundamente, são disso prova 
chocante. O mundo parece incapaz de manter a paz entre 
os povos: por outro lado, as religiões, que deveriam ser um 
elemento conducente à paz universal, foram as mais das 
vezes utilizadas ao longo da história para promover confl itos e 
guerras entre os povos.
Dupuis, em 2002, parecia prever que quase duas décadas após seu artigo 
publicado, o diálogo inter-religioso ainda seria uma das principais contribuições 
em nível mundial para a harmonia religiosa. Neste sentido, é imprescindível dizer 
que para garantir a paz no mundo, é necessário um diálogo inter-religioso aberto, 
teologicamente fundado em uma avaliação positiva das tradições religiosas. Não 
se pode negar que através dos séculos o cristianismo manteve, repetidamente, 
uma avaliação negativa das outras religiões, levando a atitudes igualmente 
negativas a respeito dos seus fi éis. O autor vai mais além quando fala que:
O mundo pluri-étnico, pluricultural e pluri-religioso do nosso 
tempo, requer, de todas as partes, um «salto de qualidade» 
proporcional à situação, se desejamos fruir de relações mútuas 
positivas e abertas, caracterizadas pelo diálogo e colaboração 
entre os povos, as culturas e as religiões do mundo. Nada 
menos que uma verdadeira conversão das pessoas e gruposreligiosos será sufi ciente para levar à paz entre as religiões, 
sem a qual - como foi recordado atrás - não pode haver paz 
entre os povos (DUPUIS, 2002, p. 71, grifos do autor).
114
 MATriZES RELiGioSAS
A principal exigência do diálogo inter-religioso, é o acolhimento sem restrições 
dos outros na sua diferença, ou seja, sem ser baseado na sua identidade. O 
desafi o, mas também o ponto alto dessa ação, consiste nesse acolhimento dos 
outros nas suas diferenças. A experiência do outro é levada em consideração sem 
ser vista como algo errado, mas sim uma forma diferente de manifestar sua fé.
Diante de tudo, ainda ressaltamos que a própria tradição de diversas 
religiões traz em seu núcleo a separação das demais religiões, não somente no 
cristianismo, mas em várias outras religiões. Por mais que o diálogo inter-religioso 
seja fundamental e vem aumentando gradativamente no mundo, não é preciso 
que as comunidades religiosas abdiquem de suas características, as quais as 
fazem específi cas e distintas perante as outras. Não é necessário um sincretismo 
absoluto das religiões para haver o diálogo, pois o que se busca, na realidade, é 
a harmonia religiosa e diminuição da intolerância e preconceito com as culturas 
diferentes.
Partindo da premissa da função do diálogo inter-religioso, 
devemos nos questionar se é possível, e até que ponto, partilhar 
fés religiosas diferentes, fazendo da sua vivência cada uma delas 
e vivendo-as em simultâneo na sua própria vida religiosa. Isso seria 
possível? Vale a refl exão.
BORGES, Anselmo. Religião e diálogo inter-religioso. 
Coimbra – Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010.
115
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
Prolongando um pouco mais este tópico, podemos acrescentar algumas 
considerações acerca do preconceito e da intolerância religiosa que são 
características presentes no Brasil. Isso é resultado da pluralidade cultural, no 
entanto, mesmo com a ideia de culturas diferentes, estas duas ações continuam e 
continuarão sendo uma das maiores causas de discussão, não apenas na mídia, 
mas dentro da própria academia.
Para que fi que claro, é interessante diferenciar preconceito de intolerância. 
Em resumo, preconceito é caracterizado como qualquer opinião ou sentimento 
concebido sem uma análise crítica. Já a intolerância pode ser defi nida ou entendida 
como sendo a recusa de determinado pensamento, ação ou da convivência com 
determinados grupos sociais, incluindo os religiosos e culturais.
