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Cap 2 - Teoria e formulação de casos em análise comportamental


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2
Formulação	comportamental
ou	diagnóstico
comportamental:	um	passo	a
passo
Flávia	Nunes	Fonseca	|	Lorena	Bezerra	Nery
A	busca	pela	compreensão	do	comportamento	humano	e	de	suas	causas	remonta
ao	período	da	Antiguidade	(ver	capítulo	de	Silva	&	Bravin,	neste	 livro).	Nesse
contexto,	 verifica-se	 que	 o	 investimento	 no	 desenvolvimento	 de	 classificações
para	 os	 transtornos	 mentais	 também	 é	 antigo,	 tendo	 como	 um	 antecedente
histórico	 significativo	 a	 doutrina	 de	 Hipócrates	 (460-377	 a.C.),	 que	 sugere
desequilíbrios	 corporais	 como	origem	para	 a	 doença	mental.	Outro	 importante
marco	histórico	 foi	o	Tratado	Médico-Filosófico	 sobre	a	Alienação	Mental,	de
Pinel,	 o	 qual	 defende	 que	 são	 desarranjos	 na	 mente	 que	 produzem	 a	 loucura
(Cavalcante	&	Tourinho,	1998).
Segundo	 Dalgalarrondo	 (2000),	 na	 Medicina	 e	 na	 Psicopatologia,	 há
diferentes	critérios	de	normalidade	e	anormalidade.	Como	exemplos,	podem-se
citar:
1.	 Normalidade	como	ausência	de	doença:	ausência	de	sintomas,	de	sinais	ou
de	doenças.
2.	 Normalidade	 estatística:	 identifica	 norma	 e	 frequência.	 Baseia-se	 na
distribuição	 estatística	 na	 população	 geral.	 Normal	 corresponde	 ao	 que	 se
observa	com	mais	frequência.
3.	 Normalidade	 como	 bem-estar:	 a	 Organização	 Mundial	 da	 Saúde	 (OMS)
definiu	saúde	como	completo	bem-estar	físico,	mental	e	social.
55
Luiza Macedo Ferreira
4.	 Normalidade	 funcional:	 o	 fenômeno	 é	 considerado	 patológico	 a	 partir	 do
momento	 em	 que	 é	 disfuncional,	 provoca	 sofrimento	 para	 o	 próprio
indivíduo	ou	para	seu	grupo	social.
5.	 Normalidade	operacional:	critério	assumidamente	arbitrário	com	finalidades
pragmáticas	 explícitas.	 Define-se	 a	 priori	 o	 que	 é	 normal	 e	 o	 que	 é
patológico	 e	 busca-se	 trabalhar	 operacionalmente	 com	 os	 referidos
conceitos.
De	acordo	com	Cavalcante	e	Tourinho	(1998),	a	construção	de	sistemas	de
classificação	e	diagnóstico	encontra	sua	importância	no	seu	papel	de	facilitador
do	diagnóstico	clínico,	bem	como	na	orientação	da	intervenção	de	profissionais
da	área	de	saúde.	Nesse	contexto,	os	autores	destacam	o	Manual	diagnóstico	e
estatístico	 de	 transtornos	 mentais	 (DSM)	 (American	 Psychiatric	 Association
[APA],	 2013/2014),	 atualmente	 em	 sua	 quinta	 edição.	 O	 manual	 apresenta
categorias	 diagnósticas	 derivadas	 do	 modelo	 médico.	 Observa-se	 que	 o	 DSM
tem	 caráter	 descritivo:	 a	 partir	 do	 uso	 de	 uma	 linguagem	 clara	 e	 de	 critérios
concisos,	 busca	 identificar	 sinais	 e	 sintomas,	 facilitando	 a	 compreensão	 da
etiologia,	 do	 curso	 e	 da	 resposta	 ao	 tratamento.	 Tal	 sistema	 de	 classificação
propõe-se	 a	 ser	 ateorético,	 de	 forma	 a	 ser	 operado	 no	 contexto	 de	 diferentes
modelos	de	análise	e	intervenção.
É	 possível	 citar	 diferentes	 funções	 para	 o	 uso	 de	 sistemas	 de	 classificação
tais	como	o	DSM:	facilitam	a	comunicação	entre	profissionais	de	áreas	diversas
ao	 trazer	 uma	 terminologia	 padronizada;	 são	 um	 recurso	 didático	 e	 descritivo,
servindo	 como	 base	 para	 a	 identificação	 de	 similaridades	 e	 diferenças	 entre
pacientes	 psiquiá​tricos;	 além	 de	 servirem	 como	 guia	 para	 distinguir	 variáveis
importantes	 a	 serem	 investigadas	 durante	 a	 intervenção	 em	 um	Caso	 clínico.
Contudo,	 observam-se	 limitações	 do	 sistema	 para	 os	 objetivos	 de	 uma
intervenção	analítico-comportamental	(Cavalcante	&	Tourinho,	1998).
Com	 o	 objetivo	 de	 ilustrar	 as	 limitações	 do	 uso	 de	 sistemas	 diagnósticos
tradicionais	 sob	a	perspectiva	da	Análise	do	Comportamento,	 tomar-se-á	como
exemplo	 a	 análise	 de	 transtornos	 alimentares,	 que	 são	 caracterizados	 por
perturbações	 severas	 no	 comportamento	 alimentar.	 Tanto	 no	 DSM-5	 (APA,
2013/2014)	 quanto	 na	 Classificação	 de	 transtornos	 mentais	 e	 de
comportamento,	 CID-10	 (Organização	Mundial	 da	 Saúde	 [OMS],	 1993/2008),
os	 transtornos	 alimentares	 são	 basicamente	 divididos	 em	 duas	 categorias:	 a
anorexia	nervosa	e	a	bulimia	nervosa.
56
A	 anorexia	 nervosa	 inclui	 fundamentalmente	 as	 seguintes	 características:
recusa	 a	manter	 o	 peso	 corporal	 em	 uma	 faixa	 normal	mínima	 (peso	 corporal
pelo	menos	15%	abaixo	do	esperado)	e	deliberada	perda	de	peso	induzida	e/ou
mantida	 pelo	 próprio	 paciente.	 A	 perda	 de	 peso	 pode	 ser	 autoinduzida	 das
seguintes	 maneiras:	 por	 abstenção	 de	 alimentos	 que	 engordam,	 vômitos
autoinduzidos,	 purgação	 autoinduzida,	 excesso	 de	 atividades	 físicas,
autoadministração	de	anorexígenos	e/ou	diuréticos.	Além	disso,	costuma	ocorrer
um	 transtorno	 endócrino	 generalizado,	 que	 leva	 à	 amenorreia	 (interrupção	 do
ciclo	 menstrual),	 no	 caso	 das	 mulheres,	 ou	 à	 perda	 de	 interesse	 e	 potência
sexuais,	no	caso	dos	homens	(APA,	2013/2014;	OMS,	1993/2008).
Por	 sua	 vez,	 a	 bulimia	 nervosa	 é	 caracterizada	 por	 episódios	 repetidos	 de
compulsão	 alimentar	 (consumo	 de	 grandes	 quantidades	 de	 alimento	 em	 curto
período)	 seguidos	 de	 comportamentos	 compensatórios	 inadequados,	 tais	 como
vômitos	autoinduzidos;	mau	uso	de	laxantes,	diuréticos	ou	outros	medicamentos;
jejuns	 ou	 exercícios	 excessivos.	 Portanto,	 a	 síndrome	 é	 caracterizada	 por
episódios	recorrentes	de	hiperfagia	e	uma	preocupação	excessiva	com	o	controle
do	 peso	 corporal,	 o	 que	 leva	 o	 paciente	 a	 se	 engajar	 em	 comportamentos	 que
permitam	reverter	os	efeitos	engordativos	da	ingestão	excessiva	de	alimentos.
Tanto	na	anorexia	nervosa	quanto	na	bulimia	nervosa,	há	uma	perturbação	na
percepção	da	forma	e	do	peso	corporal,	caracterizada	pelo	pavor	de	engordar	e
pela	 imposição	 de	 um	baixo	 limiar	 de	 peso	 a	 si	 próprio.	 Em	 ambos	 os	 casos,
pode	haver	sintomas	depressivos	ou	compulsivos	associados.	A	prevalência	dos
dois	transtornos	é	mais	frequente	em	pessoas	jovens	do	sexo	feminino,	embora
homens	 possam	 ser	 raramente	 afetados	 (proporção	 de	 10	 mulheres	 para	 um
homem).	A	gravidade	dos	quadros	característicos	desses	transtornos	pode	variar
enormemente,	 sendo	 comuns	 complicações	 físicas	 graves,	 como	 problemas
cardíacos,	 problemas	 renais	 e/ou	 gástricos,	 desnutrição,	 crises	 epiléticas,
fraqueza	muscular,	tetania,	grave	perda	de	peso,	infertilidade,	osteoporose,	entre
outras	 (APA,	 2013/2014;	 OMS,	 1993/2008).	 Há	 também	 comorbidades
psiquiátricas	 associadas	 à	 anorexia	 nervosa	 e	 à	 bulimia	 nervosa,	 como
transtornos	 do	 humor,	 abuso	 de	 substâncias,	 transtorno	 obsessivo-compulsivo
(TOC),	 transtornos	 da	 ansiedade,	 transtornos	 do	 controle	 dos	 impulsos,	 entre
outras	(Nascimento	et	al.,	2006).
Ao	 se	 basear	 na	 visão	 da	 Análise	 do	 Comportamento,	 questiona-se	 a
utilidade	das	descrições	 apresentadas	 e	o	que	 elas	dizem	sobre	 as	variáveis	de
controle	 dos	 comportamentos	 considerados	 “perturbações	 severas	 do
comportamento	 alimentar”.	 Nota-se	 que	 o	 quadro	 apresentado	 identifica
57
determinadas	 topografias	 como	 características	 de	 um	 transtorno	 alimentar,
porém,	esse	dado	auxilia	pouco	na	orientação	para	a	intervenção	do	analista	do
comportamento,	uma	vez	que	a	simples	descrição	de	respostas	não	especifica	as
variáveis	das	quais	essas	respostas	são	função.	Como	discutido	amplamente	no
capítulo	 anterior,	 a	 abordagem	 analítico-comportamental	 exige	 que	 os
procedimentos	 de	 avaliação	 e	 intervenção	 sejam	 orientados	 por	 análises
funcionais,	 as	 quais	 pressupõem	 uma	 análise	 individualizada	 de	 cada	 caso
(Cavalcante	&	Tourinho,	1998;	de-Farias,	2010;	ver	também	o	capítulo	de	Naves
&	Ávila,	e	o	de	Quinta,	neste	livro).
Skinner	 (1953/2003)	 destaca	 a	 importância	 da	 análise	 funcional	 como	 um
recurso	 que	 permite	 a	 identificação	 de	 relações	 sistemáticas	 entre	 o
comportamento	 (variável	 dependente)	 e	 alterações	 do	 ambiente	 (variáveis
independentes)	com	o	qual	o	indivíduo	interage.	O	estabelecimento	de	relações
funcionais	consistentes	envolve,	portanto,	a	especificação	de	relações	ou	de	uma
história	 de	 interaçõesentre	 o	 organismo	 e	 o	 ambiente	 que	 permitem	 que	 o
comportamento	 atual	 seja	 explicado.	 Dessa	 maneira,	 descrições	 topográficas
(i.e.,	 baseadas	 na	 forma)	 não	 são	 suficientes	 para	 a	 realização	 de	 análises
funcionais	 que	 possibilitem	 explicar	 um	 comportamento	 e	 intervir	 sobre	 ele
(Skinner,	 1974/2004).	 No	 caso	 dos	 transtornos	 alimentares,	 portanto,	 mais	 do
que	descrições	 topográficas,	é	 fundamental	buscar	as	variáveis	de	controle	que
estão	 funcionalmente	 relacionadas	 aos	 comportamentos	 que	 os	 caracterizam.
Nota-se,	 portanto,	 que	 a	 análise	 funcional	 se	 configura	 como	 um	 instrumento
básico	 de	 trabalho	 dos	 analistas	 do	 comportamento	 (Skinner,	 1953/2003).	 O
analista	do	comportamento	busca	identificar	contingências	atuais	e	inferir	sobre
contingências	 que	 operaram	 no	 passado	 a	 partir	 da	 observação	 direta	 ou	 de
relatos	de	comportamentos	(Meyer,	2001).
Na	 perspectiva	 analítico-comportamental,	 o	 comportamento	 do	 indivíduo,
por	mais	sem	sentido	que	possa	parecer,	sempre	 tem	uma	função.	A	realização
de	 análises	 funcionais	 permite	 compreender	 o	 fenômeno	 dos	 transtornos
alimentares,	 por	 exemplo,	 a	 partir	 de	 conceitos	 como	 condicionamento
respondente,	 condicionamento	 operante,	 esquemas	 de	 reforçamento,
comportamento	 adjuntivo,	 discriminação	 de	 estímulos,	 comportamento
governado	 por	 regras,	 entre	 outros.	 Esse	 tipo	 de	 análise	 permite	 tentativas	 de
prever	o	controlar	o	comportamento,	público	ou	privado,	de	modo	que	possam
ser	planejados	novos	padrões	comportamentais,	mais	adaptativos	 (Nobre	et	al.,
2010).
58
Luiza Macedo Ferreira
Segundo	Cirino	(2001),	para	identificar	os	motivos	pelos	quais	um	indivíduo
se	 comporta	 da	 forma	 como	 se	 comporta,	 é	 preciso	 investigar	 tanto	 as
contingências	atuais	em	vigor	como	as	contingências	históricas.	Sugere-se	que	a
história	está	diluída	no	comportamento	atual.	Dessa	maneira,	para	que	haja	uma
compreensão	 ampla	 de	 um	 caso,	 é	 preciso	 ir	 além	 de	 uma	 investigação	 de
determinantes	 de	 comportamentos	 atuais	 específicos,	 mas	 buscar	 uma	 análise
molar,	 isto	 é,	 uma	 análise	 que	 inclua	 aspectos	 ligados	 à	 história	 de	 vida	 e	 ao
desenvolvimento	de	padrões	comportamentais	(Marçal,	2005).
