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1 CURSO VIRTUAL Cidadania e democracia desde a escola Instituto Auschwitz para a Prevenção do Genocídio e Atrocidades Massivas Módulo 3 DIREITOS HUMANOS 3.1 INTRODUÇÃO Este módulo está desenhado para trabalhar o conceito, as características e a prática cotidiana dos direitos humanos e as responsabilidades cidadãs que os acompanham. Com este tema o objetivo é que os/as estudantes aprendam: o O conceito e a história dos direitos humanos; o A compreender a importância dos direitos humanos para a sociedade; o A experimentar o significado dos direitos humanos nas práticas cotidianas. 3.2 O conceito de direitos humanos Todos os seres humanos, em que pese as inúmeras diferenças biológicas, culturais, sociais e econômicas que os distinguem entre si, devem ter asseguradas, desde o seu nascimento, as condições mínimas necessárias para que possam viver plenamente de forma digna. Partindo dessa premissa, ao longo da história, foram reconhecidos um conjunto de direitos que estabelecem às pessoas poderem viver sob a dignidade da pessoa humana. A esses direitos foi dado o nome de direitos humanos, uma forma abreviada de tratar os direitos fundamentais da pessoa humana. Sendo assim, são considerados essenciais a qualquer pessoa para que ela consiga existir, se desenvolver e participar plenamente da vida. Para compreender melhor o que são os direitos humanos assista ao vídeo com o especialista na temática, Professor Eduardo Bittar. Assistir Para saber mais sobre o tema DORNELLES, João Ricardo W. O que são direitos humanos? In: NEVES, Kátia Felipini e GRASSI, Caroline (Coords.). Educação e Direitos Humanos: Memória e Cidadania. São Paulo: Memorial da Resistência, 2013. p. 25-50. Baixe aqui 2 Ligado ao conceito de igualdade, parte da necessidade do Estado garantir direitos e oportunidades iguais a todos os cidadãos, podendo se exigir uma atuação estatal a fim de garantir a todos os indivíduos os chamados direitos sociais, econômicos e culturais. Referem-se a esse conjunto os direitos de caráter trabalhista, como salário justo, férias, previdência e seguridade social; e os de caráter social mais geral, independentemente de vínculo empregatício, como saúde, educação, habitação, lazer, repouso, habitação, saneamento básico, entre outros. 3.3 A história dos direitos humanos Uma das características atribuídas aos direitos humanos é a historicidade, pois foram sendo reconhecidos em momentos históricos a partir de conquistas sociais, num processo no qual a identificação de novas injustiças foi aumentando a capacidade do ser humano de enxergar o mundo desde novas e mais complexas perspectivas morais. Os direitos humanos são históricos na medida em que crescem em abrangência e em profundidade, até que se consolidam num ideal de consciência universal. Assim, é possível pensarmos que novos direitos podem ainda ser identificados e consolidados. Apenas por uma questão didática, costuma-se classificar os direitos fundamentais em gerações. Não se trata de gerações no sentido biológico, do que nasce, cresce e morre, mas no sentido histórico. Saiba mais sobre as três gerações dos direitos humanos no infográfico a seguir. A HISTÓRIA dos direitos humanos A primeira geração, contemporânea das revoluções do final do século XVIII e de todo o século XIX, incluindo a Revolução Americana, de 1776, e a Revolução Francesa, de 1789 tem como marco histórico a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e como elemento principal a ideia de liberdade individual; concentrada nos direitos civis e políticos inerentes ao ser humano e oponíveis ao Estado, visto na época das monarquias absolutas como grande opressor das liberdades individuais. Direitos civis ou individuais são prerrogativas que protegem a integridade humana (proteção à integridade física, psíquica e moral) contra o abuso de poder ou qualquer outra forma de arbitrariedade estatal. Exemplos de direitos civis são direito à vida, segurança, presunção de inocência, ou liberdade de locomoção. Ao passo que os direitos políticos são aqueles que garantem a participação dos indivíduos na sociedade, passando pelo direito ao voto, a ser votado, a ocupar cargos ou funções políticas e, por fim, a permanecer nesses cargos. A segunda geração, seguindo a lógica em que os direitos foram se estendendo, passa a não abranger mais somente os indivíduos, mas os grupos sociais. Surge no início do século XX, na esteira das lutas operárias, da Revolução Industrial e do pensamento socialista na Europa Ocidental, consolidando-se ao longo do século nas formas do Estado de Bem- Estar Social. 