Nesse sentido, trazendo para nossa realidade de estudos, reafi rmamos que 
religião é uma prática social, e evidenciamos ainda mais com as palavras de 
Oliveira (1995, p. 117):
Desde as antigas civilizações, percebe-se o culto ao 
sobrenatural como algo muito importante, mostrando que 
o espírito de religiosidade acompanha o homem desde os 
primórdios. Cada povo tem sua cultura própria, tem o culto 
ao sobrenatural como motivo de estabilidade social e de 
obediência às normas sociais. As religiões, as liturgias variam, 
mas o aspecto religioso é bem evidente. O homem procura algo 
sobrenatural que lhe transmita paz de espírito e segurança; A 
religião sempre desempenha função social indispensável.
Se a religião é indispensável na construção do ser social, ela é uma prática 
que constrói a sociedade em diferentes escalas. O maior discurso das religiões, no 
geral, considera a sociedade livre e voluntária, e nenhuma pessoa nasce dentro 
de alguma religiosidade, ela torna-se religiosa da religião que mais se identifi ca, 
ou seja, nenhuma pessoa está subordinada por natureza a nenhuma crença. 
Sendo assim, práticas sociais tendem a ter rizomas nem sempre favoráveis 
na construção social, e um dos elementos resultantes dessa rizomática cadeia 
social está o preconceito e intolerância religiosa. Tendemos a olhar com certa 
“discriminação” o diferente, e por isso que essas duas práticas são resultantes de 
uma construção social, igual ao machismo, homofobia, xenofobia etc. 
Considerando a intolerância religiosa, podemos pensar que cada religião, 
quanto mais fragmentada, menor a chance de ela sofrer por conta de algum 
tipo de preconceito, pois essa fragmentação as enfraquece, deixando aberto um 
diálogo entre o que foi fragmentado. 
Combater a intolerância religiosa nos dias atuais tem sido uma tarefa 
constante e persistente. Apesar de haver medidas intervencionistas para essas 
116
 MATriZES RELiGioSAS
práticas – como na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu art. 18, 
que contempla a liberdade religiosa e o direito da transmissão da fé – ainda é 
muito incipiente e necessita de uma visão maior por parte da sociedade. O Código 
Penal brasileiro, por exemplo, em seu art. 208, garante punição àquele que ferir 
os direitos à liberdade de crença de outrem, mas nem sempre as pessoas vítimas 
de intolerância religiosa sabem desse direito, principalmente as comunidades 
marginais que são adeptas às religiões não hegemônicas. 
Com o acesso à informação mais rápida, como a internet, isso tem mudado 
e alcançado importantes índices de combate a essas práticas, via mídia e redes 
sociais. As leis passaram a se espalhar entre as comunidades religiosas, no 
entanto, ainda não se conhece exatamente o poder de harmonia que essas ações 
podem resultar sendo concretizadas, pois mesmo que as vítimas da intolerância 
religiosa também encontrem amparo na Lei 9.459/1997, que altera o art. 1º e 20 
da Lei 7.716/1989 e defi ne o crime de intolerância religiosa, essas medidas nem 
sempre são tomadas por inúmeros motivos, entre eles, as religiões hegemônicas 
que se consideram detentoras da verdade e impõem-se sobre outras com 
característica egocêntrica.
Diante da liberdade de expressão religiosa, a própria existência da prática da 
intolerância é considerada uma raiz do preconceito – as duas estão intrinsicamente 
relacionadas – e ela vem em diferentes formas, sendo elas as verbais, físicas 
e psicológicas. A própria marginalização e localizações periféricas podem ser 
formas de resistência diante dessas práticas. Um exemplo muito comum são as 
religiões de origem afro no geral, que estão às margens da sociedade no geral, 
algumas por ser um mecanismo de resistência e permanência das mesmas 
no espaço. Aquele velho ditado popular: o que não é visto, não é lembrado. E 
vale para outras religiões que seguem esses parâmetros de invisibilidade para 
continuarem existindo espacialmente, diante de opressões, violência, preconceito, 
intolerância surgidas por outros grupos religiosos.