Assim	 sendo,	 na	 perspectiva	 analítico-comportamental,	 ainda	 que	 um
comportamento	 seja	 aparentemente	 inadequado	 ou	 socialmente	 reprovado,	 ele
tem	uma	 função	 no	 repertório	 daquele	 que	 o	 emite	 e	 foi	 selecionado	 por	 suas
consequências.	 Logo,	 é	 papel	 do	 terapeuta	 investigar	 em	 que	 contingências	 o
comportamento	se	instalou	e	se	mantém,	utilizando,	para	isso,	dados	da	história
de	 vida	 do	 cliente,	 das	 contingências	 atuais	 e	 da	 relação	 terapêutica	 (Banaco,
1999;	de-Farias,	2010;	Delitti,	2001).
No	 entanto,	 conforme	 Cavalcante	 e	 Tourinho	 (1998)	 salientam,	 é	 preciso
considerar	 que	 não	 há	 uma	 padronização	 de	 sistemas	 diagnósticos	 formulados
por	terapeutas	comportamentais.	Contudo,	é	fato	que	um	sistema	de	classificação
coerente	 na	 perspectiva	 da	 Análise	 do	 Comportamento	 deveria	 ter	 foco	 na
função	 dos	 comportamentos	 e	 na	 identificação	 do	 tipo	 de	 manipulação	 de
variáveis	mais	indicada	para	a	promoção	de	novas	relações	ambiente/indivíduo.
Dessa	 forma,	 este	 capítulo	 tem	 como	 objetivo	 apresentar	 um	 modelo	 de
formulação	comportamental,	o	qual	está	baseado	na	proposta	da	terapia	molar	e
de	 autoconhecimento	 (TMA),	 apresentada	 por	 Marçal	 e	 Dutra	 (2010),	 e	 na
psicoterapia	 comportamental	 pragmática	 (PCP),	 sistematizada	 por	 Medeiros
(2010).	Costa	(2011)	aponta	que	o	raciocínio	clínico	da	TMA	toma	a(s)	queixa(s)
como	ponto	de	partida.	Busca-se	identificar	as	contingências	atuais	relacionadas
a	 ela(s)	 e	 reconhecer	 os	 padrões	 comportamentais	 do	 cliente,	 bem	 como	 a
generalidade	dos	estímulos	atuantes	na	história	do	indivíduo.	No	primeiro	caso,
a	 análise	 é	molecular	 (ou	microanálise)	 e,	 no	 segundo,	 ao	 abordar	 os	 padrões
comportamentais,	 realiza-se	 uma	 análise	 molar	 (ou	 macroanálise).	 Dessa
maneira,	são	delimitados	objetivos	e	intervenções	amplos	com	base	nas	análises
realizadas.	 Em	 concordância,	 a	 PCP	 se	 caracteriza	 pela	 delimitação	 de
comportamentos-alvo	que	serão	focos	para	a	 intervenção,	o	que	é	feito	a	partir
de	uma	visão	ampla	do	indivíduo,	por	meio	de	análises	funcionais	individuais	e
não	lineares	(relações	entre	os	diferentes	comportamentos-alvo),	considerando	as
consequências	em	curto	e	longo	prazo.
59
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Costa	 (2011)	 destaca	 ainda	 a	 contribuição	 da	 organização	 das	 análises
sugeridas	por	ambas	as	abordagens.	Na	TMA,	as	análises	envolvem	a)	definição
de	respostas	específicas;	b)	eventos	históricos	que	favoreceram	a	instalação	das
respostas;	 c)	 condições	 mantenedoras;	 d)	 quando	 a	 resposta	 é	 funcional;	 e)
quando	 a	 resposta	 não	 é	 funcional.	 A	 PCP	 aponta	 a	 inclusão	 na	 análise	 de
eventos	antecedentes	(não	apenas	estímulos	discriminativos)	e	a	especificação	da
resposta	e	de	suas	consequências	em	curto	e	longo	prazo.
Para	atender	ao	objetivo	do	capítulo,	será	apresentado	a	seguir	um	modelo	de
formulação	comportamental,	com	o	passo	a	passo	dos	tópicos	a	serem	incluídos,
utilizando-se	como	exemplo	o	caso	de	uma	cliente	cuja	queixa	está	relacionada	a
um	 quadro	 de	 transtorno	 alimentar.	 A	 proposta	 apresentada	 está	 embasada	 na
compilação	 de	 aspectos	 de	 diferentes	 modelos	 de	 professores	 do	 Instituto
Brasiliense	de	Análise	do	Comportamento	(IBAC),	Ana	Karina	C.	R	de-Farias,
Andréa	 Dutra,	 Carlos	 Augusto	 de	 Medeiros,	 João	 Vicente	 Marçal,	 Luciana
Verneque,	Marianna	Braga,	Lorena	Nery	e	Flávia	Fonseca.
EMBASAMENTO	TEÓRICO
Esta	 formulação	 comportamental	 tem	 como	 foco	 a	 análise	 do	 caso	 de	 uma
cliente	 com	 um	 quadro	 compatível	 com	 o	 diagnóstico	 de	 bulimia	 nervosa,
enfatizando-se	uma	ótica	analítico-comportamental	dos	transtornos	alimentares.
Tendo	 em	 vista	 que	 a	 Análise	 do	 Comportamento	 se	 baseia	 em	 princípios
behavioristas	radicais,	 tem-se	que	os	efeitos	desejados	sobre	uma	resposta-alvo
só	podem	ser	obtidos	por	meio	da	manipulação	de	contingências.	A	partir	dessas
considerações,	 o	 objetivo	 deste	 trabalho	 foi	 analisar	 alguns	 dos	 controles
comportamentais	envolvidos	no	quadro	de	transtorno	alimentar	apresentado	pela
cliente,	ou	seja,	como	a	realização	de	análises	funcionais	atuais	e	históricas	pode
contribuir	para	a	compreensão	desse	tipo	de	diagnóstico	e	embasar	manipulações
ambientais	 favoráveis	 a	 uma	 melhor	 qualidade	 de	 vida	 para	 pessoas	 que
apresentam	repertórios	característicos	desses	transtornos.
De	 acordo	 com	 Skinner	 (1953/2003),	 parte	 significativa	 dos	 estímulos
discriminativos,	 motivacionais	 e	 reforçadores	 é	 provida	 pelo	 ambiente	 social.
Corroborando	 essa	 perspectiva,	 Andrade	 (2003)	 aponta	 que	 existem	 inúmeras
pedagogias	 que	 atuam	 no	meio	 social,	 de	modo	 a	 ensinar,	 desde	 a	mais	 tenra
infância,	 o	 que	 é	 esperado	 socialmente	 em	 relação	 aos	 corpos	 feminino	 e
masculino,	bem	como	formas	de	se	relacionar	com	o	mundo	de	modo	a	obter	e
manter	 determinada	 imagem	 corporal.	 Segundo	 a	 autora,	 desde	 a	 infância,	 o
60
Luiza Macedo Ferreira
contato	 social,	 a	 cultura	 e	 a	mídia	 ensinam	 a	meninas	 e	mulheres	 técnicas	 de
como	lidar	com	seu	corpo.	Frequentemente,	receitas	e	dicas	para	que	se	atinja	o
corpo	 apontado	pela	mídia	 como	 ideal	 são	 transmitidas	 de	 pessoa	 para	 pessoa
como	 algo	 natural.	 O	 corpo	 da	 cultura	 contemporânea	 extrapola	 a	 concepção
biológica	 de	 um	 corpo	 natural,	 embora	 a	 sociedade	 ocidental	 se	 esforce	 para
transmitir	 a	 ideia	 de	 que	mulheres	muito	magras	 e	 em	 forma	 são	 o	 natural,	 o
padrão,	o	normal.	Outro	aspecto	relevante	destacado	por	Andrade	(2003)	é	que
culturalmente	 se	assume	e	defende	que,	para	 fazer	dieta	e	emagrecer,	basta	 ter
força	 de	 vontade,	 autocontrolee	 disciplina.	Assim,	 a	 responsabilidade	 sobre	 a
aparência	do	corpo	seria	exclusivamente	de	seu	proprietário.	Em	concordância,
Ades	e	Kerbauy	(2002)	apontam	que	o	ideal	do	corpo	magro	e	esbelto	é	pregado
pela	mídia	sem	levar	em	consideração	características	individuais,	e	aqueles	que
não	 conseguem	 atingir	 esse	 padrão	 são	 considerados	 pela	 sociedade	 pessoas
preguiçosas,	relaxadas	e	incapazes	de	controlar	seus	impulsos.
Os	 analistas	 do	 comportamento,	 entretanto,	 criticam	 a	 atribuição	 de
causalidade	interna,	bem	como	a	atribuição	de	causa	a	entidades	metafísicas.	O
Behaviorismo	Radical	propõe	um	modelo	selecionista	de	causalidade.	De	acordo
com	 esse	 modelo,	 dentro	 de	 uma	 ampla	 faixa	 de	 possibilidades,	 os	 padrões
comportamentais	 de	 cada	 indivíduo	 são	 selecionados,	 mantidos	 e	 fortalecidos
por	 eventos	 antecedentes	 e	 consequentes.	 Assim,	 as	 explicações	 causais	 são
dadas	 em	 termos	 de	 relações	 interativas	 entre	 o	 indivíduo	 e	 o	 ambiente.	 Essa
visão	 considera	 a	 causalidade	 ao	 longo	 do	 tempo;	 ou	 seja,	 não	 há	 um	 evento
único	 ou	 uma	 causa	 que	 produza	 linear	 e	 diretamente	 um	 efeito,	 mas,	 sim,
relações	 funcionais,	 de	 maneira	 que	 o	 comportamento	 é	 considerado	 uma
variável	 dependente	 em	 relação	 aos	 eventos	 ambientais,	 os	 quais	 seriam
variáveis	 independentes,	 que	 podem	 ser	 manipuladas.	 Conclui-se	 daí	 que	 o
comportamento	 é	 função	 de	 condições	 ambientais.	 A	 probabilidade	 de
ocorrência	do	comportamento	no	futuro	é,	portanto,	determinada	pelas	condições
contextuais	 e	 consequências	 do	 comportamento	 (Chiesa,	 1994/2006;	 Skinner,
1953/2003,	1981).
Há	 três	 níveis	 de	 seleção	 do	 comportamento	 por	 suas	 consequências:	 o
filogenético,	o	ontogenético	e	o	cultural	(Skinner,	1981).	Assim,	de	acordo	com
essa	perspectiva	da	interação	entre	as	variáveis	de	seleção	nos	três	níveis,	tem-se
que	o	 comportamento	 alimentar	 atual	 de	uma	pessoa	 é	multideterminado,	uma
vez	que	é	resultante	de	características	genéticas	únicas,	de	uma	história	única	de
reforçamento	(experiência	de	vida)	e	das	relações	do	indivíduo	com	o	ambiente
atual	 e	 com	 as	 práticas	 culturais	 da	 comunidade	 em	 que	 se	 insere	 (Abreu	 &
61
Cardoso,	 2008;	 Appolinário,	 2000;	 Duchesne	&	Almeida,	 2002;	 Nobre	 et	 al.,
2010).
Os	 fatores	 biológicos	 e	 genéticos	 podem	 contribuir	 para	 uma	 maior
vulnerabilidade	ao	desenvolvimento	de	comportamentos	 típicos	dos	 transtornos
alimentares	(Halford,	2006).	Contudo,	ao	longo	da	vida,	cada	pessoa,	a	partir	de
uma	 história	 única	 de	 interação	 com	 o	 mundo,	 aprende	 como	 se	 comportar
diante	 de	 inúmeras	 situações	 e,	 no	 caso	 do	 comportamento	 alimentar,	 não	 é
diferente.	Nas	famílias	de	pes​soas	com	transtornos	alimentares,	é	comum	que	as
aparências	 sejam	 privilegiadas	 e	 valorizadas.	 Com	 frequência,	 os	 pais	 são
rígidos,	 exigentes	 e	 resistentes	 a	 mudanças	 (Duchesne,	 2006;	 Nobre	 et	 al.	 ,
2010).	 Assim,	 no	 decorrer	 do	 seu	 desenvolvimento,	 as	 pessoas	 aprendem
diversos	hábitos	alimentares.	 Inicialmente,	esse	conhecimento	se	dá	a	partir	da
interação	com	a	família,	tanto	por	modelagem	quanto	por	modelação.	Por	meio
dessa	 interação	 com	 o	 ambiente	 familiar,	 a	 criança	 começa	 a	 aprender	 quais
comportamentos	 alimentares	 são	 valorizados	 em	 seu	 grupo	 social	 e	 quais	 não
são,	 bem	 como	 tem	 a	 possibilidade	 de	 conhecer	 os	 sabores	 de	 diversos
alimentos,	 os	 quais	 também	 podem	 ser	 reforçadores	 ou	 não.	 À	medida	 que	 a
criança	 vai	 crescendo,	 começa	 a	 ter	 contato	 com	 um	 ambiente	 social	 mais
ampliado	e,	especialmente	no	caso	das	meninas	e	 jovens,	as	exigências	sociais
em	 relação	 a	 um	 corpo	 idealizado	 vão	 aumentando,	 o	 que	 favorece	 o
desenvolvimento	 de	 repertório	 de	 fuga-esquiva	 em	 relação	 a	 alimentos	 que
engordem.	Esse	 repertório	de	 fuga-esquiva,	 como	descrito	 anteriormente,	pode
envolver	 tanto	 a	 evitação	 direta	 da	 ingestão	 de	 alimentos	 muito	 calóricos	 e	 a
recusa	 em	 comer,	 como	 também	 comportamentos	 compensatórios,	 como	 a
autoindução	 de	 vômito,	 o	 abuso	 de	 diuréticos	 e	 purgativos	 e	 a	 rea​lização	 de
atividades	 físicas	 em	 excesso.	 Dessa	 maneira,	 nota-se	 que	 esses	 padrões
alimentares	considerados	inadequados	vão	sendo	estabelecidos	e	mantidos	tanto
pelo	 reforçamento	 positivo	 quanto	 pelo	 controle	 aversivo,	 por	 meio	 da	 fuga-
esquiva	de	situações	que	dificultam	a	conquista	do	corpo	socialmente	construído
como	 ideal.	No	decorrer	 do	processo	de	 aprendizagem	de	hábitos	 alimentares,
estímulos	 da	 história	 do	 indivíduo,	 como	 determinados	 alimentos,	 vão
adquirindo	propriedades	reforçadoras	ou	aversivas.