3 Em resposta a esses eventos, surgem os também chamados direitos dos povos e os direitos da humanidade, como o direito à paz, à comunicação, ao desenvolvimento, à autodeterminação dos povos, ao patrimônio científico, tecnológico e cultural da humanidade, ao meio ambiente ecologicamente preservado. Norteados pelo ideal de fraternidade ou solidariedade, são considerados direitos coletivos por excelência pois estão voltados à humanidade como um todo. Se ainda quer saber mais sobre a história dos direitos humanos, pode assistir a segunda parte da vídeo-aula do professor Eduardo Bittar. Assistir Para saber mais sobre o tema SOUZA, Isabela. As três gerações de direitos humanos. Politize!, 11 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.politize.com.br/tres-geracoes-dos-direitos-humanos/>. Baixe aqui 3.4 O sistema internacional de proteção dos direitos humanos Menos de três décadas após a Primeira Guerra Mundial, na qual mais de 18 milhões de soldados e civis morreram, a Europa novamente se envolveu em um grande conflito. A Segunda Guerra Mundial, que colocou a Alemanha, o Japão e a Itália contra a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a União Soviética, submergiu o mundo em uma tempestade de morte e destruição muito superior à da Grande Guerra de 1914 a 1918. Esta não foi apenas uma guerra global, foi uma guerra total na qual foram necessários todos os recursos humanos e materiais de cada nação. Cerca de 70 milhões de civis e combatentes morreram, tornando a Segunda Guerra Mundial no conflito mais mortal da história da humanidade. Milhões ficaram desabrigados e milhões começaram uma vida incerta como refugiados. A terceira geração, seguindo o caráter de complementaridade às duas primeiras, surgiu após as atrocidades provocadas pelo homem no século XX, como a passagem por duas Guerras Mundiais e a catástrofe da desumanização perpetrada por regimes totalitários, bem como o horror do Holocausto e dos campos de concentração. Embora os direitos humanos sejam assim comumente divididos, não podemos deixar de salientar outras características a eles inerentes, como a naturalidade e universalidade, por estarem profundamente ligados à essência do ser humano, independentemente de qualquer fator, e valerem para todos, além da interdependência e indivisibilidade, por não poderem jamais serem separados, aceitando um em detrimento de outros. 4 Somente quando a Alemanha foi derrotada em maio de 1945, o mundo compreendeu plenamente as consequências trazidas por seis anos de guerra moderna: montanhas de cadáveres, cidades inteiras destruídas, nações traumatizadas pelo uso da violência contra populações civis. O custo humano dos 12 anos do governo nacional-socialista (nazista) na Alemanha foi muito alto: o Holocausto provocou o assassinato genocida de milhões de judeus e ciganos, além da perseguição a homossexuais e outras minorias, muitos dos quais pereceram no último ano da guerra. Por fim, o bombardeio americano de grandes cidades japonesas e a destruição de Hiroshima e Nagasaki com bombas atômicas demonstraram que o mundo possuía as ferramentas de sua própria aniquilação. Para saber mais sobre o regime Nazistas e suas terríveis consequências, você pode assistir ao documentário A Trajetoria do Genocídio Nazista, produzido pelo Museu Estadunidense Memória do Holocausto,em Washington D.C, em 2013, disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=frae04L0k7M>. Para saber mais sobre o tema Caso queira explorar mais sobre o Holocausto com seus/suas estudantes você pode encontrar recursos em português para preparar suas aulas no site do United States Holocaust Memorial Museum: <https://encyclopedia.ushmm.org/pt-br>. Os horrores da Segunda Guerra Mundial reforçaram as exigências dos internacionalistas do início do século XX de estabelecer uma lei global de direitos humanos que obrigasse “todos os estados a reconhecer o direito igual de cada indivíduo em seu território à vida, liberdade e propriedade, liberdade religiosa e uso de sua própria língua.”1 Esta ideia foi incluída nos objetivos das recém-formadas Nações Unidas. Para saber mais sobre o trabalho desenvolvido pela ONU desde sua criação em 1945, assista ao vídeo A ONU é seu mundo, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ln9NtMjmt-o>. Na página das Nações Unidas no Brasil (http://onu.org.br/) são apresentadas todas as ações e programas desenvolvidos pela organização no país. 1 BURGERS, Jan Herman. The Road to San Francisco: The Revival of the Human Rights Idea in the Twentieth Century. Human Rights Quarterly, v. 14, n4 (Nov 1992), p. 449. 