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SEMINÁRIO III - DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

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SEMINÁRIO III - DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1. Defina o conceito “decadência” no âmbito do direito tributário.
Decadência é a perda do direito do fisco de constituir o crédito tributário em razão de certo lapso de tempo decorrido, prazo previsto nos artigos 150, §4º e 173 do CTN, seja nos lançamentos por homologação, onde a atividade do contribuinte é verificada e então, se necessário, o lançamento complementar é realizado, seja nos lançamentos de ofício, onde atividade do lançamento está a cargo do fisco, sem a participação do contribuinte.
A decadência opera-se também em relação a uma inércia do contribuinte num determinado tempo sem ingressar com a ação de repetição de indébito (art. 168 do CTN).
Aurora Tomazini citando Eurico Marcos Diniz de Santi[footnoteRef:1], diferencia: [1: Decadência e Prescrição em Direito Tributário. MP Editora. Pág. 41] 
(i) Decadência do direito do fisco: a perda da competência administrativa do fisco para constituir o crédito tributário, em decorrência do decurso de certo período de tempo sem que o tenha exercitado;
(ii) Decadência do direito do contribuinte: a perda da legitimidade do contribuinte de repetir o indébito na esfera administrativa, em decorrência do decurso de certo período de tempo sem que o tenha exercitado.
(a) Com base na bibliografia indicada para desenvolvimento deste seminário apresente as diferentes acepções do conceito “decadência”. 
Continuando o raciocínio, Aurora Tomazini descreve que o conceito de decadência pode ser analisado sob três perspectivas: 
(i) numa instância normativa, enquanto norma jurídica que compõe o sistema do direito positivo: norma cuja hipótese descreve o fato do não exercício de um direito dentro de certo período de tempo e o consequente prescreve a perda deste direito por seu titular; 
(ii) numa instância factual, como acontecimentos do mundo, relatado em linguagem competente: fato jurídico, consubstancia-se no relato em linguagem competente de um acontecimento social - a inércia do titular do direito durante um determinado período de tempo; e 
(iii) numa instância efectual, como efeito jurídico atribuído a tal acontecimento: efeito jurídico, consubstancia-se na perda jurídica de um direito subjetivo por seu titular.
Paulo de Barros Carvalho descreve seis acepções para o conceito de decadência[footnoteRef:2]: [2: Carvalho, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método (p. 544). Noeses. Edição do Kindle.] 
(i) “decadência” como norma geral e abstrata; 
(ii) como a hipótese dessa norma, descrevendo o termo final de um lapso de tempo; 
(iii) como o consequente da norma geral e abstrata, tipificando o efeito extintivo; 
(iv) como norma individual e concreta que constitui o fato de haver decorrido o tempo referido na regra geral e abstrata, no mesmo instante em que determina, no consequente, o efeito fulminante de desconstituir uma relação existente; 
(v) como o antecedente desta última norma individual e concreta; e 
(vi) tão só como o consequente, também desta última regra.
(b) Construa a respectiva estrutura normativa para cada acepção (ex. NGA, NIC, antecedente, consequente...), indicando quai(is) dessa(s) estrutura(s) normativa(s)) são norma em sentido estrito. 