Ades	 e	 Kerbauy	 (2002)	 chamam	 a	 atenção	 para	 as	 contingências
contraditórias	 que	 selecionam	 os	 hábitos	 alimentares:	 ao	 mesmo	 em	 que
estímulos	 antecedentes	 (discriminativos	 e	 motivacionais)	 e	 consequências	 são
providos	 pelo	 ambiente	 social	 contingentemente	 a	 um	 corpo	 magro	 e	 aos
comportamentos	 relacionados	 à	 magreza	 e	 ao	 autocontrole,	 também	 há
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contingências	 que	 favorecem	 a	 impulsividade	 alimentar,	 ou	 seja,	 o	 prazer
imediato	de	comer	grandes	quantidades	de	alimentos	prontos,	saborosos	e	muito
calóricos.	Esses	conflitos	entre	contingências	favorecem	o	desenvolvimento	e	a
manutenção	 de	 quadros	 como	 o	 da	 bulimia	 nervosa.	 A	 concepção	 que	 o
indivíduo	tem	do	próprio	corpo,	portanto,	é	construída	a	partir	das	experiências
que	tem	com	esse	corpo	na	interação	com	diversas	situações	ao	longo	da	vida	e
corresponde	 às	 aprendizagens	 do	 indivíduo	 nas	 relações	 estabelecidas	 com	 o
ambiente	(Nobre	et	al.,	2010).
Ademais,	desde	a	 infância,	a	criança	aprende,	 também	a	partir	da	 interação
com	 outras	 pessoas,	 modelos	 e	 regras	 estabelecidas	 socialmente,	 bem	 como
começa	 a	 formular	 as	 próprias	 regras	 a	 partir	 desse	 contato	 com	 o	 ambiente
físico	e	social	em	que	se	insere	(nesse	caso,	fala-se	em	autorregras).	Regras	ou
instruções	 são	 estímulos	 verbais	 que	 descrevem	 ou	 especificam	 relações	 de
contingência,	 isto	 é,	 relações	 entre	 eventos	 ambientais	 ou	 entre	 eventos
ambientais	 e	 comportamentos.	De	modo	diferente	de	contingências	de	 reforço,
regras	 podem	 estabelecer	 comporta​mentos	 novos	 antes	 mesmo	 de	 esses
comportamen​tos	 entrarem	 em	 contato	 direto	 com	 suas	 consequências.	 O
comportamento	governado	por	regras	é	função	de	dois	grupos	de	contingências,
sendo	que	uma	delas	inclui	um	estímulo	verbal	antecedente.	Assim,	no	caso	do
comportamento	governado	por	regras,	o	comportamento	é	estabelecido	por	meio
do	controle	de	sentenças	verbais	em	forma	de	instruções	ou	regras.	Nesse	caso,
há	 um	 predomínio	 de	 controle	 por	 consequências	 sociais.	 A	 sentença	 verbal
funciona	como	estímulo	antecedente	que	pode	evocar	e	manter	o	comportamento
antes	 que	 haja	 o	 contato	 direto	 com	 as	 contingências.	 O	 comportamento
governado	por	 regras,	 portanto,	 pode	 ser	modificado	por	meio	da	 alteração	do
antecedente	 verbal	 (regra	 ou	 instrução),	 pela	 alteração	 das	 consequências	 do
comportamento-alvo	ou	pela	alteração	de	ambos.	O	comportamento	governado
por	 regras	 tem	 algumas	 vantagens	 em	 comparação	 com	 aquele	 modelado
diretamente	pelas	contingências,	uma	vez	que	permite	que	etapas	sejam	puladas,
tornando	o	 tempo	de	aprendizado	menor,	assim	como	coloca	o	comportamento
do	indivíduo	sob	controle	de	consequências	atrasadas	e	pouco	prováveis,	o	que	é
muito	 característico	 do	 autocontrole,	 atributo	 muito	 valorizado	 em	 nossa
sociedade	 (Baum,	 1994/2006;	 Catania,	 1999;	 Nobre	 et	 al.,	 2010;	 Skinner,
1974/2004).
Dessa	 forma,	 desde	 a	 infância,	 cada	pessoa	 começa	 a	 aprender,	 a	 partir	 de
sua	 interação	 com	 familiares	 e	 com	 a	 sociedade	 de	 maneira	 geral,	 regras	 a
respeito	de	como	deveriam	ser	seu	corpo	e	sua	aparência	e	também	de	como	não
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deveriam	ser,	ou	seja,	ela	aprende	o	que	é	reforçadoou	valorizado	socialmente
no	que	se	refere	à	imagem	corporal.	É	a	partir	da	maneira	como	os	outros	a	veem
e	 expressam	 isso	 e	 das	 regras	 que	 lhe	 são	 passadas	 que	 a	 criança	 começa	 a
formar	 sua	 própria	 imagem	 corporal.	 Além	 disso,	 a	 criança	 avalia	 em	 que
medida	 sua	aparência	corporal	 é	coerente	com	o	modelo	que	 lhe	é	 transmitido
como	socialmente	aceito,	de	modo	que	aprende	a	valorizar	em	seu	corpo	aquilo
que	é	valorizado	pelo	grupo	em	que	se	insere,	bem	como	a	desvalorizar	aquilo
que	o	grupo	desvaloriza.	A	autoimagem	de	uma	pessoa	é	construída	a	partir	de
sua	interação	com	o	ambiente	físico	e	social	(Ingberman	&	Lohr,	2003).	Tendo
isso	 em	 vista,	 dadas	 as	 fortes	 pressões	 sociais	 em	 prol	 da	 magreza	 e	 da	 boa
forma,	especialmente	na	cultura	ocidental,	pode	se	tornar	grande	a	discrepância
entre	o	peso	corporal	real	e	o	desejado,	o	que	favorece	o	seguimento	de	regras	e
modelos	que	tragam	sofrimento.
O	 trabalho	de	Reis,	Teixeira	 e	Paracampo	 (2005)	 discute	 e	 analisa	 o	 papel
facilitador	 das	 autorregras	 na	 emissão	 de	 desempenhos	 autocontrolados	 no
âmbito	alimentar.	Segundo	as	autoras,	autorregras	podem	tornar	o	desempenho
insensível	 às	 contingências	 às	 quais	 o	 indivíduo	 está	 exposto	 e	 facilitar	 o	 seu
desempenho	 em	 situações	 semelhantes	 àquela	 em	 que	 as	 autorregras	 foram
formuladas.	 Conhecendo	 as	 variáveis	 que	 controlam	 seu	 comportamento,	 o
indivíduo	 tem	 a	 possibilidade	 de	 manipular	 as	 contingências	 relacionadas	 ao
próprio	 comportamento	 alterando	 a	 probabilidade	 de	 sua	 emissão	 futura.	 A
concepção	 de	 autocontrole	 na	 perspectiva	 comportamental	 pode	 enfatizar	 duas
características:	 o	 conflito	 entre	 as	 consequências	 positivas	 e	 negativas	 de	 uma
resposta;	e	a	lacuna	temporal	entre	a	resposta	e	sua	consequência	e	a	magnitude
dos	 reforçadores/das	 consequências	 aversivas	 tanto	 em	 curto	 como	 em	 longo
prazo.	Dessa	maneira,	quando	uma	resposta	autocontrolada	é	bem-sucedida,	uma
situação	semelhante	no	futuro	pode	evocar	a	descrição	da	contingência	passada,
contribuindo	 para	 a	 generalização	 do	 autocontrole.	 Essa	 análise	 de	 Reis	 e
colaboradores	 (2005)	 permite	 analisar	 como	 as	 contingências	 conflitantes
anteriormente	 referidas	 e	 as	 autorregras	 podem	 afetar	 o	 controle	 dos	 hábitos
alimentares.
Dados	gerais
Os	dados	gerais	relevantes	sobre	o	cliente	devem	ser	brevemente	descritos.	Por
exemplo:
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Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
a.	 iniciais	ou	nome	fictício;
b.	 sexo;
c.	 idade;
d.	 escolaridade;
e.	 estado	civil;
f.	 profissão/ocupação;
g.	 condição	socioeconômica;	e
h.	 outros	 dados	 gerais	 relevantes	 para	 o	 caso	 (como	 aspectos	 relacionados	 à
aparência,	quando	relevante,	quantidade	de	filhos,	entre	outros).
Destaca-se	 que,	 nesse	 momento,	 os	 tópicos	 descritos	 não	 devem	 ser
aprofundados	 nem	 o	 histórico	 da	 queixa	 deve	 ser	 apresentado.	 Por	 exemplo,
apontar	 a	 escolaridade	 como	 “ensino	 médio	 incompleto”,	 sem	 especificar	 o
histórico	 de	 aprovações/reprovações,	 a	 qualidade	 do	 desempenho,	 quais	 os
reforçadores	 e	 os	 punidores	 contingentes	 aos	 repertórios	 apresentados	 no
contexto	 escolar.	 Ademais,	 podem	 ser	 acrescentados	 genogramas	 da	 família
atual	e	da	 família	de	origem	como	forma	de	enriquecer	o	panorama	dos	dados
gerais	sobre	o	cliente.
Vamos	ter	o	seguinte	Caso	clínico	como	exemplo:
Bianca	 (nome	 fictício),	 sexo	 feminino,	 30	 anos,	 separada	 há	 três	 anos,
professora	do	ensino	médio	de	uma	escola	particular,	condição	socioeconômica
média.	 Nasceu	 em	 Brasília,	 onde	 sempre	 viveu.	 No	 início	 da	 terapia,	 morava
com	 os	 pais,	 a	 filha	 e	 o	 irmão	mais	 novo.	 É	 a	 filha	 do	meio	 de	 três	 irmãos.
Fisicamente,	é	uma	mulher	bonita.	Sua	altura	é	1,63	m,	pesa	55	kg,	tem	cabelo
liso	e	castanho	claro,	está	sempre	bronzeada	e	bem	vestida.
Queixas	e	demandas
As	queixas	são	os	tópicos	trazidos	pelo	próprio	cliente	como	aspectos	centrais	a
serem	 trabalhados	no	processo	 terapêutico.	Trata-se,	portanto,	do	que	o	cliente
diz	sobre	o	que	o	levou	a	buscar	a	terapia,	o	que	o	levou	a	buscar	ajuda	em	um
primeiro	 momento.	 Destaca-se	 que	 as	 queixas	 são	 diferentes	 das	 demandas.
Enquanto	 as	 queixas	 são	 os	 tópicos	 trazidos	 por	 iniciativa	 do	 cliente,	 as
demandas	 são	 os	 tópicos	 relevantes	 identificados	 pelo	 terapeuta,	 envolvendo
déficits	 comportamentais	 identificados	 pelo	 terapeuta	 com	 base	 em	 suas
observações	e	análises.	Por	exemplo,	a	queixa	do	cliente	pode	ser	“preciso	ficar
menos	ansioso”,	e	o	terapeuta	pode	concluir,	com	base	nas	análises	a	partir	das
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Luiza Macedo Ferreira
contingências	 descritas	 pelo	 cliente,	 que	 ele	 precisa	 desenvolver	 repertórios
sociais	os	quais	favorecerão	que	lide	de	maneira	mais	funcional	com	as	situações
de	convívio	social,	o	que,	por	sua	vez,	produzirá	efeitos	em	relação	à	ansiedade.
Em	 geral,	 recomenda-se	 que	 as	 queixas,	 ou	 seja,	 os	 conteúdos	 trazidos	 pelo
cliente,	 sejam	 descritas	 nesse	 tópico	 inicial	 da	 formulação	 comportamental,
enquanto	as	demandas	(identificadas	pelo	terapeuta	como	aspectos	importantes	a
serem	trabalhados)	devem	ser	especificadas	mais	adiante,	no	tópico	relativo	aos
objetivos	terapêuticos.
Ademais,	 quando	 já	 houver	 dados,	 recomenda-se	 que	 o	 terapeuta	 inicie	 a
operacionalização	da	queixa,	compondo	as	contingências	de	reforçamento	atuais
relacionadas	às	queixas	trazidas	pelo	cliente.
