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A Editora Forense passou a publicar esta obra a partir da 11.ª edição. Capa: Danilo Oliveira Foto: Ints Vikmanis/Shutterstock ■ ■ ■ Produção Digital: Equiretech Fechamento desta edição: 08.11.2016 CIP – Brasil. Catalogação na fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Tartuce, Flávio Direito civil, v. 2: direito das obrigações e responsabilidade civil / Flávio Tartuce; 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. Bibliografia ISBN 9788530974084 1. Direito civil. 2. Obrigações (Direito). 3. Responsabilidade (Direito). I. Título. II. Título: Direito das obrigações e responsabilidade civil. 073590. CDU: 347.4(81) “A ti ó Passos, querida, rica terra e florida, na força da mocidade” BENEDITO MUSTAFÉ (Zé das Pronúncias) in memoriam. Poesia Cabocla NOTA DO AUTOR À 12.A EDIÇÃO O ano de 2016 foi muito importante para esta série bibliográfica. Com o secular selo da Editora Forense, a obra passou a ser ainda mais adotada em todos os níveis do ensino jurídico do País, multiplicandose as citações em outros trabalhos e em decisões judiciais. Porém, como tenho destacado em minhas falas, um dos grandes desafios em se escrever obras jurídicas no Brasil neste século XXI é mantêlas atualizadas. E, no caso desta coleção, uma das suas marcas é justamente a atualização legislativa, doutrinária e jurisprudencial. Ciente desse desafio, tivemos muito trabalho no ano de 2016, especialmente nos seus últimos meses, pois fomos surpreendidos por duas decisões revolucionárias do Supremo Tribunal Federal, com grande impacto para esta coleção, especialmente para os Volumes 5 e 6, que tratam do Direito de Família e das Sucessões, respectivamente. A primeira delas é o acórdão sobre a parentalidade socioafetiva e a multiparentalidade, em repercussão geral, prolatado no julgamento do Recurso Extraordinário 898.060/SC, tendo como relator o Ministro Luiz Fux, julgado em 21 de setembro de 2016 e publicado no Informativo n. 840 da Corte. Conforme a tese ali firmada, “a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante, baseada na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”. Antes disso, ao final de agosto de 2016, a mesma Corte Superior iniciou o julgamento sobre a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil, que trata da sucessão do companheiro. Já com sete votos, e igualmente com repercussão geral, os Ministros concluíram que deve haver equiparação sucessória entre o casamento e a união estável, reconhecendo a inconstitucionalidade da citada norma (STF, Recurso Extraordinário 878.694/MG, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, j. 31.08.2016). A conclusão prevalecente foi no sentido de incluir o companheiro no rol do art. 1.829 do Código Civil, ao lado do cônjuge, retirandose do sistema a regra específica sobre a sucessão do convivente. O julgamento ainda não foi encerrado, pois o Ministro Dias Toffoli pediu vistas dos autos. Porém, esta edição da coleção, especialmente os Volumes 5 e 6, já considera a tese apontada como a solução definitiva, sendo a tendência a equiparação total das entidades familiares, inclusive para fins de Direito de Família e de Direito Contratual. Além dos comentários às duas impactantes decisões superiores, a Edição 2017 desta Coleção de Direito Civil traz outras novidades. A respeito do tão comentado e criticado Estatuto da Pessoa com Deficiência, incluímos anotações sobre o Projeto de Lei 757/2015, em trâmite no Senado Federal, que tende a corrigir alguns equívocos da norma, especialmente em relação ao Novo CPC, e que conta com o nosso parecer de apoio parcial. Também foram incluídos alguns julgados estaduais sobre o EPD, com reflexões iniciais interessantes. Quanto à jurisprudência, acrescentamos os principais arestos do Superior Tribunal de Justiça, publicados em seus Informativos. Como outra novidade de relevo, consolidamos a inclusão das ementas publicadas na ferramenta Jurisprudência em Teses, do Tribunal da Cidadania, as quais têm força vinculativa pelo Novo CPC, aos advogados (art. 332) e aos juízes de primeira e de segunda instância (art. 489). Foram também inseridos novos julgamentos estaduais e novas obras doutrinárias. A coleção traz, ainda, reflexões inéditas deste autor, inclusive sobre novas tecnologias e sobre fenômenos jurídicos atuais, como o UBER, a responsabilidade digital e o testamento afetivo. Constam alguns institutos e conceitos do Direito alemão, pela afeição crescente que tenho encontrado com a língua. Entre eles, vale conferir a inclusão da Nachfrist, nos conceitos parcelares da boafé objetiva, no Volume 3. Espero que esta nova versão da coleção seja bem recebida pelo meio jurídico brasileiro, a exemplo das antecessoras, e que continue servindo de apoio a estudantes de Direito, advogados, procuradores, julgadores e professores. Gostaria, por fim, de agradecer à minha família, especialmente à minha princesa Leia e aos meus filhos Enzo e Laís (agora estudante de Direito na tradicional Universidade Mackenzie). Agradeço, ainda, aos meus alunos de todos os níveis de ensino jurídico, pelo constante aprendizado, desde a graduação até o doutorado. Minhas palavras derradeiras de gratidão aos meus irmãos civilistas, que compõem a Confraria dos Civilistas Contemporâneos. Os debates que travamos nos últimos anos foram fundamentais para a atualização desta coleção. Muito obrigado! Vila Mariana, São Paulo, novembro de 2016. 1. 1.1 1.1.1 1.1.2 1.1.3 1.2 1.3 1.4 1.4.1 1.4.2 1.4.3 1.4.4 1.5 1.6 1.7 SUMÁRIO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES A RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL E O CÓDIGO CIVIL DE 2002 O conceito de obrigação e seus elementosconstitutivos Elementos subjetivos da obrigação Elemento objetivo ou material da obrigação Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação Diferenças conceituais entre obrigação, dever, responsabilidade, ônus e estado de sujeição As fontes obrigacionais no direito brasileiro Os atos unilaterais como fontes do direito obrigacional Da promessa de recompensa Da gestão de negócios Do pagamento indevido Do enriquecimento sem causa Dos títulos de crédito como fonte das obrigações civis. Pequena abordagem Resumo esquemático Questões correlatas Gabarito Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 9 Flávio Tartuce 2. 2.1 2.2 2.2.1 2.2.1.1 2.2.1.2 2.2.2 2.2.3 2.3 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.3.1 2.3.3.2 2.3.3.3 2.3.3.4 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13 PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES Introdução Classificação quanto ao conteúdo do objeto obrigacional Obrigação positiva de dar Obrigação de dar coisa certa (arts. 233 a 242 do CC) Obrigação de dar coisa incerta (arts. 243 a 246 do CC) Obrigação positiva de fazer Obrigação negativa de não fazer Classificação quanto à presença de elementos obrigacionais Considerações iniciais Das obrigações compostas objetivas Das obrigações compostas subjetivas. As obrigações solidárias Regras gerais Da obrigação solidária ativa (arts. 267 a 274 do CC) Da obrigação solidária passiva (arts. 275 a 285 do CC) Da obrigação solidária mista ou recíproca Classificação quanto à divisibilidade (ou indivisibilidade) do objeto obrigacional Classificação quanto ao conteúdo Classificação quanto à liquidez Classificação quanto à presença ou não de elemento acidental Classificação quanto à dependência Classificação quanto ao local para cumprimento Classificação quanto ao momento para cumprimento Outros conceitos importantes. Obrigação propter rem e obrigação natural Resumo esquemático Questões correlatas Gabarito Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 10 Flávio Tartuce 3. 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 4. 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 4.10 4.11 4.12 4.13 5. DO ADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL – TEORIA DO PAGAMENTO (PRIMEIRA PARTE) Introdução Elementos subjetivos do pagamento direto. O solvens e o accipiens Do solvens ou “quem deve pagar” Do accipiens ou “a quem se deve pagar” Do objeto e da prova do pagamento direto (elementos objetivos do pagamento direto) Do lugar do pagamento direto Do tempo do pagamento Resumo esquemático Questões correlatas Gabarito DO ADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL – TEORIA DO PAGAMENTO (SEGUNDA PARTE) Introdução Do pagamento em consignação (ou da consignação em pagamento) Da imputação do pagamento Do pagamento com subrogação Da dação em pagamento Da novação Da compensação Da confusão Da remissão de dívidas Os novos tratamentos legais da transação e do compromisso (arbitragem) Da extinção da obrigação sem pagamento Resumo esquemático Questões correlatas Gabarito DO INADIMPLEMENTOOBRIGACIONAL. DA Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 11 Flávio Tartuce 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 5.8 5.9 5.10 6. 