Aurora Tomazini[footnoteRef:3] reproduziu as regras construídas por Eurico Marcos Diniz de Santi, que podem ser resumidas no seguinte quadro, no que concerne à decadência: [3: Decadência e Prescrição em Direito Tributário. MP Editora. Pág. 45 a 49] 
	
	NORMA GERAL ABSTRATA
	NORMA INDIVIDUAL CONCRETA
	
DECADÊNCIA DO DIREITO DO FISCO
	1ª regra
	Não previsão de pagamento antecipado, não ocorrência de pagamento antecipado, não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, não ocorrência de notificação preparatória, não ocorrência de anulação
	Perda da competência administrativa do fisco para constituição do crédito tributário após 5 anos do primeiro dia do exercício seguinte àquele que ocorreu o evento tributário (173, I do CTN)
	
	2ª regra
	Não ocorrência do pagamento antecipado (com ou sem previsão), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ocorrência da notificação preparatória e não ocorrência de anulação
	Perda da competência administrativa do fisco para constituição do crédito tributário após 5 anos da data da notificação – antecipa o prazo da primeira regra e posterga o da terceira (173, I e § único do CTN)
	
	3ª regra
	Ocorrência do pagamento antecipado (com previsão), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, não ocorrência de notificação e não ocorrência de anulação
	Perda da competência administrativa do fisco para constituição do crédito tributário após 5 anos da ocorrência do evento tributário – para o fisco homologar o pagamento (art. 150, §4º)
	
	4ª regra
	Previsão de pagamento antecipado, ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ocorrência de notificação, e não ocorrência de anulação
	Perda da competência administrativa do fisco para constituição do crédito tributário após 5 anos do ato norma administrativo formalizador do ilícito tributário (art. 150, §4º e 173, § único do CTN)
	
	5ª regra
	Existência de decisão administrativa ou judicial que anule lançamento anterior por vício formal
	Perda da competência administrativa do fisco para constituição do crédito tributário após 5 anos da decisão que anulou o lançamento anterior (173, II do CTN)
	
DECADÊNCIA DO DIREITO DO CONTRIBUINTE
	1ª regra
	Não ocorrência de anulação de decisão anterior que tenha motivado o pagamento
	Perda do direito de repetir o indébito administrativamente 5 anos após a data do pagamento (168, I do CTN)
	
	2ª regra
	Anulação de decisão anterior que tenha motivado o pagamento, dentro do prazo de cinco anos do pagamento
	Perda do direito de repetir o indébito administrativamente 5 anos após o desfazimento da decisão (165, III e 168, II do CTN)
(c) É correta a afirmação de que a decadência opera-se automática e infalivelmente? Justifique sua resposta.
À primeira vista, como não há expressa disposição legal sobre a interrupção de prazos decadenciais, poder-se-ia admitir que a decadência se opera automática e infalivelmente.
Contudo há casos em que é aberto novo prazo decadencial, ampliando ou reduzindo o direito do fisco de lançar, como o previsto no art. 173, II do CTN, que dispõe novo prazo decadencial de 5 anos para substituição do lançamento anulado em virtude de vício formal, a contar da data da decisão definitiva anulatória.
Outro exemplo seria a existência de “medida preparatória indispensável ao lançamento” que traz novo marco de início, antecipando a contagem de decadência para a data da notificação desta medida.
(d) Quanto aos efeitos da decadência em relação ao crédito tributário (arts. 150 e 173, do CTN), pode-se afirmar que sejam: (i) extintivos ou (ii) impeditivos? Justifique sua resposta. 
Considerando os exatos termos do que expressam os artigos 150, §4 e 173 do CTN, os efeitos da decadência se operam no sentido de extinguir o direito do fisco em constituir o lançamento, estando arrolada como causa extintiva do crédito tributário.
Paulo de Barros Carvalho descreve: 
“O efeito extintivo previsto é o do desaparecimento do direito da Fazenda, consistente em exercer sua competência administrativa para constituir o crédito tributário. Reconhecido o fato da decadência, sua eficácia jurídica será a de fulminar a possibilidade de a autoridade administrativa competente realizar o ato jurídico-administrativo do lançamento”.
Assim, quando se fala em extinção não se está se referindo à pura extinção do crédito tributário, mas sim do próprio direito do fisco de constituí-lo. 
A meu ver, seria mais correto afirmar que é causa extintiva do direito do fisco lançar, o qual nasceu com o fato gerador, mas não se materializou pela constituição do crédito tributário no tempo cabível, extinguindo a obrigação tributária e impedindo a constituição do crédito tributário.
 
(e) Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de lançar, (ii) prescrição do direito do Fisco cobrar o crédito tributário, (iii) decadênciado direito do contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário e (iv) prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário.
A decadência do direito de lançar extingue o direito do fisco (art. 156, V do CTN) de constituir o crédito tributário em cinco anos a contar da data do fato gerador do tributo nos casos dos tributos sujeitos a lançamento por homologação (art. 150, §4º do CTN) ou do primeiro dia do exercício seguinte ao que poderia ter sido efetuado nos casos de lançamento de ofício ou de dolo, fraude ou simulação (art. 173 do CTN). Ou ainda contados 5 anos da data de decisão anulatória de lançamento por vício formal;
A prescrição do direito do fisco de cobrar o crédito tributário extingue o direito do fisco de exigir o crédito tributário definitivamente constituído, de inscrevê-lo em dívida ativa e ajuizar e mover ação de execução contra o contribuinte (art. 156, V e 174 do CTN);
A decadência do direito de o contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário extingue o direito do contribuinte de ingressar com a ação de repetição de indébito na via administrativa, a partir da extinção do crédito tributário pelo pagamento indevido (art. 165, I do CTN) ou da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou transitar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória (art. 165, II e art. 168, I do CTN). Em resumo, perda do direito de pleitear na via administrativa;
A prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário é a perda do direito do contribuinte de ingressar com ação anulatória no judiciário referente à decisão administrativa que denegou a restituição (art. 169 do CTN). Em resumo, perda do direito de pleitear na via judicial.