Caso	clínico
A	principal	queixa	de	Bianca	no	 início	do	processo	 terapêutico	era	 excesso	de
timidez	e	grande	preocupação	com	o	que	as	pessoas	pensariam	a	respeito	dela,	o
que	 limitava	 suas	 decisões.	 De	 acordo	 com	 o	 relato	 da	 cliente,	 estava	 sendo
difícil	 tomar	 decisões	 importantes	 em	 relação	 ao	 direcionamento	 de	 sua	 vida
profissional	e	pessoal,	pois,	desde	que	havia	se	separado	do	ex-marido,	ela	tinha
muito	 receio	 das	 críticas	 e	 dos	 julgamentos	 que	 poderiam	 resultar	 de	 suas
escolhas.	Ademais,	com	sua	postura	mais	tímida	e	retraída	nos	relacionamentos
e	 na	 tomada	 de	 decisões,	 as	 amizades	 e	 as	 relações	 amorosas	 não	 se
aprofundavam,	 e	 ela	 perdia	 oportunidades	 profissionais	 importantes,	 o	 que	 a
incomodava,	 gerando	 sentimentos	 como	 frustração,	 ansiedade	 e	 tristeza.	 O
Quadro	2.1	mostra	a	operacionalização	da	queixa	de	Bianca.
Quadro	2.1	Operacionalização	da	queixa	de	Bianca
Antecedentes Respostas Consequências Efeitos
Interações	sociais
Convites	para	situações
sociais
Demandas	por	tomada	de
decisões
Problemas	a	serem
resolvidos
Novas	oportunidades	de
trabalho
Respostas
passivas/tímidas	(p.	ex.,
fala	pouco,	diz	que	vai
pensar,	adia	a	decisão,	diz
que	não	sabe	o	que	fazer
e	que	tem	medo	de	ser
julgada	por	suas	decisões,
encerra	o	assunto)
Respondentes:	medo	e
ansiedade
Evita	conflitos,	críticas	e
julgamentos	-	R-
Alívio
Os	problemas	continuam
sem	solução	-	P+
Frustração/
ansiedade
Perde	oportunidades	de
aprofundamento	dos
vínculos
afetivos/amorosos	-	P-
Frustração/
tristeza
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Luiza Macedo Ferreira
Perde	oportunidades	de
trabalho	-	P-
Frustração/
tristeza
R-,	Reforçamento	negativo;	P+,	punição	positiva;	P-,	punição	negativa.
Mandato	terapêutico
Trata-se	dos	objetivos	terapêuticos	traçados	pelo	próprio	cliente	para	o	processo
terapêutico,	o	que	ele	espera	da	terapia.	Destaca-se	que,	inicialmente,	ainda	que
o	terapeuta	identifique	outras	demandas	relevantes	a	serem	trabalhadas,	deve-se
ficar	 sob	 controle	 dos	 objetivos	 propostos	 pelo	 cliente,	 uma	 vez	 que	 sua
motivação	 para	 a	 terapia	 provavelmente	 estará	 relacionada	 aos	 tópicos	 que
considera	mais	relevantes	em	um	momento	inicial.	Posteriormente,	à	medida	que
o	 vínculo	 terapêutico	 estiver	 fortalecido,	 os	 objetivos	 terapêuticos	 poderão	 ser
ampliados	pelo	terapeuta	e/ou	pelo	cliente.
Caso	clínico
Os	 relatos	 de	Bianca	 que	 caracterizavam	 seus	 objetivos	 no	 início	 do	 processo
terapêutico	foram:	“Quero	ser	menos	tímida”,	“Quero	me	preocuparmenos	com
o	 que	 as	 pessoas	 pensam	 sobre	 mim”	 e	 “Quero	 conseguir	 me	 organizar
profissional	 e	 financeiramente	 para	 sair	 da	 casa	 dos	 meus	 pais	 e	 ter	 o	 meu
próprio	canto,	junto	com	a	minha	filha”.
Repertório	e	contingências	no	início	da	terapia
Neste	tópico,	o	terapeuta	deve	identificar	e	descrever	as	contingências	atuais	de
vida	 do	 cliente	 no	 início	 do	 processo	 terapêutico,	 bem	 como	 as	 classes	 de
comportamentos	 relevantes,	 no	 contexto	 das	 queixas	 trazidas.	 É	 relevante
enfatizar	que,	aqui,	o	foco	envolve	as	contingências	presentes	e	não	as	passadas.
Trata-se	de	um	retrato	de	como	o	cliente	está	no	momento	do	início	da	terapia.
Algumas	 questões/perguntas	 podem	 ajudar	 o	 terapeuta	 a	 identificar	 os	 tópicos
relevantes	a	serem	descritos,	por	exemplo:
a.	 Descrever	as	principais	contingências	de	reforçamento	em	operação	(p.	ex.,
fatos,	 situa​ções	 e	 comportamentos).	 Assim,	 faz-se	 relevante	 analisar:	 o
cliente	 tem	 acesso	 a	 reforçadores	 positivos?	 Quais?	 Quais	 são	 as
contingências	 predominantemente	 presentes	 (reforçamento	 positivo,
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Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
reforçamento	 negativo,	 punição	 positiva,	 punição	 negativa	 ou	 extinção)?
Quais	contingências	trazem	sofrimento	ao	cliente?
b.	 Como	é	a	rotina	do	cliente?
c.	 Onde	o	cliente	mora?	Com	quem?	Como	são	as	relações	com	as	pessoas	em
casa?
d.	 Onde	 trabalha/estuda?	Quais	são	suas	 funções?	Como	são	as	 relações	com
os	colegas?	Qual	é	a	sua	posição	na	hierarquia?
e.	 Como	 são	 as	 suas	 relações	 sociais?	Quem	 são	 os	 amigos	mais	 próximos?
Qual	é	a	qualidade	das	interações?
f.	 Quais	são	as	suas	principais	atividades	de	 lazer?	Quem	são	as	companhias
nessas	atividades?
g.	 Quais	repertórios	estão	em	alta	frequência?	Quais	estão	em	baixa	frequência
(prováveis	déficits	comportamentais)?	Quais	consequên​cias	essas	classes	de
comportamentos	produzem	no	ambiente	atual?
h.	 Como	 o	 cliente	 responde	 diante	 das	 contingências	 em	 operação?	 Emite
comportamentos	 de	 fuga	 e/ou	 esquiva	 eficazes?	 Emite	 respostas	 de
contracontrole	diante	de	agentes	coercitivos?
i.	 Investigar	sentimentos	e	emoções	mais	comuns,	pois,	como	foi	apresentado
no	 capítulo	 anterior,	 os	 efeitos	 emocionais	 podem	 dar	 dicas	 sobre	 as
contingências	em	vigor.	Por	exemplo,	efeitos	característicos	de	sofrimento,
como	 tristeza,	 culpa,	 frustração,	 raiva	 e	 medo,	 sugerem	 a	 presença	 de
contingências	 coercitivas,	 enquanto	 efeitos	 agradáveis,	 como	 alegria,
satisfação	 e	 prazer,	 indicam	 contato	 com	 contingências	 de	 reforçamento
positivo.
Destaca-se	que	o	nível	de	detalhamento	a	respeito	de	cada	tópico	descrito	vai
depender	da	queixa	e	dos	objetivos	traçados	para	o	processo	terapêutico.
Caso	clínico
A	 cliente	 Bianca	 trabalhava	 em	 uma	 escola	 particular	 e	 afirmava	 sentir-se
realizada	profissionalmente,	embora	considerasse	que	precisava	investir	mais	na
profissão	para	obter	um	melhor	retorno	financeiro,	pois	estava	morando	com	os
pais	 e	 o	 irmão	 caçula,	 o	 que	 a	 incomodava.	 Segundo	 seu	 relato,	 lá	 todos
interferiam	em	sua	vida	e	na	criação	de	sua	filha.	Por	outro	lado,	sempre	havia
quem	cuidasse	da	menina,	caso	Bianca	precisasse	ou	quisesse	sair.	Ela	planejava
se	organizar	para	sair	da	casa	dos	pais	e	ir	morar	sozinha	com	a	filha,	mas	não	se
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Luiza Macedo Ferreira
comprometia	com	as	mudanças	de	rotina	necessárias	para	conseguir	autonomia
financeira	que	lhe	permitisse	morar	em	outro	lugar.
No	 início	 da	 terapia,	 Bianca	 havia	 acabado	 de	 começar	 um	 namoro	 com
Marcelo	 (nome	 fictício).	 A	 cliente	 o	 descrevia	 como	 uma	 pessoa	 muito
agradável,	querida	por	 todos.	Além	disso,	era	extrovertido	e	muito	 sociável.	A
cliente	 disse	 que	 ficou	 encantada	 com	 ele	 desde	 que	 o	 conheceu,	 pois	 ele	 era
diferente	 de	 seu	 ex-marido,	 Ricardo	 (nome	 fictício):	 cresceu	 na	 vida	 e
conquistou	 tudo	 com	 o	 próprio	 esforço,	 extremamente	 bem-sucedido	 na
profissão.	 Contudo,	 os	 dois	 estavam	 começando	 a	 enfrentar	 algumas
dificuldades	devido	ao	fato	de	que	o	namorado	demandava	muito	tempo	dela,	e
Bianca	priorizava	a	filha	e	tinha	dificuldade	de	se	posicionar	no	relacionamento
com	o	ex-marido.
Laura	(nome	fictício),	a	filha	de	Bianca,	tinha	7	anos.	A	cliente	a	descreveu
como	um	“miniadulto”,	uma	criança	muito	 inteligente,	esperta	e	comunicativa.
Relatou	 se	 preocupar	muito	 em	 passar	 para	 a	 filha	 a	 imagem	 de	 uma	mulher
séria.	 Ademais,	 ela	 se	 culpava	 por	 ter	 se	 separado	 do	 pai	 de	 Laura	 e	 tentava
evitar	que	a	filha	passasse	por	qualquer	tipo	de	frustração.	Muitas	vezes,	deixava
de	 sair	 com	 o	 namorado	 e	 as	 amigas	 para	 fazer	 atividades	 com	 a	 menina.	 A
própria	Bianca	se	caracterizou	como	uma	mãe	superprotetora.
A	 relação	 com	 o	 ex-marido	 era	 conflituosa.	Ao	mesmo	 tempo	 em	 que	 ele
fazia	inúmeras	propostas	para	que	os	dois	reatassem	o	relacionamento,	também
era	grosseiro	com	ela,	fazia	amea​ças	e	chantagens.	Em	diversas	circunstâncias,
colocava	a	 filha	contra	a	cliente,	ocasionando	 intrigas	entre	mãe	e	 filha,	o	que
deixava	 Bianca	 insegura.	 A	 cliente	 tinha	 receio	 de	 que	 Ricardo	 entrasse	 na
justiça	para	pedir	a	guarda	de	Laura	caso	ela	não	se	submetesse	às	chantagens
dele.
No	que	se	refere	às	suas	características	pessoais,	Bianca	relatou	excesso	de
timidez,	 dificuldade	de	 se	 abrir	 com	as	pessoas	 e	de	 construir	 vínculos	de
intimidade.	 Sempre	 teve	 poucos	 amigos.	 Seu	 círculo	 social	 era	 restrito.	 Em
geral,	 desenvolvia	 vínculo	 de	 amizade	 com	 uma	 única	 amiga	 e	 acabava	 se
tornando	dependente	da	relação.	Além	disso,	costumava	evitar	situações	sociais,
especialmente	as	novas,	diferentes	daquelas	a	que	se	expunha	cotidianamente.	A
cliente	 relatou	 que	 gostaria	 muito	 de	 ter	 mais	 amigos	 e	 de	 ser	 mais
natural/espontânea	 com	 as	 pessoas.	 Sentia	 que,	 como	 era	 muito	 fechada,	 os
outros	também	não	se	abriam	muito	com	ela,	de	modo	que	grande	parte	de	seus
relacionamentos	eram	rasos/superficiais.
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A	 partir	 dos	 relatos	 da	 cliente,	 nota-se	 que	 seu	 comportamento	 era
excessivamente	controlado	por	regras.	As	verbalizações	de	Bianca	nas	sessões
eram	marcadas	 por	 frases	 prontas	 e	 recorrentes	 sobre	 como	 uma	 pessoa	 deve
ser/comportar-se.	Por	exemplo,	frequentemente	ela	repetia	os	passos	que	seguia
para	 ser	 considerada	 uma	 boa	 mãe.	 Disse	 que	 havia	 muita	 coisa	 que	 só	 ela
mesma	sabia	fazer	para	a	filha	e	que	não	confiava	em	mais	ninguém	para	realizar
essas	 atividades.	 Muitas	 vezes,	 deixava	 de	 sair	 com	 as	 amigas	 ou	 com	 o
namorado	para	ficar	com	a	filha.	Relatou	medo	de	ser	julgada	uma	mãe	ruim	ou
negligente.	Bianca	era	admirada	por	ser	uma	mãe	extremamente	cuidadosa.
Ainda	 em	 relação	 à	 dificuldade	 de	 fazer	 coisas	 diferentes,	 a	 cliente
recorrentemente	afirmava	apresentar	dificuldade	de	aceitar	o	fim	do	casamento	e
o	 desabamento	 do	 ideal	 de	 família,	 que	 se	 foi	 com	 a	 separação.	 Apesar	 de
reconhecer	 que	 estava	 extremamente	 infeliz	 nos	 últimos	 anos	 do	 casamento,
disse	 que	 não	 se	 conformava	 de	 ter	 tirado	 da	 filha	 a	 possibilidade	 de	 ter	 uma
família	 completa,	 nos	 moldes	 tradicionais.	 Outra	 queixa	 da	 cliente	 era	 a
dificuldade	de	mudar,	de	fazer	coisas	diferentes.	Em	relação	a	essa	característica,
Bianca	 mencionou	 que,	 quando	 alguém	 a	 chamava	 para	 sair	 ou	 fazer	 algo
diferente,	ela	muitas	vezes	ficava	nervosa	e	 inventava	desculpas	para	não	ir	ou
para	sair	mais	cedo	da	situação.