Essas religiões subjacentes tendem a ter maior índice de intolerância 
religiosa, pois a própria construção da sua manifestação espacial pode ter 
sido resultante deste processo. E voltamos a questão sobre algumas crenças 
“relativamente novas” aos olhos da sociedade. Seriam elas, novas ou apenas 
invisibilizadas e mal compreendidas diante do espaço-tempo em que o fenômeno 
religioso entra em evidência? Essa é uma questão que pode ser compreendida 
quando nós mesmos olhamos para nosso espaço particular e aumentamos 
nosso questionamento acerca do nosso lugar de vivência. É uma tarefa particular 
analisar isso dentro do nosso pensamento empírico e crítico, pois é assim que 
percebemos a realidade das religiões diferentes e passamos a considerar as 
manifestações iguais, sem intervir de forma negativa e considerando legítimas 
todas as possibilidades culturais que nos é mostrada no espaço. 
117
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
1) A partir do texto sobre o diálogo inter-religioso, quais funções 
você acredita que ele possa exercer sobre a sociedade nos dias 
atuais?
2) Marx, Weber, Durkheim, Eliade são pensadores sobre a sociologia 
das religiões. A abordagem que não está dentro de suas obras é:
a) ( ) Religião e sociabilidade.
b) ( ) Cultura e religião.
c) ( ) Religião e tecnologia.
d) ( ) Novos movimentos religiosos e diálogo inter-religioso.
3)Quais são os três maiores centros religiosos populares do Brasil?
a) ( ) Basílica Nossa Senhora Aparecida (SP), Memorial Padre 
Cícero (CE) e Basílica Nossa Senhora Medianeira (RS).
b) ( ) Basílica Nossa Senhora Aparecida (SP), Memorial Padre 
Cícero (CE) e Santuário de Santa Paulina (SC).
c) ( ) Basílica Nossa Senhora Medianeira (RS), Igreja matriz dos 
santos Cosme e Damião (PE) e Igreja Nossa Senhora Santana 
(BA).
d) ( ) Basílica Nossa Senhora Aparecida (SP), Igreja matriz dos 
santos Cosme e Damião (PE) e Igreja Nossa Senhora Santana 
(BA).
e) ( ) Basílica Nossa Senhora Medianeira (RS), Igreja matriz dos 
santos Cosme e Damião (PE) e Memorial Padre Cícero (CE).
4) Sobre as expressões religiosas contemporâneas é correto afi rmar 
que:
a) ( ) Estão atreladas à manifestação no espaço.
b) ( ) Não estão relacionadas ao processo de povoamento do 
Brasil.
c) ( ) Tem como função a aproximação da religião e pessoas na 
pandemia.
d) ( ) Estão relacionadas ao meio técnico-científi co-informacional.
e) ( ) Não estão integradas à organização espacial atual.
5) Com base no texto, o conhecimento religioso se insere no 
campo das práticas sociais, entre outros saberes, principalmente 
o popular. Nesse sentido, ele se torna muito próximo do 
118
 MATriZES RELiGioSAS
conhecimento teológico, que por sua vez se estabeleceu 
historicamente como estudo sistemático dos aspectos das 
experiências religiosas. A principal diferença entre conhecimento 
religioso e o conhecimento teológico está na:
a) ( ) Criticidade.
b) ( ) Autenticidade.
c) ( ) Autoridade.
d) ( ) Epistemologia.
e) ( ) Historicidade.
6) As religiões têm grande preocupação em trabalhar o ecumenismo 
e o diálogo inter-religioso. Em relação a esses conceitos, é 
correto afi rmar: 
a) ( ) O ecumenismo é a busca do convencimento das religiões 
através do confronto; o diálogo inter-religioso é a soberania de 
algumas igrejas cristãs. 
b) ( ) O ecumenismo é a busca da unidade entre as igrejas cristãs; 
o diálogo inter-religioso é o processo de entendimento mútuo no 
qual estão envolvidas outras religiões. 
c) ( ) O ecumenismo é a convergência entre as religiões; o diálogo 
inter-religioso é a revelação das religiões. 
d) ( ) O ecumenismo é o processo de entendimento mútuo no qual 
estão envolvidas todas as religiões; o diálogo inter-religioso é a 
vivência dogmática de uma religião.
e) ( ) O ecumenismo é a busca pela hegemonia das religiões 
cristãs; o diálogo inter-religioso é uma prática que não envolve 
mais de uma religião.
7) Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, o autor faz 
uma relação de uma sociedade que vai se desligando da religião 
e o efeito na economia. A autoria dessa obra é de:
a) ( ) Bertrand Russel. 
b) ( ) Max Weber. 
c) ( ) Émile Durkheim. 
d) ( ) Karl Marx.
e) ( ) Mircea Eliade
119
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
8) Sobre religião e tecnologia é correto afi rmar que:
a) ( ) A aproximação da religião com novas tecnologias está 
ampliando a forma com que as pessoas acessam, ensinam ou 
compartilham seu modo de vida religioso.
b) ( ) A íntima ligação entre religião e tecnologia não atinge 
diretamente a forma como as pessoas aprendem e disseminam 
sobre a sua religião, compartilhando conhecimentos, experiências 
com pessoas de qualquer lugar do mundo.
c) ( ) A rede que se forma através da comunicação em massa não 
se torna efi caz do espaço virtual.
d) ( ) Religião, tecnologia e diálogo inter-religioso não são temas 
emergentes na atualidade.
e) ( ) O binômio religião-tecnologia sempre foi discutido dentro da 
sociologia das religiões.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Interessante observar que as manifestações das religiões em um contexto 
geral acabam por delimitarem uma forma expressiva que transcende muitas outras 
religiosidades. Esse processo de absorção de elementos religiosos pressupõe que 
no Brasil, difi cilmente, iremos ver uma matriz religiosa original, pois mesmo que 
não seja perceptível, até as religiões hegemônicas sofrem infl uência das culturas 
dominadas ao longo do tempo. 
Por mais que seja um processo sutil e extremamente lento, ele existe. Pode 
levar mais de uma geração para a “transformação”. E isso imbrica muito de como 
as pessoas cultuam e manifestam suas crenças no espaço. Ao término desse 
trabalho, provavelmente já aparecerá outras formas de expressão religiosa em 
algum lugar que ainda não poderemos identifi car, no entanto, somos capazes 
de colocar nossos “óculos acadêmicos e científi cos” para conhecer o máximo de 
conteúdo sobre essas expressões.
Em relação ao que chamamos de diálogo inter-religioso, podemos acrescentar 
que em tese, ele é uma possível ferramenta social para barrar o preconceito 
religioso, pois havendo um consenso de que todas as religiões são verdadeiras, 
a própria construção de sociabilidade entre grupos sociais diversos passa a ser 
a grande chave de signifi cação do que é viver em sociedade de fato. O resultado 
desses diálogos tende a ser pacifi sta e harmonioso, e como a religião é a principal 
formadora de seres sociais (ou pelo menos a primeira), e que estrutura normativas 
120
 MATriZES RELiGioSAS
REFERÊNCIAS
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Paulo: Paulinas, 1996.
BORGES, A. Religião e diálogo inter-religioso. Coimbra – Portugal: Imprensa 
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CAMARGO, H. L. Patrimônio histórico e cultural. 2. ed. São Paulo: Aleph, 
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DUPUIS, J. O diálogo inter-religioso numa sociedade pluralista. Didaskalia, v. 
XXXII, Fasc.1, 2002, p. 69-81.
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para a estrutura social, é possível acreditar que as comunidades passem a viver 
respeitando a cultura, crença e até mesmo ideologias uma das outras.
Ao término destas páginas, espera-se que elas tenham contribuído para uma 
visão sistêmica, que seja capaz de debater, problematizar e posicionar-se aos 
discursos e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, 
considerando principalmente, a heterogeneidade religiosa do Brasil.
121
A RELIGIOSIDADE NA ATUAL CONFIGURAÇÃO SOCIOCULTURAL Capítulo 3 
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