2. Conjugando o art. 146, III, “b”, da CF e o princípio da autonomia dos entes federativos, responda: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei ordinária, podem estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição de seus créditos? E mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexo I e Súmula Vinculante n. 8 do STF).
Lei ordinária federal, estadual ou municipal não poderá estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição do crédito tributário, por estrita observância ao art. 146, III, b da CF/88, observando-se que o CTN foi recepcionado com status de Lei Complementar.
Tendo em vista que a ressalva constitucional se refere apenas a que seja por lei complementar, poderá ser disposto outro prazo pelos estados e municípios desde que seja realizado por este tipo de lei (complementar), em razão da competência concorrente prevista no art. 24, I da CF/88.
A decisão da Súmula Vinculante n. 8 do STF trata especificamente da inconstitucionalidade da lei ordinária que pretendeu estabelecer prazo diverso de prescrição e decadência superior ao estabelecido pelo CTN.
Traz o CTN como parâmetro por ser a Lei Complementar existente que dispõe sobre prazos de decadência e prescrição, mas não se manifesta quando à impossibilidade de que seja editada outra Lei no “modo” complementar por estados e municípios para regular tal matéria.
3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o Fisco lançar nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? E nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? Se não houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos tributos sujeitos ao lançamento de ofício (vide anexos II e III)? E no caso de fraude (vide anexo IV)? 
Para os tributos sujeitos ao lançamento de ofício, o prazo decadencial inicia-se no primeiro dia do exercício seguinte ao que poderia ser efetuado (art. 173, I do CTN). Aqui não há atividade de autolançamento pelo contribuinte, ficando a cargo do fisco.
Para os tributos sujeitos ao lançamento por homologação, inicia-se o prazo a partir da data do fato gerador do tributo (art. 150, §4º do CTN). Aqui há atividade do sujeito passivo sujeita a posterior conferência e homologação pelo fisco, expressa ou tácita.
Se não houver o que homologar, ou seja, o contribuinte não levar ao conhecimento do fisco sua atividade/declaração, o prazo desloca-se para o primeiro dia do exercício seguinte (art. 173, I do CTN) conforme dispõe a Súmula nº 555 do STJ:
“Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.”
Ressalte-se que não é o pagamento que está sendo homologado, mas sim a atividade/declaração realizada pelo contribuinte. Reforça esse entendimento o caput do art. 150, quando utiliza o artigo definido “a”:
“Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.” (grifo nosso)
Nos casos de dolo, fraude ou simulação, o prazo se conta a partir do primeiro dia do exercício seguinte, ainda que o contribuinte tenha efetuado declaração ou pagamento, pois é caso excludente da situação descrita no art. 150, §4º do CTN.
4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173 do CTN? Que se entende por “medida preparatória indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o condão de antecipar o termo inicial da contagem do prazo prescrito no inciso I ou pode também postergá-lo? Trata-se de causa de interrupção do prazo decadencial? (Vide anexo V e VI).
A “medida preparatória indispensável ao lançamento” prevista no parágrafo único do art. 173 do CTN pode ser entendida como qualquer ato inaugural em que o contribuinte tome ciência de que está sendo fiscalizado sobre determinado período e matéria ou mesmo a notificação para que apresente livros ou documentos.
Um exemplo disso é o disposto no art. 939 do RICMS/MT:
“Art. 939 O procedimento fiscal tem início com:
I – o primeiro ato, de ofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificando o sujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto;
II – a lavratura do termo de apreensão de mercadorias, de documentos ou de livros ou da notificação para sua apresentação.
Parágrafo único O início do procedimento exclui a espontaneidade do sujeito passivo em relação aos atos anteriores e dos demais envolvidos nas infrações praticadas, independentemente de sua intimação.”