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 7. 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 7.5.1 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL Conceitos iniciais Da mora. Regras gerais Da purgação da mora Do inadimplemento absoluto da obrigação Dos juros remuneratórios e moratórios Da cláusula penal Das arras ou sinal Das preferências e privilégios creditórios Resumo esquemático Questões correlatas Gabarito A TRANSMISSIBILIDADE DAS OBRIGAÇÕES NO CÓDIGO CIVIL DE 2002. CESSÃO DE CRÉDITO, CESSÃO DE DÉBITO E CESSÃO DE CONTRATO Introdução Da cessão de crédito Espécies ou modalidades de cessão de crédito Da cessão de débito ou assunção de dívida Da cessão de contrato Resumo esquemático Questões correlatas Gabarito RESPONSABILIDADE CIVIL APONTAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS Breve esboço histórico da responsabilidade civil. Da responsabilidade subjetiva à objetivação A Responsabilidade Pressuposta A responsabilidade civil e o Direito Civil Constitucional O conceito de ato ilícito O abuso de direito como ato ilícito O art. 187 do CC. Conceito, exemplos e consequências Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 12 Flávio Tartuce 7.5.2 7.5.3 7.5.4 7.5.5 7.5.6 7.5.7 7.6 7.7 8. 8.1 8.2 8.3 8.3.1 8.3.2 8.4 8.5 8.5.1 8.5.2 8.5.2.1 8.5.2.2 8.5.2.3 8.5.2.4 8.5.3 práticas A publicidade abusiva como abuso de direito As práticas previstas no Código de Defesa do Consumidor e o conceito do art. 187 do CC O abuso de direito e o Direito do Trabalho A lide temerária como exemplo de abuso de direito. O abuso no processo O abuso do direito de propriedade. A função socioambiental da propriedade Spam e abuso de direito Resumo Esquemático Questões correlatas Gabarito ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL OU PRESSUPOSTOS DO DEVER DE INDENIZAR Visão geral estrutural Conduta humana como elemento da responsabilidade civil A culpa genérica ou lato sensu Do dolo Da culpa estrita ou stricto sensu O nexo de causalidade Dano ou prejuízo Danos patrimoniais ou materiais Danos morais Danos morais × transtornos. A perda do tempo útil e o crescimento da tese da responsabilidade civil sem dano Danos morais da pessoa jurídica Natureza jurídica da indenização por danos morais Critérios para a quantificação dos danos morais. Algumas tentativas concretas Os novos danos. Danos estéticos, danos por perda de uma chance, danos morais coletivos e danos sociais ou Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 13 Flávio Tartuce 8.5.3.1 8.5.3.2 8.5.3.3 8.5.3.4 8.5.4 8.6 8.7 9. 9.1 9.2 9.3 9.3.1 9.3.2 9.3.2.1 9.3.2.2 9.3.2.3 difusos Danos estéticos Danos por perda de uma chance Danos morais coletivos Danos sociais ou difusos Outras regras importantes quanto à fixação da indenização previstas no Código Civil de 2002 Resumo Esquemático Questões correlatas Gabarito CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL QUANTO À CULPA. ANÁLISE DAS REGRAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE E CÓDIGO CIVIL DE 2002 A responsabilidade civil subjetiva como regra do ordenamento jurídico brasileiro A responsabilidade civil objetiva. A cláusula geral do art. 927, parágrafo único, do CC. Aplicações práticas do dispositivo Principais casos de responsabilidade objetiva consagrados na legislação especial A responsabilidade objetiva do Estado A responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor O Código de Defesa do Consumidor e a adoção do Princípio da Reparação Integral de Danos. O conceito de consumidor por equiparação ou bystander A relação de consumo e o princípio da solidariedade (art. 7.º, parágrafo único, da Lei 8.078/1990). Abordagem da responsabilidade civil pelo vício do produto e por fato do produto (defeito), pelo vício do serviço e fato do serviço (defeito) As excludentes de responsabilidade civil previstas no Código de Defesa do Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 14 Flávio Tartuce 9.3.2.4 9.3.3 9.4 9.4.1 9.4.2 9.4.3 9.4.4 9.4.5 9.4.6 9.5 9.6 10. 10.1 10.2 10.2.1 10.2.2 10.2.3 10.2.4 10.2.5 10.3 Consumidor Análise do art. 931 do CC e sua confrontação em relação ao Código de Defesa do Consumidor. A tese do diálogo das fontes quanto à responsabilidade civil A responsabilidade civil por danos ambientais A responsabilidade objetiva no Código Civil de 2002. Regras específicas A responsabilidade civil objetiva por atos de terceiros ou responsabilidade civil indireta A responsabilidade civil objetiva por danos causados por animal A responsabilidade civil objetiva por danos causados por prédios em ruína A responsabilidade civil objetiva por danos oriundos de coisas lançadas das casas A responsabilidade civil objetiva em relação a dívidas A responsabilidade civil objetiva no contrato de transporte Resumo Esquemático Questões correlatas Gabarito EXCLUDENTES DO DEVER DE INDENIZAR, RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE CRIMINAL Esclarecimentos necessários Das excludentes do dever de indenizar Da legítima defesa Do estado de necessidade ou remoção de perigo iminente Do exercícioregular de direito ou das próprias funções Das excludentes de nexo de causalidade Da cláusula de não indenizar Relação entre a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 15 Flávio Tartuce 10.4 10.5 Resumo Esquemático Questões correlatas Gabarito BIBLIOGRAFIA Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 16 Flávio Tartuce DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 17 Flávio Tartuce 1.1 A RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL E O CÓDIGO CIVIL DE 2002 Conceitos iniciais Sumário: 1.1 O conceito de obrigação e seus elementos constitutivos: 1.1.1 Elementos subjetivos da obrigação; 1.1.2 Elemento objetivo ou material da obrigação; 1.1.3 Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação – 1.2 Diferenças conceituais entre obrigação, dever, responsabilidade, ônus e estado de sujeição – 1.3 As fontes obrigacionais no direito brasileiro – 1.4 Os atos unilaterais como fontes do direito obrigacional: 1.4.1 Da promessa de recompensa; 1.4.2 Da gestão de negócios; 1.4.3 Do pagamento indevido; 1.4.4 Do enriquecimento sem causa – 1.5 Dos títulos de crédito como fonte das obrigações civis. Pequena abordagem – 1.6 Resumo esquemático – 1.7 Questões correlatas – Gabarito. O CONCEITO DE OBRIGAÇÃO E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Conforme comentado em poucas linhas no primeiro volume da presente coleção, tanto a obrigação quanto o contrato assumem hoje o ponto central do Direito Privado, sendo apontados por muitos juristas como os institutos jurídicos mais importantes de todo o Direito Civil. O presente autor compartilha Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 18 Flávio Tartuce dessa forma de pensar. Entretanto, para a compreensão dessas figuras negociais, é imprescindível que o estudioso e aplicador do direito domine os conceitos básicos que decorrem da relação jurídica obrigacional, matéria que muitas vezes é relegada a segundo plano, supostamente por não ter grande aplicação prática, o que constitui, na verdade, um erro imperdoável. Talvez até por essa importância é que a teoria geral das obrigações é o primeiro tema a ser tratado pela parte especial da codificação, entre os seus arts. 233 a 420. Na realidade, os pontos que serão a partir de agora abordados não interessam somente ao Direito Contratual ou Obrigacional, mas também à teoria geral da responsabilidade civil – matéria com grande aplicação nos dias atuais –, ao Direito de Empresa e mesmo ao Direito de Família, diante das questões de direito patrimonial relativas às entidades familiares. No tocante a essa última esfera, está analisada no Volume 5 da coleção a crescente interação entre o direito familiar e a responsabilidade civil por danos. Também quanto àquela divisão básica entre direitos pessoais patrimoniais e direitos reais, o direito obrigacional funciona como cerne principal dos primeiros. Visando incentivar a admiração da matéria que será aqui estudada, o que muitas vezes não ocorre, merecem transcrição as palavras de Fernando Noronha, que ressalta a importância prática do direito obrigacional: “Depois do que se disse sobre a importância social das obrigações, não é preciso acrescentar muita coisa para enfatizar o alto relevo prático da nossa matéria. As normas do Direito das Obrigações são de longe aquelas aplicadas com mais frequência, e em maior quantidade, tanto nas relações diárias entre homens como na atividade judicial. É possível conceberse a hipótese de uma pessoa viver uma vida inteira sem necessidade de conhecer o Direito das Sucessões, ou a maior parte do Direito de Família (casamento, regimes de bem…), ou até as partes mais significativas do Direito das Coisas. Mas não é possível viver à margem daquelas atividades do dia a dia regidas pelo Direito das Obrigações” (Direito…, 2003, p. 92). Superada essa mensagem de incentivo aos estudos, interessante delinear o conceito de obrigação, que não consta do Código Civil, sendo importantíssimo buscar uma construção doutrinária do instituto. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 19 Flávio Tartuce a) b) c) Álvaro Villaça Azevedo, investigando um conceito contemporâneo de obrigação, ensina que “obrigação é a relação jurídica transitória, de natureza econômica, pela qual o devedor fica vinculado ao credor, devendo cumprir determinada prestação positiva ou negativa, cujo inadimplemento enseja a este executar o patrimônio daquele para a satisfação de seu interesse” (AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria…, 2000, p. 31). Como se pode perceber, o Professor das Arcadas valoriza o aspecto das consequências do seu inadimplemento, o que está na mente das partes quando a obrigação é constituída. Ainda entre os contemporâneos, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho conceituam a obrigação, em sentido amplo, como sendo a “relação jurídica pessoal por meio da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação patrimonial em proveito da outra (credor)” (GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso…, 2003, p. 17). Na versão clássica, para Washington de Barros Monteiro a obrigação pode ser conceituada como “a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindolhe o adimplemento através de seu patrimônio” (MONTEIRO, Washington de Barros. Curso…, 1979, p. 8). Reunindo todos os pareceres expostos, sem prejuízo de outros, conceituase a obrigação como sendo a relação jurídica transitória, existente entre um sujeito ativo, denominado credor, e outro sujeito passivo, o devedor, e cujo objeto consiste em uma prestação situada no âmbito dos direitos pessoais, positiva ou negativa. Havendo o descumprimento ou inadimplemento obrigacional, poderá o credor satisfazerse no patrimônio do devedor. Desse modo, de acordo com essa construção, são elementos constitutivos da obrigação: elementos subjetivos: o credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo); elemento objetivo imediato: a prestação; elemento imaterial, virtual ou espiritual: o vínculo existente entre as partes. Não se pode afastar a constante influência que exercem os princípios da Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 20 Flávio Tartuce eticidade e da socialidade sobre o direito obrigacional. Por diversas vezes, no presente volume, serão invocadas a função social da obrigação e dos contratos e a boafé objetiva, princípios estes relacionados com a concepção social da obrigação e com a conduta leal dos sujeitos obrigacionais. Será demonstrado que essa nova visualização é indeclinável, o que vem ocorrendo na melhor doutrina e em inúmeros julgados. No que concerne à função social das obrigações, Fernando Noronha elenca as mesmas em três categorias: obrigações negociais, de responsabilidade civil e de enriquecimento sem causa, destacando que “na atual sociedade de massas se exige uma acrescida proteção, em nome da justiça social, daqueles interesses que aglutinam grandes conjuntos de cidadãos” (NORONHA, Fernando. Direito…, 2003 p. 32). Quanto à boafé objetiva, Judith MartinsCosta prega uma nova metodologia quanto ao direito das obrigações e uma nova construção da relação obrigacional que deve ser tida como uma relação de cooperação (MARTINSCOSTA, Judith. Comentários…, 2004, p. 4 a 30). Nesse contexto, Nelson Rosenvald sintetiza muito bem como deve ser encarada a obrigaçãoatualmente: “A obrigação deve ser vista como uma relação complexa, formada por um conjunto de direitos, obrigações e situações jurídicas, compreendendo uma série de deveres de prestação, direitos formativos e outras situações jurídicas. A obrigação é tida como um processo – uma série de atos relacionados entre si –, que desde o início se encaminha a uma finalidade: a satisfação do interesse na prestação. Hodiernamente, não mais prevalece o status formal das partes, mas a finalidade à qual se dirige a relação dinâmica. Para além da perspectiva tradicional de subordinação do devedor ao credor existe o bem comum da relação obrigacional, voltado para o adimplemento, da forma mais satisfativa ao credor e menos onerosa ao devedor. O bem comum na relação obrigacional traduz a solidariedade mediante a cooperação dos indivíduos para a satisfação dos interesses patrimoniais recíprocos, sem comprometimento dos direitos da personalidade e da dignidade do credor e devedor” (ROSENVALD, Nelson. Dignidade…, 2005, p. 204). Quando o doutrinador faz menção à obrigação como um processo, está fazendo referência ao trabalho de Clóvis do Couto e Silva. Esse autor, inspirado na doutrina alemã, ensina que a obrigação deve ser encarada como um processo Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 21 Flávio Tartuce 1.1.1 a) b) de colaboração contínua e efetiva entre as partes (A obrigação…, 1976). Deixando consignada qual a linha metodológica que seguirá o trabalho, partese ao estudo específico e aprofundado dos elementos da obrigação. Elementos subjetivos da obrigação Tratase dos elementos pessoais, os sujeitos ou pessoas envolvidas na relação jurídica obrigacional, a saber: Sujeito ativo – é o beneficiário da obrigação, podendo ser uma pessoa natural ou jurídica ou, ainda, um ente despersonalizado a quem a prestação é devida. É denominado credor, sendo aquele que tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação. Sujeito passivo – é aquele que assume um dever, na ótica civil, de cumprir o conteúdo da obrigação, sob pena de responder com seu patrimônio. É denominado devedor. Recomendase a utilização da expressão deveres que consta do art. 1.º do atual Código Civil, em detrimento do termo obrigações, previsto no art. 2.º do CC/1916 e que está superado. Prevê o dispositivo do Código de 2002 que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Interessante deixar claro que, na atualidade, dificilmente alguém assume a posição isolada de credor ou devedor em uma relação jurídica. Na maioria das vezes, as partes são, ao mesmo tempo, credoras e devedoras entre si, presente a proporcionalidade de prestações denominada sinalagma, como ocorre no contrato de compra e venda. Tal estrutura também é denominada relação jurídica obrigacional complexa, constituindo a base do negócio jurídico relacionada com a obrigação. O esquema a seguir demonstra muito bem como é a estrutura do sinalagma obrigacional. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 22 Flávio Tartuce 1.1.2 Como se pode verificar, o desenho tem um formato geométrico retangular, a conduzir a um ponto de equilíbrio. De fato, o sinalagma é um todo equilibrado, e sendo quebrado, justificase a ineficácia ou a revisão da obrigação. A quebra do sinalagma é tida como geradora da onerosidade excessiva, do desequilíbrio negocial, como um efeito gangorra. Elemento objetivo ou material da obrigação Aqui, tratase do conteúdo da obrigação. O objeto imediato da obrigação, perceptível de plano, é a prestação, que pode ser positiva ou negativa. Sendo a obrigação positiva, ela terá como conteúdo o dever de entregar coisa certa ou incerta (obrigação de dar) ou o dever de cumprir determinada tarefa (obrigação de fazer). Sendo a obrigação negativa, o conteúdo é uma abstenção (obrigação de não fazer). Na definição de Antunes Varela, jurista português: “A prestação consiste, em regra, numa actividade ou numa acção do devedor (entregar uma coisa, realizar uma obra, patrocinar alguém numa causa, transportar alguns móveis, transmitir um crédito, dar certo número de lições, etc.). Mas também pode consistir numa abstenção, permissão ou omissão (obrigação de não abrir estabelecimentos de certo ramo do comércio na mesma rua ou na mesma localidade; obrigação de não usar a coisa recebida em depósito; obrigação de não fazer escavações que provoquem o desmoronamento do prédio vizinho). A prestação é o fulcro da obrigação, é o seu alvo prático. Distinguese do dever geral de abstenção próprio dos direitos reais, porque o dever jurídico de prestar é um dever específico (que apenas atinge o devedor), enquanto o dever geral de abstenção é um dever genérico, que abrange todos os não titulares do direito (real ou de personalidade)” (ANTUNES VARELA, João de Matos. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 23 Flávio Tartuce Das obrigações…, 2005, v. 1, p. 7879). Ato contínuo de estudo, percebese que objeto mediato da obrigação pode ser uma coisa ou uma tarefa a ser desempenhada, positiva ou negativamente. Como exemplo de objeto mediato da obrigação, pode ser citado um automóvel ou uma casa em relação a um contrato de compra e venda. Esse também é o objeto imediato da prestação. Alguns doutrinadores apontam que o objeto mediato da obrigação ou objeto imediato da prestação é o bem jurídico tutelado ou o próprio bem da vida posto em circulação, entendimento esse que também é bastante plausível (GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso…, 2004, p. 2122). Com certeza, a leitura dos trechos acima causou uma tempestade cerebral, um brain storm, como se diria nos meios publicitários. Ora, um dos objetivos da presente coleção é esclarecer, didaticamente, os institutos privados, razão pela qual pode ser concebido o esquema a seguir: Imaginese que o desenho representa uma piscina: a obrigação. Na parte rasa, está o elemento imediato dessa obrigação: a prestação; e, no fundo, está o seu elemento mediato, que é a coisa, tarefa ou abstenção. Pois bem, o elemento mediato da obrigação é o elemento imediato da prestação, o que pode ser facilmente percebido pelo esquema. Visando facilitar a compreensão do assunto, é interessante mais uma vez transcrever as elucidativas palavras de Fernando Noronha: “O credor tem em primeira linha o direito de exigir uma ação ou omissão do devedor, mas aquilo que está verdadeiramente interessado é algo que está para além dela, embora em princípio só possa ser alcançado Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 24 Flávio Tartuce a) b) c) através da atuação do devedor. Por isso, é necessário ter presente que se a obrigação tem um objeto, que é a prestação debitória, esta, por seu turno, também terá um objeto, que é a coisa a ser entregue, ou o fato (ação ou omissão) que deve ser realizado. Portanto, o verdadeiro objeto da obrigação é a prestação debitória, mas esta é apenas a conduta do devedor. A coisa ou o fato (ação ou omissão) a que a conduta diz respeito são objeto da prestação debitória. Como se vê, é preciso distinguir a conduta exigível do devedor, da coisa ou do fato em que o credor está verdadeiramente interessado; todavia, se a coisa a ser entregue ou o fato a ser realizado são objeto da prestação debitória, eles também são objeto da própria obrigação. Daí que se possa dizer que são dois os objetos da obrigação: a prestação debitória será seu objeto direto, ou imediato; a coisa ou o fato a serem prestados (objeto da prestação) será o seu objeto simplesmente indireto, ou mediato”(NORONHA, Fernando. Direito…, 2003, p. 36). Pois bem, para que a obrigação seja válida no âmbito jurídico, todos os elementos mencionados, incluindo a prestação e seu objeto, devem ser lícitos, possíveis (física e juridicamente), determinados ou pelo menos determináveis e, por fim, ter forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104 do CC). A obrigação em si, para ter validade, deve ser também economicamente apreciável. A violação dessas regras gera a nulidade da relação obrigacional, sendo aplicado o art. 166 do CC/2002. Para encerrar o tópico, é interessante expor as quatro características fundamentais da obrigação retiradas da análise dos seus elementos, apontadas pelo Professor Catedrático da Universidade de Lisboa Menezes Leitão (MENEZES LEITÃO, Luis Manuel Telles de. Direito…, 2006, v. I, p. 91 101): A patrimonialidade – pois a obrigação deve ser avaliável em dinheiro ou em valor (conteúdo econômico). A mediação ou colaboração devida – uma vez “que o credor não pode exercer directa e imediamente o seu direito, necessitando da colaboração do devedor para obter a satisfação do seu interesse” (MENEZES LEITÃO, Luis Manuel Telles de. Direito…, 2006, p. 94). A relatividade – eis que a relação jurídica é estabelecida e gera efeitos entre os seus participantes. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 25 Flávio Tartuce d) 1.1.3 a) b) A autonomia – pela existência de uma disciplina própria dentro do Direito Civil, qual seja o Direito das Obrigações. No que concerne à patrimonialidade, insta verificar que há uma tendência no Direito Civil Contemporâneo em associar o conteúdo da obrigação a valores existenciais relativos à dignidade humana (personalização). Assim são os contratos que trazem como conteúdo valores como a saúde e a moradia, protegidos pela Constituição Federal de 1988 (art. 6.º). Por isso, o descumprimento da obrigação pode gerar danos morais, na esteira do Enunciado n. 411, aprovado na V Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal em novembro de 2011. O tema ainda será aprofundado em capítulo próprio, dedicado à responsabilidade civil. Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação O elemento em questão é o vínculo jurídico existente na relação obrigacional, ou seja, é o elo que sujeita o devedor à determinada prestação – positiva ou negativa –, em favor do credor, constituindo o liame legal que une as partes envolvidas. A melhor expressão desse vínculo está estabelecida no art. 391 do CC/2002, com a previsão segundo a qual todos os bens do devedor respondem no caso de inadimplemento da obrigação. Esse dispositivo consagra o princípio da responsabilidade patrimonial do devedor, sendo certo que prisão civil por dívidas não constitui regra de nosso ordenamento jurídico, mas exceção. Como se sabe, a prisão civil somente seria possível em duas hipóteses, conforme prevê literalmente o art. 5.º, LXVII, da Constituição Federal: nos casos de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia; nos casos envolvendo o depositário infiel. Quanto a esse caso, houve uma mudança substancial diante da Emenda Constitucional 45. Essas duas hipóteses estão comentadas em tópicos específicos, nos volumes desta coleção que tratam do Direito Contratual, do Direito das Coisas e do Direito de Família. Destaquese, todavia, que o Supremo Tribunal Federal afastou a Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 26 Flávio Tartuce possibilidade de prisão por dívida do depositário infiel, havendo depósito típico, atípico ou judicial. A conclusão girou em torno da Emenda Constitucional 45, que deu aos tratados internacionais de direitos humanos o status constitucional, ou supralegal. É cediço que o Brasil é signatário da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), que proíbe a prisão civil por descumprimento contratual, não sendo a prisão civil no depósito compatível com a realidade constitucional brasileira. Um dos principais precedentes assim foi publicado no Informativo n. 531 do STF, de dezembro de 2008: “Em conclusão de julgamento, o Tribunal concedeu habeas corpus em que se questionava a legitimidade da ordem de prisão, por 60 dias, decretada em desfavor do paciente que, intimado a entregar o bem do qual depositário, não adimplira a obrigação contratual – v. Informativos 471, 477 e 498. Entendeuse que a circunstância de o Brasil haver subscrito o Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívida ao descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7.º, 7), conduz à inexistência de balizas visando à eficácia do que previsto no art. 5.º, LXVII, da CF (‘não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel’). Concluiuse, assim, que, com a introdução do aludido Pacto no ordenamento jurídico nacional, restaram derrogadas as normas estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel. Prevaleceu, no julgamento, por fim, a tese do status de supralegalidade da referida Convenção, inicialmente defendida pelo Min. Gilmar Mendes no julgamento do RE 466.343/SP, abaixo relatado. Vencidos, no ponto, os Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau, que a ela davam a qualificação constitucional, perfilhando o entendimento expendido pelo primeiro no voto que proferira nesse recurso. O Min. Marco Aurélio, relativamente a essa questão, se absteve de pronunciamento” (STF, HC 87.585/TO, Rel. Min. Marco Aurélio, 03.12.2008). Mais recentemente, o próprio Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante 25, expressando que “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Cumpre esclarecer que o art. 391 do CC, quando analisado em conjunto Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 27 Flávio Tartuce com os arts. 389 e 390, consagra a responsabilidade civil contratual ou negocial, presente nos casos em que uma obrigação assumida por uma das partes não é cumprida. O art. 389 deve ser aplicado para os casos de obrigação positiva (dar e fazer), enquanto o art. 390 para aqueles envolvendo obrigação negativa (não fazer). No plano técnico, para denotar a responsabilidade civil contratual, não devem ser utilizados os arts. 186 e 927 da codificação material vigente, pois tais comandos legais fundamentam a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, que será objeto de estudo ainda no presente volume da coleção. Ainda prevalece, na doutrina, a visão clássica de divisão dualista da responsabilidade civil, em responsabilidade contratual e