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Nervos Cranianos e Suas Funções

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA - UNISUL BACHARELADO EM MEDICINA VETERINÁRIA
CAROLINE OLIVEIRA NEVES 
TUBARÃO 2024
CAROLINE OLIVEIRA NEVES 
PARES DE NERVOS CRANIANOS
TUBARÃO 2024
Os nervos cranianos possuem determinados atributos característicos que os diferenciam dos nervos espinais: eles não possuem um precursor embrionário segmentar e sua raiz não se divide em tratos aferentes e eferentes, apresentando um único fluxo combinado. Ao contrário dos nervos espinais, que possuem funções tanto sensoriais quanto motoras, os nervos cranianos podem ser exclusivamente motores, sensoriais ou mistos. O I, II e VII nervos cranianos são sensoriais, o III, IV, VI, XI e XII nervos cranianos são motores, enquanto o V, VII, IX e X nervos cranianos são sensoriais e motores.
Nervo olfatório (I) (nervus olfactorius) 
 O nervo olfatório não é um nervo único, e sim uma grande quantidade de axônios não mielinizados cujos corpos celulares se situam no interior do epitélio olfatório. Esses axônios atravessam a lâmina cribriforme do nervo etmoidal para alcançar os bulbos olfatórios, onde fazem sinapse. O nervo terminal do órgão vomeronasal se combina no interior do nervo olfatório. Esse nervo relativamente fino termina na parte rostral do rinencéfalo). Alguns autores descrevem esse nervo separadamente como um nervo craniano.
 Nervo óptico (II) (fasciculus opticus) 
O nervo óptico não é um nervo periférico verdadeiro, e sim um trato do encéfalo. As fibras do nervo óptico se originam da retina, a qual se desenvolve a partir do diencéfalo. O nervo óptico também é envolvido por extensões das meninges, a dura, que se fusiona com a esclera onde o nervo deixa o bulbo. Os axônios do nervo óptico se acumulam no disco óptico da retina.
 O nervo óptico deixa o bulbo do olho em sua face caudal e penetra a cavidade craniana ao atravessar o canal óptico. Após a decussação das fibras nervosas para o lado oposto no quiasma óptico, elas formam os tratos ópticos na base do encéfalo. As fibras ópticas terminam no núcleo geniculado lateral, nos colículos rostrais dos corpos quadrigêmeos e nos núcleos talâmicos, onde fazem sinapse com fibras que se projetam para o córtex cerebral visual no lobo occipital.
 
Nervo oculomotor (III) (nervus oculomotorius)
O nervo oculomotor compõe-se de fibras eferentes somáticas do núcleo motor e neurônios eferentes viscerais do núcleo parassimpático. Os dois núcleos se posicionam no tegumento do mesencéfalo. O núcleo motor é o principal núcleo desse nervo. O nervo oculomotor deixa o tronco encefálico na face ventral dos pedúnculos cerebrais. Ele passa rostralmente, dividindo uma bainha dural comum com os nervos oftálmico e abducente, antes de deixar a cavidade craniana através do forame redondo ou através da fissura orbital e do forame (orbito)redondo combinados, respectivamente. 
Ao entrar na órbita, o nervo oculomotor se divide em um ramo dorsal e outro ventral. O ramo dorsal inerva o músculo levantador das pálpebras e termina no músculo reto dorsal. O ramo ventral termina em uma série de ramos que inervam os músculos reto medial, reto ventral e oblíquo ventral. As fibras parassimpáticas percorrem o ramo ventral e fazem sinapse com neurônios pós-ganglionares no gânglio ciliar localizado na origem do ramo do músculo oblíquo ventral. As fibras pós-ganglionares inervam o músculo ciliar e o músculo esfíncter da pupila, responsável pela constrição da pupila. O nervo oculomotor inclui algumas fibras sensoriais que se unem ao ramo oftálmico do nervo trigêmeo e se prolongam até o gânglio trigeminal.