Paulo de Barros Carvalho[footnoteRef:4] esclarece que: [4: Carvalho, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método (pp. 545-546). Noeses. Edição do Kindle.
] 
“... o art. 173, parágrafo único, do CTN traz outro termo inicial nas hipóteses em que há ciência, pelo particular, de algum fato ou medida preparatória indispensável ao lançamento. Neste caso, ocorrerá antecipação do termo inicial para o decurso do prazo decadencial, contando-se cinco anos a partir da data em que se tenha por formalizada a notificação do contribuinte a respeito desta medida.”
Nesse sentido, antecipa-se o prazo da regra contida no art. 173, I (que seria finalizado mais tarde).
É tão somente causa de antecipação do prazo previsto no art. 173, I do CTN, nos casos em que é dada ciência ao contribuinte da medida preparatória do lançamento antes do primeiro dia do exercício seguinte. É nesse caso que terá efeito prático a aplicação do § único do art. 173, antecipando o prazo decadencial para que o fisco execute o lançamento.
5. A Lei n. 11.051/04 trouxe previsão de prescrição intercorrente no processo judicial. Quanto ao processo administrativo fiscal, existe prescrição intercorrente no seu curso? E no decorrer do processo executivo fiscal? Qual é o tratamento mais adequado em caso de falta de intimação da Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da decisão que decretaa prescrição intercorrente? É possível que a decretação da prescrição intercorrente seja ilidida? Justificar (vide anexos VII, VIII e IX e X).
Não existe prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal, uma vez que com a impugnação do lançamento, o prazo prescricional encontra-se suspenso e só voltará a fluir após a constituição definitiva do crédito tributário, consoante o disposto nos art. 151, III e 174 do CTN.
Somente com a constituição definitiva do crédito tributário, ou seja, com a conclusão do processo administrativo tributário é que se inicia o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para a Fazenda ajuizar a execução fiscal.
O STJ tem entendimento firmado nesse sentido[footnoteRef:5] e o CARF tratou do assunto em sua Súmula nº 11, ambos pela inexistência da prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. [5: AgRg no AREsp 225.238/PA; REsp 1107339/SP e REsp 1113959/RJ.] 
Já no decorrer do processo executivo fiscal, que se opera com a inscrição em dívida ativa e ajuizamento da execução fiscal, existe a prescrição intercorrente disciplinada pelo §4º do art. 40 da Lei 6.830/80.
Na inércia da fazenda em dar andamento na execução fiscal suspensa por um ano (art. 40, §2º) corre o prazo prescricional, tendo como marco inicial o término da suspensão anual (art. 40, §4º). 
Recentemente, em 31/03/2023, houve julgamento no STF pela constitucionalidade das regras que disciplinam a prescrição intercorrente nos processos de execução fiscal[footnoteRef:6], onde restou consignado que se inicia automaticamente a contagem do prazo prescricional de 5 anos após o término do prazo de suspensão anual da execução fiscal. [6: Tema 390 - RE 636562/SC: É constitucional o artigo 40 da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais — LEF), tendo natureza processual o prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional tributário de cinco anos."] 
Quando o processo é suspenso, deve ser dado vista dos autos ao procurador da fazenda pública (art. 40, §1º da Lei 6.830/80).
No entanto, ao final do prazo suspenso por um ano (art. 40, §2º), inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional e o juiz poderá decretar, após 5 anos dessa data, a prescrição intercorrente no processo.
Esse é o entendimento exarado no julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.340.553/RS (ver os embargos), que culminou na edição dos temas 566 a 571 no STJ.
A síntese desse julgamento é a de que: i) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública da não localização do devedor ou de bens penhoráveis; ii) findo este prazo, mesmo sem manifestação da fazenda pública, inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável; iii) A Fazenda Pública, ao alegar nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial, onde o prejuízo é presumido).
Portanto, não será ilidida a decretação de prescrição intercorrente feita pelo juiz sob a simples alegação de nulidade pela Fazenda decorrente da inexistência de sua citação (com a ressalva da citação de que não foram encontrados devedor e/ou bens penhoráveis – prejuízo presumido), mas deverá sim demonstrar o prejuízo que sofreu, com a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição.
6. Qual o marco inicial da contagem do prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios? Trata-se de prazo decadencial ou prescricional? É possível compreender que o mesmo fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de débito não-tributário. (Vide anexos XI, XII e XIII)
O prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios trata-se de prazo prescricional.