extracontratual. Advertese, contudo, que a tendência é a unificação do tema, como ocorreu com o Código de Defesa do Consumidor, que não consagrou essa divisão. No que concerne à redação do art. 391 do CC, é preciso um esclarecimento importante. Isso porque prevê o dispositivo que “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor” (destacamos). Ora, o dispositivo enuncia expressamente a responsabilidade integral de todos os bens do devedor. Entretanto, como é notório, existem alguns bens do devedor que estão protegidos, particularmente aqueles reconhecidos como impenhoráveis. Melhor era, portanto, a redação do art. 591 do CPC/1973, pela qual “O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. O dispositivofoi repetido pelo art. 789 do CPC/2015, seu correspondente, in verbis: “O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Primeiramente, pode ser citado o bem de família, com dupla proteção em nosso sistema, eis que o Código Civil protege o bem de família voluntário ou convencional (arts. 1.711 a 1.722), enquanto a Lei 8.009/1990 ampara o bem de família legal. Ademais, o Código de Processo Civil de 1973, em seu art. 649, dispositivo devidamente alterado pela Lei 11.382/2006, consagrava os bens que eram considerados absolutamente impenhoráveis. O art. 833 do Novo Código de Processo Civil, seu correspondente, retirou a expressão absolutamente, em claro sentido de abrandamento. Vejamos a confrontação entre os dois preceitos instrumentais: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 28 Flávio Tartuce Novo Código de Processo Civil Código de Processo Civil anterior Art. 833. São impenhoráveis: Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II – os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; II – os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III – os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; III – os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2.º; IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3.º deste artigo; V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado; V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; VI – o seguro de vida; VI – o seguro de vida; VII – os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VII – os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; VIII – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX – os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; IX – os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X – a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos; X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança. XI – os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei; XI – os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 29 Flávio Tartuce XII – os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. § 1.º A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição. § 1.º A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem. § 2.º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8.º, e no art. 529, § 3.º. § 2.º O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia. § 3.º Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária. § 3.º (Vetado). Alguns comentários devem ser feitos sobre tal confrontação. De início, das alterações incluídas no CPC/1973, merece destaque o inciso que protege, pelo manto da impenhorabilidade, os valores depositados em caderneta de poupança até o limite de quarenta salários mínimos (art. 649, X, do CPC/1973, correspondente ao art. 833, X, do CPC/2015). O dispositivo está inspirado na ideia de manutenção do mínimo patrimonial para que a pessoa viva com dignidade, de acordo com o estatuto jurídico do patrimônio mínimo, do Ministro do STF e doutrinador Luiz Edson Fachin. De qualquer forma, esperase que esse comando legal não seja utilizado de máfé, com fins fraudulentos. A propósito do conteúdo desse comando, julgou a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial 1.330.567/RS, de maio de 2013, que “o art. 649, X, do CPC, não admite interpretação extensiva, de modo Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 30 Flávio Tartuce a abarcar outras modalidades de aplicação financeira, de maior risco e rentabilidade, que não detêm o caráter alimentício da caderneta de poupança, sendo voltado o artigo para valores mais expressivos e/ou menos comprometidos, destacados daqueles vinculados à subsistência mensal do titular e sua família. Essas aplicações visam necessidades e interesses de menor preeminência (ainda que de elevada importância), como aquisição de bens duráveis, inclusive imóveis, ou uma previdência informal (não oficial) de longo prazo. Mesmo aplicações em poupança em valor mais elevado perdem o caráter alimentício, tanto que o benefício da impenhorabilidade foi limitado a 40 salários mínimos e o próprio Fundo Garantidor de Crédito assegura proteção apenas até o limite de R$ 70.000,00 por pessoa. Essa sistemática legal não ignora a existência de pessoas cuja remuneração possui periodicidade e valor incertos, como é o caso de autônomos e comissionados. Esses podem ter que sobreviver por vários meses com uma verba, de natureza alimentar, recebida de uma única vez, sendo justo e razoável que apliquem o dinheiro para resguardaremse das perdas inflacionárias. Todavia, a proteção legal conferida às verbas de natureza alimentar impõe que, para manterem essa natureza, sejam aplicadas em caderneta de poupança, até o limite de 40 salários mínimos, o que permite ao titular e sua família uma subsistência digna por um prazo razoável de tempo”. E arremata a relatora, Ministra Nancy Andrighi, analisando a ideia de patrimônio mínimo, seguida por este autor: “valores mais expressivos, superiores aos 40 saláriosmínimos, não foram contemplados pela impenhorabilidade fixada pelo legislador, até para que possam, efetivamente, vir a ser objeto de constrição, impedindo que o devedor abuse do benefício legal, escudandose na proteção conferida às verbas de natureza alimentar para se esquivar do cumprimento de suas obrigações, a despeito de possuir condição financeira para tanto. O que se quis assegurar com a impenhorabilidade de verbas alimentares foi a sobrevivência digna do devedor e não a manutenção de um padrão de vida acima das suas condições, às custas do devedor” (STJ, REsp 1.330.567/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 16.05.2013, DJe 27.05.2013). Seguindo no estudo da confrontação dos dois dispositivos processuais, notase a inclusão, entre os bens impenhoráveis, dos créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra (art. 833, XI, do CPC/2015). A norma visa Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 31 Flávio Tartuce claramente à tutela da moradia, extraída do art. 6.º da CF/1988. Ademais, merece ser comentada a alteração constante do art. 833, § 2.º, do Estatuto Processual emergente. Nos termos desse comando, observase, inicialmente, a possibilidade de penhora de salários, remunerações e pensões em geral e da quantia depositada em caderneta de poupança, no que exceder até o limite de cinquenta salários mínimos mensais. Além disso, cabe a penhora de tais montantes nos casos que visam a satisfação da obrigação alimentar de natureza familial, não importando o seu valor. No sistema anterior, as verbas alimentares tinham o condão de quebrar a proteção das rendas, nos termos do que estava no § 2.º do art. 649 do CPC/1973. Todavia, houve a inserção também da quebra dos valores depositados em caderneta de poupança em até quarenta salários mínimos. Com isso, a obrigação de prestar alimentos ganha uma qualificação ainda mais especial, ressaltando o seu caráter sui generis, observado por praticamente todos os civilistas. O tempo e a prática demonstrarão se a inovação veio em boa hora ou não. Por fim, igualmente uma novidade, o § 3.º do art. 833 do CPC/2015 passou a estabelecer que se incluem na impenhorabilidade prevista no comando os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural. A regra da impenhorabilidade, pelo mesmo artigo, não se aplica quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária. Como se nota, a norma tem claro intuito de proteger a atividade agrária. Ainda quanto ao elemento imaterial obrigacional, devese compreender que está superada a teoria monista ou unitária da obrigação, pela qual essa seria consubstanciada por um único elemento: o vínculo jurídico que une a prestação e os elementos subjetivos. Prevalece atualmente na doutrina contemporânea a teoria dualista ou binária, de origem alemã, pela qual a obrigação é concebida por uma relação débito/crédito. A teoria é atribuída, no Direito Alemão e entre outros, a Alois Brinz, tendo sido desenvolvida no final do século XIX. A superação daquela velha teoria pode ser percebida a partir do estudo dos dois elementos básicos da obrigação: o débito (Schuld) e a responsabilidade (Haftung), sobre os quais a obrigação se encontra estruturada (sobre o tema: MARTINSCOSTA, Judith. Comentários…, 2003, p. 15 a 30). Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 32 Flávio Tartuce 1.2 Inicialmente, o Schuld é o dever legal de cumprir com a obrigação, o dever existente por parte do devedor. Havendo o adimplemento da obrigação surgirá apenas esse conceito. Mas, por outro lado, se a obrigação não é cumprida, surgirá a responsabilidade, o Haftung. Didaticamente, podese utilizar a palavra Schuld como sinônima de debitum e Haftung, de obligatio. Sem dúvida é possível identificar uma situação em que há Schuld sem Haftung (debitum sem obligatio): na obrigação natural, que mesmo existente não pode ser exigida, pois é uma obrigação incompleta. Citese, a título de exemplo, a dívida prescrita, que pode ser paga – por existir –, mas não pode ser exigida. Tanto isso é verdade que, paga uma dívida prescrita, não caberá ação de repetição de indébito para reaver o valor (art. 882 do CC). Por outro lado, haverá Haftung sem Schuld (obligatio sem debitum) na fiança, garantia pessoal prestada por alguém (fiador) em relação a um determinado credor. O fiador assume uma responsabilidade, mas a dívida é de outra pessoa. O contrato de fiança é celebrado substancialmente entre fiador e credor. Por isso, pode ser celebrado sem o consentimento do devedor ou até contra a sua vontade (art. 820 do CC). Justamente por tais possibilidades é que o presente autor entende, como parte da doutrina, que a teoria monista ou unitária encontrase superada, prevalecendo atualmente a teoria dualista ou binária. A última visão, mais completa, acaba sendo a mais adequada para explicar o fenômeno contemporâneo obrigacional, principalmente nos casos descritos. Tais conceitos, apesar de teóricos, são importantíssimos para a prática, pois servem para explicar toda a estrutura da obrigação. O mesmo vale para os institutos jurídicos expostos a seguir. DIFERENÇAS CONCEITUAIS ENTRE OBRIGAÇÃO, DEVER, RESPONSABILIDADE, ÔNUS E ESTADO DE SUJEIÇÃO Os conceitos aqui visualizados atualmente são concebidos como básicos para a compreensão da estrutura obrigacional. Ultimamente, tornouse comum a sua abordagem principalmente em concursos públicos para as carreiras jurídicas. Isso sem dúvida demonstra uma mudança de paradigma em relação a provas e exames no Brasil. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 33 Flávio Tartuce Na presente abordagem serão utilizados os ensinamentos da Professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Titular da Faculdade de Direito da USP (HIRONAKA, Giselda M. F. Novaes; MORAES, Renato Duarte Franco de. Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 3133). Também serão usadas, aqui, as lições de Maria Helena Diniz (Curso…, 2004), de Francisco Amaral (Direito…, 2004), de Orlando Gomes (Obrigações…, 1997) e de Fernando Noronha (Direito…, 2003, p. 8). O primeiro conceito a ser analisado é o de dever jurídico, o mais amplo de todos, que está inserido, regra geral, dentro do conceito de obrigação. Francisco Amaral ensina que o dever jurídico contrapõese ao direito subjetivo, sendo o primeiro constituído por uma “situação passiva que se caracteriza pela necessidade do devedor observar um certo comportamento, compatível com o interesse do titular do direito subjetivo” (Direito…, 2004, p. 194 e 195). Para Maria Helena Diniz, o dever jurídico pode ser conceituado como “o comando imposto, pelo direito objetivo, a todas as pessoas para observarem certa conduta, sob pena de receberem uma sanção pelo não cumprimento do comportamento prescrito pela norma jurídica” (Curso…, p. 27). Para Orlando Gomes o dever jurídico “é a necessidade que corre a todo o indivíduo as ordens ou comandos do ordenamento jurídico, sob pena de incorrer numa sanção, como o dever universal de não perturbar o direito do proprietário” (Obrigações…, 1997, p. 6). Mais à frente o autor baiano dá outros exemplos de dever jurídico: “o comprador está obrigado a pagar o preço; o inquilino se acha obrigado a conservar o imóvel locado e a restituíloao locador, findo o contrato; os cônjuges devem fidelidade um ao outro; toda pessoa está sujeita ao dever de respeitar o exercício de direito de propriedade pelo dono; todos têm o dever de não lesar o patrimônio alheio”. Desse modo, o dever jurídico engloba não só as relações obrigacionais ou de direito pessoal, mas também aquelas de natureza real, relacionadas com o Direito das Coisas. Também podem ter por objeto o Direito de Família, o Direito das Sucessões, o Direito de Empresa e os direitos da personalidade. Mantém o dever jurídico relação não só com o Direito Civil ou Direito Privado, mas com todos os outros ramos jurídicos. Conforme salientam Giselda Hironaka e Renato Franco “em sentido mais estrito, situarseá a ideia de obrigação, referindose apenas ao dever oriundo à relação jurídica creditória (pessoal, obrigacional). Mas não apenas isto. Na obrigação, em correspondência a este dever jurídico de prestar (do devedor), Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 34 Flávio Tartuce estará o direito subjetivo à prestação (do credor), direito este que, se violado – se ocorrer a inadimplência por parte do devedor –, admitirá, ao seu titular (o credor), buscar no patrimônio do responsável pela inexecução (o devedor) o necessário à satisfação compulsória do seu crédito, ou à reparação do dano causado, se este for o caso” (Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 32). Ensina Orlando Gomes que “a obrigação é uma relação jurídica, do lado passivo do direito subjetivo, consistindo no dever jurídico de observar certo comportamento exigível pelo titular deste” (Obrigações…, 1997, p. 6). A obrigação, conforme aqui já foi definida, tem também como característica um caráter transitório, que, às vezes, não é observado no dever jurídico. Por outro lado, concebido no sentido obrigacional, caso o dever seja descumprido, surge dessa conduta a responsabilidade, impondo sanções para aquele que desrespeitou a ordem determinada. Dessa forma, as consequências da inobservância do dever são amplas: tanto para aquele que não o atendeu quanto para os demais envolvidos na relação jurídica. Fernando Noronha aponta que, em sentido amplo, os conceitos de obrigação e dever jurídico até podem se confundir, eis que “numa acepção ampla, teremos o termo obrigação como sinônimo de dever jurídico, isto é, de imposição cuja violação implica sanções organizadas pelo poder estatal. Esta é uma noção que ainda nada nos diz sobre a natureza das obrigações regidas pelo Direito das Obrigações; ela, afinal, limitase a excluir do seu âmbito os deveres extrajurídicos (religiosos, morais e de trato social). Por isso também ela não nos vai interessar. A acepção que interessa é a restrita, ou técnica” (Direito…, 2003, p. 8). Essas construções não se confundem com a de ônus jurídico. Esse, para Maria Helena Diniz, “consiste na necessidade de observar determinado comportamento para a obtenção ou conservação de uma vantagem para o próprio sujeito e não para a satisfação de interesses alheios” (Curso…, 2004, p. 28). Já para Orlando Gomes, o ônus jurídico é “a necessidade de agir de certo modo para a tutela de interesses próprios” (Obrigações…, 1997, p. 6). São exemplos de ônus, para o autor baiano: “levar o contrato ao registro de títulos e documentos para ter validade perante terceiro; inscrever o contrato de locação no registro de imóveis para impor subrogação ao adquirente do prédio”. Podese afirmar, nesse sentido, que o desrespeito ao ônus gera consequências somente para aquele que o detém. Citese, na ótica processual, o ônus de provar, previsto no art. 333, I, do CPC/1973 e no art. 373, I, do Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 35 Flávio Tartuce CPC/2015. Efetivamente, caso a parte não prove o que alegou em juízo, suportará as consequências da procedência ou improcedência da demanda, que também poderá repercutir na sua esfera patrimonial. Francisco Amaral aponta muito bem a diferença entre dever e ônus, quando ensina que “a diferença entre o dever e o ônus reside no fato de que, no primeiro, o comportamento do agente é necessário para satisfazer interesse do titular do direito subjetivo, enquanto que no caso do ônus o interesse é do próprio agente. No dever, o comportamento do agente vinculase ao interesse do titular do direito, enquanto que no ônus esse comportamento é livre, embora necessário por ser condição de realização do próprio interesse. O ônus é, por isso, o comportamento necessário para conseguirse certo resultado, que a lei não impõe, apenas faculta. No caso do dever, há uma alternativa de comportamento, um lícito (o pagamento, por exemplo) e outro ilícito (o não pagamento); no caso do ônus, também há uma alternativa de conduta, ambas lícitas, mas de resultados diversos” (Direito civil…, 2004, p. 196). Conforme as lições de Giselda Hironaka e Renato Franco, o autor Antunes Varela, em sua obra Direito das obrigações, alerta ainda para a necessidade de se diferenciar de todos os demais e anteriores conceitos – dever, obrigação e ônus – daquilo que se denomina estado de sujeição (Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 3133). Mas, antes de tudo, é interessante verificar a definição de direito potestativo, para então se compreender o que é o estado de sujeição. Para Francisco Amaral “direito potestativo é o poder que a pessoa tem de influir na esfera jurídica de outrem, sem que este possa fazer algo que não se sujeitar. (…) Opera na esfera jurídica de outrem, sem que este tenha algum dever a cumprir” (Direito civil…, 2004, p. 196). Para Giselda Hironaka e Renato Franco, isso significa que a parte nem convencionou com o titular do direito potestativo, e nem mesmo se sujeitou ao seu poder, como ocorre em outras estruturas jurídicas. Mas o exercício do direito potestativo pelo seu titular fará com que aquele outro se sujeite às consequências advindas da alteração produzida, em sua própria esfera jurídica (HIRONAKA, Giselda; FRANCO, Renato. Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 33). Orlando Gomes esclarece que “no dever jurídico a sanção é estabelecida para a tutela de um interesse alheio ao de quem deve observálo. Na sujeição também não pode haver inobservância de quem tem de suportar inelutavelmente os efeitos do ato de vontade do titular do direito potestativo, mas não há cogitar Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 36 Flávio Tartuce de sanção. No ônus jurídico, o comportamento é livre no sentido de que o onerado só o adota se quer realizar o seu interesse” (Obrigações…, 1997, p. 6). O jurista exemplifica também situações de estado de sujeição ou sujeição jurídica, tais como “quem ajusta o contrato por prazo indeterminado está sujeito a vêlo denunciado a qualquer momento pelo outro contratante; quem recebe mandato se subordina à vontade do mandante de cassar a outorga a qualquer momento; quem é condômino se sujeita à pretensão de divisão de qualquer dos outros comunheiros; quem é vizinho de prédio encravado se sujeita a permitir passagem sobre seu terreno, quando lhe exigir o confinante” (Obrigações…, 1997, p. 7). No estado de sujeição não há saída, pois a pessoa tem que se sujeitar àquela situação, como indica a sua própria denominação. Em suma, a parte que tem contra si a sujeição, está encurralada. A título de exemplo, em reforço, podem ser citados os casos da existência de impedimentos matrimoniais (art. 1.521 do CC), as causas de anulabilidadedo casamento (art. 1.550 do CC) e a exigência legal para certos atos, de outorga do outro consorte (art. 1.647 do CC), sob pena, na última hipótese, de anulabilidade do ato ou negócio praticado (art. 1.649 do CC). Desse modo, como se pode perceber, o estado de sujeição constitui um poder jurídico do titular do direito (por isso é denominado potestativo), não havendo correspondência a qualquer outro dever. Há apenas uma sujeição inafastável, não havendo a possibilidade de o direito potestativo ser violado. Podese ainda afirmar que o estado de sujeição traz em seu conteúdo uma subordinação, contra a qual não se pode insurgir ou manifestar discordância, tendo em vista um preestabelecimento anterior, não havendo qualquer sanção. Resumindo, é fundamental frisar que diferem substancialmente entre si os direitos subjetivos dos chamados direitos potestativos, eis que àqueles contrapõese um dever, enquanto a estes corresponde apenas um estado de sujeição. Esquematizando: Nesse sentido, é pertinente lembrar os comentários que constam, a respeito da matéria de prescrição e decadência, no Volume 1 da presente coleção. Naquela obra foi apontado que a prescrição, pelo Código Civil de 2002, Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 37 Flávio Tartuce está relacionada com os direitos subjetivos. Assim, pelo que aqui foi exposto, a prescrição está também relacionada com o dever, com a obrigação e a correspondente responsabilidade. Perfeitamente lógico o raciocínio, pois todos esses conceitos também estão relacionados com as ações condenatórias (ações de cobrança e de reparação civil, principalmente). Precisa, portanto, a relação sistêmica, principalmente pela tese adotada pela atual codificação quanto ao instituto da prescrição (Agnelo Amorim Filho). Por outro lado, no Volume 1 da coleção está exposto que a decadência está relacionada com os direitos potestativos. Logicamente, nesses casos haverá um estado de sujeição. Em regra, portanto, deve ser feita essa correlação, eis que se têm ações constitutivas positivas e negativas. O melhor exemplo é o da ação anulatória de um ato ou negócio jurídico, consagrando os arts. 178 e 179 da codificação material prazos decadenciais de quatro e dois anos para tanto. Mas uma ressalva deve ser feita quanto à última conclusão, pois em alguns casos um direito potestativo e um estado de sujeição estarão relacionados com a imprescritibilidade, ou melhor, à não subordinação à prescrição ou decadência, como acontece nos casos envolvendo os impedimentos matrimoniais e a nulidade absoluta de um negócio jurídico. A encerrar a presente abordagem, transcrevemse as palavras de Orlando Gomes, que com maestria aponta as diferenças entre todos os conceitos aqui estudados: “O dever jurídico pode ser geral ou especial conforme se concentra numa certa pessoa ou se refira à universalidade das pessoas. Caracterizase por exigir um comportamento (ativo ou passivo) do sujeito em favor de terceiro, sob pena de sanção. Já na sujeição jurídica, o sujeito passivo nada tem de fazer (nem ativa, nem passivamente) para satisfazer o interesse do sujeito ativo. Tudo se passa na dependência exclusiva da vontade deste. No ônus jurídico, finalmente, há necessidade de ação do sujeito, mas não em benefício de outrem, e, sim, no próprio interesse do agente. Em suma, o dever e a sujeição atuam em função dos interesses de outrem, enquanto o ônus opera em prol de interesse próprio. O direito das obrigações cuida apenas de uma das espécies do dever jurídico, isto é, daqueles que provocam um vínculo especial entre pessoas determinadas, dando a uma delas o poder de exigir da outra uma prestação de natureza patrimonial. A obrigação, em sentido técnico, portanto, pertence Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 38 Flávio Tartuce 1.3 a) à categoria dos deveres jurídicos especiais ou particulares (Harm Peter Westermann, Código Civil Alemão – Direito das Obrigações – Parte Geral, Trad. Bras., Porto Alegre: Fabris, 1983, § 1.º, p. 15)” (GOMES, Orlando. Obrigações…, 1997, p. 7). Como há a consciência de que todos esses conceitos são de difícil compreensão, será apresentado, ainda, um resumo esquemático sobre o assunto no final do presente capítulo. AS FONTES OBRIGACIONAIS NO DIREITO BRASILEIRO A palavra fonte é uma expressão figurada, indicando o elemento gerador, o fato jurídico que deu origem ao vínculo obrigacional. Nesse sentido ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho que “as fontes do direito são meios pelos quais se formam ou se estabelecem as normas jurídicas. Tratase, em outras palavras, de instâncias de manifestação normativa: a lei, o costume (fontes diretas), a analogia, a jurisprudência, os princípios gerais do direito, a doutrina e a equidade (fontes indiretas)” (Novo curso…, 2003, v. II, p. 23). Dentro desse contexto, de acordo com o entendimento majoritário da doutrina, podem ser reconhecidas como fontes do direito obrigacional: Lei – é a “fonte primária ou imediata de obrigações, como constitui fonte principal de nosso Direito” (DINIZ, Maria Helena. Curso…, 2002, p. 44). Alguns autores, entretanto, não concordam com o entendimento pelo qual a lei é fonte obrigacional. Para Orlando Gomes, a lei não pode ser tida como fonte imediata da obrigação, uma vez que essa somente cria uma obrigação se acompanhada de um fato jurídico (Obrigações…, 2004, p. 33 a 36). Fernando Noronha, do mesmo modo, opina que a lei sozinha não é fonte obrigacional, sendo necessária a presença da autonomia privada, antigamente denominada como autonomia da vontade. Ensina esse autor que “atualmente, com a superação das teses individualísticoliberais que sacralizavam a vontade, o papel desta na constituição de obrigações vem sendo reduzido às devidas proporções, ao mesmo tempo em que se reconhece que a lei apenas pode Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 39 Flávio Tartuce b) c) permitir a criação de direitos de crédito, mas nunca criálos diretamente. Neste sentido, podese afirmar que a vontade sozinha não cria nenhuma obrigação e