Na	terapia,	também	mereceu	atenção	o	relato	da	cliente	de	que	apresentava
insegurança	e	excessiva	preocupação	com	o	que	os	outros	pensavam	sobre
ela.	Segundo	Bianca,	às	vezes	ela	deixava	de	ser	quem	realmente	era	por	conta
do	 que	 as	 pessoas	 poderiam	 pensar.	 Acrescentou	 que	 era	 frequente	 ficar
remoendo	ideias	como	“O	que	vão	pensar	de	mim?”,	“E	da	minha	família,	que	é
muito	 simples?”,	 “O	 que	 as	 pessoas	 vão	 achar	 se	 eu	 usar	 essa	 roupa?”,	 entreoutros	 exemplos.	 Relacionam-se	 a	 esses	 aspectos	 características	 denominadas
pela	 cliente	 de	 autoestima	 baixa	 e	 perfeccionismo.	 Bianca	 afirmou	 que
acreditava	que	as	pessoas	a	consideravam	bonita,	mas	que	isso	acontecia	porque
não	a	conheciam	de	verdade.	Sempre	descrevia	que	as	outras	pessoas	eram	mais
bonitas,	arrumadas	e	elegantes	do	que	ela.	Além	disso,	avaliava	os	trabalhos	rea​-
lizados	 pelos	 outros	 como	melhores,	mais	 bem	 feitos	 e	mais	 criativos.	 Nunca
considerava	que	o	que	fazia	estava	suficientemente	bom.	Afirmou	ainda	que	não
conseguia	entender	o	que	levaria	alguém	a	gostar	realmente	dela.
Ademais,	 nos	 relatos	 da	 cliente,	 eram	 frequentes	 descrições	 de
comportamentos	 que	 sugeriam	 dependência	 afetiva.	 Segundo	 ela,	 era	 muito
aversivo	estar	 solteira.	Diante	de	conflitos	 com	o	namorado,	 ela	 afirmava	que,
caso	 o	 relacionamento	 dos	 dois	 não	 desse	 certo,	 acabaria	 reatando	 com	 o	 ex-
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marido.	Cabe	também	comentar	que	eram	frequentes	comportamentos	dela	que
indicavam	disputa	pelo	amor	da	filha	com	o	ex-marido.	De	acordo	com	o	relato
da	 cliente,	 Bianca	 e	 sua	 filha	 eram	 extremamente	 apegadas,	 ambas	 tinham
dificuldade	de	passar	algum	tempo	separadas.
Além	disso,	Bianca	apresentava	uma	grande	preocupação	com	a	aparência
física.	No	início	do	processo	terapêutico,	fazia	cerca	de	três	anos	que	ela	usava
recorrentemente	 medicamentos	 para	 emagrecer.	 Quando	 não	 tomava	 esses
remédios,	 frequentemente	 comia	 doces	 e	 alimentos	 gordurosos	 e,	 logo	 em
seguida,	provocava	vômito.	É	relevante	ressaltar	que	a	cliente	afirmou	que	não
sabia	se	gostaria	de	uma	intervenção	sobre	esses	comportamentos,	uma	vez	que
havia	um	histórico	de	sofrimento	durante	a	infância/adolescência	relacionado	ao
excesso	 de	 peso,	 já	 que	 ela	 era	 alvo	 de	 críticas	 e	 brincadeiras	 de	 familiares	 e
colegas	da	escola.
Por	 fim,	 outra	 característica	 destacada	 pela	 cliente	 era	 a
passividade/inassertividade.	 Ela	 relatava	 grande	 dificuldade	 para	 expressar
sentimentos,	 opiniões	 e	 defender	 seus	 pontos	 de	 vista.	 Frequentemente,
submetia-se	 às	 decisões	 dos	 outros,	 evitava	 dizer	 “não”	 e	 se	 esquivava	 de
qualquer	 tipo	 de	 conflito.	 Relatou	 que	 foi	 submissa	 em	 todos	 os	 seus
relacionamentos,	 principalmente	 os	 amorosos.	 Contudo,	 esse	 padrão	 passivo
também	 ocorria	 nas	 amizades	 e	 na	 área	 profissional.	 Por	 exemplo,	 Bianca
reclamava	por	ter	de	morar	na	casa	dos	pais	e	se	queixava	de	que	seu	salário	não
era	suficiente	para	ter	a	própria	casa,	entretanto,	quando	os	pais	dos	seus	alunos
a	 procuravam	 solicitando	 aulas	 particulares	 para	 os	 filhos,	 a	 cliente	 recusava,
argumentando	 que	 não	 tinha	 com	quem	deixar	 a	 filha	 (ainda	 que	 seus	 pais	 se
disponibilizassem	para	ajudá-la).	Outra	queixa	era	de	que	o	ex-marido	não	 lhe
ajudava	em	nada	(e	ela	também	não	lhe	solicitava	qualquer	participação	dele	nos
cuidados	da	filha).
Controle	instrucional1
Este	tópico	envolve	uma	análise	de	como	está	a	balança	entre	comportamentos
modelados	diretamente	pelas	contingências	e	os	governados	por	regras.	Algumas
questões	relevantes	para	a	realização	da	análise	relativa	ao	controle	instrucional
são:
a.	 Quais	são	as	principais	regras	e/ou	autorregras	seguidas	pelo	cliente?	Como
ele	formulou	ou	aprendeu	essas	regras?	Quem	emite	as	regras	que	o	cliente
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Luiza Macedo Ferreira
costuma	seguir?
b.	 Há	sinais	de	insensibilidade	do	comportamento	às	contingências	em	vigor?
História	de	vida
Descrição	das	contingências	de	reforçamento	passadas,	que	marcaram	a	história
de	 vida	 do	 cliente,	 especialmente	 aquelas	 relacionadas	 às	 queixas.	 Diferentes
contextos	 da	 vida	 do	 cliente	 devem	 ser	 investigados	 para	 que	 se	 obtenha	uma
formulação	mais	rica	e	completa.
Histórico	familiar
Algumas	 questões	 que	 podem	 contribuir	 para	 a	 identificação	 de	 contingências
históricas	significativas	no	que	se	refere	ao	histórico	familiar	são:
a.	 Quais	 acontecimentos	 históricos	 relacionados	 à	 família	 foram	 mais
marcantes	para	o	cliente?
b.	 Quais	repertórios	foram	selecionados	a	partir	desses	acontecimentos?
c.	 Quais	 mudanças	 familiares	 aconteceram	 ao	 longo	 do	 desenvolvimento	 do
cliente	(p.	ex.,	separação	ou	união	dos	pais,	nascimento	de	irmãos,	mudança
de	 cidade,	 adoecimento/falecimento	 de	 um	 ente	 querido,	 convivência	 com
padrasto/madrasta,	entre	outras	possibilidades)?
d.	 Quem	eram	as	pessoas	mais	 significativas	para	o	cliente	na	 infância	 (pais,
tios,	 avós,	 irmãos,	 primos,	 etc.)?	 Quais	 eram	 as	 principais	 características
dessas	pessoas?	Como	era	o	relacionamento	delas	com	o	cliente?
Caso	clínico
Bianca	era	a	filha	do	meio	de	três	irmãos.	O	irmão	mais	velho	era	casado	e	tinha
uma	filha.	O	mais	novo,	por	sua	vez,	não	estudava	nem	trabalhava,	era	usuário
de	drogas	ilícitas.	De	acordo	com	o	relato	da	cliente,	o	caçula	era	o	queridinho
dos	pais,	que	davam	tudo	o	que	ele	queria.	Bianca	sempre	estudou	e	 trabalhou
muito,	 desde	 a	 adolescência.	 Ela	 afirmou	 que	 os	 dois	 irmãos	 deram	 muito
trabalho	para	os	pais.	Como	a	cliente	sempre	fez	“tudo	certinho”,	acabou	sendo
deixada	 de	 lado.	 De	 acordo	 com	 ela,	 os	 pais	 não	 são	 tão	 carinhosos	 com	 ela
quanto	com	seus	irmãos,	bem	como	ela	não	é	muito	carinhosa	com	os	pais.
Bianca	relatou	que	sempre	gostou	muito	de	comer,	principalmente	alimentos
calóricos.	Aos	 8	 anos,	 viajou	 para	 a	 casa	 da	 avó	 para	 passar	 as	 férias.	 Estava
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Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
muito	chateada	com	a	mãe,	que	havia	mandado	uma	boneca	Barbie	para	a	prima
dela,	 sendo	 que	Bianca	 sempre	 pedia	 uma	 boneca	 dessas,	mas	 nunca	 ganhou,
pois	os	pais	alegavam	não	ter	dinheiro	para	comprá-la.	Segundo	a	cliente,	era	um
sonho	simples,	mas	que	nunca	se	realizou.	A	frustração	por	não	ganhar	dos	pais
uma	Barbie	como	a	da	prima	a	deixou	extremamente	ansiosa	e	 triste	durante	a
viagem,	o	que	ela	considera	ter	contribuído	para	que	acabasse	“descontando”	na
comida.	 Durante	 a	 viagem,	 os	 encontros	 sociais	 com	 os	 familiares	 sempre
envolviam	 refeições.	 Além	 disso,	 a	 avó	 comprava	 guloseimas,	 chocolates	 e
balinhas	para	agradá-la.	Com	 tudo	 isso,	 a	cliente	engordou	10	kg	em	um	mês.
Quando	 voltou	 das	 férias,	 a	 reação	 da	 família	 pelo	 aumento	 de	 peso	 foi
extremamente	aversiva	para	a	cliente.	Bianca	disse	que	nunca	se	esqueceria	da
expressão	de	seu	pai	ao	buscá-la	no	aeroporto.	Lembra-se	de	que	ele	comentou
com	 a	 mãe	 dela:	 “Como	 deixamos	 isso	 acontecer?”.	 As	 pessoas	 faziam
comentários,	 como	 “Nossa,	 como	 você	 engordou!”.	 Contudo,	 ela	 não	 teve
problemas	 para	 emagrecer	 dessa	 vez.	 Como	 cresceu	 bastante	 em	 um	 curto
período	e	praticava	esportes	na	escola,	voltou	ao	seu	peso	padrão	naturalmente.
Na	 adolescência,	Bianca	 passou	 novamente	 por	 fases	 em	que	 ganhou	peso
por	comer	compulsivamente.	Uma	delas	começou	depois	que	um	namorado	de
quem	ela	gostava	muito	foi	embora	da	cidade	devido	à	 transferência	do	pai	no
trabalho,	o	que	ocasionou	a	sua	separação.	Com	o	fim	do	namoro,	ela	voltou	a
ganhar	peso	rapidamente.	Os	irmãos	a	chamavam	de	“gorda”	e	lhe	deram	vários
apelidos.	 A	 mãe	 cobrava	 muito	 que	 ela	 emagrecesse.	 Dizia	 que	 não	 ia	 mais
comprar	roupas	para	ela	no	estado	em	que	estava.	Certa	vez,	a	cliente	tirou	uma
foto	 3x4.	Quando	 chegou	 à	 sua	 casa,	 havia	 um	 pôster	 com	 a	 foto	 exposta	 na
estante.	A	mãe	dela	 falou:	“Você	 já	viu	a	 sua	 foto?	O	 tamanho	que	você	está?
Não	vou	mais	comprar	roupas	para	você	enquanto	estiver	assim”.
Quando	 Bianca	 tinha	 17	 anos,	 o	 pai	 foi	 com	 ela	 ao	 endocrinologista,	 que
prescreveu	uma	dieta.	Quando	saíram	da	consulta,	 ele	a	 levou	à	 lanchonete	de
que	 ela	 mais	 gostava	 e	 deixou	 que	 ela	 comesse	 tudo	 que	 queria.	 Depois,
comprou	todos	os	alimentos	que	o	médico	havia	prescrito	para	a	dieta	e	separava
cada	refeição	para	a	filha	todos	os	dias.	Bianca	disse	que	foi	um	período	sofrido,
ela	 até	 chorava	 de	 vontadede	 comer	 outras	 coisas,	mas	 conseguiu	 emagrecer
mais	de	10	kg.	Além	da	dieta,	começou	a	praticar	atividades	físicas	na	academia
em	 excesso.	 Alguns	 instrutores	 chegaram	 a	 chamar	 a	 atenção	 da	 cliente,	 que
passava	um	longo	período	do	dia	malhando.	Devido	ao	engajamento	na	dieta	e
nas	atividades	físicas,	a	cliente	voltou	ao	seu	peso	padrão	novamente.
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No	que	se	refere	ao	casamento	dos	pais,	Bianca	definiu	o	relacionamento	dos
dois	como	superficial.	Segundo	ela,	o	pai	e	a	mãe	realizavam	poucas	atividades
juntos.	A	mãe	da	cliente	chegou	a	comentar	que	manteve	o	casamento	por	tantos
anos	devido	aos	filhos,	que	eram	prioridade	na	vida	dela.	O	pai	foi	descrito	pela
cliente	como	seu	melhor	amigo	e	a	pessoa	mais	próxima	a	ela	no	núcleo	familiar.
Também	havia	proximidade	na	relação	com	a	mãe,	mas	Bianca	a	descrevia	como
uma	pessoa	 extremamente	 crítica.	A	 relação	 com	os	 irmãos	 era	definida	 como
tranquila,	mas	superficial.
Histórico	acadêmico-profissional
Questões	que	podem	contribuir	para	a	 identificação	de	contingências	históricas
no	que	se	refere	ao	histórico	acadêmico	e/ou	profissional	são:
a.	 Quais	foram	os	acontecimentos	históricos	relacionados	mais	relevantes	para
o	cliente	no	âmbito	acadêmico/profissional?
b.	 Como	foi	o	histórico	escolar?	Predominaram	sucessos	ou	insucessos?	Como
as	pessoas	 rea​giam	ao	bom/mau	desempenho	escolar	do	cliente?	O	que	os
professores	 costumavam	 falar	 sobre	 ele?	 Quais	 eram	 suas	 habilidades	 no
contexto	escolar?	Quais	eram	suas	dificuldades?
c.	 Como	 foram	 feitas	 as	 escolhas	 profissionais?	 Quais	 foram	 as	 fontes	 de
influência	dessas	escolhas?