Na lacuna legislativa quanto ao marco inicial do prazo prescricional no que concerne ao redirecionamento para o sócio da empresa nos casos previstos no art. 135, III do CTN (a exemplo da dissolução irregular), o STJ consolidou o entendimento pelo início da contagem do prazo prescricional a partir da data da citação da empresa ou do despacho do juiz que ordenar a citação (após LC 118/05), em conformidade ao que dispõe o art. 174, I do CTN c/c art. 125, III do CTN.
Ocorre que quanto aos eventos ocorridos após a citação da devedora originária (sociedade) não existia um marco inicial estabelecido legalmente, sendo evidente a necessidade de se estabelecer um marco inicial diferente da data da citação (ou despacho do juiz), uma vez que o evento seria ulterior a este ato.
Pôs fim à controvérsia o recente julgado do STJ (REsp 1201993/SP), em 12/12/2019, no Recurso Representativo de Controvérsia referente ao Tema Repetitivo 444, que tratou do termo inicial da prescrição para o redirecionamento da execução fiscal nos casos de dissolução irregular posterior à citação da empresa.
A tese repetitiva firmada expressa que:
“1 - O prazo de redirecionamento da execução fiscal, fixado em cinco anos, contado da diligência de citação da pessoa jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no artigo 135, inciso III, do Código Tributário Nacional (CTN), for precedente a esse ato processual.
2 - (...) O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança executiva promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco... 
3 - Em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a inércia da Fazenda Pública (...)”
Assim, o prazo prescricional de cinco anos será contado a partir da citação quando o ato ilícito destinado a fraudar a execução (por exemplo, a dissolução irregular da empresa) for anterior à citação. Quando o ato irregular for posterior à citação, conta-se o prazo prescricional da data do ilícito. Em ambos os casos, a decretação da prescrição para o redirecionamento exige a comprovação da inércia da Fazenda Pública. Se a fazenda continua diligenciando, não configura prescrição, pois não há inércia.
A meu ver, os entendimentos jurisprudenciais destacados estão em sintonia com os princípios do devido processo legal, da segurança jurídica e da supremacia do interesse público, pois não é factível estabelecer um marco inicial de prescrição, em oposição à satisfação do crédito tributário, desconsiderando eventuais práticas que poderão decorrer ao longo do processo.
Em outras palavras, sendo o ilícito ocorrido após o início da execução fiscal, nitidamente com a expectativa de fraude a esta execução, nada mais justo que possa ser trazido aos autos como elemento de atribuição de responsabilidade do sócio infrator com prazo prescricional contado a partir da prática do ilícito.
Com relação aos débitos não tributários, o entendimento manifestado pelo STJ (REsp 1.371.128/RS) é de que a dissolução irregular é ato ilícito capaz de redirecionar a execução fiscal tanto para débitos tributários quanto não tributários, com suporte no art. 10, do Decreto n. 3.078/19 e art. 158, da Lei n. 6.404/78 - LSA no âmbito não-tributário.
7. Sobre a decadência/prescrição do direito de repetir o indébito tributário pergunta-se:
	a) Quais indébitos estão sujeitos ao art. 3º da LC n. 118/05: todos, independente da data do pagamento indevido; aqueles cuja restituição seja requerida depois do termo inicial de sua vigência; ou somente os pagamentos efetuados após iniciada sua vigência? Justificar (vide anexos XIV e XV).
O art. 3º da LC nº 118/05 foi alçado à natureza meramente interpretativa de outro dispositivo legal (no caso o art. 168, I do CTN) pelo seu próprio art. 4º, em conformidade ao que preconiza o art. 106, I do CTN.
Assim, à primeira vista, atingiriatodos os indébitos, independente da data do pagamento indevido, porque não se trataria de mudança de direito, mas tão somente de interpretação acerca de norma legal já existente.
Por outro lado, antes da publicação da LC nº 118/05, o STJ já tinha firmado orientação jurisprudencial divergente ao que foi estabelecido pelo art. 3º da LC nº 118/05, no sentido de que para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, considera-se o prazo prescricional para o contribuinte requerer a repetição do indébito a partir da data de homologação do lançamento pelo fisco, expressa ou tácita (ERESP 435.835/SC em 24/03/2004).