Nervo troclear (IV) (nervus trochlearis)
O nervo troclear compõe-se de fibras motoras que emergem dos núcleos trocleares no tegumento mesencefálico e inervam o músculo oblíquo dorsal do olho. Trata-se do único nervo que emerge da face dorsal do tronco encefálico após cruzar para o lado contralateral na decussação troclear. O nervo troclear penetra a dura-máter na altura da prega ventral do tentório cerebelar e passa rostralmente, lateral ao nervo maxilar. Ele deixa a cavidade craniana através do forame redondo, exceto no equino, onde há uma abertura separada. O nervo troclear compreende poucas fibras sensoriais.
Nervo trigêmeo (V) (nervus trigeminus) 
O nervo trigêmeo é um nervo complexo do tipo misto. Trata-se do maior nervo sensorial da cabeça. Ele compõe-se de fibras sensoriais da pele e de tecidos mais profundos da cabeça, e fibras motoras para a musculatura de mastigação, o músculo milo-hióideo, a parte rostral do músculo digástrico, o músculo tensor do véu palatino e o músculo tensor do tímpano.
O núcleo motor do nervo trigêmeo se encontra no metencéfalo, sob o locus cerúleo da fossa romboide. As fibras sensoriais emergem dos neurônios pseudounipolares do gânglio trigeminal e passam para os núcleos sensoriais do trigêmeo no mesencéfalo, na ponte e na coluna. Os núcleos dos tratos mesencefálicos do nervo trigêmeo compõem-se de neurônios pseudounipolares, cujas fibras atravessam o gânglio trigeminal sem ocorrência de sinapse. Assim, esse núcleo assume a função de gânglio sensorial no interior do encéfalo. O nervo trigêmeo emerge da face lateral da raiz motora. 
O gânglio trigeminal se situa em uma prega dural no osso petroso. 
Quando o nervo deixa o gânglio trigeminal, ele se divide em três ramos principais:
● Nervo oftálmico 
● Nervo maxilar 
● Nervo mandibular 
Nervo oftálmico: O nervo oftálmico passa rostralmente, lateral à hipófise, em uma bainha dural comum com os nervos maxilar, troclear e abducente. Os nervos deixam a cavidade craniana e adentram a órbita através do forame redondo ou da fissura orbital, respectivamente Ele está intimamente relacionado ao seio cavernoso e, em ruminantes, no suíno e no gato, à rede admirável epidural. 
Após entrar na órbita, o nervo oftálmico se divide em:
● Nervo lacrimal (n. lacrimalis); 
● Nervo frontal (n. frontalis); 
● Nervo nasociliar (n. nasociliaris) com: – Nervo etmoidal (n. ethmoidalis); – Nervo infratroclear (n. infratrochlearis). Coberto pela periórbita, o nervo lacrimal corre na extensão do músculo reto lateral do bulbo do olho para inervar a glândula lacrimal, a pele e a túnica conjuntiva do ângulo temporal do olho.
Nervo maxilar (nervus maxillaris):
 O nervo maxilar é consideravelmente mais forte que o nervo oftálmico. Ele é sensorial para a pálpebra inferior, mucosa nasal, dentes superiores, lábio superior e nariz. Seus ramos distais compreendem as fibras pós-ganglionares que abastecem as glândulas lacrimal, nasal e palatina. Antes de deixar a cavidade do crânio através do forame redondo e da fissura orbital, respectivamente, emite o ramo meníngeo para as partes basais da dura-máter.
Nervo mandibular (nervus mandibularis):
 	O nervo mandibular é tão forte quanto o nervo maxilar, mas, ao contrário dos outros ramos do nervo trigêmeo, é tanto sensorial quanto motor. Ele fornece a inervação motora para os músculos voltados para a preensão e mastigação e propicia inervação sensorial para a cavidade bucal, a língua, os dentes mandibulares, o lábio inferior e partes da pele da face. Após emitir um ramo meníngeo, o nervo mandibular deixa a cavidade craniana através do forame oval (incisura oval no equino).