5 Em fevereiro de 1947, seguindo uma decisão tomada na primeira sessão da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, um grupo formado pela americana Eleanor Roosevelt, o chinês Pen-Chun Chang e o libanês Charles Malik, começou a esboçar a Carta Internacional dos Direitos Humanos. Em março, o comitê de redação foi ampliado para incorporar representantes de Austrália, Chile, França, a União Soviética e o Reino Unido. Depois de quase três anos de negociações, que às vezes se transformaram em sérios conflitos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos — um “composto” de crenças internacionais sobre os direitos, liberdades e dignidade dos seres humanos — tornou-se uma realidade. A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a declaração em 10 de dezembro de 1948, sendo a primeira vez na história que um compromisso global entre países foi firmado, com uma proposta para garantir direitos a todas as pessoas e em todos os lugares do mundo. Segundo a ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos “representa o reconhecimento universal de que há uma série de direitos básicos e liberdades fundamentais inerentes a todos os seres humanos, inalienáveis e igualmente aplicáveis a todos, e que todos nós nascemos livres e iguais em dignidade e direitos. Qualquer que seja nossa nacionalidade, local de residência, gênero, origem nacional ou étnica, cor, religião, idioma ou qualquer outro status, a comunidade internacional assumiu, em 1948, o compromisso de defender a dignidade e a justiça para todos nós.”2 Em seus 30 artigos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (com a sigla DUDH) descreve os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os seres humanos. Leitura obrigatória Declaração Universal dos Direitos Humanos. Adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas na resolução 217 A (III), de 10 de dezembro de 1948. Baixe aqui A DUDH, mesmo não sendo formalmente obrigatória, é um documento que inspira e serve de base para outros documentos internacionais sobre Direitos Humanos, e, inclusive, foi inspiração ao Brasil para a elaboração da Constituição Federal de 1988. As declarações (como a DUDH) são manifestações de vontades dos países que as assinam com previsões de direitos para todos, mas não são formalmente obrigatórias. Ainda assim, existe um acordo geral de que a DUDH constitui a fundação do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Adotada em 1948, a DUDH inspirou um amplo corpo de tratados internacionais de direitos humanos juridicamente vinculantes. 2 ONU, Human Rights Law. Disponível em: https://www.un.org/en/sections/universal-declaration/human-rights-law/index.html. 6 COMO O DIREITO INTERNACIONAL protege os Direitos Humanos? O Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece um conjunto de obrigações que os Estados devem obedecer. Ao se tornarem parceiros em tratados internacionais, os Estados assumem assim obrigações e deveres sob o direito internacional para respeitar, proteger e garantir os direitos humanos. A obrigação de respeitar significa que os Estados não devem restringir ou interferir no gozo dos direitos humanos dos seus cidadãos. A obrigação de proteger requer que os Estados protejam indivíduos e grupos de terem seus direitos humanos violados. Por fim, a obrigação de garantir significa que os Estados devem tomar ações positivas para garantir os direitos humanos básicos. Por meio da ratificação de tratados internacionais de direitos humanos, os governos comprometem-se a adotar domesticamente medidas e legislações compatíveis com esses acordos. O sistema jurídico interno, portanto, se torna a principal proteção legal dos direitos humanos garantida pelo direito internacional. Entretanto, se os procedimentos legais internos falham em reportar e lidar com as queixas de violações aos direitos humanos de indivíduos ou grupos, existem um conjunto de mecanismos e procedimentos em níveis regionais e internacionais que estão disponíveis para ajudar a garantir que os direitos humanos sejam respeitados, implementados e reforçados em nível local. No caso da América Latina, os mecanismos mais importantes de proteção dos direitos humanos são a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Para saber como funciona o sistema internacional de proteção de direitos humanos PIOVESAN, Flávia. Sistema internacional de proteção dos direitos humanos. I Colóquio Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Brasil, 2001. Baixe aqui Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. Sistemas internacionais de proteção dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://midia.pgr.mpf.mp.br/pfdc/hotsites/sistema_protecao_direitos_humanos/index.html>. 