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1 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EM CASOS DE DISPLASIA COXOFEMORAL EM CÃES – REVISÃO SISTEMÁTICA Letícia Bernardon1; Giovani Jacob Kolling2 1 Acadêmica de Medicina Veterinária. IMED. leticiacbernardon@gmail.com 2 Orientador. Médico Veterinário. Professor e Doutor do curso de Medicina Veterinária. IMED. giovani.kolling@imed.edu.br 1 INTRODUÇÃO A displasia de quadril é o desenvolvimento anormal das articulações coxofemorais. Essa alteração ocorre principalmente em cães de porte grande podendo também afetar cães de porte pequeno e gatos. A condição é tipicamente bilateral, mas pode ser assimétrica (THRALL, 2019). A displasia de quadril é um distúrbio hereditário, onde as estimativas de herdabilidade variam de 0,2 % a 0,6 %. Com a utilização de interpretação radiográfica mais sensível e métodos mais modernos de imagens das articulações coxofemorais, a herdabilidade estimada em cães da raça Pastor Alemão, principal raça acometida pela doença, foi elevada de 0,46% para 61% (THRALL, 2019). Segundo Betini et al., 2007 os fatores intrínsecos e extrínsecos envolvidos incluem estrutura e conformação corpórea, alteração no desenvolvimento ósseo muscular, crescimento rápido, nutrição deficiente ou excessiva (proteínas, cálcio e fósforo), distrofia do músculo pectíneo, atrofia muscular pélvica, excesso de exercícios em cães jovens, distúrbios hormonais e fatores extrínsecos como, material constituinte do piso, se há escada na vivência diária do animal, entre outros. Para o diagnóstico desta alteração deve-se agregar uma série de dados e informações como o histórico do animal, sinais clínicos observados durante o exame físico e exame radiográfico da pelve obtido na incidência ventrodorsal (BRESSIANI et al., 2015). De acordo com as normas estabelecidas pelo Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária (CBRV), para que seja possível a realização do exame radiográfico, deve-se seguir alguns critérios como, por exemplo, idade (diagnóstico definitivo após 24 meses), contenção do animal, podendo ser feita a utilização de fármacos para analgesia profunda e relaxamento muscular, possibilitando um posicionamento ideal e adequado, identificação do receptor de imagem que deve possuir os dados do paciente (nome, raça, espécie do animal, lado da mailto:leticiacbernardon@gmail.com mailto:giovani.kolling@imed.edu.br 2 articulação que está sendo radiografada), dimensões do receptor de imagem, qualidade radiográfica (ROCHA et al., 2008). Para que haja uma avaliação correta e conformidade de técnica a ser utilizada, as formas de avaliação podem ser divididas em aquelas que identificam antecipadamente a frouxidão apresentada pela articulação e aquelas que buscam evidências radiográficas de doença articular degenerativa. A avaliação da frouxidão coxofemoral é um componente importante da avaliação radiográfica completa das articulações coxofemorais (THRALL, 2019). As projeções mais comuns para estudo da articulação coxofemoral em cães são a projeção ventrodorsal (VD) estendida, ventrodorsal flexionada (Frog-leg), lateral, lateral oblíqua, dorsoventral (DV) e a projeção com compressão e distração (Método PennHIP) (CAMPOS et al., 2017). O presente trabalho tem por objetivo descrever uma revisão sistemática sobre as principais formas de diagnóstico de imagem para identificação da displasia coxofemoral em cães, dando ênfase aos seus métodos de diagnósticos por meio dos exames de Raio X, destacando as técnicas a serem utilizadas e suas particularidades para um diagnóstico preciso e definitivo. 2 METODOLOGIA A realização desse estudo foi desenvolvida na forma de pesquisa bibliográfica, por meio de artigos científicos de plataformas como o google acadêmico e Scielo, visando o entendimento a respeito da temática abordada. Conforme Dalbosco, 2014 “a pesquisa teórico-bibliográfica reporta-se a um âmbito nitidamente conceitual, dizendo respeito, normalmente, ao processo de reconstrução e análise de teorias e conceitos de um determinado autor, obra ou tradição intelectual”. Nesse aspecto, a pesquisa se deu por meio de artigos científicos e livros que abordam a fisiologia, anatomia, e descrição das técnicas utilizadas para realização do exame, com foco principal na execução. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Após análise bibliográfica de estudos diagnósticos de displasia coxofemoral em cães, pode-se elencar diferentes métodos para execução de radiografias que permitem diagnósticos precisos. As projeções realizadas no momento do Raio-x condizem com a região a ser estudada e/ou com o grau de mobilidade do paciente. Os parâmetros técnicos para execução do exame radiográfico como o tamanho do filme devem possuir dimensões suficientes para abranger a área entre as asas do íleo e as articulações femurotibiopatelares, podendo nesses casos, utilizar filme de maior dimensão, 35x43cm, 3 atentando-se ao tamanho do animal para usar chassi adequado. Ainda, os feixes primários de Raio-x devem possuir um raio central a nível do acetábulo entre as articulações coxofemorais (AGOSTINHO; DUARTE e CORRÊA, 2010). Para a projeção ventrodorsal (VD) estendida, o paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, tendo seus membros pélvicos aduzidos e estendidos simultaneamente, de maneira que seja possível a rotação da cabeça do fêmur para que, dessa forma, o raio central seja direcionado na linha média dos trocanteres. A cauda do paciente deve estar estendida. Como a projeção ventrodorsal estendida é um método insensível para detecção de sinais de subluxação, deve-se ter cuidado para garantir o posicionamento preciso do indivíduo e qualidade radiográfica satisfatória (THRALL, 2019). Para a projeção de “Frog-leg”, o paciente é posicionado em decúbito dorsal, estando em posição anatômica, os fêmures devem estar angulados em torno de 45 graus em relação a coluna vertebral. As articulações do joelho e da perna devem estar flexionadas de forma adequada para que o raio central esteja direcionado na linha média a nível do púbis (CAMPOS et al., 2017). Na projeção lateral, o paciente pode estar tanto em decúbito lateral direito quanto em decúbito lateral esquerdo, de forma que o lado de interesse fique próximo ao receptor de imagens. Conforme Oliveira, 2019 tanto para visualização de articulação coxofemoral ou para fraturas na pelve, além de se manter a área a ser radiografada para o lado do receptor e membro levemente flexionado, o membro sadio deve estar flexionado. As pernas devem estar separadas e a cauda desviada da projeção. O raio central é direcionado ao trocanter maior na parte superior do membro e incidir perpendicular ao chassi. A radiografia lateral deve ser realizada acompanhada de uma incidência ventrodorsal de forma rotineira. Quando há uma fratura única e o paciente não suporta ser posicionado, devido a dor e falta de mobilidade, em projeção ventrodorsal estendida, uma projeção ventrodorsal com o membro flexionado pode ser realizada. Da mesma forma ocorre na avaliação de uma luxação, pois na maior parte dos casos ela não é visualizada em uma projeção ventrodorsal, optando assim pela utilização da projeção lateral como uma radiografia complementar (CAMPOS et al., 2017). Para realização da projeção lateral oblíqua, utiliza-se o mesmo posicionamento da projeção lateral, contudo, nessa há a diferença de angulação. Essa incidência deve ser realizada com a pelve do paciente em um ângulo de aproximadamente 20 graus em relação a mesa, para que assim não haja sobreposição da articulação. De acordo com De Sena, 2019 é possível a utilização de instrumentos radiolucente como por exemplo uma cunha que deve ser posicionada entre os membros pélvicos para um melhor posicionamento da parte para cães de raças maiores. 4 O raio central é direcionado ao trocânter na parte superior do membro incidindo perpendicularmente ao chassi. A projeção dorsoventral(DV) é opcional e utilizada quando não é possível a realização da projeção VD, ou seja, quando a abdução dos membros é inevitável, o que torna a movimentação difícil e dolorosa por causa da doença (CAMPOS et al., 2017). O paciente é posicionado em decúbito ventral, com os membros pélvicos abduzidos. O raio central é direcionado na linha média ao nível da primeira vértebra caudal incidindo perpendicularmente no receptor com ângulo igual a zero. Nesse posicionamento ocorre o fenômeno de magnificação devido a distância entre objeto e filme. Segundo Miranda et al., 2016 a técnica radiográfica com projeção da articulação estendida, método radiográfico em distração (RDM) é muito utilizada em animais jovens, em média 4 meses de idade, e é por meio dela que se obtêm uma medida direta da frouxidão articular através do índice de distração (ID). Contudo, para Rocha et al., 2014 técnicas realizadas antes dos 24 meses de idade podem resultar em elevados números de falsos negativos prejudicando o controle da displasia coxofemoral. O método de PennHIP (Programa de melhoria do quadril da Pensilvânia) foi desenvolvido, como o nome sugere, na Universidade da Pensilvânia em 1990, pelos cofundadores Smith, Biery e Gregor, e seu objetivo principal, era primeiramente, indicar possíveis casos de osteoartrite precoce em caninos por meio de dados que indicassem a frouxidão