Nervo abducente (VI) (nervus abducens) 
O nervo abducente fornece a inervação motora para o músculo reto do bulbo lateral e o quarto lateral do músculo retrator do bulbo do olho. Suas fibras se originam no núcleo motor desse nervo nas partes dorsais da ponte, onde as fibras motoras do nervo facial traçam um arco ao seu redor.
 O nervo abducente emerge na extremidade rostral do sulco ventral lateral da medula oblonga e deixa a cavidade craniana juntamente com os nervos maxilar, oculomotor e troclear, através da abertura redonda ou da fissura orbital, respectivamente.
Nervo facial (VII) (nervus facialis) 
Os axônios do nervo facial emergem de dois núcleos separados na medula oblonga. O núcleo motor se situa na parte ventral da medula oblonga rostral próximo à ponte. As fibrasdesse núcleo correm dorsalmente ao redor do núcleo abducente até curvarem-se mais uma vez ventralmente. As fibras parassimpáticas pré-ganglionares do nervo facial se originam no núcleo parassimpático, o qual se posiciona caudalmente ao núcleo motor. As fibras motoras e parassimpáticas se unem imediatamente distais à sua emergência no tronco encefálico, laterais ao corpo trapezoide, para formar as raízes do nervo facial. Elas são unidas por fibras sensoriais do gânglio geniculado.
 Uma parte intermediária constitui as partes sensorial e parassimpática do nervo facial, enquanto o componente facial proporciona inervação motora para a musculatura mimética. O nervo facial passa para o meato acústico interno, acompanhado pelo nervo vestibulococlear. Ele entra no canal facial, uma passagem no interior do osso temporal petroso, com uma convexidade caudal aguda, o joelho do nervo facial, onde o nervo aumenta de tamanho para formar o gânglio geniculado no auge da curva. As paredes ósseas do canal facial possuem aberturas oblíquas em direção à cavidade timpânica. Nesse local, o nervo facial se separa da orelha média apenas pela mucosa que reveste a cavidade timpânica. Desse modo, paralisia do nervo facial pode estar associada a infecções na orelha média.
Nervo vestibulococlear (VIII) (nervus vestibulocochlearis) 
O nervo vestibulococlear fornece apenas inervação sensorial e é composto pelo nervo vestibular, referente ao equilíbrio, e pelo nervo coclear, referente à audição. O nervo vestibular conecta o aparelho vestibular da orelha interna ao encéfalo. Os corpos celulares de seus neurônios bipolares se localizam no gânglio vestibular, e as fibras periféricas emergem das cristas ampulares e das máculas do utrículo e do sáculo do labirinto membranáceo. 
O gânglio vestibular se posiciona no fundo do meato acústico interno e compõe-se de uma parte superior e outra inferior. As fibras aferentes do componente vestibular formam a raiz vestibular, a qual penetra a medula na altura do corpo trapezoide, onde passa para a área vestibular com seus núcleos terminais. Parte das fibras passa diretamente para o cerebelo. O nervo coclear transmite impulsos da orelha interna para o encéfalo que são percebidos como audição. Ele compõe-se de fibras cujos corpos celulares se posicionam no gânglio espiral em formato de faixa dentro do modíolo ósseo da cóclea. Os processos periféricos dessas células terminam mediante sinapses com células ciliadas do órgão espiral (de Corti) no ducto coclear. 
As fibras centrais se unem para formar fascículos que atravessam a área coclear perfurada do meato acústico interno e se unem para formar a raiz coclear do nervo vestibulococlear. A raiz coclear se combina com a raiz vestibular e penetra o corpo trapezoide para terminar na medula oblonga nos núcleos cocleares ventral e dorsal. Os dois núcleos cocleares são o ponto de partida para as vias auditivas. Após a decussação, as fibras passam para o corpo geniculado medial e para os colículos caudais dos corpos quadrigêmeos. Elas ascendem com o lemnisco lateral para alcançar o córtex cerebral, onde se projetam para a área acústica dos lobos temporais.