3.5 A relevância da Declaração Universal dos Direitos Humanos Nesta atividade lhe convidamos a participar de um fórum autorregulado com os/as outros/as participantes do curso para aprofundar na questão dos direitos humanos. Apesar da sua importância na construção de um mundo mais tolerante e socialmente justo, ainda hoje é possível encontrar uma visão distorcida sobre o conceito de “direitos humanos.” Em alguns espaços, os direitos humanos são apresentados como contrários à chamada “ordem social”. Assim, por exemplo, atualmente, ainda há quem defende a ideia de que precisamos limitar a ordem constitucional e suspender os 7 direitos humanos para garantir a governabilidade ou a segurança pública, quando, pelo contrário, como fica consolidado no sistema internacional das Nações Unidas, o respeito aos direitos humanos é um ingrediente essencial na construção de uma ordem social mais justa para todos/as. Igualmente não é estranho escutar que “direitos humanos apenas são para bandidos,” ou que “os direitos humanos são para humanos direitos.” Por essa razão, o trabalho de educar em direitos humanos tem se mostrado de suma importância para que se possa entender sobre o real significado do termo, além dos estereótipos que circulam na sociedade brasileira. Infelizmente, em alguns contextos ainda parece que nas nossas conversas temos o desafio de esclarecer que os direitos humanos não são um adversário, mas um aliado na criação de uma sociedade menos violenta, intolerante, desigual e injusta. A educação se mostra como a principal ferramenta para a mudança deste senso comum, e por isso a legislação educacional brasileira, em harmonia com os marcos normativos internacionais, já prevê que os direitos fundamentais sejam tratados em sala de aula na educação básica. Para saber mais sobre esse assunto leia o seguinte artigo publicado em 2018 pela BBC: SHALDERS, André. Dois emcada três brasileiros acham que ‘direitos humanos defendem mais os bandidos’, diz pesquisa. BBC Brasil, 18 de maio de 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44148576>. Após o conteúdo estudado até aqui, dedique um tempo para conversar com seus colegas no fórum sobre o que o senso comum entende pelo tema dos direitos humanos no Brasil, e o que isto significa no contexto da educação. o Como os direitos humanos são percebidos no Brasil? Por que você acha que eles são percebidos desta maneira? o Quais são as consequências de compreender os direitos humanos dessa forma? o Qual a importância dos direitos humanos no nosso país? o Como educador, o que você considera ser o papel da educação na promoção de uma compreensão adequada entre os/as jovens sobre o que são os direitos humanos? Lembre-se de que você pode ler e comentar as respostas dos/as demais participantes do curso! 3.6 Os direitos humanos no Brasil A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, é o documento principal do Estado brasileiro no qual estão previstos direitos e deveres para todos os cidadãos e cidadãs, além de estabelecer as responsabilidades dos poderes do Estado. A Constituição Federal de 1988 marca o início da reconstrução democrática no Brasil após a ditadura civil- militar no país, iniciada com o golpe de 1964, quando as Forças Armadas fecharam o Congresso Nacional e depuseram o presidente eleito João Goulart e suspenderam diversos direitos como a liberdade de ir e vir, a liberdade de associação, o direito ao voto, além de perseguir aqueles que se opunham à ditadura. 8 Justamente por termos passado por um período de vinte anos de ditadura, a Constituição Federal deu grande importância ao reconhecimento dos direitos básicos da população, chamando-os de direitos e garantias fundamentais, inscritos em seus artigos 5º ao 17º. Para saber sobre a realidade da proteção aos direitos humanos hoje no Brasil, assista a última parte do vídeo aula do professor Eduardo Bittar. Assistir Para saber mais sobre o tema BRASIL. Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, 2010. Disponível em: <https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/PNDH3.pdf>. Baixe aqui SOUZA, Isabela. Evolução dos direitos humanos no Brasil. Politize!, 5 de maio de 2017. Disponível em: <http://www.politize.com.br/direitos-humanos-no-brasil/>. Baixe aqui