Buscar

Suspensão da Exigibilidade do Crédito


Prévia do material em texto

Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário
	
SEMINÁRIO II - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, MANDADO DE SEGURANÇA E TUTELAS PROVISÓRIAS
Questões
1.	No art. 151 do CTN, que significa o termo “exigibilidade”? Quando surge essa “exigibilidade”? E qual o efeito da suspensão da exigibilidade? Impede-se (i) o lançamento, (ii) a inscrição na dívida ativa, (iii) a execução fiscal; (iv) todos estes atos? (vide anexo I a IV).
É o direito que o Estado (sujeito ativo) tem de exigir do contribuinte (sujeito passivo) o objeto da obrigação. Esse direito só pode ser exercido em relação ao lançamento tributário devidamente constituído e cientificado ao sujeito passivo.
Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho[footnoteRef:1], “É o lançamento que constitui o crédito tributário e que lhe confere foros de exigibilidade, tornando-o susceptível de ser postulado, cobrado, exigido”. [1: Carvalho, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método (p. 515). Noeses. Edição do Kindle.
] 
A suspensão da exigibilidade do crédito tributário impede que o poder público dê andamento nas suas atividades de cobrança do crédito tributário constituído, seja administrativa ou judicial, como por exemplo que seja encaminhado para inscrição em dívida ativa; se já encaminhado, impede a sua inscrição; se já inscrito impede o andamento da execução fiscal; até que sobrevenha fato/ato/decisão que coloque esse crédito tributário novamente em condições de ser cobrado.
As medidas previstas no art. 151 do CTN são aptas a suspender tão somente a exigibilidade do crédito tributário, portanto não impedem que o lançamento seja constituído, especialmente para prevenir os efeitos da decadência. Assim, não há previsão legal para que o judiciário proíba a constituição do lançamento, mas tão somente a sua exigibilidade.
Contudo, se ainda não houver sido constituído o lançamento, como é o caso da concessão de medida liminar em ações preventivas ingressadas no judiciário, o ente administrativo deverá efetuar o lançamento sem aplicação de multa de ofício em razão do art. 63 da Lei 9.430/1996:
“Art. 63.  Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de ofício.
§ 1º O disposto neste artigo aplica-se, exclusivamente, aos casos em que a suspensão da exigibilidade do débito tenha ocorrido antes do início de qualquer procedimento de ofício a ele relativo.” (grifei)
2.	Em que sentido a expressão “crédito tributário” foi utilizada no art. 151 do CTN? Essa expressão congrega também liames decorrentes da prática de atos ilícitos (e.g. multa por desrespeito aos deveres instrumentais)? 
A expressão “crédito tributário” abrange as obrigações principais (tributo) e as obrigações acessórias no que tange à penalidade aplicada por sua inobservância.
Esse entendimento pode ser extraído do art. 113 do CTN, onde reza que a obrigação principal tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. E que a obrigação acessória, quando inobservada, converte-se em principal relativamente à penalidade. Em outras palavras, o descumprimento de uma obrigação acessória é fato gerador de uma principal (alusiva à multa).
Portanto, o art. 151 do CTN suspende a exigibilidade do crédito tributário, que pode abarcar tanto a exigibilidade de: tributo, penalidade pela falta de seu recolhimento no prazo legal e, também, penalidades em razão de descumprimento de obrigação acessória (deveres instrumentais).
O parágrafo único do art. 151 do CTN dispõe que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações assessórias dependentes da obrigação principal cuja exigibilidade do crédito tributário seja suspensa, ou dela consequentes.
O que se quer dizer é que as medidas empregadas para suspensão da exigibilidade do crédito tributário não têm o condão de dispensar o cumprimento das obrigações acessórias/deveres instrumentais dele decorrentes.
3.	As hipóteses de “suspensão da exigibilidade do crédito tributário” previstas no art. 151 do CTN são taxativas? (vide anexo V)
Sim, são taxativas em razão do que dispõe o inciso I do art. 111 do CTN que se interpreta literalmente a legislação tributária que disponha sobre suspensão do crédito tributário.
Nesse contexto, o art. 141 do CTN também dispõe que:
 “O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias”. (grifei)
Portanto, somente as hipóteses existentes no CTN são aptas a suspender a exigibilidade do crédito tributário.
Este é o entendimento da jurisprudência do STJ:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO. ART. 151 DO CTN. ROL TAXATIVO. CONSULTA. NÃO INCLUSÃO. MULTA. RESPONSABILIDADE. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o art. 151 do CTN prevê um rol taxativo ao apresentar as hipóteses em que há a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, no qual não está incluso o procedimento de consulta fiscal.
2. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte Superior, há "responsabilidade do adquirente pelos consectários da mora e também pela multa tributária decorrente do inadimplemento perpetuado após a resposta à consulta formulada" (REsp n. 965.271/RJ, relatora Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 18/08/2009, DJe de 03/09/2009).
(...)
(AgInt no AgInt no AREsp n. 1.281.008/SP, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 13/3/2023, DJe de 15/3/2023.)
PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ. OFENSA AO ARTIGO 535 DO CPC/1973. NÃO CARACTERIZAÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA. PODER DO RELATOR. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973. PODERES DO RELATOR. OFENSA AO PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. TESE NÃO PREQUESTIONADA. SÚMULA 211/STJ. RECURSO ADMINISTRATIVO QUE IMPUGNA ATO DE NÃO HOMOLOGAÇÃO DE PARCELAMENTO FISCAL. EFEITO SUSPENSIVO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. HIPÓTESES DE SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ROL TAXATIVO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
(...)
4. Impende consignar que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário (que implica óbice à prática de quaisquer atos executivos) encontra-se taxativamente prevista no art. 151 do CTN, sendo certo que a apresentação de recurso administrativo contra decisão que não homologa o pedido de parcelamento tributária, não ostenta o efeito de suspender o desenvolvimento do atos processuais na demanda de execução fiscal que visa outrossim satisfazer o respectivo crédito tributário.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp n. 1.008.523/SP, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 16/5/2017, DJe de 22/5/2017.)
3.1.	Considerando que não houve alteração nos art. 151 do CTN, pergunta-se:
	a) A equiparação, prescrita pelo §2º do art. 835 do CPC/15, a dinheiro da fiança bancária e do seguro garantia, tem o condão de consagrar a hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário prevista no art. 151, II, do CTN? 
Não, a fiança bancária e o seguro garantia não são institutos que podem ser equiparados ao depósito do montante integral como hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, uma vez que o tema “suspensão da exigibilidade do crédito tributário” tem regramento próprio no Código Tributário Nacional e conforme art. 141 do CTN se restringe aos casos previstos nele.
Determina ainda o inciso I do art. 111 do CTN a interpretação literal da legislação tributária que disponha sobre suspensão do crédito tributário.
A respeito do assunto também já se posicionou o STJ:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NOAGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC. INEXISTÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCESSÃO DE LIMINAR. REVISÃO DAS CONCLUSÕES ESTADUAIS. COGNIÇÃO SUMÁRIA E NÃO DEFINITIVA. SÚMULAS 7/STJ E 735/STF. SEGURO-GARANTIA. ART. 151 DO CTN. NÃO SUSPENSÃO DE EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ. JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA.
(...)
3. A parte recorrente sustenta que "não se está diante de discussão originada em face de medida em caráter liminar" (fl. 316, e-STJ).
Por outro lado, o Tribunal de origem, ao dirimir a controvérsia, assim se manifestou: "Trata-se de posicionamento alinhado à jurisprudência do STJ de que 'o seguro-garantia e a fiança bancária não servem à suspensão da exigibilidade do crédito tributário (...)
Ante o exposto, dou provimento ao recurso para cassar a decisão agravada, e indeferir o pedido de liminar" (fl. 84, e-STJ).
(...)
6. Ainda que fosse possível ultrapassar os referidos óbices sumulares, não se poderia acolher o Recurso da parte. Em obter dictum, a jurisprudência do STJ é no sentido de ser inviável a equiparação do seguro-garantia ou da fiança bancária ao depósito judicial em dinheiro e integral para efeito de suspensão de exigibilidade do crédito tributário; somente o depósito em dinheiro viabiliza a suspensão determinada no artigo 151 do CTN. Nesse sentido: AgInt no TP 2.764/SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 30/3/2022; AgInt no REsp 1.899.815/BA, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 1º/7/2021; REsp 1.156.668/DF, Primeira Seção, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 10/12/2010.
(...)
(AgInt no AREsp n. 2.127.923/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 15/12/2022, DJe de 19/12/2022.)
A fiança bancária já havia sido objeto também de julgamento pelo STJ no REsp 1156668/DF em 24/11/2010, onde restou assentada a seguinte tese:
Tema 378 - “A fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado Sumular n. 112 desta Corte.”
	b) As espécies de tutela provisória, identificadas segundo o fundamento do pedido, se de urgência ou de evidência, previstas no CPC/15 se aplicam ao Processo Tributário? Tais medidas têm o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário?