Nervo glossofaríngeo (IX) (nervus glossopharyngeus) 
O nervo glossofaríngeo é um nervo misto, tanto sensorial quanto motor. Suas fibras motoras se originam na parte rostral do núcleo ambíguo da medula oblonga. O núcleo ambíguo é um local de origem comum para as fibras glossofaríngeas e vagais. As fibras parassimpáticas emergem do núcleo parassimpático do nervo glossofaríngeo. O nervo glossofaríngeo emerge da face ventrolateral da medula oblonga em uma relação íntima com os nervos vago e acessório. Alguns autores se referem a esses nervos como o grupo vago. 
O nervo glossofaríngeo proporciona a inervação sensorial da orelha média, o terço caudal da língua e, juntamente com o nervo vago, da faringe. Ele proporciona a inervação motora para o músculo dilatador da faringe e provavelmente para os músculos do palato mole.
Nervo vago (X) (nervus vagus) 
O nervo vago não está restrito à cabeça, como os outros nervos cranianos, mas ele conta com uma ampla distribuição para inervar as vísceras das cavidades torácica e abdominal. Trata-se do maior nervo parassimpático do sistema nervoso autônomo. O nervo vago é misto e, portanto, conduz fibras motoras, sensoriais e parassimpáticas. As fibras motoras emergem na parte caudal do núcleo ambíguo da medula oblonga e são acompanhadas por fibras motoras adicionais do nervo acessório. Os corpos celulares dos neurônios sensoriais pseudounipolares se situam no gânglio proximal do nervo vago. Seus receptores situam-se nas vísceras, e suas fibras aferentes se prolongam para os núcleos sensoriais na medula oblonga. 
Os corpos celulares pré-ganglionares parassimpáticos posicionam-se no núcleo parassimpático do nervo vago, o qual se encontra imediatamente caudal ao núcleo do nervo glossofaríngeo na medula oblonga. As extensas fibras parassimpáticas pré-ganglionares desse núcleo terminam nos gânglios intramurais das vísceras torácica e abdominal. Os ramos parassimpáticos da cabeça fazem sinapse no gânglio distal (anteriormente denominado gânglio nodoso), o qual se localiza no destacamento do nervo laríngeo cranial.
Nervo acessório (XI) (nervus accessorius) 
O nervo acessório também pertence ao grupo vago. Em sua origem, ele compõe-se apenas de fibras motoras, mas recebe fibras simpáticas do gânglio cervical cranial e é formado por duas. As fibras da raiz cranial se originam na parte caudal do núcleo ambíguo da medula oblonga e deixam o nervo acessório para se unirem ao nervo vago. As fibras da raiz espinal possuem corpos celulares no núcleo do nervo acessório, o qual se localiza na parte cervical da medula espinal. Essas fibras deixam a medula espinal na face lateral e se combinam em um tronco que percorre a medula espinal até entrar na cavidade craniana através do forame magno. O nervo acessório deixa o crânio com o nervo glossofaríngeo e o nervo vago através do forame jugular.
Nervo hipoglosso (XII) (nervus hypoglossus) 
As fibras do nervo hipoglosso se originam no núcleo hipoglosso da medula caudal. Elas emergem lateralmente às pirâmides e atravessam a dura-máter. Seu tronco combinado deixa a cavidade craniana através do canal do nervo hipoglosso. Ele passa rostralmente entre os nervos vago e acessório até alcançar a língua, onde se divide em ramos profundo e superficial. O nervo hipoglosso inerva as musculaturas intrínseca e extrínseca da língua. 
REFERÊNCIA
KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos animais domésticos. Texto e atlas colorido. 6a ed, Porto Alegre: Artmed, 2016.

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