Caso	clínico
Bianca	 graduou-se	 em	 História	 e	 fez	 pós-graduação	 na	 mesma	 área.	 Relatou
sempre	ter	sido	uma	boa	aluna,	com	desempenho	acima	da	média	dos	colegas	da
escola.	Desde	o	fim	do	casamento,	voltou	a	trabalhar	como	professora	de	ensino
médio	em	uma	escola	particular.	Dizia	que	nasceu	para	ser	professora	e	que	se
sentia	 realizada	 na	 profissão.	 Sempre	 gostou	 muito	 de	 estudar	 e	 relatava
interesse	 de	 continuar	 se	 especializando	 e	 investindo	 no	 aprimoramento
profissional.	No	trabalho,	sua	forma	de	ensinar,	os	recursos	que	desenvolvia	e	a
maneira	 como	 lidava	 com	os	 estudantes	 eram	 extremamente	 valorizados	 pelos
chefes,	 e	 ela	 assumia	 posição	 de	 destaque	 e	 liderança	 entre	 os	 colegas,	 que
recorriam	 a	 ela	 sempre	 que	 precisavam	 de	 ajuda	 ou	 ideias	 novas	 para	 as
aulas/atividades	escolares.
Os	 pais	 da	 cliente	 valorizavam	 o	 estudo	 e	 destacavam	 para	 a	 filha	 a
importância	 de	 investir	 na	 vida	 profissional	 e	 se	 tornar	 independente
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Luiza Macedo Ferreira
financeiramente.	 Ambos	 trabalharam	 fora	 de	 casa	 e	 serviram	 de	 modelo
profissional	 para	 Bianca	 por	 seu	 comprometimento	 com	 as	 atividades	 de
trabalho.
Histórico	social	e	afetivo
Questões	que	podem	favorecer	a	descrição	de	contingências	históricas	no	que	se
refere	ao	histórico	social	e	afetivo	são:
a.	 Quais	 foram	 os	 acontecimentos	 históricos	 envolvendo	 relacionamentos
sociais	e/ou	afetivos	mais	significativos	para	o	cliente?
b.	 Quais	repertórios	o	cliente	apresentava	nos	contextos	social/afetivo?
c.	 Quem	 eram	 as	 pessoas	 com	 quem	 o	 cliente	 convivia	 em	 situações
sociais/afetivas?	 Quem	 eram	 seus	 amigos/namorados?	 Quais	 eram	 as
principais	 características	 dessas	 pessoas?	 Qual	 era	 a	 qualidade	 dessas
relações?	O	que	o	cliente	costumava	fazer	quando	estava	com	eles?
d.	 Houve	 situações	 de	 decepção	 nas	 interações	 sociais	 ou	 amorosas?	 Quem
foram	as	pessoas	que	o	decepcionaram?
Caso	clínico
Um	 dos	 principais	 motivos	 que	 levaram	 Bianca	 à	 terapia	 foi	 uma	 separação
conjugal	mal	resolvida.	Em	2003,	a	cliente	engravidou	do	namorado	quando	os
dois	tinham	dois	meses	de	namoro.	Não	sabia	se	queria	realmente	se	casar	ou	se
tinha	medo	do	preconceito	que	sofreria	por	ser	mãe	solteira.	Assim,	embora	só
tenham	 se	 casado	 oficialmente	 quando	 estavam	 juntos	 há	 três	 anos,	 ela	 e	 o
namorado	foram	morar	juntos	após	poucos	meses	de	namoro.
Havia	uma	diferença	 social	 entre	 os	 dois,	 o	 que	 incomodava	 a	 cliente.	Ele
era,	nas	palavras	dela,	o	típico	“filhinho	de	papai”:	vinha	de	família	rica,	morava
em	um	bairro	nobre,	trabalhava	na	empresa	dos	pais,	e	seus	gastos	com	saídas,
compras	 e	 alimentação	 em	 restaurantes	 de	 luxo	 eram	 pagos	 com	 o	 cartão	 de
crédito	 deles.	 Já	 a	 família	 de	 Bianca	 era	 mais	 simples,	 morava	 em	 uma	 casa
pequena	e	pagava	com	dificuldade	as	contas	do	mês.	Assim,	a	cliente	disse	que
se	sentia	inferior	à	família	do	ex-marido.
Após	 o	 casamento,	 o	marido	 não	 quis	mais	 que	Bianca	 trabalhasse,	 sob	 o
argumento	de	que	ela	deveria	se	dedicar	integralmente	à	família.	A	contragosto,
a	 cliente	 deixou	 o	 trabalho.	 Segundo	 ela,	 isso	 contribuiu	 para	 que	 se	 tornasse
uma	mãe	“um	pouco	superprotetora”,	pois	os	cuidados	com	a	filha	se	tornaram	o
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Luiza Macedo Ferreira
único	 foco	de	 sua	vida.	De	acordo	com	o	 relato	de	Bianca,	o	marido	 ficou	no
controle	da	relação,	pois	ela	dependia	dele,	inclusive	financeiramente.	Ademais,
Bianca	afirmou	que	nunca	soube	 fazer	as	coisas	de	casa.	O	marido	 reclamava,
dizia	que	ela	tinha	de	dar	conta	das	tarefas	domésticas	e	dos	cuidados	da	filha.	A
cliente	 disse	 que	 sempre	 foi	 submissa	 ao	marido,	 desde	 o	 início	 até	 o	 fim	 do
relacionamento.	 Bianca	 e	 ele	 viviam	 um	 para	 o	 outro.	 Só	 saíam	 juntos	 e	 não
tinham	amigos.	Ele	tinha	muito	ciúme	da	cliente.
Bianca	 relatou	 que	 o	 grande	 problema	 de	 seu	 casamento	 foi	 que	 ela	 e	 o
marido	 se	 conheciam	muito	 pouco	 quando	 começaram	 a	morar	 juntos.	Algum
tempo	depois	que	se	mudaram	para	o	apartamento	deles,	ela	descobriu	que	ele
consumia	drogas	 ilícitas	 dentro	de	 casa.	 Isso	 a	 incomodava	muito.	Ela	 tentava
proteger	 a	 filha	 da	 situação,	 ficando	 sempre	 com	 ela	 no	 quarto,	 enquanto	 o
marido	fumava	maconha,	com	a	irmã	dele,	na	sala.	Quando	fumava	ou	bebia,	ele
ficava	mais	agressivo.	A	cliente	pressionava	o	marido	para	que	parasse	de	fumar,
e	ele	ameaçava	se	separar	dela.	Bianca	tinha	vergonha	das	coisas	que	o	marido
fazia	e	se	afastou	dos	amigos	e	da	família.	Com	isso,	isolou-se	das	amigas	e	até
da	própria	família.	Escondia	de	todos	o	que	acontecia	com	ela.
Durante	o	período	em	que	esteve	casada,	Bianca	voltou	a	engordar.	Como	foi
gordinha	 na	 adolescência,	 no	 início	 da	 fase	 adulta	 tinha	 de	 se	 esforçar	 para
manter	 o	 peso.	 Sempre	 foi	 uma	 pessoa	 muito	 ativa:	 praticava	 esportes,
exercitava-se	na	academia,	 trabalhava	e	estudava.	Depois	do	casamento,	com	a
exigência	 do	 marido	 para	 que	 deixasse	 de	 trabalhar,	 ficava	 grande	 parte	 do
tempo	 ociosa	 em	 casa	 e	 ganhou	 peso.	 Bianca	 queria	 voltar	 a	 trabalhar,	 ter
contato	 com	 pessoas,	 conversar,	 mas	 tinha	 receio	 da	 forma	 como	 o	 marido
reagiria	se	ela	o	contrariasse.	Segundo	seu	relato,	a	família	dele	era	machista	e
também	 não	 apoiava	 a	 ideia	 de	 que	 a	 cliente	 trabalhasse.	 A	 mãe	 dele	 não
trabalhava	e	defendia	que	a	mulher	deveria	se	dedicar	exclusivamente	à	família.
Apesar	de	não	concordar,	a	cliente	aceitava	as	imposições	do	marido	e	da	família
dele.	Sempre	evitou	entrar	em	conflito	com	as	pessoas.	Bianca	contou	ainda	que
as	 relações	 sexuais	com	o	marido	eram	aversivas	para	ela,	pois	ele	 impunha	o
momento	e	a	posição,	sem	respeitar	o	que	era	importante	para	ela.	Ela	fazia	de
tudo	para	evitar	contato	sexual	com	ele,	o	que	gerava	frequentes	conflitos	entre
os	dois.
Em	2007,	depois	de	muita	discussão,	Bianca	voltou	a	trabalhar	na	escola	em
que	 a	 filha	 estudava.	 Com	 o	 retorno	 ao	 trabalho,	 começou	 a	 reparar	 que	 as
pessoas	ainda	se	interessavam	por	ela,	que	era	capaz	de	fazer	novas	amizades	e
que	 os	 chefes	 valorizavam	 e	 elogiavam	 seu	 trabalho.	 A	 volta	 da	 cliente	 ao
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trabalho	 levou	 o	 marido	 a	 ter	 cada	 vez	 mais	 ciúmes.	 Ele	 controlava	 as
mensagens,	os	e-mails	e	as	ligações	dela.
Nesse	mesmoano,	no	dia	do	aniversário	do	marido,	ele	bebeu	em	excesso	no
almoço	 comemorativo	 em	 família.	 Quando	 voltaram	 para	 casa,	 ele	 ficou
extremamente	 agressivo,	 xingou	 Bianca	 na	 frente	 dos	 vizinhos,	 começou	 a
quebrar	objetos	em	casa	e	ameaçou	matá-la,	enquanto	batia	na	cliente	e	jogava
objetos	 nela.	 Desesperada,	 ela	 se	 trancou	 com	 a	 filha	 no	 quarto.	 O	 marido
arrombou	a	porta.	A	cliente	não	sabia	o	que	 fazer,	 tinha	 receio	do	que	poderia
acontecer	ao	marido	caso	ela	chamasse	a	polícia.	Ela,	 então,	 trancou-se	com	a
filha	no	banheiro	e	ligou	para	o	pai	dele,	dizendo	que	o	marido	estava	quebrando
toda	 a	 casa	 e	 que	 iria	matá-la.	A	 família	 dele	 foi	 até	 lá	 e	 o	 levou	 para	 a	 casa
deles.	No	 outro	 dia,	 a	 cliente	 foi	 conversar	 com	o	marido,	 disse	 que	 esperava
que,	 no	 mínimo,	 ele	 se	 desculpasse.	 Ao	 contrário,	 ele	 disse	 que	 jamais	 a
perdoaria	por	 ter	 recorrido	 ao	pai	 dele,	 que	 estava	muito	doente,	 para	 resolver
uma	 briga	 dos	 dois.	 Ela	 argumentou	 que	 fez	 o	 que	 achou	melhor	 na	 hora:	 ou
ligava	para	a	família	dele	ou	teria	de	chamar	a	polícia.	Como	o	relacionamento
com	o	marido	depois	dessa	briga	se	tornou	cada	dia	mais	difícil,	Bianca	decidiu
se	 separar	 e	 voltou	 para	 a	 casa	 dos	 pais	 em	 2008.	 Ela	 disse	 que	 o	 dia	 da
separação	foi	o	mais	triste	de	sua	vida.
Devido	 aos	 episódios	 de	 violência	 que	Bianca	 viveu,	 seus	 pais	 apoiaram	a
separação	 e	 a	 acolheram	 em	 sua	 casa.	 Entretanto,	 a	 cliente	 descrevia	 a
convivência	 com	 a	 família	 como	 difícil	 para	 ela,	 uma	 vez	 que	 os	 pais	 eram
extremamente	 exigentes	 em	 relação	 às	 atribuições	 dela	 em	 casa,	 enquanto	 o
irmão	caçula	passava	o	dia	 inteiro	ocioso.	Ademais,	ela	não	concordava	com	a
maneira	 como	 os	 pais	 lidavam	 com	 a	 dependência	 química	 do	 irmão,
disponibilizando	 sempre	 o	 dinheiro	 que	 ele	 pedia	 sem	 cobrar	 qualquer
comprometimento	dele	com	a	manutenção	da	casa.	Depois	da	separação,	Bianca
manteve	o	hábito	de	sair	com	o	ex-marido	e	a	filha.	Na	visão	da	cliente,	ela	e	o
ex-marido	 não	moravam	mais	 juntos	 havia	 três	 anos,	mas	 nunca	 se	 separaram
completamente.
No	que	se	 refere	às	amizades,	o	círculo	social	da	cliente	era	extremamente
restrito.	 Ela	 considerava	 que	 tinha	 duas	 amigas	 verdadeiras,	 com	 quem
compartilhava	 grande	 parte	 do	 que	 lhe	 acontecia.	 Bianca	 relatou	 que	 gostaria
muito	de	ter	mais	amizades.	Entretanto,	investia	pouco	em	situações	sociais	que
favorecessem	o	estabelecimento	de	vínculos	com	pessoas	novas.
Histórico	médico-psicológico
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Em	relação	ao	histórico	médico-psicológico,	é	relevante	descrever:
a.	 Como	 foram	as	 experiências	do	 cliente	 com	 tratamentos	psicológicos	 e/ou
médicos	anteriores?
b.	 Como	eram	as	condições	de	saúde	do	cliente	ao	longo	da	vida?
c.	 Histórico	em	relação	ao	uso	de	medicamentos.