que a lei sozinha também não é fonte de qualquer obrigação” (Direito…, 2003, p. 343). No Direito Civil Contemporâneo, a autonomia privada pode ser conceituada como o direito que a pessoa tem de regulamentar os próprios interesses, o que decorre dos princípios constitucionais da liberdade e da dignidade humana. Na verdade, o melhor caminho é tentar compartilhar de todos os ensinamentos esposados, eis que todos trazem um pouco de razão. Inicialmente, é de se notar que, em alguns casos, a lei sozinha é sim fonte obrigacional, tal como ocorre na obrigação de prestar alimentos. Nesse ponto, tem razão a Professora Maria Helena Diniz. Mas, por outro lado, e na grande maioria das vezes, isso não ocorre, devendo a lei estar acompanhada de um algo mais. Para a doutrina tradicional esse algo mais é o fato jurídico (Orlando Gomes); enquanto para a escola mais atual é a autonomia privada do indivíduo (Fernando Noronha). Contratos – são tidos como fonte principal do direito obrigacional, afirmação com a qual é de se concordar integralmente. Como exemplos podem ser citadas as figuras tipificadas no Código Civil, tais como a compra e venda, o contrato estimatório, a doação, a locação, o comodato, o mútuo, a prestação de serviços, a empreitada, o depósito, o mandato, a comissão, a agência e distribuição, a corretagem, o transporte, o seguro, a constituição de renda, o jogo e a aposta, a fiança, a transação e o compromisso,bem como algumas figuras atípicas, não previstas em lei. Somente para fins didáticos, demonstrando que a concepção de contrato não se confunde com a de obrigação, podese conceituar o primeiro, em uma visão clássica ou moderna, como o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a criação, modificação e extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. Esse conceito, seguido amplamente na doutrina brasileira, está inspirado no art. 1.321 do Código Civil italiano. Os atos ilícitos e o abuso de direito – são fontes importantíssimas do direito obrigacional, com enorme aplicação prática. Gerando o dever de indenizar, é forçoso entender que o abuso de direito (art. 187 do CC) também constitui fonte de obrigações. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 40 Flávio Tartuce d) e) 1.4 a) b) Ambos os conceitos ainda serão abordados neste volume da coleção. Os atos unilaterais – são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de recompensa, da gestão de negócios, do pagamento indevido e do enriquecimento sem causa. Tais institutos jurídicos também serão estudados neste volume, logo a seguir. Títulos de crédito – são os documentos que trazem em seu bojo, com caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional de natureza privada. O seu estudo interessa mais ao Direito de Empresa ou Comercial e merecerá, na presente obra, apenas breves comentários. Vejamos no presente capítulo algumas abordagens quanto aos atos unilaterais e os títulos de crédito. No tocante aos atos ilícitos e abuso de direito, conforme já apontado, constam os mesmos do presente trabalho. Os contratos serão objeto da continuidade desta coleção (Volume 3). OS ATOS UNILATERAIS COMO FONTES DO DIREITO OBRIGACIONAL Já foi visto que as obrigações podem ter origem nos contratos, nos atos ilícitos, no abuso de direito, nos atos unilaterais de vontade e nos títulos de crédito. Vamos agora analisar as obrigações decorrentes de ato unilateral de vontade e alguns tópicos relacionados com os títulos de crédito. Como é notório, quanto aos contratos, a obrigação nasce a partir do momento em que for verificado o choque ou encontro de vontades entre as partes negociantes, em regra. Entretanto, nas declarações unilaterais de vontade, a obrigação nasce da simples declaração de uma única parte, formandose no instante em que o agente se manifesta com a intenção de assumir um dever obrigacional. Uma vez emitida a declaração de vontade, esta se torna plenamente exigível ao chegar ao conhecimento a quem foi direcionada. O Código Civil em vigor prevê expressamente os seguintes atos unilaterais como fontes obrigacionais: promessa de recompensa (arts. 854 a 860 do CC); gestão de negócios (arts. 861 a 875 do CC); Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 41 Flávio Tartuce c) d) 1.4.1 a) b) c) pagamento indevido (arts. 876 a 883 do CC); enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC). Passamos ao estudo de tais institutos de forma pontual. Da promessa de recompensa Enuncia o art. 854 do CC que “aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar a quem preencha certa condição ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o prometido”. São requisitos para a promessa de recompensa: a capacidade da pessoa que emite a declaração de vontade; a licitude e possibilidade do objeto; o ato de publicidade. Nesse contexto, a pessoa que cumprir a tarefa prevista na declaração, executando o serviço ou satisfazendo a condição, ainda que não esteja movida pelo interesse da promessa, poderá exigir a recompensa estipulada (art. 855 do CC). Esse dispositivo valoriza a eticidade e a boafé objetiva, merecendo comentários a título de exemplo. Imaginese, para ilustrar, um caso em que alguém perdeu um animal de estimação, um cachorro. Para recuperar o animal, o dono coloca uma faixa em uma avenida de grande circulação, oferecendo uma recompensa. Alguém que conhece o cão e o seu dono, mas que no momento desconhece a promessa, encontra o animal e o leva à casa do seu proprietário. Essa pessoa terá direito à recompensa, pois agiu conforme os ditames da boafé. Também terá direito aos valores gastos com o cumprimento da tarefa, como, por exemplo, as despesas feitas para a alimentação do animal, cuidados veterinários e transporte. A revogação da promessa de recompensa está prevista no art. 856 da atual codificação, sendo possível antes de prestado o serviço ou preenchida a condição e desde que seja feita com a mesma publicidade da declaração. Se for fixado um prazo para a execução da tarefa haverá, em regra, renúncia ao direito de revogação na vigência desse prazo. No caso de revogação da promessa, se algum candidato de boafé tiver feito despesas, terá direito a reembolso quanto a tais valores. Discutese se haverá direito à recompensa se o candidato tiver executado a tarefa a contento, não Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 42 Flávio Tartuce sabendo da revogação da estipulação. Pela valorização da boafé e pelo que consta do art. 855, o presente autor entende que a resposta não pode ser outra que não a positiva. Nesse sentido, vale citar o Código Civil português, que estabelece em seu art. 459.º, (parágrafo) 2: “Na falta de declaração em contrário, o promitente fica obrigado mesmo em relação àqueles que se encontrem na situação prevista ou tenham praticado o facto sem atender à promessa ou na ignorância dela”. Em havendo execução conjunta ou plúrima, sendo o ato contemplado na promessa praticado por mais de um indivíduo, terá direito à recompensa o que primeiro o executou (art. 857 do CC). Entretanto, sendo simultânea a execução, a cada um tocará quinhão igual na recompensa, caso seja possível a divisão (art. 858 do CC). Se a estipulação tiver como conteúdo um bem indivisível, deverá ser realizado um sorteio. Aquele que obtiver a coisa (vencedor) dará ao outro o valor correspondente ao seu quinhão. Esse sorteio deverá ser realizado dentro das regras legais, da razoabilidade e do bom senso (mais uma aplicação da eticidade, da boafé objetiva). Na hipótese de concursos que se abrirem com promessa pública de recompensa, é condição essencial, para valerem, a fixação de um prazo, observadas também as regras analisadas anteriormente (art. 859 do CC). Nesses concursos, é comum a nomeação de um juiz (ou árbitro), que irá avaliar os trabalhos. A decisão dessa pessoa nomeada, nos anúncios, como juiz, obriga os interessados (art. 859, § 1.º, do CC). Na falta dessa pessoa designada para julgar o mérito dos trabalhos que se apresentarem, entenderseá que o promitente da recompensa reservou para si esta função (§ 2.º). Se os trabalhos tiverem mérito igual, procederseá de acordo com as regras vistas para a promessa de recompensa: anterioridade, divisão e sorteio (§ 3.º). Por fim, nos concursos públicos, as obras premiadas só ficarão pertencendo ao promitente se assim for estipulado na publicação da promessa (art. 860 do CC). A concretizar a norma, em concursos de monografias jurídicas os trabalhos pertencem aos seus autores, em geral, aplicandose as regras de proteção previstas na Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998). Porém, é possível prever que os direitos patrimoniais de exploração da obra premiada passarão a pertencer àquele que idealizou o concurso. Vale mencionar que isso não inclui os direitos morais do autor, que são intransmissíveis