Após a edição da LC nº 118/05, ainda que o STJ reconheça defensável a interpretação emergida pelo dispositivo, posicionou-se no sentido de que houve inovação no plano normativo, pois retirou das disposições interpretadas um dos seus sentidos possíveis, justamente aquele tido como correto pelo STJ, intérprete e guardião da legislação federal (REsp 672.962/CE).
Para Fabiana Del Padre Tomé[footnoteRef:7] o art. 106, I do CTN não teria aplicabilidade alguma, visto que toda norma jurídica acaba inovando de alguma forma o ordenamento, afirmando que: [7: Decadência e Prescrição em Direito Tributário. Fabiana Del Padre Tomé. Pág. 283] 
 “Não restam dúvidas ... de que o art. 3º da LC nº 118/05 apresenta caráter modificativo... o legislador introduziu no ordenamento nova regra, alterando os requisitos necessários à extinção do vínculo obrigacional e, por consequência, impondo novo termo inicial para contagem do prazo prescricional do direito do contribuinte”.
Critica ainda a doutrinadora a ação do legislador em fixar o início da vigência da Lei, ainda que por ele considerada interpretativa, em data anterior a de sua publicação, pois viola-se o princípio da irretroatividade e a segurança jurídica.
Na esteira desse entendimento, as disposições relativas ao art. 3º da LC nº 118/05 deveriam observar o princípio da irretroatividade da Lei, aplicando-se somente a fatos geradores futuros, ocorridos a partir de sua efetiva vigência.
Filio-me ao entendimento exarado pelo STJ e a doutrina, uma vez que a retroatividade dos efeitos do art. 3º da LC nº 118/05 traria de fato prejuízo à segurança jurídica e às relações já instaladas em nítido desfavor ao contribuinte, interferindo no seu direito adquirido de pleitear a ação de restituição com prazo mais alargado.
Sábia a interpretação contida no RE 566.621/RS do STJ, onde denota que “O prazo de vacatio legis de 120 dias permitiu aos contribuintes não apenas que tomassem ciência do novo prazo, mas também que ajuizassem as ações necessárias à tutela dos seus direitos.”
 
	b) No caso de lei tributária julgada inconstitucional em ADIN (sem modulação de efeitos), como fica o prazo para repetir o indébito tributário? Conta-se do pagamento indevido ou o termo inicial seria a “data da declaração de inconstitucionalidade da lei que fundamentou o gravame”? (Vide anexos XVI e XVII).
Uma lei declarada inconstitucional sem modulação de efeitos opera efeitos “ex tunc”, ou seja, desde a sua edição, como se nunca tivesse existido no mundo jurídico.
O entendimento exarado pelo STJ (REsp 1.110.578/SP) é no sentido de que o fato de o contribuinte ter pagado tributo na vigência desta Lei, quando ainda não declarada a sua inconstitucionalidade, não interfere na contagem do prazo prescricional para ingresso da ação de repetição do indébito.
Já o CARF exarou entendimento de que somente após 5 anos do trânsito em julgado da ação de inconstitucionalidade da lei é que prescreveria o direito de repetição de indébito, ao argumento de que somente a partir dessa data é que o pagamento se tornou indevido, dando direito ao contribuinte de pedir restituição (Acórdão 1402-000.481).
Concordo com o posicionamento do CARF, porquanto se o próprio responsável pela declaração de inconstitucionalidade (no caso o órgão supremo – STF) não modulou os efeitos de sua decisão, não restringindo ou não tratando sobre as situações consolidadas até então, fica o entendimento da plena eficácia ex tunc da decisão exarada com efeitos retroativos a sua edição.
Nesse sentido, somente a partir desta declaração de inconstitucionalidade é que surge para o contribuinte o direito de pleitear a sua restituição, o que obviamente necessita o postergamento do prazo prescricional para além da data do pagamento indevido, por consequência lógica e harmônica do sistema jurídico.
Diferentemente são os casos em que os efeitos das declarações de inconstitucionalidade são modulados com efeitos “ex nunc”, ou seja, o próprio STF pode delimitar que aquela decisão se opere sobre fatos geradores ocorridos a partir dela ou ainda ressalva as ações ingressadas pelos contribuintes antes da dita decisão.
(No caso concreto ok, mas os demais não podem “pegar o bonde andando”).
ANOTAÇÕES AULA:
 Constituição do CT 
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 Decadência Prescrição
A data da constituição do crédito tributário é o fato mais importante para definir marcos de decadência e prescrição.