Caso	clínico
Em	maio	de	2008,	depois	de	ter	voltado	a	ganhar	peso	após	o	casamento,	Bianca
foi	 a	 uma	 endocrinologista,	 que	 a	 prescreveu	 remédios	 (anfetaminas)	 para
emagrecer.	 Em	 decorrência	 da	 administração	 desses	 remédios,	 ela	 começou	 a
apresentar	 dificuldade	 para	 dormir	 e	 a	 sentir	 inquietação	 nas	 pernas,	 mas
continuou	 tomando	 a	 medicação.	 A	 cliente	 relatou	 sentir-se	 dependente	 da
medicação	para	emagrecer.	Disse	que	já	toma	o	remédio	há	tanto	tempo	que	já
não	percebe	tanto	o	efeito	sobre	o	apetite,	mas	tem	muita	energia	e	disposição.
Quando	 não	 toma	 o	 remédio,	 come	 maior	 quantidade	 de	 doces	 e	 alimentos
calóricos,	bem	como	provoca	vômito	com	mais	frequência.	Quando	começou	o
processo	 terapêutico,	 ela	 ia	 à	 endocrinologista	 a	 cada	 dois	meses,	 apenas	 para
renovar	os	pedidos	da	medicação.
Formulação	comportamental
Após	a	descrição	dos	repertórios	e	das	contingências	atuais	e	históricas,	é	hora
de	 começar	 a	 integrar	 os	 dados	 coletados	 por	 meio	 da	 realização	 de	 análises
funcionais.	Dessa	maneira,	o	 terapeuta	estabelecerá	as	prováveis	 relações	entre
as	variáveis	ambientais	históricas	e	atuais	e	os	repertórios	do	cliente	(presentes	e
ausentes).	Para	facilitar	a	visualização	das	relações	funcionais	entre	as	respostas
e	 suas	variáveis	de	controle,	 é	possível	 a	utilização	de	quadros	e	 esquemas.	O
terapeuta	 deve	 ser	 criativo	 para	 facilitar	 a	 compreensão	 das	 relações	 entre	 os
eventos	 analisados,	 uma	 vez	 que,	 como	 destacado	 anteriormente,	 não	 há	 um
padrão	 restrito	 sobre	 como	 são	 realizadas	 as	 análises	 funcionais.	 O	 modelo
básico	 para	 a	 realização	 de	 análises	 moleculares	 deve	 incluir	 antecedentes,
respostas	 e	 consequências,	 conforme	 apresentado	 no	 Quadro	 2.2.	 Ademais,
podem	 ser	 incluídos	 efeitos	 emocionais	 e/ou	 de	 frequência,	 uma	 diferenciação
entre	 consequências	 em	 curto,	 médio	 e	 longo	 prazos,	 um	 destaque	 para	 as
consequências	que	provavelmente	estão	exercendo	mais	controle	da	resposta	em
análise,	 entre	 outros	 recursos.	 As	 análises	 também	 podem	 ser	 separadas	 por
78
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
classes	de	comportamentos,	como	assertivos-passivos-agressivos,	desejáveis	ou
indesejáveis,	nos	contextos	familiar-profissional-social.	Entretanto,	as	categorias
não	são	fixas,	devendo	ser	ajustadas	a	cada	caso.
Quadro	2.2	Modelo	básico	para	a	realização	de	análises	funcionais	moleculares
Antecedentes Respostas Consequências Efeitos
Note	 que,	 na	 parte	 das	 análises	 moleculares,	 trata-se	 de	 respostas
pontuais/específicas	 do	 cliente.	 Ainda	 assim,	 é	 importante	 lembrar	 que	 uma
mesma	 resposta	 pode	 ter	 mais	 de	 um	 antecedente	 e/ou	 mais	 de	 uma
consequência.	Para	mais	 informações	a	respeito	do	passo	a	passo	da	realização
de	análises	funcionais,	ver	o	Capítulo	1	deste	livro	(Nery	&	Fonseca).
Caso	clínico
A	partir	 das	 contingências	 e	 dos	 repertórios	 históricos	 e	 atuais	 descritos	 nessa
formulação,	 foi	 possível	 compor	 as	 seguintes	 análises	 funcionais	 moleculares
relativas	ao	caso	de	Bianca:
Análises	funcionais	moleculares	de	comportamentos	indesejáveis2
Quadro	2.3	Análise	funcional	do	comportamento	de	Bianca	de	assumir	a	responsabilidade	pela	solução	das
questões	da	filha	e	de	abrir	mão	de	outras	atividades	importantes	para	ela
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Demandas	relacionadas
aos	cuidados	da	filha
Demandas	pessoais	e	de
trabalho	(em	conflito	com
as	atividades	da	filha)
Assumir	responsabilidade
pela	resolução	de	todas
as	questões	relacionadas
à	filha
Desmarcar	compromissos
de	trabalho
Desmarcar	atividades	de
lazer
(Alta	frequência)
É	considerada	por	todos	uma	boa	mãe	–	R+5
Todos	os	problemas	da	filha	são	resolvidos	–	R-
Perde	oportunidades	de	lazer	–	P-
Sobrecarga	–	P+
Consequências	em	longo	prazo
Desgaste	do	relacionamento	amoroso	–	P-
Ausência	de	vínculos	significativos	com	outras
pessoas	–	P-
R-,	reforçamento	negativo;	R+,	reforçamento	positivo;	P-,	punição	negativa;	P+,	punição	positiva.
79
Luiza Macedo Ferreira
Quadro	2.4	Análise	funcional	do	comportamento	de	Bianca	de	tomar	anfetaminas	e	provocar	vômito
(comportamentos	compatíveis	com	um	quadro	de	bulimia	nervosa)
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Ganho	de	peso
Privação	social
Críticas	e	cobranças	da
mãe
Pouco	tempo	livre	para
cuidar	de	si
Toma	remédios
(perigosos!)	para
emagrecer
Provoca	vômito
(Alta	frequência)
Evita	ganho	de	peso/perde	peso	–	R-
Recebe	elogios	–	R+
Evita	estimulação	aversiva	da	prática	de	atividades
físicas	–	R-
Acesso	a	alimentos	saborosos	–	R+
Críticas	do	namorado/marido	e	da	mãe	–	P+
Consequências	em	longo	prazo
Surgimento,	manutenção	e	agravamento	de
problemas	de	saúde	–	P+
R-,	reforçamento	negativo;	R+,	reforçamento	positivo;	P+,	punição	positiva.
Quadro	2.5	Análise	funcional	do	comportamento	passivo	de	Bianca
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Pedidos	e	solicitações
Situações	de	conflito
Passividade:
Sacrifica-se	para	atenderaos	pedidos
É	gentil	e	educada
Aceita	as	imposições	dos
outros,	mesmo	sem
concordar
(Alta	frequência)
Evita	conflitos	–	R-
É	considerada	uma	pessoa	boa	e	meiga	–	R+
Sobrecarga,	pessoas	se	aproveitam	dela	–	P+
Pouco	tempo	para	atividades	de	seu	interesse	–	P-
Consequências	em	longo	prazo
Manutenção	de	relações	“exploratórias”	–	P+
R-,	reforçamento	negativo;	R+,	reforçamento	positivo;	P-,	punição	negativa;	P+,	punição	positiva.
Quadro	2.6	Análise	funcional	de	comportamentos	queixosos	ou	controlados	por	regras
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Problemas	nos
relacionamentos
interpessoais:	conflitos,
cobranças,	críticas
Demandas	de	trabalho/
dificuldades	financeiras/
demandas	por	tomadas
de	decisão
Racionalizações
(intraverbais)/regras
prontas	(“Eu	tirei	da	minha
filha	o	sonho	da	família
completa”)
Comportamento	queixoso:
Relatar	conflitos,
dificuldades,
problemas
Relatar	insegurança,
confusão,	dúvidas
Relatar	contato	com
estímulos	aversivos
Relatar	somatizações
Atribuir
culpa/responsabilidade
Atenção/pena/compreensão	das	pessoas	–	R+
Esquiva	de	responsabilidade	na	manutenção	dos
problemas	–	R-
Consequências	em	longo	prazo
Manutenção	dos	problemas	–	P+
Pessoas	se	afastam/ausência	de	relações	de
intimidade	–	P-
80
aos	outros
(Alta	frequência)
R-,	reforçamento	negativo;	R+,	reforçamento	positivo;	P-,	punição	negativa;	P+,	punição	positiva.
Quadro	2.7	Análise	funcional	do	comportamento	de	Bianca	de	engajar-se	em	atividades	diferentes	daquelas
que	envolviam	os	cuidados	com	a	filha
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Convites	do	namorado
para	viajar
Convites	de	amigos	e
colegas	de	trabalho	para
sair
Propostas	de	trabalho
Problemas	de	saúde
Demandas	relativas	aos
cuidados	da	filha
Aceitar	convites	para	sair/
fazer	atividades	diferentes
Aceitar	novas	propostas
de	trabalho
Pedir	ajuda	nos	cuidados
da	filha/dividir
responsabilidades
Cuidar	da	saúde:
Alimentar-se	bem
Ir	a	médicos
adequados
Praticar	atividades
físicas
(Baixa	frequência)
Estimulação	aversiva/riscos	de	se	expor	a	situações
novas	e	desafiadoras	–	P+
Críticas	à	sua	postura	como	mãe	–	P+
Contato	com	novos	reforçadores	–	R+
Consequências	em	médio/longo	prazo
Formação	de	vínculos	de	intimidade	–	R+
Melhora	da	situação	financeira	/	desenvolvimento
profissional	–	R+
Melhora	da	saúde	–	R+
R+,	reforçamento	positivo;	P+,	punição	positiva.
Análises	funcionais	moleculares	de	comportamentos	desejáveis3
Quadro	2.8	Análise	funcional	do	comportamento	assertivo	de	Bianca
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Pedidos	e	solicitações
Situações	de	conflito
Assertividade:
Argumentar
Expressar	opiniões	e
sentimentos
Recusar	pedidos	de	forma
direta
(Baixa	frequência)
Críticas	e	chateação	das	pessoas	–	P+
Evita	sobrecarga	em	atividades	que	não	a	interessam
–	R-
Mais	tempo	para	se	engajar	em	atividades	que	a
interessam	–	R+
Consequências	em	longo	prazo
Melhora	da	qualidade	dos	relacionamentos/
respeito	das	pessoas	–	R+
R+,	reforçamento	positivo;	R-,	reforçamento	negativo;	P+,	punição	positiva.
Quadro	2.9	Análise	funcional	do	comportamento	de	Bianca	de	assumir	a	responsabilidade	pela	solução	das
questões	da	filha	e	de	abrir	mão	de	outras	atividades	importantes	para	ela
Antecedentes Respostas/	frequência Consequências	em	curto	prazo
Problemas	nos Buscar	soluções Vulnerabilização/Risco	de	fracassar	–	P+
81
relacionamentos
interpessoais:	conflitos,
cobranças,	críticas
Demandas	de	trabalho/
Dificuldades	financeiras/
Demandas	por	tomadas
de	decisão
Solicitar	ajuda
Fazer	pedidos	diretos
Envolver-se	com	novas
oportunidades	de	trabalho
Tomar	decisões
Expressar	sentimentos	e
necessidades	de	maneira
clara
(Baixa	frequência)
Risco	de	que	as	pessoas	recusem	seus	pedidos	–	P+
Contato	com	atividades	difíceis/desafiadoras	–	P+
Atenção/ajuda	das	pessoas	–	R+
Solução	dos	problemas	–	R-
Consequências	em	longo	prazo
Maior	autonomia	–	R+
Maior	independência	financeira	–	R+
Melhora	da	qualidade	relacionamentos	interpessoais	–
R+
R-,	reforçamento	negativo;	R+,	reforçamento	positivo;	P+,	punição	positiva.
Análises	funcionais	molares
Após	 a	 realização	das	 análises	moleculares,	 o	 terapeuta	 deve	 integrar	 aspectos
históricos	 e	 atuais	 na	 composição	 das	 análises	 molares,	 ou	 seja,	 análises	 de
padrões	comportamentais.	Novamente,	podem	ser	utilizados	quadros	e	esquemas
com	 o	 objetivo	 de	 facilitar	 a	 compreensão	 das	 relações	 funcionais.	 O	modelo
básico	 para	 a	 realização	 de	 análises	 molares	 deve	 incluir	 a	 identificação	 do
padrão	 comportamental,	 as	 respostas	 que	 caracterizam	 o	 padrão
(operacionalização),	a	história	de	aquisição,	os	contextos	atuais	mantenedores,	as
consequências	que	favorecem	a	manutenção	do	padrão	(no	modelo	descrito	por
Marçal	(2005)	“quando	o	comportamento	é	funcional”)	e	as	consequências	que
enfraquecem	 o	 padrão	 (“quando	 não	 é	 funcional”),	 conforme	 apresentado	 no
Quadro	2.10.
Quadro	2.10	Modelo	básico	para	a	realização	de	análises	funcionais	molares
Respostas	que
caracterizam
História	de
aquisição
Contextos	atuais
mantenedores
Consequências
que	fortalecem
Consequências
que	enfraquecem
Padrão	comportamental:
Caso	clínico
82
Luiza Macedo Ferreira
Observou-se,	 no	 repertório	 de	 Bianca,	 a	 presença	 de	 dois	 padrões
comportamentais	 que	 se	 destacavam,	 o	 Controle	 por	 Regras	 (Quadros	 2.11	 e
2.12)	e	o	Autoexigente/Perfeccionista	(Quadros	2.13	e	2.14).