Sim, as tutelas provisórias, seja de urgência ou de evidência, desde que satisfeitos os requisitos para sua concessão (art. 300 e 311 do CPC/15), aplicam-se ao processo tributário, pois se trata de medidas liminares ou de tutela antecipada em outras espécies de ação judicial, que não o mandado de segurança, expressamente previstas no inciso V do art. 151 do CTN e, portanto, têm o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário.
4.	Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória proposta antes da constituição do crédito tributário, pergunta-se: 
(a) Trata-se de faculdade do contribuinte? 
Em se tratando de ação declaratória proposta na ausência de lançamento pelo fisco, o depósito judicial assume a função constitutiva do crédito tributário, na forma de lançamento por homologação, para os fins de cobrança de eventual diferença.
É uma faculdade do contribuinte, que visa afastar os encargos moratórios (correção monetária e juros de mora) na hipótese de conversão do depósito em renda a favor da fazenda pública. A remuneração do depósito é feita pela instituição financeira responsável pela guarda.
 Tal medida implica também que o lançamento já nasça com sua exigibilidade suspensa desde a origem.
(b) Há distinção entre depósito judicial para fins do art. 151, II do CTN e prestação de caução?
Sim, há distinção quanto aos efeitos sobre a exigibilidade do crédito tributário.
Somente o depósito judicial realizado em montante integral e em dinheiro (Súmula 112 do STJ) dá causa à suspensão da exigibilidade do crédito tributário, sem cobrança de encargos moratórios no período, conforme art. 9º, §4º da Lei 6.830/80, que serão remunerados pela instituição financeira responsável pela guarda.
A caução garante a execução judicial, mas não influencia na incidência de encargos moratórios no período, nem tem o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário.
(c) O levantamento do depósito judicial vincula-se ao êxito (com trânsito em julgado) da ação proposta pelo contribuinte ou o juiz pode a qualquer tempo autorizar o levantamento? (vide anexo VI)
O contribuinte que optar pelo depósito judicial com base no inciso II do art. 151 do CTN não poderá levantá-lo a qualquer momento. Só será levantado após o trânsito em julgado favorável ao contribuinte no mérito, conforme art. 32, §2º da Lei nº 6.830/80.
Entendimento também firmado pelo STJ: “Os depósitos judiciais referente a tributos e contribuições federais só poderão ser devolvidos ao depositante quando o provimento judicial lhe for favorável e já tiver transitado em julgado, nos termos da legislação de regência”[footnoteRef:2] [2: AgInt no TP n. 2.764/SP, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 21/3/2022, DJe de 30/3/2022] 
Há entendimento jurisprudencial ainda no sentido de o juiz poder autorizar o levantamento do depósito judicial a favor do fisco, conversão em renda da Fazenda Pública, quando extinto o processo sem exame de mérito contra o contribuinte, pois nesse caso tem-se uma decisão desfavorável ao contribuinte e o próximo passo, após o trânsito em julgado, é a exigência do crédito tributário[footnoteRef:3]. [3: AgInt no AgInt no AREsp n. 1.658.162/SP, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 19/10/2021, DJe de 21/10/2021
REsp n. 1.733.989/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 17/5/2018, DJe de 21/11/2018] 
5. A partir da vigência do CPC/15 foi instituído um novo fundamento para a concessão de tutela provisória, a evidência do direito, tal como preveem os arts. 294 e 311. Pergunta-se: 
a) Identifique a diferença entre tutela antecipada e tutela cautelar. É possível a concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança? Ou em mandado de segurança tão somente é admissível medidas provisórias de natureza cautelar?
A tutela antecipada é aquela que adianta ao postulante, total ou parcialmente, e desde que cumpridos os requisitos para sua concessão (art. 300 do CPC/15), os efeitos do julgamento de mérito, antecipando o gozo de algo que só seria concedido no momento da sentença, apenas com a ressalva de que o julgamento é provisório e não definitivo. 
A tutela cautelar, busca conservar uma situação existente até o provimento final da demanda, para assegurar o resultado prático do processo. 
“... pode-se afirmar que a diferenciação entre as tutelas provisórias antecipada e cautelar consiste na referibilidade ao direito material, que será (i) direta no caso da antecipação de tutela, quando o juiz, com base em cognição sumária e em um juízo de probabilidade, puser no ordenamento jurídico norma de direito material que se mostre capaz de proporcionar, ao seu beneficiário, o gozo imediato dos efeitos principais da tutela jurisdicional comum pretendida, e (ii) indireta no caso da cautelar, quando a norma posta, embora influencie o direito material, não proverá tais efeitos, mesmo que fosse proferida com base em juízo de certeza, servindo apenas para garantir que a pretendida tutela jurisdicional comum mantenha plenas condições de eficácia”[footnoteRef:4]. [4: CANTANHEDE, Luís Claudio Ferreira. A ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA PROVISÓRIA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA – UM ENSAIO SOBRE SEU CABIMENTO NAS DEMANDAS PREVENTIVAS.] 