Decisões do STJ a partir de 2017 são melhores.
Súmula 622 – STJ: “uma vez constituído o crédito tributário pela notificação do auto de infração, não há falar em decadência, mas em prescrição, cujo termo inicial é a data da constituição definitiva do crédito”.
A data da constituição definitiva do crédito tributário é:
“uma vez constituído o crédito tributário pela notificação do auto de infração, não há falar em decadência, mas em prescrição, cujo termo inicial é a data da constituição definitiva do crédito, que se dá, nos casos de lançamento de ofício, quando não couber recurso administrativo ou quando se houver esgotado o prazo para sua interposição”
REGRAS DECADÊNCIA:
173, I – 3 regras
150, §4º - 2 regras
173, I:
1) lançamento de ofício: IPTU/IPVA
2) lançamento por homologação: não declara nada
3) lançamento por declaração/misto: ITCD/ITBI
173, II: anulação de lançamento por erro formal.
173, § ÚNICO: antecipa o prazo do 173, I.
150, §4º: 
1) contribuinte declara e paga, mas não tudo. Só se aplica para diferenças não declaradas.
Se não se encaixa nessas 5 regras, é caso de prescrição (ou pode ser os dois juntos)
QUESTÕES DE PLENÁRIO:
O prazo para o fisco lançar nos tributos sujeitos a lançamento de ofício começa a contar o primeiro dia do exercício seguinte ao que poderia ter sido lançado, conforme art. 173, I do CTN.
Nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, o prazo conta-se a partir da data do fato gerador do imposto (evento).
O prazo para o fisco lançar a diferença no caso do IRPJ é da data do fato gerador:
IRPJ: jan a mar = evento; abril = declaração.
IRPF: 31/12 = evento; abril do ano seguinte= declaração.
No caso da declaração sem pagamento, o crédito tributário já está constituído (pelo contribuinte). Considera-se a regra do art. 150, §4º.
Quando não há declaração, o lançamento é feito de ofício pelo fisco, aplicando-se o art. 173, I.
A prescrição intercorrente fundamenta-se no art. 40, §4º da lei 6.830/80, existente exclusivamente no processo judicial, decorre da inércia da fazenda pública em dar andamento na execução fiscal. O juiz, quando não encontrado o devedor ou bens penhoráveis, poderá despachar suspendendo o processo por um ano, devendo dar ciência desta suspensão à fazenda. 
Ao final dessa suspensão, contados mais 5 anos, o juiz poderá decretar a prescrição. Na prática, após 6 anos da ciência da fazenda sem que haja diligências por parte desta, poderá ser decretada a prescrição.
Não existe prescrição intercorrente no processo administrativo, pois não há sequer constituição definitiva do crédito tributário. O crédito ainda não é exequível.
Antes da vigência da LC 118/05 considera-se como marco de interrupção da prescrição a efetiva citação do devedor (após a referida lei, considera-se interrompida a prescrição com o simples despacho do juiz).
No caso concreto, o despacho ordenador da citação foi proferido antes da vigência da referida lei,valendo, portanto, a efetiva citação do executado, o que não ocorreu. 
Não ocorrendo a efetiva citação do devedor, ou outra hipótese de interrupção da prescrição, a prescrição ordinária não foi interrompida (art. 174, §único do CTN).
Portanto, o prazo prescricional ordinário transcorrerá em 5 anos a contar da constituição definitiva do crédito tributário na esfera administrativa (art. 174, caput do CTN). Assim, a execução não deve ter prosseguimento caso já tenha se passado 5 anos dessa data.
 
Em regra geral, no caso de pagamento indevido, o contribuinte pode pleitear a restituição em até 5 anos da data da extinção do crédito tributário (art. 168, I, CTN).
No caso de lei tributária julgada inconstitucional pelo STF, sem modulação de efeitos, é como se o tributo nunca tivesse sido exigido, assim tal declaração recai na inexistência da relação obrigacional desde a origem, mas que só passou a existir após a declaração de inconstitucionalidade. 
Portanto, nada mais justo que a empresa possa pleitear a restituição em até 5 anos a contar da data do trânsito em julgado da ação que declarou a inconstitucionalidade da lei que lhe exigia obrigação tributária, pois foi somente nessa data que o pagamento de fato se tornou indevido. Antes não era possível pleitear restituição.
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