Quadro	2.11	Análise	funcional	molar	do	padrão	de	controle	por	regras	de	Bianca	(primeira	parte)
Respostas	que	caracterizam	o
padrão
História	de	aquisição Contextos	atuais	mantenedores
Justifica	seus	comportamentos
com	base	em	regras	e	nas
orientações	de	outras	pessoas
Diversas	regras	prontas	sobre
como	deve	ser	uma	“boa	mãe”
e	a	“família	completa”
Relatos	frequentes	sobre	o	que
terceiros	consideram	que	ela
deve	fazer
Pergunta	frequentemente	às
pessoas	o	que	fazer
Pergunta	à	terapeuta	o	que
deve	fazer
Mãe:	modelo	de	mulher	que
se	sacrificou	pelos	filhos	e
pela	manutenção	da	família
Mãe	e	pai:	muitas	regras
sobre	família	e	o	papel	da
mulher
Família	crítica:	punição	para	o
não	seguimento	dos	valores
da	família	(p.	ex.,	pai	parou	de
falar	com	ela	durante	toda	a
gravidez	porque	“não	criou	a
filha	para	ser	‘mãe	solteira’”)
Ex-marido	controlador	e
machista
Regras	machistas	da	família
do	ex-marido,	com	funções
específicas	determinadas
para	o	homem	e	a	mulher
Trabalho	como	professora	de
crianças/adolescentes:	muitas
regras	sobre	como	devem	se
comportar	(certo	x	errado,
adequado	x	inadequado)	e
realizar	as	atividades
Convivência	diária	com	as
regras	dos	pais	desde	que
voltou	a	morar	com	eles
Namorado	muito	bem-
sucedido:	fonte	de	conselhos
e	regras
Quadro	2.12	Análise	funcional	molar	do	padrão	de	controle	por	regras	de	Bianca	(segunda	parte)
Consequências	que	fortalecem	o	padrão
(quando	é	funcional)
Consequências	que	enfraquecem	o	padrão	(quando	não
é	funcional)
Evita	responsabilidades	pelas	decisões
tomadas,	atribui	a	responsabilidade	a
terceiros
Esquiva-se	de	críticas	e	julgamentos	das
pessoas	pelas	consequências	negativas	de
suas	decisões
Acesso	a	reforçadores	e	economia	de
tempo	quando	a	regra	é	acurada
Cobranças	das	pessoas	quando	não	consegue	cumprir
as	regras	(o	que	lhe	gera,	como	efeitos,	sentimentos
de	frustração	e	culpa)
Dependência	em	relação	a	outras	pessoas
Seguimento	frequente	de	regras	e	instruções
inadequadas,	incompatíveis	com	seus	interesses
Falta	de	autonomia
Insensibilidade	às	contingências:	permanece	em
contato	com	contingências	aversivas	por	um	longo
período	e	perde	oportunidades	de	contato	com	novos
reforçadores
Quadro	2.13	Análise	funcional	molar	do	padrão	autoexigente/perfeccionista	de	Bianca	(primeira	parte)
Respostas	que	caracterizam	o
padrão
História	de	aquisição Contextos	atuais	mantenedores
Grande	preocupação	e Pais	mais	exigentes	com Convívio	diário	com	a	mãe
83
cuidado	com	a	aparência
física:	consome	anfetaminas,
provoca	vômito,	exigente	com
as	roupas,	pesquisa	sobre
cirurgiasplásticas
Grande	comprometimento	e
dedicação	com	as	atividades
de	trabalho
Resolve	problemas	dos
colegas	no	trabalho
Resolve	problemas	da	filha
Abre	mão	de	atividades
reforçadoras	para	cumprir
obrigações
Bianca	do	que	com	seus
irmãos	durante	a
infância/adolescência
Modelo:	mãe	muito
preocupada	com	a	opinião	dos
outros,	resolve	problemas	do
filho
Mãe:	exemplo	de	profissional
Família	crítica	e	punitiva
Alvo	de	chacotas	por	ter	sido
obesa	na
infância/adolescência
Competitividade	e
instabilidade	no	trabalho
(professores	demitidos	com
frequência	na	escola	em	que
ela	trabalhava)
Disputa	com	o	ex-marido	pela
guarda	da	filha	(o	que	a
deixava	insegura)
Muito	valorizada	pela
aparência	física	em	diferentes
contextos
Quadro	2.14	Análise	funcional	molar	do	padrão	autoexigente/perfeccionista	de	Bianca	(segunda	parte)
Consequências	que	fortalecem	o	padrão	(quando	é
funcional)
Consequências	que	enfraquecem	o	padrão
(quando	não	é	funcional)
Considerada	uma	excelente	mãe	por	todos
Modelo	de	pessoa	“boazinha”
Reconhecida	como	uma	excelente	profissional
Esquiva-se	de	críticas	e	julgamentos	a	respeito
de	sua	aparência	e	de	sua	postura	como	mãe	e
profissional
Atenção	das	pessoas	por	sua	beleza	e	elegância
Sobrecarga	de	atividades
Riscos	à	saúde
Perde	tempo/oportunidades	de	contato	com
reforçadores	pessoais	ao	resolver	problemas	dos
outros
Desgaste	do	relacionamento	amoroso
Pouco	tempo	para	lazer	e	cuidados	com	a	saúde
Padrão	comportamental:	Controle	por	Regras4
Padrão	comportamental:	Autoexigente/Perfeccionista
Análise	motivacional
A	análise	motivacional	inclui	uma	avaliação	do	equilíbrio	entre	as	consequências
que	 fortalecem	 e	 as	 que	 enfraquecem	o	 padrão,	 como	 é	 possível	 observar	 nos
Quadros	2.12	e	2.14.	Ademais,	o	terapeuta	deve	avaliar:
a.	 	 Existem	 operações	 motivadoras/estabelecedoras	 (p.	 ex.,	 privações,
saciações	e	estimulação	aversiva)	presentes?
b.	 Qual	é	o	custo	das	respostas	analisadas?
c.	 Quais	são	as	reais	condições	favoráveis	à	mudança?
d.	 Há	condições	desfavoráveis	ao	engajamento	e	progresso	na	terapia?	Quais?
Caso	clínico
84
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Os	 Quadros	 2.12	 e	 2.14	 mostram	 a	 relação	 entre	 as	 consequências	 que
fortalecem	versus	as	que	enfraquecem	os	padrões	comportamentais	de	controle
por	regras	e	de	autoexigência.	A	partir	da	análise	desses	dois	quadros,	observa-se
que	havia	 perdas	 importantes,	 bem	 como	 contato	 com	 estimulação	 aversiva,	 o
que	 contribuía	 para	 a	 mudança.	 Entretanto,	 havia	 também	 reforçadores
significativos	 mantendo	 os	 padrões	 e,	 além	 disso,	 o	 custo	 de	 respostas
alternativas	era	alto.
Relação	terapêutica
Nesta	parte,	o	terapeuta	deve	fazer	uma	análise	funcional	da	relação	terapêutica,
identificando	 a	 função	 de	 determinadas	 respostas	 do	 cliente	 e	 dele	mesmo	 em
relação	 ao	 cliente	 (como	 se	 sente	 na	 presença	 do	 cliente,	 como	 reage	 às	 suas
respostas,	como	lida	com	as	questões	trazidas).	Assim,	de	acordo	com	a	proposta
da	psicoterapia	analítica	funcional	(FAP),	de	Kohlenberg	e	Tsai	(1991/2001),	o
terapeuta	 deve	 identificar	 e	 consequenciar	 de	 forma	 adequada	 os
comportamentos	 clinicamente	 relevantes	 (comportamentos-problema,	 CRBs1,
comportamentos	 de	melhora	 observados	 na	 sessão,	CRBs2,	 e	 comportamentos
autodescritivos,	 CRBs3)	 apresentados	 pelo	 cliente	 no	 contexto	 terapêutico.
Destaca-se	 a	 importância	 de	 que	 o	 terapeuta	 se	 atente	 ao	 CRBs1,	 que
frequentemente	 acontecem	 nas	 primeiras	 sessões.	 Assim,	 faz-se	 relevante
observar	 como	 o	 cliente	 o	 cumprimenta,	 como	 é	 a	 sua	 postura	 ao	 longo	 das
sessões	 (p.	 ex.,	 se	 parece	mais	 à	 vontade	 ou	mais	 retraído;	 se	 é	mais	 tímido,
assertivo	ou	agressivo;	se	apresenta	comportamentos	de	controle	na	sessão).
Caso	clínico
CRBs1:	especialmente	no	início	da	terapia,	Bianca	apresentava,	no	contexto	da
relação	 terapêutica,	 comportamentos	 característicos	 de	 suas	 dificuldades
cotidianas,	 como	 timidez,	 dificuldade	 de	 tomar	 iniciativa	 em	 relação	 aos
assuntos	que	seriam	abordados	nas	sessões,	dificuldade	de	fazer	pedidos	diretos
à	 terapeuta,	 perguntava	 à	 terapeuta	 sua	 opinião	 a	 respeito	 das	 decisões	 que
deveria	 tomar	 (na	 tentativa	de	 responsabilizar	a	 terapeuta	por	suas	escolhas)	e,
por	 vezes,	 perguntava	 o	 que	 a	 terapeuta	 iria	 pensar	 dela	 ao	 fazer	 certas
revelações	(demonstrando,	assim,	preocupação	com	o	que	a	terapeuta	pensaria	a
respeito	dela).
85
Luiza Macedo Ferreira
CRBs2:	ao	longo	do	processo	terapêutico,	o	vínculo	entre	a	terapeuta	e	a	cliente
foi	 fortalecido,	 e	 Bianca	 começou	 a	 apresentar	 alguns	 progressos:	 passou	 a
expressar	 sentimentos	 e	 opiniões	 com	mais	 frequência,	 solicitou	 diretamente	 à
terapeuta	 que	 mudasse	 seu	 horário	 quando	 começou	 a	 dar	 aulas	 particulares
como	 forma	de	 complementar	 sua	 renda,	 tomava	 a	 iniciativa	 de	 trazer	 para	 as
sessões	assuntos	que	considerava	relevantes	e,	às	vezes,	enviava	mensagens	para
a	 terapeuta	entre	as	 sessões,	com	comentários	e	 sugestões	de	aspectos	a	 serem
trabalhados,	 estabelecendo	assim,	pouco	a	pouco,	uma	 relação	de	 intimidade	e
afeto	com	a	terapeuta.
CRBs3:	 ao	 longo	 da	 terapia,	 o	 repertório	 da	 cliente	 de	 analisar	 seus
comportamentos	 em	 função	 das	 variáveis	 de	 controle	 foi	 sendo	 aprimorado.
Alguns	exemplos	de	CRBs3	são	descritos	a	seguir,	na	seção	de	resultados.
Objetivos	terapêuticos
Os	 objetivos	 terapêuticos	 devem	 ser	 embasados	 nas	 análises	 funcionais
realizadas	 (ver	 o	 capítulo	 de	 Quinta,	 neste	 livro).	 São	 estabelecidos	 pelo
terapeuta	ou	na	parceria	terapeuta-cliente	em	termos	dos	repertórios	que	o	cliente
deve	 aprender	 para	 lidar	 com	 as	 contingências	 em	 vigor	 em	 suas	 vidas	 de
maneira	mais	produtiva,	fortalecendo	as	possibilidades	de	acesso	a	reforçadores
positivos,	 reduzindo	 a	 produção	 de	 estimulação	 aversiva	 e	 enriquecendo	 os
recursos	para	 lidar	 com	problemas	 e	 frustrações.	São	os	 objetivos	 terapêuticos
que	norteiam	os	caminhos	que	o	processo	terapêutico	deverá	seguir,	orientando,
portanto,	 o	 planejamento/estabelecimento	 das	 intervenções	 terapêuticas.	 A
proposta	do	Questionário	Construcional	de	Goldiamond	(Gimenes,	Andronis	&
Laying,	 2005;	 Goldiamond,1974)	 destaca	 que	 os	 terapeutas	 devem	 sempre
priorizar	o	desenvolvimento	de	novos	repertórios,	em	vez	de	focar	na	redução	de
“comportamentos-problema”.	 Assim,	 para	 descrever	 os	 objetivos	 terapêuticos
em	suas	formulações	comportamentais,	o	terapeuta	deve	responder	basicamente
a	duas	questões:
Quais	 habilidades/repertórios	 comportamentais	 o	 cliente	 precisa	 adquirir?
Exemplos	de	repertórios	frequentemente	descritos	como	objetivos	terapêuticos
são:	 autoconhecimento,	 assertividade,	 habilidades	 sociais,	 autocontrole,
tolerância	à	frustração	e	sensibilidade	às	contingências.
	Quais	classes	comportamentais	devem	ser	enfraquecidas?
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Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Luiza Macedo Ferreira
Caso	clínico
Com	base	nas	análises	funcionais	moleculares	e	molares,	foram	estabelecidos	os
seguintes	objetivos	terapêuticos	para	o	processo	de	Bianca.
Mudança	de	regras.	A	partir	das	análises	funcionais,	nota-se	que	o	seguimento
de	 algumas	 regras	 poderia	 estar	 trazendo	 prejuízos	 (contato	 com	 estimulação
aversiva	ou	perda	de	oportunidade	de	reforçamento)	para	a	cliente,	como	no	caso
dos	seguintes	exemplos:
“A	felicidade	da	minha	filha	está	acima	de	tudo”;
“Não	posso	ser	feliz	sem	uma	família	completa	(eu,	minha	filha	e	o	pai	dela)”;
“Se	meu	ex-marido	colaborasse	mais,	minha	vida	seria	diferente”;	e
“Sempre	que	posso,	tento	ser	gentil.	É	importante	ser	uma	boa	pessoa”.
Assim,	foi	objetivo	da	terapia	que	a	cliente	elaborasse	regras	mais	eficientes
(coerentes	 com	 as	 contingências	 presentes	 em	 sua	 vida	 ao	 longo	 do	 processo
terapêutico),	como:
“A	minha	felicidade	também	é	importante”;
“A	família	completa	não	garantiu/garante	a	minha	felicidade”;
“Existem	atitudes