Em resumo, a tutela antecipada difere da tutela cautelar na medida em que antecipa os efeitos preponderantes da decisão final, produzindo efeitos idênticos àqueles que o autor pretende ao cabo do processo (natureza satisfativa). A tutela cautelar apenas garante que quando chegar o momento da decisão final seja esta possível de implementação (natureza protetiva).
O art. 304 do CPC/15 prevê que a tutelaantecipada, concedida em caráter antecedente, pode estabilizar-se se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso, sendo o processo extinto.
Em outras palavras, em que pese a concessão de tutela antecipada não fazer “coisa julgada”, os efeitos dela tornam-se estáveis se o Estado dela não recorrer, extinguindo-se seu direito após 2 anos contados da ciência da decisão que extinguiu o processo (art. 304, §5º e 6º do CPC/15).
	b) É cabível o requerimento de liminar em mandado de segurança fundada na evidência do direito a partir da vigência do CPC/15? Ou diante das disposições da Lei Federal n. 12.016/09, apenas é cabível o requerimento de liminares fundadas em urgência, a outra espécie de tutela provisória prevista no CPC/15?
Em regra geral, as liminares concedidas em mandado de segurança têm natureza cautelar, ou seja, teria que haver a demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo.
No entanto, o CPC/15, em seu art. 311, trouxe a tutela de evidência como nova modalidade de tutela provisória, sendo que tal tutela não exige demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo em algumas situações específicas:
“Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; (*interessa para o Direito Tributário)
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.”
O parágrafo único do art. 311 prevê que o juiz pode decidir liminarmente quando da ocorrência das hipóteses previstas nos incisos II e III transcritos acima.
O inciso II do art. 311 pode ser empregado analogicamente e sistematicamente com os conceitos de direito líquido e certo, emergidos pelo art. 5º, inciso LXIX, da CF/88 e o art. 1º da Lei 12.016/2009, porquanto exige prova cabal dos fatos e de tese firmada em julgamentos vinculantes[footnoteRef:5]. [5: CONRADO, Paulo Cesar. Tutela de evidência em mandado de segurança afeta Direito Tributário. Revista Consultor Jurídico, 25 de maio de 2016, 6h48. Disponível em http://www.conjur.com.br/2016-mai-25/paulo-conrado-tutela-evidencia-ms-afeta-direito-tributario?imprimir=1] 
Nesse sentido, a tutela de evidência pode ser aplicada liminarmente em mandado de segurança, quando preenchidos os requisitos do inciso II do art. 311 do CPC/15.
Semelhanças entre Tutela de Evidência e Mandado de Segurança:
Evidência -> prova documental, inequívoca e pré-constituída;
MS -> direito líquido e certo.
6.	Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em Mandado de Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário que posteriormente foi “cassada” pela sentença de denegação da segurança. Pergunta-se: 
a) na hipótese de a empresa apelar da sentença que “cassou” a liminar, o recebimento de sua apelação nos efeitos suspensivo e devolutivo tem o condão de afastar os efeitos da sentença e reconstituir os efeitos da liminar? Responder a pergunta considerando as disposições do CPC/15 a respeito dos efeitos da apelação (vide anexo VII)
O art. 1.012, §1º, V do CPC/15 dispõe que começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que revoga a tutela provisória.
O §4º do mesmo artigo dispõe que, nas hipóteses do §1º (que inclui a revogação de tutela provisória), a eficácia da sentença poderá ser suspensa se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
O §5º do art. 1.013 dispõe que o capítulo da sentença que revoga a tutela provisória é impugnável na apelação.
O entendimento jurisprudencial do STJ[footnoteRef:6] é que na verificação de ilegalidade ou abusividade, ou dano irreparável ou de difícil reparação, a apelação terá efeito suspensivo “duplo”, ou seja, suspende não só a execução da sentença, mas também restabelece o estado anterior concedido na medida liminar, suspendendo-se novamente o crédito tributário até o julgamento da apelação. [6: AgRg no AREsp 183378 / SP] 
Portanto, da compatibilização do exposto, infere-se que o recebimento da apelação tem o condão não só de suspender os efeitos da sentença, mas também de restabelecer a liminar revogada, reconstituindo os efeitos de antes de sua revogação, ou seja, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, até que seja apreciada, desde que preenchidos os requisitos do §4º do art. 1.012 do CPC/15.
	b) Há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de liminar concedida em Mandado de Segurança posteriormente cassada por ocasião da sentença? E se a liminar foi concedida depois de vencido o prazo para pagamento do tributo? (vide anexos VIII e IX) 
Incidem multa e juros moratórios em relação ao período em que o crédito esteve com sua exigibilidade suspensa por força de liminar concedida em mandado de segurança, desde que constituído.