articular. O PennHIP consiste na obtenção de três imagens radiográficas em posicionamentos diferentes para que seja possível estimar o grau de doença articular e os pontos de referência para mensuração da frouxidão articular. Esses posicionamentos são realizados em ventrodorsal estendida, projeção com compressão da articulação e projeção de distração articular (CARNEIRO et al., 2020). Para a execução da técnica de PennHIP, também é necessário que o cão esteja em decúbito dorsal. Os membros pélvicos são mantidos com os fêmures em posição neutra, e uma radiografia é feita enquanto as articulações coxofemorais são comprimidas para obtenção de uma imagem das articulações em sua posição mais congruente. Corroborando com o supracitado, segundo Campos et al. (2020), o método de PennHIP consiste na mensuração do ID, trata-se de um valor numérico que é obtido por uma mensuração entre a distância do centro da cabeça femoral até o centro do acetábulo, dividindo o valor obtido pela distância do raio formado pela cabeça femoral. Se o resultado for menor que 0,3 o animal é considerado normal e se este índice for maior que 0,3 o animal é considerado displásico. Assim, com os dados do 5 ID gerados será possível escolher a melhor forma de tratamento, bem como, a necessidade de realização de outras radiografias. Ainda que esse método tenha uma grande precisão quanto ao diagnóstico de displasia e frouxidão articular e venha sendo amplamente utilizado em países referência como os Estados Unidos, existe uma dificuldade de aceitação no resto do mundo devido à falta de profissionais aptos a realização do exame uma vez que é necessário treinamento específico e certificação para a atuação. Além disso, outros fatores que influenciam para a não disseminação do método são as cobranças de taxas de avaliação, necessidade das imagens serem obtidas em formato digital e tempo de espera pelo relatório final da PennHIP (BROECKX, 2018). 4 CONSIDERAÕES FINAIS A displasia coxofemoral é mais comum em cães de porte grande, podendo ser observada em cães menores bem como em gatos. Observou-se que ela é uma doença hereditária, variando conforme a idade e pode ter um agravamento devido a fatores externos como hábitos de vida do animal. Neste trabalho comprovou-se que o meio de diagnóstico para essa disfunção é o exame radiográfico e que, existem diversos modos de realiza-lo, conforme protocolo, situação encontrada, idade do paciente e possibilidade de realização do exame. Ainda, foram descritos os posicionamentos das técnicas mais utilizadas para obtenção das imagens diagnósticas. A projeção ventrodorsal é a mais utilizada nas práticas do exame. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOSTINHO C. I; DUARTE A. M. Displasia Óssea: Tratamentos e métodos radiográficos na incidência de displasia coxofemoral em cães. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária e Zootecnia. n. 15. 2010. BETTINI C.M. et al. Incidência de displasia coxofemoral em cães da raça Border Collie. Arquivo de Ciências Veterinárias e Zoológicas Unipar, Umuarama. v. 10. p. 21-25, 2007. BRASS, W. Hip dysplasia in a dog. J. Small Anim. Pract.1989. 4f. v.30, p.166-170. Journal of Small Animal Practice, Reino Unido. BRESSIANI, L. B. et al. Diagnóstico e Tratamento Conservador Da Displasia Coxofemoral Em Cães. Revista Investigação Medicina Veterinária, São Paulo.v.14, p.1-6, 2015. BROECKX, B.J.G. et al. Comparison of Three Methods to Quantify Laxity in the Canine Hip Joint. Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology. v.31, p.1-6, 2018. CAMPOS, V. M. et al. Reavaliação de Posicionamentos Radiográficos para o Diagnóstico Da Displasia Coxofemoral em Cães. Revisão De Literatura- Revista Veterinária e Zootecnia, Botucatu, São Paulo. v. 24, n. 2, 2017. 6 CARNEIRO, R. K.; BING, R. S.; FERREIRA, M. P. Avaliação radiográfica da displasia coxofemoral em cães. Revista Eletrônica Ciência Animal da Universidade Estadual do Ceará. v.30, n.4, p.104-116, 2020. DALBOSCO, C. Natureza da pesquisa em educação: abrindo o leque de alguns problemas. In: HENNING, L.M.P. 2014. 440 p. Pesquisa, ensino e extensão no campo filosófico- educacional: possibilidades presentes no contexto universitário. Londrina, Paraná. DE SENA, V. T. M. Manual de Posicionamento Radiográfico do Esqueleto Apendicular Canino. 2019. 77f. Monografia (graduação) - Universidade Rural da Amazônia, curso de Medicina Veterinária, Belém, Pará. MIRANDA, F.G. et al. Morgan line and its relationship with distraction index, angle of inclination and degenerative joint disease in the diagnosis of canine hip dysplasia. 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