Em harmonia, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - CARF editou a Súmula nº 5: “São devidos juros de mora sobre o crédito tributário não integralmente pago no vencimento, ainda que suspensa sua exigibilidade, salvo quando existir depósito no montante integral.”
Quando houver depósito do montante integral, a remuneração dos juros será feita pela instituição bancária responsável pela guarda.
Nas ações declaratórias, onde o lançamento foi feito apenas para prevenir os efeitos da decadência, nascendo já com a exigibilidade suspensa não incidem os encargos moratórios conforme art. 63, §2º da Lei 9.430/96:
Art. 63.  Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de ofício.      
§ 1º O disposto neste artigo aplica-se, exclusivamente, aos casos em que a suspensão da exigibilidade do débito tenha ocorrido antes do início de qualquer procedimento de ofício a ele relativo.   
§ 2º A interposição da ação judicial favorecida com a medida liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou contribuição.
7.	Antes de responder a esta pergunta aponte a distinção entre tutela antecipada e tutela cautelar tal como colocada na resposta à questão “5. a)”. Fixados esses conceitos, responda à seguinte pergunta: diante do novo cenário das tutelas provisórias do código de processo civil de 2015, a ordem judicial suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária, tenha fundamento na urgência ou na evidência, assume natureza antecipada ou cautelar?
A tutela antecipada difere da tutela cautelar na medida em que antecipa os efeitos preponderantes da decisão final, produzindo efeitos idênticos àqueles que o autor pretende ao cabo do processo (natureza satisfativa). A tutela cautelar apenas garante que quando chegar o momento da decisão final seja esta possível de implementação (natureza protetiva).
A ordem judicial liminar que determina a suspensão da exigibilidade do crédito tributário tem natureza cautelar, uma vez que em geral se está a questionar a validade de um determinado crédito tributário lançado pelo poder público. E somente ao cabo do processo, é que será esse lançamento dado por nulo ou não pelo judiciário.
Então, a simplessuspensão de sua exigibilidade não implica em tutela antecipada, pois não se está antecipando os efeitos da decisão final (extinção do lançamento), mas tão somente assegurando-se que o patrimônio do particular não seja executado até que proferida a sentença de mérito no processo.
QUESTÕES DE PLENÁRIO
As hipóteses de suspensão do crédito tributário são taxativas em razão das disposições do art. 111, I e 141 do CTN.
 
O sobrestamento de processos afetados para julgamento de repetitivos não é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário. Suspende tão somente o curso da ação.
Para suspensão da exigibilidade é necessário o ingresso de alguma medida de suspensão da exigibilidade do crédito tributário prevista no art. 151 do CTN. 
Sim, a tutela provisória pode implicar a suspensão da exigibilidade por ser causa expressamente prevista no art. 151 do CTN.
Sim, o deposito judicial é um direito subjetivo do contribuinte, portanto facultativo.
Sim, há diferença. O depósito judicial previsto no art. 151, II do CTN suspende a exigibilidade do crédito tributário, enquanto a caução em dinheiro apenas garante a execução. A caução é uma contracautela com a finalidade de garantir o resultado útil do processo.
O levantamento do depósito judicial vincula-se ao julgamento de mérito com êxito ao contribuinte, não podendo levantá-lo antes disso. E se houver resolução do processo sem julgamento de mérito é convertido em renda da fazenda pública.
A execução deverá ser suspensa ante a parcelamento do crédito tributário, por ser o parcelamento causa suspensiva, mas não extintiva do crédito tributário.
O termo inicial da suspensão da exigibilidade nos casos de parcelamento em geral é o pagamento da primeira parcela, que geralmente é bem próxima ou junto com a confissão de dívida e assinatura do contrato. A lei específica do parcelamento de cada ente federativo dirá qual o termo inicial em que se considera efetivado o parcelamento.
O fisco não pode pleitear outra medida constritiva após o parcelamento, pois este é causa suspensiva do crédito tributário.
image1.png
image2.png
image3.png
image4.png
image5.jpeg
image6.jpeg

Continue navegando